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Informativo Técnico Pecuária Familiar nº 02/2016

CAMPO NATIVO

A produção animal no Rio Grande do Sul tem como base alimentar o campo nativo, o que torna as pastagens
naturais a principal fonte de alimento para os ruminantes. Um dos motivos associados à desistência da
atividade pecuária por parte dos produtores é a associação equivocada entre a baixa produção da pecuária e
o campo nativo; o que ocorre, porém, é uma exploração inadequada deste recurso natural. Mas a
otimização da produção animal pode ser alcançada através de técnicas de manejo simples, como o ajuste de
carga animal (kg PV) em função da oferta de forragem (kg MS/100 kg PV). Além disso, deve-se utilizar o
diferimento, que além de permitir o acúmulo de forragem, permite a sementação das espécies nativas e
exóticas introduzidas. A roçada para limpeza do campo, e a introdução de espécies hibernais. Além das
práticas citadas de manejo do campo nativo, a produção pode ser favorecida pela suplementação estratégica
dos animais. Assim, por exemplo, o uso de um sal proteinado torna possível minimizar, evitar a perda, ou
mesmo obter ganho de peso durante o outono-inverno, momento crítico para a pecuária aqui no Estado
(Genro e Nabinger, 2007).
1. Ajuste de carga animal
O ajuste da carga animal é a adequação da carga animal (kg PV) à disponibilidade de forragem (kg MS/ha).
Importante saber que a oferta de forragem é a quantidade de pastagem ofertada ao animal, e é dada em kg
MS/100 kg de peso vivo. Assim, 8% de oferta de forragem (8 kg de matéria seca para cada 100 kg de peso
vivo) para um animal de 300 kg, significaria ofertar 24 kg de MS ao animal. O ideal é que a oferta mínima de
forragem seja de 4 a 6 vezes o valor do consumo diário, que é de 2% PV. O resíduo de pasto nativo, durante
e após o pastejo, deve ser mantido com altura ao redor de 10 cm. Isso deverá resultar em maior eficiência
fotossintética das pastagens, maior quantidade de reservas das plantas, maior aprofundamento das raízes,
maior cobertura e proteção do solo, maior proteção das gemas responsáveis pelo rebrote, maior velocidade
de rebrote e como consequência, a maior produção de forragem (dados pessoais Aino V. Jacques, 2013). Se
uma determinada pastagem nativa cresce a um ritmo de 10 kg de MS/ha/dia, isto significa que podemos
alimentar uma vaca/ha, pois este é aproximadamente o consumo diário. Mas se o campo for melhor
manejado – seja através do ajuste de carga, do melhoramento do campo e/ou da adubação – este ritmo de
crescimento pode se elevar (por exemplo 15; 20 kg de MS/ha/dia, ou mais), o que significa aumento de
forragem disponível para o consumo de uma maior carga animal por hectare (Carvalho, 1998).

2. Diferimento do campo nativo


O diferimento do campo é uma prática extremamente eficaz. Consiste em vedar determinada área ou
piquete da propriedade, permitindo o acúmulo de forragem, e a sementação das espécies presentes na área.
Esta prática é realizada na época de maior crescimento da pastagem nativa, a primavera-verão. Esta
forragem acumulada será utilizada como uma das alternativas para superar o vazio forrageiro no outono-
inverno. A qualidade nutricional inferior desta forragem pode ser contornada ao se realizar a suplementação
estratégica.

 Uso de suplementação estratégica dos animais


A suplementação estratégica (sal proteinado) é uma ferramenta que pode ser utilizada para superar o vazio
forrageiro mas deve estar associada a uma boa disponibilidade de forragem, como após um diferimento, por
exemplo. Nestes casos, o fator limitador não é a quantidade de pasto, e sim a qualidade, normalmente
associada ao estádio fenológico adiantado da área diferida, onde o teor de proteína da pastagem
provavelmente está bem abaixo de 7%, sendo este baixo teor o principal limitador para os animais. Para
superar esta situação, pode-se utilizar um sal proteinado (Tabela 1). Em geral, este tipo de manejo permite
aos animais pelo menos a mantença. O sal proteinado suprirá a demanda proteica, e a pastagem fornecerá o
volumoso necessário. O sal proteinado deverá ser ofertado de 1 a 2 g/kg de PV. O cocho deve estar coberto
para evitar a solubilização da ureia. Essa suplementação nunca deve ser fornecida aos animais famintos, e
necessita de adaptação.
Tabela 1. Receita de sal proteinado. Fornecer de 1 a 2 g/kg PV.
Ingredientes Quantidades
Farelo de soja 15 kg
Milho quebrado 28 kg
Sal mineral 15 kg
Flor de enxofre 2 kg
Ureia pecuária 10 kg
Sal comum 30 kg
Total 100 kg
Fonte: Embrapa.

3. Roçada do campo nativo


A roçada é uma prática muito importante para o manejo da vegetação nativa. Além de propiciar a reciclagem
dos nutrientes, a partir da vegetação roçada, permite uma maior incidência de luz nas comunidades vegetais
desejadas presentes no estrato inferior da pastagem, aumentando a sua participação na nova massa de
forragem.

4. Melhoramento de campo nativo através da introdução de espécies hibernais


A maioria das espécies forrageiras presentes nas pastagens naturais do Estado concentram sua produção
forrageira nos meses quentes do ano. Por isso, no outono-inverno ocorre o vazio forrageiro, que nada mais é
do que a época em que ocorre redução da produção forrageira, fazendo com que os animais não encontrem
na forragem disponível a quantidade e a qualidade necessárias, nem mesmo para sua mantença,
ocasionando a perda de peso. Este fato tem desdobramentos, não apenas na perda de peso dos animais,
mas também na redução da capacidade reprodutiva do rebanho, principalmente das fêmeas, uma vez que a
deficiência nutricional é a principal causa de problemas reprodutivos. Assim, a introdução de espécies
hibernais sobre o campo nativo é uma alternativa eficiente para contornar esse vazio forrageiro (Tabela 2).
No momento em que o campo nativo inicia seu declínio produtivo, as espécies hibernais introduzidas
(azevém, aveia, trevos branco e vermelho e cornichão) estão iniciando seu ciclo vegetativo, ou seja, os
animais encontrarão pasto de qualidade e em quantidade suficiente para passar pela estação fria. Na maior
parte dos casos, as forrageiras de clima temperado podem ser implantadas em consorciação para aumento
da produção e do valor nutritivo da forragem a ser ofertada.

Tabela 2. Principais espécies a serem utilizadas para sobressemeadura de campo nativo.


Espécie Densidade de semeadura
Azevém (Lolium multiflorum) 25 – 50 kg/ha
Aveia (Avena sp) 80 –100 kg/ha
Trevo branco (Trifolium repens) 2 - 4 kg/ha
Trevo vermelho (Trifolium pratense) 4 – 6 kg/ha
Cornichão (Lotus sp) 5 - 8 kg/ha

Responsável pelas informações

Ana Paula Brunetto


Coordenadora Pecuária Familiar
NDA/GET – Escritório Central

REFERÊNCIAS
CARVALHO, P.C.F.; MARASCHIN, G.E.; NABINGER, C. Potencial produtivo do campo nativo do Rio Grande do Sul. In:
PATIÑO, H.O. (Ed.). SUPLEMENTAÇÃO DE RUMINANTES EM PASTEJO, 1998, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre. 1998.
MARASCHIN, G.E. et al. Native pasture, forage on offer and animal response. In: INTERNATIONAL GRASSLAND
CONGRESS, 18., 1997, Saskatoon, Canadá. Proceedings... Saskatoon, Canadá 1997. Paper 288, v. II.

NABINGER, C. Princípios de manejo e produtividade de pastagens. In: CICLO DE PALESTRAS EM PRODUÇÃO E MANEJO
DE BOVINOS DE CORTE, 3., 1998, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: ULBRA, 1998. p.54-107.

GONÇALVES, E.N. Comportamento ingestivo de bovinos e ovinos em pastagem natural da Depressão Central do Rio
Grande do Sul. 2007. 131 f. Tese (Doutorado em Zootecnia)– Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.

NEVES, F.P. et al. Caracterização da estrutura da vegetação numa pastagem natural do Bioma Pampa submetida a
diferentes estratégias de manejo da oferta de forragem. Revista Brasileira de Zootecnia, Brasília, DF, v.38, n.9, p.1685-
1694, 2009.

CARVALHO, P.C.F. et al. Desmistificando o aproveitamento do pasto. In: JORNADA TÉCNICA EM SISTEMAS DE
PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE E CADEIA PRODUTIVA, 4., 2009, Porto Alegre. Porto Alegre: NESPRO, 2009.

GENRO, T.C.M.; NABINGER, C. Considerações para o uso sustentável da pastagem natural com diferentes intensidades de
uso. Bagé, RS: Embrapa Pecuária Sul, 2009. (Série Documentos, n. 95).

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