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: Onn. in 4 STS ire |! SI | BG, ’ | A transtormagao da gestao de hospitais na América Latina e Caribe Coordenagao da edigao em portugués: Luciana D. Chagas Revisdo técnica: Eloiza Andrade Almeida Rodrigues Rodrigo Rodrigues Miranda Revisao gramatical: Maria do Carmo Nobrega Arte Final e Diagramagao: Marcio Antonio Silva Impressao: Focus Grafica e Editora Ltda-ME Tiragem: 12000 exemplares Impresso no Brasil ha catalografica elaborada pelo Centro de Documentagiio da Organizacao Pan-Americana da Satide — Representacao do Brasil. Organizagao Pan-Americana da Satide, A transformagao da gestao de hospitais na América Latina e Caribe — Brasilia: OPAS/OMS, 2004 398p. Tradugao de: La transformacién de la gestién de hospitales en ‘América Latina y el Caribe ISBN 85-87943-36-7 1. Sistemas de sade. 2. Hospitais. 3. Reforma dos Servigos de Satide. 4. Modelos de gestao hospitalar. 5. Gestao de qualidade. 6 Sistemas de Informagao Hospitalar. 7. Administragao Hospitalar. 8. América Latina. 9. Caribe. |. Titulo. NLM: WX 157 2004 © Organizagaio Pan-American da Saiide Todos os direitos reservados. E permitida a reprodugdo total ou parcial desta obra, desde que seja citada a fone @ ndo seja para venda ou qualquer fim comercial. As opinides expressas no documento por autores denominados sao de sua inteira responsabilidade. A transformagao da gestao de hospitais na América Latina e Caribe “> Organizacao | Pan-Americana da Saide Diviso de Desenvolvimento de Sistemas de Servigos de Saide Ministério da Saude E ite a UM PAIS DE TODOS MINISTERE DES AFFAIRES ETRANGERES Diregdo Geral de Cooperacao Internacional e de Desenvolvimento ACODESS Assciago de Cooperago para 0 Desenvolvimento de Servigos de Sade Lista de colaboradores do livro Autores Carlos Albuquerque Departamento de Medicina Social, FAMED/UFRGS Porto Alegre, RS, Brasil Osvaldo Artaza FUNDARED, Hospital Luis Calvo Mackenna Ministério da Satide do Chile Santiago do Chile, Chile Elisabeth Antunes Coorderadora Geral ACODESS Paris, Franga Oscar Arteaga Escola de Sauide Publica Universidade do Chile Santiago do Chile, Chile Virginia Baffigo Coordenadora Nacional do Projeto Salide Ambiental Urbana, CARE Lima, Peru Caridad Cai Vice-diretora de Enfermagem Hospital Hermanos Ameijeiras Chefe do Grupo Nacional de Urgéncia de Servicos de Enfermagem Havana, Cuba Alfredo Campafia Especialista em legislagao e negociacao do trabalho em satide FESALUD Quito, Equador Aude Caria Responsavel de Qualidade Hospital Esquirol Paris, Franga Eduardo Carrillo Consultor internacional San José, Costa Rica Pedro Crocco Assessor do Ministério da Presidéncia Santiago do Chile, Chile Alberto Diaz Legaspe Gerente de Programagao Programa de Reforma do Setor Sade Buenos Aires, Argentina César Gattini Assessor Regione! Diviséo de Desenvowimento de Sistemas e Servigos de Saude Organizagéo Pan-Amercana da Saude Washington, DC, Estados Unicios da América Patricia Gomez de Leon Diretora Executiva Centro de Gestao Santa Fé de Bogota, Colémbia Jorge Hermida Diretor Regional para América Latina Quality Assurance Project/Projeto de Garantia de Qualidade Quito, Equador Antonio Hernandez Assessor Regional em Manutengao e Engenharia Diviséo de Desenvolvimento de Sistemas e Servicos de Saude Organizacao Pan-Americana da Satide Washington, DC, Estados Unidos da América Norberto Larroca Diretor Executivo FELAH Buenos Aires, Argentina Daniel Lopez Acuiia Dicetor Divisdo de Desenvolvimento de Sistemas e Servigos de Sade Organizacao Pan-Americana da Satide Washington, DC, Estados Unidos da América José Maria Marin Assessor Regional em Administracdo de Servigos de Saude Organizagéo Pan-Americana da Satide Washington, DC, Estados Unidos da América Patrick Mordetet Presidente de ACODESS Paris, Franca Teodoro Muiiz Presidente da Federacao Latino-Americana de Hospitais San Juan, Porto Rico Claudio Osorio Consultor de Desastres Representagao em Costa Rica Organizagao Pan-Americana da Saude San José, Costa Rica Monica Padilla ‘Assessora Regional Programa de Desenvolvimento de Recursos Humanos Divisao de Desenvolvimento de Sistemas e Servicos de Saiide Organizacao Pan-Americama da Satide Washington, DC, Estados Unidos da América Matilde Pinto Assessora Regional Divisdo de Desenvolvimento de Sistemas e Servigos de Saude Organizagao Pan-Americana da Saude Washington, DC, Estados Unidos da América Daniel Purcallas Assessor em Recursos Humanos Representacao da OPAS no Panama Panama Lazare Reyes Diretor Financeiro Hospital Sainte-Anne Paris, Franca Vanessa Rosales Ardén Consuttora internacional San José, Costa Rica Hernan Rosenberg Assessor Regional Divisao de Desenvolvimento de Sistemas e Servigos de Satide Organizacao Pan-Americana da Satide Washington, DC, Estados Unidos da América Roberto Roses Fundacao ISALUD Buenos Aires, Argentina Anna Gabriela Ross Consultora Divisao de Desenvolvimento de Sistemas e Servigos de Satide Organizagao Pan-Americana da Saude Washington, DC, Estados Unidos da América Femando Sacoto Diretor Executivo Fundagao Equatoriana da Satide Quito, Equador Luis Solérzano Diretor Geral de Insumos para a Satide SSA México, DE México Elias Valdez Diretor Nacional de Servicos Hospitalares Havana, Cuba Héctor Vazzano Federacao Latino-Americana de Hospitais Buenos Aires, Argentina Guillermo Williams Ministério da Saude Buenos Aires, Argentina José Luis Zeballos Coordenador Programa de Organizacao e Gestao de Sistemas e Servicos de Saude Divisdo de Desenvolvimento de Sistemas e Servigos de Satide Organizagao Pan-Americana da Saitde Washington, DC, Estados Unidos da América Leitores externos Carlos Arango Ministério da Satide da Colombia Assessor do Escritério da Ministra da Satide Bogota, Colombia Mauricio Bustamante Diretor Convénio Hipdlito Unanue Bogotd, Colombia Milagros Garcia Diretora do Escritério da OMS. Secvigos Integrais de Satide de Barcelona Barcelona, Espanha Eduardo Levcovitz Divisdo de Desenvolvimento de Sistemas e Servicos de Satide Organizacao Pan-Americana da Saude Washington, DC, Estados Unidos da América Ana Pereiro Secretaria Técnica Federagao Latino-Americana de Hospitais Buenos Aires, Argentina Michelle Ooms Encarregada de Missao Ministério das Relagées Internacionais da Franca, Paris, Franga Comité editorial Elisabeth Antunes Alberto Infante Daniel Lopez Acuna José Maria Marin Patrick Mordelet Anna Gabriela Ross Revisao editorial tecnica Carlos Campillo Subdiretor médico, Sistemas de informagéo Hospital Universitario Son Dureta Instituto Nacional da Saude Palma de Mallorca, Espanha Outubro de 200% Agradecimentos Para que a publicagéo em portugués “A transformagéo da gestao de hospitais na América Latina e Caribe” pudesse se concretizar, foi preciso uma conjugacao de estorgos e dedicagaio daqueles que acreditam que esta pode sef uma importante contribuigéo a comunidade que atua nesta area. Agradecemos, especialmente, pela Organizagao Pan-Americana da Satide/OMS, aos Drs. Julio Suarez e Hernan Montenegro, pelo Ministério da Satide do Brasil, aos Drs. Jorge Solla, Arthur Chioro e Elaine Lopes, e pela Embaixada Francesa no Brasil, ao Dr. Guillaume Ernst, que desempenharam papel central na viabilidade deste livro. Enfatiza-se, em particular, © apoio da Dra. Luciana de Deus Chagas, da OPAS/OMS, ¢ dos Drs. Eloiza Andrade Almeida Rodrigues e Rodrigo Rodrigues Miranda, do Ministério da Satde/Brasil, que tiveram uma atuag3e fundamental, sem a qual nao teriamos conseguido realizar este trabalho com qualidade e em tempo habil, Prefacio da versao em portugués Na atualidade, a discuss4o sobre novos modelos e formas de gestao hospitalar constitui uma das prioridades no enfrentamento dos desafios da articulagao da alta complexidade com a atengao basicaea média complexidade de atendimento ao paciente. Esta discussao é percebida como um meio de melhorar a eficiéncia das instituigdes que compéem a rede hospitalar e de satisfazer, com qualidade, as necessidades dos cidadaos, contribuindo para a reestruturagao da atencao especializada. O livro em espanhol “La transformacién de la gestién de hospitales en América Latina y el Caribe”, fruto de um trabalho conjunto da OPAS e a Cooperagao Técnica Francesa, abordou este tema de forma adisponibilizar um instrumento que ajudasse autoridades, profissionais, administradores e gestores a enfrentar os desafios mencionados. A relevancia do tema motivou a idéia da presente edigao em portugués, a partir de uma iniciativa da Organizagao Pan-Americana da Satide, do Ministério da Satide do Brasil e da Cooperagao Técnica Francesa durante o “Encontro Sub-regional sobre Gestao Hospitalar em Paises do Cone Sul, Brasil e Franga”, ocorrido de 16 a 19 de novembro de 2003, em Montevideo, Uruguai. Estas instituigdes acreditam que a publicagéo em portugués podera contribuir na mudanga da infra- estrutura, atividades de assisténcia, gestao de processos, avaliagao, entre outras, refletindo na melhoria da atengao a satide. O langamento da versdo em portugués, na oportunidade do Seminario “A Reforma do Sistema da Atengao Hospitalar Brasileira”, possibilitara o acesso e facilitara compreensao por gestores brasileiros e de outros paises de lingua portuguesa, contribuindo também na ampliagao da cooperacao técnica a paises de outros continentes. Estamos certos de que a parceria do Ministério da Satide do Brasil, OPAS e Cooperagao Técnica Francesa na concretizagao deste trabalho sera de grande utilidade a toda comunidade que atua neste campo. Horacio Toro Ocampo Representante da Organizacao Pan-Americana da Saude/OMS - Brasil A versao em portugués deste livro é mais um feliz resultado da parceria do Ministério da Satide do Brasil com a Organizagao Pan- Americana da Satide e a Cooperacao Técnica Francesa, e tem como objetivo beneficiar nao sé Brasil, mas também os paises de Lingua Portuguesa. Vivemos hoje um momento peculiar em que é preciso em muito avangar na diregao de maior resolutividade dos servigos prestados pelos hospitais. Por um lado, ha a necessidade da melhoria organizativa do sistema como um todo, ampliando o acesso, facilitando a utilizagao dos servigos de satide por meio da articulagao responsavel e racional dos servigos, da desburocratizagao e da descentralizagéo das agées. De outro lado, é preciso haver mudangas conceituais no foco da atengao hospitalar prestada, deslocando-a da otica privilegiada da doenga e a centrada na disponibilidade dos servigos e dos profissionais de satde, para um modelo de cuidado centrado nas efetivas necessidades de satde do usuario, contemplando suas relagdes e espagos de vida. Esperamos que 0 desenvolvimento da gestao e do gerenciamento local das unidades hospitalares possa produzir avangos significativos em diregdo a superagao das dificuldades do sistema hospitalar. E necessArio, portanto, que se aprimorem os mecanismos de controle, avaliagao e regulagao dos sistemas de satide, ao mesmo tempo em que se instrumentalize os dirigentes hospitalares para a melhoria do gerenciamento dos hospitais. Oentendimento deste contexto sob a otica da proposta de gestao abordada neste livro sugere um reordenamento e redefinicao da gestao voltada para a atengao hospitalar, tendo como principios basicos a busca continua da maior eficiéncia, a participagao ampla de todos os atores, inclusive usuarios, ea total transparéncia na condugao dos trabalhos e tomadas de decisao. Dr. Jorge Solla Secretario de Atencao a Saude/ Ministério da Saude - Brasil Prefacio O livro que apresentamos sobre a transformacao da gestao de hospitais na América Latina e Caribe é o resultado da estreita colaboragéo entre a Organizacao Pan-Americana da Saude e a Cooperagao técnica trancesa, que se iniciou em 1998 com o propésito de melhorar o funcionamento, a gestao, a eficiéncia e a qualidade da atengao médica prestada pelos hospitais da Regido das Américas e, finalmente, os resultados observados nos pacientes e na sua qualidade de vida. Esta cooperacdo traduz a vontade da OPAS e da Cooperacdo técnica francesa de se aproximar e reunic forgas em diversos Ambitos da saude na Regiao e, especialmente, no vasto e complexo tema da gestao hospitalar. A elaboragao deste livro — que tem sido co-financiado por ambas instituigGes — foi confiada a OPAS e, pelo lado francés, a Associagao de Cooperagado para o Desenvolvimento dos Servigos de Saude, dois organismos que reunem um seleto grupo de profissionais da saude especialistas em temas tao diversos como desenvolvimento, gestao e avaliagao de servigos de satide, gestao de recursos humanos, sistemas de informagao sanitarios e gestao hospitatar. Nesta obra, trabalharam, durante dois anos, mais de vinte especialistas latino-americanos e franceses. Foram realizados trés semindrios, um em Havana (em marco de 1999), outro em Paris (janeiro de 2000) e o tiltimo em Cartagena das Indias (marge de 2001) com a finalidade de acompanhar os progressos realizados, corrigir deficiéncias e garantir tanto a homogeneidade do livro em seu conjunto como a consecugao dos fins para os quais foi concebido. Na Ultima década, notam-se mudangas substanciais em todas as esferas da complexa rede que constitui o hospital. Estas mudangas incluem, entre outros, muitos elementos, inovagdes e melhoras de infra-estrutura, equipamento instalado, de servicos, atividade assistencial, sistemas de intormagao, gestao de processos e avaliagao. Por acréscimo, os hospitais estao incorporando ou adotando noves modelos e formas de gestao, que compreendem desde a utilizagao de novos modelos de controle de gestao (indicadores de estrutura, processo € resultado da prestacdo de servicos hospitalares, métodos de contabilidade analitica, gestao de \istas de espera, etc.) até a utilizagao de novas modalidades de seguros médicos, contratagao de servicos (terceirizagao, criagaéo de entidades publicas ou mistas com ou sem pessoa juridica prdépria) ou a utilizagdo de instrumentos de gestao Uteis, como os sistemas de codificagao e agrupamento casuistico (case-mix) e os procedimentos hospitalares a partir do relatorio de alta— por exemplo, grupos relacionados com o diagnéstico ou grupos de pacientes em ambulatdérios — que permitem conhecer e efetuar comparagées ajustadas da casufstica, os custos associados com as prestacées e a eficiéncia na gestao de leitos de diferentes hospitais. Simultaneamente, cada vez mais hospitais consideram os resultados produzidos por numerosas avaliagées de tecnologias médicas. Isto explica, entre outras coisas, a elaboragao e a implementagao de protocolos de atuagao, guias de pratica clinica e vias clinicas (clinical pathways) sob a base de provas cientificas obtidas sistematica e rigorosamente sobre a eficacia, a efetividade e os critérios de avaliagéo econémica de tecnologias ou a sua adogao. Contudo, persegue-se o objetivo de oferecer prestag6es para as quais se disponha de provas e justificativas racionais de seu custo, baseadas em estudos de custos, custo-efetividade, custo-beneficio e custo-utilidade. O desenvolvimento de modelos de gestao clinica parte destes precedentes. Estas mudangas, de ampla natureza, sao produzidas de forma escalonada tanto nos paises quanto nos hospitais, independente do nivel assistencial de um mesmo pais. Sua magnitude, importancia e transcendéncia nas esferas clinico-assistencial, econémica e social cresce lenta, porém progressivamente, e contitui um desafio consideravel para as autoridades de satide e para os diferentes profissionais de satide dos paises, incluindo os que trabalham no nivel local. Nenhum pais da Regiao deve ficar atras. Os paises da Regiao devem investir nestas mudangas de grande importancia. Aconcepgao, a elaboracao e a publicagao deste livro parte deste pressuposto. Assim, a OPAS e a Cooperagao técnica francesa tém o propésito de aumentar e melhorar sua cooperagao técnica com os paises da Regiao - e, por conseguinte, seguir cumprindo suas metas institucionais — aportando um instrumento elaborado para ajudar autoridades, profissionais, administradores e gerentes de nivel nacional e local a enfrentar os desafios mencionados: assumir as mudangas, incorporar os novos modelos de gestao e informagao e oferecer, ao mesmo tempo, uma ferramenta util a docentes e pesquisadores neste campo. As necessidades de satide dos paises da Regido e o trabalho multidisciplinar e rigoroso de equipes de especialistas internacionais sao, sem duvida, dois dos pontos principais que devem orientar e delimitar as rotas pelas quais deve transitar a cooperagao técnica interinstitucional em satide. George A. O. Alleyne Bruno Delaye Diretor Diretor Geral Organizagao Pan-Americana Diregao Geral da da Saude / Escritorio Regional Cooperagao Internacional da Organizacao Mundial e do Desenvolvimento da Saude Ministério de Assuntos Estrangeiros Franga Sumario Capitulo 1 0 cenario global da nova gestio do hospital Capitulo 2 Os principios reitores das reformas do setor saiide e os hospitais Capitulo 3 ‘O hospital no sistema de sade Capitulo 4 Tendéncias de mudanga nos modelos de atencao e na gestao do hospital Capitulo 5 Critérios de definigao do hospital em seu contexto Capitulo 6 0 enfoque estratégico no hospital Capitulo 7 ‘A gestao da mudanga institucional Capitulo 8 ‘A gestao da qualidade Capitulo 9 A gestdo do recurso humano Capitulo 10 Agestao econdmica e financeira Capitulo 11 istemas de informacao Capitulo 12 A gestio da tecnologia Capitulo 13 Os processos de apoio a gestao clinica hospitalar ey 49 69 a1 121 149 185 213 247 283 319 347 367 O cenario global da nova gestao do hospital © cenério global da nova gestao do hospital Para a andlise de qualquer tema, inclusive o do setor satide e sous estabelecimentos, deve-se levai em conta as condig6es externas, ou seja, 0 contexto em que atua o analisado, Em um mundo imerso em um provesso de giobalizaco, que apresenta contradigBes notaveis, entender o contexto& indispensdvel para se caplar as diferentes forgas em atuagao. Em nosso caso, a primeira reteréncia obrigatbria ¢ a evolugéio demogratica e epidemiolégica da Regido das Américas, O aumento continuo e constante da esperanca de vida, a diminuigéo da mortalidade e danatalidade, bern como os movimentos migratérios, vao mudando a estrutura das populagdes e exigem redefinir quais servigos de saiide so necessérios. VViveras contemplando um cenério de transigao epidemiolégica no qual convivern doengas préprias de paises desenvolvidos e em desenvolvimento, ganhando prepanderdncia doencas emergentes, como a AIDS, ¢ reemergentes como a tuberculose, no qual a vioncia 6 um fenfémeno cotidiano, além dos acdentes e da motbi-mortalidade devida aos transtornos de satide mental e ao consumo de drogas, alcool e tabaco. Tudo isto configura tambérn 0 contexto no qual os servigos de sade e, em particular, os hospitals devem funcionar. ‘Ao mesmo tempo em que se tém experimentado avangos, subsistem caréncias focalizadas no abastecimento de agua potavel e nos sistemas de saneamento. Isto, somado & alta vulnerabilidade diante dos desastres naturais de extensas éreas da Regido, exige un esforco permanente de articulagao de programas ¢ atividades de promogao a sale, de prevencao de riscos e de eliminagdo de danos. ‘Além disso, 0 contexto econdmico da Regido caracteriza-se pela coexisténcia de uma evolugéo positiva das variavels macroeconémicas ¢ de uma deterioragao da situacdo das camadas sociais menos favorecidos da populagéo. Com efeito, por um lado, aumenta 0 Produto Intemo Bruto (PIB) regional; de alguma forma os pregos so estabilizados; o comércio ¢ liberado; associagbes sub-tegionais se desenvolvem; avangam processos de reforma financeira e tributaria; empresas estatais séo privatizadas: promovem-se teformas trabalhistas e previdenciarias. Por outro lado, no mesmo terreno social, estes avangos convivem, contudo, com o aumento da pobreza e com um marcado aumento de sua urbanizacao, somados a uma concentragao da riqueza cada vez maior ea crescentes indicadores de desocupagao e de aumento do emprego informal. Tudo isto apresenta indubitaveis desafios as politicas publicas e, em particular, aquelas que procuram ampli a protegao social em satide. Noplano politica, assistimos a um processo de democratizago, pelo menos nos aspectos formas. Salvo alguns episédios esporadicos, pode-se dizer que, no continente - com uma s6 excego — todos os governos tém sido escolhidos por meio de eleigdes democralicas. Isto se deu no marco de um processo de reforma e reconversao de Estado, O conceit do Estado onipotente vai sendo deixado de lado. Assistimos a privatizagao, em maior ou menor grau, das empresas do Estado em quase todos os paises. Simuitaneamente, 0 Estado trala de assumir seus papéis indelegaveis de garantia dos direitos-cidados, de fator de coergao social e de articulador coletivo da solidariedade, fortalecendo seu poder regulador @ exigindo um processo de modernizagao e de mudanga cultural Neste sentido, a gestdo piblca tamibém se encontra em revisdo. A aplicagao de um conceito mais democratico das politicas piblicas abre espaco a participagao da sociedade civil na definigao dos interesses Plblicos ¢ nas formas de salistazé-los. A administragao publica ja ndo é patriménio exclusive da burocracia estatal, mas de toda a sociedade mesmo que esta seja conduzida e regulada por autoridades. No setor saide, a gestdo piblica compreende nao s6 a prestacao direta de servigos, mas também a garantia da 29 30 Atranstormagao da gestae de hospitais na América Latina e Caribe resolugdo dos problemas de satide da populagao, por si mesma ou por mecanismos que asseguremn um exercicio solidario do direito a salide, Portanto, quando se fala da necessidade de melhorar o desempenho dos hospitais, nao se faz referéncia exclusiva aos hospitais publicos, mas a todos aqueles que, a margem da sua natureza juridica ou do tipo de propriedade, estao cumprindo uma fungao de prestagao de cuidados a satide em regime de internagao, Outro elemento central na andlise do contexto sdo as mudangas tecnolégicas. Neste capitulo, seré tratada uma das mudangas externas mais relevantes: a exploséo da tecnologia da informagao, ja que constitui um elemento fortemente condicionador dos demais. O acesso rapido a tecnologia e a possibilidade de antecipar problemas e propor solugdes inovadoras surgem como advento da revolugdo da informatica, Em sintese, a velocidade e a globalidade dos processos de mudanga, tanto gerais quanto espeoticos do setor saiide, obrigam os hospitais a desenvolver novas formas de relacdo a sua volta e novas modalidades de organizagao e de gestéo que Ihes permitam dar uma respasta satisfatoria as demandas da populagab. Evolugao demografica ¢ epidemiologi ‘A populagao da América Latina e Caribe é de aproximadamente 500 milhdes de pessoas, o que representa 8,4% da populagdo mundial. Cerca da metade divide-se entre o México © o Brasil e a outra metade distribui-se entre 40 paises e territérios. ‘A mortalidade geral, com raras excegdes, segue apresentando uma tendéncia a diminuigéo, ‘enquanto se mantém um aumento continuo da esperanca de vida ao nascer. Entre 1960 e 1970, a média da taxa de natalidade foi de 40 nascimentos por 1.000 pessoas &, em 1999, de 19 por 1.000. Com relacao ao fato de que tanto 4 natalidade como a fecundidade continuarao caindo e, apesar das redugdes da mortalidade, a taxa de crescimento da populagao total seguira diminuindo, Espera-se que o aumento do grupo de pessoas de 65 anos ou mais seja mantido Porém, mudangas demogréficas, considerando as tendéncias das taxas de nalalidade e mortalidade, nao bastam para tragar uma imager completa das dindmicas da populagao. Um aspecto dificil de se analisar sA0 as migragbes e, em particular, as migragoes intemacionais, porque as cifras ofciais de imigrantes costumam omitr a imigragao ilegal. Ao tongo da historia, Argentina, Canada, Estados Unidos da América @ Venezuela tém recebido mais imigrantes que os demais paises Outra tendéncia demogratica importante no continente americano é a migragée de populagao de zonas rurais para urbanas. Em toda a América, as cidades sequem atraindo uma multiddo de pessoas do campo. Alguns centros urbanos latino-americanos tém chegado a crescer até 60% em uma s6 déecada Durante a tltima década, a siluago da salide na Regido tem melhorado continuamente, Isto € 0 reflexo de diversos fatores sociais, anibientais, cultura e teenolégicos, bem como da maior disponibilidade de servigos de atengao a salide @ de programas de satide piblica. Porém, estas melhorias nao tem mostrado as mesmas caracteristicas @ a velocidade em todos os paises, nem em todos os grupos de populagao de um mesmo pais. ‘O cenério global da nova gestao do hospital Os paises estio vivendo mudangas demograticas ¢ epidemioldgicas proprias de todas as sociedades em transigao, Entre a primeira metade dos anos oitenta e meados dos noventa, a esperanga de vida ao nascerna Regido aumentou de 68,7 para 71,1 anos e em todas suas sub-regides a esperangade vida das mulheres @ maior do que a dos homens. No periodo compreendido entre 1980 ¢ fins deste século, apesar do aumento da poputagao e do numero de mortes, produziu-se uma marcada redugéo do niimero de anos potenciais de vida perdidos, ou ja, diminuiu-se a quantidade de mortes prematuras. Porém, a intensidade e a velocidade desta redugao 1ndo tém sido homogéneas em todos os paises, pois 16m subsistido e, em alguns casos, ampliado as desigualdades entre eles. Convém destacar que as doengas ndo-transmissiveis ficam em torn de dois tergos da mortaidede total da Regio, Porém, uma preocupagdo crescente para as autoridades de saide sd as doengas transmissiveis. Assim, em 1999, 1,3 milhées de pessoas na América Latina e 360.000 no Caribe eram soroposttvas ao HIV ou tinham AIDS. A emergéncia de novos patégenas e doengas, a reemergéncia de problemas, como a tubercuiose eas crescentes resisténcias aos antibidticos, Pbem em evidéncia a necessidade de manter e aperfeigoar os sistemas de vigiléncia das doengas transmissiveis na Regido utra preocupagao 6 a repercusséo, na satide piblica, de problemas sotiais, tis como as diferentes formas de violéncia, incluida a familar, e 0s acidentes, Mesmo assim, a morbidade crescente por tanstornos mentais e a morbi-mortalidade associada a0 tabagismo e ao aleoolismo tém fortalecido os programas de prevengao na maior parte dos paises da Regiao. Um elemento ainda muito importante 6 o que se refere ao saneamento basico, Estima-se hoje que cerca de 78% da populagao da América Latina e Caribe dispdem de abastecimento de agua potavel domiciliar ou de facil acesso, Os 70% desta populagao possuem agua desinfetada, o que representa um ango enorme em relagao aos 20% que a recebiam ha pouco mais de dez anos. Desde cedo, 0 acesso gua potavel varia entre os paises. Na Costa Rica, todos os lares tém acesso Agua putavel, enquanto no Haiti e no Paraguai s6 4 de cada 10 a possuem. Algo parecido acontece com os servigas de esgoto saneamento, que esto ao alcance de quase todos os lares nas Bahamas, Costa Rica e Trindade e Tobago. A situagao é muito diferente no Haiti e no Paraguai, onde menos de 1 de cada 3 lares destrutam destes servigos. CO défcit na disposigao sanitaria das aguas residuais @ de exoretas ¢ ainda maior, fa que somente 669% da populagao é atendida e, ainda assim, apenas 10% das aguas residuais que se recoletam recebe algum tipo de tratamento antes de sua disposig&o final. Outros problemas ambientais importantes em quase todos os paises da Regio sao a contaminagao dos alimentos, a disposigao inadequada de residuos sélidos, a precariedade das moradias ea exposi¢do a acidentes e a doengas nos ambientes de trabalho. Contexto econdmico Como conseqiéncia das profundas mudangas que tém experimentado as economias da Regio das Américas, nos tlimos dez anos, a situagao do entomo econtmica e social dos hospitais tern-se moditicado substancialmente, Assim como a década de oitenta passou a ser conhecida como a década perdida, devido & forte queda da atividade econdmica e & detetioragao do progresso social da Regiao, a década de noventa se conhece como a década das reformas estruturais 3 32 A transformacao da gestdo de hospitais na América Latina e Caribe Aorientagdo dectarada destas reformas tem sido procurar o desenvolvimento econémico e humano, além do mero aumento da atividade produtiva medida pelas taxas de crescimento do PIB. A partir dessa perspectva, as transformagées t8m-se dirigido,incialmente, a melhorara eficiéncia, a acelerar ocrescimento econdmico e a elevar a inclusdo e o bem-estar das pessoas.* O papel do estado tem-se modificado; tem- se revisado sua partcipagdo em éreas de provisdo direta de servigos socias tais come educagao, saude, moradia e previdéncia social e redefinido um papel mais intensivo de suas fungdes de diretoria ¢ asseguramento. Em virtude desta nova orientagéo, e dando resposta a uma visdo que considera a politica social como um componente inseparével da politica econémica, o Estado compromete-se a prover os recursos financeiros requeridos para assegurar 0 acesso aos servigos Sociais, ao mesmo tempo em que delega boa parte da fungao de produgao nas entidades pablicas ou nao que assumam possuir vantagens comparativas para a execugao destas tarefas. Como resultado destas transtormagGes e, apesar das dificuldades experimentadas em 1998 - quando as economias da América Latina e Caribe depararam-se com uma surpreendente instabliidade das finangas e do comércio internacional receberam fortes presses do setor externo — 0 crescimento econémico da Regido, em seu conjunto, acelerou, ainda que ndo se alcangaram as taxas anteriores ao inicio da crise dos anos oitenta.® Enquanto no periodo 1981-1990 o PIB regional cresceu a uma taxa promédia anual de 1% (dando lugar a uma redugao média anual de 1% do PIB per capita), no periodo 1991-2000, 0 PIB regional registrou um crescimento médio anual de 3,3% (0 qual se traduziu em um ‘aumento médio anual de 1,5% do PIB per capita). A Figura 1 mostra indicadores para as décadas de citenta e noventa, Nela, pode-se apreciar como o processo de recuperagao do crescimento se viu afetado, nos anos de 1998 e 1999, pela crise asiatica e se restaurou no titimo ano da década, compensando, assim, os pobres avangas do biénio 1998-1999. ae Beco UN eR Rea Ue aR Sa Perera os Tne op eh 2 Fgh tea ecu eons AGT : Tee Te nt tae Fonte; Elaboragio prépria baseada na: CEPAL. Balango prelimnar das ecanomias da América Latina e Caribe 2000. Santiago do Chile: CEPAL; 2000 O cenario global da nova gestao do hospital 33 Como era de se esperar, estas evolugdes nao tém ocorrida em todos os paises. A Figura 2 mostra as taxas de crescimento médio anual do PIB per capita por pais para a década de noventa, Enquanto a taxa de crescimento anual do PIB per capita regional foi de 15%, em um grupo de paises as taxas foram negativas, 0 que mostra graves questionamentos sobre a viabilidade de se obter melhorias sustentaveis nas condigdes de vida da sua populagao. Neste grupo, encontram-se Hait, Cuba, Jamaica, Paraguai e ‘Nicaragua. Outro grupo de paises, entretanto, teve resultados maiores que a média, destacando-se 0 Chile, a Republica Dominicana, a Guiana e Sao Kits e Nevis, acl le ira Taxas de crescimento médio anual do PIB per capita (expressadas como porcentages) na América Latina e Caribe nos anos 90 bcaue Fonte: Elaboracdo prOpria baseada em: CEPAL. Balango preliinar das economias da América Latina @ Caribe 2000, Santiago do Chile: CEPAL; 2000. Durante os anos noventa, também se observou uma exitosa establizagao dos pregos. O controle da inflago ocupou um lugar priortério na politica macroeconémica e se complementou de uma maneira cficaz com as reformas estrulurais e com uma situagzo internacional que, até meados de 1997, tinha sido bastante favoravel. Produto da gestdo das peliticas monetatia e cambial, as dificuldades que 0 setor financeiro enfrentou na economia mundial durante o binio 1998-1999 nao afetaram de forma importante 10s precos domésticos dos paises da Regido, ja que as desvalorizagdes nao se traduziram em aumentos substandiais dos pregos. Ao mesmo tempo, a descentralizacao politica concluida como parte da reforma 34 A transformagao da gestao de hospitais na América Latina e Caribe do Estado tem sido acompanhada de uma descentralzagio do gasto do governo, Como resultado do anterior, tanto os governos regionais quanto 0s locais assumem uma maior responsabilidade na entrega na gestéo do financiamento dos servigos sociais em geral e do setor salide em particular. ‘As reformas tém tido lugar no marco de uma liberalizagao do comércio e, nesse sentido, tém sido encaminhadas a melhorar as possibilidades de participagaio exitosa nos mercados internacionais, aumentando a competitividade da produgo de cada pais. Mesmo quando existiram variagoes entre eles, todos empreenderam a tarefa de abrir suas economias ede liberare fortalecer suas estruturas financelras. ‘Além disso, em cada pais, tem-se avangado na eliminagao das taxas de cémbio miltiplo, na redugao de tarifas, na eliminagao de barreiras ndo-tarifarias ao comércio exterior e na moditicagao das restrigdes aos movimentos de capital. Um elemento central no processo de liberaizagdo comercial tem sido a ctiagdo e 0 fortalecimento dos acordos comerciais entre paises da Regido. Com a criagao do Mercosul em 1991, reuniram-se forgas para vigorar 0 Grupo Andino, 0 Mercado Comum Centro-Americano @ a CARICOM (Comunidade Caribenha). Atualmente, todos eles se encontram em diferentes etapas de conformagao como unides aduaneiras e contribuem no cumprimento do compromisso adquirido em 1995 pelos paises da Regido de estabelecer uma area de live comércio hemisférica, Além das reformas orientadas a liberalizagdo do comércio, & pertinente destacar as empreendidas em outras quatto areas relevantes: a) a reforma tributéria; b) a reforma financeira; c) 0 processo de Privatizagdes; e d) a reforma do trabalho e dos sistemas de seguridade. Os efeitos das transformagées, em algumas destas areas, sdo pertinentes ao tema da gestdo hospitalare elas serao vistas a seguir. Com relagao as reformas tributarias, tem-se procutado aumentar a arrecadagao procedente de fontes internas a fim de compensar a diminuigao da arrecadacdo tariéria como consequéncia da reducao de tarifas e da simpiticacao dos aspectos legais e administrativos. Os sistemas de imposto ao valor acrescido tém influenciado 0 consumo ¢ evitado 0 impacto negativo de outras opgées fiscais nas decisdes de produgao e inversao. Até 1997, mais de vinte paises tinham introduzido este tipo de imposto. Por outro lado, com ajuste a criterios de eqidade, tem-se mantido a estrutura de evitar os ingressos mais altos com taxas diferenciais, ainda que o diferencial tenha se reduzido com relagdo a décadas anteriores, Ao mesmo tempo, muitos paises tém tomado importantes medidas para reduzir a evaséo ‘ributaria As reformas financeiras camiinham para lberaro funcionamento do mercado financeiroe estabelecer sistemas de regulagao adequados. Assim, tém-seliberado as taxas de interesse, reduzido os coeficientes de caixa ¢ 0s programas de crédito diigido e tém-se estabelecido sistemas mais modernos de regulagao bancaria © processo de privatizagdes tem sido notavel, se bem que com diterengas entre os paises. Este tem sido, sem divida, o componente com maior impacto na redugao do ambito das atividades do Estado. Cerca de 40% do valor das privatizagoes na Regiao tém tido lugar nos setores de servigos pUblicos, os uais, tradicionalmente, tinham estado fechados a partcipacao privada e onde se identiicava o maior potencial para aumentar a produtividade e a eficiéncia. Outros 20% se compdem pela venda de entidades bancaiias e afins, fato este que se deve considerar complementar 8s reformas do setor financeiro. Quanto a intensidade do processo, as 755 vendas e transferéncias do setor privado realizadas na América Latina, entre 1988 e 1995, representaram mais da metade das operagdes de privatizacao dos paises em desenvolvimento, Nao obstante, em alguns paises, este processo tem mostrado um nivel de oposigao politica, levando a sua postergacao. (© cenario global da nova gestao do hospital O terra da reforma do trabalho tem estado presente na agenda como estratégia que permitira flexbilizar ‘oemprego e reduzir 0s custos de contratagao e de producao, melhorando assim a competitvidade, Porém, 2 introdugdo efetiva destas reformas tem sido lenta,j4 que exercem um impacto direto nas condigdes de trabalho e, portanto, apresentam urn dilerna entre os objetivas econémicos e os de bem-estar social, Estas reformas tém-se dirigido a moderar os custos de demisso e a faciltar a contratacéo de trabalhadores temporarios, as quais so contrarias ao espirito que motivou uma legislacao do trabalho para afiancar a estabilidade do trabalho e para proteger o trabalhador e a sua fama dos riscos proprios do desemprego, da doenca e da velhice. Nesta mesma linha, a reforma dos sistemas de seguridade tem caminhado no sentido de conigir uma situagéo de alta contribuigo por parte do empregador & seguridade social, aos fundos de ssaide e ao seguro desemprego. Em alguns paises, a soma total destas contrbuigées alcanga 30% do custo salarial direto e, mesmo com corregSes, peroebe-se a necessidade de tomar medidas claras que evitem que a contribuigGes & seguridade social operem, de fato, como desestimulos ao emprego formal A parte do debate sobre os avangos alcancados como conseqiiéncia destas reformas estruturais uestiona se os beneticios t8m compensado os custos de sua implantacdo. A resposta leva a dois tipos de indicadores: uns exclusivamente econémicos - como seriam niveis absolutes das taxas de crescimento do PIB, particularmente medidos em termos per capita - @ outros de tipo social, relacionados com a distribuigéo dos beneticios do crescimento econémico. Os primeiros foram tratados nesta segao @ os segundos seréo abordados na seguinte Contexto social Quando se mede a distituigaio dos beneticios das retormas por meio do nivel de vida da populacéo, 6 resultados nao so muito animadores. Em 1999, a porcentagem da populagao que vivia em condigoes de pobreza era 50,7%, comparada com 41% em 1990, e o numero absoluto de pessoas nesta situacao era da ordem de 243 milhdes.* Além disso, a pobreza urbanizou-se a partir dos anos oitenta, quando a maior parte dos 64 milhdes de pessoas que se somaram a esta categoria localizou-se nas cidades. Por um lado, a situagao de pobreza rural tem-se mantido, relativamente, estavel Figura 3). Por outro, a pobreza urbana ‘alcangou a rural no principio dos anos oitenta e a superou desde ent. A petir de 1990, esta tendéncia se deteve, A cistribuigdo atual indica que, aproximadamente, 61% dos pobres vivern em zonas urbanas e 39%, em zonas ruras. fae} Cee UE cn Way wee ker Yl) Cea} 1970 1980 4988 1980 994 Fonte: Londofio JL, Székely M. Latin America after a decade of reforms. Inleramerican Development Bank: Washington, DC; 1997, 35 36 A transformagao da gestao de hospitais na América Latina e Caribe Nao hé melhoria na distribuigéo deste aumento relacionada aos avangos alcancados em matéria de

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