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M fBMionário Oapuchitl'ho

3.' Edição 60. <~ milheiro

E:DICOES PAULINAS
RECIFE
1955
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Missionário C apuchinho

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
(

\ .
Nihil obstat
'Recüe, 20 de agôsto de 1953
' I
I
r
I
Frei Tito de Piegaio, ofmcap
OENSOR AD HOO

• Imprimatur
Recife, 20 de agOsto de 1953
) 'Frei Otávio de Terrinca ofmcaP.
OUBT6DIO PROVINOIAL

I '

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br ..!
I
EREEACIO

t: M DEFESA DA FÉ, é um sugestivo título o l ivro qUB.


O Frei Da;mião de Bozzano dá à publicidade como lem-
brOinça de suas inúmeras e fecwndas S01ntas Missões pre-
gadas no decurso de vinte longos anos nas capitais e no
interior do N oràeste brasileiro.
Lendo o presente trabalho temos a impressão de ver.
realmente a bondosa e austera figur a do grande Oapuchi--
nho e ouv ir o t om profético de suas candentes apóstrofes
aos pecadores, am01ncebados, adúlteros, protestantes, es·
piritas, acenando-lhes com voz vibr01nte a consequência ine.
vitável de suas vidas transviadas : O I nterno.
Laureado na Universidade Gregoriana de Roma, em
Teologm D ogmática e Filosofm, Bacharel m Direito Oar
n6nico e por vários anos erudito prof s8or d< agrada E •
critura, Frei Da;mião, 'f.t cvndo tl(' um<t 1 'nn~tng ~m im.plas,
compreensível, adaptada, ( 1'( '!>udm; tw 1rr 1' nc 1ana, " r al~
mct1lc admirável na ltu1imr, t•rrucJa, dt :mn arm.(,m n~
ç '.0 <' nas conclu ões . , W1JI't· dm'<' , tw a/ ·am,c do todos.
A 16m da firmeza til t m I t ., a, da lógica imp cálvel 9
tta Nirnpli 1dad d • /IH m,, /1 u. avmt(,, n '.'~te liv ro outra
mwFtlatll dl 'nc. tirn(l'm I 'lmlm c11w constitue a Bua. alma:
Jt- ~nalmlwm lo a. 'IJ ,,,,,. doH 8anto .
H1w 'tnrl.udt 'm 'dmlt "Jt'Cf'Yn 'nte excepcional:~ que é o
:tear do til '/ktw " d 1U1H missões, perfuma t(Jdas as
páginax, t'Hf' la.7't 'Ot lodoH o. argumentos, fortalece tôdas as
conolu,s6 . ' lnw forma em poderoso m otivo para. a
'IWnlcut que def oode com tanta convic..

E' que ua vfdn, seus exemplos, suas palavras são


a melhor demon t ração das verdades que prega.

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EM DEFESA DA FÉ é poi8 um livro precioso que fa-
la à int-eligéncia e ao coração, destinado a opor um dique
intranspon,veZ à onda avassaladora de corrução com que
a heresia de l.tutero ameaça as mais esplêndidas tradições
ào Brasil católico
E' assim que Frei Damião, visando unicamente o bem
àas almas, multiplica-se a si mesmo, perpetuando no tempo
e no esp(J.{;o as suas grandes mi8sões em defesa da fé
que cimentou os alicerces da nacionalidade e que recebe-
mos., como preciosa herança, dos nossos antepassados, para
construir na solidez dos seus principio a f~licidade do nos-
so futuro.
Recife, 20 de agosto dC' 1953.
FREI OTAVIO DE TERH.INCA, ofmcap.

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1
, A VERDADEffiA REGRA DE FÉ

EGRA DE FÉ: meio lógico, objetivo, pelo qual


R
Deus.
podemos conhecer as verdades reveladas por

Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou ao mundo a


sua doutrina, exigindo que todos a a)lraçassem sob
pena de condenação eterna. Logo nos deve ter deixa-
do um meio fácil e seguro para conhecermos esta
doutrina.
Qual êste meio?
Segundo os protestantes é a Biblia ta). qual é
compreendida por cada indivíduo, ignorante ou douto.
Segundo os católicos, é um . magistério vivo,
autêntico, infalivel, isto é, a Igreja docente, consti-
tuida por Jesus Cristo depositária das verdades re-
veladas. E a,s fontes, onde ssa Igreja vai haurir os
ensinan1cutos de Jc ·us Cristo, são a Bíblia e a
Tradição.
Onde a razão? V jnmo-lo. Neste capítulo vamos
apenas provar a tese católica.

a) Dizemos, a,ntes de tudo, que Jesus, para dar


a conhecer ao mundo a· sua doutrina, constituiu um
magistério vivo, isto é, escolheu certo número de

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FREI DAMIÃO DE BOZZANO

homens, aos quais confiou o munus e o ofício de


pregar a sua doutlina, obrigando todo o mundo a
neles crer. Eis a~ provas:
I .

«Foi-I]!e. da<Jo todo q poder no céu e na terra·..


Ide pois, mtrui as gentes ••• ensinando-as a ob-
servar tudo o que voo mandei; e eis que eu estou con-
~o~co 'Íodos···üs dias até à consumação dos séculos».
'( Mt. 28, '18)' .
Ainda mais: «Ide, pregai o •v ngelho por todo
o--mundo. Quem! crer f 11~ h ti.z do rá salvo, quem
rlão crer, s rá cond ~nn.<lo». (M . 10, 16 ).
-., · <<Qu m v s ouv~, ' Jni tv . Quem vos re-
jeita, a num r .1 ila, <JU 1 1n .i ila, r jeita aquele
que me nviou». (L . 10,16 ).
Por es tas· palavras deu · o Apóstolos e somente
a êles o ofício de pregarem o s u Evangelho; de
fato, quando se tratou de coloca.r Matias no lugar de
Judas que tinha prevaricado, afim de que pudesse
pregar o Evangelho com os demais apóstolos, recor-
reu-se a uiD:a eleição. (Atos, 1, 23 ). Ora, esta não teria
sido necessária, se Jesus tivesse confiado ~ todos os
cristãos o ofício de pregar o Evangelho, pois Matias,
já mesmo antes da eleição, era cristão, discípulo de
Jesus Cristo.
Se, pois, foi preciso uma eleição, quer isto dizer
que Jesus· Cristo confiou sÕlmente aos apóstolos o
ofício de pregar o seu Evangelho.
E os apóstolos compreenderam desta maneira
e,s palavras de Jesus, isto é, que ~le lhes tinha im~
posto o munus e o ofício de pregar a sua doutrina.
Por isso S. Marcos acrescenta: «rues, os apóstolps,

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partiram e pregaram por tôda a· parte». Me. 16, 20).


Eis, pois, o meio escolhido por Nosso Senhor ·
para difundir a sua doutrina,: o magistério dos após-
tolos; êles devem ensinar, pregar esta doutrina e
todo o mundo deve acreditar nos seus enSinamentos.
b) Dizemos, além disso, que "ste magistério vi-
vo, por vontade de Jesus, devia <lura,r até o fim dos
séculos, ou por outras palavra , " te munus, êste
ofício, que os discípulos r ccbcram, não devia aca-
bar com1 a morte dêles, 1nas d vin ser transmitido
aos seus sucessores.
Com ~feito Jc us diz: Foi~tn dado todo o po-
der no céu e nn t rrn. d<, loi ', instrui tôda.s as
gentes. . . ensinando·: n oh. ( 1 v r tudo o que vos
mandei. E eis qu n •s I Ol um os o todos os dias
até à consumação dos 'culos . (Mt. 28, 18 ).
Mas não sabia Nosso S nhor CJll os Apóstolos.
não poderiam ficar neste mundo té o fim dos sé-
culos, para ensinar a, tôdas 'aS' nt a sua doutri;
na·? Sem dúvida· o sabia.
Portanto, ~le aqui falou aos Apóstolos, como a
pessoas que deveriam te~ suces or s até o fim dos
séculos · no magistério de pregar Evangelho, de
ensinar ~ sua dou trina. ·
E os Apóstolos, fiéis executores do pensamento·
do divino Mestre, tinham cuidado de deixar quem
continuasse o seu magistério. Por isso S. Paulo es-
creve a 'Timóteo: «0 que de mim ouviste por mui-
tas testemunhas, ensina-o a homens fiéis, que se
tonrem idôneos para ensinar a outros». ,(ll Tiro ...
Cap. 2. v. 2.)

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EM DEFESA DA Fn

c) Dizemos, enfim, que êste magistério vivo.


é infa)ível, isto é,.· não pode ensinar ·ê rro algum s
bre a fé ou sôbre a- moral.
- Com efeito, consideremos as palavras evan-
gélicas:
.:Foi-me dado, diz Jesus, todo o poder no céu e
na terra. Ide, pois, instrui a tôdas as gentes. . . ensi-
nando-as a, observar tudo o que vos mandei. E eis que
eu estou convosco todos os dias até à consumação
dos séculos». (Mt. 28, 18 ).
Como vemos, Jesus aqui impõe aos Apóstolos e
aos seus· sucessores ensinar tudo o que rue ensinou e·
ensiná-lo até o fim dos séculos. E como esta fôra
uma empresa superior a ·simples fôrças human~,.
promete-lhes a: ·sua assis-tência onipotente.
Ora, será possível que um magistério, assistido
pela própria verdade que. é Cristo, possa errar? Não·
é possível.
Portanto, a Igreja, assistida por Cristo, é infa-
lível.
Jesus diz ainda: «Quem vos ouve., a mim me·
ouve; quem vos rejeita, a mim me rejeita e quem
me r jeita, rejeita Aqu·ele que me enviou». (Lc. 10,16)
Porventura, ouvir a Jesus, não é ouvir ensin~­
mentos infalíveis?
Ora rue afirma que aquele que ouve aos Após-
tolos e aos seus suooss-ores. isto é, à Igreja docente,.
o ouve a :rue mesmo.
Portanto quem ouve a Igreja, ouve ensinamen-
tos infalíveis.
-O mesmo repete Jesus naquela pa.ssagem que

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lemos em S. João (14, 16 e 26) «Eu rogarei ao Pai


-e itle vos dará outro Consolador, para que fique
·-eternamente convosco, o Espírito de verdade. • • rue
vos ensinará tôdas as coisas e vos recordará tudo
·'O que vos tenho dito».
Pois bem, é possível o êrro onde está o Espírito
-de verdade, que ensina, e recorda tudo o que Jesus
·tem ensinado? Impossível.
Ora Jesus afirma qu o ~ pirito da verdade fica-
cará eternamente com os Apóstolos c os seus suces-
·sores e ensinará e r co dará 'ludo o que ~le tem
~ensinado.
Portanto com o Apóstolos e com os seus suces-
,sores não pod lar o êrro, logo são infalíveis.
- Finahn nt , Jesus: diz: «Ide, pregai o Eva,n-
gelho por todo o mundo; quem crer, e foil' batizado,
·será salvo; quem não crer será condenado».
'(Me. 16, 15 ).
Ora, pergunto eu, será possível que Deus im-
ponha a · to~o o mundo acreditar tno êrro sob pena
·de condenação eterna? Não: isto repugnaria. à sua
justiça, à sua santidade, à sua veracidade.
Portanto, Jesus impondo ao mundo a obrigação
.'(}e acreditar no que ensina a, Igreja sob pena de con-
dena·ção eterna, ao mesmo tempo dava a esta mesma
Igreja a infalibilidade, afim de que nunca pudesse
erra,r.
- Tudo isto é confirmado pelo Apóstolo S.
Paulo quando chama a Igreja: «coluna e alicerce da
'Verdade». (I Tim. 3, 15 ).
E' claro, com efeito, que a Igreja não poderia.

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EM Dl!FES.A HA I _ _ _ _ _ _ _13.•

ser coluna e alicerce da verd· dt, se ensinasse o ên'o


e a superstição.
· Eis portanto, provada pcl Bíblia a primeira
parte da tese católica,.
--~~~}::· I Y,: •, t


Passemos a provar a segunda parte que sustenta
serem duas as fontes, onde a Igreja vai ·haurir üs
ensina:ri1entos de Jesus: a divina Escritura, e a Tra...
dição.
. A Divi:ool Escritura, é ·a palavra de Deus contida
nos livros por rue inspirados. Chama!-se também Bí-
blia: que significa: livr~ dos liVrOS, livro por exce-
lência.
A Tradição é também 3 palavra c1< D us que não
1

fo~ escrita, mas ensjnada de viv: oz po1~ J€sus


Cristo .e pelos Apóstolos. .
t. . •

. Existe esta .tradição, ou por unia· '~ palavras,


existem verdades reveladas que não • t ·ham con-
tida,s na Bíblia? E~istem. A própri n hlia o. decla-
ra. Eis, por. e~ellll!plo, como fala S. t• mJo na· sua 2~
epístola: aos Tess. 2, 4: «Estai firm<· • nt•tos, e con-
s~rvai as · tradições que aprendeste~ o11 cl< viva voz
ou .~r epísto~a nossa».
E :no cap. ill, ·6 acrescenta.: «N,, o prescre-
:vemos; ·em nome de N. S. Jesus ( ·•·• lo, que vos
aparteis: de todos os irmãos que and '"' cl(•sordenada..
mente e · não segundo a tradição CJIH receberam
de DÓS».•

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FREI DAMIÃO DE BOZZANO

E na sua 24 epístola a Tim. escreve: ~o que de


mim ouvis tes por muita.s restemunhas, ensina-o a
bomens fiéis, que se to~em idôneos para ensinar
a: outros~.
E no capítulo I vers. 13 exorta ao mesmo Timó-
teo:
«Toma por modêlo as santas palavras que me
tens ouvido na fé'>.
E na l.~to epístola aos Cor. 11, 2, eongra,tula-se
-com os fiéis, porque haviam o ervado as suas ins-
truções: «Eu vos louvo, irm~oR, porque em tudo vos
lembrais de mim e gu. rd i minhas instruções,
como eu vo-las n ine·». n qt ·nstruções fala aqui
o Apóstolo? Sem dúvidt f la d instruções dadas de
viva voz, já que era esta a p i1n ira epístola que lhes
·enviava.
Como S. Paulo, assim também fala S. João,
qu-ando diz no seu Evangelho: «Muitas outras coi-
sa,s há que fêz Jesus, s·e elas fôssem1escritas uma po:r
uma, suponho que nem no mundo inteiro caberiam os
livros que se escrevessem». ( Jo. 21, 25) e quando,
c<?ncluindo as suas últimas epístolas, diz claramente
que não quis confiar tudo à tinta e ao papel, deixaR-
do para fa,zê-lo de viva voz.
Os citados textos e outros, que podería,mos ale-
gar nos demonstram que nem tudo o que ensinaram
Jesus e os discípulos, foi escrito: há verdades que
ensinaram de viva voz; e por isso mesmo a tradiçã
existe.
Com razão;, pois, a Igreja vai haurir ·o s ensina._
mentos de Jesus na Divina Escritura e na Tradição.

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REGRA DE FE' PROTESTANTE

RA DE FE': meio estabelecido por Nosso


Senhor, para dar a conhecer ao mundo a sua
I c u trina.
No capítulo precedente de:rnonstra,mos qu·e êste
ndo é um magistério vivo, autêntico, infalível, isto
' I a-eja: Docente; e demonstramos também que as
ont , onde essa Igreja vai haurir os ensinamentos
dt. Cristo, são a Divina EscritUra e a Tradição.
Os protesta,ntes, porém, não concordam conos-
'o; se undo êles a única ·regra de fé é a Bíblia, tal
«ltm l é compreendida por cada indivíduo, seja igne-
t( ou sábio.

Portanto lll'ão há Tradição, isto é, verdades de fé


c n. in ul• · somente de viva voz; tudo o que Nosso
, ·ulm · nsinou, se acha na Bíblia. Nem há um ma-
• lt' ••o vivo, infalível, que tenha direito de interpre-
l u a Híhlin e de impor 30S outros a sua: interpreta-
c u : " uJ • qual pode interpretá-la como entender.

Va nos r futar esta doutrina.


O prot s tantes dizem, em primeiro luga,r, que

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16 FREI DAMIÃO DB BOZZANO

o meio, pelo qual podemos conh·e cer a doutrina de


Nosso S€nhor é tão sàmente a Bíblia.
Respondo:
- Se assim fôsse, dever-se-ia encontrar na Bí-
blia esta verdade, visto como seria de suma impor-
tância conhecê-la.
Ora., pelo contrário, ninguém até hoje a encon-
trou nem jamais a encontrará, porque na Bíblia não
figura.
E', pois, esta uma afinnação gratúita dos pro-
testantes.
- Se Nosso Setlhor pretendesse nos deixar a
Bíblia como Regra, de fé, is1o é, como meio para
conhecermos a sua doutrina, deveria ter dito a.os
Apóstolos: .
Ide, escrevei Bíblias para tôdas as nações; pelo
contrário disse: Ide, por todo o mundo, pregai o
Evangelho a tôda criatura,~. (Me. 16, 15 ).
Não foi, pois, sua intenção deixar-nos a Bíblia
como Regra de fé.
E confirmou-'0 também com o exemplo.
Com efeito, quando Saulo na estrada de Damas-
co, lhe perguntou: -Senhor, que queres Tu que eu
faça? - ~le não respondeu: «Lê a Bíblia» e sim:
- «Levanta-te, entra na cidade e aí te será dito
o que deves fazer». (Atos, 9, 7 ).
- S. Paulo falava da mesm'aJ forma na sua
epístola aos roma,nos. ( cap. 10, 14 ).
Sem fé, diz êle, é impos'Sível agradar a. Deus:..
Mas qual o meio para chegar à fé?
A Bíblia? Não. E' a pregação dos que foram

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EM DEFESA DA Fa 17

t•nvindos a pregar. E conclue: «Logo a fé pelo ouvi-


do, , o ouvido pela, palavra de Cr~to».
- De resto a própria razão nos diz que Jesus
não podia deixar-nos a Bíblia como única Regra
de fé.
De f a to, :f:le quer que todos os homens conhe-
çam e professem a sua doutrina. Mas se para isso,
fôsse necessária a leitura, da Bíblia, como poderiam
então os arialfa,betos e os que não podem comprar
uma Bíblia, conhecer e professar a doutrina de Jesus
Cristo?
Todos êstes (e são a maior parte do gênero
humano) não poderiam ser cristãos.
Não digam os protestantes, que é basta.nte para
os analfabetos que seus pastores lhes leiam e lhes
expliquem a Bíblia. Essas explicações, segundo a
doutrina dos protestantes não passam de opiniões
individuais, que não têm autorida,de alguma e va-
riani segundo o capricho de cada um. Não são a pa-
lavra de Deus, e sim a palavra de Fulano, de Beltra-
no, de Sicrano.
Por isso, repito-o, se fôsse verdade, ' como di-
zem os protestantes, que o único meio, pa,ra chegar-
mos à fé, é a leitura da Bíblia, os analfabetos nun-
ca poderiam ser cristãos.
Será possível que Jesus tenha estabelecido êst-e
meio para nos dar a conhecer a sua, doutrina?
Além disso, se a Bíblia fôsse a única Regra de
fé, como poderíamos conhecer com certeza qual é o
verdadeiro sentido dos passos difíceis?
:Z - EM DEFESA •••

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18 FREI DAMIÃO DE BOZZANO

Por exemplo: quanto às pala,vras, com que Jesus


instituiu a SS. Eucaristia, a Ig11eja Católica dá um:a
explicação, e as s·e itas protestantes dão, pelo menos,
duzentas, cada uma sustentando que a, sua é a ver-
dadeira.
Agora quem é que tem razão? Pela Bíblia é
impossível resolver a questão, pois a Bíblia é muda
(' n ninguém diz: Tu enxergas o verdadeiro sentido
clt• nainhns pa,lavras e todos os outros: estão no êrro.
Pm·tnnto, 'Se a Bíblia fôsse a única regra de fé,
li 111 P<Hkl'iamos conhecer com certeza o verdadeiro
•r li ido dos passos difíceis da mesma.
Mns Jesus quer que conheçamos com certeza 'tô-
d:~ M ttn doutrina, tôda.s as verdades que :ttle ensinou,
lnnlo ns fáceis, como as difíceis.
I •:' impossível, pois, que nos tenha deixado a
Bihlía como única Régra de fé.

Em segl,lndo lugar dizem os protestantes que


nfio existe a tradição: 'tôdas as verdades revela,da'~
l'l(1 ncham na Bíblia.

Mas quais são as razões que alegam para provar


( 'HS:l H,sserção? Ouçamo-las e vejamos quanto valem.
S. Paulo na sua 2."' Epístola 'a, Timóteo ( 3, 15)
•liz qu' «tôdas as Esqrituras são úteis e que elas po-
cl< •tn ins·l ruir para, a ~vação».
Uesp. - Se o referido texto dissesse, que a Es-
•·r·ihtrll sô, torna o homem instruido em tôdas a,s
c•ui 11 ru•t•<•ssárias para a salvação, então sim, a ob-

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EM DEFESA DA Fn 19

]eçao seria irrefutável; mas dizendo 'simplesmente:


«Tôdas as Escrituras são úteis e podem instruir
para a sa~vação» não exclue que a Tradição o seja da
mesma forma.
Ma'S replicam,- é certo que Jesus em 'Me. cap.
7, 15 e Mt. cap. 15, 9 rejeita a tradição, dizendo:
«E vós também, porque transgredis o mandamen-
to de Deus pela vossa tradição».
«Em vão, pois, me honra,m, ensinando doutri-
nas e mandamentos que vêm dos homens».
Os referidos textos nada provam contra a tradi-
ção: pois Jesus rejeita as doutrinas e os mandamen-
tos que vêm dos homens, que são feitos pelos hO-
mens, sem que tivessem autoridade para fazê-los.
Ora,, pelo contrário, a tradição para a qual apel!ll
a Igreja Católica e que ela: reconhece como segunda
fonte de verdade revelada, não contêm doutrinas e
mandamentos que vêm dos h01mens, mas do pró-
prio Deus; pois a tradição no sentido católico é:
Certas verda,des reveladas que Jesus Cristo e os Após-
tolos ensinaram de viva voz e não por escrito e que,
por isso mesmo, não' se acham na Bíblia.
Map insistem os protestantes: Não' escreveu Moi-
sés ( Pen. 4, 2): «Não acresc€1Iltareis nada ao que vos
digo»? - Não escreveu S. João no Apocalipse (22
18) «Se qualquer acrescentar a~guma palavra a estas
coisas, que Deus faça cair sôbre êle os flagelos des-
critos neste livro?» Não escreveu S. Paulo ( Gal. 1,8 )~
«Mas ainda que nós mesmos ou um anjo do céu v08
anuncie um Evangelho diferente do que vos anuncia-
mos, seja a,nátema»?

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20 , F~l DAMIÃO DE BOZZANO

Resp. - Sim, escreveram tudo isto. &ses tex-


tos, porém nada provam contra a tradição: afirmam
somente que a divina Escritura não deve ser a.dul-
terada:.
Como estas, assim tamb-ém são as outras razões
que os protes tan.tes alegam contra a tradição, ra-
zões que nada, valem em si mesmas; e por isso bem
podemos dizer que é outra afirmação gratúita dos
protestantes o não existir a tradição.
Afirmação gra túita? Não só. Mas também afir-
mação contrária à realidade.
Com efeito, se fôss vcrdn,de que tudo o 'que en-
sinaram Jesus e os Ap6 tolo' ncha na Bíblia e que,
consequentemente, não is L lrndi 7 o, na Bíblia de--
veríamos encontrar quantos qn i ão os Livros ms-
pirados, pois são ambas verdad r veladas.
Ma,s onde se encontram?
Já dirigi esta pergunta a um p tor protestante
e como resposta alegou êle o t xto: «Tôda a Escrfu...
tura divinamente inspirada é útil para ensinar, para
repreender, ·para, corrigir, para formar na justiça:»
(ll Tim. 3, 16).
Ora cada qual pode ver qu o texto acima não
vem ao caso. Se S. Paulo tivesse dito: «Tôda Escri-
tura que se compõe de tais e tantos livros, etc.» en-
tão sim, poderíamos por "sscs textos conhecer quais
e quantos são os livros, qu compõem a Bíblia,. Mas
tendo dito simplesmente: «Tôda a Escritura divina-
mente inspirada é úÜI, etc.» é necessário procura:r
em outra parte quais e quantos são os livros inspi-
rados. Onde? Na Bíblia? Não, na Bíblia não figuram

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EM DEFESA DA FB 21

estas duas verdades. Devemos procurá-las na tradi-


ção; 'SÓ ela diz quais e quantos são os livros inspira-
dos; e portanto, existem verdades· reveladas, que não
se acham na Bíblia, que é como dizer: A trailição
existe.
Poderíamos também acrescentar que a afirmação
dos protestantes, além de ser gratúita e contrária
à realidade, é também contrária aos ensinamentos
claros da Bíblia, visto que a Bíblia fala em _tra,dição.
Dispenso-me, porém, de alegar textos, como pro-
va disto, tendo-os alegado na exposição da tese ca·
tólica.

Por fim dizem os protestantes que cada quaJ


tem o direito de interpretar a Bíblia conforme en-
tender.
Mas também isto como podem demonstrá-lo?
Sei que alegam as palavras que lemos no cap.
5, 39 de S. João: «Examina,i as Escrituras, pois jul-
gais ter nelas a salvação ... :.
Note-se, porém, que as alegam adulteradas, vis-
to que Jesus não diz: «Examinai as Escritura.s·. ~-- :.
e sim: «Vós examinais as Escrituras ... » Portanto
e~tas pa~avras não cotêm uma ordem, como querem os
os protestantes, mas apenas indicam, enunciam um
fa,to. Os hebreus não queriam conhecê-Lo como o
enviado de Deus; então Jesus, para lhes mostrar que
era verdadeiramente o Messias, apela para o testemu-
nho do Pai, para o testemunho de S. João Batist~

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22 FREI DAMIÃO DE BOZZANO

para o testemunho da,s obras que cumpriu e, por fim


eom um argumento ad homin(lm, diz: «Vós exami-
nais as Escrituras, julgando ter nelas a salvação, pois
bem, são elas que dão testemunho de mim».
Qualquer pessoa pode reconhecer que Jesus aqui
a. ninguém impõe um preceito de ler as Escritura.s
e de interpretá-las como entender.
Bem longe de dar êste direito, reprova-o pela
boca de S. Pedro.
De fato São Pedro (II epis. 1, 19) depois de ter
recomendado. . . e tc., a leitura e a medita,ção da Sa-
grada Escritura, acrescenta. logo que ninguém deve
ter a pretenção de a interpretar por autoridade pró-
pria. Tendo a Deus por autor, só Deus pode expli-
• 'OP!lTI;}S 0.11;}p'cp.I;}A U;}S O .Itr.>
De que maneira o explica? Por meio de sua Igre-
ja, como provamos na. tese católica.
O que é confirmado ·também pelo exemplo que
lemos nos Atos dos Apóstolos ( cap. 15 ). Os judeus
e os habitantes de Antioquia, fiando-se na sua pró-
pria razão, julgaram a circuncisão necessária. Saulo
~ Barna,bé pensavam de outro modo.
Apelaram para o livre exame, ou para o Bíblia
interpretada por particulares? Não. Enviaram uma
deputação, COliDI Saulo e Ba;rnabé, para consultar os
pastores da Igreja de Jerusalém, e êstes decidiram a
questão sob a inspiração do Espírito Santo.
- Mas não é preciso acrescentar argumentos,
para provar que os protesta,ntes não têm razão em
sustentar que cada qual tem o direito de explicar a

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EM DEFESA DA Fn 11

Bíblia como entender: o próprio bom senso rcp •le


êste absurdo.
Explicar-me-ei com uma eomparação:
O Brasil tem o seu código de leis. Todos podem
ler êste código.
Mas quem é que o pode interpretar a,utentica-
mente?
Por exemplo: nasce uma questão entre Fulano e
Sicrano. Fulano exige para si uma herança, interpre-
tando -dUJma forma a lei do código civil; Sicrano tam-
bém exige pa;ra si a mesma herança, interpretan-
do de outra forma .a mesma lei.
Agora quem é que pode resolver a questão e
dizer:
A lei deve s~r interpretada a.s sim e assim; por-
tanto a herança pertence a Fulano e não a Sicrano?
E' uma, pessoa qualquer ou é um Tribunal, uma
autoridade legitimamente constituída? Até um me-
nino me, responderia que é um Tribunal, visto que
a razão demonstra claramente 'que, se um legislador
deixasse as suas leis à livre interpretação de 1odos
os cidadãos, poria a, desordem e a: confusão no seu
país.
Pois_bem: a Bíblia é o código de Deus. Teria
rue deixado êste código à livre interpretação de
todos? Nesse caso :s eria menos os·ábio do que qual-
quer legislador humano. Sendo, pelo contrário, in-
finitamente mais sábio do que todos os legislado-
res, ·a própria razão nos diz que é impossível que
tenha deixado a Bíblia à livre interpretação de
todos.

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24 FREI DAMIÃO DE BOZZANO

- Para melhor compreensão disto, veja-sé a


que tristes consequências já tem levado no passado
e ainda pode levar no futuro ai livre interpretação
da Bíblia. I

Os anabatistas: de Munste.r, e depois dêles mui-


tos outros, das palavras do Senhor: «Crescei e mul-
tiplicai-vos» tiraram como conclusão necessária 3.
legitimidade da policramia. Foi bas·eado, não sei em
que passagem do Ev·1n lho, que Lutero permitiu
a Filipe d Hes n t r dn mulheres ao mesmo tem-
po. João de L yd d(~scohriu, lendo a Bíblia,, que de-
via despo r 1 Z<' nmiJ 'rc s ao m smo tempo. Her-
mann ali (l s ·ohl'in <JlH' f>J ra o Messias enviado
por Deus. Ni ·ol111, qn tud qne t m relação com
~ fé é desnco ssúr·i<) < qu 5 d viver em pecado
afmi de qu · •t traca . UJH .I't hund : Sympson, que
se deve andar rnú ptl: H nms p, rn convencer aos ri-
cos que ·devem r d Hpojn,d s de tudo.
E, para diz rn os tudo numa palavra, não há
crime abo in,. ão qne n~ o tenha encontrado sua
pretendida ju tifi n f o <tn qualquer texto da Bíblia
interpretado pelo pirito privado, fóra da autorida-
de tutelar da Igr ja tólica,.
Façan'los aqui ponto e seja esta a nossa con-
clusão: A única regr de fé ~ão é a Bíblia, inter-
pretada, como cada qual entender. A ·única regra de
fé é o magistério da Igreja; e as fontes, onde ela· vai
haurir os ensinamentos de Jesus, são a Bíblia e a
Tra~ição.
Felizes ~ que seguem esta Doutrina.

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I I I

A VERDADEmA IGREJA

Á.VIMOS que, pa;ra conhecer a doutrina de Jesus


Cristo, devemos ouvir a sua Igreja, e não sim-
plesmente folhear a Bíblia, interpretando-a livremen-
te, como pretendem os protestantes.
Mas quaJ a verdadeira Igreja fundada por Nossa
I

Senhor?
A nossa, isto é, a Igreja governada por Pedro
sempre vivente nos seus legítimos sucessores, que
são os Papas.
Para que apareça claramente esta verdade., é ne-
cessário provar três pontos:
.I - Que Jesus Cristo fundou a. sua Igreja e en-
tregou o seu govêrno a Pedro.
li - Que foi vontade de Jesus que Pedro trans-
mitisse o govêrno da Igreja aos seus sucessores.
ID- Que os suéessores de Pedro são os Papas
Nesse capítulo vou demonstrar o primeiro ponto,
cujas provas são claras no Evangelho, a não ser que
alguém queira por si esmo enga,nar-se.
a) A primeira !Il<>S é oferecida pelas palavras· que
N. Senhor dirigiu a S. Pedro após ter êle confessado
a sua divindade.

/.
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FREI DAMIÃO DE BOZZANO

.:Tu és Pedro e sôbre esta pedra edificarei a, mi-


nha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão
contra ela». (M1. 16, 18 ).
Observai:
:rue compara a sua Igreja, isto é, a sociedade
cristã, a, um edifício e diz que o fundamento, a pedra
sôbre a qual construirá êste edifíci(), será Pedro.
Ora o qu é o fundamento duma sociedade, ou,
por outras pala,vras, o qu é qu sustenta, conserva
e rege uma soei dade, im com fundamento con-
serva, sustenta e rege um difí io?
E' o poder, a autoridad uprema.
Tirai, por exemplo, o p d r · n tr I que nos re-
ge, e esta sociedade política, qu hama. Brasil,
se desmorona, acaba-se.
Até mesmo uma família, qu ' uma sociedade
tão pequena, exige um chefe qu gov rn ; se numa
família o .p ai quiser uma, coisa, a mã outra, e os
filhos se negarem a obedecer, aqu la f .milia se tor-
nará uma verdadeira babel.
E', pois, certo que o fundam n t de uma socie-
dade é o poder, a autorida,de supr ma.
Portanto, dizendo Jesus a P dro que o consti
·tuiria pedra fundamental da sua Igr ja, outra coi-
sa não lhe quís dizer senão qu Ih cn tregaria a auto-
ridade suprem~ nesta mesma Igr ja.
Mas, dizem os protestantes, a pedra sôbre a
qual foi edificada a Igreja, é o próprio Jesus Cristo
Ninguém jamais o contestou, visto que a pró-
pria Bíblia Q afinna clara;mente.

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EM DEFESA DA F:a 27

Mas não é êste o ponto da controvérsia.


Trata-se de conhecer se também Simão Pedro,
por vontade de Jesus Cristo, é pedra fundamental
da sua Igreja.
Ora, o texto eva,ngélico não deixa dúvida algu-
ma a respeito, porque, note-se bem, J•e sus falou a
Pedro em aramaico e as palavras que lhe dirigiu,
traduzidas ao pé da letra, diriam: Tu és um rochedo
e sôbre êste rochedo edificarei a, minha Igreja.
Palavras estas que nos fazem compreender ela ·
ramente que o rochedo, sôbre o qual quís Jesus edi-
ficar a sua I~eja, é o próprio Pedro.
Para melhor compreensão disto, vou alegar a
compara,ção de um autor moderno:
- Eu digo: O Corcovado é um rochedo e sô-
bre êste rochedo foi levantado um' monumento a
Cristo Redentor. - Como se entende esta proposi-
ção? Acaso o rochedo sôbre o qual foi levantado um
monumento a Cristo Redentor, não é o próprio Cor-
covado?
Pois bem, o texto evangélico é do mesmo feitio:
Jesus disse a São Pedro: Tu és um rochedo, e sôbre
êste rochedo edificarei a minha Igreja.
Não há, pois dúvida a)guma: o rochedo aqui é
Pedro.
E se Pedro é o rochedo da Igreja, repito-o, ne-
la tem o poder supremo, visto que o poder é o fun-
damento, o rochedo que sustenta e conserva a so-
ciedade.
Nem se diga que neste caso há contradição na
Sagrada Escritura, afirmando em outro luga,r qu

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EM DEFESA DA ~ 29

a pedra fundamental da Igreja é Jesus Cristo, pois


não é no mesmo sentido que isto se diz de J-esus e de
Pedro. Jesus é pedra fundamental por essência. Si-
mão Pedro por participação; Jesus, pedra invisível,
Simão, pedra, visível.
h) E tanto é êste o sentido ·do Salvador, que rue
mesmo o exprime por outros termos não menos -
significativos:
«Dar-te-ei, diz rue ainda a S. Pedro, as chaves
do reino dos céus».
Jesus chama frequentemente a sua Igreja - rei-
no dos céus - porque fundou esta sociedade para
conduzir os homens a.o reino dos céus, e afirma aqui
que entregará as chaves dêste reino a Pedro.
Com isto que quer significar?
Quer significar que lhe entregará o govêrno
dêste reino.
De fato, quem recebe chaves, fica encarregado-
da inspeção, cuidado e govêrno das coisas que elas
guardam. Se eu, · por exemplo, querendo sa,ir para\
longe, entrego as chaves de minha casa a um amigo,
por êste mesmo ato o encarrego do cuidado e govêr-
:ao da mesma.
Ora, Jesus afirma, que entregará a: Pedro as·
ehaves do reino dos céus, isto é, da sua Igreja. Logo
afirma que lhe entregará o cuidado, o govêrno des-
sa Igreja.
c) E como para dissipar 'tôda a dúvida, expli-
cando ainda melhor o seu pensamento, Jesus acres-
oenta: Tudo o que ligares na terra, será ligado tam--

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30 FREI DAMIÃO DE BOZZANO

bém no céu, e tudo o que desligares na terra, será


desligado também no céu.
Ter poder de liga,r e desligar num~r sociedade,
significa ter nela o poder de fazer leis; pois tôda
lei impõe uma obrigação e tôda obrigação é um
liame da consciência.
Jesus prometendo, portanto, Pedro o poder de
liga,r e desligar na ua Igr ja, Ih pr01neteu o poder
de nela faz r l i .
M s notai: <' iro pod fazer lôch s a leis que
quiser, 1 qu< s< ja possív< 1 qnc < u lr poder huma-
no as anui , isto qu•t s<n o t'alificad s no éu: «Tu-
do o qu li nres nu I< rrn, .,< rú tnmhém no céu».
Ora, p 1 gunlo u c tt<'Hl {· CfH<' nwna, sociedade .
pode assiln f z r leis, senão qm rn I m n autoridade
suprema?
Logo Pedro tem c ta ~1ulo iclnch n. Igreja de
Cristo.
Mas, dirá alguéu:n, não d n Nosso Senhor êste
mesmo poder de ligar e d lign r· : I >do · Apóstolos?
(Mt. 18, 18-).
Sim, é preciso porén), nolnr que a nenhum
dos dema,.is Apóstolos rli s .J< sn. 1n singular: «Tudo
o que ligares na terra, f!cr 1\ li nd também no céu»,
mas dirigiu estas pai vrns a todos êles juntamente
com Pedro, que já tinhn designado como chefe.
Com êle podem, portnn lo, ligar e desligar na
Igreja, mas não o pod m ~1 , independentemente .
dêle.

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EM DEFESA DA Fe

Nosso Senhor, depois de ter prometido C< r


a autoridade suprema na Igreja, lh'a entrega, dizen-
do-lhe:
<<Apascenta os meus cordeiros, apascenta as mi-
nhas ovelhas». ( Jo. 21, 16 ).
- Os .c ordeiros, como explicam os sagra,dos in-
térpretes, são os simples fiéis; as ovelhas, os sa-
cerdotes, pois .assim como as ovelhas dão a vida
aos cordeiros, do mesmo modo os sacerdotes dão a
vida espiritual aos fiéis por meio dos Sacramentos e
da prega,ção do Evangelho.
Portanto, como vêdes, Pedro recebe o encargo
de apascenta,r todo o rebanho de Cdsto, tanto ~s
cordeiros, como as ovelhas, isto é, tanto os simples
fiéis, como os próprios sacerdotes.
Pois bem apascentar um rebanho, não é por-
ventura, o m·e smo que o dirigir, conduzir e governar?
ogo, recebendo Pedro o ·encargo de apascentar
todo o rebanho de Cristo, recebe o encargo de diri-
,· 1 , conduzi-lo e governá-lo; e, por conseguinte, é
o pr-íncipe, o soberanQ, o chefe supremo dês't·e rebanho.
I or estas palavras, dizem os protestantes, Jesus
qui: •tp nas restituir a Pedro o privilégio de apósto-
lo qu tinha perdido pela sua tríplioe negação na
ca ·a de Gaifás.
Resp. - Onde se encontra que Pedro, negando a
Jesus, p rdeu .o privilégio de apóstolo? No Evange-
lho não figura.
Todavia, 1nesmo admitindo esta suposição gra-
túita dos protestantes, respondemós que Pedro já

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EM DEFESA DA Fa

tinha sido reintegrado no apostolado anl


besse o encargo de apascentar o reba,nho 1
visto que a êle tamb~m no dia da ressurreição, No so
Senhor dirigiu estas palavras: «Como o Pai me en-
viou a mim, assim eu também vos envio a vós».
( Jo. 20, 21 ).
- Mas, afinal, insistem ajn.da os protestantes,
quando Nosso Senhor disse a S. Pedro: «Apascenta
os meus cordeiros, apas·c enta as minhas ovelhas»,
quis lhe dizer: apascenta o meu reba:nho, ensinando-
lhe a minha. doutrina.
Resp. - No texto original grego, além da pala-
vra «hoske» que significa: apascenta, alimenta; há
·também «Poimare tá prôbalta mou» que em nossa;
'língua se tra.duz: apascenta com império as minhas
ovelhas.
Não há, pois, dúvida alguma: por estas pala-
vras Nosso Senhor entregou todo o rebanho a Pedro
e, por conseguinte, o constituiu seu chefe supremo.
E Pedro cônscio da sua autoridade, agiu como
chefe supremo da Igreja:
- No oonáculo é êle quem ordena preencher
com a eleição de Ma tias a vaga aberta no Colégio dos
Apóstolos pela traição de Judas. ( Act. 1, 13 ).
- No dia de Pentecostes é êle quem fala ao
público e promulga a lei da graça. (Act. 2, 14).
- No Sinédrio é êle quem defende o Colégio
apostólico pera.nte os príncipes dos sacerdotes.
( Act. 5, 29 ).
- ~le é o primeiro a perco;rrer e visitar as igre-
jas perseguidas. ( Act. 9, 25); a ensinar ·a admissão
3 - EM DEFESA •••

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34 FR.El DAMIÃO DE BOZZANO

dos pagãos no batismo (Act. 10, 11 ); a infligir cas-


tigos, fermdo de morte Ananias e Safira e excomun-
gando Simão, o mágico (Act. 5, 1-.8, 20).
E no Concilio de Jerusalém, celeb~ado pelos
Apóstolos, quem o preside e põe tenno às discussões,
definindo a doutrina que se deve seguir? E' Pedro.
~le fala e a sua decisão é acolhida com religioso
silêncio.
O próprio Tiago, que era bispÓ de Jerusalém,
onde se 'a chavam reunidos os Apóstolos·, não se le-
vanta . não para, repetir a decisão de Pedro e aquies-
cer à m s1n . (Act. 15, 7 ).

Algum obj çõ 'S. A peso r· d tantas provas


em favor de r o d r·o, nind \ hú qn m1 qu ira sus-
tentar que "lc 1 io foi c~o 1. liluid ·h ~ supremo da
Igreja.
Eis 'til~n1, s 1: zõ<'~ Cf \I n,l g n1:
Nos Ato <los p6. tol (8, 14) lemos que os
Apóstolos, qu tnvnm ( 1 1 .To ts lém, tendo ouvido
que a Samaria linh rc•c hid palavra de Deus, en-
viaram para lá 1 c<lr·< r .J oii .
Ora, se envia on1 .nl um subalte1~no, não um
superior.
Resp. - E' f I . 11' dois modos de enviar: um
por mandato, outro 1 r conselho. Os filhos não en-
viam frequentement os pais? O exército não envia
o general? Pedro foi enviado por conselho, não por
mandato.

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- - - - ------..:.'M DEFESA DA Fn

- São Paulo, 1elo menos, não · onlu c•t 1


São Pedro como h f e supremo da I · j ,, por qu
o reprendeu públic mente em Antioquia (hp. 10
Gálata.s, 2, 4).
Resp. - Também um inferior em circun l· 1
cias graves, pode e até deve corrig~ respeitosam -
te ao seu superior.
São Pedro, tendo chegado em Antioquia judeus
convertidos, por temor de escandalizá-los, pouco a
pouco se foi subtraindo das refeições dos gentios e
começou a adaptar-s·e por prudência às prescrições da_
lei mosáica. A sua conduta fez com que outros judeUB,
que já tinham abandonado os seus ritos, os reto-
massem, lançando, desta maneira, confusão na: igre-
ja. de Antioquia, onde os judaizantes pretendiam que
não se pudesse ser perfeito cristão, senão observando
lei mosáica.
Por êsse motivo, São Paulo, embora inferior,
r preendeu a São Pedro.
- De resto, que São Paulo reconhecesse o pri-
t 1ado de S~o Pedro, dão prova: as suas epístolas. Ci-
lt r i uma.
Nt Epístola aos Gálatas, entre os quais alguém
lhe eont tava a autoridade de Apóstolo, Paulo, para
dt I n<l r· seu direito, apeia· para a autorida,de de
in I dr· friza que, saido de Damasco depois de
.. 11 <·nnv< t· ã , passados três anos, foi a Jerusalém
mrn ('r a dro e ficou com êle quinze dia,s. E não
viu ' n nhu outro dos apóstolos senão Tia o
(Gnl. 1, 1R).
P r· qn friza· o apóstolo êste fato?

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36 FREI DAMIÃO DE BOZZANO

Porque tem importância ter êle ido visitar a


Pedro numa cidade .cujo bispo era Tiago? Sem dúvi-
da, porque Pedro' era superior a, Tiago e a Paulo;
era, isto é, o chefe da Cristandade.
Por tudo o que acabam s de dizer, fica pois, pro-
vado que Jesus, fundando a u Igreja, lhe deu um
chefe supremo na pessoa de Pedro.
Querer negar esta verd ,d , significaria zombar
das divinas Escrituras qu c nsinam claramente.

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IV

PERPETUIDADE DO PRIMADO

IMOS que Jesus, fundando a sua Igreja, lhe


V deu um chefe supremo oo pessoa de Pedro, or-
denando-lhe que a governasse. Agora se pergunta,:
êste poder supremo que Pedro recebeu para governar
a Igreja de Cristo, devia expirar com a sua morte,
ou o recebeu para transmiti-lo aos seus sucessores?
O Evangelho e a. própria razão nos respondem
que o recebeu para transmiti-lo.
Eis as provas:
A Igreja, segundo o Evangelho, é um edifício,
que há de durar até o fim dos séculos. Ora, P~dro é
o fundamento de tal edifício.
Logo, êle também há de durár até o fim dos sé-
culos, visto como um edifício não se pode con-
servar de pé sem fundamento. Mas, não sa,bia Jesus
que Pedro não poderia· ficar neste mundo até o fim
dos séculos, para ser o fundamento da sua Igreja?
Sem dúvida o sabia. Portanto, ~le falou aqui a Pe-
dro, como a, Pessoa que deveria ter sucessore~ até
o fim dos séculos no ministério de governar a Igre-
ja, afim de que fôsse sempre verdade que Êle, Pe-
dro, é o fundamento da Igreja de Cristo.

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38 PRE.l DAMIÃO DE BOZZANO

- N:0sso Senhor disse ainda a Pedro: «Apas-


, centa os meus cordeiros, apascenta as minhas ove-
lhas» ( J o. 21, 15) entrega,ndo-lhe, desta maneira, to-
do o seu rebanho, para que o governasse. Por quanto
tempo? Jesus não p~ limitação alguma. Por isso
Pedro deve governar êsse rebanho enquanto existir,
isto é, até o fim dos séculos. E' preciso, pois que
tenha sucessores, afim de que, por meio dêles, possa
governar, até o fim dos séculos, o rebanho de Jesus.
- De resto ~ própria razão nos diz que Pedro
recebeu o govêrno supr mo da Igreja, para trans-
miti-lo aos seus su~ssores.
Com efeito, tôda sociedade exige um1chefe que
a dirija e governe, tanto é verdade isto, que, quan-
do num país não há .mai quem mande, temos a de-
sordem, a revolução, a morte. Ora, Jesus Cristo fun-
dou a sua Igreja, como uma grande sociedade. E'
possível que não lhe deixasse um chefe upremo que
a dirigisse e governasse? Nesse caso cumpriria dizer
que 1tle não proviu suficientemente a sua Igreja.
Mas isto não pode ser. E' cla.ro, portanto, que Pedro
recebeu o govêrno supremo da Igreja para transmiti-
lo aos seus sucessores, que devem durar, enquanto
dura a Igreja, isto é, sempre, até o fim dos séculos.

, ) <•
Quem são os sucessores ~e São P~dro?

A história de todos os tempos- do cristianismo


nos r~sponde que são os Papas. Ist0 é tão ~vidente

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EM DEFESA DA Fa

que não seria. preciso prová-lo. Todavia, se algn t 1

ousasse pô-lo em dúvida, atenda às provas.


Lendo a história da Igreja, dois fatos incontes-
táveis se deparam aos nossos olhos: O primeiro é
que os Papas, desde o tempo dos Apóstolos, governa-
ram ·tôda ·a Igreja, de Cristo, apelando ·para a sua
autoridade de sucessores de São Pedro, o segundo
é que tôda a Igrejá reconheceu ·ê ste govêrno e a
. êle se sujeitou ~em um brad<> de protesto. Cóm éfei-
to observai:
. . __:_ 30 anos depois da morte <~:e São Pedro, o
Papa Clemente escreve aos Coríntios uma carta, con-
denando os abusos entre êles existentes e declarando
que aquêle, que não lhe obedecesse, pecava grave-
mente; e os Coríntios não somente aceitaram a car-
ta, mas por muito tempo a leram nas suas reuniões.
- No segundo século nasce no Oriente a dis-
cussão sôbre a celebração da, Páscoa: para alguns
a páscoa era o 'a niversário da morte de Cristo, para
outros, o aniversário da sua ressurreição. E S. Vitor
papa põe termo à discussão, obrigando todos a se-
guirem o costume de Roma, s<>b pena de serem ex-
comungados. E' verda,de que alguns bispos se quei-
xaram desta n1edida enérgica usada contra as igre-
jas asiáticas, mas ninguém sonhou em dizer ao Pa-
pa: «Usurpas um poder que não tens sôbre tôda a
Igreja».
- No começo do 111 século S. Calix to condena
os Montanistas, que negavam à Igreja o poder de
perdoa,r certns pecados.
No mesmo século na Ásia e na ·Á frica se discute

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EM DEFESA DA F!t ...
sôbre a validade do ba tiSliDO conferido p lo h r j 'H;
e o Papa Sto. Estevão resolve a controvérsia, d i-
dindo pelo valor daquele batismo; e a sua definição
é aceita, mesmo por aqueles que tinham defendido a
sentença oposta.
- No século IV Júlio I decreta que nada se
defina nos Concílios orientais sem o consentimento
do Bispo de Roma. (Sócrates, hist. ecl. 2, 8-15 ).
-No século V abre-se o Concílio de Éfeso, e Fe-
lipe, legado do Papa, assim fala diante de todos os
bispos reunidos: «. . . Celestino, sucessor e substituto
legítimo de São Pedro, nosso sa,nto e bem-aventurado
papa, a êste Concilio ine envia con1o seu represen-
tante».
- No século VI o papa Sto. Hormisdas impõe
aos bispos do Oriente a subscrição de uma fórmula
de fé. Neste docu1nento se afirma que na Séde ro-
m ana, errn virtude d~ promessa do Salvador: Tu és
Pedro etc .... , sempre s:e conserva imaculada a fé
católica. E os bispos, em número de 2500, a subscre-
vem. E' pois, claro que os papas sempre exerceram
a sua autoridade suprema em tôdf\ a Igreja de Cri·sto.
E se a Igreja aceitou essa autoridade dos Papas sem
oposição alguma, sem. dúvida era põrque, pela fôr-
ça invencível da, verdade histórica, estava <Jerta de
que os Papas eram os legítimos sucessores de São
Pedro.

Outra prova no-la oferecem os testemunhos dos


Padres e Dou toTes da Igreja.

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r'

42 FREI DAMIÃO DE BOZZANO

STO. INACIO, bispo de Antioquia, contemporâ-


neo dos Apóstolos, na sua Epístola aos Romanos es- ,
creve que a Igreja de Roma «preside à comunhão '
universal de todos os fiéis.
STO. IRINEU, discípulo de S. Policarpo e de
outros anciãos da idade apostólica, acrescenta ser
necessário para tôdas as Igrejas se conformarem na
fé com a Igreja Romana em ra.zão de sua primazia
de poder». ( Adv. 3, 3 ).
S. CIPRIANO chama ·e sta Igreja «cátedra de
Pedro, Igreja principal, de onde se origina o sacer-
dócio».
l
STO. AGOSTiiNHO em mil lugares atesta cla,ra-
mente a supremacia do Papa e afirma que «não que-
rer reconhecê-lo como chefe supremo do crfstianis-
mo, é indício de suma impiedade ou de precipitada
arrogância. E isto era tão conhecido de todos que o
imperador Justinia,no, escrevendo ao Papa João TI,
disse: «Tr~tando-se de negócios eclesiásticos, não
quero que se tome deliberação alguma, sem o co-
nhecimento de Vossa Santidade, que é ch€fe de tõ-
das as Igrejas. (Código de just. Tit. SSma. Trindade).
Resumamos, pois, brevemente o que dissemos .
neste e no capítulo precedente:
Nosso Senhor fundou a sua Igreja, e entr~gou o
seu govêrno a Pedro e aos seus sucessores. Ora,
os sucessores de Pedro são os Papas.
Logo, -somente a Igreja governada pelo Papa
é a verdadeira Igreja de C~to. r.J , r ) . ,

'
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v

INFALmiLIDADE DO PAPA

PAPA será sempre o chefe visível da Igreja de


Cristo, por ser o sucessor de Pedro na Séde de-
Roma e no primado. Várias são as suas prerrogati-
vas. Minha intenção é falar da sua infalibUidade,
afim de que o~· meus leitores possam ter da mesma
um justo conceito e acautelar-se contra as calúnias-
dos inimigos da nossa fé.
Primeiro que tudo é preciso explicar o verda-
deiro sentido da palavra infalibilidade: pois muitos
há que, por ignorância ou por n1a,lícia, a desfiguram.
Infalibilidade não é o mesmo que impecabilidade,
porquanto -infalibilidade significa impo5sibilidade de
errar ; impecabilidade a.o con.t rário, impossibilidade
de pecar. O Papa é infalível, mas não é impecável,
e por isso mesmo êle também, camo todos os fiéis,
se cnnfessa dos seus pecados.
A infalibilidade pode ser absoluta e relativa. E~
absoluta, qu?.ndo alguém não pode errar em qual-
quer gênero de verdades; é relativa, quando alguém
não pode errar com r,elaç~~ a çertas verdades. A p.ri...
m.eira é própria d{l Deus; ao P~pa compete a segunda.
E quais s~o as verdades· a~êrca das quais "I não
pode errar? São as verdades de fé e de costumes,

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FRIU DAMIÃO DE BOZZANO

isto é, as verdades que pertencem ao depósito da


revelação. E note-se bem que, mesmo com relação a
estas verdades, não é inf.a,livel senão quando, desem-
penhando o cargo de Pastor e Doutor de todos os
cristãos declara oexpressa e perentôriamente que
devem ser cridas pela Igreja universal.
Isto suposto, digo que o Papa é infalível.
Eis as provas. A primeira nos é oferecida. pela
divina Escritura. Já virmos em outros capítulos que
o poder e as prerrogativas de São Pedro são- o po-
der e as pren~ogativas do Pontífice Romano, seu le-
gítimo sucessor. Poi bem:
A Igreja ' fundada ôbr Pedro, isto é, sôbre o
Papa, de modo que a sua firmeza, depende da firme-
za do Papa. (Mt. 16, 18 ).
Ora, se o Papa pudesse tornar-se mestre de êrro,
in1pondo a tôda a cristandade uma doutrina falsa,,
b m longe de dar firmeza à Igreja rruiná-la-ia. Por-
tanto nunca pode se tornar n1e tr de êrro, que é
o m esn1·o q:ue dizer será çoernpre infalível.
Alé1n disso, J esus Cri to diz que as porta.s do
Inferno jan1ais prevalec rão contra a sua Igreja,
porque é fundada sôbre Pedro, sôbre o Papa, portan-
to a contínua vitória da Igreja depende da vitória.
do Papa.
Ora, se o Papa pudesse ensinar o êrro, em vez
de dar a vitória à Igreja, arrastá-la-ia. à derrota.
Logo é irrnpossível que ensine o êrro.
Jesus dá ao Papa as chaves da Igreja e afirma
que ~le ratificará ·DO céu o que o Pa.pa tiver julgado
na terra.

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EM DEFESA DA FB

Ora, poderá Jesus ratificar o êrro, a mentira, a


falsidade ? Não. Portanto o ensinamento, a senten-
ça: do Papa deve ser isenta, de êrro.
Não basta~ Jesus confere ao Papa o ofício de
pastorear e reger tôda a Igreja, todos os cordeiros e
tôdas as ovelhas do seu redil; e por isso mesmo obri-·
ga tôda a sua, Igreja, cordeiros e ovelhas a lhe obede-
cer e receber a sua palavra e as suas leis.
Ora, suponhamos que o Papa pudesse arrastar·
ao êrro o redil de Jesus · Cristo, que aconteceria,?.
Aconteceria que tôda a Igreja seria posta na absurda
alternativa de desobedecer ao Papa contra a vonta,de·
expressa de Jesus ou de seguir ao Papa, mesmo no
êrro. O que é impossível de se conceber. Cumpre,..
pois, admitir que o Papá é infalível.
- Queremos uma passagem ajnda mais explíci--
ta? Abramos o Evangelho de S. Lc. 22, 31-32. «Si-
mão, Simão,- diz Jesus a Pedro,- Satanás vos pe-
diu com instância para vos joeirar como o trigo; mas·
eu roguei por ti, para que não desfàleça a, tua fé,
e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos.
Do texto resulta que a fé em Pedro será sempre·
pura, verdadeira, luminosa; pois Jesus lhe diz que·
.r ogou por êle, afim de que não desfaleces·s e na sua
fé e é impossível que a oração de Jesus não seja;
atendida pelo Pai Celestial.
Resulta também que _esta prontessa é feita a-
Pedro como chefe da Igreja e não como pessoa pri-
vada, pois Jesus rogou que não lhe viesse a falhar·
a fé; afim de que êle, por sua, vez, a confirmasse
nos seus irmãos. E' como se tivesse dito: <<Satanás.

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FREI DAMIÃO DE BOZZANO

vos pediu com instância para vos joeirar como tri-


_go, e eu, para defender-vos poderia orar por todos;
para todos poderia pedir esta firmeza inconcussa;
mas· não é preciso: orei por ti e a. ti imponho o dever
-de confirmar e iluminar os teus irmãos.
Portanto, não somente a fé do APóstolo Pedro
.será sempre luminosa, pura, verdadeira, mas tam-
bém a de quem lhe sucede no ministério de governar
·a Igr-eja; a do Papa. E' por conseguinte, o Par~
é infalível.

A êstc t slcxnunho das Divinas Es-crituras faz


·eco o da crist. nd• de d todos os tempos e de todos
os lugares. N 7 o verdade, como dizem os nossos
adversário ·, qu "st dogma fôsse desconhecido an-
tes do século pat~sado, m que Pio IX o definiu so-
lenemente. Na Jgr j. s pre se reconheceu a· infali-
bilidade do Papa.
Ei n1guns t , tcrnunhos que no-lo demonstram
claram nl : SL . Jrin u, discípulo de S. Policarpo
e de outros anci1 s dn i reja apostólica, refutando os
herejes do u t tnpo, diz: «Com a Igreja -romana,
4

-por sua priinnzia, d vem concordar na fé tôdas as


igrejas, isto ', os fiéis de todo o mundo ... » ( Adv:.
Haer. liv. Ill).
Mas, se Roma pudess·e errar, como poderia êle
·ainda afirmar êste dever?
Portanto, segundo Sto. Irineu, Roma, a saber,
<0 Papa não pode erra;r.

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EM DEFESA DA Pn

S. Cipriano atesta a mesma verdade:


«Atrevem-se, diz êle falando de certos herej ,
atrevem-se a dirigir-se à cátedra de P.edro, a esl!
Igreja principal, onde se origina o sacerdócio, esque-
cidos de que os romanos não podem errar na fé~.
(Epist. 69, 19 ).
S. Jerônimo escreve ao Papa S. Dámaso: ~Jul­
guei meu dever consultar a cátedra de Pedro. Só vós
conservais a herança dos nossos pais ... »
«Quem não colhe convosco, desperdiça. . . De-
cidi e não hesitarei em afirma.r três hipóteses». Por-
que êle se declara pronto a aceitar qualquer decisão
do Pa.pa, mesmo quando, por imposS-ivel, propuzesse
um absurdo? Justamente porque sabe que o Papa é
e
infalível. não pode errar em matéria de fé de cos-
tumes.
Ainda mais claro é o testemunho de Sto. Agosti-
nho. Os Concílios de Milévio e de Cartago dirigi-
ram-se a,o· Papa, afhn de que condenasse Pelágio,
que, com suas doutrinas, semeava a discórdia na
Igreja.
Apenas respondeu o Papa, Sto. Agostinho anun-
ciou aos fiéis a· sentença nestes termos: «Sôbre esta,
causa foram enviados dois Concílios à Sé Apostólica.
Chegou-nos a resposta; está terminada a causa. Oxa-
lá acabe também o êrro».
Roma, isto é, o Papa· falou e a causa está termi-
n da, tôda a dúvida cessa. Por que? Porque o Papa
é infalível, não pode errar.
No século V S. Leão Magno escreveu ao Con-
cílio de Calcedônia· que sua dou trina, acêrca do mil-

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-'8 FREI DAMU.O DE BOZZANO

tério da Incamação não admitia discussão alguma


e que só se tratava de erer.
E os bispos presentes ao Concílio, que eram em
número de 600, prorromperam numa aclama,ção tmâ-
nime: «Assim o cremos. Os or-todoxos,assim o crêem;
anátema a quem não crê. Pedro falou pelos lábios
de Leão, Pedro vive sempre na sua séde». ( Ep. 93,2 ).
Por que todos se submeteram sem hesitação al-
guma? Sempre pela me'Sma razão: porque reconhe-
ciam no Papa a infalibilidad .
Por todos "stes testemunho e outros aind~, que
fàcilmente pod rí, n1o t.l ;r, r sulta que n infa-
libilidad p pnl s mpr f oi cconhecida pela Igreja.

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VI
SACRAMENTOS

SACRAMENTO é um sinal sagrado produtivo


O
Cristo.
da graça, instituído por !Nosso Senhor Jesus

Sinal é o que conduz ao conhecimento de alguma


coisa que não está a,o alcance dos nossos sentidos.
Pode ser natural !e .c:onvencional, segundo a sua re-
lação com a coisa seja fundada em a natureza ou
sôbre uma convenção. Por exemplo: a fumaça é o si-
nal natural do fogo; as lágrimas o são da dor; uma
luz vermelha colocada em meio ao caminho ,é um
sinal convencional de perigo.
Também os sacramentos- são sinais e sinais sagra-
dos, porque indicam algo de sagrado, isto é, a graça
divina. Note-se, porém, que não são sinais vazios, isto
é, não indicam apenas a gra,ça, mas de fato produzem
a graça que significam. Por isso Jesus, falando do
Batismo disse: «Se alguém não renascer da água e do
Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus».
(Jo. 3, 5).
Como se vê, Jesus aqui atesta, que também a
água do batismo é causa do nos~o renascimento es-
piritual: o Espírito Santo é causa p1incipal e a água
causa instrumental, isto é, meio, instrumento de que

.f - EM DEFESA .••

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DEFESA DA la Jl

se serve Iktt., pnrn. nos fazer nascer para a vida da


graça.
Erram, pois os protestantes, quando ensinam
que os sacramentos são meras cerimônias exterio...
res, testemunhando que a gra~ está na alma, sem
o poder de infundi-la. Não, além de sinais, são causas
que por •s ua própria virtude produzem a graça inde-
pendentemente dos méritos de quem .os ~dministra
e da,s disposições de quem os· recehe. Uma chave ma-
nejada quer por uma pessoa sadia quer por uma
doente, abre sempre a porta e assim também um Sa-
cramento, quer administrado por um Santo, quer por
um pecador produz igualmente a graça, contanto que
seja administrado como Jesus o determinou.
Quanto às disposições de quem os · recebe, são
necessárias para que os Sacramentos produzam a gra-
ça, mas não são essas dispoisições que dão aos Sa-
cra,mentos a virtude de produzir a graça, assim co- .
mo a secura da madeira não dá ao fogo a virtude
de queimar.
Diferem, pois, os Sacramentos da Oração, das
bons obras e dos sacramentais, (água benta, imposi-
ção das cinzas etc.) que tiram a eficácia únicamente
das disposições religiosas do sujeito.
Di semos também que .os Sacrarrnentos são si-
nai in. tituidos por Nosso Senhor Jesus Cristo. E'
evid n t , com efeito, que somente Deus pode ligar
a, un1 inal sensível a faculdade de produzir a graça.
Não é êle o dono da graça? Portanto drue depende
detenninar como quer comunicar a graça.

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FREI DAMIÃO DE BOZZANO

Os Saeramentos são sete.

De fato os Gregos cismáticos, que se separaram


da Igreja Católica nQ século IX e os Nestoria.nos, cal-
deus, captas, que se separaram !110 século V, têm os
seus sacramentos confarme aos nossos, quanto ao
número e à natureza.
Mas não se pode admitir que tenha ~ecebido
esta crença, da Igreja romana depois da separação,
considerada a hostilidade, que sernpre nutriram con-
tra os católicos la tinos.
E' 16 ico, portanto, concluirmos que ao tempo
do cis1n(, i t ', 1' sp ctiva1n nt nos séculos IX e V
a dou trin <h is l "n + d s l Sacramentos er~
doutrina d I r .iu in lcir·L 1~ por conseguinte, tive-
ra origem cmn <. Apús lolc · porqu caso se hou-
vess·e introduzid<, uos s{•culos pr cedentes, algum
sacramento, ln,l in< v·t ·n na podia realizar, sem
provocar -di cu· õcs nuilo vjv ;;. E disto, nenhum
vestigio i t n >'. sct 'tos dos Padres.

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vn
O BATISMO

BATISMO é um sacramento que nos torna


O cristãos, isto é, sequazes de Jesus Cristo, fi-
lhos de Deus e membros da Igreja,.
Que seja Nosso Senhor o autor do batismo é cla-
ro pelo próprio Evangelho:
«Foi-~me dado todo o poder no céu e na terra. Ide,
pois, instrui a, tôdas as gentes, batizando-as em no-
lllle do Pai ·e do Filho e do Espírito Santo ... » ( Mt.
28, 18-20).
«Ide por todo o mundo; pregai o Evangelho a
tôda a criatura. Quem crer e for batiza·do, será sal-
vo, qu m não crer, será condenado». (Me. 16, 15 ).
«S alguém não r:enascer da água e do Espírito
nnto, n•to pode entrar no reino de Deus». ( Jo. 3, 5 ).
hn lodos os· textos a,cima se manifesta Nosso
. . 1 hoa· Hllor <lo batismo e proclama· a sua necessidade
par·. a sol ação.
O lml ismo ' para todos necessário: para os adul-
tos ' p u·n, ns ri nças.
n ) h tH cu;osário para os· adultos. De fato, diz
J sus: S<· nl .,n(J 1 não renascer da água e do Espírito
Sanl núo po<l< (•ntrar no reino de Deus (Jo. 3, 5).
11.: te r( nascimento espiritual, que Jesus procla-

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EM DEI'ESA DA la

ma necessário para entrarmos no reino de D u. , . (


dá pelo ba,tismo, como aparece no próprio texto dn
palavras de S. Paulo, que chama o batismo: «Banho
de regeneração». (Tito 3, 5 ).
Portanto o batismo é necessário para entrarmos
no reino de Deus.
b) O batismo é necessário também para as cria,n-
ças, pois, Jesus não faz exceção alguma; mas diz
simplesmente: «Se alguém não renascer ... »
Uma criança é alguém, isto é, uma pessoa como
todos nós. Portanto, pa,ra ·e ntrar no reino dos céus,
igualmente tem que renascer pelo batismo.
Além disso ninguém pode conseguir ~ salvação
senão por Jesus Cristo (Rom. 18 ), isto é, se não
se incorporar com JesuS' Cristo, tornando-se seu mem-
bro. Mas em o Novo Testamento ninguém se incor-
pora com Jesus Cristo senão pelo batismo, confonne
se lê na epístola aos Gálata.s ( 3, 27): «Todos· os que
fostes batizados, vos revestistes de Cristo».
Logo todos devem ser batizados-, e sem o batis-
mo não se pode conseguir a s'a lvação.
A própria Sagrada Escritura confjrma essa dou-
trina, pois nos fala de famílias inteiras balizadas
(Atos 16, 15-33: 18-8; Cor. 1, 16).
Ora, é ver.ossímil que nelas houvesse crianças.
Mas é especialmente pela tradição que se prova
a: necessidade do batismo também para as crianças.
Eis alguns testemunhos aptiqu:issimos a êste res·-
peito.
STO IRINEU, que viveu no II século, diz: «To-
dos os que forem regenerados em Jesus Cristo, isto

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56 FREI DAMIÃO DE JWZZANO

é, crianças, jovens, velhos, serão salvos>>. ( Liv. 4 cap.


22, v. 14 ). As palavras: Os que fo11em regenerados
se devem entender: os que forem batizados, pois a re-
generação emt Cristo é pelo batismo, por isso o Após-
tolo o chan1a: «Banho de regeneração». (Tit. 3, 5 ).
ORIGENES, no t€·r ceiro século, repete a. mesma
verdade: «E' na Igreja uma verdade provinda dos
Apóstolos dar o~ batismo às crianças». (Liv. 5 na
epístola Rom. c. 9 ) .
S. CIPRIANO, no III século escreve: «Pareceu-me
bem e à todo o Concílio que a•s crianças sejam bali-
zadas mesmo antes do oitavo dia». (Ep. 63) Daí pode-
mos legitimamente concluir: Se os cristãos dos pri-
meiros séculos batizavan1 seus filhos, apenas nasci-
dos, sem dúvida era por ordem dos apóstolos e, por
conseguinte, do próprio Jesus Cristo.

*
E por que também as crianças devem ser ba-
tü·:ndas para entra,rem no céu? Ei-lo:
O céu é a herança de Deus.
Ora, te1n direito à herança de alguén1 somente
aquele que é filho. _
Portanto, tem dil'eito ao céu aquele que é filho
de Deus.
Mas nós, como simples homens, não somos fi-
lhos de Deus, pois, não possuímos a mesma· natureza,
eo:m-o é exigida entre pai e filho.
Portanto não temos direito ao céu. O que nos-
h,rna verdadeiramente filhos de Deus é a graça san-

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~~----------~E=M~D~EF~E~SA~D_A~F~n----------------7

üficante, que é uma participação da própria, natu-


reza divina. Uma alma adornada de graça santifi-
cante, é filha de Deus e, por conseguinte, tem direito
ao céu.
Esta, graça divina tinha sido dada aos nossos pri-
meiros pais com direito de transmiti-la também a
nós, sen.s descendentes, sob a condição, porém, de que
se mantivessem fiéis a Jtle. Mas não mantiveram a
condição; desobedeceram :a Deus; por isso perderam
esta graça par~ si e para todos nós. Hoje ninguém
no primeiro instante de sua existência, possue a gra-
ça santificante (exceto a Virgem Santíssima, em vir-
tude dos merecim·e nto de Jesus, seu Filho). E esta
privação da gra~ santificante, em que todos somos
concebidos, é justamente o que se chama pecado ori-
ginal. Foi em vista disto• que S. Paulo escreveu:
«Somos por nascim'ento filhos da ira ( Ef. 2) e tam-
bém: <<Todos pecamos em Adão ( Rom. 5, 12).
Quando é que pela primeira vez nos é prodigali-
za,da a graça divina? Quando recebemos o batismo,
Eis porque também as crianças devem ser batiza-
das, para se tornarem, pela gra,ça santificante, filhas
de Deus.
Dizem os protestantes: Jesus diz: «Ide, pregai
o Evangelho a, tôda a criatura; quem crer e fo,r bati-
zad(), será salvo. Quem não crer, será condenado.
(Me. 15, 16). _
Mas a criança não pode crer, logo não pode ser
batizada.
Aqui Jesus fala dos adultos, pois fala de pre·ga-
ção do Evangelho; e a prega,ção s-ó .se pode dirigir a

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!3 FRlll DAMlAO DE BOZZANO

uma pessoa adulta, isto é, a. uma pessoa que já tenha


o uso da razão.
Portanto dês te mesmo texto resulta que um adul-
to'! para ser batizado, deve crer. Ma,s não resulta
ahsolutamen te que só os adultos devem ser batizadqs.
Ainda os protestantes: O batismo impõe obriga-
ções; por isso não se pode administrar a uma criança
sem 0. consentimento da, mesma. Alcance primeiro
o uso da razão, e então por si mesma. resolverá, se
quer, ou não quer pertencer à religião cristã e rece-
ber êste sacramento.
1
E verdade que o ba tisrno impõe obrigações, mas
são obriga õcs que a própria criança tem que a,ceitar
apenas tiv r al·unçado o uso da razão; por isso bem
podem os pais uccitnr, etn on c da mesma, · estas
obriga,ções, b, lizando o, op .nus nascida.
Além disso, o bntisn1o co 1f r , a quem o receber,
o privilégio de Jilbo <.lc D us herdeiro do céu.
Portunto, os p 1is hntiza 1do os filhos, apenas
nascidos, bc;~n lon · d ·tz 'Cl 1 uma afronta à sua
liberdade, f zent, pdo ·onlrúdo o que de melhor
por êles pod u fnz r.
E se nüo h \ lizu, se 1u. s ri m cruéis para· com os
mesmos. Explica-m con1 u1n exemplo: Um potentado
se ·a presenta a dois· po os, que, há pouco, rece-
beram a dádiva pr cioso de um filho, e lhes diz: «Te-
nho a vontade de constituir o vosso filho herdeiro de
todos os meus bens; é preciso, porém, que me con-
cedais a licença de fazê-lo». E êles: «sentimos muito,
mas não podemos conceder esta licença, porque se-
ria o(ender a sua liberdade.O Snr. tenha a bonda-

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EM DEFESA DA FB

de de esp·e rar que o nosso filho chegue a ter com-


preensão do que está fazendo, e então lhe pergunta-
rá, se quer ou não quer aceitar a herança».
Por acaso~ seria o comportamento dêstes pais-
para com o filho }Quvável? Certamente não.
O mesmo se diga em nos'So ca;m: o batismo ofe-
rece à criança direitos e bens de uma fortuna de ina-
preciável valor, de suma importância. Não é, pois,.
preciso esperar que alcance o uso da razão, para se·
lhe administrar o ba,tismo. Os pais qúe esperam até
aquela época <São dignos de severa repreensão.
E de resto, não se costuma em tôda a parte re-
gistrar os próprios filhos apenas nascidos?
Ora se por êste registro adquirem os direitos de-
cidadãos do país, contra,em igualmente os respectivos.
deveres; e contudo ninguém jamais pensou que se
deva fazer o registro civil, somente quando os filhos
tiver.em atingido o uso da razão.
Por que, pois, não será lícito administrar aos.
filhos, apenas nascidos, o batismo, pelo qual a,dqui-
rem êles o direi to de cidadãoS' do céu ?
Não há, portanto, motivo algum para diferir O·
batismo dos filhos até a idade ~dulta; e os que assim
fizerem, são culpados dia,nte de Deus.

•: • l

O batismo se pode conferir vàlidamente quer·


por imersão, que por infusão, isto é, despejando água
na cabeça, quer também por aspersão, isto é, jogan-
do· água no batizando.

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FREI DAMIÃO DE BOZZANO

Prova-se pela Sagrad~ Escritura.


Batizar é palavra grega que .e m nossa língua
.significa não somente mergulhar, mas também lavar.
Por exemplo,~ Sagrada Escritu~a diz que os fariseus,
vindo da praça pública, !Dão comem sem lavar 3S
mãos (Me. 7, 4 ). No texto original o lavar é batizar.
Ora, uma pessoa pode ser lavada de três modos:
m·ergulha,ndo-!8. na água; despejando-se água sôbre a
mesma, ou jogando-se-lhe água.
De que modo /Nosso Senhor quer que os homens
sejam batizados, isto é, lavados? Nada detennina
1tle a respeito.
Portanto, a Igreja pode determinar, escolher o
modo que mais lhe aprouver.
O ba,tismo por imersão foi principalmente usado
na Igreja por muitos séculos. Contudo, já desde o
tempo dos Apóstolos, às vêzes, se conferia por infu-
são, isto é, despejando água na cabeça como resulta
de algumas _pinturas que ainda hoje se conservam
nas catacumbas, como se vê no ba.ti mo de S. Ro-
anão, admini trado por S. Lour nço do batismo de
pessoa acm adas (S. Corn 'lio, epist. Fábio c. 14)
como xpre m n L n ina na dou trina dos doze
Apóstolos (c. 7 ): << não tiv r água de fonte, bati-
za com outra, águc;;. não pud res com água fria, ba-
tiza com água morn~ . i não tiveres água suficiente
para a imersão, d peje; tr" vêzes água na cabe-
ça em nome do Padr e do Filho e do Espírito Santo».
Além disso _lemos na Sagrada Escritura que S.
Paulo se levanta, para receber o ba,tismo (Atos, 9,18;

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EM DEFESA DA Fa til

22, 16) e na cidade, à meia noite, batiza o carc · ir


e os outros de sua família (A tos, 16, 33 ) .
Ora, é muito improvável que o batiSIIl1o tenha
sido conferido por imersão nessas ocasiões, porque
como se pode supor que na, casa e na prisão houvesse
tanque próprio para nele mergulhar uma pessoa?
O mesmo se diga do batismo que foi conferido
a três mil homens no dia de Pentecostes. (A to'S 2, 41 )'.
Poderíamos também acrescentar que, se a imer-
são fôsse necessária para o valor do ba,tismo, a sua
administração tor.nar-se-ia frequentemente muito di-
fícil ou por falta de água, ou pelo frio, ou pela mui-·
tidão, ou pela'S enfermidades dos ba tizandos, que po-
dem ser crianças recém-na!)cidas, velhos, moribun-·
dos ...

Conclusões práticas.
A'S mães e1n estado interessante dev~m se abster·
de tudo o que pode prejudicar o fruto que trazem no
seio. E as que provocam voluntàriamente o abôrto
são duplamente homicidas porque suprimem ~vida
ao filho e lhe impedem a entrada no reino dos céus,
por morrer sem batismo. A Igreja para inspirar hor-
ror a êste crime, fulmina de excomunhão não so-
mente as mães, mas também os que mandam ou
aconselha,m o abôrto, os que para tal ensinam re-·
méd~os ou os aplh:am.
Os pais têm a obrigação grave de batizar quan-
to antes os seus filhos, para não se exporem ao pe-

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62 .FREI DAMIÃO DE BOZZANO

rigo de privá-los para sempre da glória do céu. E


se, por aca.so, se acharem os filhos em perigo de
morte, devem batizá-los em casa, derramando água
natural sôbre as cabeças dos mesmos e, ao mesmo
tempo, pronunciando estas palavras: «Eu te batizo
em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo~.
Estando presentes· outras pessoas que saibam e quei-
ram batiza.r, sejam batizados os filhos por estas
pessoas, e se não estiverem pres nt s outras pessoas,
ou estas não souberem ou não qui r m batizar, en-
tão os próprios pais batizem u filhos, em perige
<Ie morte.

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VHI

CONFIRMAÇÃO OU CRISMA

CRISMA é um sacramento no qual pela impo-


sição das mãos e a unção com o crisma, profe-
rindo certas pala,vras sagradas, se comunica ao ba-
tizado o Espírito Santo, para que valorosamente con-
fesse a sua fé.
O Crisma é um verdadeiro sacramento da Nova
Lei.

I - Prova-se pela Sagrada Escritura•

.Lemos, com efeito, nos Atos dos Apóstolos ( 8,12J


17) que os Samaritanos, tendo recebido a palavra
de Deus, fora,rn batizados por Felipe; e os Apóstolos
lhes enviaram Pedro e João, os quais, assim que che-
garam, oraram por êles, afim de que recebessem
o Espírito Santo, porque êste ainda não tinha descido
sôbre n nhum deles, mas tinham sido somente ba-
tizados 111 nome do Senhor Jesus. Em seguida lhes
impuzcrmn a;s mãos e êles rec-eberam o Espírito
Santo.
Do n •smo modo São Paulo, vindo a ~feso, ba-
tizou en1 uorne de Jesus, discípulos de S. João e «ne-
les impô' nH mãos, para que o Espírito Santo bai-
xasse sôbu "les:.. (Atos 19J 5-6).

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EM DEFESA DA~

Temos aqui - a ) um sinal, um rito sagrado


realizado pelos Após tolos: a imposição das mãos;
b) produtivo da graça, pois a esta imposição se se-
guiu a descida do Espírito Santo; c) um sinal insti-
tuído por Nosso Senhor Jesus Cristo, pois em coisa
tão importante e fundamental os Apóstolos não agiam
certamente conforme a. sua vontade, mas em nome
de Jesus, assim como na administração do ba,tismo
e na remissão dos pecados.
Portanto fala aqui a Sagrada Escritura de um
Sacramento, visto que um Sa,c ramento, como dis-
semos em outro capítulo, é um sinal sagrado, p~odu­
tivo da graça, instituído por Nosso Senhor.
Ora, êste Sacramento não é o batismo, pois os
Samaritanos, a que S. Pedro e S. João impuseram
as mãos-, já tinham sido batizados por S. Felipe e
os de ~feso, a,ntes de receberem a imposição da.s
mãos por S. Paulo, foram por êste batizados.
Tão pouco pode ser a ord·e nação sacerdotal, co-
mo a)guns supuseram, pois· entre os que receberam
êste Sacramento em Samaria, havia também mu-
lheres e as mulheres não podem ser ordenadas.
Logo é o sacramento da Confinnação ou Crisma.
Obj. - A imposição das mãos era empregad~
para dar os carismas extraordinários do Espírito
Santo, tais como o dom dos milagres e da profecia,
o dom das línguas, etc.
Resp. - A imposição das mãos era feita prin-
cipalmente, para que os fiéis recebessem o Espírito
Santo, que Jesus prometeu dar a todos os que cres-
sem n~le. ( Jo. 7, 38 ).

5 - EM DEFESA •••

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66 FREI DAMIÃO DE BOZZANO

Nos primeiros tempos, à imposição das mãos,


se seguiam frequentemente êstes prodigios, porque
eram necessários para a conversão do mundo. Agora,
que temos tantas provas da verdade da nossa santa
religião, os milagres não são necessários. Mas o
dom do Espírito Santo, que fortificava os primeiros
cristãos e o·s tomava capazes de fazer qualquer sa-
crifício antes que perder a fé, ainda hoje é necessá-
rio para os fiéis. Por isso a imposição das mãos, que
é justamente o Sacram nto que nós chamamos -
Crisma - ainda hoje con·tinua e continuará até o '1
fim dos séculos.

ll - Prova-se pela Tradição.

Os Padres da Igreja. falam desta imposição das


mãos para a vinda do Espírito Santo, como de ver-
dadeiro Sacramento.
Tertuliano (li século) diz: <<Depois do batismo
impõem-se as mãos para a bênção, se invoca e convida
o Espírito Santo». (Livro .sôbre o BatiSIIDo, c. VIIT)
S. Cipriano ( m século) na sua Epístola a Ju-
baiano, referindo-se ao texto dos Atos dos Apóstolos
( 8, 14) diz: «0 que faltou do Batismo administrado
por Felipe, i to foi feito por Pedro e João. . . Isto 1
se faz tamb 'm entre nós, para que os que são ba.ti... ~
zados, por nossa. ornç-o e imposição das mãos, con-
sigam o Espírito Santo».
S. Cirilo (IV século), explicando o catecism
aos ~atecúmenos, diz: «Enquanto se faz uma unção

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EM DEFESA DA Fa ,.,
visível sôbre o corpo, a alma é santificada pela opc-
ra.ção interior do Espírito Santo».
Também Sto. Agostinho (V século)', assim se
exprime no seu livro contra Petiliano: «0 Sacra-
mento do Crisma não é inferior em santidade ao
próprio Batismo.
Por tudo o que acabamos de dizer fica sufi-
cientemente provado que o Crisma é um Sacramen-
t to e que os protesta,ntes, rejeitando-o dão prova du-
ma grande presunção, porque negam uma dou trina:
que é claramente ensinada pela Sagrada Escritura
e admitida pelos cristãos de todos os tempos.

l
I
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IX

A EUCARISTIA - PALAVRAS DA PROMESSA

·A EUCARISTIA é o sacramento do Corpo e do


Sangue de Nosso Senhor sob as espécies do
pão e do vinho, ou, por ouh'as palavras, é Nosso Se-
nhor vivo e verdadeiro assim como está no Céu.
Se quisermos acreditar no Evangelho, devemos
também crer na presença real de Jesus Cristo na
Eucaristia, pois,. ma,is claro não podia rue ~er fala-
do, tanto quando prometeu êste Sacramento, como
quando o instituiu.
Palavras da promessa. Era o dia, seguinte ao da
multiplicação dos cinco p'"'es, e Jesus, estando em
Cafarnau.m, começou a dizer ao povo que O cercava:
«Eu sou o pão vivo qu de ci do céu; se alguém co-
mer dêste pão, viverá eternamente, e o pão que
eu darei é a minha, carne pela vida do mundo, isto
_ é, imolada pela vida do mundo». ( Jo. 6, 52).
Estas palavras significam claramente que Jesus
queria dar €liil alimento o s~u corpo verdadeiro e
real, e não sõmen te uma figura, ou imagem do mes-
mo. Os seus· mesmos ouvintes desta, maneira inter-
pretaram as suas palavras e, ficando escandalizados,
exclamaram: «Como pode :&te da~-nos a sua carne
a comer?» ( Jo. 6, 53,).

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EM DEFESA DA Fa 69

Antes de chegarmos à resposta de Jesus, cum-


pre-nos notar o seguinte:
Quando os ouvintes, por simplicidade ou igno-
rância, não tinham bem compreendido o verdadei-
ro significado de suas palavras, costumava rue ex-
plica,r melhor a sua doutrina, especialmente €m se
tratando de coisas atinentes à salvação eterna, afim
de que os discípulos não incorressem no êrro. (Dis-
to se encontram exemplos em Jo. 3, 3-8 e Mt. 16, 6-12)
Pelo contrário, quando a sua •doutrina tinha si-
do bem compreendida, embora desagradasse a.os ou-
vintes, ainda mais energicamente costumava repeti-
la. (A respeito se encontram exemplos em. Mt. 3, 2-7
e em Jo. 8, 51-59).
E agora ouçamos a resposta que dá aos judeus,
que lhe pergunta,m: ~como nos pode dar a sua car-
ne a comer?» E Jesus: «Em verdade, em verdade
vos digo, se não comerdes a carne do Filho do Ho-
mem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida
em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu
sangue, tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no últi-
mo dia, porque a minha ca,rne é verdadeiramente co-
mida e o meu sangue é verdadeiramente bebida». O
que foi o mesmo que lhes dizer:- Não somente vos
posso dar a minha carne a comer e o meu sangue
a beber, mas disto vos imponho um prece~to sob
pena de morte eterna. - Queria, porta,nto, que as
suas palavras fôssem tomadas ao pé da letra.
A semelhantes insistências do Divino Mestre,
muitos discipulos se revolta.rn: e clamam: «E' duro
êste discurso e quem o pode ouvir?» Por que o acha-

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70 FREI DAMIÃO DE BOZZ:ANO

va)ll duro? Porque êles 1amhém não podiam com-


preender como pu desse Jesus dar a sua carne a co-
mer e o seu sangue a beber; e, não querendo admi-
tir tantos prodígios, o abandonaram. E acaso Jesus
os detêm? Não. Pelo contrário volta-se aos doze
Apóstolos e diz: «Quereis vós também retirar-vos ?1>
Como se quisesse dizer: Quereis ou não quereis
crer que eu vos da,rei a minha carne a comer e o
meu s·a ngue a beber? Se não quereis crer, ide embora
com os outros». Foi então que S. Pedro em nome dos
doze, exclamou: .:Mestre, para quem iremos? Tu
tens palavras de vida eterna; e nós temos crido e
reconhecido que és o Cristo, o Filho de Deus. ( Jo.
6, 70). Com .e sta resposta também S. Pedro de·c larou
que nada tinha compreendido com rela,ção ao misté-
rio que Jesus acabava de revelar, contudo, acredi-
tava, porque sabia que Jesus era o Filho de Deus.
.
Reflitamos um pouco sôbre êste fato da apos-
tasia, dos discípulos-. Abandonam a Jesus, porque
não querem admitir que rue possa dar a comer a
sua própria carne e a beber o seu próprio ~ngue.
Ora, suponhamos que tivessem compreendido
·mal as palavras de Jesus não devia rue explica.r-se
melhor? Que Lhe custava dizer: Não vades embora.
pois não é do meu próprio corpo nem do meu pró-
prio sangue que falo, e sim npenas tenciono vos dar
a comer um pedaço de pão e a beber um pouco de
vinho, como figura do meu corpo e do meu sapgue.
E isto teria sido bastante para impedir. que aqueles
4&clpulos O ab~donassem. Jesus, porém, não deu

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EM DEFESA DA FtJ 71

esta explic -o; Jesus que veio para salvar as almas,


permitiu que ca,issem num abismo de misérias. Pe-
lo qu cumpre dizer que prometeu dar a comer o
~u próprio corpo e a beber o seu próprio sangue,
pois era assim justamente que aqueles discípulos
tinham compreendido as suas palavras e era por
isso que O abandonava;m.

Algumas objeções

Jesus declarou que as suas palavras deviam ser-


entendidas em s·e ntido figurado, dizendo: «0 espí-
rito é que vivüica, a carne para nada aproveita·; a~
palavras que vos ·tenho dito são espírito e vida». ,
(v. 64).
Resp. - Mesmo depois destas pala.vras conti-
nuaram os discípulos a entender em sentido literal
o discurso do Mestre. Tanto assim que <<a partir
daí, - diz o Evangelho - muitos se retiraram e
já não andavam com rue». (Jo. 6, 57).
Não é verdade, porta,nto, que tenha declarado
com isto, que as suas palavras deviam ser entendi-
das em sentido figurado.
Qual é então o verdadeiro significado do v. 64?
Ei-lo: Jesus tinha dito que era preciso comer a
sua carne e beber o seu sangue, para. ter a: vida e ter-
na. Julgando os discípulos que a carne de Jesus de-
vesse ser tomada morta e feita em pedaços, Cristo
responde: «Isto vos escandaliza? a ocasião do escân-
dalo cessará, quando conhecerdes a minha Ascenção
ao céu, pois então acreditareis mais firmemente na

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FREI DAMIÃO DE BOZZANO

minha divindade e ao mesmo tempo com.preendereis


que não se trata de carne que há de ser feita em
pedaços e devora,da.
Tôda a vida procede do espírito; e por isso a
minha carne por si só, isto é, s parada da divinda-
de, não poderia dnr a vida.. O qne disse deve ser
entendido da minha cnrn vivificadn p lo pirita
e pela divindade; d "S n m n ira <lará a vida>>.
- Jesus diz: «Eu sou pã vivo que desci do
céu». ( Jo. 6, 51).
Ora, o corpo de Jesus nfio d ·s ccu do céu. Logo
Jesus não fn,la do seu próprio Corpo.
O Corpo de Jesus nunca se separou da sua di-
vindade, desde o primeiro instante em que foi conce-
bido no seio de Maria; é unido numa só pessoa com
o Verbo Divino, de modo que quem recebe o Corpo
de Jesus, recebe a própria pessoa de Jesus, recebe o
Verbo Divino. Ora, o Verbo Divino desceu do céu.
-Jesus promete a, vida eterna aos que comem
a sua carne e bebem o seu sangue.
- Suponhamos que um rato coma uma hóstia
consagrada. Iria pa,ra o céu? Não. Que aconteceria?
Nada. Pois o rato não é capaz de vida eterna.
Resp. - J csus não promete, sem exceção algu-
ma, a vida et rnn a todos os que comem a sua ca.r-
ne e bebem o seu ongue; mas somente aos que co-
mem e bebem dignamente n sun carne e o seu san-
gue. Tanto assrm1 qu nos adverte por S. Paulo:
«Quem come d"ste pão ou bebe o cálice do Senhor
indignamente, come e bebe para si a própria con-·
denação.

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X

A EUCARISTIA- PALAVRAS DA INSTITillÇÃO

ÃÜ MENOS claramente falou Nosso Senhor


qua,ndo, mantendo a sua promessa, instit11iu
êste alimento da vida eterna. Ouçamos como os evan-
gelistas referem o fato: - <<Na mesma noite em
que Jesus havia de ser entregue aos seus inimigos
estando no Cenáculo com os seus discípulos, to-
mou nas sua,s santas e veneráveis mãos o pão, o
abençoou e distribuiu com êles dizendo: «Tornai
e comei; isto é o meu corpo, que será entregue por
vós à morte». E tomando o cálice, deu raças e a
êles o entregou, dizendo: « h i d "1 todo , pois ês-
te é o meu sangu do N v o c s t 1111 n to, que será
derramado por mui t • p u·u n J' .1 issiio do pecados~.
E em seguida, dm do w. di.< ipul< 1 1 , a todos
os a. rdotes o pod< •· dt r tzt 1 1 o qn 1!:le mesmo
acah( v de fazer, IH rc. <'('H I< u: « q .z< i isto em me-
Dlória d mim:.. (Mt. n, c() l !lO; M . ltf, 22 a 26;
Lc. 22 19 22 · 4 r. 11, • 3 2() ).
h n '< rn . <jn m , H it p< rgun tnr: Porventura:
.T< sn nno < 11 t t < on po1· nós à mort . o eu próprio
c< r·p > ( nu d rrnm l1 para, 1 r 1nissii dos nossos
JH cndos ' u próp i o angue? Portnnto o pão e o
rinho, d pois da consagração, são o próprio corpo

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I
I

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EM DEFESA DA Fa

e o próprio sangue de Jesus Cristo, visto qu · ft;l


mesmo disse: .:Isto é, o meu corpo, que será cntt·
gue à morte por vós; êste é o meu sangue que s rá·
derramado por muitos para a remissão dos pecados:..
O texto original grego, em que foi escrito O'
Evangelho pelos próprios Eva,ngelistas, é ainda mai&
enérgico. Eis como refere as palavras de Jesus: «Is-
to é o meu corpo, o meu próprio corpo, Q que por·
vós é dado; isto é o meu sangue, o meu próprio san-
gue, o que por vós é derramado». Pode haver coisa!
mais clara do que esias palavras? Afina) é um Deus
quem fala, é um Deus cujo poder é infinito; é o~
Verbo eterno do Pai, que com um só ato de sua
vontade fez o universo; é um pai moribundo, que
na véspera de se sacrificar pelos seus filhos, lhes.
patenteia. os sentimentos do seu coração. Quem ou-
sará duvidar da verdade de suas palavras especial-
mente em tal circunstância?

Palavras de São Paulo (I Cor. 11, 23 a 26)

Por isso os Apóstolos creram nelas firme e li~


tera)rnente; e São Paulo manifestava esta fé quando·
na sua linguagem enérgica, escrevia: «Quem come
dêste pão ou bebe o cálice do Senhor indignamente
é réu do Corpo e do Sangue do Senhor». Noternr-se·
bem estas últimas palavras: .:é réu -diz êle- do
Corpo e do Sangue do Senhor:.. Suponhamos, p. ex,.
que alguém profane o retrato do chefe da Na.ção;
torna-se, por acaso, culpado do seu corpo e do seu
sangue? Não. E' verdade que lhe faz uma ofenea·,

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76 FREI DAMIÃO DX BOZ:ZANO

pois uma mjfu·ia, feita a um retrato, redunda em


deshonra da pesesoa representada, mas nem por isso
se torna culpado do corpo e do sangue do chefe da
Nação, 11ma vez que não estão presentes no retrato.
O mesmo se diga em nosso caso: Se a Euca-
ristia fôsse apenas uma figura do Corpo e do San-
gue de Jesus Cristo, alguém, profanando-a, não se
tornaria eulpado do Corpo e do , Sangue de Jesus
·C risto.
Logo, a Eucaristia não é ap na,s urna figura do
Corpo e do Sangue de Jesus Cristo; mns é o próprio
'Corpo e próprio Sangue de J us Cris lo.
E con liJ ua o m ~mo /\pôs L lo: «:Examine-se,
pois, a i 1n • n o homrn1 ns~im con1a dês te pão
e beba dêslc cálic pm·qu . fJll(\ 1 o com e bebe in-
dignamcnt<', con1 ~c-b p rn, si condenação, não
-distinguindo o Corpo do S< nhor>L (I Cor. 11, 28-29)
~le aqni n I In n v 11 cnt a presença real de
Jesus Cristo 11 J Óf,lin, .it\ qu , dando a razão pela
qual é culp <lo 11 n conntnga indignamente, diz:
Por qu d sta. 1n tH irn n'"'o distingue o · corpo do
Senhor; isto é, niio <' n id 1·n a SS. Eucaristia o que
na realidade é, n nhcr, o Corpo do Senhor.

Vamos agora rcfu tnr as razões que os protes-


1an tes alegam contra esta. dou trina.
- Quando Nosso Senhor disse: «Isto é o meu
Corpo» quís dizer: «Isto representa o meu Corpo»
:assim como quando, mostrando· um retrato posso

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~------------~E=M=D
__E=FE~SA
~D_A_F
_~-----------=~~==7 1

dizer: «êste é FulanO?> e todos compreendem qu uü


é o próprio Fulano em carne e ôsso, mas uma rc-
presen tação' do mesmo.
Resp. - Que seja impossível interpretar assim
as palavras de Jesus, demonstra-o e o explica ad-
miràvelmente o Cardial Wiseman.
Alguns objetos, -- observa êle - por sua pró-
pria natureza são simbólicos, por exemplo, um ma-
pa, um retrato.
Outros o são por co·nvenção, por exemplo, a
bandeira. Porta,nto quando se diz: «Saudai, é o Bra-
sil que passa», todos com:p reendem que o verbo sig-
nifica «representa'>.
For fim quem fala ou ·escreve pode empregar,.
em sentido figurado, palavras que não são simbó-
licas, nem por natureza, nem por convenção.
A êle compete advertir então àqueles· que (}
lêem' ou escutam. Na parábola do semeador, por
exemplo, Jesus dirá: o campo é Q mundo.
Se o afirmado nada tern de comum com .êstes
três casos, não há dúvida que o sentido deve ser
literal.
Ora, o pão ·e o vinho ·n ão são, por sua própria
natureza, símbolos do Corpo e do Sangue de um ho-
mem. Não o são taJ;nbém, por convenção: jamais em·
língua alguma se recorreu a êstes· doi-s elementos.
pa,ra representar a carne e o sangue humano. E, em
terceiro lugar, não dá Jesus a entender em parte
a)guma que se trata de uma imagem ou de um
símbolo.
Não temos, pois, o direito de interpretar, em.

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FREI DAMI.ÃO DE 802ZANO

·sentido figurado as palavras: <Isto é o meu Corpo:.


·e traduzi-las: «If,to representa o meu Úlrpo~.
E' de admirar que os protestantes interpretem
em sentido figurado as palavras da instituição e
.que, por isso, considerem a Eucaristia como figu-
ra do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo. E' de ad-
·m irar, digo, porque êles fJustentam que Deus proihe,
na sua lei, fazer imagens e prestar culto às mesmas.
E depois êste mesmo Deus, segundo êles, nos teria
·deixado uma imagem, uma figura do seu Corpo e
do seu Sangue, instituindo a, Eucaristia.
- São Paulo diz: «Fazei isto em memória de
mim (I Cor. 11, 49).
Ora, não s recordam sen-o as eoisas ausentes.
Portn,nt J u Cri. to nêio stá presente na hóstia.
Resp. - A I m b · n a e põe ao esquecimento.
E nós pod os ('. qn : . n~ m n te o que é ausen-
te, ma tamb ' o u 1 1 cai ob nossos sentidos;
con1o, por pl , sq 1 cem os de Deus, ainda
·que esteja· pr s nt ~n tôdo porte; por. isso a Sa-
grada cti lu · n s ·t : c:Lembrai-vos do vos-
·so Criador durnn I o n mocida,de:.. ( Ecles. 12, 1)
Ora, J us 'nvi iv na SS. Eucaristia; não
·cai sob os no o cntido . Podemos, pois muito bem
-eonsagrar a SS. Eu nris ti em memória drue.
Além disso a .~ucnristia não se consagra, justa-
mente em memória d Cristo, mas sim em memó-
ria da sua paixão e morte, conforme atesta São Pau-
lo: «Tôdas as vezes que comerdes dêste pão. . . re-
cordareis a morte do Senhor até que rue venha:..
(I Cor. 11, 26 ).

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--------------~EM~D~E~~~S~A~D~A~~~--------------·~79

Ora,, a paixão e a: morte de Nosso Senhor i


ausentes.
- A Sagrada Escritura nos representa o Corpo
de Jesus como estando no céu, de onde não de
mais s·a ir até o fim dos séculos.
Portanto não pode estar na Eucaristia.
Resp.- Mas a Sagrad~ Escritura nos assegura
que o Corpo está também na Eucaristia e, por isso,
cremos nessas duas coisas.
E, de resto, quando 'ela nos diz que não voltará
Jesus a êste mundo, senão no fim dos séculos, fa-
la da, sua vinda gloriosa, mas não exclue outras vin-
das, tanto assim que nos fala da aparição de Jesus
~S. Paulo no caminho de Damasco. (Atos, 9 3-7).
_:Nosso Senhor mesmo disse: «Vós tereis sem-
pre pobres entre vós, mas a mim não me tereis
sempre~.

Resp. - rue fala aqui d~ presença visível do


seu Corpo mortal, mas não exclue a presença invi-
sível do seu Corpo na SSma. Eucaristia; diz, com
efeito, em outra parte: «Estarei convosco todos os
dias 'até à consumação dos séculos:..
- S. Paulo chama, a Eucaristia· pão (I Cor.
11-26).
C n1o se pode dizer, portanto, que é o Corpo
d Jcsns?
R . }J. • ~le chama pão, porque é feita do pão e
t 1 n npnrfncia do pão; mas acrescenta também que

nqtu 1 ({tH participa dêste pão, pa,rticipa do Cor-


po d C.ri. to.
Alén1 cli so temos na Sagrada Escritura nume-

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J

lO FREI DAMIÃO DE ~OZZANO

rosos exemplos em que uma coisa que mudou de


natureza conserva ainda o nome do que era antes.
Assim Eva é chamada o ôsso de Adão. ( Gen.
2, 23 ). Adão se chama bano, porque foi feito de .
barro; a varinha de Arão chamou-se varinha, mes-
mo depois que se transformou em serpente (~x.
7, 12); a água, que se mudou em vinho, é ainda cha- 1

ma da. água. ( J o. 2, 9).


A Sagrada Escritura chama também muitas
vezes as coisas conforme a sua aparência: assim os
anjos em forma huma,na são chamados homens.
(Gen. 18, 2).

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XI

A EUCARISTIA E A TRADIÇÃO

AGORA, depois de termos ouvido o testemu-


lllho divino da Sagrad~ Escritura, vamos ouvir
o testemunho da P.Jstória. Os nossos irmãos sepa-
rados, os protestantes, têm a coragem de afirmar
que o dogma da. presença real de Jesus na hóstia
foi introduzido na Igreja: no século VIII. Isto, po-
rém, é contrário à verdade hls'tórica. Com efeito,
ouça o leitor como falaram da Eucaristia. os Padres
e Doutores da: Igreja, que existiram antes do sé-
culo vm.
No primeiro século havia uma espécie de here-
jes chamados fantasiastas ou doc.etas, que negavam
a realidade do Corpo de Jesus Cristo, isto é, susten-
tavam que Jesus não tinha assumido da Virgem
Maria um corpo real, mas apena.s aparente.
Sto. Inácio, bispo de Antioquia desde o ano 6.8,
discípulo de S. Pedro, falando dêsses herejes, diz:
«Abstêm-se da Eucaristia: e da oração, porque não
confessam que a Eucaristia é a, c~e de Jesus Cristo
Nosso Salvador, a qual foi sa,crificada para a re-
missão dos nossos: pecados e que o Pai ressuscitou
por sua benignidade». ( Epist. ad Smyrn:. 7 ).
O tes·temunho é perentório: no I século pro-
. fessava-se na Igreja, exatamente como hoje, que na

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6 - EM DEFESA •••
sz FRl! DAMIAO DI! BOZZANO

Eucaristia existe o Corpo de Cristo, o mesmo que foi


crucificado,. o mesmo que ressuscitou glorioso e
triunfa,nte.
No segundo século S. Justino mártir, na sua
Apologia dirigida ao Imperador Antonino, depois
de ter falado da consagração do pão e do vinho,
~crescenta: «Não devemos receber a comunhão co-
mo se fôra um püo comum, ou uma bebida ordiná-
ria, tendo sido n6 instruídos pela. palavra de Deus
que aquele alimento da Eucaristia é a carne e o
sangue de Nosso Senhor.
No mesmo n século aparece Sto. IIineu, que,
combatendo os herejes que negavam a divindade de
Jesus Cristo, diz: «Como é que I êles hão de acreditar
que a. Eucaristia é o Corpo do Senhor e o seu San~
gue, se não confessam que Jesus Cristo é o Filho
do Criador do mundo?» (Contra Hereses c. 28 ).
Como se dissera: quem nega a divindade de Jesus
Cristo, n:ão pode confessar a sua presença real na
Eucaristia. .Era, pois, doutrina corrente no século
li a. da presença real.
No terceiro f>éculo Tertuliano afirma claramen-
te a: presença real de Jesus Cristo na hóstia com
estas palavras: <<A nossa carne se nutre do corpo
e sangue de Cristo afim de que a nossa. alma s~
alimente de Deus». (De carne resurrectionis. 8 ).
Tarrnbém Origines manifesta a sua fé na presen-
ça real, dizendo: <<Outrora foi dado em figura como
alimento o maná, mas hoje é, na, realidade, a carne
do Filho de Deus o nosso verdadeiro alimento.
'(Ho~ilia VII no liv. dos Números).

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EM DBFESA DA F~

A êstes testemunhos dos três primeiro$ séctt os
podemos acJ;escen tar o seguinte: Com espirilo de
denegração, que o ódio inspirâ, os gentios acusav m
os cristãos de se nutrirem das carnes de um m•· i-
no, ·e m horríveis festins que a luz do dia não d via
iluminar. Os primeiros apologistas repeliram om
horror e indignação esta atroz calúnia; ela, porém,
é para nós um índice precioso da fé inabalável dos
nossos primeiro$ pais. As carnes vivas e puras de
Jesus Cristo se tornavam, par~ os inimigos mal in-
formados, uma carne humana, carne de um me-
nino.
No IV século S. Chilo de Jerusalém, expondo
aos catecúmenos a dou trina católica sôbre os sa,cra-
mentos, declara que o pão e o vinho, depois da con-
sagração, são o corpo e o sangue de Jesus Cristo, e
por isso os cristãos, recebendo o corpo e o sangue de
Jesus Cristo, se tornam verdadeiramente seu~ con-
corpóreos e consanguíneos». ( Catechs. 19, 7).
No V século Sto. Agostinho assim afirma a
presença real de Jesus Crist{) na Eucaristia,: «Aquele
Pão, que vedes no altar, santificado pela palavra de
Deus, é o Corpo de Cristo; e nquele vinho, que se
contém no cálice, é o seu sangue». (Serm. 117).
E comentando o salmo 98, diz: «Ninguém co 1e
aquela carne sem a. ter adorado».
No mesmo século ergue-se a voz potente de
Cirilo de Alexandria que, associando-se à Carta Sb o-
dai, que os Padres do Concilio Alexandrino diri
ram a Nestório, diz: «Nós celebramos um sncri -
cio incruento na Igreja e somos sa.ntificados, pt

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B4 FRE DAMlÃO DE llOZZANO

ticipando do mesmo Corpo sagrado e do Sangue pre-


,eio~o de.· Jes~s Cristo, ~edentor de todos; porque
não recebemos a sua- carne coQmo · carne comum, e
sim coino a própria carne do Verbo, que se fêz ho-
mem para ·a nossa salva,ção». ( can. 8).. ·
No sexto século. podemos, entre outros, alegar
como testemunhas- da pr~sença real Cassiodoro na
França, Fortunato na Africa e S. João Clímaco na
Ásia, que diz: «A Igreja, recebendo os herej es, que
abjuraram completamente .as suas heresiaS, torna-
os dignos do Corpo ·e do Sangue de Jesus Cristo~
e participantes· dêste santo Sa,cramento.>>. (Gradus,15 )'
Finalmente no século sétimo temos o testemu-
nho de Sto. Ísid.oro de Servilha e o de S. ·Teodoro de
Canterbury . que entre· os pecados que · devem ser
manifestados em cônfissão enumera também o de
receber indignnmente o Corpo do Senhor.
Portanto, como ·cada· qual pode ver, não é ver-
dade que_o dogma 'da presença. real de Jesus Cristo
na hóstia fôsse descQDhecido antes do século VIII.
Não; a cristandade, desde o seu ber~o, sempre acre-
ditou nesse dogma; e se acreditou ·'foi porque o pró-
prio Jesus Cristo lh'o ensinou por meio dos seus
Apóstolos. · ··
Resta amda resolver algumas objeções que os
incrédulos podem fazer. Ei-las:
. - Como é possível que esteja, Jesus presente
naqúela hóstia pequenina, naquele. diminuto espaço?
Sim, isto é um mistério da fé, inas porventura
não os há também em a naturezà? Por exemplo, ex-
plique· quelh puder, como· é. que ·a natureza com a

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EM DEFESA DA F

verdura dos seus campos, com os ' CUS mont~s, com


o seu firma.mento estrela,do, com tôdas as ~uas mag-
nificiências, tão perfeitame1;1te ~e reflete na. minha
pupila, que é apenas um ponto .i mperceptível; como
é que uma árvore gigantesca, está contid~ :puma in-
significante semente, como é que .alguns grãos de
pólvora colocados sob um · castelo O: manda ;p~los
a,res num instante. Disto ningué~ pode qar uma
explicação cabal. Não é, pois, :de ~dmirar, se não
podemos explicar de que maneira está: Jesus numa
pequenina hóstia. .1
- Como podemos admitir, dizem outros, a mu-
dança do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de
Jesus Cristo, se o pão e· o vinho permanecem ~s mes-
mos, quer antes quer depois da consa.gra·ç ão?
E' de notar que numa coisa qualquer devemos
distinguir os acidentes e a substância. Os acidentes,
são os elementos variáVteis da ~oisa; a substância
é o elemento invariável e faz ·c om· que a mesma::
seja, o que é e não outra. Por exemplo: tenho aqui
um pão crú. Mando cozê-lo; é ·ainda o mesmo pão?.
Quanto à substância é, somente mudaram· a côr ·e o.
sabor. - Parto êste pão. Em cada uma das partes
em que o dividi, tenho sempre o mesmo pão? Te-.
nho. E então, são a mesma coisa um pão inteiro
uma metade, uma migalha? São a mes:mB. coisa
quanto à substância, não o são em relação ·à · quâ-
tidade.- O~tro exemplo: Eu sou sempre o mesmo
que há 30 a,nos atrás. E entretanto se alguém
comparasse a minha pessoa com um retrato que
naquele t€mpo ma,ndei tirar, diria· que ~quele não

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86 FR~ DAMIAO DE BOZZANO

é o meu retrato, pois nele apareço menor, imberbe,


eem cabelos brancos, mais agil, menos feio do que
agora. Que mudou em mim? Mudaram os aciden-
tes, mas a substância permaneceu a mesma, por
isso sou o mesm.o pobrezinho que há 30 a,nos a trás.
Daí se pode compreender que os nossos sentidos
percebem apenas os acidentes e não a substância
de uma coisa. Ora, por fôrça das palavras da cansa-
sagração a substância do pão e do vinho se conver-
tem na substância do Corpo e do Sangue de Jesus
Cristo e permanecem os acidentes do pão e do vi-
nho; isto é, a côr, o sabor, a quantidade, a q;u~­
da,de. Eis porque ·t anto antes como depois da con-
sagração não percebemos nenhuma mudança no pão
e no vinho.
- Como se poqe afirmar que o Corpo de Jesus,
que está no céu, ao mesmo tempo se acha em tôdas
as hóstias do mundo? Então ltle tem tantos corpos
quantas são as hóstias consagrajd as?
Não.- Jesus tem1 um só Corpo. Não é o Corpo
de Jesus qtie se multiplica, e sim as hóstias que
contêm êste corpo divino. E' um mistério êste,
uma verdade que não se pode compreeder. Podemos
porém, encontrar em a natureza comparações ·que
nos dão uma pálida idéia disto.
Pronuncio uma, palavra diante de um grande
auditório e todos os ouvinles recebem inteira esta
palavra, 'e se a pronunciasse ante o microfone de
uma potente difusora. poderia ~r ouvida em tôdas
as partes do mundo.
Desta maneira a minlia palavra, pronunciada

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EM DEP!8A DA n

wna única vez, se acharia ao mesmo temp


1e em tôda.s as partes do mundo.
E Jesus, que é Deus, não poderá fazer com
o seu Corpo se ache presente em tôdas as hó.sti
consagradas no mundo?
Não, repito-o, não podemos compreender seme-
lhante portento, mas Jesus Cristo o afirmou. Por
isso curvemoa a fronte e dijpmlOa: Senhor, eu ereio.

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A COMUNHÃO SOB AS DUAS ESPÉCIES

COMUNHÃO sob as dua,s espécies· não é ne-


cessária para os simples fiéis.
A existência dês te preceito não se pode prova~
nem pela Sagrada Escritura nem pela Tradição.
Não se pode provar pela Sagrada Escritura.
Com efeito, examinemos os textos que se po-
dem alegar em favor da sentença contrária.
Jesus disse: «Se não comerdes a. carne do· Filho
do ho.m.e m e não beberdes o seu Sangue, não tereis
a vida em vós».
Estas palavras, como todos o reconhecem, con-
tém um yerdadeiro preceito de Nosso Senhor, pelo
qual impõe a todos comerem a sua carne e beberem
o seu sangue.
Logo também os leigos: têm que tomar o viÍlho
consagrado. '
Resp. - Efetivamente Nosso Senhor a,q ui im-
põe a 'todos b-eberem o seu sangue, mas não diz de
que maneira deve ser bebido.
Ora, o sangue de Nosso Senhor se acha também
sob as espécies do pão, visto que o corpo de Jesus, .
que se acha no pão consagrado, é um corpo vivo, e
um corpo vivo não está separado do sangue.

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EM DEFESA DA Fll

Logo, cumprimos o preceito de Jesus, 1n smo


recebendo sômente o pão consa,grado.
-Jesus disse, consagrando o vinho: «Bebci dis-
to todos». Portanto também os leigos devem beber
do cálice.
Resp. - Estas palavras foram dirigidas única-
mente àqueles ·a quem l~go depois disse: «Fazei isto
em memória de mim», e dava assilrn o poder de con-
sagrar 3. SSma. Eucaristiaft
Ora, êste poder foi dado sômente aos Apóstolos
e aos seus suceessores no sacerdócio.
Portanto o preceito de beber do cálice foi im-
posto apenas· a.os sacerdotes, quando consagram a
SSma. Eucaristia., isto é, quando celebram a Santa
Missa:.
- Quando Jesus consagrou o pão, não disse:
«Comei disto todos»; mas só acrescentou estas pa-
lavras para o cruice. Não foi, · porventura, para
condenar a,ntecipadamente a: negação do cálice aos
simples fiéis?
Resp. - Quando Jesus deu o pão, não era pre- r

ciso que acrescentasse: - Comei disto todos- por-


que ~le mesmo fez as partes e a cada Apóstolo deu
uma parte, como atesta o Evangelho.
Ma,s quando se tratou do cálice, a coisa era di-
versa, porque consagrou sômente um cálice e queria
que todos bebessem do conteúdo daquele cálice. Era,
pois, I?reciso, que acrescentasse: «bebei disto todos~
e queria, com isto dizer: «Cada um de vós beba mna
porção do conteúdo dêste cálice, de modo que chegue
para todos».

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l'R':! DAMIÃO DB BOZZANO


!Não somente pela Escritura não se pode provar
a existência. de um preceito, que imponha a todos os
fiéis beberem do cálice, mas também por ela se po-
de provar que êste preceito não existe.
Com efeito, Jesus diz: «Quem comer dêste pão,
viverâ eternamente~. (Jo. 6, 59); isto é, promete a
vida eterna tam.b ém aos que comerem apenas o pão
consagrado.
Ora, se houvesse um preceito para todos, impon-
do beberem também do câlice, não teria. certamente
feito esta promessa pois quem transgride mesmo um
só preceito de Jesus, não pode esperar a vida eterna.
Portanto é claro que êste preceito não existe.
O que é confirmado também pelas palavras de
São Paulo: «Quem come dêste pão ou bebe o cálice
do Senhor indignamente, é réu do Corpo e do Sangue
do Senhor». (I Cor. 11, 27).
De fato, se o Apóstolo tivesse julgado necessá-
rio que os fiéis comungassem sob as duas espécies,
teria dito: «Quem' comer dêste pão e beb~ o cálice
do Senhor indignamente, é réu do corpo e do sangue
do Senhor»: mas, pelo contrârio, disse: .:Quem come
dês te pão ou bebe o cálice do Senhor indignamente ...
Por conseguinte, assim como a: recepção indigna
de uma espécie é suficiente para a. condenação, assim
ambém a recepção digna de uma só espécie basta
para a salvação.
Como acabamos de ver pela Sagra,d a Escritura
aão se pode provar a erist@ncia de UlllJJ preceito que

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nt DEFESA DA ft

imponha a todos beberem também o cálice, mas


fea pelo contrário o oposto se pode provar.
- Mas ao menos pela Tradição se pode prova
a. existência dêste preceito, isto é, pela praxe da
Igreja antiga.
Não. A Igreja, desde os primeiros tempos, nun-
ca pensou que existisse êste preceito, pois, se a co-
munhão, nos primeiros séculos, era dada ordinà-·
riamente sob as· duas espécies, nem por isso, se·
desconhecia o costume de dá-la sob uma só espécie..
Assim, por exemplo, refere Eusébio, (Hist. liv.
6, cap. 44) que, estando para morrer o abade Sera-
pião, S. Dionisio de Alexandria lhe enviou, por um·
dos seus sacerdotes·, a sagrada Comunhão sob as es-
pécies do pão, mandando-lhe que a desse ao mori-
bundo, humedecida em água. Do mesmo conta, S.
Paulino, biógrafo de Sto. Ambrósio, que Sto. Ho-
. norato, bispo de Vercelli, levou a· Sto. Ambrósio,.
o Corpo do Senhor, o que apenas feito, expirou (]
Santo. - Também as crianças comungavam na an-
tiga Igreja. sob uma das duas espécies. Assim refere
Nicéforo (Hist. Eccl. liv. 3, cap. 7). E em temp&
de perseguição, como atesta Tertuliano (De Uxo-
ribus liv. 2, cap. 5) os fiéis levavam consigo o pão
consagrado para comungarem antes do martfrio.
Mas, -dirá alguém', o papa, Gelásio não ordenou
a todos os católicos que recebessem a comunhão sob
as espécies do vinho?
Sim. Mas não porque julgasse ser isto obrig 1(, .
rio por preceito de Nosso Senhor. ltle d u (\ 1,
ordem com o fim de descobrir os maniqu us, q

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'92 FRE DAMIÃO DE BOZZANO

eon~ideravam o vinho ~orno criatura do demônio.


&ses herejes, ocultando os seus princípios aproxi-
?Jlava,m.-se, com os católicos, da Santa Comunhão.
Então o Papa ord nou que se desse a Comunhão
aos fiéis sob a duas ~HpCci s do pão e do vinho, su-
pondo que, pm· fssc nwio, impeiliria os herejes de
profanar m a SSu1n. ..,.\1 arjstia.
}'i'j a, po i:, Jwovrulo qn · nüo existe preceito al-
gurn <1a, pnrl<' dt No. so SN1hor, que imponha aos
simpl<s fi'is h b 1·1n cálice. Por conseguinte a
r jn ({ 1n lill< l'dnd d cone d "-lo ou de negá-lo, con-
form j t1lgnr oportuuo.
Os motivos que levaram a Igreja a proibir o
uso do cálice, são os seguintes:
Evitar o den·am.amento do vinho consagrado, .o
que, ~liás, seria qu.a,se inevitável na .comunhão de
pessoas já muito idosas, trêmulas, nervosas, doentes
·e mui to jovens.
Para afastar o perigo de contágio, que amea-
çava, se· todos indistintamente devessem beber do
mesmo cálíce.
Para facilita;r a Comunhão aos abstêmios e aos
que por graves motivos sentissem repugnância d~
participar com outros do mesmo cálice.
Para' facilitar a Comunhão aos doentes, que,
< liús muitas vezes não poderiam comungar, por

ansa da dificuldade de conservar ou de lhes levar


n vinho consagrado.
1 nrn, prover as dificuldades de se encontrar vi-
l I 10 ' m nJ1uns lugares e não onerar com despesas
t1p(·t·fhlnM pnrôquias muito pobres.

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EM DEFESA DA ~

Pos êstes motivos e outros ainda, que cnwu IH


catecismo romano, a: Igreja julgou oportuno supri-
mir o cálice aos simples fiéis e também aos clérigo
quando não celebra;m.
Mas ninguém afirme que, com isto, transgre-
diu um preceito de Nosso Senhor; pois, assim como.
provei acima, êste preceito não existe.

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xm i '

O SANTO SACRIFíCIO DA MISSA

SANTíSSIMA Eucari5tia não é somente u


A Sacrüício,
sacramento, mas também um sacrifício.
em geral, ·a oferta de alguma, coisa
é
a Deus, com a destruição da mesma, para boQ.rá-Lo
e adorá-Lo .como Senhor supremo.
Houve desde o com"' . o do mundo sacrifícios e o
Antigo Testan1ento nos mostra que êles foram rigo-
rosamente ordenados por Deus.
ltstes sa,crifícios, porém, deviam ser abolidos,
porque não passavam de figuras do verdadeiro sa-
crifício da Nova Lei, tanto assim que Daniel pre-
disse o fim' dos mesmos com bastante clareza.
( c.IX, v. · 26-27 ) .
O sacrifício da Nova Lei é o do próprio Jesus
Cristo no pa,tíbulo da cruz. E quanto a isso não
há divergência -aiguma entre católicos e protestantes.
A divergência consiste nisto que nós católicos
sustentamos que êste sacrificio é comemorado, re-
presentado, reproduzido na Santa Missa, e que, por
I

isso mesmo, a Santa, Missa, é um verdadeiro e pró-


prio sacrifício, o que de nenhuma forma admitem
os protestantes.
Quem é que tem a razão? Consultemos a Bíblia.

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--------------~EM~~D~En~SA~D~A~ft~----------~=-= 9

Ela nos demonstra que a Santa Mis \ é u


verdadeiro e próprio sacrifício.
No SI. 109 lemos de Jesus Cristo: «Jurou o S
nhor e não se arrependerá: Tu és sacerdote et rn -
mente segundo a ordem de Melquisedeque».
Um sacerdócio difere de outro sacerdócio em r -
zão de sacrifício; pois, conforme nos diz S. Paulo
no Epístola, aos Hebreus, cap. 5, o sacerdócio é ins-
tituído para oferecer sacrifícios a Deus ..
Se, pois, Jesus Cristo é sa.cerdote segundo a
ordem de Melquisedeque, resulta que deve oferecer
um sacrifício semelhante ao que oferecia Melquise-
deque. Ora, lemos no Gênesis ( 16, 18) que o sacri-
fício de Melquisedeque consistia em oferecer pão e
vinho. Portanto Jesus Cristo devia. oferecer o seu
sacrifício sob as espécies do pão e do vinho. O que se
realiza na santa Missa. Logo . a Missa é um verda-
deira sacrifício.
Em Malaquias (1, 10) lemos: «Quem há en-
tre vós que feche as portas e a,cenda o lume do meu
altar gratuitamente? O meu afeto não está em vós~
diz o Senhor dos exércitos, nem eu receberei algum
donativo da vossa mão. Porque desde o nascente
do sol até o poente é o meu nome grande entre as
gentes e em todo lugar se sacrifica e se oferece en1
meu nome em oblação pura.
O profeta aqui prediz uma oblação, um sacri-
fício que em o N. T. deve substituir os sacrifícios
judáicos e, descrevendo os caracteres, diz: a) que
será oferecido desde o nascimento do sol até o poen-
te, que é como dizer, em tôda a parte; h) entre 'aa

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EM DEFESA DA Fa 79

gentes, isto é, entre povos distintos dos judeus: c) e


que será mundo.
Ora, isto convém somente à Santa Missa,.
Portanto a Santa Missa é um verdadeiro sacrifí-
cio. Vamos explicar o argumento.
Que o profeta fale aqui de um~ sacrifício que será
oferecido em o Novo Testamento, é claro, pois êle
prediz que êsse sa,c rifício substituirá os sacrifícios dos
judeus, que seráo repudiados por Deus; o que não se
deu senão em o Novo Testamento; depois da vind~
de Nosso Senhor.
Igualmente .é elaro que os caracteres dêsse sa-
. crifício convêm à Santa Missa. De fato a Santa Missa
é oferecida em tôda parte, pois em tôda a parte há
.s acerdotes que celebram; é oferecida entre as gentes,
isto é, entre povos distintos dos judeus, pois nós
católicos, que oferecemos a Santa Missa, não perten-
cemos ao povo judáico; e é uma oblação munda,
iSto é, pura e aceita a Deus, pois é o próprio Jesus
Cristo que se oferece a. Si mesmo.
Por fim é claro que êstes caracteres não con-
vem a nenhum outro sacrifício: a) não aos sacrifi-
cios judaicos da antiga Lei, pois, se ofereciam sO-
mente no templo de Jerusalém e ·a lém disso o pro-
feta diz abertam·e nte ·que _deviam ser repudi.a.dos;
b) não aos sacrifícios dos pagãos, pois não eram
puros, nem .a,c eitos a Deus; c) não ao sacrifício da
Cruz, pois foi oferecido num só lugar e entre os
judeus.
Portanto, das duas uma: ou a sa.nta missa é um
.verdadeiro sacrifício, ou o profeta errou, predizendo

'7 - EM DEFESA •••


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9S FRE DAMIÃO DE BOUANO

uma coisa que não havia de ter cumprimento. Quem


pode~ porém, afinnar isto? É, pois, evidente que a
Santa Missa é um verda,deiro e próprio sacrifício.
Tudo isto não é verdade, replicam os protes-
tantes, pois a oblação munda de que fala o profe-
ta, são as preces e as boas obras que em tôda a, par-
te os fiéis oferecem a Deus.
Esta objeção de nada vale, pois, as· preces e
boas obras não constituem um~ sacrificio propria-
mente dito, que é oferta d coisa sensível, com al-
guma. destruição da mesma. f ita legitimamente a
Deus, para demonstrar o . n pl'óprio domínio.
Ora, pelo contrário, o prof tn anuncia um-a obla-
ção que será um verdad iro próprio sacrifício, de
fato a palavra hehr1 icn, - m~nchah - traduzida:
oblação pura - signifi '1 un1 v rd deiro e próprio
sacrifício. Além disso o prof ta fala de um sacri-
ficio, que ainda n:to c. islin, que só começaria a
ser celebrado no t J"npo d . •T sus Cristo; ao passo
que os sacrifício spiri hu is de louvores e de boas
obras, d sd o 01 1ê o <lo mundo, se ofereciam a·
Deus pelos justos.

*
O tere iro nr rrnncnto, para provarmos que a
Santa Missa ' tun V( rd ,d eiro e próprio sacrifício,
nos é oferecido pelas p. lavras com que Nosso Senhor
instituiu a Santa Eucaristia.
Com efeito, rue não disse simplesmente: «Isto é
o meu Corpo, êste é o meu Sangue» e sim «isto é o
meu · Corpo qu€ por vós é dado», a saber: sgor·a

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BM DEFESA DA Fa

mesmo se dá por vós; «êste cálice é o novo Testamen-


to em meu sangue, que é derramado para remissão
dos pecados» a saber: agora mesmo se derrama.
Assim lemos no texto original de Lc. (22, 19-20)"
Ora, dar o Corpo e derra,ma,r o Sangue pela
remissão dos pecados, significa na linguagem da
divina Escritura, oferecê-los em sacrifício.
Logo, Jesus instituindo a SSma.. Eucaristia, ofe-
receu um sacrifício; segue-se, portanto, que a San-
ta Missa é um verdadeiro sacrifício, pois, os sacer-
dotes na Santa Missa fazem o que Jesus fez na úl-
tima Ceia, conforme o mandamento do próprio Je-
sus: «Fazei isto em memória de mim».

*
Enfim o próprio S. Paulo na sua primeira Epís-
tola aos Coríntios ( 10, 16) atesta. que os primeiros
cristãos of crecin11n a Deus o sacrifício da Missa.
Ei o t to: «0 cálice da bênção ao qual ben-
dizem . , n5 comunhão do San u de Cristo?»
O prio qu pnrtitn não n participação do
Corp de .r·sto 'l. . . Con ider i a Israel segundo a_
carnP; n:"í : no pnrti ipant s do altar aqueles que
com m dos s \crifici s?. . . não podeis participar da
mesa do St uhor ·e da mesa do demônio».
O ApóHtolo qu r, por estas palavra.s, afastar os
cristãos d n rem das vitimas oferecidas nos alta-
res dos falso d<'uses dos pagãos. Para êste fim assim
argum nta: Quem come das vítimas oferecidas
nuan a)tar, por isso mesmo participa dêste altar,
~to é, participa do culto que se tributa à divindade,

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lOC FRE DAMIÃO Dl! BOZZANO

sdorada neste .altar. e confirma a sua asserção pelo


exemplo do povo de Israel que, comendo das vítimas
oferecidas no templo de Jerusalém, por isso mesmo
participa.va do culto tributado a Deus nesse templo.
Ora, se isto é verdade, como podeis vós·, que fos-
tes participantes da mesa do Senhor, onde o cálice
que bebemos é :a comunhão do Sangue de Cristo
e o pão que partimos é a participação do Corpo de
Cristo, como podeis, digo, comer das vitimas ofe-
recidas nos altares dos pagãos e, por conseguinte,
pa,rticipar, do culto dos demônios, pois as divindades
dos pagãos são demônios? Não vedes que não podeis
participar dn mesa do Senhor e da mesa dos demô-
nios?
Portanto, segundo São Paulo, os primeiros cris-
tãos tinham, a sim como os judeus e os pagãos,
~m altar em qu sn ·rificavam a, Deus, e a vítima dPs-
te altar era o Corpo . o Sangue de Jesus Crist~
sob as espécies do pfio do vinho, como é evidente
pelo texto; ou por outr . palavras, os primeiros cris-
tãos, assim como nó , I bravam1o santo sacrifício
da Missa.
-I(

A mesma doutrina repete o Apóstolo, quando


na sua Epístola ao li breus (13, 10) diz: <<Nós te-
m.os um altar, do qual não têm faculda.de de comer
os que servem ao tabernáculo, isto é, os judeus.
Qual é êste altar? Não pode ser o da Cruz, p ·s
o Apóstolo aqui fala de um altar, cuja vítima poae
ser comida; e Jesus, a vítima do a)tar do Cruz, não
o pode ser na sua forma natural em que morreu.

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EM DEFESA DA FS 101

Logo é o altar em que oferece a Missa.


-Mas não diz o Apóstolo S. Paulo na sua Epis-
tola aos Hebreus que Jesus Cristo se ofereceu un n
só vez e consumou pa,ra sempre, com esta única. of -
renda, a obra da expiação?
Sim, disse; e por êste motivo não deve ser ofe-
recido outro sacrifício, para completar os méritos
da Redenção.
Mas a Santa Missa não é um sacrifício diferente
do sacrifício da Cruz: é o próprio sacrifício da, Cruz;
nem se oferece para completar os meritos da Reden-
ção, e sim para nos serem aplicados êstes méritos.
Outro argumento com que se pode provar que a
Santa Missa é um sacrifício se deduz da Tra,dição.
Segundo a Tradição o apóstolo Sto. André disse
ao procônsul, que o conjurava' a sacrificar aos ídolos:
«Eu ofereço todos os· dias no alta.r do verdadeiro
Deus onipotente não a carne dos touros, nem o san-
gue dos bodes, mas o Cordeiro Imaculado de Deus;
e quando todo o povo dos fiéis se alimentou com• a
Cnrn consagrada, o Cordeiro que foi oferecido fica
s mpr , in t. to e vivo».
Na snn prim ira, apologia ao Imperador romano,
S. .J n. li no ( t HiO) fez menção das partes do sacrifí-
cio <·ri. luo: lc ilnra e explicação da Sagrada Escri-
tura, ol'cTh do pão e do vinho, transubstanciação
das oft rl11 < Hl ta distribuição a.os fiéis.
~w•nclo o Pnpn S. Xisto era levado ao suplício o
di:'tem o :. I ou1·c nço segui.a,-o, dizendo: «Padr S:t n-
to, <'> . p:t 1'1 i ( r 1· Jnim, vós que todavia nnncn < f<·n~­
. ccst s o ·:mio .'nedfício sem a minha assi t-;ndn :..

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'FRE DAMlÃO DE BOZZANO

Os mais antigos doutores da Igreja falam do


santo sacrifício da Missa.
Sto. Irineu (t202) diz: «0 sacrifício da •n ova
alia,nça é a Ceia; Jesus Cristo instituiu-a não só co-
mo _sacramento, mas também como sacrifício. A
Igreja oferece êste sacrificio e1m todo o Univer~o~.
S. Cipriano, bispo d Cartago ( t 258) escreve:
«.Üs Padres da Igreja of rcccm o sacrifício exata-
mente como Cristo o ofereceu» c a,crescenta: 4Nós
oferecemos todos o dia , no 'pocas de perseguição
e nas de pnz, o tl<•rificio p lo qual preparamos os
fiéis a imolarei -se H o vitimas pelo martírio».
<<Ü único ·a ri f[ i o diz S. Leão I - do Corpo
e do S ngu d C1·islo sub titue todos os outros
sacrifício ».
Todo o. n-f1 ~ cos d( ca,tacumbas provam êste
sacrifício, ns~i n .m 10 os mais antigas liturgias,
isto é, os livr , que n · rran1 as· orações usadas nes-
te sacrifício lS , li ôni s que se deviam observar
pa,ra o · o f<. r . · 1 •
:ttst<- t< si< munho muitos outros, que poderia
alegar, p nso que scjnm suficientes para nos conven-
cenno d <{\1( o cl'i tandade sempre acreditou na.
missa cmn s Tifi ~io .
Que1n prilnch·o negou esta verdade foi Lutero
e êle mesmo diz que foi o diabo que o im,Peliu a;
~~ '
Que pena, pois, é abandonar a doutrina da Igre-
ja, para abraçar UlUa doutrina sugerida. pelo demônio f
Leitor amigo, jamais cometas semelhante estul-
tície.

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XIV

CONFISSÃO - PALAVRAS DA INSTITUIÇÃO


\

CONFISSÃO para quem cometeu faltas gra-


A ves após o batismo, não é facultativa, mas
estritamente necessária, tão necessária que nenhuma
razão nos pode eximir de fazê-la, a não ser que se
torne impossível. E por que? Porque Deus assim o
estabeleceu. Com efeito, não dos homens, mas do
próprio Jesus Cristo teve origem a confissão.
A Sagrada Escritura, a história, e a razão se
unem para demonstrar esta verdade do mais evidente
e incontestável modo. Neste capitulo citarei apenas
as provas escriturísticas.
Abro o Santo Eva,ngelho e encontro em S. João
( cap. 20-21 e seg.) que Jesus, depois da sua ressur-
reição, aparece de improviso diante dos apóstolos,
que estavam reunidos no Cenáculo, por temer~m aos
judeus e lhes augura a paz: «A paz seja convosco»
e depois diz: «Como o Pai me enviou a mim, assim
ta,mbém eu vos envio a vós». Asshn dizendo, soprou
sôb:re êles· e acrescentou: «Recebei o Espírito Santo,
àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão
perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão
retidos».
Ora os protestantes dizem que Nosso Senhor
aqui fala apenas do perdão das ofensas recebidae e

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I IcJoand( (' I I
1••doar', 1110 11
1 n lO I hes pcrdo '' 1 •
Esta interpreta,çfto, pc 1 '" ' th ur<l ' e ridiculu tu 1
que, suponhamos, p >• c• '111plo, qtw alguém 1w
jurie: _ Pe~doando-lhc t•tt p ,. am r ele Jesus L•· I •
talvés Deus lhe pcrd(k, c• 11 ao tiv 1 êle sicernau ·• lc
arrependido? Não, j ô. q\ u 1 &O há pc rdão algu1 1 cI
ante de Deus sem arrct <'ttcliannto. E se eu lhe tw "
o perdão, ainda que m'o ><'1'11 entre l:'tgrimas, porvc·u
tura Deus também l'ho rc c usará? Não, já qu t' f 1
escrito que Deus nunca de. Jlreza o coração ·c ontrito
humilhado. Não é, pois, v<•t da de qu , perdoando c·t
aos meus inimigos, Deus 1a nbém Ih s perdôe, 11 10
lhes perdoando eu, Deus nílo lh€s perdôe.
Ademais, quantas vt>z .. temos que perdoar no
noss-os inimigos as ofensas l'<.cebidas? Não temo. qw·
perdoar sempre? Logo é lnro que no texto cit ,(lo
Jesus não fala do perdão (]n, ofensa. recebidas, poi
deu não somente o pod r de perdo r pecados, ll) 1
igualmente o poder de os r·eter; e s ofensas 1'( <c
bid3~ não se podem reter, iHfo é, não podemos d i. na
de perdoá-las.
Qual pois· o verdad iro . ntido dns paJavrn lH n
nunciadas por Nosso S nluH'? Ei-lo:
Segundo a doutrinn < tlblica, Jesus quís, po1 c
tas palavras dar ao dis<'ip11ln-., e, nek. aos sa rdolc •
o verdadeiro podrr d<" JH't'donr ou · t 1· os Jl('t IICio
cometidos contra, Dcns. De· r ltO, cnvin O, F;("· cli• ('
pulos com o mrsnw podc•t q11c ~lc lanhn n t t' •i( o •I
seu Pai, dizendo llw. C' h,. 1 •wnte: Como < J 11 1 1

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DE BOZZANO

'' 1111 1 111 in a, 1 • "tn também eu vos· envio a vós».


(h' .Jt :-111 LriHtop mesmo como homem, foi en-
' lo c 0111 o pode· de perdoar os pecados; tanto isto
t l'dnd~ que operou um milagre, para provar êste
od •t·. ( ,f. c. 5, 25 e sgs.)
I )oi' tanto, também os discipulos foram enviados
•otn (sl mesmo poder.
AU•rn disso, trata-se de um perdão, cujo autor
pl'indpnl é o Espírito Santo, dizendo Jesus: «Recebei
o I',. pírito Santo», como se quisesse dizer: «0 poder
de• p<•1·cloar os pecados é poder divino; pois bem, re-
' t IH'i êstc poder, recebei o Espírito Santo; àqueles
1 qtwln perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados;

uptdc. a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos».


Ora, o Espírito Santo verdadeiramente perdoa·
o. pecados cometidos oontra Deus.
Logo os discípulos receberarn o poder de conce-
dt ,. êste perdão.
E de resto o próprio bom senso nos diz que assim
1 10 c< ~er interpretadas as paJavras de Jesus. Supo-
•1 '" 1os, por exemplo, que um patrão diga ao seu
ulministrador: «Tôdas as dívidas que perdoardes,
••11 1: Jnb(m as darei por perdoadas; e as que não per-
don nlc. , tão pouco eu as perdoarei». Pergunto eu:
Ir· nda 1inistrador, não por si n1esmo, mas pela fa-
c uldn,dc •·c·er.hida, tem ou não o direito de perdoar as
dt ' tdu <'nntt·ní(las com o seu senhor? Tem, e seria
•ul1c ulo tW t{, lo.
I na h 1n, o pecado é uma dívida contraída para
11111 I >c 11 c• c·orn l' lnc:no a esta dívida, Jesus disse aos
d ' pulo. qn 1< s a quem' perdoardes os peea-

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--------------~RM~~D=E~~S~A~D~A~~=----------===~1•

dos, ser-lhes-ão perdoados, àqueles a quem os t1


verdes, ser-lhes-ão retidos».
E' pois certo que os discípulos receberam os po-
der de perdoar os peca,dos cometidos contra D u .
Somente êles o receberam? Não: Jesus lhes con-
fiou êste poder para que o transmitissem aos seus
sucessores que hão de durar até o fim dos séculos.
De fato, diz S. Paulo (IT Cor. 5, 18) Tôdas as
coisas vêm de Deus que nos reconciliou consigo por
meio de Jesus Cristo e nos deu a nós o ministério
da reconciliação», isto é, o ministério do perdão dos
pecados.
Do texto acima se deduz que Jesus deu o poder
de perdoa,r os pecados e que êste poder não foi co-
municado somente aos Apóstolos, mas também aos
demais sacerdotes, pois S. Paulo não viveu com Jesus.
Além disso, Jesus instituiu os meios de salvação
não somente para os tempos apostólicos, mas para
todos os tempos.
Acaso não pecamos também nós, a,s sim como pe-
cavam os contemporâneos dos Apóstolos?
Portanto o poder de perdoar pecados não de-
via acabar com a morte dos Apóstolos·.
Foi também somente aos Apóstolos que Nosso
Senhor disse: «Ide batizai», «Ide instrui a tôdas a
gentes».
E todos compreendem' que não somente os Após
tolos receberam êstes poderes, mas os receberam pHn
transmiti-los aos seus sucessores. O msmo se diga do
poder de perdoar os pecados; enquanto houver JW .. ..
dores no mundo, sempre haverá na, Igreja êstes p d

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108 'FRE DAMIÃO DE BOZZA.NO

res. E quem são a êste respeito os sucessores dos


Apóstolos? São os sacerdotes, assim como nos atesta
a história de todos os séculos do cristianismo.
Mae - dizem os protestantes, quem pode per-
doar os pecados é somente Deus.
E quem jamais o contestou? Sem· dúvida, quem
pode perdoar uma ofensa é sàmente o ofendido;
se, por exemplo, aJguém me insultar, s·o u eu quem lhe
pode perdoar e não ou trem. Eu, porén1, posso per-
doar de dois modos ao meu inimigo~ por mim mes-
mo, dizendo-lhe: a ofensa que me fizeste, está per-
doada, e posso também me servir de um intermediá-
rio que em meu nome lhe conceda o perdão. Tam-
bém neste caso sou eu quem perdoa, mas por meio
de outrem.
Igualmente se diga em nosso caso: Quem per-
doa, os pecados é somente Deus; ~Ie, porém, pode
perdoá-los por si mesmo e pode também se servir
do ministério de um homem, para fazer as pazes
com o pe~dor e lhe conceder o perdão. E de f a to
aprouve a Nosso Senhor escolher ês te segundo mo-
do, pois, como acabo de demonstrar, confiou aos
homens o poder de perdoar os pecados.
Daí .a, necessidade da confissão; isto é, a neces-
sidade de declararmos os · nossos pecados, afim de
que sejamos perdoados, porque, note-se bem: Jesus
e•nfiou aos seus ministros dois poderes: o de per-
doar os pecados e o de os reter. Portanto êles devem
conhecer quais são os pecados que devem ser per-
doados, e quais os que devem ser retidos.

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EM 109

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XV

A CONFISSÃO - SUA IN TITUIÇÃO DIVINA


PROVADA PELA TRADIÇÃO E PELA RAZÃO

JOÃO no sun prinl(~Íl l •,pistoln diz: «Se con-


S • fessannos o. no
to pa,ru r
OH pt c 1dt,, D us é fiel e jus-
p rdon 1' S( l' 1 O ( M pu• I dos, C nOS purificar
e tôda iniquid t,dt :.. ,(( l<Jll nno diz n quem deve-
mos conf<'.s. ·n· o no. u 1 «' • tdo.; ôn nle apresenta
a coufi. silo <on o ondi H par qu D us seja fiel
em 1nnnf< 1 t Hn·• pt·tn c'SH • d p rdonr. Mas por
um' lnd( t Jn n ulunu lugar do Novo Testamento
l<'tnos qttt .1<-. u. t nhn pron1etido perdoa,r os peca-
doH aos qtu c' onf esarem somente a Deus; e por
outro hdc ·o ~n smo Apóstolo declara no seu Evan-
grlho que J sus prometeu dar ·por perdoados os pe-
cado que perdoassem os seus ministros; pelo que
cumpre dizer que São João fala aqui numa confis-
r-ão feita aos hom€ns e não somente a Deus.
De resto S. Tia,go diz abertamente que a con-
fissão deve ser feita aos homens e não somente a
Deus: Confessai uns aos outros os vossos pecados,
para serdes salvos'>. ( 3, 16 ).
A que classe de homens devemos· confessar os
nossos pecados? Sem dúvida àqueles que receberam· o
poder de perdoá-los, como resulta de outros textos

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-----~"""""~...;.l!;.;...
M~DT: ESA DA Fa 111

.". c ·Hn1 . Por ex., S. Luc nos Atos


no refere que então uma rand mul-
t cluo ele ltc'•t anham aos pés dos Apóstolos, vinham
te o ulc I 1 tm Paulo e Barnabé, para confessa-
c! • 1 u " ·m os seus peca,dos. (Atos 19, 18 ).
t·c•rl , pela própria Sagrada Escritura,
w era praticada pelos- cristãos desde
I< rnpos.
em

t 1 di ina instituição fala, no primeiro sé-


' tanni mo, S. Clemente Romano, que, exor-
' '"' 1 sue Ca,rta, os fiéis de Corinto a recor-
uu. < ricórd.ia divina, dizia-lhes: «Enquanto
c lt tnundo arrependamo-nos de todo o
• t •• o, po•·qu depois da morte não podemos mais
• o nossos pecados, nem fazer penitência».
) I di ina instituição fa)a, no segundo século,
I c tlt I 11 t, CJII assim adverte os que, por vergonha,
I u • .t .. ' <'llsnr faltas graves na confissão: «Se po-
1 1 , onde r os nossos pecados aos homens, tal-
"""· 'gualmente escondê-los aos olhos de
•·•·:'• ma,is conveni~ente, perdermo-nos, por
nn. , os pecados, ou salvarmo-nos, d ela-·
I t• 1 oen. c. 9).
c 1111' ""o segundo século Sto. Irineu, falando
' •nllc ll'., que Marco Gnóstico seduzira, por
lc f allt o. f• feitiçarias, divide-as em três elas-
< : ""' 1 ~ o) laudo ao seio da Igreja ca,tólka, con-
11 1111 c ele s terem deixado levar por um lou-

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lU FRE DAMIÃO DE BOZZANO

co amor ao seu sedutor; outras, não se contentando


com esta confissão secreta, confessavam públicamen-
te o próprio peca,do; havia finalmente outras que,
por vergonha, deixavam de se confessar e se en-
tregavam ao desespêro. ( Ad. haer. 1, 13 ).
No terceiro século, S. Cipriano assim exorta os
pecadores: «Confesse cada um os próprios pecados
durante o tempo da vida presente, em que a confis-
são é a,inda possível, em: que a satisfação e a remis-
são feita pelos sacerdotes ainda é aceita a Deus».
(De lapsis, 29 ).
No s 'culo IV Sto. Ambrósio, dirigindo-se ao pe-
nitente, diz: «Apresenta-te ao sacerdote, mostra-lhe
a tua f rida, fhn d que êle te possa curar. Deus
certa,men t conh · t u mal, mas espera a con-
fissão dêle pcl . lua próprio hoc ». E acrescenta:
<<Não esperes s r a c tsndo; tu t ncu as a ti mes-
mo, não terás outro a u dor l ner, porque a con-
fissão humilde dos pec do , n s li v ·o das nossas
culpa,s». (De Poen. liv. 2, c. 1 ).
No V século Sto. Ago tinho s im se exprime
a respeito da confissão: «Nin u { tn diga: peco em
segrêdo, peco diante de D us; f.:l que conhece o
meu coração, me perdoará.. J sus Cristo disse, pois,
sem ra,zão: o que desligard s n 1 rra, será desligado
no céu? Foram· as· chave d•1dn.s , em fim algum, à
Igreja?» E conclue: «Venhn, pois, o pecador aos sa-
cerdot€s, que receberam o pod r de perdoar e dêles
ac-eite o modo de fazer penil"ncia». (De agone crist.
31, 33 ).
E a êstes testemunhos dos primeiros séculos,

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EM DEFESA DA Fa 113

poderíamos a.cr~centar os <Jutros de S. Leão, papa,


de S. Bernardo, de Sto. Anselmo, como também dos
dos Concílios de Chalon, de Paris, de Mogúncia e che-
gar até ao Papa Inocêncio 111, que os protestantes
querem fa~r crer como inventor da Confissão, só
porque no Concilio de Latrão ordenou que todos os
fiéis dotados de uso da razão, se confessassem, a,o
menos, uma vez cada ano.
- Mas pense como quiser, Lutero - dizia o
mesmo Henrique VITI, ainda que hereje, as provas
são evidentes demais: não por costumes dos povos,
não por instituição de Pontifíces <lU de Padres, e sim
por Deus !eve origem a confissão».
E na realidade podemos, falando com razão, ne-
gar a instituição divina da confissão e sustentar que
foi inventada pelos padres? Não; seria um absurdo,
porque, se tivesse sido inv€ntada pelos padres, poder-
se-ia indicar o seu autor. De fato a história, que re--
gista os nomes dos que fizeram alguma invenção, sem
dúvida nos teria transmitido também o nome daque-
le que inventou a confissão, tanto rna,is que se tra-
tava dum negócio de suma importância. Ora, pelo
contrário, ninguém pode indicá-lo. Logo grande estul-
'ticie é dizer que a confissão foi inventa da pelos pa·-
dres, ao passo que não se sabe indicar o 'seu nome.
Não basta; a ra,zão mostra outrossim que nin-
guém, senão Deus, podia inventar a confissão. De
fato, quem, fora Deus, a teria inventado? Os sim-
ples fiéis? Não; êles nunca teriam imposto a si mes-
. m<Js uma, obrigação que tant9 humilha o orgulho
a - EM DEFESA ••• I'"""'!

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lu
114 FREI DAMIÃO DE BOZZANO

humano e a que muitos hoje também recusam su-


jeitar-se.
Talvez os sacerdotes? Mas· que motivo, pergun-
to eu, que motivo os teria podido induzir a impor
aos outros êste jugo? O interêsse?- Ninguém tem
coragem de afirmá-lo: na Igreja jamais se costu-
mou receber recompensa pa;ra administrar êste sa-
cramento.
O prazer? Belo prazer devéras·, esta r sentado
longas horas no confessionário, para ouvir se1npre
as mesmas misérias human s!
A cu rio id de? Meu D us I u rem sa.ber
os sac rdot . ? J mo vão o n<. do penitente,
quais são os s 1 doli de sun fnmUin? Mas todos sa-
bem que êl nuo s ·n port t cmn tudo isto. ~le não
quer saber n<io . p <, ulo., f"n1 d perdoá-los em
nome de Deu . · ·nrio idnd< tiv . ' induzido os
i'lc.erdotes a in titui ( In 1 <~< nfiss<i nunca teriam
imposto a. si m mos
grêdo de ~udo o qu
até da própria vida.
Mas suponhamo , c <Jni. rd s, que um sacerdo-
te, ou bispo ou padr ,ti v c. tun dia forcejado por
introduzir a confiss-o: n•o t ria podido induzir
os outros a abraçá-la? P ns i <JUC rninguém 'teria re-
clamado, dizendo: - p u t ntas peias para nós?
Por que dificultar-nos, d t· Inaneira, o caminho do
céu? Por que impor-nos um obrigação que os nos-
sos pais desconhecera,m?
E ainda que êsse sac rdote tivesse podido intro-
duzir essa novidade na sua freguezia, na sua: diocese,

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EW DEFESA DA FS llS

com teria podido propagá-la, universalizá-la., de ID()-


do que se sujeitassem a ela simples fiéis, padres bis-
pos, cardia,is, papas, reis, príncipes, imperadores, sá-
bios, como na realida,de se sujeitaram e sujeitam?
Porta.nto, como cada qual pode ver, querer ne-
gar a instituição divina da confissão é querer ir não
so)nente contra a Sagrada Escritura. e a Tradição,
1nas 'também contra a razão e o bom senso.
O pecado é um ato de orgulho contra Deus:
queremos preferir a nossa vontade à própria von-
tade de Deus; e Deus, para conceder-nos o perdão,
exige a humilhação dêsse orgulho. Ora é já uma boa
humilhação ajoelharmo-nos diante de outro homem
como nós; batermos no peito e dizermos: eu cometi
êste peca.do. Eis porque Deus quer a confissão: para
curar o nosso orgulho.

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XVI

EXTREMA UNÇÃO é um Sacramento institui-


A do por Nosso Senhor Jesus Cristo para alívio
espiritual e também corporal dos cristãos gravemente
enfermos.
Chama-se «Extrema Unção», porque é a última
unção que a Igreja subministra ao cristãos depois do
Th\tismo e do Crisma.
O rito da Extrema Unção é descrito por S. Tia-
go nos seguintes termos:
«Adoece algum de vós? Chame os· sacerdotes da
lgrej a, os quais orarão por êle € o ungirão com óleo
em nome ·do Senhor. E a oração cheia de fé sal-
vará o doente; e o Senhor o aliviará; e, se tiver co-
metido pecados, ser-lhes-ão perdoados». (Tia,go, 5,14).
1tste rito é um Sacramento, isto é, um sinal sa-
grado produtivo da graça; instituído por Nosso Se-
nhor.
a) E' um sinal sagrado, pois S. Tiago fala de
prece e de unção que se faz para. aliviar o doente e lhe
perdoar os pecados.
b) É um sinal produtivo da graça, pois S. Tiago
afinna que de fato são perdoados aos doentes os pe-
cados.

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t

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118 FR.EI DAMIÃO DE BOZZANO

c) É um sinaJ instituído por Nosso Senhor, pois


só ~le, por um meio material, pode comunicar a.
graça, qual é a de salvar a ahna, apagando os pe-
cados. - Além disso o Santo não fala dpma e~isa
nova, mas recomenda, um rito já conhecido e pra-
ticado. Se se tratasse de um rito novo teria devido
determinar o modo de administrá-lo e indicar as
orações que se devem recitar. rue tencionou somente
regular um uso pa,cífico, praticado desde os primei-
ros tempos da lgrej a e que não pode ter como au-
tor senão Jesus Cristo.

Tôda a tradição. católica concorda em conside-


rar a Extrema Unção com um Sacramento instituído
por Jesus Cristo. Já na Didaké (documento do I sé-
culo do cristianismo) se ~cena, a êste Sacramento
por estas palavras: «A respeito da unção, dai graças
desta maneira: «Nós Vos agradecemos, Pai nosso,
pela unção. que nos tendes indicado por meio de
Jesus Cristo Vosso Filho; glória a, vós nos séculos.
Amen». - Orígenes (século ill) tratando do capi-
tulo V de S. Tiago, diz abertamente que a Extrema
Unção é um Sacramento.
-S. João Crisóstomo (século IV) fala da mesma
forma na Homilia sôbre o sacerdócio n. 6.
Inocêncio I (século V) na, sua epístola a Decên-
cia, escreve: «Não h!â dúvida que se devam entender,
as palavras de S. Tiago, dos fiéis doentes, a serem
ungidos com o santo óleo do Crisma, preparado pelo

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E'U DEFESA DA ~

Bispo não só para os sacerdotes, mas par.a. todos o


cristãos».
E aqui façamos ponto, reconhecendo que, tatn-
bém a êste respeito os protestantes não seguem a
Bíblia, pois, se a seguissem., admitiriam êste Sacra-
mento, de que fala, S. Tiago.

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I

XVII

ORDEM
ODOS nós, que recebemos o batismo faze-
T mos parte da Igreja. Mas nem todos somos
iguais. Há alguns na lgl'eja que se chamam sacerdotes
e que exercem pod rcs c pcciais, tais como: o de re-
ger os fiéis, pregar o Evangelho, consagra.r a SSma.
Eucaristia, perdoar os pecados.
Pergun la-se: a) Foram êles instituídos por Jesus I

Cristo? h) O rito pelo qual um cristão entra a fazer


parte do sacerdócio, é um Sacramento?
A estas dua,s perguntas temos que responder
afirmativamente.
Eis as provas: I

a) · Jesus Cristo instituiu o sacerdócio católico.


De fato, desde·o começo de sua vida pública cha-
mou alguns discípulos, entre os quais André, João,
Pedro. Felipe, Natana.el, a quem, em seguida, confiou
o ofício de santificar os homens. «Vinrle após mim,
e vos farei pescadores de homens». ( Mt. 1, 19 ).
Pouco depois, tendo passado uma noite inteira
em oração, chamou os discípulos, e €scolheu doze
dentre êles, que também chamou Apóstolos. Eram
ês tes que o seguiam em tôda a. parte e a quem ins·-
truia de maneira tôda especial, tanto assim que lhes
disse certa vez: «A vós foi concedido conhecer o mis-

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l
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1!2 FREI DAMIÃO DE BOZZANO

1ério do reino de Deus, mas aos outros se lhes fala


por pa,rábolas». ( Lc. 9, 10 ).
Somente a êstes, na última ceia, deu o poder
de consagrar {) seu corpo e o seu sangue, dizendo-
lhes: «Fazei isto em memória de mim». (Lc. 22
19). Son1ente a êstes no dia da sua ressurreição deu
o poder de perdoar os pecados. (João 20, 22); so-
mente a êstes deu o poder de pregar o Evangelho, de
receber súditos nn Igrcj.a, por meio do batismo e de
cuidar que as leis divinas fôssem observadas. (Mt.
2818-20).
E note-se, outrossim, que Jesus lhes deu êstes
poderes especiais parn que os transmitissem aos
seus sucessores por isso os apóst<>los tinham cuidado
de deixar no lugares, qu tinham evang lizado, quem
continuasse o seu "ministério. Assim, por exemplo,
lemos de S. ~a.ulo, que constiluia nas várias igrejas
que tinha fundado, . presbiteros, cujo ofício era ~go­
vernar a_Igreja de Deus». (Atos 20, 28 ), «dispensar os
mistérios de Desu» (I Cor. 4) e «Oferecer sacrifíicos
em nome de todo o povo». (Hebr. 5).
Portanto o sacerdócio católico vem de Jesus, pois
. sacerdote é justamente aquele que exerce êstes ofi-
cios na Igreja. ,
b ) O rito pelo qual um cristão entra a fa,zer
parte do sacerdócio, é um sacramento.
Isto se prova especialmente pelas palavras que
S. Pa,ulo dirigiu a Timóteo: «Não desprezes a gra-
ça, que está em ti, que te foi dada, pela profecia~
com a imposição das mãos do presbíterü». (I Ti:m.
4, 14); «Eu te advirto que ressuscites a graÇ3 de

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EM DEFESA DA Fll

Deus, que está em ti pela imposição dus Jnlnh 1


mãos». (li Tim. 1, 6).
Dêsse testemunho se segue, a) que os 1niui
tros da Igreja são constituídos pela imposição d·
mãos, por isso com um &mal sensível; b) por UI 1
sinal sensível produtivo da, graça, pois abertament
se declara que por esta imposição das mãos, comuni-
ca-se a graça; c) por um sinal sensível institui do
por Jesus Cristo. pois só rue pode anexar a graça
a um sinal sensível. E de f a to o Senhor, que já ti-
nha, -escolhido os Apóstolos e de maneira especial
os tinha educado, na última ceia conferiu a()s me&-
mos o poder e a graça de consagrar quando lhes
disse: «Fazei isto em memória de mim»; e, depois
dá ressurreição, o poder e a graça de perdoar os pe-
ca,tlos: <~Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-
lhes-no perdoados; àqueles a quem os retiverdes,
s-er-lhes-ão retidos».
Portanto, o ri to, pelo qual se confere o sacer-
dódo, é um sacramento, visto que por sacramento
se entende «um sinal sellSível produtivo da graça,
instituído por Jesus Cristo»
I Obj. - S. Paulo na sua Epístola aos Gálata,s
(3, 28) diz: «Já não há judeu, nem grego; não há
escravo, nem livre; não há macho, nem fêmea, porque
todos vós sois um em Jesus Cristo~.
Com estas palavras nega o Apóstolo qualqu r
servidão e sujeição entre os fiéis, e por isso qualq1.1 r
supP.rioridade, pela qual um presidem a.os outro
Igreja por direito divino.
Resp. - Destas palavra$ se seauiriam tamh

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FREI DAMIÃO DB BOZ7!ANO

que o Apóstolo nega a diversidade dos· sexos, que é


por condição da na tu reza, o que é absurdo.
~le tenciona apena,s ensinar que essas diferenças
não constituem apenas desigualdades em ordem à
.justificação, salvação, graça, à qual todos são cha-
·mados e da qual ninguém é excluido por ser escra.-
vc. ou fêmea etc.
2 Obj.- A respeito de todos os cristãos foi dito:
«Vós sois a raça escolhida, o sacerdócio real» (I Pe-
dro 2, 9); «E nos fez ser o reino e os sacerdotes
de Deus e seu Pai». ( Apoc. 1, 6 ).
Resp. - N m S. Pedr.o, nem S. João t€ncionam
afirmar que os leigos sejam sacerdotes no sentido
próprio dn pnlnvra. n1ns qn o são m sentido figu-
rado; d f, to, no tm•stLO t to ele S. Prdro os fiéis
também sfio <hn111 I< r is c todos cmnprcen<iem
que sfio nssil c-h un·ulo n H<'n tido figuro do, sem
que s jmn <' rluido c !i V< rclnclc iro r i5. Além disso
~fhma S. P< clro C}ttC ih ris I i os o f recem hóstias
espirituais, isto (·, sncrifi io it propriamente ditos,
eomo s jmn· hmm ohrn , o coração contrito e hu-
milhado; pm tnnlo 1 ão sfio sacerdotes no ~entido
próprio da pnlnvrn.
E por fim esf s coisas se afirmam dos cristãos,
como outrora do povo de Israel (Ex. 19, 6) que era:
chamado reino sacerdotal em sentido figura.do pois
todos sabem que hnvi diferença divinamente esta-
belecida, ~n tre os levitas e o povo em geral.
Portanto tan1bém os cristãos são chamados sacer-
dotes e reis em sentido figurado sem que seja.m ex-
cluídos os verdadeiros sacerdotes e os verdadeiros

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IL

xvm
O SANTO SACRAMENTO DO MATRIMôNIO

NúMEROS são bs abusos que devemos deplorar·


I o nãocomquerer
é
relação ao matrimônio. Um dos principais
considerá-lo como um sacramento ins-
tituído por Nosso Senhor; pelo que não é raro se en-
contrarem uniões ilícitas também entre os ca.tólicos ..
Procurarei combater êste abuso de1nonstrando que
o matrimônio entre os cristãos é um sacramento.
O matrimônio mostra-se sagrado desde a sua. pri-
meira instituição.
Com efeito, é o próprio Deus quem desce ao pa,-·
raíso terrestre e que, comovido à vista da solidão do
I
nosso primeiro pai, exclama: «Não é bom ficar o ho-
mem sozinho; façamos-lhe um adjutório, semelhante
a êlc». E' Deus que, proferida" essas palavras, in-
funde em Adão um sono profundo, durante o qua) lhe
tira do lado urna das costelas e forma a primeira
mulher. E' Deus que acordando o homem, lhe npre-
senta aquela que deverá ser a sua inseparável roxn-
panheira e lhe inspira êste cântico nupcial: Eis aqui
agora o ôsso de meus ossos e a carne de minba t u·ne ..
Esta se chamará Virago, porque de varão foi 1o n ui: .
Por isso deixará o homem a seu pai e a sua n111
unirá a sua mulher e serão dois numa ó · u · >.
E' Deus em suma, que desde o princípio dos lt ·lltJIC,

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126 FREI DAMIÃO DE BOZZANO

-instituiu o matrimônio e, por meio das palavras :ins:-


;piradas a Adão, promulga a sua indissolubilidade.
Em seguida, depois da prevaricação do::1 nossos
·primeiros pais, o matrimônio não ta,rdou a decair da
-sua primitiva santidade, conservando, todavia, o cará-
ter de coisa sagrada, pois, era sempre ao pé dos al-
tares e diante dos sa,oerdotes que os bons iam se casar.
Vindo, porém, Nosso Senhor Jesus Cristo a êste
mundo, não somente reconduziu o matrimônio à sua
primitiva snntidade, mas também o elevou à digni-
dade de sncrnmc to. Eis as provas.
A prim jrn 10s ' oP rC'cidn pelo após tolo S. Pa,u-
lo, que nn suo C'pistoln nos Efé. ios ( 5, 32), falando
dn união do hon1 n1 om u tnulher, diz: :!ste sac.ra-
rnlento é grande, mas eu di o que é grande em J;esus
Cristo e na sua Igreja. isto quer diz r que o matriínô-
nio é, em a Nova Lei de Jesus Cristo e na sua Igreja,
um grande sacramento.
Sei que os protestantes põem a palavra- mis-
tério - em lugar da palavra - sacramento - nesta
paSBagem de S. Paulo; mas dá no mesmo. Com efeito,
'qUe mistério haveria no matrimônio, ~,.e não fôsse
·êle sacramento? Seria: um contrato na,tural como
todos os outros e nada mais. Além disso se o matri-
mônio não fôsse um sacramento, como poderia o
Apóstolo afinn:ar que «é maior em Jesus Cristo e D.fl .
·~ua Igr~ja, do que o era em outras épocas?:.

Cumpre pois, afirmar, mesmo a,dmitindo a tra-


dução protestante, que a Sagrada Escritura nos ensi-
ua que o matrimônio é um sacramento.

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lli FREI DAML\0 DE BOZZANO

A êste testemunho da Biblia faz ~co o de todos


os· séculos do cristianismo. Os protestantes vão dizen-
do que apena.s no século XII se começou a ensinar
na Igreja que o matrimônio é um sacramento. E', po-
rém, uma das muitas calúnias, que êles levantam con-
tra nós. Não, desde o tempo dos apóstolos, os cris-
tãos sempre reconheceram o matrimônio como sa-
cra.m·en to.
Vejamo-lo:

*
Consta que a Ig1·cj n greco-cismática, que se se-
parou da Igreja rom:mn no uno de 870, acredita co-
mo nós, no matrimônio como ~IICTn,mento. Ora, é im-
possível que ela .tenha rcC(~hi<lo rsto crença da Igreja
romana depois da separação, considerada a tenacidade
com que sempre manteve a,s suns tradições e a aver-
são que s-empre mostrou para com os católicos lati-
nos.
Logo, êste acôrdo entre a Igr<'jn Romana e a gre-
ga, com relação ao matrimônio <·omo sacramento, é
anterior à sepa,ração, isto é, nnl 'rior ao século IX.
É igualmente anterior ao século V?
Sim, pois as seitas orientais da Asia: a nestoriana,
a monofisita, a capta e a armrnia,, que se separaram
da Igreja -católica paquele século, sempre acreditaram
e acreditam, como nós, no matrimônio como sacra.-
mento. Ora, isto é uma prova de que m-esmo antes da
separação concordavam neste ponto com a Igreja ca-
tólica. Do contrário, como explicar êste a,côrdo? Tô-

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EM DEFBSA DA Fii Jlll

das aquelas seitas hostis à Igreja romana, dt'(K>is dn


separa,ção por certo nunca teriam recebido desln uma
prática desconhecida.
Para melhor compreensão dêste argumento supo-
nhamos, por exemplo, que a nossa Igreja inventasee
hoje uma nova doutrina e dissesse a todo o mundo
que deveria ser abraçada, como verdade revelada por
Nosso Senhor: abraçá-la-iam, porventura·, os protes-
tantes? Bem longe disso, bradariam alto contra a
Igreja.
O mesmo diga-se em nosso ca,so. Se a nossa Igre-
ja, depois que as seitas orientais dela se separaram,
tivesse inventado que o matrimônio é um sacramento
instituído por Nosso Senhor, estas seitas nunca teriam
abraça,do semelhante doutrina. Se, pois, como nós,
admitem que o matrimônio é um sacramento, quer
isto dizer que esta doutrina já se ensinava a.ntes que
elas se separassem da nossa Igreja, isto é, antes do
século V, época em que se deu a separação.
Ensinou-se também nos quatro primeiros séculos
do cristianismo? Ensinou-se. Disto são testemunhas
os Padres c Doutores da, Igreja.
Sto. Agostinho, que viveu no século IV e parte
do V ( t430 ), no seu livro intitulado - De bono con-
jugü- escreve: «No casamento das nossas mulheres,
a santidade do sacramento é de máxima importância».
E mais ainda.: «Entre as outras nações o grande bem
do casamento consiste na geração dos filhos e na fi-
delidade dos· cônjuges. Ma.s entre os cristãos há, além
de tudo isto, a santidade do sacramento ( cap. 2·1 ).
~-EM DEFBSA .••

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FREI DAMIÃO DB BOZZANO

No século IV~ Sto. Ambrósio assim se exprimia


a respeito do matrimônio: «Há um grande sacramento
na união do homem com a mulher~. (Livro I sôbre
Abraão). E S. Cirilo acrescenta:: «Jesus Cristo san-
tif~cou o ma,trimônio e lhe conferiu uma graça ( com .
.~S. João cap. 2).
No século m Orígenes, no seu com-entário em S.
Ma teus, declara expressamente que o malrimônio é
um sacramento. (I cap. 14).
No século II é S to. Irineu~ quem nos repete a
mesma doutrina, dizendo: «E' preciso meditar muito
sôbre o sacra,mento do matrimônio:.. (Liv. I contra
as heresias).
E note-se êste testemunho de Sto. Irineu tem,
para nós, suma importância, porqu·e foi discípulo de
S. Policarpo, e êss , por sua vez, o foi de S. João
apóstolo; podia, pois, Sto. Irineu conhecer qual 'a
doutrina ensina,da pelos apóstolos a respeito do ma-
trimônio ..
Finahnente no século I - Sto. Inácio, cont·em-
porâneo dos apósl los, na sua epístola a Policarpo
( cap. 5) escreve: «Üs esposos convêm que se unam
por sentença do bispo, afim de as núpcias serem se-
gundo o Senhor e não segundo às paixões».
E', pois, certo que a cristandade sempre conside- .
rou o matrimônio como sa,cramento desde os tempo$
dos apóstolos. Pelo que é preciso concluir que esta
doutrina lhe foi ensinada pelos próprios apóstolos ,
por conseguinte, pelo próprio Jesus Cristo.

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I ., ' { '

, •' I

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llZ FREI DAl.l.l.ÃO DE BOZZANO

E, de l'leSto, que se entende por sacramento? En-


tende-se um sinal sagrado produtivo da graça. Ora,
o matrimônio é um sinal sagrado, pois, no dizer de S.
Paulo (Ef. 5, 24 ), a união do homem com a mulher
representa a união de Jesus Cristo com a sua Igreja.
E~ um sinal produtivo da graça, pois a união de Jesus
com a sua Igrej , não é ap nas uma união de amor
porém, uma u ião d gra. a, por conseguinte, tal há
de ser tambén1 união do homem com a mulher,
isto é, o matrim"ni .
Logo, nada lhe fa)t ndo do que constitue a es-
sência do sacramento, é preciso reconhecê-lo como
tal.
Com muita rázão, pois, o Concilio de Trento
declara que é hereje e excomungado quem se atreve
a negar que o matrimônio é um dos sete sacramentos
institoí(Jos pol" Nosso Senhor.
E agora se me permita. fazer uma aplicação desta
doutrina à vida prática: Se o matrimônio é uma coi- -
sa sagrada, ou melhor um sacramento, a que auto-
ridade deverá estar sujeito? As coisas sagra,das· estão
sujeitas tão somente a Deus e àquela autoridade que
rue constituiu sua legítima representante na terra,
isto é, a Igreja.
Se, pois, o matrimônio é uma coisa sa,grada, ou
melhor, um sacramento, só à Igreja está sujeito, e
só ela pode admiillstrá-lo vàlidamente.
Dai, porém, não se deve concluir que o contrato
civil. não seja licito; pelo contrário, afinno que um

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EM DEFESA DA Fa

católico não somente pode, mas deve também fazê-lo


para assegurar a si mesmo e a seus filhos a proteção
das leis. o que não é licito é o freguinte: fazer somente
o contrato civil e deixar de lado o contrato religioso;
ou fazer hoje o contrato civil e depois de um mês, um
ano, cinco a,nos o contrato religioso, isto sim, não é
lícito; é repudiar a religião de N. S. Jesus· Cristo. O
contrato civil não une as almas, não une os corpos;
une apenas os bens. Um homem pa,ra poder viver ho-
nestamente diante de Deus com uma mulher, tem que
fazer o contrato religioso. Contratando.se apenas no
á vil, peca; não pode esperar a bênção de Deus e, mor-
rendo naquele estado não se salva.
Mas, se pode dizer: não sei porque o casamento
religioso é 'tão importante. Com efeito, é somente
uma fonnalidade exterior. E é também uma: forma,-
lidade exterior .se contratar o casamento diante do
oficial civil. Não é suficiente? ( Cfr. Thiamer Toth ).
Seguramente não: isto não basta. Quem fala des·-
ta ma,neira não tem idéia alguma da essência do ma-
't rimônio cristão.
No matrimônio cristão. dois cristãos se entregam
inteiramente um ao outro sem reserva.
Ora, os cristãos, segundo a fé, quando receberam
o batismo não somente foram mundados do pecado
original, não somente obtiveram a graça sa,ntifican-
te, mas 'também se tomaram membros do corpo ~s­
tico de Jesus Cristo, propriedade de Jesus Cristo. Po ·
isso quando querem contratar casamento e querem
se entregar um ao outro não podem fazê-lo sem
Jesus Cristo. O seu casa)llento não terá validade, se

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Rl!t DAMIAO D'!. BOZZANO

l U111l '·n J sus Cristo não der o seu consenuiDentQ


1o ·, se uüo se· casarem ~ant~ do ·alta~ '·de Jes~s
(: t. to.
I~is porque é ne~essári~ éasar-sé diante da· igreja•.
hfctivam~nte n~q se pode conceber que Um cris-
11 o use abraçar o e~tado ll_la_trimoni~J sem t~r pedi-
elo 1 'ruça de Jesus Crist~, isto é, sem c~s·a! na Igreja.
ui:; viajar? fáze uma pre.c e '- diz um pro.vérb1o;
Vnis por ffiqr? fa~e duas· preces~ Yais c~ar? faze cem
• • · · ,. r · • . . · •
~ •
I> 'C('. S. . . . .
Sin:Í, a.vi~a de f~ília exige ut:n grande sacrif~cio;
<. o lugar do sacrifíc.io é o altar. Só C~isto im~lado
11() o)tar pode ensina:r;- a suportar o s_ a crifício exigido
IH la vida famjliar. Aqui está porque . ~osso S~n~or
dt•n ap matrimônio. a _d ignidade de sacr~ent~; aqúi
<'sI á porque _~le dirige os pr~meiros passo~ dos no~~
vos para ó ~Hár, af~ de gq.e dq altar jorre s9l;>re
N(•s a gráça ;necéssá_ria pa,ra cumprirem os deveres
fH'Úprios _do .estad9 matr4rio~al_. · ·· ·
t

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.· XIX

. INDISSOLUBILIDADE DO MATRIMôNIO
' )

À LUZ DAFÉ

CABAHOS de demonstrar que o matrimqnio


A ·entre os cristãos é sacramento. Agora coll&ide-
remos a sua indissolubilidade. ., : ,
Duas pessoas, desposa,ndo-s·e, contraem um l_iame
que se ·chama laço matrimonial. ~ste laçp ~ômente
pode ser dissolvido pela morte ·de um dos c.ô njuges:
é isto que queremos significar, dizendo que o matri-
mônio é indissolúvel. Opõe-se à indissolubilidade do
matrimônio o divórcio que é a dissoluçã<? do laço ma-
trimonial. :·i
Ouçamos o que a respeito nos· diz· o Evangelho.
A lei de Moisés permitia, em certos cásos, o divórcio
Por isso perguntaram um dia os fariseus a Jesus:
«Tem o homem direito de repudiar sua mulher?>>
Jesus, então, re_spondeu com estas palavras eterna._
mnte memoráveis: «Por causa dà ·dureza dos vossos ,
corações é que Moisés vos permitiu repudiardes vos-
sas mulheres; ·n o comêço não era assim. Que o homem :
não separe aquilo que Deus uniu. Eu, porém, vos ~
declaro que aquele que repudi3r a própria mulher '
e casar com outra, comete adultério». ( Cfr. Mt. 18,9
- Lc. 16, 18 - Me. 10, 3..12 ).
Por essa,s palavras Nosso Senhor declara aberta-

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136 FRBI DAMIA.O DE BOZZANO

mente que um homem que se casa com uma mulher


repudiada pelo espôso, sempre comete adultério.
· Ora, isto já não seria verdade se o laço ma trimo-
nial pudesse ser dissolvido, pois, nesse caso, a repu-
diada poderia muito bem se casa,r com outro homem
e êste não seria adúltero, vivendo com a mesma.
E' pois certo, pela palavra de .lesus, que o laço
matrimonial nunca se pode dissolver.
Sei que os protestaptes opõem estas palavras de
Jesus: <<Todo o homem que repudiar sua mulher, sal-
vo em caso de adultério e casar com outra, comete
adultério». ( Mt. 19, 9 )'. Eis, dizem êles, mais uma vez
a Igreja católica em oposição ao expresso ensinamen-
to de Cristo, porquanto Cristo afirma que o adul-
tério desvincul· u matrimônio; a Igreja pelo contrá-
rio o nega.
Para respond r t s a objeção, é preciso com-
preender o justo significado das palavra,s de Jesus.
Podemos distinguir duns espécies de divórcio: a)
o divórcio·perfeito, p ]o qual o próprio vínculo matri-
monial cessa ese pod contrair u1rn novo rn~trimônio;
b) o divórcio imperfeito, p lo qual, ainda permane-
cendo o vínculo, se dissolve a comunhão de vida e os
esposos já não coabitam no mesmo lar.
Ora, Jesus declarando que o adultério é motivo
suficiente para um homem abandona,r a sua espôsa,
entende falar do .divórcio imperfeito e não do per-
feito; ou por outras palavras a frase, salvo em caso
de adultério ~e deve referir ao que precede e não ao
que se segue, de modo que êste é o sentido: «Todo
o hon1en1 que repudiar sua mulher (o que não é líci-

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EM DEFESA DA PB 137

to a não ser em caso de adultério) e casar com ou-


tra, comete adultério». E' como se alguém dissesse
«Todo aquele que espancar o próprio filho, salvo em
caso d~ grande crime, será punido». Nesta propo-
sição, como é evidente, a frase- salvo em caso de
grande crime - se refere à primeira parte da propo-
sição, e não à segunda, pois nem sequer por grave
crime é licito ao pai tirar a vida ao filho.
E que assim se deva entender esta passagem de
S. Mt. é claro, pois, do contrário, haveria oposição
positiva- em matéria de fé- entre êle ·e os outros
evangelista.s, que declaram, sem exceção alguma, a in-
dissolubilidade do mn trimônio. Ora, essa oposição
não se pode absolutamente admitir, porque, sendo
a Sagrada Escritura a palavra de Deus, Deus se
contradiria. a si próprio. Mas, deixando de parte ês-
te argumento, o próprio contexto de S. Mt. exige a
nossa interpretação; de fato, pouco antes tinha dito
Jesus: «0 homem não separe o que Deus uniu~, que-
rendo com isto significar que o matrimônio na Lei
Nova deveria ser conforme à primitiva instituição em
que em absolutamente indissolúvel. Com que coerên- _ ·
ci~ portanto, teria feito, logo depois, exceção em
caso de adultério?
Não basta. Os apóstolos tendo ouvido as pala-
vras de Jesús, disseram: «Se tal é a condição do ho-
mem com a mulher, não convém casar». Ora esta
adm.irn,ção não teria motivo, s·e êles não tivessem' en-
tendido que Jesus falava de absoluta indissolubili-
dade. Ademais no Velho Testamento o 'adultério era
punido com a morte, pena que foi abolida em a

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133 FREI DAMIAO DE BO.ZZANO

Nova _Lei. Se, pois, Cristo tivesse feito exceção par3j


a indis.solubllidade do matrimônio em caso de adulté-
rio, 'tetia dado mótivo bastante impulsivo a cometê-
. lo ~d~ que desejassem pa sar a novas núpcia,s, por-
que o adultério, enquanto ra isento da pena com
que'.éra' punido no Velho T stnmento, teria sido um
meio para se libertar do vin ulo do matrimônio. Ma.s
quem pode dizer sem lhant oisn de Cristo? É, por-
tanto, indupi táv 1 qu n. 1 i d Jesus o matrimônio
não se pod dissolve por tnotiv algum.
E ef tivm 1 1 I , os apóstolos nssim compreende-
ram. E' o qtu provrun stns pnlavras de S. Paulo:
«A mulh r cnsn<ln .. l:'1 li r:uln no eu marido, en-
l

quanto. "1 viv.<'J'. 1 orhnto '<'. vi v< ndo o marido, des-


posar out o honH'IH, '( · '1 aclúliC'r'l». (Rom. 7, 2-3 ).
·,A úr~ica. co·:n [li<'., J~r<.in p d fazer em· caso
de: aduH~rio on ele uiJ·n rrn V( . cnusn, é permitir a
separaçã.o de con1nnichck c1 vi<ln, o sim como diz
Jesus· em S: Mnt us, rnn. trio l dis,solução do matri-
morup: . o. qu. 01 firmado tmnhém por S. Paulo,
qu_a,hdo diz: «Qunn to n )>( :·H·mns casadas, ordeno não
eu, ~as' o s 'e nhor, qu(• tnulher não se separe do
marido. Se estiver s pnra<ln, dêlc, fique sem casar ou
se reconcilie com u rnnrido. E o marido não deixe
a mulher_».. (! Cor. 7 10).
·E is a lei de D us: 1.1 rn homem que se casa, uma
mulher a que êle s un , cs tão unidos para. a exis-
tênçi~ inteira; para os bons dias· e para ()S maus ins-
tantes; para as horas f lizes 'e pa.ra os momentos in-
I
faustos.

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XX
--- INDISSOLUBILIDADE DO MATRIMôNIO
À LUZ DA RAZÃO

A LEr de Jesus Cristo o matrimônio é indisso-


- lúvêl, e sendo Deus autor dessa lei, é ela, sem
dúvidá, sumam e~ te .sábia e razoável. Basta, porémp
r~flétir uin só _ i ns-tante, para disto nos convencer-
mos.
Supon~e a. possibilidade de se romper o laço Ina-
t:ri~nonial e . á paixão brutal . não terá mais limites
na forn~ação da família. As mais das vezes não se-
'rão· a virtude, a nobreza I
d'a,lma, os dotes do caráter
qúe determinarão a escolha, e sim a beleza, a graça,
ó_.espír~to, . numa palavra, t~do o que é brilhante,
mas infecundo e passageiro. De fato, se no momento·
a
ení 'qu~ . se f~nda . fa~ília, se apresentar à mente
à ·i'déia· da possibilida,de de outro casamento, o .cora-
ção, c};léio de ardores juvenis, estirt:Iulado pelos sen-
tido~, ~rá: «é v_ e rdade, esta beleza que agora me
·a trai,_ é u~a flor que bem depressa fenecerá. Mas·
qué importa. Farei a experiência: se nãc;> me der
·bém; com esta, ·t:nulher, procurarei outra; se não tiver
sorte n~ste casamento, ~ontra,irei outro».
E se o coração, jovem e ardente, assim disser,
qtié~ ~ detérá para con~air Um matrimônio a que
os· sentidos convidam, mas a razão se opõe?

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FREI DAMIÃO DR B02ZANO

Admiti a possibilidade de se romper o laço ma-


trimoni.a,l; sobrevindo doenças, desgraças, dissabores,
tôdas as pessoas de pouca virtude cairão em desâni-
mo, desgôsto; ao passo que muitas outras, não ha-
vendo possibilidade de nutrir a ilusão de encontrar
a felicidade em outras uniões, resistirão e carregarão
·com paciênci~ a sua cruz.
Imaginai a possibilidade de se romper o laço ma-
trimonial; e a condição da mulher tornar-se-á sim-
plesmente espantosa. De fato, ela sabe muito bem
que, uma vez abandonada pelo espôso, não pode ali-
mentar a esperança de novas núpcias, que a possam
consolar, especialmente se já não é jovem, e além
disso não é bela, nem robusta, nem rica; por isso
lhe será a vida continu3)Ilente envenenada pela sus·-
peita de um improviso abandono, e se julgará obri-
gada a sofrer todo e qualquer maltrato, pelo temor
de ser, pelo espôso, lançada fora como um trapo.
Press':lmi ~possibilidade de se romper o laço ma-
trimonial, e que será dos filhos que são o fruto do
matrimônio que se vai dissolver? Interrompida a sua
educação, quando mais precisava continuá-la; ~rre­
batados do convívio de quem mais concorreu para,
lhes dar a vida, levados para uma casa estranha, ex-
postos às antipa,tias, aos rancores de um padrasto ou
um madrasta cruel, não tardarão a sentir o pêso de
sua inf-elicidade e a maldizer o dia em que se toma-
ram filhos de tão ma)vaâos pais. Assim que possam,
subtrair-se-ão a· uma autoridade que os oprime sem
compensação; 'talvés a seu tempo, sigam os funestos
exemplos dos próprios pais, e assim se multiplicará

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EM DEFESA DA Fa 141

a corrução e a discórdia e a sociedade ca,irá em ruína ..


E' por isso que a Igreja, guarda vigilante das leis
divinas e verdadeira mãe dos povos cristãos, sempre
permaneceu inflexível e manteve resolutamente a in-
dissolubilida,de do casamento, mesmo quando previa
que a sua 'atitude lhe custaria um país, como quando
previa que deveria contar com o desprêzo, com a
incompreensão e, não raro, com a perda de inúme-
ros fiéis.
E o Brasil, graça.s a Deus, não introduziu na sua
Constituição o divórcio; condena-o como prejudicial
à sua prosperidade. Contudo, há entre nós, homens
que o adotam na prática e, aborrecendo-se de suas
espôsas, vão ilicitamente se unir a outras. Que horror f
Minha, alma freme quando se me apresentam alguns
dêstes casos. Um dia, de mim se aproximou uma po-
brezinha, coberta de andrajos, com uma criança des-
pida ao colo e dois pequeninos ao lado, pedindo-me
uma esmola,. - Perdôe-me, não ando com dinheiro.
- E ela: - Meu padrmho, peço-lhe ao menos, que
dê um geito para que meu marido volte para minha
companhia. - Onde está êle?- Não sei. Carregou
uma sujeita e foi-se embora com ela., deixando-ill1e
no meio da rua com cinco filhos; dois já morreram
de fome e me ficaram êstes três, que sustento com
as esmolas que me dá o povo.
Fitei-os comovido e não pude conter as lágrimas.
Meu Deus, que responsabilidade para os que a.ssim
procedem!
E que dizer dos que, tendo feito somente o con-
trato religioso com suas espôsas, vão com outras s

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:142 FR'El DAMIÃO D'! BOZZANO

,-.contratar no civil? Podem fazê-lo? Não; o contrato


.,civil deve ser -feito com a mes1na mulher com quem
foi feito o religioso, e não com ou lra. U!n homem ca.-
.s ado no religioso, que abandona sua mulher pa~a se
contratar no civil com outra, vai tira;r um passapor-
t~ para o inferno. Por que? Porque «ninguém pode se-
parar o q"Ue .Deus uniu», e um homem que se con-
1ra,tou no religioso com· uma mulh r, a ela foi unido
·pelo próprio Deus. E' inútil pois, que procure outra
e se apres·e nte ao magistrado civil para dizer: «esta
-é minha espôsa». Sua espôsa? Não, meu amigo; sua
.espôsa é aquela pobrezinha que você deixou no pra,n-
to e na miséria e sua permanecerá até a morte. E~-
1a, com quem agora quer fazer o contra to civil, sabe
que é? E' uma infeliz, de quetn o demônio se s~rve
para arrastá-lo à perdição eterna.
Ma,s, dirá alguém - minha mulher tem uin· ca-
·r áter diferente do meu e a vida com ela se tornou
para n1im demasiado insuportável. Não me posso
.então divorciar?
Não. Era preciso estudar melhor o caráter de sua
-espôsa, antes de se casar. Agora já não há.-remédio.
Min.h a mulher - diz outro - é impaciente,
·descuid ,da, teimosa, caprichosa; ninguém a· pode. to-
lerar. ·
1 on ~o importa, tem que ficar igualmente com
<ela.
"t·mprc desculpei tudo em minha espôsa -
acr<· c c•ula1mt h rc iro - mas agora apareceu uma
·nov•d tt lc : 11 mu C.·rro c não posso de fonna alglllllC

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I
-
f

EM DEFESA DA Fa ...
lhe perdoar essa falta; vou abandoná-la e me contru-
tar no civil com outra.
Não, não pode; nesse caso lhe é permitido viver
separado de sua espôsa, ma.s não pode procurar ou
tra sempre permanecendo intacto o laço matrimonial.
Procurando outra, transgride a lei de D~us e a trae
. 1
sôbre si os seu~ castigos, castigos que não tardarão
a vir como a experiência de cada. dia no-lo €nsina.
Julguei oportuno dizer tudo isto para refutar
certas idéias errôneas que circula.m por .aí além. E
para fechar a porta a semelhante desordem, penso
que seria conveniente que os cristãos fizessem o
contrato civil logo depois do religioso. ~sse seria
suficiente diante de Deus. Mas visto que o govêrno
não o reconhece como impedimento para firmar
o contrato civil com outra, pessoa, façam os dois
contratos: o religioso e o civil. Desta maneira será
possível casar honestamente diante de Deus e dian-
te dos homens.

I
I

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J

XXI

O CULTO DE DEUS, DOS SANTOS E DAS


IMAGENS

DORAR sigmfica reconhecer a)guém como nos-


so Criador c nosso Soberano Senhor.
Ora, sõxncnte Deus é o Criador, o Soberano Se-
nhoi' de tôdas .a,s coisas.
Logo somente itle deve ser adorado. Mas a fé
nos ensina que em Deus há três pessoas: Padre, Fi-
lho e EspíritO: Santo. Cada uma das pessoas divinas
deve ser adorada? Sem dúvida, pois ca,da uma das
pessoas divinas é Deus.
Deus se adora principalmente com a alma, por-
que é ela quem pode reconhecer a Deus como. Cria-
dor e -Soberano Senhor. E a alma, O adora, fazendo
os atos de Fé, de Esperança e de Caridade: pela Fé
O reconhece como suma Verdade, pela esperança
como Sumo Bem, que nos pode tornar plenamente
felizes, pela ca;ridade como Sumo Bem, que merece
ser an1ado acima de tôdas as coisas.
Deus, porém, deve ser adorado também exterior-
mente coan o corpo, porque dependemos de Deus,
também quanto ao corpo. E adoramos a Deus exte-
riormente com o corpo, ajoelhando-nos, iclinando
a fronte, rezando, recebendo ps sacramentos, ofere-
cendo-lhe a santa missa, fazendo votos.

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li

----------------~EM~=DB~SA DA ~

Note-se, todavia, que todos êstes a,tos exteriores


de religião, a não ser a santa missa e o voto, não são
por si mesmos atos de adoração: só se tornam atos de
adoração pela intenção com que os acompanhamos.
Eu, por exemplo, me ajoelho dia.nte da hóstia con-
sagrada: a minha genuflexão, nesse caso, é um ato
de adoração, porque tenciono com êle reconhecer
aquela hás tia como meu Deus, como meu Criador e
meu Soberano Senhor. Ma.s, se não tiver eu esta in- .
tenção, posso muito bem me ajoelhar também dian-
te de um santo e até mesmo diante de um homem des-
ta terra. Acaso um menino que se ajoelha diante de
seu pai, para pe<;fu perdão de uma desobediência que
cometeu, a.dora a seu pai? Um pobre que se ajoelha
diante de um ricQ, para lhe pedir uma esmola, adora
ao rico? Não. Por isso a genuflexão, '])Or si mesma,
não é wn ato de adoração; tanto assim que Jesus
na parábola do credor inflexível, nos representa o
~u servo, prostra,do a seus pés, pedindo misericórdia.
(:~It. 18, 29 ).


Como acabo de demonstrar, somente Deus deve
ser adorado: os santos e Maria Santíssima, não de-
vem ser adorados. E de fato na Igreja ninguém ja-
mais adorou os santos ou a, Maria, porque mesmo
o mais atrazado católico sabe que os santos e Maria
não são Deus.
Daí, porém, não devemos concluir que os santos
não mereçam honra alguma; merecem por serem ami-
10 - EM DEFESA •••
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l46__________~FR~E~l~D~A~MlÃ~O~D~E~B~O~Z~Z~A~N~O~-----------

gos de Deus. Assim como honra.mos os homens bene-


méritos da pátria, da sociedade, assim também é
justo e conveniente que honremos os homens bene-
méritos da religião, que foram os santos.
O próprio Deus nos dá o exemplo disto. Com
efeito diz Jesus: «Se alguém me servir, será honrado
por meu Pah. ( Jo. 12, 29 ). Ora, os santos serviram
a Jesus, trabalhara.m pela difusão do seu reino. Por-
tanto são honrados pelo Pai Celestial. E se Deus hon-
ra os santos, também nós podemos e devemos hon-
rá-los.
E entre todos os san los qual o que merece maior
honm? E' sem dúvida nlguma a Virgem SSma..: na
côrte de um prírcipe é mais honrada a mãe do que
os srrvos. Or·n Mnda no céu é n Mãe de Deus. Portan-
to Mnria merece ser honrada mais do que todos os
sa.ntos.
E Deus é o primeiro n fazê-lo. Com efeito, depois
da queda de Adiio o Onipotente A honrou, designan-
do-A qtiatro mil anos antes, como a mulher, cujo Fi-
lho devia esmagar a cnheça da serpente infernal.
Em Isaí.n.s ( 8, 11 ), Ela é ainda o objeto de uma
profecia, e os lúhios sagrados do Profeta do Senhor
proclamaram a sua virgindade: virtude que em tô-
dos os tempos foi considerada como digna das mais
elevadas honra,s.
E, quando se completaram os tempos, vemo-la
escolhida entre tôdas as filhas de Eva, para ser a
Mãe de Jesus. Esta escolha foi feita pela adorável
Trinda,de e lhe foi enviada a mensagem por um ar-
canjo, que assim lhe falou em nome de Deus: «Eu

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vos saúdo, cheia de graça! O Senhor é convosco, ben-

f
I
dita sois entre as mulheres:..
Que honra para Maria ser assim exaltada por
Deus!. . . E se Deus honra, exaJta a Maria, tamhém
nós podemos e devemos honrá-la. E Jesus deve nis-
. to se comprazer, assim como todo o bom filho se
compraz em ver honrada e exaltada sua mãe.
l
Como consequência lógica do que dissemos acêrca
do culto dos santos, resulta. a legitimidade do culto
das imagens. De fato, quando honramos a uma pes-
soa, naturalmente honramos também a sua imagem,
o seu retrato. Por exemplo: os pais merecem honra,.
por isso honramos também os seus retratos; a pátria
merece hom·a, por isso honramos também o símbolo
da pátria: a bandeira; o chefe da nação merece honra,
por isso honramos também o seu retra lo.
Igualmente se diga em nosso caso: os santos me-
recem honra, por isso merecem igualmente honra
as suas imagens.
Note-se, porém, que essa honra não é absoluta
e sim relativa, isto é, não se refere ao papel, à m~
deira, à pedra, ao metal, de que as imagens são fei-
tas, mas aos santos representados pelas imagens. E'
- como quando tributamos honra ao retrato dos
pais, ou à bandeira nacional: esta honra não se re-
fere ao papel de que são compostos os retratos, nem
à fazenda de que é feita a. bandeira, mas aos pais
e à nação neles repr€sentados.

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148 FREI DAMIÃO DE BOZZANO

O mesmo acontece quando rezamos diante das


imagens e pedimos aos santos que intercedam por
nós: a nossa oração não se refere ao pa,pel, à madeira,
à pedra, ao metal de que são feitas as imagens, e sim
aos santos representados no papel, na madeira, na
pedra,, no metal. Tanto assim que, rezando diante das
imagens, não dizemos: 6 imo m de Jesus Crucifi-
cado, tende piedade d mhn! O' imagem de Maria
SSma ., de S. Pedro, d . Pnul , rogai a Deus por
mim l Dizemos, pelo contrário: O' Jesus Crucificado,
tende piedade de 1nhn 1 O' Muria Sma., ó S. Pedro,
ó S. Paulo, rog i 'U por n iJ I, a sa,ber, ·n ão in-
vocamos o pap I, n m~ dcirn, tt I> dr ... mas os santos
que as imagens repr n t n1.
Aqui, porém, é pr ci r , o1vcr uma objeção, é
esta: Se dirigimos · n o · "io aos. santos repre-
sentados nas imagcn , niio às próprias imagens,
porque então vamos fr q 1 t m nte aos santuários
para faz~r as nos a o 'lC:Õ , ? Por exemplo: em todo
o Nordeste .brasil ir é él hr o Santuário de S.
Fra.ncisco de Canind , ond ch<' gam todos os anos mi-
lhares de peregrinos, pnrn r zar diante da imagem de
S. Francisco, que ali s v n ra. Não é êste~ por .aca-
so, indicio evid nte de qn colocamos a nossa con-
fiança nas próprias imng ns?
Não; certamente não. O motivo das nossas roma-
rias aos santuários não é porque julgamos que as
próprias· imagens nos possam ajudar, mas porque
ali Deus concede graças que não concede em outros
lugares, ou porque naqueles Santuários se conservam
relí~as dos santos, e por isso ali mais fàcilmente

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EM DEFESA DA ~ 149

rezamos· com aquela fé viva, que arran~ de Deus as


graças almejadas.

A estas explicações, porém, os protestantes não


ligam importância alguma, porque a, Bíblia - di~
zem êles- proibe fazer im~gens e prestar culto às
imagens. E alegam principalmente o cap. 20, 2-5 do
~xodo, em que Deus diz: «Eu sou o Senhor, teu
Deus ... Não terás deuses estranhos, diante de mim.
Não farás para ti imagem de escultura, nem figura
alguma do que há em cima do céu, nem em baixo
na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as
adorarás, nem lhes da,rás culto, porque eu sou Jeová
teu Deus».
Eis a resposta:
Se fôsse .proibida tôda e 'qualquer imagem, Deus
estaria em contradição consigo mesmo, pois em ou-
tros lugares da Sagrada Escritura encontramos que
rue m·esmo ma,ndou fazer imagens.
Por exemplo: ordenou a Moisés que fizesse dois
Querubins de ouro e os colocasse no Oráculo, no lu-
gar de culto, sôbre a Arca Santa. (Ex. 25; 18-22).
Foi também por ordem expressa de Deus que
Moisés levantou no deserto uma serpente de bronze,
afim de livrar o povo das picadas das serpentes vene-
nosas. (Num. 21, 8 ). ,
Tra.ta-se aqui de imagens religiosas, porque aque-
les querubins eram figuras dos anjos do céu; e a

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lSO FREI DAMIÃO D~ BOZZANO

~rpente de bronze era figura de Jesus Cristo levrur


tado na cruz.· (Jo. 3, 14).
Tra ta~se de imagens veneradas porque aqueles
quen1bins faziam parte da, Arca Santa, que era objeto
de culto para os hebreus; e a serpente de bronze era
.contemplada pelos hebreus com confiança, para se-
rem sarados. E' verdade que n1ais tarde Moisés ma.n-
dou destruir essa serpente de metal, mas só quando
o povo queria idolatrá-Ia.
E então quais são as imagens proibidas por Deu&
no ~xodo?
Repito, pois, o que acima já disse: Se Deus proi-
bisse tôda e qua)quer imagem prestar culto às ima-
gens, estaria em contradic;ão consigo mesmo, proi-
bindo e mandando fazer o qu proíbe. M~s Deus não
se pode contradizer. por i d vemos concluir que
os protestantes erram, qnnndo afirmam que Deus
proibe tôda e 9ualquer imng m e prestar culto às
imagens.
São as imagens dos deu dos gentios. Naqueles
tempos os pagãos adoravmn o sol, a lua, as estrêlas.
os pássaros, os animais, os homens, os peixes, os cro-
codilos, os· monstros marinhos. A proibição divina
versa sôbre êsses ídolos; por is o o texto sagra,do diz:
«Não farás para ti imagem de escultura, nem figura
alguma do que há em cima do céu, isto é, no firma-
mento: sol, lua, estrêlas; nem em baixo na te.rra, isto .
é, pássaros, a,nimais, homens; nem debaixo da terra,
isto é, peixes, crocodilos, ·m onstros marinhos.
Estas palavras: «Não farás pa,ra ti imagem de
escultura etc .... » não constituem o segundo manda..

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EM DEFESA >.....,
1\., __
Fa_ _ _ _ _ _.._...J 'I

menta, como querem os prot sluntes, mas fa,zem par-


te do primeiro manda,xnento; e o sentido é êste: cEu
sou o Senhor teu Deus ... Não terás outros deuses
diante de mim. E dêstes deuses não farás para ti ima-
gem de escultura, nem figura alguma».
E que seja êste o verdadeiro,sentido das palavras
divinas, pode-se confirmar por outros textos, em
que Deus faJa das imagens e veremos que sempre se
refere às imagens dos deuses dos gentios. Por xem-
plo: no salmo 113 ou segundo a Bíblia protestante,
114, falando dos gentios, diz: «Üs ídolos dêles são
ouro e prata, obra das mãos dos homens~.
Mas acaso as nossas são imagens dos deuses dos
gentios? São imagens de Júpiter, de Diana, de Apolo,
de M-ercúrio, de Venus? ... Não, são imagens de Jesus
Cristo, de Nossa Senhora, dos santos; nem as fazemos
para adorá-la.s. Portanto Deus não proibe absoluta-
mente as nossas imagens. O que rue proihe é fazer
imagens dos deuS€s dos gentios, para adorá-las.
Mas -dizem os protestantes- no texto sagrado
· lemos: «Não farás para ti imagem de escultura, nem
figura alguma do que há em cima no céu .... »
Ora, Jesus Cristo, a Virgem Maria e os santos ~s­
tão no céu. Portanto também são proibidas as ima-
gens de Jesus, da Virgem Maria. e dos santos.
O céu de que fala o texto do ~odo, ·n ão é o cén
habitado por Deus, e sim o céu firmamento, isto é,
o céu onde brilham os astros. Com efeito no Deu-
teronômio em que é repetida a mesma proibição, le-
mos: «Não seja que, levantando os olhos ao céu, ve-
jas o sol, a lua, a,s estrêlas e todos os astros do céu e,

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lSZ FREI DAMIÃO DE BOZZANO

caindo no êrro, adores e dês culto a essas coisas».


(Deut. 4, 19 ).
Alegam também os protestantes contra o culto
das imagens as palavras que lemos em S. João 4, 23
«a hora, vem e agora é, em que os verdadeiros adora-
dores adorarão o Pai em €spírito e verdade».
Estas pala,vras, porén1, n .m por sombra se refe-
rem às imagens. Vendo a S 1naritana que Jesus era
profeta logo lhe propõe n qu tão agitada entre os
judeus e samaritanos: Os nossos pais adoravam
a Deus neste 1nont (in<lic•lndo o monte Garizim,
perto da cidade d Siqncn1 ), Vós dizeis que é neces-
sário adorar n1 .Tcrmmlün. - h Jesus lhe responde:
Mulher, crê-m que u horn, ch ou, m que Deus não
será adorado n Illl ncsl n10nlC', n m .em Jerusalém.
Vós, Samaritanos, . c Tais ·m lação ao culto de
Deus, não só quanto no lugnr que Deus escolheu,
mas também quanto to conhecimento do próprio
Deus e quanto ao 1nodo con que deve ser adora,do.
Nós, pelo contrário, conh c t os quem é Deus e em
que lugar e de que mnn ir d ve ser adorado. Mas a
hora vem e agora , m qu~ os verdadeiros adorado-
res adorarão o Pai :m espirilo c verda,de». (Jo. 19-23).
Com estas últim< s palavras evidentemente pre-
diz Nosso Senhor a cessn~ão do culto figurativo e
carnal dos judeus. - Portanto o verdadeiro sentido
é o seguinte: «Adorarão o Pai em espírito» - isto é,
não com as cerimônias dos judeus qu·e da,v am toda
a importância aos sacrifícios dos animais e às ceri-
mônias externas, e pouco se importavam com os atos
internos virtuosos.

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EM DEFESA DA Fl1 ts

- «E verdade», isto é, não com 11111 culto fal-


so e enganador, qual era o dos Sa,marit~ nos.
Outra objeção que faz-em é esta: - A Bíblia re-
prova abertamente o culto que se presta aos santos
e por conseguinte, reprova também o culto das ima-
gens dos santos. «Temerás a,o Senhor teu Deus e só
a ~le servirás». (Deut. 6, 13 ). <<Sómente a Deus hon-
ra e glória». (I Tim. 1, 17).
Resp. -A Bíblia reserva para Deus sómente o
culto de latria, de adoração, não um culto qualquer.
De fato, no livro do Gênesis ( 27, 29 ), Isaac aben-
çoando a. Jacó, diz: «Sirvam-te povos e nações se cur-
vem a ti». E o Apóstolo, que escreve a Timóteo: «So-
mente a Deus honra e glória» na su~ epístola aos
Romanos (2, 10) diz: «Glória, honra e paz a qualquer
que opera o bem)).
-Mas a;0 menos a Cruz não merece culto algum;
pelo contrário nos deve inspirar horror, assim como
a um filho inspira horror a faca, com que foi assas-
sinado seu pai.
A faca que asasssinou o pai, apenas recorda, ao
filho o crime hediondo que o homicida cometeu, por
isso justamente lhe causa horror. A cruz, pelo contrá-
rio, ·é o instrumento, que livremente escolheu Jesus
Cristo por nosso amor; afim de nos salvar do inferno,
por isso a amamos e veneramos ou, se quiserdes, a.
adoramos, por ser símbolo, figura de Jesus Cristo, ao
qual se refere a nossa adoração. E qu·em a despreza,
deve temer, pois, diz S. Paulo (Filip. 3, 18-19): ~Mui­
tos andam, dos quais muita.s vêzes vos disse, e agora

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H4 FREI DAMIÃO DE BOZZANO
·- - - - - - -
também digo, chorando, que são inimigos da cruz
de Cristo, cujo fim é a perdição.
Como cada qual pode ver, as razões que alegam
os protestantes, de nada valem e assim está prova,do
que Deus não proibe absolutamente fazer imagens
e prestar culto às imagens.
E como o poderia proibir, se êsse culto é tão
proveitoso para as nossas almas? Vendo, por exem-
plo, a imagem do Coração d Jesus, logo nos recorda
aquela imagem o que fez J sus Cristo por nosso amor.
Se, pois, não tivermos um coração de pedra, sere-
mos excitados por I~ a. mnr a Jesus Cristo.
Vendo a imn' m d J u Crucificado, logo nos
lembramos do quanto cu tou n J sus o pecado e o
evitaremos pelo horr r qu nos há de inspirar.
Bem longe de proibi-lo, scmpr o confinnou com
os milagres. Pode aJguém, p r <'mplo, visitar o
Santuário de Canindé e os ex-voto que adornam as
paredes do altar da imagem d . Ji rancisco, que lá
se venera,.lhe atestam qu diant dnquela imagem os
fiéis a)cançaram verdadeiros prodigios .


Finalmente podemos provar pela Sagrada Escri-
tura e pela história que o culto das imagens remou-
ta aos primórdios do cristiani mo.
a) Pela Sagrada Escritura. De fato a sombra que
projeta a nossa pessoa colocando-nos contra o sol, é
uma figura, uma imagem de nós mesmos; e se al-
guém se colocasse deba)xo dela, confiando assim r~

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_ _ _ _ _ _ ___:;:EM=-.D;;;:...E;;:.;FE:.=SA~D....:.;A~PI!=---------::liS·

ceber de Deus algum benefício, tributaria culto reli-


gioso a essa imagem.
Pois bem, jus ta mente isto faziam os primeiros
cristãos com a son1bra de S. Pedro. «Transportavam
os enfermos pa,ra as ruas e os punham em leitos e
camilhas, para que a sombra de Pedro, quando pas-
sasse, cobrisse alguns dêles'>. (Act. 5, 16 ). Portanto-
, a própria Sagrada Escritura atesta que os primeiros
cristãos pra,ticavam o culto das imagens.
h) A história o atesta igualmente. Na verdade,
Eusébio, historiador de grande mérito e renome,"
narra que a mulher do Evangelho, que, havia doze
anos, padecia de um fluxo de sangue, e que foi pro-
digiosamen te cura.da, tocando apenas a orla do ves-
tido de Jesus (Mt. 9, 20-22); em· memória dêste in-
signe benefício Ievan tou ao mesmo divino Salvador·
1, uma estátua de bronze, por êle mesmo, Eusébio, vis-
ta e apreciada, admirada e venerada na imensa, pra-
ça de Cesaréia de Felipe. (liv. 7 hist. ecles. cap. 18 ).
Filostórgio assevera que os cristãos tributa.vam
grande homenagem de honra e ven€ração a dita·
imagem de bronze (livro 7, cap. 6 ).
Sozomeno afirma que essa estátua, foi despeda-
çada por Juliano- o apóstata- não porque despre-
zasse o culto das imagens, mas sim, porque ela re-
presentava Cristo, a quem êle odiava e os cristãos
a)llavam e honravam tanto na referida imagem (Hist..
Ecl. liv. 5, cap. 20 ).
Tertuliano, escritor do século n, atesta que OS·

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156 FREI DAMIÃO DE BOZZANO

cristãos dos primeiros séculos possuiam algumas ima-


gens e costumavam representar Jesus Cristo princi-
palmente sob a figura do bom Pastor. (Livro de pu-
dicitia cap. 7 e 10 ).
E, por último, se entrarmos nas ca,tacumbas·, se
penetrarmos nesses imensos subterrâneos de Roma,
'Onde a Igreja primitiva viveu sepultada por bem 300
anos, para escapar -à perseguição e à morte dos impe-
radores romanos, alí veremos figuras grav.a,das em
cálic-es, nas paredes, nos túmulos dos mártires; en-
conb·aremos a cada passo representada a Virgem
lVIaria com o Menino Jesus nos braços e outras muita,s
imagens, objeto do culto dos antigos cristãos. .
Ora, se a Igreja dos primeiros séculos, que estava
sob a direção dos apóstolos ou dos discípulos dos
apóstolos, possuía imagens ·e tributava culto às ima-
gens, como é que a. nova seita de ontem· vem nos di-
zer hoje que semelhante culto é uma superstição, é
uma idQla tria?
Então,· tantos milhões de cristãos por três longos
-séculos foram todos idólatras?
E todos os santos, que brotaram no seio da Igre-
ja católica e que, sem dúvida, como filhos da Igreja,
pra,ticaram o culto das imagens, foram idólatras?
Idólatra um S. Francisco de Assis? Idólatra um Santo
Antônio? Idólatra um São Luiz de Gonzaga? Idó-
latra uma Santa Teresinha do Menino Jesus?
Portanto agora estão no inferno, porque a, ido-
latria é um pecado gravíssimo contra o primeiro
mandamento da lei divina.

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_ _ _ _ _ _ _ _ EM DEFESA DA Pn 1

Acredite nisto quem quiser, eu JUH 111 111 01


tinuarei a prestar culto às imagens e uo ou la n 111111Hh
de bom grado me resignarei a seguir 1
Fra,ncisco, de Sto. Antônio, de S. Luiz tl
e de S ta. Terezinha do Menino Jesus.

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xxn .
INT l U.CESSÃO DA VIRGEM SSMA. E DOS
SANTOS

óS católicos, a,lém de dirigirmos as nossas


orações a Jesus Cristo, recorren1os também à
nterc(ssão da Virgem Maria e dos Santos. Podemos
fszê-lo!
O protestantes negam. A Igreja, pelo contrário,
.nos rc, ponde que podemos fazê-lo e com muito pro-
veito.
J<..is as provas:
lJn1 justo que mora aqui na terra pode roga,r a
·D eus por nós e alcançar-nos gra\-as. De fato diz Jesus
Cristo: «orai pelos que vos perseguem e caluniam:..
~(Mt. 5, 4t1 ): E S. Tiago nos assegura da eficácia desta
· ora,çfw, f i ln pelos outros, dizendo: «Orai uns pelos
.outro:, porque a oração do justo muito pode~ (Tiago
5, 17). Por isso o após tolo S. Paulo sempre se reco-
·mend tva ns orações dos fiéis e na sua epístola aos
Rom 1110. ( 15, 30) dizia-lhes: «Rogo-vos, irmãos, por
Nosso , 'c·nhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito
·sant ,_ qu .. m. ajudeis com as vossas- ora,ções por
.mim ' Dl'tl •
c,, ''• c• 11m ju. to sôhre a terra pode rogar ·a Deus
por • • ' 1clc• cuc·u•· nos rnçns, muito mais o pode um
justi 11 » ''• lllll nuto. I igo «muito ma,is», porque

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J

160 ______
...;...,:_ ____; - --
FREI DAMIÃO DE -
---- - -------
BOZZANO

um santo no céu está mais unido .a, Deus pelo víncu-


lo do amor, da caridade.
-Mas a Virgem· Maria e os santos não ouvem as
nos~as orações, não conhecem as nossas necessida- (~ :
des- dizem os protestaptes.
Por exemplo: alguém aqui pede uma graça à 11

Vtrirgem Maria, Eoutros, ao mAefs~o tempAo,. pedemAou- J li


as graças na uropa, na nca, na s1a, na us- 11
trália. Como é que Ela, pode ouvir estas orações,
que lhe são dirigida~ de vários pontos da terra? Se-
ria preciso que se achasse. ao mesmo tempo, na Amé-
rica, na Europa, na Africa, na Asia, na Austrállla
e em tôda pa,rte. Ora, em tôda a parte está somente •
Deus.
E' inútil, portanto, recorrermos à intercessão da
Virgem Maria e dos Santos.
Resp. - E' verdade que a Virgem Maria e os
Santos não se acham em tôda parte; mas é absolu-
mente fa}so que Maria e os Santos não ouçam as nos-
sas órações e não conheçam as nossas necessidades,
pois a Bíblia nos ensina que os Santos conhecem os
acontecimentos da terra e conhecem até mesmo os
nossos pensamentos, desejos e afetos.
Os Santos conhecem os acontecimentos da te~
de fato lemos no Apocalipse (2, 26): «Aquele que
vencer e guardar as minhas palavras até o fim, dar-
lhe-ei poder sôbre tôdas as nações e as governa.rá».
Ora, os Santos venceram na luta contra o demô-
nio, contra a carne, contra as paixões e guardara.m
até o fim as palavras divinas.
Logo governam as nações, o mundo. E se gover-

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I

EM DEFESA DA FQ

nam o mundo, é cl.a;ro que conhecem os aconlc.•d• l( n


tos do mundo.
Os Santos conhecem até mesmo os nossos pen t-
mentos, desejos e afetos.
De fato, «os Santos no céu são como os anjos de
Deus» (Mt. 22, 30) «~les são iguais aos anjos». (Lc.
li 20, 36 ).
Ora, os anjos conhecem os nossos pensamentos,
desejos e afetos.
Logo os conhecem também os santos.
E que os anjos conheça;m os nossos pensamentos,
desejos e afetos é claro pelo testemunho do próprio
Jesus ' Cristo, pois, declara que ~há alegria entre os
anjos de Deus, quando um pecador faz penitência».
( Lc. 15, 10 ).
A penitência é um afeto interior da alma ·e o~
anjos o podem ver, porque se regosija;m quandQ um
pecador faz penitência. Portanto vêem o que se .passa
!Ila alma, no coração daquele pecador.
E o mesmo, repito-o, deve-se dizer :relativamente
aos santos, visto que são iguais a,os anjos.
E de que maneira os santos conhecem os acon-
tecimentos da terra e conhecem até mesmo os nos-
sos pensamentos, desejos e afetos?
Em Deus. 1tle é a própria, ciência infinita. Co-
nhecendo-se a si mesmo, conhece tudo: o presente, o
passado, o futuro, ou melhor, não há para 1tle neillj
passado, nem futuro, mas tudo é presente.
Ora, os santos vêem a Deus face a fa,ce diretal"'
mente como é em si. Portanto ern Deus conhecem
of,,. acontecimentos da terra, e conhecem até mesmo

11 - EM DEFESA •••

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162 FREI DAMIAO DE BOZZANO

os nossos pensamentos, desejo e afetos. E conhecen-


do-os, podem muito hem rogar a Deus por nós e
alcança,r-nos graças. ·
E de resto Jesus o afirma claramente, dizendo:
«Grangeai amigos com o dinheiro da iniquidade;
afim de que, quando vierdes a precisar, vos recebam
nos tabernáculos eternos». ( Lc. 16, 9 ).
Quem são êsses amigos? São os sa.ntos, que nos
podem ajudar especialmente no dia da prestação das
contas, que é justamente o dia da nossa morte.
E entre todos os santos quem mais pode é, sem
dúvida, a Virgem SSma. por ser a, Mãe de Deus. Vere-
mos em seguida que lhe convém perfeitamente êste
título. Somente digo aqui que também no céu o con-
serva, pois é preciso notar que a visão beatífica de
Deus faz de todos GS eleitos uma só família de uma
~ó ahna. e de um só coração; mas não são por isto
apagadas as: nobres afeições de pai, de mãe, de es-
pôso, de filho-, de amigo. Deus as gravou no coração
humano · eom a· fôrça da natureza, não a~ destrói
na glória. Oeus que nem sequer destrói os seres ina-
nimados, mas, assim como diz S. Pedro, fará novos
céus e novas terras; muito menos destrói as nobres
afeições da a)ma, que para rue valem muito mais
do que todo o mundo visível.
Portanto, Maria no céu, continua a ser Mãe de
Jesus· Cristo e Jesus Cristo no céu continua a ser
filho obsequioso da Virgem SSma.. Se, pois, Ela lhe
pedir graça·, misericórdia, é impossível que não seja
atendida. Ta,mhém nós, ainda que sejamos tão maus,
por pouco que amemos a nossa mãe, sempre es tu-

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EM DEFESA DA Fa l6S

os dispostos a favorecê-la. Muito mais Jesus Cristo


sempre está disposto a favorecer a. sua Mãe, rue que
é o mais amante dos filhos .


~:Ias então- dizem os protestantes- como se
explicam aqueles textos da Sagrada Escritura, em
que se afirma que «há um só mediador entre Deu~
e os homens, Jesus Cristo?» e que «SÓ há um nome
que foi dndo a,os homens, para se salvarem: o nome
de Jesus?»
E' fàcil responder a essa objeção. Note-se bem:
não s; o dêles, e sim de Jesus. E' Jesus a fonte de tô-
das as graças; é por ~le que o Pai Celestial nos aben-
çôa, e nos salva. Maria e os santos com a sua inter-
cessão fazem com que estas graças mais fàciln1ente
e mais cêdo cheguem a nós.
Posso explicar essa doutrina com uma compara-
ção: Suponhamos que eu tenha necessidade de al-
cançar uma graça do Sr. Governador do Estado. Sei
que é muito bom e que costuma a tender aos p·edidos
de seus súditos.
Mas para alcançar mais fàcilmente a graça, que
I'' faço? No palácio do govêrno tenho um amigo que é
fa.vorecido do Governador. A êle recorro, afim de
que me apresente ao mesmo e· lhe diga uma palavrf..
nha a meu favor. Nesse caso mais fàcilmente alcan-
ço a gra.ça do que se me apresentasse sozinho. E ainda
mais fàcilmente alcançaria a gra~a se n1e apresentas-
se juntnmente com a sua digna 1nãe. Conheço a mÃe

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li
l'REI DAl.fiÃO Dl! BOZZANO

d > Governador, e lhe rogo que se digne interceder


J)Or mim junto a seu filho.
Faço o' pedido, a boa, senhora interpõe também
por mim: «Meu filho - lhe diz - deves conceder
êste favor a êste homem; sou eu que te peço, eu que
te dei a vida~. E que pode o Governador fazer diante
disto? Ainda que não tivesse vontade de conceder
o favor, tem que concedê-lo, diante da súplica daque-
la que lhe deu o ser.
Pois bem, é justamente isto que fazemos, nós
católicos, quando recorremos à intercessã.o da Vir-
gem Maria e dos santos. Sabemos que o único media-
dor entre Deus e os homens é Jesus Cristo; sabemos
que só nos podemos salvar por Jesus Cristo; mas, ou-
trossim sabemos que junto ao trono de Jesus, estão
os sa.n tos, que são sens amigos; sabemos, que junto
ao trono de Jesus está a sua Mãe Santíssima, que
tem um poder imenso sôbre seu coração adorável;
por isso recorremos aos sa,ntos e, sobretudo, à Nossa
Senhora, afim de qu~ interponha a sua intercessão
e nos alcance de Jesus, seu Filho, as graças de que
precisamos e a própria salvação eterna.
Quem ousará afirm.a.r que essa doutrina é con-
trária aos ensinamentos da Bíblia?
Continuemos, pois, a ser devotos de Nosso Se-
nhora e dos santos e invoquemo-los todos os dias
d~ nossa vida.

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XXTII

DIVINA MATERNIDADE DA VffiGEM


SANTíSSIMA

IGREJA nos ensina a dizer no Credo, a respei-


A ·to de Jesus Cristo: «Nasceu de Maria Virgem».
Nestas três palavras estão expressas duas verda-
des muito caras· para nós cristãos: a Maternidade di-
vina de Maria e a sua Pureza. virginal.
Estudemo-las em dois capítulos distintos .


A divina Maternidade da Virgem SSma. pela
primeira vez, foi negada explicitamente por Nestório
e, depois pelos protestantes. E a ra,zão que alegam é
esta: Maria não deu a divindade a Jesus Cristo; deu-
lhe somente a humanidade. Portanto pode ser cha-
mada- Mãe de Cristo-Homem-, mas não- Mãe
de Deus.
A divina Escritura, porém·, e a própria. razão es-
tão contra êles.
I - Antes de tudo a divina Escritura, pois nela
encontramos :J\IIaria, saudada Mãe de Deus.
a ) De fato Isaías (7, 14) diz: «Eis que uma Vir-
gem conceberá e da,rá à luz um filho e o seu nom
erá Emanuel, isto é, Deus conosco».

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166 fREI DAMIÃO DE BOZZANO

Como cada qual pode ver, o profeta aqui diz aber-


tam~n te que o filho, que havia de nascer da Virgem
seria Deus.
Ora, se da Virgem SSma. nas·c eu um Deus, quer
dizer que é Mãe de Deus.
h) N:a, Anunciação disse o Arcanjo· S. Gabriel
à Maria: «0 santo, que nascerá de Ti, será chamado
Filho de Deus».
Ora Jesus ( o Santo que devia nascer da Virgem
SSma.) é Filho de Deus no sentido estrito da pala-
vra, isto é, nn,sc-eu da própria substância de Deua
e é Deus como seu Pai.
Logo Maria é a Mãe de Deus.
c) S. Paulo na sua Epístola aos Romanos (9,5)
diz que Cristo, o qual é Deus bendito sôbre tôdas
as coisas, pertence a08 judeus segundo à carne.
Ora, rue pertence aos judeus, enqun;nto nasceu
da Virgem SSma.
Logo, da Virgem SSma. nasceu Aquele que ê
Deus bendito sôbre tôdas· as coisas e, por conseguinte,
é Mãe de Deus.
d) Sta. Isabel, ch~ia do Espírito Santo, assini
saudou à Maria, quando veio visitá-la,: «Donde me
vem esta dita que a Mãe do meu Senhor me venha
visitar?».
Ora a palavra- Senhor- nesta passagem, in-
dica Deus·. Ist~ se pode deduzir dos versículos 45 e 46,
onde a palavra, - Senhor - é repetida em sentido
verdadeiramente divino, e de todo o capítulo I do
Evangelho de S. Lucas, onde esta palavra tem~
pre sentido exclusivamente divino.

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r EM DEFESA DA Pi1
_ _ __ _ _ _ _167

Logo Santa Isabel, chamando a Virgem SSma.


-Mãe do meu Senhor -não fez outra coisa, senão
chamá-la Mãe de Deus.
ll A razão também está contra Nestório e os
protestantes. De f a to, em Jesus, Filho de Maria, não
há duas pessoas: a divina e a humana; mas só a,
pessoa divina. rue é a segunda pessoa da SSma.
Trindade, que reune substancialmente a na,turez.a
divina e a natureza humana.
Portanto Maria, Mãe daquela pessoa que é, ao
mesmo tempo, Deus e homem, pode e deve ser cha-
mada. Mãe de Deus.
E' verdade que Maria deu apena8 a natureza hu-
mana a Jesus e não a divina.
Mas esta na,tureza humana, que Ela Lhe deu,
pertence a uma pessoa divina.
Por isso com tôda a razão pod~mos e· devemos
dizer que é Mãe de uma pessoa divina., e, por con-
seguinte Mãe de Deus.
Uma senhora que tem um filho que é. padre, é
chamada mãe do padre; outra que tem um filho que
é Prefeito, é chamada mãe do Prefeito, embora não
seja a mãe quem ordena seu filho sacerdote, quem
proclam~ seu filho Prefeito.
Da mesma forma, pois, deve Maria ser chamada
Mãe de Deus, por ter um Filho que é Deus,

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XXIV

VffiGINDADE DE NOSSA SENHORA

PERFEITA virgindad de Nossa Snhora é uma


A
. verdade revelada por D us, definida pela Igre-
ja €m que deve1nos crer, nssim como cremos nos
mistérios da. SSma. Trind d , da Incarnação e nos
dogmas do Credo.
Maria. foi scmpr vir 111 ntes do parto, no par-
to e depois do parto.
Maria foi virgetn ante do parto.
Já Isaías o tinha pu dHo: «Eis que uma virgem
conceberá:. (Isaías 7, ltl) c às palavras do profeta
respondeu a realidade. D fl,to o Evangelho atesta
que o Arcanjo S. Gubri 1 foi enviado por Deus a
uma Virgem desposada com José. E quando lhe pro-
pôs a divina 1naternidad , muito se perturbou e não
a aceitou, senão depois de Ih t r sido assegura,do
que a sua virgindade não teria sofrido detrimento.
Eis a cena tal como a conta o Evangelho: ·
«Como se dará isso- perguntou Maria ao Anjo
-pois não conheço varão?» Respondeu-lhe o Anjo,
dizendo: <<Ü Espírito Sa,nto descerá sôbre Ti e a fôr-
ça do Altíssimo te cobrirá com sombra». Sómente
então Mar~a deu o seu consentimento, dizendo: «Eis
aqui a .escrava do Senhor, faça-se em mim seg!Jndo
a voss~ palavra.». (Lc. 1, 34 e seg. ).

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EM. DEFESA DA PS 16,

Maria foi virgem no parto. Com efeito, Isa,ías


não sõmen te diz que uma virgem conceberá, mas tam-
bém que dará à luz o filho. Oráculo êste que se rea-
lizou €m Maria, conforme atesta S. Mateus.
Nota - Que na profecia de Isaías se tra,ta de
uma pessoa que concebe e dá à luz, sendo e permar
necendo virgem·, é manifesto, pois se trata de um
sinal prodigioso.
Ora, que uma virgem se case e pelas relações
com o seu espôso chegue a ser mãe; não é um caso
nem um sina) prodigioso.
O prodigioso está, portanto, em que essa mãe era
e permanecerá virgemt.
Como do seio da aurora surge resplandecente o
sol; como o raio penetra o cristal sem quebrá-lo; co-
mo a plácida estrêla emite o seu esplendor e a ro~
o seu perfume, conservando todavia a. sua integridade
assim· também do seio de Maria veio o Salvador, sem
absolutamente lesar a sua virgindade.
O próprio bom senso nos diz que o milagre, que
Lhe guardou a virginda~e no dia, da Incarnação, ne-
nhum sentido teria tido, se devesse cessar no momen-
to da na tivida de.


Maria foi virgem depois do parto.
Prova-se pela Sagt:ada Escritura.
Quando o Arcanjo S. Ga,briel anunciou à Maria
que devia conceber e dar à luz um filho, Ela res-
pondeu: «Como se fará isto, se não conheço varão?»
con1 o que lhe quis dizer: -Tenho um ·s ério impe-

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170 FREI DAMIÃO DB BOZZANO

dllnento, que me veda de ser mãe: é a promessa de


perpétua virgindade que fiz, e que jamais deixarei de
cumprir fielmente.
Com efeito, se assim não fôsse porque essa sua
pergunta a,o Arcanjo? Não seria ela descabida, es-
tulta, inépta?
Bem lhe podia retorquir o Arcanjo: - Se atual-
mente o desconheces, ó Maria, logo o conhecerás;
não é José teu espôso?
Portao to, as palavras de Maria: «Não conheço
varão» não significa.m: «atualmente não conheço
varão», mas sim: .:Não m é permitido, não posso
conhecer varão:».
E se Maria fez estn p 01 (\ s , não há quem pos-
sa razoàvelmcnte duvidnt d · qn a tivesse observado
até à morte.
«Que Ma ri s co 11 SC'rvn s s mpre virgem - diz
o próprio prot<'sln,nlc <·m·son - se infere necessà-
riamente do privil{• 1io 1nin nti simo e sem igual de
ser Mãe de D u ; dn h mrn reverência devida a tal ·
Filho e que Mnrin sNnpr Lhe tributou; do respeito
ao Espírito San lo qn d cera sôbre Ela; do poder
do Altíssimo qu (' hriu com a sua sombra. e, fi-
nalmente, da pi d d , ingular do seu ~spôso José:..
(Explicação do Cr do, png. 173 ).


O Evangelho diz: «Estando já Maria, desposada
com José, antes de coa bitarern, se achou ter Ela;
concebido por obra do Espírito Santo» - E <êle
(José) não a conheceu enquanto não deu Ela à luz o
seu primogênito».

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EM DBFBSA DA F~

Logo concluem os protestantes conhi t l ·u


depois; a conheceu depois.
Resp.- No Salmo 109: lemos .:Disse o Senhor
ao meu .Senhor: senta-te à minha direita., até que po-
nha os teus inimigos por escabelo dos teus pés»; po-
der-se-á então deduzir que quando o Pai Celestial
tiver submetido a Jesus Cristo os seus inimigos, rue
(Jesus) deixará de sentar-se à sua direita? Não.
Da mesma fonna, o não ter José coabita,do com·
Maria; o não tê-la conhecido até dar Ela à luz o seu
primogênito, não traz, como consequência necessária,
que coabitas sem depois, que a conhecesse depois. ():
santo Evangelista, na.s passagens alegadas, quís ape-
nas nos dizer o que não se tinha feito.
-S. Mateus e S. João chamam a Jesus primogê-
nito de Maria. Quer isto dizer, portanto, que Ela
teve outros filhos além de Jesus.
Resp. ·_ Na Sagrada Escritura, - primogênito.
se denomina aquele que foi gerado pruneiro, quer
" tenha nascido outro depois dêle ou não. De fato nO'
~odo cap. 34 e Num. c. 18 Deus prescreveu que'
todos os primogênitos Lhe sejam consagrados. Ora:,.
nessa lei a palavra, - primogênito significa sim-
plesmente aquele que primeiro sai do ventre materno,
afim de que, o que antes tinha nascido começas~
o ser primogênito; mas logo depois de um mês devià
ser remido. (Num. 18).
- O Evangelho fala dos irmãos de Jesus· (Mt.
13, 54). Logo Mada ·teve outros filhos aJém de Jesus
Cristo.
Resp. - E' verdade qae o Evangelho fala doe

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1.7Z FitEI DAMIAO Dl! BOZZANO

innão~· de Jesus, mas em lugar algum diz que s-o


filhos de Maria. I
Para a just~ compreensão do citado texto do
Evangelho é preciso nota.r que a Sagrada Escritura I

muitas vêzes emprega a palavra- irmãos- para


-designar parentes em linha colateral. E' assim por
-exemplo, que Abraão chama a Lot seu irmão, embora.
fôsse apenas seu sobrinho (Gen. 13, 14), e Labão
t
-diz a Jacó (seu primo em segundo grau) «acaso,
porque és meu irmão, deves tu me servir de graça?
Dize-me, pois, que paga queres?». ( Gen. 29, 15 ).
Portanto quapdo o Evangelho fala dos irmãos
de Jesus, refere-se aos s€us primos. E tanto é verda-
de que o mesmo Evangelho nos diz o nome do pai
e da mãe dêsses innãos de J€sus.
Com efeito, êstes supostos irmãos, confonne le-
mos· em Mateus (13, 56) são: Tiago, José, Simloi
e Judas Tadeu. Ora Tiago era filho de Alfeu ou Cleo-
fas ( Lc. 6í 15) e sua mãe era Maria, innã da SSma..
Virgem "(João 19, 25 ). Portanto os outros tres tinham
os mesmos· pais; e, por conseguinte, não eram filhos
de 1\laria San tissima.
Além disso Nosso Senhor prestes a morrer, con-
fiou sua Mãe ao Apóstolo S. João; o que, por certo,
não teria feito, se Maria tivesse outros filhos.
Aleguei as razões que nos demonstram a virgin-
dade perpétua de Nossa Eenhora e refutei as em con-
trário. Fica, pois demonstra,do que Maria foi ~cmpre
virgem: virgem antes do parto, no parto e dcpoút
do parto.

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XXV

A IMACULADA

RIANDO Deus os nossos primeiros pais, além


C dos dons da natureza, concedeu-lhes tambétn
outros dons gratúitos e principalmente lhes infundi
a graça san tifica,n te, pela qual se tornaram seus fi-
lhos adotivos e herdeiros do céu. Esta graça deve-
riam êles transmiti-la aos seus herdeiros, mas com
a condição de que se mantivessem fiéis e Lhe obe-
decessem.
Instigados por Satanás desobedeceram e por isso
perdera.m esta graça tanto para si mesmos como pa-
ra nós também. Jesus veio para no-la restituir e para
tal fim derramou todo o seu preciosíssimo sangue.
Note-se, porém, que essa graça não nos é infundida
desde o primeiro instante da nossa existência, mas
somente a,o recebermos o santo batismo. Esta pri-
vação da graça santificante, na qual todos somos con-
cebidos, é justamente o que se chama pecaào ori. .
ginal e que todos contraímos, por sermos filhos d
Adão e Eva.
Criatura alguma foi preserva.da dêste p cado'l
Sim. Dêle foi preservada Nossa Senhora c isto ', o
que queremos significar quando a chaman1os fnwcu ..
lada. Ela não contraiu o pecado origin.t,l <'n i ·ta
dos merecimentos de Jesus seu Filho; 1>< ri llllo, • f

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DEFESA DA Ft
- - - - - - - - -EM 175

quer dizer que desde o primeiro instante da sua exis-


tência foi bela e santa aos olhos de Deus.
Eis o que vou demonstrar e para proceder com
a maior cla,reza possível, dividirei o tema em dois
pontos: 1Q Era conveniente que Deus preservasse Ma-
ria do pecado original: 29 E de fato a preservou.
Sob todo e qualquer aspecto que consideremos
.a Virgem SSma. sempre aparece como sumamentE'.
conveniente a sua Ima,culda Conceição. Estavam as
tr~s pessoas divinas empenhadas en1 conceder a Maria
êste privilégio. Vejamo-lo, começando pela primei-
Desde tôda a eternidade o Pai Celestial predes-
tina).~a Maria a ser Mãe do seu Filho Unigênito, logo
r a .pessoa.
--a vinculava a si de modo em extremo admirável, cha-
mando-a a compartilhar consigo da suprema honra
de gera,r a Jesus Cristo. E nEla já via urn princípio,
um começo de seu Filho humanado; nEla, pois, já
O amava.
E' possível que a consentisse, mesmo por um
único instante, escrava do demônio e manchada de
pecado?
Não, a própria razão se revolta ante semelha.nte
-suposição.
Além disso, predestinando-a o Pai Celestial para
ser Mãe de Jesu& Cristo á associava à sua obra re-
dentora, a,fim de que tivesse na ordem da r pnra-
ção o lugar que teve Eva na ordem da nossa rnin,o,
espiritual: Eva cooperou com Adão para no m rns fru·
à perdição e assim também deveria Marin, coopc rnr 1

com Jesus para nos remir.

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J

175 PREI DAMIÃO DE BOZ2ANO

Mas, pergunto eu, como teria Ela podido, hon-


rosamente cooperar na redenção dos homens se ti-
vesse sido escrava de Satanás?
Eis porque a primeira pessoa, da SSma. Trinda-
de, o Padre Eterno, estava empenhado em preser-
vá-la do pecado original.
A segunda pessoa não o era menos.
De f a to desde tôda a eternidade elegia Maria.
por sua Mãe.
Ora, se a um homem fôra dado escolh€r a pró-
pria mãe, quem ao invés de Rainha, a escolheria es-
cra,va? ou podendo tê-la nobre, a quisesse vil? ou po-
dendo tê-Ia amiga, a quisesse inimiga de Deus'! Nin-
guém; pois a própria natureza nos leva sempre a
desejarmos para nossa mãe todo o bem possível. Por--
tanto o Filho de Deus que pôde ~scolher a própria
Mãe, a, seu bel prazer, sem dúvida a escolheu · tal
qual convinha a um Deus. Mas a um Deus puríssimo,
convinha uma mãe purissima, isenta de tôda culpa.
Fê-la, portanto, puríssimo, isenta de tôda culpa, es-
creve S.- Bernardino de S na,.
Isto melhor ainda se compreenderá, se conside-
rarmos que a honra ou a dcshonra dos pais resulta
em honra ou deshonra dos filhos.
Ora, que deshonra não seria para M.a,ria ter con-
traído o pecado original c por isso mesmo ter sido
escrava de Satanás? Conta-se que o rei Abime!_eque
ao da:r a, liberdade à sua escrava Sara, lhe disse: «es-
tás livre; lembra-te, porém, de que fostes minha es-
crava». Com muito maior razão repetiria Satanás a
Maria, essas palavras humilhantes, se tivesse Ela con-

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---------------~EM~~D~~~S~A~D~A~~~------------177

traído o pecado original: ~Eu vos liberto, mas lem-


, brai-vos de que fostes minha escrava: esmagareis
a minha cabeça, mas não vos esqueça,is de que meu
foi o princípio da vossa existência; minhas foram as
primícias da vossa vida». Palavras deshonrosas pa,ra
~faria! deshonra esta que teria redundado na deshon-
ra do próprio Jesus Cristo. E' possível que ~le permi-
tisse semelhante coisa? Não, absoluta,mente não. De-
via, pois, criar a própria :Mãe isenta do pecado, sem
dependência alguma do demônio, tôda. santa e ima-
culada. E assim de fato a criou. '
Portanto, como se vê, o Filho, assim como o Pai'
Celestial, estava empenhado em preservar a. Maria do
pecado original.
E o Espirito Santo não estava nisto igualmente
empenhado? Reflitamos um pouco. rue deveria com
o sangue da Virgem SSma. pla.smar a humanidade
de Jesus Cristo. Teria, pois, podido permitir que o
demônio profanasse aquele sangue? Possuisse, mesmo
por um só instante, aquele coração, que haveria de es-
colher por seu santuário, seu jardim de delícias?
Não, impossível admiti-lo. Fê-la, pois, Imacu-
la,da, isenta da culpa de origem. «A torrente do pe-
cado - escreve S. Francisco de Sales - se del ve,
assim como se detiveram as águas do J ordão t pn -
sagem dos Israelitas. Diante de Maria retirarmu
águas turvas do peca,do, respeitando e tem ndo
sença do verdadeiro tabernáculo da eterna AI
Tôdas estas razões, porém, demonstram •tJH'HII
veniência que se impunha de ser pr<' ... v • l

12 - EM DEFESA •••
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J
11S FREI D.tUí!ÃO DE BOZZANO

SSma. do pecado original. De fato foi preservada?


Foi. E' testemunho disto a Sagrada Escritura.

Depois que nossos primeiros pais desobedece-


r.a;m e perderam o estado de inocência, Deus os cha-
mou às: contas. Primeiro perguntou a Adão porque
lhe tinha des{)bedecido, e êste se desculpou, acusando
a: Eva. Em seguida perguntando :a esta porque lhe
tinha desobedecido, diss·c-lhe mesma que fôra se-
duzid~ pela serpente. Então pronunciou Deus a sen-
tença contra os trê c quando chegou a vez da ser-
pente, diss : «Por i inimizad entre ti e a mulher, en-
tre a tua posteridade e n dela.. Ela te ~magará a ca-
beça~.
Segundo a interpretação comum dos Padres ~
Doutores da lgr ja, u erpente aqui é o demônio e n:
mulher ~ Ma,ria SSmn.; a semente do demônio é o pe-
cado e a posteridade da Virgem SSma. é Jesus Cristo.
O texto, como se v~, afinna que não somente ha-
verá inimizade entr o demônio e a Virgem SSma.
mas também que esta inimizade perdurará entre a
setnente do demônio e a posteridade da Virgem. Pe-
lo que cumpre afirmar que é a: mesma a inimizade
que existe te111tre Jesus e o demônio e entre Nossa
Senhora e o mesmo. /
Ora, perpétua foi a inimizade entre Jesus Cristo
e o demônio.
O mesmo, pois, devemos afirm~ da inimizade
entr~ a Virgem Maria e o demônio. Por conseguinte,

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EM DEFES.c\ DA FB 179

de..1de o primeiro instante da sua Conceição foi dêle


inimiga, o que é o mesmo que dizer: - foi isenta:
do pecado, visto que só o pecado é pacto de aliança
e amizade com o demônio.
Outra prova, da Imaculada Conceição de Maria
no-la oferecem as palavras que o Arcanjo S. Gabriel
prof-eriu ao lhe anunciar que deveria se tomar Mãe
do Salvador: «Ave, ó cheia de graça, o Senhor é con·
vosco, bendita sois vós entre a.s mulheres:..
Que significam essas palavras?
Um recilliente só está completamente cheio quan-
do já nada mais C{)mporta. Se for possivel a~cionar.
ao seu conteúdo algo a mais, é indício de que ainda;
não está cheio.
Ora, a: Virgem SSma. é chamada cheia de graça
por excelência, como se fôsse êste o seu próprio n~
me. Portanto recebeu de Deus tôdas as graça,s que
a uma criatura é dado conter. E por isso mesmo, tam-
bém ·goi preservada do pecado original.
Aliás, já !Dão seria a cheia: de graça, fa).tando-lhe
pelo menos esta: a preservação do pecado.
A figura dêste privilégio de Maria, que mais
expressiva me parece é a: da rainha Ester.
Tendo esta, rainha entrado para falar com As-
suero sem ser chamada, indo assim, de encontro a
lei inviolável dos Assirios, que decretavà pena de
morte para todos aqueles que sem serem chamados,
chegassem à presença daquele rei, dominada: por ter-
ror incontido diante do extremo rigor da lei, já ~
quase desfalecendo, quando Assuero inclinando o ce-

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180 FREI DAMIÃO DE BOZZANO

tro sôbre ela, disse-lhe: «Não temas Ester, esta lei


obriga a todos, mas não a lh .


A Igreja sempre acreditou nesta verdade: os
sa,ntos Padres e Doutores desde os primeiros séculos
escreveram sôbre a Virgem em ta,is termos que os
seus louvores e as suas declarações exprimem exata-
mente ês te seu singular privilégio. A Igreja o reco-
nheceu, instituindo a festa da lmacula,da Conceição, ·e
animando os fiéis a invocarem a Maria sob êste tí-
tulo. Finalmente Pio IX, aos 8 de dezembro de 1854
proclamava a Imaculda Conceição de Ma.ria, verda-
de e dogma de fé com esta solene definição: «Para
glória da SSma.. Trindade, Padre, Filho e Espírito
Santo; pela autoridade de Jesus Cristo, dos santos
apóstolos Pedro e Paulo e nossa, declaramos, decre-
tamos, definimos ser verdade revelada que a Virgem
SSma. por singular privilégio e graça de Deus, em
vista dos m'erecimentos de Jesus Cristo, Redentor
do gênero humano, desde o primeiro instante da sua·
Conceição foi preservada da culpa original».
Com esta solene definição, com é claro, não
criou o Papa um novo dogma, mas a,penas reconhe-
ceu e declarou ser a Imaculada Conceição de Maria
urna verdade revelada por Deus e universalmente
admitida na, Igreja.
E a palavra do Papa teria sido bastante, para nós

pois sabemos que, quando êle fala como pastor e

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_ _ _ _ _ _ __:EM DEFESA DA Fa 181

mestre supremo dos fiéis e define verdades de fé e


de costumes, é infalível, isto é, não pode errar. Con-
tudo Nossa Senhora, para dos seus filhos ainda mais
confiramar a fé, quis com a sua palavra augusta fa-
zer €co à palavra infalível do Papa.
Na pequenina e pitoresca cidade de Lourdes, ao
sopé dos Pirineus, uma menina de 14 anos, Bernadete
de Soubirous, juntamente com outras companheiras
perambulavam pelos arredores da gruta de Massa-
biel, em busca de lenha. Enqua,nto a inocente criatu-
ra se dispunha a atravessar um cristalino e cantante
regato, eis que se vê envolvida por uma impetuosa
rajada de vento. Atônita., maravilhada volve os olhos
em derredor e vê que o roseira! silvestre, que com
os seus longos ramos despojados de fôlhas adorna-
va a base da gruta, era grandemente agita,do por uma
suave viração.
Enquanto Bernadete extática contemplava oro-
seira! ligeiramente ondulante, eis que se ilumina a.
gruta de uma claridade celestial e envolta naquela
luz deslumbrante resplandece uma beleza incompa-
rável sob a forma de uma. graciosa senhora, reves-
tida de cândida veste, cingida de urna faixa azul ce-
leste, que, suavemente descendo, Lhe aflora os p~
tendo no céu fixo o olhar ca,stissimo e pendente das
mãos postas um niveo rosário.
Verdadeira visão do paraíso! À pergunta de Ber-
na,dete: «Quem sois?» Com voz melodiosa responde
aquela Senhora: «Eu sou a Imaculada Conceição:..
E desde então Lourdes se tornou célebre em to-
. dos os recantos da terra. No sitio em que a Virg m

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18l PR.BI DAMIAO D'! BOZZANO
1

apareceu, ergueu-se uma suntuosa basílica e ali :per&-


grinos de todos os· quadrantes do globo invocam a
Maria sob o título de Imaculada e alcançam as gra-
~ almejadas: os cegos vêem, os mudos falam os
para,liticos andam·, os doentes recuperam a saúde.
Tudo isto é irrefutável testemunho de que a
visão que teve Bernadete, não foi uma simples ilu-
são, mas uma verdadeira aparição de Nossa Senhora,
que por isso é Imaculada como as sua.s próprias pa-
lavras o afirmaram: «Eu sou a Imaculada Conceição».

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I
XVI

O PURGATóRIO

URGATóRIO é o estado, ou antes, o lugar em


P que as almas dos justos, sajdas dêste mundo,
sem terem satisfeito perfeitamente por suas culpas,
acaba,m de expiá-las antes de ser.e m admitidas ao
céu.
- A existência do Purga tório é verdade de fé.
De f a to, 1110 11 livro dos Maca.heus, lemos que
Judas, depois de um renhido combate, em que sucum-
biu uma grande multidão de guerreiros, fez uma cole-
ta e mandou 12 mil dracmas de prata a Jerusalém
para que fôsse oferecido a Deus um sacrifício expia,-
tório pelos pecados dos mortos. Depois de relata do
êste fato, o historiador sagrado acrescenta: <<Portanto
santo e salutar é o pensamento de reza,r pelos defun-
tos, afim de que sejam absolvidos dos seus peca-
dos. (li Mac. 12, 46 ). ·
Esta passagem nos dá o direito de concluir que ·
entre o céu e o inferno há um lugar de .expiação.
Com efeito, as almas que estão no céu não têm neces-
sidade das nossas orações, as que estão no inferno
não podem, pelas mesmas, receber alívio.
Portanto deve haver um. terceiro luga,r, em que
as nossas orações sejam úteis às almas que nele se
encontram, lugar que nós, católicos, chamamos Pur-
. gatório.

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.::.:184:...!,.__ _ _ ___:;_FR;;.;.;BI~D-~O DB BOZZANO

Mas, dizem os protestantes. os dois livros dos


rY1acabeus são apócrifos, não pertencem à divina, Es-
critura».
Quem os declarou apócrifos foram Lutero e Cal-
vino. Mas a Igreja Universal os considerou sempre
como autênticos e divinos e como tais têm sido cita-
dos pelos SS. Padres m is antigos; por isso Sto. Agos- .
tinha pôde dizer: 4A Igreja, de Deus tem reconhecido
sempre os livros d s Macnbeus como livros canôni-
cos, isto é, c mo p rl .nc n t s à divina Escritura».
(Cid. de D us 36).
Contudo, d do c cone dido que êstes dois livros
não sejam divino , o l to nludido decide admiràvel-
mente a favor do Pur nlório; poi mostra claramen
te que o povo judáico cria no Purga tório e que, par{\
sufragar as almas dos tnorto. , não só recorria às
súplicas e orações, m tnmh m of recia sacrifícios
no templo e instituíra parn tst fim ritos solenes; o
que n-o podia, fazer, nã t rio f ito, se isto não ti-
vesse aprendido por divin v l ç"'io.
Mas citemos textos que tntnbém se acham' na
Bíblia proles tante.
No Evangelho de S. Mt. ( cap. 12, 32) Jesus diz:
«Aquele que disser uma p lnvra contra o Filho do
Homem ser-lhe-á perdoado mas ao que fa.lar contra
o Espírito Santo, não lhe s rá perdoado nêm neste
século, nem no futuro».
Pela distinção estabelecida nestas palavras de
Jesus, é evidente que há pecados que são perdoados
Deste século, isto é, neste mundo e outros no outro
mundo.

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EM DEFESA DA Fa

Mas onde serão perdoados? No céu? Nao, pu


lá o pecado não pode entrar. No inferno? Tu o Jn
co, porque aí não há mais perdão nem remissão. <h
de então? Num luga.r diferente do céu e do inf 1 no
e que nós, os católicos chamamos Purga tório.
Ainda no Evangelho de S. Mt. ( 5, 26, 26) Jesu
diz: «Reconcilia-te com o teu adversário ... enquanto
estás no caminho com êle, para que nãó aconteça
que o adversário te entregue ao Juiz e o Juiz te en-
tregue ao ministro e te encerrem na. prisão. Em ver..
dade te digo, que de modo algum sairás daí, enquanto
não pagares até o último ceitil».
Qual esta prisão de onde uma alma só. poderá
sair depois de ter pago o último ceitil?
O céu, não é, pois o céu não é uma prisão.
O inferno também não é, pois ninguém sai do
inferno.
Não é uma, prisão terrena, pois com um advo..
gado, protetor se amigos se retira da cadeia até mes-
mo um criminoso ou, pelo menos, se lhe pode dimi-
nuir a pena.
Qual s rá ntão?
E' o Purga tório, ou lugar de expiação, onde a
alma expia suas falta.s, purifica-se das suas derradei-
ras manchns, antes de entrar no céu.
- S. Paulo na sua IQ. epístola aos Coríntios diz:
«0 fogo provará as obras de cada, homem. Aquele,
cujas obras subsistirem, será recompensado; aquele,
cujas obras forem consumidas, ficará prejudicado,
contudo será salvo, mas pelo fogo». ( ( 3, 13 a 16)
O fogo de que fala aqui o Apóstolo, não pode ser

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186 . FREI DAM.IA.O DE BOZZANO

o que há de abrasàr o mundo antes do último juizo.


porque êsse fogo não provará as obras de quem queJ>
que seja e agirã indiferentemente sôbre os bons e os
maus.
Não pode ser o do inferno porque êsse é eterno,
nem pode salvar.
Logo é o fogo de outro lugar que cb~amos
Purga, tório.
- O mesmo Apóstolo na sua epístola: aos Fili-
penses {2, 10) diz: «Ao nome de Jesus todo o joelho
se dobra no céu, na terra e debaixo da terra». Porl
aqueles que «estão debaixo da terra» designa o Apó~
tolo não os corpos dos finados, mas as ~.S dos
mortos que não se acham no céu. Estas alnias ou
estão no Purgatório ou estão no inferno.
Impossível, porém, que êle se refira às que estão
no inferno, porque bem sabia que no inferno não se
dobra o joelho ao nome de Jesus. Refere-se, pois às
que estão no Purgatório.
S. João (Apoc. 21, 27) diz, fala,ndo do céu:
«Nada manchado lá entrará».
Ora, façamos uma suposição: morre de impro-
viso um justo, .que tem cometido apenas algum nto
de impaciência.
Para onde irá a sua, alma? Para o céu? Não!>
porque está manchada por aquele ato de impaciência.
Para o inferno?
Também não, porque um pequeno ato de iJn..
pa,ciência não merece uma pena eterna.
Para onde irá então? Para um lugar interme<fiá...
rio entre o céu e a terra, que se chama Purgatório.

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EM DEFESA DA Fa 18?·

A êste testemunho das divinas Escrituras faz,


eco o de todos .os séculos do cristianismo.
Os protestantes dizem que o Purgatório teve ori-
gem no século VI, com Gregório, o Grande.
Ao que respondemos: mentem. A pala,vra é um.
pouco dura, mas merecida. Com efeito, em todos os
séculos anteriores ao VI se conheceu o Purgatório. Eis··
as provas:
No século V Sto. Agostinho assim escrevia no ·
seu livro intitulado - As Confissões: - <<Senhor,.
dignai-vos de perdoar a minha mãe. Lembrai-vos de
que, estando ela pa.ra morrer não pensou no corpo~.
não pediu as honras fúnebres. Tudo quanto ela dese-·
jou, foi que se fizesse memória dela no santo altar,
onde sabia que se oferece a Santa Vítima que apaga.-
e destrói a cédula da nossa condenação». (Liv. 9 capo.
13).
No mesmo século S. Jerônimo na sua carta ·a
Pa~áquio dizia: «E' costume cobrir de flôres o tú--
mulo das mulheres; mas seguistes um uso melhor,
derramando sôbre o túmulo da vossa espôsa algumas
esmolas para o alivio da sua alma».
No século IV, S. João Crisóstomo assim fala,va a
respeito das almas do Purgatório: «As lágrimas dos·
vivos não são inúteis aos mortos; a,s orações e as es-
molas os :aliviam (Rom1. I, Ep. ad Cor.).
E S. Cirilo de Jerusalém, explicando a liturgia,
dizia,: «Em seguida oramos pelos defuntos, sabendo·
pela fé que a oração é muito útil para as almas, pelas
quais se oferece». (Cate. 23, 9 ).
No século ill S. Cipriano, bispo de Cartaio, m-

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18~S ___________m_m
__D_A_MI
__A_O_D_B__ ____O__________~
B_O~

sinava claramente: «Além do túmulo existem para,


as almas três estados distintos: o céu, para onde so-
bem os santos; o inferno para onde descem os pe-
·cadores impenitentes, e o purgatório, onde são purifi·
cados pelo fogo os predestinados ainda. imperfeitos,..
E com a mesma clal'eza acrescenta: «Há uma
notável diferença entre subir ao céu imediatamente
depois da morte e lá ch gnr depois de uma demora,
mais ou menos longn,, na p~nas expiatórias do Pur-
gatório». ( Epistolas 52 56n ).
No século II rtulinno, d pois de ter referido o
costume dos cri til d of r ccrem sacrifícios em su..
frágio dos defunto , n r s entn:
«Se pro nr r<l . umn l i cl ta prática, nenhuma
-achareis escrita; 1 . a trnd·c;-no dos nossos maiores
no-la reprc ntn como nnlign, o costume a confirma
e a fé rn nd no. oh ú-1 :.. (De coron. Milit. cap.
·a e 4) .
P.ste t st munl1o rtuliano demonstra que
t.a,mbém no .cnlo jft costumava oferecer sacrifí-
cios m uft'ó io do 1 rtos, visto que êle chama
antiga sta prntir .
Finnlm nt t no catacumba5, que remontam
·aos primeiro nlo. • onde se lêem ainda hoje nos
túmulos dos morto. . t ou outras semelhantes ins-
crições: <<Deus r fri r o teu espírito; Vitória, des-
cance em paz o teu pirito; Casemiro, conceda-te
Cristo a luz eterna~.
Todos êstes t stemunhos mostram que desde a
idade dos apóstolos os cristãos sempre costumavam
ezar pelo mortos, e por isso mesmo, mostram tam-

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--------------~EM~D~E=n~SA~D~A~~~------------189

bém que os cristãos sempre acreditaram na existên-


cia do Purgatório, visto que os eleitos não têm neces-
sidade a;gurna das nossas orações; e aos réprobos nãO<
podem ser úteis.
1\Ias,- dizem os protestantes- não está escri-
to (I de S. João 1, 7 ) que o sangue de Jesus Cristo:
nos purifica de todo o pecado?
Sim, está escrito. Eis, porém, a resposta.
Quando come temos o pecado ofendemos a Deus
e merecemos um castigo.
Ora, o sangue de Jesus Cristo, se nos arrepender-
mos dos nossos pecados e os confessarmos, nos perdôa
a ofensa. e, por conseguinte, também nos livra da.
pena eterna; já que Deus, perdoando a uma alma,
lhe restitue a sua amizade, e uma alma amiga de Deus
é impossível que seja condenada. ao fogo eterno. ~ste
sangue, porém, nem sempre nos dispensa de sofrer
uma pena temporal pelos pecados cometidos. Por·
isso se uma alma sair dêste mundo, sem ter pago à
divina justiça esta pena temporal, vai pagá-la no pur-
gatório.
Para que ninguém diga que esta doutrina for
inventa.da pela Igreja, vejam-se alguns exemplos ofe-
recidos pela própria Bíblia, em· que Deus perdoa a
ofensa e a pena eterna, mas não dispensa ao peca-
dor de sofrer uma pena temporal.
Daví tornou-se homicida e adúltero. Tendo sido
a,dvertido por Natan, arrependeu-se e exclamou: «Pe-
quei contra Deus». Natan lhe replicou: cO . Senhor·
perdoou o teu pecado, não perecerás». Portanto a
ofensa e o castigo eterno lhe são perdoados; mas-

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PREI DAMIÃO DE BOZZANO

notai bem que êste castigo eterno é subsstituído por


uma pena temporal: «Todavia, acrescentou o profeta,
como deste a.os inimigos do Senhor ocasião de blas-
femar por esta razão o filho que te nasceu, morre-
>r b. (II Reis, 12 ).
De outra vez, o m~mo Davi cometeu um pecado
de vaidade, querendo saber de quantos súditos era
·soberano, e o profeta Gad lhe deixou a escolher entre
·a, guerra, a fome e a peste, ainda que o seu pecado
já lhe tivesse sido perdoado. (II Reis 24, 12).
E' pois, a própria Bíblia que nos ensina a fazer,
no pecado a distinção entre a ofensa e a pena; é a
.p rópria Bíblia que nos ensina que podemos alcan-
ça.r de Deus o perdão da ofellS'a e da pena eterna,
·8em que sejamos dispensados de sofrer uma pena
temporal.

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íNDICE

cap. pag.
I -
A verdadeira regra d,e fé . . . . . . . . . . 7
Regra de fé protestante . . . . . . . . . . . .
II - 15
m - A verdadeira Igreja . . . . . . . • . . . . . . . . 25
IV - Perpetuidade do primado . . . . . . . . . . . . 37
V - Infalibilidade do Papa . . . . . . . . . . . . . . 43
VI - Os Sacramentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
VII - O Batismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Vill ~ Confirmação ou Crisma . . . . . . . . . . . . 63
IX - A Eucaristia -Palavras da promessa 68
X - A Eucaristia -Palavras da instituição 73
XI - A Eucaristia e a tradição . . . . . . . . . . 81
xn - A comunhão sob as duas espécies . . . . 88
XIII - O santo sacrificio da missa . . . . . . . . 94
XIV - Confissão -Palavras da instituição 103
XV - Confissão - sua instituição divina pro·
vada pela tradição e pela razão . . . . 110
XVI - Extrema Unção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
xvrr - Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . 120
XVIII - O Sacramento do Matrimônio . . . . . . 125
XTX - Indissolubilidade do matrimônio à luz
da fé.... . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
XX - Indissolubilidade do matrimônio à luz
da razão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
XXI - O culto de Deus, dos Santos e das ima·
gens ............................ 144
XXII - Intercessão da Virgem Santlssima e
Santos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . 158
XXffi - Divina maternidade de Maria . . . . . • 165
XXIV- Virgindade de Nossa Senhora........ 168
XXV - A Imaculada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173
'CXVI - O Purgatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183

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