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Teste de Carga
Teste de Carga
1ª edição
Administração Financeira
C
CM
MY
CY
CMY
K
ADMINISTRAÇÃO
FINANCEIRA
autor
DANIEL FERREIRA CAIXE
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
Conselho editorial solange moura saúde; roberto paes; gladis linhares; karen
bortoloti; marcelo elias dos santos
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
isbn: 978-85-5548-056-0
Prefácio 7
2. Risco e Retorno 37
Objetivos 38
2.1 O conceito de retorno 39
2.1.1 Retorno esperado 40
2.2 O conceito de risco 43
2.3 Risco, retorno e investidor 46
2.3.1 Coeficiente de variação (CV) 47
2.4 Teoria do portfólio 49
2.4.1 Covariância e correlação dos retornos 51
2.4.2 Retorno esperado e risco da carteira 54
2.4.2.1 Retorno esperado e desvio-padrão de três carteiras 55
2.4.3 Exemplo de diversificação 56
2.4.4 Risco: sistemático e não sistemático 60
Atividades 61
Reflexão 62
Referências bibliográficas 64
3. Custo de capital 65
Objetivos 66
3.1 CAPM 67
3.1.1 Linha do mercado de capitais (CML) 68
3.1.2 Linha característica do título (SCL) 70
3.1.2.1 Cálculo do beta de uma carteira 73
3.1.3 Linha do mercado de títulos (SML) 74
3.1.4 Limitações do CAPM 77
3.2 Custo de capital 78
3.2.1 Custo de capital próprio (Ke) 79
3.2.2 Custo de capital de terceiros (Ki) 80
3.2.3 Custo total de capital 81
3.2.4 Valor econômico agregado (EVA ) 83®
Atividades 87
Reflexão 89
Referências bibliográficas 90
Objetivos 94
4.1 Introdução à administração financeira de curto prazo 95
4.1.1 Ciclo operacional e ciclo financeiro 99
4.1.2 Análise da liquidez 102
4.1.3 Necessidade de investimento em giro (NIG) 106
4.1.4 Financiamento do ativo circulante 108
4.2 Administração de caixa 110
4.2.1 Caixa mínimo operacional (CMO) 111
4.3 Administração de valores a receber 112
4.3.1 Condições de venda 113
4.3.2 Análise de crédito 115
4.3.3 Política de cobrança 116
4.3.4 Indicadores financeiros da política de crédito 118
Atividades 120
Reflexão 121
Referências bibliográficas 122
Objetivos 124
5.1 Ponto de equilíbrio 125
5.1.1 Custos (ou despesas) fixos e variáveis 125
5.1.2 Ponto de equilíbrio contábil 128
5.1.3 Ponto de equilíbrio econômico (PEE) 129
5.1.4 Calculando os pontos de equilíbrio contábil e econômico 130
5.2 Alavancagem 131
5.2.1 Alavancagem operacional 132
5.2.2 Alavancagem financeira 133
5.2.3 Alavancagem total 134
5.2.4 Exemplo prático dos cálculos de GAO, GAF e GAT 135
5.3 Estrutura de capital 137
5.3.1 Estrutura ótima de capital: teoria convencional 137
5.3.2 Estrutura de capital: enfoque do lucro operacional 138
5.3.3 Teoria de Modigliani & Miller (MM) sem impostos 140
5.3.4 Teoria de Modigliani & Miller (MM) com impostos 142
Atividades 144
Reflexão 145
Referências bibliográficas 146
Gabarito 146
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
7
1
Introdução à
Administração
Financeira
Neste capítulo inicial são apresentados conceitos básicos de administração
financeira, mas muito relevantes. Primeiramente, são mostradas as caracte-
rísticas das principais modalidades jurídicas de negócios, como a sociedade
limitada e a sociedade anônima. Na segunda seção, discute-se sobre qual deve
ser o objetivo final de uma empresa com fins lucrativos. No terceiro item, são
apresentadas as áreas de finanças corporativas e identificadas as principais
funções do administrador financeiro. Na seção 1.4, debate-se sobre o choque
de interesses entre gestores e proprietários, conhecido como o conflito de
agência. Por fim, são explicados métodos de avaliação de investimentos, com
destaque para o valor presente líquido (VPL).
OBJETIVOS
• Diferenciar as formas legais de empresas;
• Entender a função-objetivo de uma organização com fins lucrativos;
• Conhecer as principais áreas de finanças corporativas e as funções do administrador fi-
nanceiro;
• Discutir sobre a teoria da agência; e
• Avaliar a viabilidade econômica de projetos de investimento.
10 • capítulo 1
1.1 Modalidades legais de organização de
negócios
Embora o tema central deste livro não seja direito empresarial, é importante
que o administrador financeiro conheça algumas características jurídicas da
organização na qual trabalha ou poderá atuar. Assim, nesta seção são discuti-
das brevemente as principais formas de estabelecimento de negócios no Brasil.
Para fins didáticos, as modalidades jurídicas foram divididas em duas “clas-
ses” de empresas: (1) as que pertencem a uma única pessoa; e (2) as que pos-
suem dois ou mais proprietários.
A primeira “classe” é composta por dois tipos jurídicos: o empresário indi-
vidual; e a empresa individual de responsabilidade limitada.
O empresário individual, que antes da vigência do Código Civil de 2002 cha-
mava-se firma individual, é modalidade mais simples de iniciar e a menos regu-
lamentada. O proprietário de tal tipo de negócio é o único detentor dos direitos
residuais da organização, ou seja, os resultados líquidos pertencem exclusiva-
mente ao titular. Contudo, o dono da empresa tem responsabilidade ilimitada,
isto é, o seu patrimônio pessoal, e não apenas o capital originalmente aplica-
do, pode ser tomado para saldar dívidas com os credores (GITMAN, 2004). Isto
porque o empresário individual não possui personalidade jurídica diferente da
de seu proprietário, ambos são uma única pessoa, com um único patrimônio
(COELHO, 2007).
Em 2011, a Lei nº 12.441 instituiu a empresa individual de responsabilida-
de limitada - EIRELI também constituída por uma única pessoa titular da totali-
dade do capital social integralizado. Diferentemente do empresário individual,
a EIRELI tem personalidade jurídica própria e seu patrimônio é separado do
de seu titular. Entretanto, o proprietário da EIRELI deve integralizar o capital
social da empresa em valor correspondente a, no mínimo, 100 vezes o maior
salário-mínimo vigente, quantia que muitas vezes não está disponível para o
pequeno empresário (ROSS et al., 2013).
A segunda “classe” inclui duas formas legais de empresa que têm personali-
dade jurídica autônoma: a sociedade limitada; e a sociedade anônima. É válido
ressaltar que existem outras modalidades, como a sociedade em nome coletivo
e a sociedade em comandita simples, mas estas fogem do escopo deste capítu-
lo, o qual visa descrever apenas as formas legais mais comuns.
capítulo 1 • 11
A sociedade limitada - LTDA, antes da vigência do Código Civil de 2002, era
conhecida como sociedade por quotas de responsabilidade limitada. O capital
social deste tipo de organização é dividido em quotas, distribuídas igualmente
ou não entre os sócios. O limite da responsabilidade dos proprietários é o to-
tal do capital social subscrito1 e não integralizado2, mas eles respondem soli-
dariamente pela integralização do capital social (COELHO, 2007). Isto é, caso
existam quotas não integralizadas, qualquer quotista pode ser chamado para
completar a parcela descoberta do capital (ASSAF NETO, 2012). Esta modali-
dade de empresa é constituída por um contrato social, o qual estabelece, entre
outros fatores, o seu objetivo e as normas que regerão o seu funcionamento, a
sua administração e as relações entre os seus proprietários.
A sociedade anônima - S/A (ou companhia) é regida pela Lei das Sociedades
por Ações - LSA (Lei no 6.404/76), que sofreu alterações pelas Leis no 10.303/01, no
11.638/07 e no 11.941/09. O capital social da S/A é expresso em ações, as quais são
valores mobiliários que podem ser negociados no mercado (ASSAF NETO, 2012). A
responsabilidade dos sócios ou acionistas é limitada ao preço de emissão das ações
subscritas ou adquiridas (COELHO, 2007). As principais normas que orientam a ati-
vidade, a gestão e o relacionamento entre os acionistas da companhia encontram-se
no seu estatuto social, que, por sua vez, está fundamentado na legislação vigente.
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1 Capital social subscrito é o montante de recursos que os sócios se comprometem a entregar para a formação
da sociedade (COELHO, 2007).
2 Capital social integralizado é a parte do capital social que os sócios efetivamente entregaram (COELHO, 2007).
12 • capítulo 1
Há basicamente dois tipos de S/A: a sociedade anônima de capital aberto
e a sociedade anônima de capital fechado. A primeira tem seus valores mobi-
liários (ações, debêntures, entre outros) admitidos à negociação no mercado
de balcão ou em bolsa de valores. Para tanto, a organização deve cumprir com
uma série de exigências, como a obtenção de registro de companhia aberta na
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a contratação de uma empresa de au-
ditoria independente, que irá realizar a revisão de suas informações contábeis
(MATIAS, 2007). De forma contrária, a companhia fechada não possui títulos
negociados publicamente no mercado de capitais.
Pelo fato de as companhias abertas poderem realizar ofertas públicas de
ações ou de títulos de dívida (como as debêntures) para captar recursos para
seus projetos de investimento, a maioria das grandes empresas (exemplos:
Coca-Cola, Microsoft, Apple, Ford, Ambev etc) se enquadra nesta modalidade
jurídica. Nas outras formas legais discutidas nesta seção, a possibilidade de
crescimento do negócio pode ser seriamente limitada pela incapacidade de
levantar dinheiro para a realização de novos empreendimentos (ROSS et al.,
2013).
CONEXÃO
Para esclarecer quaisquer dúvidas sobre a Lei das Sociedades por Ações. Acesse: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm>.
capítulo 1 • 13
3. Profissional: qual função-objetivo especifica de forma clara como os
executivos e conselheiros devem tomar decisões e serem avaliados?
14 • capítulo 1
ração cumprir com todos os seus compromissos com os demais stakeholders.
Assim, ao buscar a maximização do seu valor, a companhia atende aos interes-
ses das partes que estão sob sua influência e, portanto, essa é a função-objetivo
que pode gerar maior bem-estar para a sociedade e ainda considerar a maior
exposição ao risco dos shareholders.
Segundo Jensen (2001), é logicamente impossível maximizar em mais de
uma direção ao mesmo tempo. Para o autor, exigir que os administradores bus-
quem objetivos múltiplos, como maximizar os lucros correntes, a participação
no mercado, os fluxos de caixa futuros e qualquer outra questão, deixaria os
gestores incapazes de tomar decisões fundamentadas. O resultado disso seria a
deterioração do desempenho corporativo. Assim sendo, a dimensão “empresa”
também é mais bem atendida pela teoria dos shareholders, a qual defende a
busca por uma função-objetivo única.
Ademais, muitos stakeholders possuem interesses conflitantes. Por exem-
plo, os credores gostariam que a firma pagasse os maiores juros possíveis pelos
seus empréstimos e financiamentos, mas tal medida prejudicaria os retornos
dos acionistas. A teoria dos stakeholders não especifica como os gestores de-
verão trabalhar com esses conflitos de escolhas e, em vista disso, não fornece
um critério objetivo para a tomada de decisão e tampouco uma maneira objeti-
va para a avaliação de desempenho (JENSEN, 2001). Isto posto, conclui-se que
a teoria dos shareholders fornece a melhor função-objetivo para a dimensão
“profissional”, visto que especifica de forma clara como os executivos e conse-
lheiros devem tomar decisões e serem avaliados.
capítulo 1 • 15
1. Quais investimentos de longo prazo você deve fazer? Isto é, em que seg-
mento de negócios você atuará e que tipo de instalações, maquinário e equipa-
mentos são necessários?
2. Onde você conseguirá o financiamento de longo prazo para pagar seus
investimentos? Ou seja, a empresa terá outros sócios e/ou tomará dinheiro
emprestado?
3. Como você gerenciará suas atividades financeiras diárias, tais como co-
brança dos clientes e pagamento dos fornecedores?
16 • capítulo 1
1.3.1 Finanças na estrutura organizacional
capítulo 1 • 17
Presta contas Assembleia
Acionistas
Geral
Conselho de
Administração
Monitora
e elege Diretoria
Executiva
Diretor de Diretor de
COO CEO CF0
marketing RH
18 • capítulo 1
CONEXÃO
Para saber mais sobre os outros órgãos que podem compor a estrutura organizacional das
companhias e suas respectivas responsabilidades, leia o código a seguir: IBGC: Instituto
Brasileiro de Governança Corporativa. Código das melhores práticas de governança corpo-
rativa. 4. ed. São Paulo: IBGC, 2009. Disponível em: <http://www.ibgc.org.br/userfiles/files/
Codigo_Final_4a_Edicao.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2015.
capítulo 1 • 19
foca no monitoramento e na avaliação de todo o desem-
penho financeiro da organização. São algumas atividades
básicas da controladoria financeira: análise de desvios que
venham a ocorrer entre os resultados previstos e realiza-
CONTROLE dos; e propostas de medidas corretivas necessárias (AS-
FINANCEIRO: SAF NETO, 2010). Weston e Brigham (2004) explicam
que o controle financeiro tem duas finalidades básicas:
assegurar que os planos sejam seguidos; e modificar os
planos existentes em reposta a alterações no ambiente
operacional.
20 • capítulo 1
reinvestida, ou seja, que não será distribuída aos acionistas. Conforme Assaf
Neto (2010), tal decisão é normalmente inserida na área de financiamento, por
se tratar, em última análise, de uma alternativa para financiar as atividades da
corporação.
capítulo 1 • 21
• Perdas residuais, provenientes da diminuição da riqueza do principal,
por eventuais divergências entre as decisões do agente e as decisões que iriam
maximizar a riqueza do principal. Isto é, custos relacionados a certas práticas
dos administradores que visam ao benefício próprio e não ao interesse dos
acionistas, como:
22 • capítulo 1
quando a aceitação de um deles não implicar a desconside-
ração dos demais e, ao mesmo tempo, não ocorrerem inter-
INVESTIMENTOS ferências nas receitas e nos custos das várias propostas em
ECONOMICAMENTE estudo. Gitman (2004) complementa, afirmando que se a
INDEPENDENTES empresa tem fundos ilimitados para investir, todos os proje-
tos economicamente independentes, que atendam os crité-
rios mínimos de aceitação da empresa, poderão ser aceitos.
capítulo 1 • 23
são propostas de investimentos com funções similares
INVESTIMENTOS e a aceitação de uma elimina totalmente a possibilidade
MUTUAMENTE de implementar a outra. Como as propostas apresentam
EXCLUDENTES basicamente as mesmas funções, é suficiente para a
empresa a aceitação de somente uma delas.
Consiste na determinação do
tempo necessário para que o va-
lor do investimento seja recupe-
rado por meio dos fluxos de caixa
promovidos pelo investimento
(ASSAF NETO, 2010). Para o cál-
culo do payback, veremos duas
abordagens, como mostrado por
Bruni e Fama (2003): o payback
simples e o payback descontado.
24 • capítulo 1
1.5.1.1 Payback simples
O payback é um método simples, que estima qual o prazo necessário para a re-
cuperação do investimento. Para o cálculo do payback simples, basta somar os
fluxos de caixa gerados pelo investimento, até igualar ao investimento inicial.
O critério de aceitação/rejeição do projeto, com base em tal técnica, é o se-
guinte: o investimento deve ser aprovado, somente se o período de payback for
inferior ou igual ao prazo máximo determinado pela organização.
Exemplo 5.1: Calcule o payback simples dos projetos apresentados a seguir, supondo um
prazo máximo, aceitável pela empresa para recuperação do investimento, igual a três anos.
Investimento Fluxos de caixa
Projetos
inicial Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5
A – $ 600.000 $ 300.000 $ 300.000 $ 50.000 $ 100.00 $ 200.000
B – $ 600.000 $ 100.00 $ 200.000 $ 200.000 $ 200.000 $ 100.00
Payback A = 300
+ 300
.000
= 600.000
.000
ano 1 ano 2
Payback A = 2 anos
PaybackB = 100
+ 200
.000
+ 200
.000 .000
+ 200
.000
= 700.000
ano 1 ano 2 ano 3 preciso de $ 100.000 desse valor
500.000
(ainda precisa de $100.000 para completar os $600.000)
100.000
PaybackB = 3 + = 3,5 anos
200.000
capítulo 1 • 25
Com base no critério do payback simples, se o período máximo, aceitável
pela empresa, fosse de três anos, apenas o projeto A deveria ser aprovado.
Por ser um método de cálculo fácil, o payback simples não leva em conside-
ração o valor do dinheiro no tempo. Os fluxos de caixa são simplesmente soma-
dos e não descontados a uma determinada taxa de juros.
Essa taxa, que também é chamada de taxa de desconto, taxa mínima de atra-
tividade (TMA), custo de capital ou custo de oportunidade, equivale ao retorno
mínimo que deve ser alcançado pelo projeto.
Com a intenção de contornar essa situação apresentada, aprenderemos ou-
tro critério, o payback descontado, que considera a taxa de desconto no cálculo.
FV
PV =
(1 + i) n
(1.1)
26 • capítulo 1
O payback descontado é calculado a partir do valor presente de cada um dos
fluxos de caixa futuros. Observe o cálculo do payback de cada um dos projetos
analisados:
Payback do Projeto A:
300.000
1 PV = = 272.727, 27
(1 + 0,10)1
300.000
2 PV = = 247.933,88
(1 + 0,10)2
50.000
3 PV = = 37.565,74
(1 + 0,10)3
100.000
4 PV = = 68.301,34
(1 + 0,10)4
200.000
5 PV = = 124.184, 26
(1 + 0,10)5
Payback A = 272
.727 + 247.933,88
, 27 + 37.565,
7 4 + 68.301,35
= 626.528,24
ano 1 ano 2 ano 3
ano 4
558.226,89 precisa de $41.773,11 desse total
(ainda precisa de $ 41.773,11 para completar os $600.000)
41.773,11
Paybaack A = 3 + = 3,61 anos
68.301,35
capítulo 1 • 27
Payback do Projeto B:
100.000
1 PV = = 90.909, 09
(1 + 0,10)1
200.000
2 PV = = 165.289, 25
(1 + 0,10)2
200.000
3 PV = = 150.262, 96
(1 + 0,10)3
200.000
4 PV = = 136.602,69
(1 + 0,10)4
100.000
5 PV = = 62.092,13
(1 + 0,10)5
56.936,01
Payback B = 4 + = 4, 92 anos
62.092,13
Os projetos A e B apresentaram paybacks descontados de 3,61 anos e 4,92
anos, respectivamente. Assim, nenhum projeto atende ao tempo mínimo reque-
rido..." por " possuir tempo de recuperação do investimento inferior ou igual ao
prazo máximo estipulado pela empresa, que supostamente é de três anos
28 • capítulo 1
O payback descontado é uma ferramenta mais completa e, portanto, mais
confiável do que o simples. Contudo, ambos possuem limitações como, por
exemplo, a de não considerarem os fluxos de caixa que ocorrem após a recupera-
ção do investimento inicial. Por isso, o emprego dessas técnicas deve ser acom-
panhado da utilização de outros métodos como a TIR e, principalmente, o VPL.
n FC n It
=VPL ∑ t
− I 0 + ∑
= (1 + K )t t 1 (1 + K )t (1.2)
t 1=
Em que:
FCt : é o fluxo (benefício) de caixa de cada período;
K : é a taxa de desconto do projeto, representada pela rentabilidade míni-
ma requerida;
I0 : é o investimento processado no momento zero;
It : é o valor do investimento previsto em cada período subsequente.
0 25.000
capítulo 1 • 29
AN0 INVESTIMENTO ENTRADA DE CAIXA
1 12.000
2 11.000
3 10.000
4 9.000
5 24.000
30 • capítulo 1
©© REPRODUÇÃO | TODOS OS DIREITOS RESERVADOS 3. Por meio da planilha eletrônica Excel:
Interpretação do VPL:
• o projeto cria valor econômico, pois o VPL encontrado é maior do que zero;
• VPL apurado revela que o projeto ofereceu um retorno de 15% a.a. mais $
17.405,55.
A TIR, segundo Kassai et al. (2000), é também uma das formas mais sofisticadas
de se avaliar propostas de investimentos de capital. Ela representa a taxa de des-
conto que iguala, num único momento, os fluxos de entrada com os de saída de
caixa. Em outras palavras, é a taxa que produz um VPL igual a zero.
capítulo 1 • 31
A partir da equação (1.3), pode-se calcular a TIR de um projeto de
investimento:
n It n FCt
IO + ∑ ∑
=
=t ( 1 + K ) t 1 ( 1 + K )t
1=
t
Onde:
32 • capítulo 1
10.000 g CFJ
9.000 g CFJ
24.000 g CFJ
f IRR = 39,19%
Interpretação da TIR:
• a TIR representa uma taxa periódica (mensal, anual, etc.) e não uma taxa
para todo o projeto, como alguns podem interpretar;
• o projeto é viável quando a TIR é maior ou igual a TMA (39,19% > 15,00%),
sendo que o excedente da TIR em relação a TMA (24,19%) não tem significado
na análise de investimento, apenas evidencia a viabilidade do projeto.
capítulo 1 • 33
1.5.4 Comparação entre os pressupostos do VPL e da TIR
ATIVIDADES
01. O que significa a sigla EIRELI? Cite uma vantagem e uma desvantagem desta modali-
dade legal.
02. Qual deve ser a função-objetivo de uma empresa com fins lucrativos?
04. O conflito de agência clássico também acontece na maioria das companhias brasileiras?
Por quê?
REFLEXÃO
As companhias abertas podem realizar ofertas públicas de ações ou de títulos de dívida,
para captar recursos para o financiamento de seus projetos de investimento. Porém, nesta
modalidade jurídica de negócio é comum a separação entre a propriedade e gestão e, conse-
34 • capítulo 1
quentemente, a existência de um choque de interesses entre acionistas e gestores, chamado
de conflito de agência. Como os proprietários não participam diretamente do processo deci-
sório, os administradores podem tomar decisões de orçamento de capital, que visam apenas
o benefício próprio, e não a maximização da riqueza dos acionistas. Por exemplo, eles podem
deixar de aprovar investimentos, sem restrição orçamentária e que possuem valor presente
líquido positivo, com o intuito de reduzir os riscos da Diretoria Executiva.
LEITURA
Para o aprofundamento dos principais assuntos abordados no presente capítulo, são reco-
mendadas as seguintes leituras:
SILVEIRA, A. D. M.; YOSHINAGA, C. E.; BORBA, P. R. F. Crítica a teoria dos stakeholders como
função-objetivo corporativa. Caderno de Pesquisas em Administração, v. 12, n. 1, p. 33-42, 2005.
Este artigo debate sobre qual deve ser a função-objetivo das empresas, justificando os motivos de
considerarmos que maximização do valor de mercado corporativo deve ser o único objetivo final das
companhias.
SAITO, R.; SILVEIRA, A. D. Governança corporativa: custos de agência e estrutura de propriedade.
Revista de Administração de Empresas, v. 48, n. 2, p.79-86, 2008. Este artigo discute sobre os
trabalhos responsáveis pela construção da teoria da agência.
ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 726p. A seção 16.8
deste livro explica como mensurar os fluxos de caixa para as decisões de investimento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. 10. ed. São
Paulo: Atlas, 2012. 337 p.
ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 726p.
BERLE, A. A.; MEANS, G. C. The Modern Corporation and Private Property. New York: Harcourt,
Brace & World, 1932.
BRUNI, A. L.; FAMÁ, L. As decisões de investimentos. Série desvendando as finanças. São Paulo:
Atlas, 2003. 2 v.
CAIXE, D. F.; KRAUTER, E. A influência da estrutura de propriedade e controle sobre o valor de
mercado corporativo no Brasil. Revista de Contabilidade & Finanças, v. 24, n. 62, p. 143-153, 2013.
COELHO, F. U. Manual de direito comercial: direito de empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva 2007. 497 p.
capítulo 1 • 35
DAMODARAN, A. Finanças corporativas aplicada: manual do usuário. Porto Alegre: Bookman,
2002, 576 p.
DONALDSON, T.; PRESTON, L. E. The stakeholder theory of the corporation: concepts, evidence
and implications. Academy of Management Review, v. 20, n. 1, p. 65-91, 1995.
FREEMAN, R. E.; McVEA, J. A stakeholder approach to strategic management. In: HITT, M.;
FREEMAN, R. E.; HARRISON, J. Handbook of strategic management. Oxford: Blackwell Publishing,
p. 189-207, 2000.
FREEMAN, R. Strategic management: a stakeholder approach. Boston: Pitman, 1984.
GITMAN, L. J. Princípios da administração financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson Addison Wesley,
2004. 745p.
IBGC: Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Código das melhores práticas de
governança corporativa. 4. ed. São Paulo: IBGC, 2009. Disponível em: <http://www.ibgc.org.br/
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JENSEN, M.; MECKLING, W. Theory of the firm: managerial behavior, agency costs and ownership
structure. Journal of Financial Economics, v. 3, n. 4, p. 305-360, 1976.
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Applied Corporate Finance, v. 14, n. 3, p. 8-21, 2001.
KASSAI, R. J. et al. Retorno de investimento: abordagem matemática e contábil do lucro empresarial.
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WESTON, J. F.; BRIGHAM, E. F. Fundamentos da administração financeira. 10. ed. São Paulo:
Pearson Makron Books, 2004. 1030 p.
36 • capítulo 1
2
Risco e Retorno
“A idéia revolucionária que define a fronteira entre os tempos modernos e o passado é
o domínio do risco: a noção de que o futuro é mais do que um capricho dos deuses e de
que os homens e mulheres não são passivos ante a natureza” (BERNSTEIN, 1997, p. 1).
OBJETIVOS
• Conhecer os conceitos de risco e de retorno;
• Descrever as características dos perfis de investidores;
• Entender a utilidade das medidas de covariância e de correlação dos retornos;
• Calcular o retorno esperado e o risco de portfólios;
• Analisar as diferenças entre o risco sistemático e não sistemático dos ativos.
38 • capítulo 2
2.1 O conceito de retorno
“O retorno é o ganho ou a perda total sofrido por um investimento em certo
período de tempo” (GITMAN, 2004, p. 184). Segundo Ross et al. (2013), nor-
malmente o retorno tem dois componentes: de renda; e de capital. O primeiro
advém do recebimento de algum dinheiro diretamente ligado à manutenção
da posse do ativo. Já o segundo é obtido pela variação do valor de mercado do
investimento. Embora o retorno possa ser expresso monetariamente, em geral,
seu cálculo é efetuado em termos percentuais, como pela fórmula (2.1) de Git-
man (2004):
ct + ( Pt − Pt −1 )
Kt =
Pt −1
(2.1)
Em que:
Kt : é a taxa de retorno durante o período t;
Ct : é o fluxo de caixa recebido com o investimento no período de t – 1 até t
(componente de renda);
Pt : é o preço (valor) do ativo na data t;
Pt – 1 : é o preço (valor) do ativo na data t – 1; e
Pt – Pt – 1 : é o ganho (ou perda) de capital do ativo no período de t – 1 até t
(componente de capital).
Para ilustrar o cálculo de retornos de ações, vamos utilizar o exemplo de
Ross et al. (2013). Suponha que você tenha comprado algumas ações no início
do ano por R$ 25,00 cada. No final do ano, o preço era de R$ 35,00 por ação. Ao
longo do ano, você obteve R$ 2,00 em dividendos por ação. Qual foi o retorno
percentual da ação no período? Se o seu investimento total fosse de R$ 1.000,00,
qual seria o seu retorno monetário? Como seria o diagrama de fluxo de caixa do
investimento? (Por simplificação, neste exemplo assume-se a ausência de taxas
de corretagem, impostos e inflação).
ct + ( Pt − Pt −1 ) 2 + ( 35 − 25 )
Kt = = = 0, 48 = 48%
Pt −1 25
capítulo 2 • 39
• Cálculo do retorno monetário do investimento de R$ 1.000,00:
Se você tivesse investido R$ 1000,00, alcançaria um retorno monetário
de R$ 480,00 (1.000×0,48). Note que seus R$ 1.000,00 comprariam 40 ações
(1.000/25). Estas pagariam um total de R$ 80,00 (40×2) em dividendos. A valori-
zação de R$ 10,00 (35 - 25) por ação resultaria em um ganho de capital de R$ 400
(40×10). Assim, somando os dois componentes, seu retorno monetário seria de
R$ 480,00 (80 + 400), como explicado no início.
Total = R$ 1.480
Dividendos = R$ 80
Valor do mercado de
investimento = R$ 1.400
Tempo 0 1
Investimento = R$ 1.000
Figura 2.1 – Fluxo de caixa: um exemplo de investimento. Fonte: Adaptado de Ross et al.
(2013).
CONEXÃO
Para calcular o retorno das ações de companhias brasileiras, obtenha suas cotações na
BM&FBOVESPA, por meio do link: <http://www.bmfbovespa.com.br/fechamento-pregao/
BuscarUltimosPregoes.aspx?idioma=pt-br>.
E ( K ) = K = ∑ i =1 K i x Pri
n
(2.2)
40 • capítulo 2
Em que:
E ( K ) = K : é o retorno (valor) esperado;
Pri : é a probabilidade de ocorrência de Ki;
Ki : é o valor do retorno i; e
n : é o número de ocorrências (valores de retornos) consideradas.
O retorno esperado é mensurado com base nas probabilidades de ocorrên-
cia de certos valores, as quais, por sua vez, se fundamentam geralmente, nos re-
tornos históricos do ativo ao longo de um período. Neste caso, para Assaf Neto
(2010), as probabilidades são consideradas objetivas, pois são provenientes de
situações que se repetiram inúmeras vezes. Todavia, a probabilidade pode ser
subjetiva, caso decorra de eventos sem qualquer experiência prévia. Por exem-
plo, a atribuição de probabilidades aos fluxos de caixa oriundos do lançamento
de um produto inovador, é realizada subjetivamente, baseando-se em pesquisas
de mercado, projeções de demanda, intuição do gestor etc (ASSAF NETO, 2010).
"O conceito básico de probabilidade refere-se à possibilidade (ou chance), expressa nor-
malmente em porcentagem, de ocorrer determinado evento” (ASSAF NETO, 2010, p.
194). Por exemplo: a chance de o retorno ser de 25% ou estar entre 25% e 30%. A dis-
tribuição de probabilidade de uma variável discreta1 é a lista de todos os valores possíveis
que a variável pode assumir e suas probabilidades associadas [a soma dessas probabili-
dades é igual a um (100%)]. Para a variável contínua,2 as probabilidades são resumidas
pela função densidade de probabilidade (ou densidade). A área sob a densidade entre
dois pontos quaisquer é a probabilidade de que a variável esteja entre esses dois valores
[a área total sob a densidade é igual a um (100%) (STOCK; WATSON, 2004).
1
Uma variável discreta pode assumir somente um número finito (ou infinito enumerável) de valores (GUJARATI;
PORTER, 2011). O conceito de “infinito enumerável” significa que, embora um número infinito de valores possa
ser atribuído para uma variável aleatória, esses valores podem ser postos em correspondência um-a-um com
os números inteiros positivos (WOOLDRIGDE, 2012). Exemplos de variável discreta: número de filhos do casal;
número de acidentes de avião ocorridos; número de vezes que o paciente vai ao médico; entre outros.
2
Uma variável contínua pode assumir qualquer valor em certo intervalo de valores (GUJARATI; PORTER, 2011).
Em outras palavras, a variável é contínua se assumir qualquer valor real com probabilidade zero. A idéia é que uma
variável contínua X pode assumir tantos valores, que não é possível enumerá-los ou compará-los com os inteiros
positivos, de modo que a probabilidade de X assumir qualquer valor específico é zero (WOOLDRIGDE, 2012). O
peso e a altura dos indivíduos são exemplos de variáveis contínuas, uma vez que podem assumir qualquer valor,
dependendo da precisão da medição. O retorno de investimentos também pode ser considerado uma variável
capítulo 2 • 41
Com o intuito de reforçar o conceito de retorno esperado, utilizaremos o
exemplo de Gitman (2004). Na tabela 2.1 encontram-se os retornos de dois ati-
vos e suas probabilidades associadas, ao serem considerados três cenários di-
ferentes: pessimista, mais provável e otimista.
Tabela 2.1 – Retornos e probabilidades dos ativos A e B. Fonte: Adaptado de Gitman (2004).
• Ativo A:
E ( K ) = K = ( 0,13 x 0,25) + (0,15 x 0,50) + (0,17 x 0,25) = 0,15 = 15%
• Ativo B
E ( K ) = K = (0,07% x 0,25) + (0,15% x 0,50) + (0,23% x 0,25) = 0,15 = 15%
∑ i=1ki
n
42 • capítulo 2
2.2 O conceito de risco
Na prática, as decisões financeiras não são tomadas em ambientes de total
certeza com relação a seus resultados, uma vez que essas decisões são volta-
das fundamentalmente, para o futuro (ASSAF NETO, 2010). Sempre que hou-
ver chance de acontecer mais de um resultado, há a presença de risco (BODIE;
KANE; MARCUS, 2002).
O conceito de risco está intimamente ligado ao de probabilidade (ASSAF
NETO, 2010). Em sentido amplo, risco pode ser compreendido como a possi-
bilidade de ocorrência de um evento adverso, para uma determinada situação
esperada. Com base em tal definição, a tabela 2.2 apresenta algumas fontes de
risco, que podem afetar a empresa e seus fornecedores de capital.
capítulo 2 • 43
FONTES DE RISCO DESCRIÇÃO
Tabela 2.2 – Fontes de risco para empresas e fornecedores de capital. Fonte: Adaptado de
Gitman (2004).
1 A variância (σ2 ou VAR) é definida como o quadrado do desvio-padrão (σ). Ou seja, o desvio padrão é a raiz
quadrada da variância.
44 • capítulo 2
(2.4)
∑ i =1 (K i − K )
n 2
σK = X Pri
Em que:
σk: é o desvio-padrão dos retornos;
K : é o retorno (valor) esperado;
Pri: é a probabilidade de ocorrência de Ki;
n : é o número de ocorrências (valores de retornos) consideradas.
A fórmula comumente empregada para obter o desvio padrão para dados amostrais, é
(GITMAN, 2004):
∑ (Ki − K)
n 2
σK = i=1
(n − 1)
• Ativo A
σA = (0,13 x 0,15)2 x 0,25 + (0,15 − 0,15)2 x 0,50 + (0,17 − 0,15)2 x 0,25
σ A ≈ 0, 0141 ≈ 1, 41%
• Ativo B
σB = (0,07 x 0,15)2 x 0,25 + (0,15 − 0,15)2 x 0,50 + (0,23 − 0,15)2 x 0,25
σ B ≈ 0, 0566 ≈ 5,66%
capítulo 2 • 45
Ativo A Ativo B
Densidade de Probabilidade
Densidade de Probabilidade
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28
Retorno (%) Retorno (%)
Figura 2.2 – Gráficos da distribuição con- Figura 2.3 – Gráficos da distribuição con-
tínua de probabilidades do ativo A. Fonte: tínua de probabilidades do ativo B. Fonte:
Adaptado de Gitman (2004). Adaptado de Gitman (2004).
46 • capítulo 2
o retorno esperado não varia quando o risco aumenta. Este ges-
INDIFERENTE tor é neutro em relação ao risco. É claro que essa atitude não faz
AO RISCO: sentido em praticamente todas as situações empresariais.
Risco (σk)
Figura 2.4 – Gráfico da relação entre risco e retorno. Fonte: Elaborado pelo autor.
capítulo 2 • 47
σK
CV =
K (2.6)
Em que:
σk: é o desvio-padrão dos retornos; e
K : é o retorno (valor) esperado.
Para entender melhor a utilidade do CV, considere a tabela 2.3, que contém
informações sobre o retorno esperado e o desvio padrão dos investimentos X e Y.
RETORNO
INVESTIMENTO DESVIO-PADRÃO (σK)
ESPERADO (K)
X 33% 21%
Y 42% 25%
• Investimento X: • Investimento Y:
25% 25%
CV = ≈ 0,60 CV = ≈ 0,60
42% 42%
Note que, pelo critério do CV, o ativo Y é o que apresenta menor dispersão
(risco), pois oferece um risco (desvio-padrão) de 0,60 para cada unidade espera-
da de retorno (inferior a 0,64 da alternativa X). Assim, mesmo detendo o menor
desvio-padrão, o investimento X é o que se mostra mais arriscado. Neste caso, o
ativo mais atraente, em termos de conflito entre risco e retorno, é o Y, uma vez
que, além de fornecer a menor dispersão relativa, tem o maior retorno esperado.
Mas agora suponha uma situação diferente, como na Tabela 2.4, na qual o
investimento que exibe o menor CV não denota o maior retorno esperado.
48 • capítulo 2
RETORNO DESVIO- CV
INVESTIMENTO ESPERADO (K) PADRÃO (σK) (σK/ K )
Nesta situação, a preferência pelo ativo de maior retorno esperado e maior nível
de risco (E) ou pelo de menor K e menor CV (D) é definida pelo perfil do adminis-
trador. A escolha da alternativa E indicaria menor grau de aversão ao risco, enquan-
to a opção pelo investimento D sinalizaria o maior nível de repulsão ao risco.
capítulo 2 • 49
DESVIO-PADRÃO MÉDIO DOS RETORNOS ANUAIS DA
NÚMERO DE AÇÕES NA CARTEIRA
CARTEIRA
2 37,36%
4 29,69%
6 26,64%
8 24,98%
10 23,93%
20 21,68%
30 20,87%
40 20,46%
50 20,20%
100 19,69%
200 19,42%
300 19,34%
400 19,29%
500 19,27%
1000 19,21%
Tabela 2.5 – Desvio-padrão dos retornos anuais da carteira. Fonte: Adaptado de Ross et
al. (2013). Esses números foram retirados de Statman (1987) e se originaram de Elton e
Gruber (1977).
3 Harry Max Markowitz, em 1990, foi laureado com o Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred
Nobel.
50 • capítulo 2
2.4.1 Covariância e correlação dos retornos
Dado que a dependência entre os retornos dos ativos influencia no risco das
carteiras, é importante mensurar o grau de associação entre essas variáveis.
A covariância e o coeficiente de correlação são comumente utilizados para tal
tarefa.
A covariância é uma medida estatística de dependência, que mensura a
extensão com que duas variáveis movem-se juntas (STOCK; WATSON, 2004).
Essencialmente, verifica como duas variáveis afastam-se ao mesmo tempo de
seus valores médios (covariam) (ASSAF NETO, 2010). Se COV > 0, as variáveis
têm associação positiva; Se COV < 0, as variáveis têm associação negativa. Se
COV = 0, as variáveis são independentes. Considerando dois ativos (X e Y), a
fórmula da covariância entre os seus retornos é:
( ) (
COVX , Y = ∑ i =1 K iX − K X x K iY − K Y x Pri
n
)
( ) (
COVX , Y = ∑ i =1 K iX − K X x K iY − K Y
n
)
( n − 1)
(2.8)
capítulo 2 • 51
ρ = – 1 sinaliza associação negativa e perfeita. A fórmula do coeficiente de corre-
lação entre os retornos de dois ativos (X e Y) é:
COVX , Y
ρX,Y =
σx x σY
(2.9)
Em que:
COVX,Y: é a covariância entre os retornos de X e de Y;
σX: é o desvio-padrão dos retornos de X; e
σY: é o desvio-padrão dos retornos de Y.
“Se duas séries variam na mesma direção, diz-se que são positivamen-
te correlacionadas e, em direções opostas, negativamente correlacionadas”
(GITMAN, 2004, p. 194). Em outras palavras, caso dois ativos tenham retornos
com correlação negativa, quando o retorno de um deles decrescer e o do outro
se elevará (ASSAF NETO, 2010). A combinação de ativos negativamente correla-
cionados, embora não seja a única, é a forma mais eficaz de redução do risco de
uma carteira (GITMAN, 2004). As fiuras 2.5, 2.6, 2.7, 2.8 e 2.9 ilustram situações
em que os retornos dos ativos são independentes ou apresentam correlação po-
sitiva (perfeita ou não) ou negativa (perfeita ou não).
52 • capítulo 2
Correlação Positiva
Y
Figura 2.6 – Quando: 0 < ρ X,Y<1. Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2010).
Figura 2.7 – Quando: ρ X,Y = –1. Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2010).
Correlação Negativa
Y
Figura 2.8 – Quando: –1 < ρ X,Y<0. Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2010).
capítulo 2 • 53
Correção Nula (Independência)
Y
( )
E K ρ = K ρ = ∑ j=1 Wj x K j
n
(2.10)
Em que:
Wj : é a proporção do capital total aplicado no ativo j; e
Kj : é o retorno esperado do ativo j.
54 • capítulo 2
Em que:
σj2: é a variância dos retornos do ativo j;
Wj : é a proporção do capital total aplicado no ativo j;
Ws : é a proporção do capital total aplicado no ativo s; e
COVj,s: é a covariância entre os retornos dos ativos j e s.
2
∑ j=1 Wj x σ j2 + 2∑ s=1 Wj x Ws x ρ j,s x σ j x σs
n n
σ ρ=
s≠ j
(2.12)
Em que:
ρ j,s: é o coeficiente de correlação entre os retornos dos ativos j e s;
σ j: é o desvio-padrão dos retornos do ativo j; e
σ s: é o desvio-padrão dos retornos do ativo s.
Na tabela 2.6, baseada em Ross et al. (2013), constam os retornos anuais re-
ais (líquidos da inflação) de três carteiras entre 1981 e 2007. A primeira é com-
posta por ações ordinárias com base no índice da Standard & Poor's (S&P), que
contém as 500 maiores empresas norte-americanas (em termos do valor total
de mercado de ações em circulação). A segunda e a terceira são formadas por
letras do Tesouro dos Estados Unidos com vencimento de um mês (T-Bills) e tí-
tulos de longo prazo do Tesouro norte-americano (T-Bonds), respectivamente.
capítulo 2 • 55
ANO ÍNDICE S&P 500 (%) T-BILLS (%) T-BONDS (%)
1988 16,61 6,94 6,84
1989 31,69 8,44 18,54
1990 -3,10 7,69 7,74
1991 30,46 5,43 19,36
1992 7,62 3,48 7,34
1993 10,08 3,03 13,06
1994 1,32 4,39 -7,32
1995 37,58 5,61 25,94
1996 22,96 5,14 0,13
1997 33,36 5,19 12,02
1998 28,58 4,86 14,45
1999 21,04 4,80 -7,51
2000 -9,10 5,98 17,22
2001 -11,89 3,33 5,51
2002 -22,10 1,61 15,15
2003 28,89 0,94 2,01
2004 10,88 1,14 8,12
2005 4,91 2,79 6,89
2006 15,79 4,97 0,28
2007 5,49 4,52 10,85
Média dos retornos 13,41 5,72 10,86
Desvio-padrão dos retornos 15,47 3,07 11,70
Tabela 2.6 - Retornos totais ano a ano: 1981-2007. Fonte: Adaptado de Ross et al. (2013).
Perceba que a carteira de ações foi a que apresentou retorno médio mais
alto (15,47%) ao longo do período analisado (1981-2007). Todavia, os retornos
dos portfólios de títulos de dívida do governo norte-americano obtiveram des-
vios-padrão inferiores ao do índice S&P 500, o que justifica os seus retornos es-
perados menores. Assim, a partir da tabela 2.6 é possível notar que, em média,
títulos mais arriscados, como ações, tendem a oferecer retornos maiores.
56 • capítulo 2
TÍTULO F (50%) TÍTULO G (50%)
2004 8% 16%
2008 16% 8%
Tabela 2.7 - Retornos anuais dos títulos F e G. Fonte: Adaptado de Gitman (2004).
capítulo 2 • 57
Agora focaremos no desvio-padrão da carteira, cuja fórmula requer que
calculemos os desvios-padrão e as variâncias dos ativos individuais, além da
covariância ou do coeficiente de correlação entre os retornos dos títulos F e G.
1
(Observação: lembre-se que x = ( x ) 2 )
• Desvio-padrão do título F:
σF =
1
( 0, 08 − 0,12 )2 + ( 0,10 − 0,12 )2 + (0,12 - 0,12)2 + ( 0,14 − 0,12 )2 + ( 0,16 − 0,12 ) 2
( 5 − 1 )
σF ≈ 0,316228 ≈ 3,16228%
• Variância do título F:
• Desvio-padrão do título G:
σG =
1
( 0,16 − 0,12 )2 + ( 0,14 − 0,12 )2 + ( 0,12 − 0,12 )2 + ( 0,10 − 0,12 ) + ( 0, 08 − 0,12 )2 2
( 5 − 1 )
σG ≈ 0, 0316228 ≈ 3,16228%
• Variância do título G:
• Covariância entre F e G:
58 • capítulo 2
• Coeficiente de correlação entre F e G:
COVF,G −0, 001
ρF ,G = = = −1
σF x σG 0, 0316228 x 0, 0316228
A combinação de ativos com retornos não correlacionados pode reduzir o risco da car-
teira, embora não tão eficazmente quanto o uso de ativos com retornos negativamente
correlacionados, mas mais eficazmente do que com a combinação de ativos com retor-
nos positivamente correlacionados.
O autor ainda explica que o risco de um portfólio formado por dois inves-
timentos com retornos correlacionados perfeita e positivamente será, no mí-
nimo, igual ao risco do ativo menos arriscado e, no máximo, igual ao risco do
capítulo 2 • 59
ativo mais arriscado. Assim sendo, pode-se definir diversificação como a esco-
lha conveniente de ativos, que não apresentam retornos com correlação posi-
tiva e perfeita.
60 • capítulo 2
(como demonstra a figura 2.10), os gestores e as empresas deveriam se preocu-
par somente com o risco sistemático dos ativos que compõem suas carteiras.
Risco da
Carteira (σρ)
Risco Diversificável
Risco
Total
Risco Sistemático
Quantidade de Ativos
Figura 2.10 – Gráfico da Redução do risco pela diversificação. Fonte: Adaptado de Assaf
Neto (2010).
ATIVIDADES
01. O retorno de um investimento, normalmente, tem dois componentes. Quais são eles?
Explique-os brevemente.
capítulo 2 • 61
03. Um investidor está avaliando dois ativos, A e B, e as informações que ele dispõe são as
seguintes:
REFLEXÃO
O empresário Eike Batista já foi considerado um dos maiores empreendedores do mundo. Na
realidade, na capa do seu próprio livro5, intitulado “O X da questão”, consta: “a trajetória do maior
empreendedor do Brasil. Entretanto, a vida do mineiro de Governador Valadares mistura suces-
so e fracasso. De 2008 até 2012 sua fortuna cresceu de US$ 6,6 bilhões para US$ 30 bilhões.
No entanto, de novembro de 2012 até setembro de 2013, seu patrimônio passou de US$ 18,6
bilhões para US$ 900 milhões6. Embora sua riqueza atual não seja uma informação de domínio
público, em 2014, segundo suas próprias contas, ela seria de US$ 1 bilhão negativo7. O que
aconteceu com o empresário, em um período de aproximadamente cinco anos, pode ser expli-
cado por dois conceitos abordados no presente capítulo: propensão ao risco; e diversificação.
Eike Batista sempre foi um investidor com pouca aversão ao risco. Aos 23 anos foi para
a Amazônia, onde, com um empréstimo de US$ 500 mil, montou uma empresa de compra
e venda de ouro chamada Autram Aurem. Em 15 meses, o empreendimento movimentou
62 • capítulo 2
cerca de US$ 60 milhões e alcançou lucro de US$ 6 milhões8. Em 2008, conforme o próprio
empresário, seu objetivo era desbancar Bill Gates em cinco anos e se tornar o homem mais
rico do mundo9. Para alcançar tal êxito, ele precisaria adotar uma postura propensa ao risco,
dando preferência a investimentos com retornos de elevada variabilidade, que poderiam lhe
proporcionar retornos exorbitantes, mas também prejuízos consideráveis.
Durante a maior parte de sua trajetória Eike pode ter diversificado sua carteira de ativos.
Contudo, nos últimos anos ficou nítido que ele esqueceu a importância da diversificação. Seu
conglomerado atuava em mercados que iam do petróleo (com a OGX) ao entretenimento
(com a IMX, que organiza os espetáculos do Cirque du Soleil no Brasil). Todavia, a maior par-
te do seu patrimônio estava concentrada no Grupo EBX, formado por empresas feitas para
auxiliar umas às outras. Quando uma ia bem, todas se beneficiavam, mas quando uma ia mal,
contamina as demais10. Ou seja, investimentos com retornos que não possuíam correlação
negativa e, dessa forma, Eike deixou de utilizar a estratégica mais eficaz de diversificação.
LEITURA
Para o aprofundamento dos principais assuntos abordados no presente capítulo, são reco-
mendadas as seguintes leituras:
ROSS, S. A. et al. Fundamentos da administração financeira. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
782 p. O capítulo 12 deste livro debate sobre algumas lições do mercado de capitais, além de fazer um
levantamento dos retornos de diferentes carteiras durante o período de 1926 até 2007.
BRUNI, A. L.; FUENTES, J.; FAMÁ, R. A moderna teoria de portfólios e a contribuição dos mercados
latinos na otimização da relação risco versus retorno de carteiras internacionais: evidências empíricas
recentes (1996-1997). In: Semead, 3., 1998, São Paulo. Anais… São Paulo: FEA-USP, 2004.
Disponível em: <http://www.infinitaweb.com.br/albruni/artigos/a9905_Semead_Cart_Intern.
pdf>. Acesso em: 10 jan. 2015. Este artigo apresenta a moderna teoria de portfólios, ressaltando a
importância da diversificação e analisa os benefícios decorrentes da distribuição de investimentos em
mercados latino-americanos.
DAMODARAN, A. Finanças corporativas aplicada: manual do usuário. Porto Alegre: Bookman,
2002, 576 p. A seção 3.2 deste livro apresenta diferentes tipos de risco, como risco do projeto,
competitivo, do setor, internacional etc.
capítulo 2 • 63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BERNSTEIN, P. L. Desafio aos deuses: a fascinante história do risco. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus-
Elsevier, 1997. 390p.
BODIE, Z.; KANE, A.; MARCUS, A. J. Investments. 5. ed. New York: McGraw-Hill Irwin, 2002. 1015p.
DAMODARAN, A. Damodaran on valuation: security analysis for investment and corporate finance. 2.
ed. New Jersey: John Wiley & Sons, 2006. 685p.
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Business, v. 50, n. 4, 415-437, 1977.
FAMA, E. F. Foundations of finance: portfolio decisions and securities prices. New York: Basic Books,
1976. 387p.
GALAGEDERA, D. U. A. A review of capital asset pricing models. Managerial Finance, v. 33, n. 10, p.
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GITMAN, L. J. Princípios da administração financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson Addison Wesley,
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GUJARATI, D. N.; PORTER, D. C. Econometria básica. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011. 924p.
JENSEN, M. C.; SIMITH, C. W. The theory of corporate finance: a historical overview. Working Paper,
1984. Disponível em: <http://papers.ssrn.com/abstract=244161>. Acesso em: 10 jan. 2015.
MARKOWITZ, H. M. Portfolio selection. The Journal of Finance, v. 7, n. 7, p. 77-91, 1952.
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ROSS, S. A. et al. Fundamentos da administração financeira. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
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SILVEIRA, A. D. M. Governança corporativa no Brasil e no mundo: teoria e prática. Rio de
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STATMAN, M. How many stocks make a diversified portfolio? Journal of Financial and Quantitative
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STOCK, J. H.; WATSON, M. W. Econometria. São Paulo: Addison Wesley, 2004, 485p.
WESTON, J. F.; BRIGHAM, E. F. Fundamentos da administração financeira. 10. ed. São Paulo:
Pearson Makron Books, 2004. 1030 p.
WOOLDRIGDE, J. M. Introdução à econometria: uma abordagem moderna. 2. ed. São Paulo:
Cengage Learning, 2012. 701p.
64 • capítulo 2
3
Custo de capital
O capítulo 3 debate sobre o custo de capital das empresas. Primeiramente,
focamos na mensuração do custo de capital próprio, por meio do modelo de
precificação de ativos, conhecido pela sigla CAPM. Para compreendê-lo, é fun-
damental analisar três modelos, que são os seus blocos construtores: a linha
do mercado de capitais; a linha característica do título; e a linha do mercado
de títulos. Posteriormente, concentramo-nos no cálculo do custo de capital de
terceiros, destacando a importância de considerá-lo líquido do imposto de ren-
da, em função da dedutibilidade dos juros das dívidas, na forma de despesas fi-
nanceiras. Mais tarde, demonstramos como calcular o custo de capital total da
empresa, a partir do custo médio ponderado de capital. Por fim, apresentamos
o importante indicador de lucro residual conhecido como EVA®.
OBJETIVOS
• Compreender os modelos CML, SCL e SML;
• Mensurar o risco sistemático, por meio do coeficiente beta;
• Calcular o custo de capital próprio mediante, a utilização do CAPM;
• Calcular o custo de capital de terceiros;
• Calcular o custo médio ponderado de capital;
• Entender a importância de variantes do lucro residual, como o EVA.
66 • capítulo 3
3.1 CAPM
No capítulo 2, foi explicado que o risco total de um ativo pode ser dividido em
duas partes: sistemática e não sistemática. A primeira é determinada pelas ca-
racterísticas específicas do ativo, enquanto a segunda é causada por eventos de
natureza política, econômica e social. Como vimos, diferentemente da parte
sistemática, o risco idiossincrático pode ser praticamente eliminado pelo pro-
cesso de diversificação. Dessa forma, sob o ponto de vista de investidores bem
diversificados, o retorno esperado de um ativo depende somente de seu risco
sistemático (ROSS et al., 2013). Mas como mensurar o risco sistemático?
Sharpe (1964) e Lintner (1965) desenvolveram o modelo de precificação de
ativos (CAPM)1, que relaciona o retorno esperado de um ativo a um indicador
de seu risco sistemático, conhecido como coeficiente beta (β). Este modelo
representa uma ferramenta importante para avaliação de custo de capital, de-
sempenho do portfólio e diversificação da carteira (GALAGEDERA, 2007).
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capítulo 3 • 67
elevados assumidos. Para entendermos como isso é realizado, precisamos co-
nhecer os três modelos que são os blocos construtores do CAPM: a linha (ou
reta) do mercado de capitais (CML2); a linha característica do título (SCL3); e a
linha do mercado de títulos (SML4) (GALAGEDERA, 2007).
E(KM ) − KF
( )
E Kp = KF +
σM
σP
(3.1)
68 • capítulo 3
Em condições de equilíbrio5 de mercado, se os agentes econômicos segui-
rem procedimentos racionais (principalmente a diversificação), os preços dos
ativos são ajustados de modo que os investidores sejam capazes de atingir qual-
quer ponto desejado da CML (SHARPE, 1964). Entretanto, o indivíduo só eleva-
rá o seu retorno esperado, caso assuma um risco adicional.
De acordo com (3.1), o retorno esperado de uma carteira é obtido pela soma
de dois fatores: uma remuneração sem risco (KF); e um prêmio pelo risco por
unidade de risco de mercado ( M )
E K − KF
, ponderado pelo desvio-padrão da
σ M
carteira (σP). Portanto, o mercado oferece ao investidor dois preços: o preço do
tempo ou taxa de retorno pura [o intercepto da CML (KF)]; e o preço do risco, ou
seja, o retorno esperado adicional ao elevar-se uma unidade de risco assumido (a
inclinação da CML) (SHARPE, 1964). Note, a partir da figura 3.1, que a inclinação
(ou coeficiente angular) da CML pode ser obtida por meio da divisão do cateto
oposto [E (KM) – KF] pelo cateto adjacente (σM), do triângulo retângulo MPKF.
Retorno
Esperado
E (KP) CML
M
E (KM)
Prêmio pelo
risco de mercado
KF P
σM
Risco (σp)
Figura 3.1 – Linha do mercado de capitais (CML). Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2010).
capítulo 3 • 69
Governo norte-americano (T-Bonds), usualmente com vencimento em 10 anos
(ASSAF NETO, 2010). No Brasil, a taxa livre de risco da economia é representa-
da, normalmente pela remuneração média dos títulos públicos federais, embo-
ra não sejam isentos do risco de default.
No ponto M da figura 3.1 está a carteira de mercado, a qual é um portfólio
extremante diversificado (só possui risco sistemático) que contém, na teoria, to-
dos os títulos com risco na exata proporção em que estão disponíveis no merca-
do (ASSAF NETO, 2010). Na prática, a carteira de mercado, pela dificuldade de
ser formada, é obtida por meio de algum índice de mercado de ações, como o
Ibovespa7 para o Brasil e o Nyse Composite8 para os Estados Unidos. No segmen-
to que vai de KF até M estão todas as possíveis combinações entre ativos com risco
e livres de risco. Dessa maneira, temos que: preferências por carteiras à esquerda
de M indicam maior aversão do investidor ao risco; e preferências por carteiras à
direita de M sinalizam menor aversão do investidor ao risco (ASSAF NETO, 2010).
Por fim, o prêmio pelo risco de mercado [E (KM) – KF] é a compensação pelo inves-
tidor assumir risco sistemático (ROSS et al., 2013). Conforme Damodaran (2006), o
prêmio pelo risco mensura o retorno adicional exigido pelo investidor, por tirar seu
dinheiro de um ativo livre de risco e aplicá-lo em um investimento de risco médio.
K it − K Ft = α i + βi ( K Mt − K Ft ) + εit
(3.2)
70 • capítulo 3
Kit – KFt: é o retorno adicional do ativo i na data t, ou seja, o seu prêmio pelo risco;
KMt – KFt: é o retorno adicional da carteira de mercado, ou seja, o prêmio pelo
risco de mercado;
βi: é o coeficiente beta do ativo i. Representa o parâmetro angular da SCL;
αi: é o coeficiente alfa do ativo i. Representa o parâmetro linear da SCL.
Indica o retorno adicional do ativo i, na hipótese do retorno adicional da cartei-
ra de mercado ser nulo; e
εit: é o termo de erro aleatório. É a diferença entre o valor observado para o
retorno adicional do ativo i e o seu valor previsto pela SCL.
Perceba que é por meio da SCL que é calculado o coeficiente beta (β), o in-
dicador de risco sistemático do ativo. A SCL é obtida pela técnica de regressão
linear, que, caso utilize o procedimento de estimação conhecido como Mínimos
Quadrado e Ordinários (MQO)9, produz a seguinte fórmula para o beta do ativo i:
COVK , K
Coeficiente beta ( βi ) = i M
σ2M
Em que:
COV Ki, KM: é a covariância entre os retornos do ativo i e da carteira de mercado; e
σ2M: é a variância dos retornos da carteira de mercado (VARKM).
Kit − KFt
SCL Risco
diversificável
αi βi
KMt − KFt
Figura 3.2 – Linha característica do título (SCL). Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2010).
9 Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) é uma técnica econométria de estimação. Ela recebe tal nome porque o(s)
coeficiente(s) da reta de regressão é(são) estimado(s) de modo que a soma dos quadrados dos resíduos (erros de
previsão da reta estimada) é minimizada. Para saber mais sobre econometria sugerem-se os livros: Stock e Watson
(2004); Wooldrigde (2012) e Gujarati e Porter (2011).
capítulo 3 • 71
O coeficiente beta mensura a sensibilidade do ativo em relação aos movi-
mentos do mercado (BREALEY; MYERS; ALLEN, 2013). Mais precisamente, o
beta é o efeito marginal do retorno adicional da carteira de mercado ( KMt – KFt)
sobre o retorno adicional do ativo i (Kit – KFt). Em outras palavras, o beta é a
variação esperada (em pontos percentuais) no prêmio pelo risco do título (ou
apenas no retorno do título) quando o prêmio pelo risco de mercado (ou apenas
o retorno do mercado) variar 1 ponto percentual (considerando que os retornos
são medidos em porcentagem).
Por exemplo, para uma ação A com βA = 1,5, quando o retorno da carteira
de mercado aumenta 1 ponto percentual, o retorno da ação A sobe, em média,
1,5 ponto percentual. Para ficar mais claro, suponha que os retornos esperados
da ação A e da carteira de mercado sejam de 12% e 10%, respectivamente. Se
o retorno esperado do mercado subir para 11%, o retorno esperado da ação A
crescerá para 13,5%.
Assim, o beta da carteira de mercado (βM) é igual a 1, uma vez que ele é a
variação prevista (em pontos percentuais) no prêmio pelo risco do ativo (que
neste caso é a carteira de mercado), quando o prêmio pelo risco de mercado
variar 1 ponto percentual. De outro modo, βM é a alteração (em pontos percen-
tuais) no retorno esperado da carteira de mercado, quando o retorno esperado
da carteira de mercado variar 1 ponto percentual, ou seja, βM = 1.
Logo, temos que: quando o título tem β > 1, seu risco não diversificável é
maior do que o risco sistemático da carteira de mercado, sendo considerado
um investimento “agressivo”; e quando o título tem β < 1, seu risco sistemático
é menor do que o risco não diversificável do portfólio de mercado, caracteri-
zando-se como um investimento “defensivo” (ASSAF NETO, 2010). Portanto, o
beta é a quantidade de risco sistemático inerente a certo ativo (ou carteira) em
relação ao risco da carteira de mercado (que é considerada como um ativo de
risco médio e só possui risco não diversificável) (ROSS et al., 2013).
Mas e o risco não sistemático (diversificável)? Este está vinculado ao termo
de erro (εit) da SCL, que contém todos os outros fatores, além do risco sistemá-
tico, que determinam o retorno em excesso do ativo i. Por isso, o desvio-padrão
de εit é muitas vezes empregado para mensurar o grau de risco específico do
ativo i. Todavia, como já comentado no capítulo 2, para uma carteira bem di-
versificada, o risco relevante para o investidor é o risco sistemático, o qual não
pode ser reduzido pela diversificação (ASSAF NETO, 2010).
72 • capítulo 3
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3.1.2.1 Cálculo do beta de uma carteira
Em que:
βP : é o beta da carteira;
βi : é o beta do ativo i; e
Wi : é a proporção do capital total aplicado no ativo i (a participação do ativo
i na carteira).
Por exemplo, suponha que uma carteira seja formada pelos quatro ativos
que estão na tabela 3.1.
A 2,0 2.000
B 1,5 2.500
C 0,8 4.000
D 0,5 1.500
capítulo 3 • 73
Primeiro, precisamos mensurar o capital total investido:
Capital total investido = 2.000 + 2.500 + 4.000 + 1.500 = 10.000
2.000
WA = = 0, 20 = 20%
10.000
2.500
WB = = 0, 25 = 25%
10.000
4.000
WC = = 0, 40 = 40%
10.000
1.500
WD = = 0,15 = 15%
10.000
βP = ( WA x β A ) + ( WB x βB ) + ( WC x βC ) + ( WD x βD )
βP = ( 0, 20 x 2, 0 ) + ( 0, 25 x 1,50 ) + ( 0, 40 x 0,8 ) + ( 0,15 x 0,50 ) = 1,17
Como temos βP > 1, a carteira tem risco sistemático maior do que o risco do
portfólio de mercado.
Retor
esperado E(Ki) U SML
R
E(KR)
M
E(KM)
D
E(KD)
O
KF
P
βD βM = 1 βR
Risco (βi)
Figura 3.3 – Linha do mercado de títulos (SML). Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2010).
74 • capítulo 3
Como sabemos, a inclinação de uma reta é igual ao seu coeficiente angular,
que, no caso da SML, pode ser calculado por meio da divisão do cateto oposto
[E(KM) – KF] pelo cateto adjacente (βM) do triângulo retângulo MPKF. Assim sen-
do, a SCL pode ser escrita da seguinte forma:
E(KM ) − KF
E( Ki ) = KF βi
βM (3.4)
Em que:
E(Ki) : é o retorno esperado do ativo i;
E(KM) : é o retorno esperado da carteira de mercado;
KF : é o retorno do ativo livre de risco (risk free);
βM: é o beta da carteira de mercado; e
βi : é o beta do ativo i.
RETORNO ESPERADO
AÇÃO BETA (β) [KF + β (KM - KF)]
capítulo 3 • 75
RETORNO ESPERADO
AÇÃO BETA (β) [KF + β (KM - KF)]
* Notas: os valores considerados como taxa de retorno livre de risco (KF) e como prêmio pelo risco de mercado
(KM - KF) são 2% e 7%, respectivamente.
Tabela 3.2 – Retorno esperado e beta de 10 ações. Fonte: Adaptado de Brealy, Myers e Allen
(2013).
76 • capítulo 3
Repare que o título U oferece um retorno esperado acima do que o previs-
to pela SML para um ativo com o seu beta e, portanto, está subavaliado. Nesta
situação, sugere-se a compra do ativo, uma vez que, em um mercado compe-
titivo, a tendência é que U se valorize, pois: quando os investidores notarem a
incoerência praticada pelo mercado, a demanda por U aumentará, seu preço
crescerá e, consequentemente, o seu retorno esperado será diminuir até o ativo
atingir a SML.
Por outro lado, veja que o título O oferece um retorno esperado mais baixo
do que o previsto pela SML. Nesta conjuntura, o retorno prometido não remu-
nera o risco assumido e, destarte, o ativo está superavaliado. Ao perceberem
tal discrepância, os investidores promoverão a venda do título. O aumento da
oferta de O reduzirá o seu preço e, por conseguinte, o seu retorno esperado au-
mentará até o título alcançar a SML. Portanto, em um mercado competitivo, a
tendência é que o ativo se desvalorize e, por isso, recomenda-se a sua venda.
capítulo 3 • 77
Obviamente, as três primeiras hipóteses são muito restritivas e não corres-
pondem à realidade.
O CAPM não é perfeito, não consegue captar plenamente todos os riscos en-
volvidos e se baseia em pressupostos simplistas e questionáveis (ASSAF NETO,
2010). Todavia, o modelo fornece um arcabouço conceitual útil para a avalia-
ção entre o risco e o retorno dos títulos (GITMAN, 2004). Por sintetizar de ma-
neira simples conceitos importantíssimos, como os de aversão ao risco, diver-
sificação e risco sistemático: muitos gestores financeiros consideram o CAPM
a ferramenta mais conveniente para lidarem com a noção de risco; e cerca de
três quartos dos investidores usam o CAPM para estimar o custo de capital
(BREALEY; MYERS; ALLEN, 2013).
78 • capítulo 3
O segundo argumento, como destaca Assaf Neto (2010), é de natureza fiscal,
pois envolve a dedutibilidade das despesas financeiras no cálculo da provisão
para imposto de renda. Assim, o custo de capital de terceiros é reduzido pela
economia de imposto de renda. Contudo, os recursos próprios não têm essa
característica, uma vez que os lucros distribuídos aos acionistas são definidos
após a respectiva provisão tributária.
O custo de capital próprio, denotado por Ke, é o retorno exigido pelos proprie-
tários da companhia. Sua mensuração é um dos segmentos de estudos mais
complexos de finanças corporativas, pois assume diversas hipóteses e abstrações
teóricas (ASSAF NETO, 2010). Embora não haja uma única forma de calcular Ke,
este é comumente obtido por meio do CAPM, como demonstra a equação (3.6):
Em que:
Ke : é a taxa de retorno mínima requerida pelos proprietários (custo do ca-
pital próprio);
KF : é a taxa de retorno do ativo livre de risco;
β : é o coeficiente beta da ação da empresa; e
KM: é a taxa de retorno da carteira de mercado.
Por exemplo, suponha que o beta da ação da empresa, a taxa de retorno li-
vre de risco e a taxa de retorno da carteira de mercado sejam de 1,5, 4% e 10%,
respectivamente. Então, o custo de capital próprio da organização pode ser cal-
culado da seguinte forma:
Ke = 0,04 + 1,5 (0,10 – 0,04)
Ke = 0,13 = 13%
capítulo 3 • 79
É importante ressaltar que o emprego do CAPM apresenta duas desvanta-
gens, destacadas por Ross et al. (2013). Primeiro, essa abordagem requer que
Rf, RM e β sejam estimados, sendo que o uso de diferentes períodos, ações e
mercados repercute em resultados muito diferentes. Se as estimativas dessas
variáveis forem ruins, o custo de capital próprio resultante será impreciso.
Segundo, o CAPM depende, essencialmente, do passado para tentar prever o
futuro. Como a conjuntura econômica pode variar muito rapidamente, o pas-
sado, algumas vezes, pode não ser um bom guia para o futuro.
80 • capítulo 3
Assim, as despesas financeiras líquidas do IR são de:
Despesas Financeiras Líquidas do IR = Despesas Financeiras Brutas do IR – EIR
Despesas Financeiras Líquidas do IR = 50.000 – 17.000 = 33.000
33.000
K i ( após IR ) = = 0,11 = 11, 0%
300.000
WACC = We x K e + Wi x K i ( após IR )
(3.9)
Em que:
WACC : é o custo médio ponderado de capital;
We : é a participação (%) de recursos próprios no capital investido da empresa;
Ke : é o custo de capital próprio;
Wi : é a participação (%) de recursos de terceiros no capital investido da em-
presa; e
10 WACC é a sigla da expressão inglesa “weighted average cost of capital” (custo médio ponderado de capital).
capítulo 3 • 81
Ki (após IR) : é o custo de capital de terceiros líquido do imposto de renda.
Para ilustrar, suponha que você tenha que calcular o WACC da empresa X,
cujos dados encontram-se na Tabela 3.3.
400.000
We = = 0, 40 = 40%
1.000.000
600.000
Wi = = 0,60 = 60%
1.000.000
Saiba qual foi, em média, o custo de capital próprio (Ke) e o custo médio ponderado
de capital (WACC) de 35 setores da economia brasileira, entre o período de 2005 até
2013, por meio do link: <http://www.institutoassaf.com.br/2012/>.
82 • capítulo 3
3.2.4 Valor econômico agregado (EVA®11)
capítulo 3 • 83
EVA = ( ROIC − WACC ) x Capital Investido (3.12)
ou
EVA = NOPAT − ( WACC x Capital Investido ) (3.13)
Em que:
ROIC15: é o retorno sobre o capital investido;
WACC: é o custo médio ponderado de capital; e
NOPAT16: é o lucro operacional líquido do imposto de renda.
NOPAT
ROIC =
Capital Investido
(3.14)
Assaf Neto (2010) ainda apresenta duas fórmulas alternativas para o cálculo
do EVA contábil:
Em que:
ROE17: é a rentabilidade do patrimônio líquido; e
Ke: é o custo do capital próprio;
84 • capítulo 3
O lucro líquido é o resultado que pertence aos acionistas. Depende das decisões de
ativos (operações) e passivos (despesas financeiras). A relação entre lucro líquido e
investimento só tem sentido se o investimento for o capital de propriedade dos acio-
nistas, ou seja, o patrimônio líquido (ASSAF NETO, 2010). Por isso, a remuneração dos
proprietários é calculada por meio da rentabilidade do patrimônio líquido (ROE), como
indica a expressão (3.17):
Lucro Líquido
ROE =
Patrimônio Líquido (3.17)
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EVA > 0 ROIC > WACC / ROE > Ke A empresa criou valor.
capítulo 3 • 85
RETORNO X CUSTO DE CRIAÇÃO X DESTRUIÇÃO
EVA CAPITAL DE VALOR
EVA < 0 ROIC < WACC / ROE < Ke A empresa destruiu valor.
Para ilustrar a utilidade das equações (3.15) e (3.16), suponha que todas as
informações disponíveis sobre a empresa Y, durante o exercício de 2014, fos-
sem as da tabela 3.5.
145.000
EVA = − 0,16 x 1.000.000 = R$ − 15.000
1.000.000
ou
EVA = 145.000 − ( 0,16 x 1.000.000 ) = R$ − 15.000
86 • capítulo 3
ATIVIDADES
01. A partir das informações da Tabela A, calcule o retorno da carteira W, com base na linha
do mercado de capitais (CML).
02. Em um mercado competitivo, se um título estiver subavaliado, o que acontecerá com ele?
03. Em um mercado competitivo, se um título estiver superavaliado, o que acontecerá com ele?
04. Calcule o custo de capital próprio da empresa Z, por meio do CAPM, a partir dos dados
da Tabela B.
capítulo 3 • 87
05. Calcule o custo de capital de terceiros da organização L, líquido do IR, a partir dos dados
da Tabela C.
06. Mensure o custo médio ponderado de capital da companhia G, com base nas informa-
ções da Tabela D.
07. Calcule o valor econômico agregado pela firma J, durante o exercício de 2015, por meio
dos dados da Tabela E.
88 • capítulo 3
REFLEXÃO
O conceito de custo de oportunidade é simples, porém muito relevante. Martins (1996, p.
433) o explica da seguinte forma:
Custo de Oportunidade significa o quanto alguém deixou de ganhar por ter adotado
uma alternativa em vez de outra, ou seja, se alguém escolheu investir em uma fábrica
de giz, deixando de, com isso, investir na construção de um supermercado, que era a
segunda melhor alternativa existente na época, diz-se que o Custo de Oportunidade
da decisão de investir na fábrica de giz é o quanto se deixou de ganhar por não se
construir o supermercado.
Assim, o custo de oportunidade pode ser entendido como a remuneração sacrificada por
abandonar-se determinada alternativa de investimento e escolher-se outra. Todavia, no caso
do investimento econômico, tais alternativas precisam oferecer riscos semelhantes (MAR-
TINS; DINIZ; MIRANDA, 2012). Isto porque investimentos com riscos diferentes não permi-
tem uma comparação homogênea dos retornos produzidos, deturpando o conceito de custo
de oportunidade na avaliação da atratividade econômica de um ativo (ASSAF NETO, 2010).
Uma das principais limitações dos indicadores contábeis tradicionais de rentabilidade,
como o ROIC e o ROE, é a ausência de dedução do custo de oportunidade dos proprietários.
Mesmo se a empresa apresentar ROIC ou ROE positivos, a organização poderá ter destruído
a riqueza dos seus proprietários, reduzindo o seu valor de mercado. Por isso a importância de
variantes do lucro residual como o EVA, que levam em consideração o custo total de capital
da empresa e o comparam com o seu retorno operacional.
LEITURA
Para o aprofundamento dos principais assuntos abordados no presente capítulo, são reco-
mendadas as seguintes leituras:
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G.; ARAÚJO, A. M. P. Uma proposta metodológica para o cálculo do custo
capítulo 3 • 89
de capital no Brasil. Neste artigo os autores apresentam um método para o cálculo do custo de capital
próprio das empresas brasileiras, a partir de benchmark com uma economia mais estável, a qual
oferece indicadores de referência mais consistentes e representativos de um comportamento esperado
futuro.
BREALEY, R. A.; MYERS, S. C.; ALLEN, F. Princípios de finanças corporativas. 10. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2013. 876p. O capítulo 12 deste livro apresenta algumas variantes de lucro residual, como o
EVA, e discute sobre os vieses dos indicadores contábeis tradicionais.
STOCK, J. H.; WATSON, M. W. Econometria. São Paulo: Addison Wesley, 2004, 485p. O capítulo 4
deste livro explica o que é um modelo de regressão linear e como estimá-lo por Mínimos Quadrados
Ordinários.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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capítulo 3 • 91
92 • capítulo 3
4
Administração
Financeira de Curto
Prazo
O capítulo 4 aborda aspectos importantes da administração financeira de
curto prazo. Primeiramente, concentramo-nos em conceitos como os de capi-
tal de giro, ciclo operacional e ciclo financeiro. Depois, focamos nos cálculos
do capital circulante líquido, do índice de liquidez corrente e da necessidade
de investimento em giro. Por fim, discutimos questões relevantes, vinculadas
à administração de caixa e à gestão dos valores a receber.
OBJETIVOS
• Compreender o conceito de capital de giro;
• Aprender os conceitos de ciclo operacional e ciclo financeiro;
• Mensurar o capital circulante líquido, o índice de liquidez corrente e a necessidade de
investimento em giro;
• Calcular o giro de caixa e o caixa mínimo operacional;
• Medir o giro dos valores a receber, o índice de inadimplência e os dias de venda a receber.
94 • capítulo 4
4.1 Introdução à administração financeira de
curto prazo
Figura 4.1 – Balanço Patrimonial simplificado. Fonte: Baseado em Martins et al. (2013) e
Assaf Neto (2012).
capítulo 4 • 95
Não existe uma definição universalmente aceita para finanças corporativas de curto
prazo. A diferença mais importante entre finanças de curto e longo prazo está na distri-
buição dos fluxos de caixa no tempo (ROSS et al., 2013, p. 622).
Tabela 4.1 – Descrição das principais contas do Ativo Total. Fonte: Baseado em Martins et al.
(2013) e Assaf Neto (2012).
96 • capítulo 4
CONTA / SUBCONTA DESCRIÇÃO
PASSIVO EXIGÍVEL Exigibilidades e obrigações da empresa.
Passivos que deverão ser pagos até o término do exercício seguinte ou
PASSIVO CIRCULANTE do ciclo operacional da empresa, no caso do ciclo ser superior a um ano
(exercício social).
Passivos circulantes provenientes da compra de matérias-primas, mercado-
FORNECEDORES rias e outros materiais.
Obrigações de curto prazo da empresa junto a instituições financeiras do
EMPRÉSTIMOS E país e do exterior, cujos recursos podem estar destinados para financiar
FINANCIAMENTOS DE CP imobilizações e/ou capital de giro.
Obrigações da empresa com o Governo relativas a impostos, taxas e con-
OBRIGAÇÕES FISCAIS tribuições. Exemplos: ICMS a recolher; IPI a recolher; imposto de renda a
pagar; e contribuição social a pagar.
Quando pagos no mês seguinte ao qual forem incorridos, os salários e
ORDENADOS E SALÁRIOS ordenados devem ser reconhecidos como passivo. Esse registro inclui to-
A PAGAR dos os benefícios aos quais o empregado tenha direito, como horas extras
adicionais e prêmios.
Saídas de recursos da empresa, que são julgadas como prováveis em exer-
PROVISÕES cício futuro. Exemplos: provisão para garantias; provisão para riscos fiscais,
trabalhistas e cíveis; provisão para reestruturação; e provisão para danos.
Passivos que deverão ser pagos após o término do exercício seguinte ou
PASSIVO do ciclo operacional da empresa, no caso do ciclo ser superior a um ano
NÃO CIRCULANTE (exercício social).
Obrigações de longo prazo da empresa junto a instituições financeiras do
EMPRÉSTIMOS E país e do exterior, cujos recursos podem estar destinados para financiar
FINANCIAMENTOS DE LP imobilizações e/ou capital de giro.
DEBÊNTURES E OUTROS Debêntures e outros títulos de dívida (eurobonds, euronotes etc) emitidos
TÍTULOS DE DÍVIDA pela empresa, normalmente para financiar seus projetos de investimento.
Diferença entre o valor dos ativos e o dos passivos. É o valor contábil
pertencente aos proprietários da empresa. É dividido em: capital social;
PATRIMÔNIO LÍQUIDO reservas de capital; ajustes de avaliação patrimonial; reservas de lucros;
ações em tesouraria; e prejuízos acumulados.
Valores recebidos dos proprietários e também aqueles gerados pela empre-
CAPITAL SOCIAL sa que foram juridicamente incorporados ao Capital (lucros a que os sócios
renunciaram e incorporaram como capital).
Valores recebidos pela empresa e que não transitaram pelo resultado como
receitas, por se referirem a valores destinados a reforço de capital, sem
RESERVAS DE CAPITAL terem como contrapartidas qualquer esforço da empresa em termos de
entrega de bens ou de prestação de serviços. Exemplos: ágio na emissão
de ações; e alienação de partes beneficiárias e de bônus de subscrição.
Lucros retidos pela empresa com finalidades específicas. Podemos ter as
seguintes reservas de lucro: reserva legal; reservas estatutárias; reservas
RESERVAS DE LUCRO por contingências; reserva de lucros a realizar; reserva de lucros para
expansão; reservas de incentivos fiscais; e reserva especial para dividendo
obrigatório não distribuído.
Tabela 4.2 – Descrição das principais contas do Passivo Total. Fonte: Baseado em Martins et
al. (2013) e Assaf Neto (2012).
capítulo 4 • 97
É importante ressaltar que o capital de giro corresponde ao ativo circulante
da organização, embora esta não seja a única interpretação para essa expres-
são. Entretanto, Assaf Neto (2010, p. 554) explica que:
[...] qualquer que seja a definição adotada, o conceito de capital de giro (ou de capital
circulante) identifica os recursos que giram (circulam) várias vezes em determinado pe-
ríodo. Em outras palavras, corresponde a uma parcela de capital aplicada pela empresa
em seu ciclo operacional, caracteristicamente de curto prazo, a qual assume diversas
formas ao longo do processo produtivo e de venda.
Recursos
aplicados Estoque de
Disponível materiais
no Ativo
Circulante
Realizável
Vendas Vendas
à vista a prazo
Estoque de
Produtos
Acabados
Produção
Figura 4.2 – O fluxo do ativo circulante. Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2010).
98 • capítulo 4
4.1.1 Ciclo operacional e ciclo financeiro
EVENTO DECISÃO
Tabela 4.3 – Eventos e decisões de curto prazo. Fonte: Adaptado de Ross et al. (2013).
Ross et al. (2013) explica que essas atividades criam sequências de fluxos
de entradas e saídas de caixa não sincronizados e incertos. Conforme o autor,
não há sincronia visto que, por exemplo, a saída de caixa para pagamento da
compra de matéria-prima não ocorre ao mesmo tempo em que acontece o re-
cebimento de caixa pela venda dos produtos. Também não são certos porque é
impossível prever com exatidão as vendas e os custos futuros.
A administração dos prazos referentes a esses eventos expostos, pelo tabela 4.4
é uma função importante do gestor financeiro, dado que tais intervalos de tempo
podem influenciar na liquidez e na rentabilidade da firma. É fundamental que
o administrador conheça o ciclo operacional e o ciclo financeiro da empresa, a
partir dos prazos médios de rotação dos estoques, de pagamento a fornecedores
e de recebimento das vendas. A figura 4.3 ilustra a sequência desses prazos.
capítulo 4 • 99
Compra Vende Paga Recebe
Ciclo Operacional
T1 T2 T3 T4
Em que:
PMRE: é o prazo médio de rotação dos estoques, que é o intervalo de tempo
médio entre a compra e a venda do produto; e
PMRV: é o prazo médio de recebimento das vendas, que é o intervalo de tem-
po médio entre a venda do produto e o recebimento do pagamento do cliente.
Por sua vez, o ciclo financeiro (ou ciclo de caixa) é o tempo transcorrido des-
de o pagamento a fornecedores pelos estoques até o recebimento do dinheiro
dos clientes pelos produtos. Ele pode ser mensurado pela equação (4.2):
Ciclo Financeiro = Ciclo Operacional + PMPF (4.2)
100 • capítulo 4
Em que:
PMPF: é o prazo médio de pagamento a fornecedores, que é o intervalo de
tempo médio entre a compra dos estoques até o pagamento dos fornecedores.
Note que o ciclo financeiro (diferença entre T3 e T4, neste exemplo) é um fator deter-
minante da necessidade que a empresa terá de capital de giro. Quanto maior for o pra-
zo, maior será a necessidade de recursos da empresa para financiar suas operações.
Esses recursos que a empresa utilizará como decorrência de suas operações têm um
custo, de modo que as margens de ganho propiciadas pelas operações devem ser sufi-
cientes para cobrirem também o custo do investimento de capital de giro utilizado pela
empresa. Pensando em termos de necessidade de capital de giro, o ideal seria que o
ciclo financeiro fosse negativo, ou seja, que o recebimento das vendas ocorresse antes
do pagamento das compras, conforme é praticado por alguns supermercados.
capítulo 4 • 101
FÓRMULA O QUE REVELA?
* Observação: os quocientes foram multiplicados por 360 (ano comercial), pois foi considerado que o período
analisado é de um ano. Se o período avaliado fosse de um mês, os quocientes seriam multiplicados por 30 (mês
comercial).
Tabela 4.4 – Prazos médios. Fonte: Assaf Neto (2012) e Silva (2008).
102 • capítulo 4
O capital circulante líquido (CCL) pode ser calculado pelas equações (4.3)
ou (4.4):
CLL = AC – PC (4.3)
ou
CLL = (PNC + PL) – ANC (4.4)
Em que:
AC: é o Ativo Circulante;
PC: é o Passivo Circulante;
PNC: é o Passivo Não Circulante;
PL: é o Patrimônio Líquido; e
ANC: é o Ativo Não Circulante.
capítulo 4 • 103
rotação dos estoques. Por outro lado, uma empresa pode ter CCL positivo e apresentar
dificuldade financeira, dependendo apenas da incompatibilidade dos prazos de realiza-
ção dos ativos circulantes, em face dos vencimentos de suas obrigações de curto prazo.
CCL Positivo
Capital Circulante Líquido Passivo Não Circulante
− AC > PC
(CCL) (PNC)
− ( PNC + PL ) > ANC
Figura 4.4 – CCL positivo no Balanço Patrimonial. Fonte: Elaborada pelo Autor
CCL Nulo
Passivo Não Circulante
− AC = PC
(PNC)
Ativo Não Circulante (ANC) − ( PNC + PL ) = ANC
Figura 4.5 – CCL nulo no Balanço Patrimonial. Fonte: Elaborada pelo Autor
CCL Negativo
Capital Circulante Líquido Passivo Não Circulante
− AC < PC
(CCL) (PNC)
− ( PNC + PL ) < ANC
Figura 4.6 – CCL negativo no Balanço Patrimonial. Fonte: Elaborada pelo Autor
104 • capítulo 4
A situação de liquidez de uma empresa também é comumente avaliada por
meio do índice de liquidez corrente (ILC), calculado pela fórmula (4.5):
Ativo Circulante
ILC =
Passivo Circulante
(4.5)
A R$ 1.200.000,00 R$ 1.100.000,00
B R$ 120.000,00 R$ 20.000,00
• Empresa A:
• Empresa B:
capítulo 4 • 105
Perceba que, a partir do CCL, não podemos apontar a organização que está
em melhor situação financeira, haja vista que as firmas apresentam o mesmo
CCL. Entretanto, por meio do ILC podemos observar que para cada R$ 1 de dí-
vidas com vencimento no curto prazo, as empresas A e B possuem, respectiva-
mente, R$ 1,09 e R$ 6,00 de aplicações que serão convertidas em dinheiro tam-
bém no curto prazo. Assim, a companhia B encontra-se em condição financeira
mais favorável, em termos de liquidez, do que a A.
Na seção anterior, vimos que o CCL positivo pode ser um indicativo de que a em-
presa apresenta uma boa condição de liquidez. Todavia, mesmo nesta situação,
não há qualquer garantia de que a folga financeira efetivamente ocorra e seja su-
ficiente para financiar as necessidades de giro da empresa (ASSAF NETO, 2012).
Isto porque, no cálculo do CCL, consideramos o ativo e o passivo circulantes to-
tais, que incluem, além das partes cíclicas, as parcelas sazonais desses capitais.
As aplicações e as obrigações de curto prazo da empresa podem ser classifica-
das em cíclicas (permanentes/operacionais) e sazonais (financeiras/flutuantes). As
contas cíclicas estão relacionadas de forma direta com a atividade operacional da
firma, renovando-se, espontaneamente, à medida que as operações se desenvolvem
e, por isso, assumem uma conotação de aplicações/obrigações permanentes (SILVA,
2008). Já as contas sazonais não estão vinculadas diretamente à atividade operacio-
nal da empresa, sendo determinadas por variações temporárias que ocorrem nos
seus negócios. Em geral, possuem caráter fortemente financeiro, pois são originadas
por operações de financiamento e investimento de curto prazo (VIEIRA, 2008). Na
tabela 4.6, encontram-se exemplos de ativos/passivos cíclicos e flutuantes.
CLASSIFICAÇÃO CONTAS
1 Necessidade de investimento em giro (NIG) também possui as seguintes denominações: investimento operacional
em giro (IOG); working investment (WI); e necessidade de capital de giro (NCG) (SILVA, 2008).
106 • capítulo 4
CLASSIFICAÇÃO CONTAS
Tabela 4.6 – Ativos/Passivos cíclicos e sazonais. Fonte: Baseado em Assaf Neto (2012).
capítulo 4 • 107
SD = Ativo Sazonal – Passivo Sazonal (4.7)
CCL = Ativo Cíclico + Passivo Cíclico – (Ativo Sazonal + Passivo Sazonal) (4.8)
Portanto,
CLL = NGI + SD
Em geral, o custo do capital de longo prazo é superior ao de curto prazo. Isto porque
tempo representa risco. Quanto maior o prazo de uma operação, mais elevado ten-
de a ser o seu risco, uma vez que o investidor ou instituição financeira ficarão mais
tempo com seu dinheiro comprometido com os destinos da organização (VIEIRA,
2008). Mais especificamente, quanto mais longo for o prazo de uma operação de
crédito, maiores as chances de flutuações nas taxas de juros e menor se apresenta
a capacidade de previsão de reembolso do investidor (ASSAF NETO; LIMA, 2011).
Como discutido nos capítulos 3 e 4, quanto mais elevado for o risco associado
a um título, maior deve ser o retorno oferecido por ele. Dessa maneira, a partir do
parágrafo anterior, podemos chegar a duas conclusões: os ativos de longo prazo
tendem a oferecer retornos maiores do que os de curto prazo; e os passivos de lon-
go prazo tendem a possuir custos de capital mais elevados do que os de curto prazo.
No que tange aos investimentos da empresa, a aplicação de recursos em
ativos com prazo maior incrementa a rentabilidade da companhia, mas com-
promete a sua liquidez, que, por sua vez, aumenta com a preferência por inves-
timentos de prazo menor. Do lado do passivo, o financiamento com capitais de
longo prazo eleva a liquidez da empresa, porém prejudica a sua rentabilidade,
a qual cresce por meio da utilização de fontes de curto prazo (que são mais ba-
ratas). Diante disso, observa-se que liquidez e rentabilidade são objetivos anta-
gônicos. Não há solução ótima e perfeita para tal conflito, que há décadas vem
sendo denominado pelos estudiosos de finanças de “dilema liquidez × rentabi-
lidade” (MARTINS; DINIZ; MIRANDA, 2012).
108 • capítulo 4
Esse dilema é enfrentado pelo administrador financeiro, quando ele deve
definir a política de financiamento do capital de giro. Se o gestor utilizar mais
créditos de longo prazo para abastecer o ativo circulante, ele conseguirá au-
mentar a liquidez da corporação, no entanto diminuirá a sua rentabilidade. Por
outro lado, caso seja dada preferência ao endividamento de curto prazo, a folga
financeira da companhia será reduzida, contudo ocorrerá uma elevação na taxa
de retorno da organização (ASSAF NETO; LIMA, 2011).
Vieira (2008) destaca três políticas alternativas de financiamento para as
aplicações de curto prazo: agressiva; moderada; e conservadora. Estas são re-
sumidas pela tabela 4.7. Na primeira, os recursos de terceiros de curto prazo
sustentam todo o ativo sazonal e parte, ou até mesmo a totalidade, das aplica-
ções de natureza permanente (ativo cíclico e ativo não circulante). Na segunda,
apenas o ativo flutuante é financiado por recursos de terceiros de curto prazo,
sendo as demais aplicações patrocinadas pelo patrimônio líquido e pelo pas-
sivo não circulante. Por fim, na terceira, todos os ativos da empresa são banca-
dos por recursos de longo prazo. Dessa forma, a abordagem agressiva é a que
propicia maior rentabilidade e menor liquidez para a organização, enquanto a
política conservadora oferece o menor retorno e a maior liquidez para a firma.
COMPONENTE
POLÍTICA
Sazonal/Flutuante Permanente/Não Sazonal
capítulo 4 • 109
4.2 Administração de caixa
O termo disponibilidades é usado, pela Lei das S.A.s, para designar recursos
com livre movimentação para aplicação nas operações da empresa e para os
quais não há restrições de uso imediato, como dinheiro em caixa e em bancos,
bem como cheques em mãos e em trânsito (MARTINS et al., 2013). As normas
internacionais de contabilidade trabalham com o conceito de caixa e equiva-
lentes de caixa que, além das disponibilidades, inclui aplicações de liquidez
imediata (de curtíssimo prazo) (MARTINS et al., 2013). Nesta seção, a palavra
caixa será tratada como sinônimo de caixa e equivalentes de caixa.
“A administração de caixa visa, fundamentalmente, manter uma liqui-
dez imediata necessária para suportar as atividades de uma empresa” (ASSAF
NETO, 2010). Keynes (1936) identificou três razões para as firmas (e as pessoas)
terem preferência por liquidez, ou seja, pela manutenção de saldo em caixa: o
motivo transação, isto é, a necessidade de caixa para as transações correntes de
trocas pessoais e comerciais; o motivo precaução, isto é, o desejo de segurança
com relação ao equivalente do valor monetário futuro de certa parte dos recur-
sos totais; e o motivo especulação, isto é, o propósito de obter lucros por saber
melhor do que o mercado o que o futuro trará.
No mundo corporativo, o motivo transação está vinculado ao montante de re-
cursos que devem ser mantidos em caixa para pagar as atividades relacionadas
ao ciclo operacional da organização (como pagamento de salários, fornecedores,
tributos, empréstimos etc), uma vez que não há sincronização perfeita entre os
recebimentos e os desembolsos de caixa. Ross et al. (2013, p. 662) ressalta que:
110 • capítulo 4
para poder usufruir de situações de desequilíbrio no mercado, como produtos
ou materiais subavaliados, taxas de juros atraentes e flutuações favoráveis da
taxa de câmbio (no caso das empresas com atuação internacional) (ROSS et al.,
2013).
O saldo de caixa que uma organização apresenta em seus registros é conhecido como
saldo contábil. Já o saldo mostrado em sua conta bancária é chamado de saldo disponí-
vel. A diferença entre o saldo disponível e o saldo contábil é denominada de float e repre-
senta o efeito líquido dos cheques em processo de compensação (ROSS et al., 2013).
Foi explicado na seção 4.1.4, que ativos circulantes, em geral, produzem retor-
nos menores do que os oferecidos por aplicações em investimentos de longo
prazo. Logo, a manutenção de recursos em caixa tende a prejudicar a rentabi-
lidade da companhia. Todavia, é fundamental que a empresa mantenha certo
volume de recursos em caixa, para pagar as atividades relacionadas ao seu ci-
clo operacional. Para saber quanto de dinheiro deve ser aplicado nas contas de
maior liquidez do ativo, pode-se calcular o caixa mínimo operacional (ou saldo
mínimo de caixa) da empresa, por meio da equação (4.10). “Esta técnica, pouco
sofisticada é verdade, pode ser útil no estabelecimento de um padrão do inves-
timento em caixa” (ASSAF NETO; SILVA, 2010, p. 88).
Desembolsos totais de caixa esperados para certo período
CMO =
Giro de caixa no período (4.10)
Período
Giro de caixa =
Ciclo financeiro
(4.11)
capítulo 4 • 111
Em que:
Período: é o intervalo de tempo analisado; e
Ciclo financeiro (ou ciclo de caixa): é o tempo transcorrido desde o paga-
mento inicial de despesas até o recebimento das vendas.
Por exemplo, suponha que: o período considerado é de 360 dias (1 ano co-
mercial); os desembolsos esperados são de R$ 550.000; e o ciclo financeiro da
empresa é de 35 dias. Calcularíamos o CMO da seguinte forma:
360
Giro de caixa = ≈ 10, 29 vezes
35
550.000
CMO = ≈ R$ 53.449, 95
10, 29
360
Giro de caixa = = 12 vezes
30
550.000
CMO = ≈ R$ 45.833,33
12
112 • capítulo 4
• Condições de venda: define como a empresa vendará seus bens e serviços.
A primeira decisão é se a firma exigirá pagamento à vista ou concederá crédito
aos seus clientes. Se optar pela última, como ocorre nas grandes organizações,
as condições de venda especificarão, entre outros fatores: o prazo de crédito;
um eventual desconto (e o período de desconto); e o tipo de instrumento de
crédito;
• Análise de crédito: determina para quais clientes a corporação pode ou
não oferecer diversos valores e prazos de crédito. Neste tópico, as firmas uti-
lizam vários dispositivos e procedimentos para calcular a probabilidade de os
compradores não conseguirem pagar pelos produtos e serviços; e
• Política de cobrança: estipula como serão cobrados os clientes inadim-
plentes. Embora o trabalho executado por este componente tenda a diminuir
com uma análise de crédito eficaz, depois da concessão de crédito, as organiza-
ções enfrentam o problema em potencial vinculado ao recebimento do dinhei-
ro das vendas não pagas. Para tanto, deve-se criar uma política de cobrança.
capítulo 4 • 113
compradores. Ademais, os vendedores podem preferir oferecer prazos de paga-
mento mais longos para as vendas fora da estação (quando a demanda é baixa);
• Custo e padronização: mercadorias relativamente mais baratas tendem a
ter prazos de pagamento mais curtos. O mesmo acontece com produtos ou ma-
térias-primas padronizadas. Estes tendem a ter margens menores e giro maior,
ambos levando a prazos de crédito mais curtos;
• Risco de crédito: quanto maior for o risco de crédito do comprador, me-
nor será o prazo de pagamento oferecido (no caso do crédito ser concedido);
• Concorrência: quando a empresa atua em mercados altamente compe-
titivos, prazos de crédito mais longos podem ser oferecidos, com o intuito de
atrair clientes;
• Tipo de cliente: a organização, em geral, possui diversos clientes, para os
quais oferece diferentes prazos de pagamento. Normalmente, os prazos de cré-
dito oferecidos para clientes no atacado e no varejo são diferentes.
114 • capítulo 4
enviada com as mercadorias e é assinada pelo cliente como evidência de recebimento
delas. Junto com a fatura, ou em data posterior, a empresa vendedora pode emitir du-
plicatas para cobrança direta ou por meio de um banco.
capítulo 4 • 115
• Capital: identifica a situação patrimonial do tomador. Este C é mais utili-
zado na análise de pessoas jurídicas, preocupando-se com a estrutura de capi-
tal da empresa, no sentido de verificar se há recursos próprios suficientes para
cobrir o ônus de recursos conseguidos junto a terceiros. Indicadores: posse de
ativos fixos e outros bens; patrimônio líquido; endividamento etc;
• Colateral: analisa a qualidade das garantias oferecidas, ou seja, os ativos
que o cliente pode oferecer como forma de lastrear seu crédito. Indicador: pro-
babilidade de realização de garantias (como hipoteca de imóveis; alienação de
máquinas e veículos, penhor de estoques e caução de valores a receber), em
caso de necessidade de execução do contrato de crédito; e
• Condição: avalia a influência exercida, pelo comportamento da conjuntu-
ra econômica, sobre a capacidade de pagamento do cliente. Indicadores: variá-
veis macroeconômicas (taxas de juros, câmbio, inflação etc) e setoriais.
116 • capítulo 4
IDADE DA % DO VALOR TOTAL DAS
MONTANTE
CONTA CONTAS A RECEBER
Tabela 4.8 – Relatório por idade das contas a receber. Fonte: Adaptado de Ross et al. (2013).
capítulo 4 • 117
4.3.4 Indicadores financeiros da política de crédito
Nesta seção, em conformidade com Assaf Neto e Silva (2010), são apresentados três
indicadores úteis para o monitoramento da política de crédito da empresa: giro
dos valores a receber; índice de inadimplência; e dias de venda a receber (DVR).
O giro dos valores a receber, calculado pela fórmula (4.12), verifica a relação
entre as vendas a prazo e o montante de duplicatas a receber apurados ao final
de determinado período.
Vendas a Pr azo
Giro dos valores a receber =
Duplicatas a Re ceber
(4.12)
1.500.000
Giro dos valores a receber = = 3,75 vezes
400.000
118 • capítulo 4
obtidas de análises técnicas e o grau de aversão ao risco são os principais ins-
trumentos utilizados para a definição desta medida (ASSAF NETO, 2010).
Com relação ao índice de inadimplência, Assaf Neto e Silva (2010, p. 139)
salientam que:
Vendas do período
Vendas médias diárias do período =
Número de dias do período (4.15)
280.000
DVR = = 33,6 ≈ 34 dias
3.000.000 / 360
Este resultado aponta que, em média, 34 dias das vendas realizadas no ano
ainda não tinham sido recebidas ao final do período, isto é, encontram-se in-
seridos na conta “duplicatas a receber”, aproximadamente, 34 dias das vendas
anuais da firma.
capítulo 4 • 119
ATIVIDADES
01. Qual é o objetivo do gestor financeiro de curto prazo?
ATIVO PASSIVO
120 • capítulo 4
04. Quais são os elementos que compõem a política de crédito de uma empresa? Explique-os
brevemente.
REFLEXÃO
A missão da administração financeira de curto prazo, do ponto de vista estratégico, pode ser
sintetizada em três funções (VIEIRA, 2008):
LEITURA
Para o aprofundamento dos principais assuntos abordados no presente capítulo, são reco-
mendadas as seguintes leituras:
VIEIRA, M. V. Administração estratégica do capital de giro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. 326p. O
capítulo 10 deste livro relaciona a administração do capital de giro com processo de criação de valor.
MARTINS, E.; DINIZ, J. A.; MIRANDA, G. J. Análise avançada das demonstrações contábeis:
uma abordagem crítica. São Paulo: Atlas, 2012, 353p. O capítulo 9 deste livro discute aspectos
importantes da administração financeira de curto prazo, apresentando as limitações dos indicadores de
liquidez e os cuidados que devem ser tomados com relação ao cálculo dos prazos médios.
capítulo 4 • 121
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. 10. ed. São
Paulo: Atlas, 2012. 337 p.
ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 726p.
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
836p.
ASSAF NETO, A.; SILVA, C. A. T. Administração do capital de giro. 3. ed. São Paulo, Atlas, 2010.
214p.
GITMAN, L. J. Princípios da administração financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson Addison Wesley,
2004.745p.
KEYNES, J. M. The general theory of employment, interest and money. San Diego: Harcourt,
1936.
MARTINS, E. et al. Manual de contabilidade societária. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013, 888p.
MARTINS, E.; DINIZ, J. A.; MIRANDA, G. J. Análise avançada das demonstrações contábeis: uma
abordagem crítica. São Paulo: Atlas, 2012, 353p.
MATIAS, A. B. (Org.). Finanças corporativas de curto prazo: a gestão do valor do capital de giro. 2.
ed. São Paulo: Atlas, 2014. 1 v.
ROSS, S. A. et al. Fundamentos da administração financeira. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
782 p.
SILVA, J. P. Análise financeira das empresas. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2008, 522p.
VIEIRA, M. V. Administração estratégica do capital de giro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. 326p.
WESTON, J. F.; BRIGHAM, E. F. Fundamentos da administração financeira. 10. ed. São Paulo:
Pearson Makron Books, 2004. 1030 p.
122 • capítulo 4
5
Alavancagem e
Estrutura de Capital
Este último capítulo começa com a definição dos conceitos de ponto de equi-
líbrio contábil e ponto de equilíbrio econômico da organização. Estas ferra-
mentas são muito utilizadas pelo gestor financeiro, com o intuito de iden-
tificar, principalmente, o faturamento que deve ser alcançado para que a
empresa não tenha prejuízo. Na segunda parte do capítulo, são explicados os
três tipos de alavancagem: operacional; financeira; e total. Por fim, focamos
na área de finanças corporativas conhecida como estrutura de capital, deba-
tendo sobre as teorias de Modigliani & Miller na ausência e na presença de
impostos.
OBJETIVOS
• Calcular o ponto de equilíbrio contábil;
• Mensurar o ponto de equilíbrio econômico;
• Compreender o impacto das alavancagens operacional, financeira e total sobre o desem-
penho corporativo; e
• Entender como a estrutura de capital da organização pode influenciar o seu valor..
124 • capítulo 5
5.1 Ponto de equilíbrio
Frequentemente, a variável que assume maior relevância na análise de um
projeto corporativo ou de um plano de negócio é o volume de vendas (ROSS et
al., 2013). Isto porque é muito difícil prever com exatidão quanto poderemos
vender, para depois avaliarmos o impacto das vendas sobre a rentabilidade da
organização.
©© TALCANTARA | DREAMSTIME.COM
capítulo 5 • 125
DEFINIÇÃO DEFINIÇÃO EXEMPLOS
Tabela 5.1 – Custos/Despesas fixos e variáveis. Fonte: Baseado em Assaf Neto (2010).
126 • capítulo 5
As figuras 5.1 e 5.2 ilustram a relação entre o volume de atividade e os cus-
tos/despesas fixos e variáveis, respectivamente. Porém, Assaf Neto (2010) alerta
que nem sempre os custos fixos se comportam como mostrado pela figura 5.1.
Quando ocorre uma variação expressiva no volume de vendas, tais podem variar
como mostra e figura 5.3. Por exemplo, se a firma aumentar consideravelmente
seu volume de vendas, ela poderá precisar comprar mais máquinas e equipa-
mentos (depreciação) para produzir mais produtos ou alugar mais instalações.
Custos /
Despesas
Fixos ($)
Custos /
Despesas
Variáveis ($)
Volume de atividade
Custos /
Despesas
Fixos ($)
capítulo 5 • 127
5.1.2 Ponto de equilíbrio contábil
Em que:
RT: é a receita total [quantidade total vendida (QT) x preço unitário (Pu)];
CDFT: são custos e despesas fixos totais;
CDVu: são custos e despesas varáveis por unidade; e
QT: é a quantidade total produzida e vendida.
Como RT é igual a QT x Pu, a expressão (5.2) pode ser escrita da seguinte forma:
CDFT
QT =
( Pu − CDVu ) (5.4)
128 • capítulo 5
Mas e se agora quisermos conhecer o PEC em termos de receita total? Podemos
obter o ponto de equilíbrio contábil, em valores monetários, multiplicando os dois
lados da equação (5.5) por Pu. Ao realizarmos essa operação, temos que:
CDFT
RT =
MCu / Pu (5.5)
Receitas totais
($)
Custos e
Ponto de despesas totais
equilíbrio
PEC em $
Variáveis
Fixos
Quantidade vendida
PEC em quantidade
Figura 5.4 – Ponto de equilíbrio contábil. Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2010).
capítulo 5 • 129
O PEE é obtido quando a receita total cobrir, além dos custos e despesas
totais, o lucro mínimo (LM) exigido pelos acionistas (ou seja, o custo de oportu-
nidade dos proprietários), como demonstra a equação (5.6):
O PEE, em termos de receita total, também pode ser calculado pela fórmula (5.7):
( CDFT + LM )
RT =
MCu / Pu (5.7)
Suponha que a firma Z apresente os dados operacionais que estão na tabela 5.2.
Qual é a quantidade de produtos que a organização deve vender para atingir seu
ponto de equilíbrio contábil?
CDFT
QT =
MCu
600.000
QT = = 2.400 unidades
500 − 250
130 • capítulo 5
Sabendo que os proprietários da organização exigem um lucro mínimo de
$ 100.000, qual é o faturamento necessário para atingir o ponto de equilíbrio
econômico?
O PEE, em valores monetários, pode ser mensurado por:
CDFT + LM
RT =
MCu / Pu
600.000 + 100.000
RT = = $ 1.400.000, 00
250 / 500
5.2 Alavancagem
“A alavancagem é o produto do uso de ativos ou fundos a custo fixo para mul-
tiplicar retornos para os proprietários da empresa (GITMAN, 2004, p. 434)”.
“Quanto maiores os custos e despesas fixos, maiores os risco de grandes lucros
acima do ponto de equilíbrio e maiores os riscos de grandes prejuízos abaixo
dele” (ASSAF NETO, 2010, p. 287). Por isso, as decisões de alavancagem devem
considerar as variações no retorno esperado e no risco da companhia, ocasio-
nadas pela maior ou menor utilização de custos/despesas fixos.
De acordo com Gitman (2004), há três tipos básicos de alavancagem, os
quais são ilustrados pela figura 5.4:
capítulo 5 • 131
RECEITA DE VENDAS
Alavancagem
(=) Lucro Bruto operacional
(-) Despesas operacionais
132 • capítulo 5
©© TIINA-MAI NUMMERT | DREAMSTIME.COM
Quando a variação (%) do Lajir, decorrente de uma variação (%) das vendas,
for maior do que a variação (%) das vendas, ocorrerá alavancagem operacional
(GITMAN, 2004). Portanto, se o GAO for maior do que um (1), há alavancagem
operacional.
O GAO é positivamente relacionado com o risco econômico da organização,
ou seja, o risco do negócio (dos ativos). Isto porque quanto maior o GAO, maior
o impacto (positivo ou negativo) sobre o desempenho da empresa de uma varia-
ção no volume de atividade (ASSAF NETO, 2010).
[...] o efeito de tomar, numa ponta, recursos de terceiros a determinado custo, apli-
cando-os na outra ponta (nos ativos) a outras taxas de retorno: a diferença vai para
os proprietários e altera o seu retorno sobre o patrimônio líquido, para mais ou para
menos do que aquele que seria obtido caso todo o investimento fosse feito apenas
com recursos próprios.
capítulo 5 • 133
Para Gitman (2004), a alavancagem financeira pode ser definida como a uti-
lização de custos/despesas financeiros fixos para ampliar os efeitos de varia-
ções do Lajir sobre o LPA. Dessa maneira, o grau de alavancagem financeira
(GAF) pode ser o obtido por meio da expressão (5.9):
134 • capítulo 5
5.2.4 Exemplo prático dos cálculos de GAO, GAF e GAT
(5.10)
Para fixarmos o conceito de alavancagem, nesta seção faremos um exemplo
prático do cálculo de GAO, GAF e GAT. Suponha que o resultado da (5.11)
empresa
Y sofreu as alterações apontadas pela tabela 5.4, quando mudou da situação 1
para a 2.
SITUAÇÃO 1 SITUAÇÃO 2
Tabela 5.4 – Mensuração dos graus de alavancagem. Fonte: Adaptado de Gitman (2004).
capítulo 5 • 135
Podemos calcular os três tipos de alavancagem da seguinte forma:
Note que o fato de a variação percentual do LPA ser maior do que a variação
percentual do Lajir resulta em GAF maior do que 1, o que sinaliza a existência
de alavancagem financeira.
Assim, como o GAT é maior do que 1, há alavancagem total. Fato que já po-
deria ter sido observado, uma vez que a empresa apresentou alavancagens ope-
racional e financeira maiores do que 1.
136 • capítulo 5
5.3 Estrutura de capital
Segundo Assaf Neto e Lima (2009), a teoria convencional admite que uma em-
presa, mediante uma combinação adequada de suas fontes de financiamento,
pode definir um valor mínimo para seu custo total de capital.
Essa combinação pode ser demonstrada graficamente da seguinte forma:
Custos
(%) Ke
K0 WACC
Ki
x P/PL
(Risco Financeiro)
capítulo 5 • 137
No gráfico, temos:
P = recursos de terceiros permanentes (passivos onerosos)
PL = recursos próprios permanentes (patrimônio líquido)
Ke = custo de capital próprio
Ki = custo de capital de terceiros
K0 = custo de capital próprio se a empresa fosse financiada somente por
capital próprio.
WACC = custo de capital total da empresa
Como pode ser observado no gráfico, o Ke se eleva mais rapidamente em re-
lação a Ki, isso acontece juntamente com o aumento dos recursos de terceiros
(P) na estrutura de capital.
O custo de capital de terceiros permanece estável até determinado nível de
endividamento. A partir daí, eleva-se em função de mais acentuada participa-
ção de dívidas onerosas.
Pode-se afirmar que a teoria convencional admite que a empresa pode ele-
var seu endividamento até certo ponto ótimo, no qual o valor do WACC é mí-
nimo. Além disso, à medida que o nível de endividamento se eleva, o Ke e o Ki
também aumentam devido à presença crescente de risco financeiro associada
ao passivo da empresa.
Assim, a teoria convencional assume a ideia de que, dados a estrutura de ca-
pital e o risco de uma empresa, é possível calcular seu WACC. Ela também con-
sidera que o custo de capital de terceiros é dependente do risco financeiro da
empresa, e não da fonte de financiamento e do investimento a ser financiado.
Na teoria convencional, ainda, são assumidas certas características para a
economia que a colocam em um estágio de desenvolvimento elevado, como: a)
presença de uma relativa estabilidade nos índices de preços; b) taxas de juros
homogêneas e livremente praticadas no mercado; c) mercado eficiente etc.
Outra crítica ao enfoque da teoria convencional é o fato de considerar que
o risco de capital próprio, para níveis mais baixos de endividamento, pratica-
mente não existe.
138 • capítulo 5
Por esse método, o WACC é uma constante, e não se correlaciona com a es-
trutura de capital adotada. Como pode ser observado no gráfico seguinte:
Custos Ke
(%)
K0 WACC
Ki
P/PL
(Risco Financeiro)
Figura 5.6 – Enfoque do lucro operacional. Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2010).
©© KEITH BROFSKY / PHOTODISC / GETTY IMAGES
capítulo 5 • 139
Por esse enfoque, qualquer estrutura pode ser considerada adequada, pois
o custo total de capital é uma constante e, portanto, não influencia o valor da
empresa.
Modigliani e Miller2 adotaram o enfoque do lucro operacional, o qual serviu
de suporte para sua famosa teoria de inexistência de uma estrutura ótima de
capital. As teorias desses autores serão o tema dos próximos itens.
CONEXÃO
Visite um site que disponibiliza indicadores de estrutura e custo de capital de empresas nor-
te-americanas. Acesse: www.damodaran.com.
2 MODIGLIANI, Franco; MILLER, Merton. The cost of capital, corporation finance and the theory of investment.
American Economic Review, v. 48, June 1958.
140 • capítulo 5
Custos Ke
(%)
K0 WACC
Ki
P/PL
(Risco Financeiro)
Figura 5.7 – Modigliani & Miller sem impostos. Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2010).
Custos de falência são custos diretamente incorridos quando uma empresa se encontra
em processo de falência ou em maiores dificuldades financeiras, entre os quais se pode
citar os gastos com serviços externos de consultoria financeira, serviços de advogados
e auditores e de todos os demais profissionais de apoio que podem ser necessários à
reestruturação financeira da empresa e à sua reorganização. (ASSAF NETO, 2010).
capítulo 5 • 141
• Proposição II – O retorno esperado dos recursos próprios está positiva-
mente relacionado ao grau de endividamento, pois o risco para os acionistas
aumenta com o uso de dívidas.
3 MODIGLIANI, Franco; MILLER, Merton. Corporate income taxes and the cost of capital: a correction. American
Economic Review, v. 48, June 1963.
142 • capítulo 5
Custos Ke
(%)
K0 WACC (s/IR)
Benefício Fiscal
WACC (c/IR)
Ki
P/PL
(Risco Financeiro)
Figura 5.8 – Modigliani & Miller com impostos. Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2010).
capítulo 5 • 143
ATIVIDADES
01. A partir dos dados da Tabela A, calcule o ponto de equilíbrio contábil da empresa W, em
termos de número de unidades vendidas do produto.
02. A partir dos dados da Tabela B, calcule o ponto de equilíbrio econômico da organização
J, em valores monetários.
144 • capítulo 5
03. Mensure o GAO, o GAF e o GAT da companhia H sabendo que o seu resultado sofreu as
alterações apontadas pela Tabela C, quando mudou da situação 1 para a 2.
SITUAÇÃO 1 SITUAÇÃO 2
(=) Lucro antes de juros e importo de renda (Lajir) ($) 25.000 55.000
04. De acordo com a teoria de Modigliani & Miller na presença de impostos, quando ocorre
a maximização do valor da empresa?
REFLEXÃO
No capítulo 2, foi explicado que o risco total de uma empresa, que influencia o seu custo de
capital, pode ser dividido em duas partes: econômica; e financeira.
A primeira é impactada positivamente pelo grau de alavancagem operacional, que au-
menta com a participação dos custos/despesas fixas nos gastos totais da companhia.
A segunda é determinada, entre outros fatores, pelo nível de endividamento da organização,
o qual influi no seu grau de alavancagem financeira. Assim, em um mundo com impostos e custo
associados a dificuldades financeiras, como o risco financeiro afeta a taxa de retorno exigida
pelos credores e proprietários, a estrutura de capital da empresa pode influenciar o seu valor.
capítulo 5 • 145
LEITURA
Para o aprofundamento dos principais assuntos abordados no presente capítulo, são reco-
mendadas as seguintes leituras:
ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 726p. O capítulo 7
deste livro apresenta uma forma alternativa de cálculo do grau de alavancagem financeira, a partir do
ROIC e do ROE.
BREALEY, R. A.; MYERS, S. C.; ALLEN, F. Princípios de finanças corporativas. 10. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2013. 876p. O capítulo 17 deste livro explica como as mudanças na estrutura de capital da
empresa podem afetar o seu beta (risco sistemático).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 726p.
ASSAF NETO, A; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. São Paulo: Atlas, 2009.
GITMAN, L. J. Princípios da administração financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson Addison Wesley,
2004.745p.
GROPPELLI, A. A.; NIKBAKHT, Ehsan. Administração financeira. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
ROSS, S. A. et al.Fundamentos da administração financeira. 9. ed.Porto Alegre: AMGH, 2013. 782 p.
GABARITO
Capítulo 1
01. EIRELI é a sigla para “empresa individual de responsabilidade limitada”. Uma vantagem
dessa modalidade é que, diferentemente do empresário individual, ela tem personalidade
jurídica própria e seu patrimônio é separado do de seu titular. Entretanto, a EIRELI possui a
desvantagem de que o seu proprietário deve integralizar o capital social da empresa em valor
correspondente a, no mínimo, 100 vezes o maior salário-mínimo vigente, quantia que muitas
vezes não está disponível para o pequeno empresário.
02. A função-objetivo de uma empresa com fins lucrativos deva ser a maximização do valor
de mercado total da firma (do patrimônio líquido e das dívidas), o que, por conseguinte, au-
menta a riqueza dos proprietários.
03. A administração financeira pode ser dividida em três grandes áreas: orçamento de capi-
tal; estrutura de capital; e administração financeira de curto prazo.
146 • capítulo 5
04. Não. No Brasil os custos de agência advêm do choque de interesses entre acionistas mi-
noritários e controladores. Isto porque a estrutura de propriedade e controle das companhias
brasileiras é, em geral, concentrada em poucos proprietários com grandes participações no
capital social. Com isso, os controladores conseguem se eleger com membros do Conselho
e, por conseguinte, como membros da Diretoria. Portanto, na maioria das organizações brasi-
leiras há sobreposição entre a propriedade e a gestão.
05. a) TIR (IRR) ≈ 9,43. O projeto não deve ser aprovado, uma vez que a TIR é inferior a TMA
(11%).
b) VPL (NPV) ≈ 24.566,94. Sim, pois o VPL é positivo.
Capítulo 2
01. Normalmente o retorno tem dois componentes: de renda; e de capital. O primeiro advém
do recebimento de algum dinheiro diretamente ligado à manutenção da posse do ativo. Já o
segundo é obtido pela variação do valor de mercado do investimento.
02. No que tange à avaliação de ativos, risco é a probabilidade de receber um retorno sobre
o investimento que é diferente do retorno que se espera realizar. Portanto, risco não só inclui
resultados negativos (retornos que são menores do que o esperado), mas também positivos
(retornos que são maiores do que o esperado).
03. a)
Título A:
Título B:
b)
2500
WA = ≈ 0, 417 = 417
, %
6000
3500
WB = ≈ 0, 583 = 58, 3%
6000
capítulo 5 • 147
Retorno esperado da carteira p[E (kp)]
( )
E Kp = 0, 417 x 0,102 + 0, 583 x 0, 065 = 0, 081 = 8, 0%
Capítulo 3
01.
0,11− 0, 04
E (K W ) = KF + x 0,15
0,10
0,11− 0, 04
E (K W ) = 0, 04 + x 0,15
0,10
E (K W ) = 0,145 = 14, 5%
02. Se o título estiver subavaliado a tendência é que ele se valorize, pois: quando os inves-
tidores notarem a incoerência praticada pelo mercado, a demanda por ele aumentará (pois
os investidores tentarão comprá-lo), seu preço crescerá e, consequentemente, o seu retorno
esperado será reduzido até o ativo atingir a SML.
03. Se o título estiver superavaliado a tendência é que ele se desvalorize, pois: quando os
investidores notarem a incoerência praticada pelo mercado, a oferta por ele aumentará (pois
os investidores tentarão vendê-lo), seu preço cairá e, consequentemente, o seu retorno es-
perado aumentará até o ativo atingir a SML.
04.
Ke = KF + β (KM − KF )
, x ( 0,13 − 0, 06 )
Ke = 0, 06 + 18
Ke = 0,186 = 18, 6%
148 • capítulo 5
05. O Ki bruto pode ser calculado como:
07.
Capítulo 4
01. O objetivo do gestor financeiro de curto prazo é administrar cada ativo e passivo circu-
capítulo 5 • 149
lante, de forma a alcançar um equilíbrio entre rentabilidade e risco, que contribua positiva-
mente para o valor da empresa.
02. Se a empresa apresentar capital circulante líquido negativo, significa que há dívidas de
curto prazo financiando aplicações de longo prazo, o que pode representar um aperto na
liquidez da organização.
03. Reclassificando o Balanço Patrimonial, temos:
Bancos 900
Fornecedores 1.000
150 • capítulo 5
Calculando o CCL:
CCL = Ativo Circulante – Passivo Circulante
CCL = 10.000 – 7.000 = 3.000.
Ou seja, 3.000 é o volume de recursos de longo prazo alocados para financiar o capital
de giro.
Portanto, temos que: CCL > NIG. Nesta situação, a empresa apresenta segurança finan-
ceira, pois o volume de financiamento de longo prazo disponível é mais do que o suficiente
para cobrir todas as necessidades cíclicas de recursos.
04. A política de crédito adotada por uma empresa é formada por três elementos: condições
de venda, análise de crédito e política de cobrança. O primeiro define como a empresa ven-
dará seus bens e serviços. Se organização realizar vendas a prazo, as condições de venda
deverão especificar entre outros fatores: o prazo de crédito; um eventual desconto; e o tipo
de instrumento de crédito. O segundo determina para quais clientes a corporação pode ou
não oferecer diversos valores e prazos de crédito. Neste tópico, as firmas utilizam vários dis-
positivos e procedimentos para calcular a probabilidade de os compradores não conseguirem
pagarem pelos produtos e serviços. O terceiro estipula como serão cobrados os clientes
inadimplentes.
Capítulo 5
01. O número de mercadorias que deve ser comercializado para que a empresa alcance o
seu PEC pode ser calculado da seguinte maneira:
CDFT
QT =
MCu
850.000
QT = ≈ 2.833, 33 ≈ 2.834 unidades
650 − 350
02. O ponto de equilíbrio econômico, em valores monetários, pode ser mensurado por:
CDFT + LM
RT =
MCu / Pu
capítulo 5 • 151
Como, MCu = Pu – CDVu = 400 – 150 = 250, temos que:
620.000 + 90.000
RT = = $1.136.000, 00
250 / 400
04. Na presença de impostos, os recursos de terceiros são mais baratos do que os recursos
próprios em função da dedutibilidade dos juros na forma de despesas financeiras, o que re-
duz o imposto de renda a pagar da empresa. Por isso, a maximização do valor da companhia
ocorre diante de uma estrutura de capital composta exclusivamente por dívidas.
152 • capítulo 5