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Na transição para o Portugal Contemporâneo há uma série de transformações, quer

no domínio jurídico institucional, quer nas tecnologias. No entanto, estas mudanças


são um aglomerado de condições que irão diferenciar o novo Portugal (como
Estado-Nação) do Antigo Regime. O princípio de centralização e métodos para
controlar a nação, como por exemplo, através da educação; noção do princípio de
trabalho; procura de pessoas especializadas e qualificadas para a organização
burocrática do Estado

Com o Marquês de Pombal, assiste-se a um enobrecimento de algumas


actividades, como aconteceu com os Doutores de Coimbra, o que leva a uma maior
mobilidade social. A Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra consistiu num
conjunto de medidas pedagógicas, que tinham como intenção abraçar os ideias
iluministas. Começou por expulsar os Jesuítas, em 1759, que até então controlavam
grande parte do sistema educacional português. A seguir à expulsão dos Jesuítas
há uma "geral reforma" ao nível dos estudos menores. Cria o cargo de Director-
Geral dos Estudos, recrutando novos mestres para substituir os padres da
Companhia de Jesus. Assiste-se à criação das Aulas de Comércio, logo em 1759,
para os comerciantes mostrarem que sabem ler, escrever e entender problemas de
contabilidade e línguas estrangeiras; o Colégio dos Nobres, em 1761, e expansão
de escolas primárias e secundárias, em 1772. Neste último ano mencionado, a
Universidade de Coimbra recebe novos estatutos. Os cursos, que até então a
Universidade oferecia, eram Teologia, Leis e Medicina. Com a Reforma, o leque de
cursos torna-se mais abrangente: Filosofia, Matemática, História Natural, Física,
Química e Geometria. A Universidade de Coimbra passa a contar um Hospital
Escolar, um Teatro Anatómico, um Dispensário Farmacêutico e também com o
Jardim Botânico. Para a Faculdade de Matemática foi criado o Observatório
Astronómico. A Faculdade de Filosofia tinha o Gabinete de História Natural, o
Gabinete de Física Experimental e o Laboratório Químico. São também convidados
professores estrangeiros, nomeadamente, naturalistas.

Do ponto de vista económico destaca-se a Junta do Comércio, cujos estatutos são


aprovados em 1755, que passa para a administração de obras públicas e criação de
empresas e fabricas. Estas manufacturas, que tinham licença real, irão opor-se às
corporações, obedecendo apenas ao monarca (quando Pombal é afastado, D. Maria
I irá vender estas fábricas aos ingleses- serão privatizadas e acabarão por ser
encerradas). Pombal cria também companhias comerciais monopolistas, tais como
a Companhia Geral do Grão Pará, em 1755, e a Companhia Geral de Pernambuco e
Paraíba, em 1759.

No plano administrativo e jurídico, surge o Erário Régio (a fazenda pública) e


contadores que controlam e administram as finanças do rei para o impedir que faça
gastos extravagantes (como tinha acontecido com D. João V). Há a igualdade dos
estatutos jurídicos, a escravatura passa a ser proibida (apenas no Continente) e a
protecção dos magistrados. A Lei da Boa Razão, que defende a lei dos
universitários e juristas.

Na religião, como já foi mencionado anteriormente, há a expulsão dos Jesuítas em


1759- as próprias Memórias da Academia Real das Ciências contribuíram para a
condenação dos Jesuítas e da Inquisição. O Tribunal da Santa Sé passa para o
Tribunal do Estado, devido à laicização do Estado. Verifica-se o fim da censura
religiosa e da separação entre cristãos velhos e cristãos novos. No entanto, apesar
de acabar a censura religiosa, surge uma censura política, através da criação da Real
Mesa Censória.

No que concerne as forças armadas, há novos recrutamentos, novas tácticas de


guerra (quer de defesa, quer de ataque), novo fardamento, armamento mais
moderno e um código novo de disciplina.

Quando o Marquês de Pombal é afastado, passa a governar D. Maria I conhecida


por "viradeira". Todavia, apesar do nome, a rainha não irá tomar um caminho muito
diferente, tomando também medidas que modernizassem o país. Irá escolher novos
ministros, porém, como seguiam a corrente inglesa e francesa, a rainha será incapaz
de travar o avanço do Iluminismo.

Assiste-se a uma liberdade de comércio, com o fim das companhias monopolistas e


um maior controlo dos privilégios para aquelas que não terminaram. A Junta da
Administração de Todas as Fábricas deste Reino e Águas Livres (que terá como
consequência a privatização de várias fábricas) e o Tratado de Amizade, Comércio e
Navegação (entre Portugal e a Rússia) assinado em 1789.

A criação da Real Academia das Ciências de Lisboa, das Aulas de Desenho em


Lisboa e no Porto, da Academia Real da Marinha e da Academia Real das
Fortificações, Artilharia e Desenho e a fundação da Real Biblioteca Pública de
Lisboa.

Assiste-se à fundação da Real Casa Pia de Lisboa, em 1782, que seguindo o modelo
inglês, pretendia acabar com os vagabundos e os pobres. Criação da Junta
Ordinária da Revisão e Censura do Novo Código.

Como podemos verificar, o século XVIII foi uma época de transformações em todos
os aspectos da sociedade portuguesa, chegando alguns autores a mencionar uma
"Revolução da Transição".

O Marquês de Pombal e o comércio

Durante o período pombalino, os mercadores desfrutaram de uma posição privilegiada,


resultante das medidas tomadas por Sebastião de Carvalho e Melo, que visava a criação de um
grupo social de negociantes capitalistas. As oscilações das medidas tomadas por Pombal ou o
período determinado em que vigoram resultam de determinadas conjunturas, que se vão
alterando. O reformismo pombalista foi sempre mercantilista e fiscal. E essa demarcação social
espelhou-se na demarcação institucional, na Junta do Comércio, e na dimensão legal e
simbólica, espelhada no estatuto e no vocabulário, de denominação oficial.

O estatuto dos mercadores, consagrado na lei, apontava para um grupo de beneficiários de


determinados privilégios que se encontravam numa situação comum de condições materiais
de atividades diferentes dos grupos restantes que não beneficiavam dessas mesmas regalias.

Desde logo, Pombal preocupa-se com a codificação do estatuto dos mercadores, com o
objetivo de afirmar na sociedade a diferença entre comerciantes grossistas e retalhistas. Na
sequência destas medidas surge a Junta do Comércio. A Junta do Comércio foi criada em 1755.
Competia a este órgão controlar a saída das frotas, fazer cumprir a proibição dos “comissários
volantes” comerciarem no Brasil e combater o contrabando e o negócio ilegal, fiscalizar os
pesos e medidas e verificar a qualidade do tabaco e açúcar. Em suma, controlava todo o
comércio ultramarino, inclusive a construção naval. A Junta do Comércio vem vincar uma
diferenciação já existente entre comércio de retalho e comércio grossista. A Junta privilegiava e
regulava a atividade dos diplomados da Aula do Comércio. O objetivo era erradicar a ignorância
do meio dos negócios e exaltar o conhecimento, a boa conduta e a experiência. Apenas
aqueles que se encontrassem matriculados na Junta do Comércio poderiam ser denominados
de «homens de negócio».

Pombal procedeu igualmente à reforma do imposto da dízima, por intermédio da demarcação.


Assim, segundo o alvará régio de 30 de Outubro de 1762, pelo pagamento de 24 contos, era
substituído o imposto da décima de maneio dos lucros do comércio. Na sequência disto, foram
ainda elaboradas listas em que constavam os beneficiados pela medida. Esses mesmos
beneficiados eram denominados de comerciantes por grosso. Contudo, em 1774, essa medida
foi abolida, já que nela constavam indivíduos indevidamente.

Igualmente, o ministro procura fomentar a produção nacional. Confere privilégios à Companhia


Geral da Agricultura dos Vinhos do Alto Douro, em 1756 e, no sentido ultramarino, procura que
o Rio de Janeiro e as províncias do Sul, segundo o alvará de 6 de Agosto de 1776,
comercializem em exclusivo com os vinhos, aguardentes e vinagres da mesma companhia.
Procura incentivar a produção manufatureira, através dos Estatutos das Fábricas das Sedas, de
1757, em que o ultramar é exclusivo e é apenas contemplado com apenas poucas fábricas e
são, sobretudo, um local abastecedor de matéria-prima.

Na sequência da ideologia mercantilista, Pombal direciona-se para o monopólio de exportação,


a balança comercial e o pacto colonial. Para otimizar o objetivo do monopólio do comércio
colonial foram criadas as companhias de comércio. Eram 3 os vetores a atingir com esta
medida: o monopólio do controlo da circulação, o incentivo da produção colonial e o tráfico de
escravos. Para isso, procedeu à criação de companhias monopolistas, nomeadamente a
Companhia Geral do Grão-Pará e do Maranhão, em 1755, e da Companhia Geral de Paraíba e
Pernambuco. Na sequência da oposição a esta companhia, por parte de alguns mercadores,
Sebastião de Carvalho e Melo extingue a Mesa do Bem Comum dos Homens de Negócio. O
monopólio das companhias locais excluía comerciantes locais e estrangeiros. É uma das
constantes preocupações de Lisboa impedir o contacto direto com a colónia e de combater as
fraudes da proibição dos “comissários volantes” contactarem com o Brasil e o acesso de navios
estrangeiros ao Brasil.
No que concerne à politica monetária, procura-se arrecadar os quintos das minas do Brasil e o
comércio deficitário com Inglaterra, decorrente da quebra da produção de ouro no Brasil,
sobretudo desde 1760, em que o metal precioso desequilibrou a balança comercial. No âmbito
fiscal, foi criado o Erário Régio, em 1761.

Em suma, as reformas económicas associaram-se às práticas mercantilistas e as preocupações


financeiras procuraram responder às urgências estatais.

Bibliografia utilizada:

Estatutos da Junta do Commercio ordenados por El- Rei Nosso Senhor no seu Real decreto de
30 de Setembro de 1755. Lisboa: António Rodrigues Galhardo, 1803.

Considerando como maiores expoentes da contemporaneidade do século XVIII o


racionalismo e o primado do indivíduo (os valores do Iluminismo), serão relevantes
para o tópico em desenvolvimento todas as reformas efectuadas em Portugal que
tornem realidade, ou pelo menos tentem, tornar realidade esses valores.

Assim sendo, podemos começar por listar a acção reformadora de Marquês de


Pombal que, fruto da sua experiência diplomática em vários pontos da Europa,
procurou "revolucionar" o reino após o terramoto de 1755. São relevantes as suas
reformas:

A nível económico, com criação de companhias comerciais monopolistas como é o


caso da Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão (1755) e a Companhia Geral de
Pernambuco e Paraíba (1759)[1], e o fomento da indústria, no seguimento das mais
modernas teorias à época, as do mercantilismo;

No ensino, com a laicização do ensino, a reforma da Universidade de Coimbra, a


fundação do Real Colégio dos Nobres, a criação da Aula do Comércio, a criação da
Real Mesa Censória, e novas pedagogias de ensino através da aplicação de novos
métodos, como por exemplo "O Verdadeiro Método de Estudar" de Luís António
Verney.

Como nos diz Maria Eduarda Cruzeiro em “A reforma pombalina na história da


Universidade: “As intervenções pedagógicas mais importantes, que se verificam
entre 1759, ano da expulsão dos Jesuítas, e 1772, ano da «nova fundação» da
Universidade de Coimbra e do que se poderá chamar, sem vício de anacronismo, a
criação do ensino primário oficial, constituem, na sua articulação, a primeira
tentativa de estabelecimento de um sistema de ensino público em Portugal.”[2]
A nível administrativo e jurídico, com a igualdade dos estatutos jurídicos, a
protecção dos magistrados, a abolição da escravatura no Continente, a criação da
Intendência Geral da Polícia, a criação do Erário Régio e a utilização de
contabilidade organizada nos assuntos do Estado, como são exemplos as pautas de
comércio;

No exército, com a centralização do recrutamento, com as novas tácticas e


fardamento, a modernização do armamento e o novo código de disciplina;

E na religião, com a laicização do Estado, a expulsão dos Jesuítas em 1759, a


transformação do Tribunal da Santa Sé em Tribunal do Estado, o fim da censura
religiosa e o fim da distinção entre cristãos-velhos e cristãos-novos.

Segue-lhe, na governação, D. Maria I que, apesar da viradeira (nomeação, por D.


Maria I de novos secretários de Estado) vai também efectuar uma série de reformas
que tentam modernizar o país. Na actividade legislativa do seu reinado podemos
verificar vários campos de actuação.

Na área económica temos a inclinação para os novos ideais fisiocratas, a liberdade


de comércio (fim das companhias monopolistas e restrição de privilégios para as
que não terminaram), a privatização de várias manufacturas, o fomento da indústria
através da Junta da Administração de Todas as Fábricas deste Reino e Águas Livres
e o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação (Tratado Luso-Russo) assinado em
1789 com a Rússia.

Na área da cultura e da educação temos a criação da Real Academia das Ciências


de Lisboa, a criação de Aulas de Desenho em Lisboa e no Porto, a criação da
Academia Real da Marinha e da Academia Real das Fortificações, Artilharia e
Desenho, a fundação da Real Biblioteca Pública de Lisboa e de várias escolas
primárias.

Na área assistencial, temos a fundação da Real Casa Pia de Lisboa, em 1782, que
pretendia acabar com o banditismo e vagabundagem que grassava pela capital,
tornando-a numa "cidade moderna e civilizada".

“A fundação da Casa Pia insere-se no reformismo iluminista característico do século


XVIII europeu. Tal como Pombal, também Pina Manique foi sensível às propostas
reformistas dos estrangeirados. [...] Importava retirar as crianças pobres e
abandonadas da rua, antes que se tornassem ladroes ou assassinos, criar
recolhimentos ou obras de assistência que as albergassem e educassem. E a Real
Casa Pia de Lisboa foi uma dessas obras de assistência.”[3]

A nível jurídico tenta uma reforma e uma nova codificação das leis através da Junta
Ordinária da Revisão e Censura do Novo Código. Para terminar, tenta reformar a
legislação concelhia através da neutralização das jurisdições senhoriais e unificação
da administração régia entre 1790 e 1792.
Para concluir, parecem ser estes os melhores exemplos da chegada de uma nova
época a Portugal ou, pelo menos, as mais sérias tentativas para isso durante o
século XVIII. É óbvio que, no século XIX, a contemporaneidade instalar-se-á
principalmente com a chegada dos ideais da Revolução Francesa, através da
implantação do liberalismo político.

[1] TENGARRINHA, José (org.) – História de Portugal. São Paulo: Fundação Editora
da UNESP, 2000. P. 156.

[2] CRUZEIRO, Maria Eduarda – A reforma pombalina na história da Universidade.


Análise Social, [S.l], v. XXIV, nº 1. Pp. 165-210. 1988. P.173.

[3] TAVARES, Adérito – A Casa Pia de Lisboa: Breve Sín

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