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A vida em abraços apertados

Quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém...

Em tempos frenéticos de rapidez, de pós-tudo, de infinita celebração do eu, do egoísmo


individual que nem ao menos sabe pôr pra fora sentimentos, eu quero mais é me doar
pra quem eu gosto. Dar abraços apertados. Fazer comida. Oferecer um café e uma prosa
afinada. Ouvir. Rir de tosquices. Chamar para o reggae. Olhar nos olhos dos meus e
dizer que amo, que gosto, que me sinto bem em tê-los aqui comigo. Prefiro ir de mãos
dadas, juntos, no afeto, na saudade, na hemorragia dos sentimentos, aqui e agora. E me
sentir cheia de amor, fértil, plena, solidária. E feliz por isso, por essas belezas todas de
quem celebra junto comigo as felicidades e agruras da existência. Irmanada num abraço
apertado e generoso da vida. Das bonitezas do cotidiano, das flores brotadas em horas
ingratas, há vida pulsando nesse aperreio e corre-corre. Ali, vida de esgueira,
preguiçosa, que pede redes, pomar, bolo de fubá, hortinha de fundo de quintal, toalhinha
de crochê, bossa nova, lerdeza, calma, sossego e histórias... E de uma coisa, eu sei, do
alto da minha sabedoria de boteco bom, bonito e barato: a vida se esvai e não há tempo
para ingratidão. Ah, corajoso é falar o que pensa, é se drenar emocionalmente, é praticar
a desimportância, é pôr uma saia colorida de chita sob o sol de meio dia e viver um
glamour. Perceber que de tão anônimos, podemos ser felizes juntos. Notando as
pequenas grandezas no ínfimo. Voando fora da asa. Imitando Manoel de Barros.
Desafinando sambas e choros. Segurando a mão de gente querida que sofre perdas.
Perdoando passados. Comendo torresmo e bebendo cerveja. Vivendo a honestidade de
um amor curtinho. Abraçando a vida num golpe só e que ela venha, imensa e fecunda, a
nos ensinar desconstruções e a dessacralizar importâncias (inúteis).

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