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1 Cf. Maria Carmelita De Freitas, Opção renovadadora: A Igreja no Brasil e o Planejamento Pastoral, Loyola, São
Paulo, 1997,56.
Uma nova concepção da pessoa emergiu no pós-concílio, com uma forte repercussão do
valor de cada pessoa e de suas iniciativas. Logo depois se fez vivo um agudo sentido da
comunidade entendida como vida fraterna que se constrói mais sobre a qualidade das relações
interpessoais que sobre os aspectos formais da observância regular.
Esses acentos, em alguns lugares, foram radicalizados (daí as tendências opostas:
individualismo e comunitarismo), sem ter, às vezes, conseguido uma composição satisfatória.
Por toda a América Latina nascem novas comunidades inseridas, modelo este de comunidades,
que se instalaram em comunidades do continente americano, tanto por indivíduos oriundos de
Ordens ou Congregações como de seminaristas, sacerdotes e religiosas. Motivados a viver na
pobreza e partilhar mais que o supérfluo, partilhar o essencial e o primordial da vida de cada
um, identificavam-se com a solicitação conciliar do ‘retorno aos primórdios do cristianismo’,
colocando em comum os bens materiais e espirituais. 2
Trata-se pois de uma Igreja em contraste transformação quer “ad intra” quer “ad extra”.
A década de setenta é marcada por um intenso debate ideológico e pelo questionamento das
estruturas sócio-económicas. Se discutem reformas de base enquanto a sociedade brasileira se
depara com uma grave crise económica. É neste contexto que surgem as Comunidades
Ecclesiais de Base e também novas comunidades de Vida Religiosa, sobretudo femininas.
Estas novas comunidades eram grupos que buscavam prioritariamente novas formas de
vivência do projeto religioso. Sendo que grande maioria destes grupos queria actuar na pastoral
diretamente com o povo.3
A Assembleia Geral da CRB de 1968 teve como tema : “A Vida Religiosa no Brasil hoje”.
Visou atualizar a organização e as metas da CRB e estudar as diretrizes básicas para a renovação
da Vida Religiosa no Brasil. Teve como metas responder aos apelos de Deus que se fazem ouvir
na História do povo; envidar todos os esforços nos planos de educação de base e a orientar sua
solicitude pastoral no sentido de uma educação para o desenvolvimento integral e solidário. A
pergunta chave era : Qual o papel dos religiosos neste contexto social?
Houve uma série de insistências positivas para as programações futuras da CRB: · Primazia
à reflexão teológica, buscando o sentido da vida religiosa dentro da Igreja, fomentando e
criando equipes de reflexão. Se deu ênfase à realização pessoal dos religiosos, capazes de serem
sinais de esperança para um mundo conturbado . Buscar pessoas preparadas ou prepará-las
diretamente para que possam ajudar as congregações, as Províncias, as comunidades menos
favorecidas. · Promoção de cursos especiais para superiores masculinos, para pessoas de mais
de 50 anos. Acompanhar especialmente a faixa de formação: a teologia da vocação e as novas
técnicas de animação de comunidades. 4
Com esta aceleração de ritmos e de mudanças, se observa um choque colossal em muitas
congregações, muita das vezes fruto do choque de mentalidades.
2 Ibidem, 60.
3 Cf. Mario Fabri dos Anjos (Org), Vida Religiosa e Novas Gerações – Memória, poder e utopia, Editora Santuário,
Aparecida,2007,46.
4 Cf. Eduardo Hornanaert, Os Religiosos e o Mundo moderno, Convergência 29 (1970) 2-7.
A CRB, se propôs a ajudar as congregações nesta caminhada, e criar condições para que a
renovação da vida religiosa se efectivasse no Brasil, teve que pagar o preço da sua posição
pioneira. .
Em Junho de 1969, chegou às mãos do Presidente da CRB, Pe. Marcelo Carvalho de
Azevedo SJ, um informe da Sagrada Congregação dos Religiosos. O documento tinha como
título, “Aspetos alarmantes da vida religiosa no Brasil”. O documento tinha cinco tópicos :
1. Fontes de Informação; 2. Alguns erros mais difundidos; 3. Atitudes da CRB; outras
pessoas e situações embaraçosas; 4. Sugestões para remediar a situação.
O texto da CRB aprovado em 1968 havia sido mandado a Roma e foi alvo de muitas
críticas. Roma sugeriu uma intervenção na CRB, onde se propunha a substituição de quadros
dirigentes por outros de orientação mais segura e a divisão da Conferência em masculina e
feminina.
Este facto mostra bem como a Vida Religiosa no Brasil foi tensa.
Sérgio Miguel