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APOSTILA DIR. PROC.

CIVIL JUIZADO ESPECIAL CÍVEL


Lei 9099 de 26/09/95 – Juizado Especial Cível

Prof.: Alirio.

Finalidade: tornar mais rápida a entrega da prestação jurisdicional naquelas


causas de menor complexidade, buscando sempre que possível a conciliação ou
a transação.

Procedimento: por determinação constitucional, o procedimento no Juizado


Especial Cível é o sumaríssimo.

O Juizado Especial Cível está influenciado pelos seguintes princípios:

a)- princípio da oralidade - tem preponderância nesse Juizado no qual a


contestação pode ser oferecida por via oral. É conveniente não esquecer que
aonde aparece a oralidade também aparece o princípio da concentração.
b)- princípio da simplicidade – o processo existe não para objetivar
demonstração de conhecimentos culturais, mas para tornar mais rápida a
entrega da prestação jurisdicional.
c)- princípio da informalidade – busca libertar o processo dos ritos
formalísticos.
d)- princípio da economia processual – impõe até o máximo possível o
aproveitamento dos atos processuais realizados.
e)- princípio da celeridade – busca tornar mais rápida a entrega da prestação
jurisdicional (ver art.2°, Lei 9.099)

As causas de menor complexidade

O legislador para identificar essas causas adotou em primeiro lugar o critério


meramente quantitativo, o que vai indicar como causa de menor complexidade
aquela cujo valor não exceda 40 vezes o salário mínimo.

Aonde a indicação da causa de menor complexidade tem provocado uma certa


perplexidade é aquela desenhada no inciso II do art. 3°, da Lei 9.099, que
dispõe: “as enumeradas no art. 275, inciso II do CPC”). Assim sendo, por força
do novo dispositivo legal, todas as ações de procedimento sumário passaram
para o sumaríssimo do Juizado Especial, continuando disciplinadas pelo
procedimento sumário unicamente as causas em que racionae personae não é
competente o Juizado Especial, isto é, ações em que são partes incapazes,
preso, pessoa jurídica de direito público, empresas jurídicas da União, massa
falida, insolvente civil e incapazes e cessionários de direito de pessoa jurídica.

Entretanto, existe corrente entendendo que o Juizado Especial é sempre


optativo, podendo, em todos os casos, ser adotado ou não pelo autor da ação.
Essa corrente tem contra si o argumento segundo o qual as normas
gerenciadoras da competência são de ordem pública, vale dizer, cogentes ou
imperativas não podendo, portanto ser afastada pela vontade das partes.

Também segundo a determinação legal, a Ação de Despejo para uso próprio


está obrigatoriamente subordinada ao procedimento sumaríssimo do juizado
Especial. Apesar de minoritárias opiniões em sentido contrário, é qualquer
Ação de Despejo para uso próprio e não somente aquelas de valor igual ou
inferior a 40 vezes o salário mínimo.

Levando-se em conta que no Juizado Especial Cível não existe a concessão de


liminar, surge o problema da recenticidade da lesão possessória ( menos de
ano e dia ).

Com efeito, em havendo a Ação Possessória de menos de ano e dia o titular do


direito esbulhado ou turbado pode buscar a liminar através da Ação
Possessória de Força Nova.

Entretanto, pergunta-se: e se Ação Possessória de Força Nova for de valor igual


ou inferior a 40 salários mínimos?

O assunto é controvertido, já que alguns admitem ter o autor o direito de optar


pela Ação Possessória de Força Nova, enquanto outros rejeitam a opção por
levar em conta que as normas gerenciadoras da competência são imperativas.

No plano da execução, o Juizado Especial tem competência para executar os


seus próprios julgados (art. 3°, § 1°, I, Lei 9.099). No plano doutrinário se
discute se essa competência é funcional ou se é em razão da matéria, sendo de
se observar que tanto uma como a outra são indicativas de competência
absoluta.

O Juizado Especial tem ainda competência para execução de título executivo


extrajudicial cujo valor não exceda a 40 vezes o salário mínimo, salvo as
hipóteses de incompetência racionae personae ( ver art.8°, § 1° ).

Merece também destacar que ficam excluídas da competência do Juizado


Especial as causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da
Fazenda Pública, e também as relativas a acidentes de trabalho, a resíduos
(causas relativas a testamento) e ao estado e capacidade das pessoas, ainda
que de cunho patrimonial (art. 3°, § 2° ).

Demonstrando a grande força do critério numérico quantitativo, dispõe o


parágrafo 3° do art.3° da Lei 9.099: “a opção pelo procedimento previsto nesta
lei importará em renúncia ao crédito excedente ao limite estabelecida neste
artigo, excetuada a hipótese de conciliação”.
Merece acentuar, que a busca maior no Juizado Especial é a obtenção da
conciliação para através dela chegar-se à transação. Neste aspecto, por
entender que a transação é um negócio jurídico das partes, nada impede que o
crédito renunciado possa ser objeto da transação.

O art. 4° da Lei 9.099

Ao consagrar um seriado de foros concorrentes, demonstra por si só tratar-se


de competência relativa, portanto, prorrogável ou modificável.

Entretanto, é de se observar que essa competência relativa relaciona-se de um


Juizado Especial, o que significa dizer que se o confronto ou a comparação for
entre o Juizado Especial e a Justiça Comum, a competência já passas a ser
absoluta em razão da matéria (causas de menor complexidade).

O art. 5° da Lei 9.099

Adotou o princípio do livre convencimento da livre apreciação da prova,


podendo, portanto o juiz deferir ou indeferir a seu livre critério, as provas
requeridas, podendo inclusive determinar de ofício a produção de qualquer
prova que entender necessária, tendo também ampla liberdade para levar em
consideração as regras da experiência comum (regras do cotidiano, do dia a
dia), como ainda as regras emanadas da técnica (prova pericial ).

Assim sendo, existe uma certa districionalidade na apreciação da prova, o que


não acontece no ato decisório final que é a atividade vinculada.

É de se observar que de acordo com o art. 6° da Lei 9.099, o juiz está autorizado
a julgar de acordo com os princípios da eqüidade, mas isto não o autoriza ao
julgamento contra legem.

Assim sendo, o juiz terá de buscar os parâmetros da eqüidade dentro das


normas objetivas que formam o nosso ordenamento jurídico.

O art. 7° da Lei 9.099

Criou para o Juizado Especial às figuras do conciliador e do juiz leigo,


indicando inclusive as formas de recrutamento.

Os conciliadores e os juízes leigos são no plano da sua natureza jurídica


considerados auxiliares da justiça.

Os conciliadores são recrutados preferencialmente entre os bacharéis em


direito, e os segundos entre advogados com mais de cinco anos de experiência.
Nestas condições, não é necessário se ser bacharel em direito para atuar como
conciliador.

Das partes
Segundo dispõe o art. 8°, não poderão ser partes, no processo instituído por
esta Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas
públicas da União, a massa falida e o insolvente civil.

Por sua vez, o parágrafo primeiro desse mesmo artigo dispõe: “somente
pessoas físicas capazes serão admitidas a procuração perante o Juizado
Especial, excluídos os cessionários de direito de pessoas jurídicas”.

Também, o parágrafo 2° do art.8° dispõe: “o maior de 18 anos poderá ser


autor, independentemente de assistência, inclusive para fins de conciliação”.
Essas regras legais permitem as seguintes conclusões:

a)- Poderão ser partes, sempre no polo passivo, as sociedades de economia


mista, as empresas públicas dos estados e municípios, não as da União, por
vedação da lei;
b)- As entidades personificadas, chamadas pessoas formais, as quais a lei
atribui capacidade processual, como os espólios, o condomínio ou as
sociedades sem personalidade jurídica (sociedade de fato e sociedades
singulares), só podem figurar no Juizado Especial também como réus em face
do que dispõe o § 1° do art. 8°;
c)- Estão excluídas do Juizado a massa falida e o insolvente civil;
d)- A vedação dirigida à pessoa jurídica para atuar no polo ativo alcança o
cessionário de direito sem, inclusive, quando for cedente a pessoa jurídica de
direito público.

OBS.: Destaca-se que a incapacidade para ser parte no Juizado Especial seja ela
preexistente ou superveniente, acarreta a extinção de processo sem
julgamento do mérito, por absoluta ausência de pressuposto para a sua
constituição.

O art. 9° da Lei 9.099:

Confere capacidade postulatória às partes nas causas de valor igual ou


inferior a 20 salários mínimos, o que significa dizer que nessas causas a
representação, o advogado é facultativa. Nas causas de valor superior, essa
representação será obrigatória.

Nas situações previstas no § 1° do art.9°, a parte que não tiver advogado


poderá ter assistência judiciária fornecida pelo órgão que atua no Juizado
Especial.

Nas causas de valor igual ou inferior a 20 salários mínimos o juiz deverá


alertar as partes da conveniência do patrocínio de advogado quando entender
que a natureza da causa recomenda a assessoria jurídica.

Em razão da influência do princípio da informalidade, dispõe o § 3° do art. 9° o


seguinte: “o mandato do advogado poderá ser verbal, salvo quanto aos
poderes especiais”.

O preposto do réu que for pessoa jurídica ou titular de firma individual, deverá
ser credenciado, isto é, deverá portar documento escrito que o legitime e o
habilite para a representação a ser feita, não sendo de exigir-se, pela
preponderância do princípio da informalidade o reconhecimento da firma do
representante do réu, mas sempre que possível deverá ser feito em papel
timbrado.

O art. 10° da Lei 9.099:

Mostra que não cabe intervenção de terceiros inclusive sob a modalidade de


assistência no Juizado Especial.

Para aqueles que encaram o recurso de terceiro prejudicado como modalidade


voluntária de intervenção de terceiro (opinião majoritária), este também não
se admite no Juizado Especial Cível, mais a lei não impõe qualquer restrição à
formação do litisconsórcio.

O art.82 do CPC, inciso I: está afastado.

A participação do MP no Juizado Especial

O MP intervirá nos casos previstos em lei, diz o art. 11°. Quais são esses casos?

Como no Juizado Especial não podem ser partes o incapaz, o preso, as pessoas
jurídicas de direito público, a massa falida e a assistência civil (art.8°) e como
se excluem da competência do Juizado as causas de natureza alimentar,
falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública e ainda, as relativas a
acidentes de trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, (
art.3°, § 2° ), as hipóteses de intervenção do MP no Juizado Especial Cível são
mínimas.

Vem se entendendo que haverá participação: quando o maior de 14 anos e


menor de 21 nele litigar como autor (art. 8°, § 2° ), principalmente quando o
réu lhe oferece pedido contraposto.

Os atos processuais do Juizado Especial: Disciplina legal: Lei 9.099 art. 12° e
13°

Esses atos processuais estarão sempre regenciados pelo princípio da


instrumentalidade formal do ato, pelo princípio da finalidade, pelo princípio
de economia processual, pelo princípio da ausência de prejuízo, pelo princípio
da imparcialidade e pelo princípio da publicidade.

Em relação às nulidades processuais, aqui vale também a seguinte regra: o ato


processual realizado de forma inadequada, se apesar dessa inadequação
formal, alcançou a sua finalidade sem causar prejuízo a qualquer das partes,
será válido.

O art. 12° da Lei 9.099: princípio da publicidade

O art. 13° da Lei 9.099:


Princípio da instrumentalidade e princípio da finalidade, combinados com
princípio da economia processual.

O art. 13°, § 1° da Lei 9.099: princípio da ausência de prejuízo.

O art. 13°, § 2° da Lei 9.099: princípio da informalidade.

OBS.:
No Juizado Especial, apenas os atos essenciais serão registrados
resumidamente, enquanto os demais poderão ser gravados em fita magnética
ou equivalente, que será inutilizada após o trânsito em julgado da decisão (art.
13, § 3° ).

No Juizado Especial a ação será instaurada com apresentação do pedido,


escrito ou oral, à secretaria do Juizado (ver art. 14° ). Temos aqui a forte
influência do princípio da informalidade e do princípio da oralidade.

Não se exige petição inicial com os requisitos do art. 282 do CPC, bastando um
simples requerimento do qual constarão, de forma simples e em linguagem
acessível:

a)- o pedido;
b)- o nome, a qualificação e o endereço das partes;
c)- os fatos e os fundamentos ( causa de pedir ), de forma sucinta;
d)- o objeto e seu valor.

OBS.:
Se o pedido for apresentado oralmente à secretaria do juizado, esta
providenciará o preenchimento de formulário próprio.

Segundo dispõe o § 2° do art. 14° da Lei 9.099, é lícito a formulação de pedido


genérico, quando não for possível determinar, desde logo, a extinção da
obrigação.

É conveniente lembrar que pedido genérico é aquele que tem objeto imediato,
enquanto o objeto mediato não aparece individualizado ou clariado.
Em havendo pedido genérico, o juiz vai proferir uma sentença ilíquida, salvo
no Juizado Especial.

Assim sendo, no procedimento sumaríssimo do Juizado Especial, mesmo em


havendo pedido genérico, o juiz está obrigado a proferir sentença líquida ( ver
art.38, § único, Lei 9.099 ).

A cumulação de pedido no Juizado Especial

Haverá cumulação de pedido em sentido estrito, quando o autor formula mais


de um pedido e deseja o acolhimento de todos eles.

Classificação: Cumulação simples e cumulação sucessiva


A cumulação será simples quando não existir uma relação de
interdependência entre os pedidos, quer dizer, quando os pedidos não forem
conexos entre si, de tal maneira que o juiz poderá acolher um dos pedidos e
rejeitar o outro.

Exemplo: Uma Ação de Cobrança de duas dívidas oriundas de causas


diferentes.

Haverá cumulação sucessiva quando existir uma relação de interdependência


entre os pedidos, isto é, uma conexão entre os pedidos de tal maneira que o
acolhimento de um importará no acolhimento do outro e a rejeição de um
provocará a rejeição do outro.

Exemplos: Investigação de paternidade cumulada com petição de herança.


Ação de Rescisão de Promessa de Compra e Venda Imobiliária cumulada com o
pedido de Reintegração de Posse.

Atenção:

No Juizado Especial, só é permitida a cumulação sucessiva (não admite a


cumulação simples), ver art. 15°.

É necessário ainda que os valores cumulados não ultrapassem 40 vezes o


salário mínimo vigente.

O art. 15° da Lei 9.099

Em relação aos pedidos alternativos previstos no art.15°, não há qualquer


correspondência com o pedido alternativo previsto no art. 288 do CPC, já que
por este é necessário que a causa petendi da ação seja o fato concernente ao
inadimplemento culposo de uma obrigação alternativa, o que não acontece
com o pedido alternativo da Lei 9.099, já que nesta a alternância relaciona-se
com os pedidos descritos no art.3°da aludida Lei.

De qualquer maneira, o pedido alternativo também não pode ultrapassar o


limite pecuniário previsto no próprio texto legal.

Conforme já se disse, a ação se inicia com apresentação do pedido escrito ou


oral à secretaria do Juizado (art. 14° ) e uma vez registrado o pedido, a própria
secretaria designará a sessão de conciliação, a realizar-se no prazo de 15 dias
(art. 16° ).

O art. 17° da Lei 9.099

Comparecendo inicialmente ambas as partes, instaurar-se-á, desde logo, a


sessão de conciliação, dispensados o registro prévio do pedido e a citação.
Havendo pedidos contrapostos, poderá ser dispensada a contestação formal e
ambos serão apreciados na mesma sentença (art. 17°, § único).

Citação
O art. 18° da Lei 9.099 aponta as normas concernentes à citação e determina
que a citação far-se-á por correspondência, com aviso de recebimento em mão
própria, significando dizer que o destinatário da citação é o réu e é ele que terá
de assinar o aviso de recepção.

Tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao


encarregado da recepção, que será obrigatoriamente identificado (art. 18, II).

Em se impossibilitando a citação por correspondência, ela será feita por oficial


de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória (art. 18, III).

Conforme assinala o prof. Pestana de Aguiar, no caso do juizado Especial, a


citação por correspondência não importa necessariamente em citação pelo
correio, já que a correspondência poderá se realizar através de um funcionário
da confiança do Juizado Especial.

Em razão da influência do princípio da informalidade, não existe mandado de


citação com todas as formalidades e com todos aqueles requisitos do art. 225
do CPC, mas o mínimo de mandado tem que ter a fim de garantir o amplo
direito de defesa e a formação do devido processo penal. Daí, ser necessária na
citação a observância dos requisitos previstos no art. 18° da Lei 9.099.

Merece destacar que no Juizado Especial não se admite a citação por edital
(art. 18, § 2°).

Assim, por exemplo, se a citação ficar impossibilitada por se encontrar o réu


em lugar incerto e não sabido, terse- á de se extinguir o processo.

No Juizado Especial, o comparecimento espontâneo suprirá a falta ou a


nulidade da citação (art. 18°, § 3° ).
.x.x.x.

Exercício:

É admissível a citação por hora certa no Juizado Especial Cível?

A citação por edital e a citação por hora certa são as chamadas citações fíctas
ou presumidas, por se entender que nesses casos não há certeza da citação.

A Lei 9.099 silenciou no que diz respeito à citação por hora certa, mas
expressamente proibida a citação por edital e daí se entender que a intenção
do legislador, partindo-se da interpretação extensiva é pela não
admissibilidade de qualquer forma de citação presumida.

A intimação tal como a citação será feita preferencialmente por


correspondência, ou por qualquer outro meio idôneo de comunicação (art. 19,
Lei 9.099). Dos atos praticados em audiência, as partes sairão desde logo
intimadas.

É interessante observar que as partes tem o dever processual de indicar nos


autos o endereço para correspondência e se durante o curso do processo
ocorrer à mudança de endereço, reputar-se-ão válidas e eficazes as intimações
enviadas ao local anteriormente indicado, desde que não tenha ocorrido a
comunicação da modificação do endereço (art.19, § 2°, Lei 9.099).

No Juizado Especial, a revelia pode ocorre em duas hipóteses:

1° - em razão de não comparecimento do demandado à sessão de conciliação;

2° - pelo não comparecimento do demandado à audiência de instrução e


julgamento.

Na primeira hipótese, o réu não compareceu apesar de regularmente citado.

OBS.:
A segunda hipótese importa em comparecimento à sessão de conciliação na
qual não foi obtida a conciliação e as partes não optaram pelo juízo arbitral e
em não havendo a conversão para a audiência, foi designada a data para a
realização dessa audiência de instrução e julgamento, tendo as partes sidas
desde logo intimadas.

Ocorre que, apesar de intimado, o réu não comparece à referida audiência, o


que vai provocar a consumação da revelia.

No Juizado Especial, prevalecem as regras genéricas da revelia, o que significa


dizer que a ausência da contestação faz prevalecer a veracidade dos fatos
alegados pelo autor.

Entretanto, esse princípio da veracidade dos fatos não contraditados é


temperado pela lei, porque tal presunção de veracidade, não prevalecerá se o
contrário resultar da convicção do Juiz (art. 20, Lei 9.099). Também, as
restrições aos efeitos da revelia inscritas no art. 320 do CPC são aplicáveis ao
Juizado Especial. Também, no Juizado Especial a revelia só incidirá sobre a
matéria de fato.

Segundo dispõe o art. 9° do CPC, o Juiz nomeará Curador Especial ao réu preso
e ao revel citado por hora certa ou edital.

Ora, levando-se em conta que o Juizado Especial não admite a citação


presumida, e é de se deduzir que o Curador Especial somente atuará na
hipótese de réu preso. Essa hipótese de Curador Especial representando o réu
preso é também inviável porque este não pode ser parte no Juizado Especial
(ver art. 8° da Lei 9.099).

O art. 21 da Lei 9.099: sessão de conciliação

É presidida ou pelo Juiz Togado ou pelo Juiz Leigo. As partes serão esclarecidas
das vantagens de formalizarem uma conciliação, bem como serão esclarecidos
que em havendo transação, o seu valor poderá ultrapassar o limite
quantitativo do Juizado Especial, isto é, poderá superar o valor de 40 vezes o
salário mínimo vigente (art.3°,§3°, Lei 9.099).
O que o legislador quer é que nesta sessão de conciliação se desenvolva todos
os esforços para obtê-la, já que esta é uma das principais finalidades do
Juizado Especial (ver art.2°, Lei 9.099).

Obtida a conciliação, esta será reduzida por termo, quer dizer, terá a forma de
uma transação e será homologada pelo Juiz Togado, sendo que essa sentença
homologatória valerá como título executivo judicial (art. 22°, § único, Lei
9.099).

É de se observar que se regularmente citado, o demandado não comparecer à


sessão de conciliação, haverá a revelia com o conseqüente julgamento
antecipado da lide (art. 20° combinado com o art. 23° da Lei 9.099).

Realizada a sessão de conciliação, sem que esta tenha sido obtida, as partes
poderão de comum acordo optar pelo Juízo Arbitral, que será instaurado desde
logo com a escolha do Árbitro pelas partes. O Árbitro será escolhido dentre os
Juizes Leigos.

O Árbitro conduzirá o processo com os mesmos critérios do Juiz na forma dos


artigos 5° e 6° da Lei 9.099, podendo também decidir por eqüidade.
Assim sendo, o Árbitro terá de admitir a produção da prova e da contra prova e
uma vez encerrado esse procedimento instrutório, apresentará o seu laudo ao
Juiz Togado.

O Juiz Togado homologará o laudo e essa sentença homologatória é


irrecorrível, (ver art.25° e 26° da Lei 9.099).

Ao final da sessão de conciliação, em não tendo as partes transigidas nem tão


pouco optadas pelo Juízo Arbitral, a sessão de conciliação será imediatamente
convertida em audiência de instrução e julgamento, salvo se houver prejuízo
para defesa, como por exemplo, se esta convencer o Juiz da necessidade da
realização de uma prova técnica.

Não havendo a conversão, a audiência de instrução e julgamento será


designada para um dos 15 dias subseqüentes, cientes e intimados desde logo
as partes e testemunhas eventualmente presentes (art.27°, § único, Lei 9.099).
Tendo em vista que se trata de um procedimento sumaríssimo, a audiência de
instrução e julgamento estará sob a regência dos princípios da oralidade e da
concentração.

Todos os atos terão de se realizar na audiência e nela serão ouvidas as partes e


colhidas as provas; todos os incidentes serão decididos de plano, sendo
aconselhável que estes, sejam decididos antes de se iniciar a produção da
prova. Se as partes não tiverem suscitado os incidentes, logo no início da
audiência, o Juiz deverá fixar os pontos controvertidos para discussão e prova.
O ideal é que toda a prova seja produzida em um único ato (princípio da
concentração ): primeiro ouve-se as partes, colem-se depois os depoimentos
das testemunhas e outras provas por ventura requeridas ou necessárias, e, por
fim, proferida será a sentença.
Se uma das partes apresentar documentos, a outra será imediatamente
instada a manifestar-se, sem interrupção da audiência (art. 29, § único).

A contestação poderá ser escrita ou oral e conterá toda a matéria de defesa,


entendendo-se como tal não somente a defesa direta do mérito (ver CPC art,
300), mas também a defesa indireta de mérito (ver CPC art. 326) e ainda a
defesa indireta processual (ver CPC art. 301 e 304). No plano da defesa
indireta processual, a exceção de suspeição e a de impedimento exigem petição
própria ou autônoma, sendo de observar que a incompatibilidade do juiz para
a causa poderá ser tanto do Juiz Togado como do Juiz Leigo.

Rejeitada a exceção, caberá recurso sem efeito suspensivo para a turma


recursal do próprio Juizado. É ainda de se observar que a argüição da
incompetência (relativa ou absoluta) independe de exceção, não exigindo,
portanto, petição própria, eis que tal argüição poderá ser deduzida no próprio
texto da contestação (ver art. 30° da Lei 9.099).

No Juizado Especial, não se admite reconvenção, mas caberá a ação dúplice, já


que o réu na própria contestação poderá formular pedido contra o autor, nos
limites quantitativos do Juizado Especial e com apoio na mesma causa de pedir
que determinasse a propositura da ação (art. 31°, Lei 9.099).

É interessante não esquecer que a Lei 9.099 em seu art. 17° já tinha feito
referência a essa ação dúplice, sob a denominação de pedido contraposto.

O réu deverá apresentar sua resposta na própria audiência, salvo se em razão


de fundamentação desenvolvida pelo autor, ele necessitar de mais tempo para
a contradita, sob pena de a resposta imediata lhe ser prejudicial. Neste caso, o
réu solicitará ao Juiz a designação de nova data. O Juiz de imediato analisará o
pedido e vai valorá-lo sob a influência do princípio do contraditório que
garante a igualdade de tratamento às partes na relação processual.

Entendendo o Juiz que o réu poderá ter prejuízo, ele de imediato fixará uma
nova data para AIJ., ficando desde logo intimada as partes e as testemunhas
eventualmente presentes (art. 31, § único).

A produção da prova e da contra prova terá, em princípio, de se realizar na


própria AIJ., sendo que também aqui não será admitida a prova ilícita ou
moralmente ilegítima.

As partes poderão se valer dos meios de provas indicados na Lei, bem como de
outros meios, desde que lícitos.

Aqui também prevalecem os princípios do livre convencimento e da livre


apreciação da prova, o que significa dizer que o Juiz poderá limitar ou excluir
as provas que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias.

O Juiz também poderá determinar de ofício a prova que entender necessária.

Prova oral: depoimentos pessoais e testemunhas.


OBS.: No procedimento sumaríssimo do Juizado Especial, cada parte poderá
arrolar até o máximo de 3 testemunhas, que comparecerão à audiência
independentemente de intimação, ou mediante esta, se assim for requerido.

O requerimento para intimação das testemunhas, será apresentado à


secretaria no máximo 5 dias antes da AIJ. (art. 34°, § 1° ).

Não comparecendo a testemunha intimada, o Juiz poderá determinar sua


imediata condução, valendo-se, se necessário, do concurso da força pública
(art. 34°, § 2° ). Nestas condições, a fim de que não haja a interrupção da
audiência, a expedição e a efetivação do mandado de condução terão de ser
imediato.

A prova oral não será reduzida a escrito, devendo a sentença referir, no


essencial, os informes trazidos nos depoimentos (art. 36°, Lei 9.099).

Em relação à prova técnica, o Juiz na própria audiência inquirirá perito de sua


confiança, permitida às partes a apresentação de parecer técnico (art. 35°, Lei
9.099).

Desde que não ocorra a quebra da unidade da audiência, poderá haver por
determinação ex-ofício ou a requerimento das partes, inspeção judicial em
pessoas ou coisas, podendo o Juiz determinar que a inspeção seja feita por
pessoa de sua confiança, que lhe relatará informalmente o verificado (art.
35°).

A instrução poderá ser dirigida por Juiz Leigo, sob a supervisão de Juiz Togado
(art. 37°). Em face do exposto, verifica-se que no Juizado, a AIJ., está
primordialmente sob a influência dos princípios da concentração, da oralidade
e da informalidade.

Segundo o art. 38° da Lei 9.099, a sentença não tem relatório, mas antes dos
elementos que firmaram a sua convicção (fundamentação), o Juiz terá que
fazer um breve resumo dos fatos relevantes ocorrido na audiência.

Cabe ainda lembrar que no Juizado Especial, mesmo em havendo pedido


genérico, o Juiz está obrigado a proferir sentença líquida (art. 38°, § único).

Merece ainda destacar que será ineficaz a sentença condenatória na parte que
exceder o limite quantitativo, isto é, a alçada firmada na Lei 9.099, art. 39°.

Merece salientar que a questão do princípio da vinculação que aparece de


forma indireta no art.40° da Lei 9.099: “o Juiz Leigo que tiver dirigindo a
instrução, proferirá a sua decisão e imediatamente a submeterá ao Juiz
Togado, que poderá homologá-la, proferir outra em substituição ou, antes de
se manifestar, determinar a realização de atos probatórios indispensáveis”.

Neste particular, a fim de afastar a prova emprestada é aconselhável que o Juiz


Togado determine a repetição das provas mais importantes.
OBS.: Prova emprestada é aquela que não foi produzida sob a direção do Juiz
da causa..

Sucumbência
Inexiste imposição de ônus da sucumbência (art. 55°, Lei 9.099). Inexistindo
recurso, não haverá pagamento dessas verbas. A lei, a fim de desestimular a
interposição de recursos, puni o recorrente vencido, já que este pagará à custa
e honorários de advogado, que serão fixados entre 10% e 20% do valor de
condenação ou, não havendo condenação, do valor corrigido da causa (ver
art.55°, Lei 9.099).

Essa advertência relativa ao recurso vencido poderá ser feita a posteriores,


mas é aconselhável que já conste da sentença.

A intimação da sentença será feita, sempre que possível, na própria audiência


em que for proferida. Nessa intimação o vencido será instado a cumprir a
sentença tão logo ocorra seu trânsito em julgado e advertido dos efeitos do
cumprimento.
O art.6° da Lei 9.099 estabelece que o Juiz adotará em cada caso a decisão que
reputar mais justa e eqüaneme, atendendo aos fins sociais da Lei e as
exigências do bem comum (ver CPC art. 127 ).

Reitera-se mais explicitamente o que já está escrito nos arts. 4° e 5° da Lei de


Introdução ao Código Civil.

Neste aspecto, merece ressaltar que julgar com apoio na eqüidade não
significa julgamento contra legem. O juiz terá de buscar os critérios
identificadores da eqüidade dentro das normas jurídicas que compõem o nosso
Direito Objetivo.

Nessa direção, a regra segundo a qual o Juiz não está obrigado a observar o
critério da legalidade estrita, somente vale para os procedimentos especiais de
jurisdição voluntária (ver CPC art. 1.109).

Assim sendo, somente nos procedimentos de jurisdição voluntária, tem o Juiz


uma maior liberdade para fundamentar sua decisão com apoio exclusivo nos
princípios da eqüidade (tendência majoritária).

Recursos (art.41 da Lei 9.099)

No Juizado Especial a sentença será impugnada por um recurso inominado,


observando-se que a sentença homologatória de laudo arbitral é irrecorrível.
Esse recurso não se dirige a um órgão de jurisdição hierarquicamente
superior, já que ele é dirigido para o próprio Juizado.

Nesse sentido, não vale argumentar com uma possível inconstitucionalidade


sob a alegação de não respeito ao princípio do duplo grau de jurisdição. É que
prevalece o entendimento de que o duplo grau de jurisdição não diz respeito a
órgãos, mas sim a possibilidade de reexame da decisão por outro grupo de
Juízes diferente daquele que proferiu a decisão impugnada.
Com efeito, o recurso será julgado por uma turma composta por três Juízes
Togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do
Juizado (art. 41°, § 1°, Lei 9.099).

No plano da sua natureza jurídica, essa turma recursal não é considerado um


tribunal, sendo apenas um órgão revisor ou de reexame.

No recurso, as partes serão obrigatoriamente representadas por advogado


(art.41°, § 2°, Lei 9.099).

O recurso será interposto diretamente na secretaria do Juizado, sendo de


destacar que todo o seu procedimento se desenvolverá praticamente na
própria secretaria. Quanto ao juízo de admissibilidade, não existe despacho de
recebimento do recurso, isto porque cumprida as formalidades legais,
principalmente as relativas o preparo a intimação do recorrido para resposta,
os autos serão encaminhados para a turma recursal. Dessa maneira, o
procedimento do recurso se verifica apenas no âmbito da secretaria. O juízo
singular intervirá apenas em dois casos: para conferir efeito suspensivo ao
recurso ou para examinar a deserção.

Quanto aos pressupostos recursais, poderemos dizer o seguinte:

1°) – Legitimação: apenas as partes, vale dizer autor e réu. É de se observar


que a Lei admite o litisconsórcio (art. 10°, Lei 9.099) e o litisconsorte é
considerado parte.

É evidente que atuando o MP como órgão interveniente este terá legitimidade


para recorrer.

Levando-se em conta que o recurso do Terceiro Prejudicado é modalidade


facultativa ou voluntária de intervenção de terceiro, não se pode admitir esse
tipo de recurso no Juizado Especial Cível (ver art. 10° ).

2°) – Interesse: em relação ao interesse para recorrer, aplicam-se os critérios


gerais com a utilização do binômio necessidade e utilidade, aplicáveis em cada
caso.

3°) – Tempestividade: o recurso será interposto no prazo de 10 dias, contados


da intimação da ciência da sentença.

OBS.: Em decorrência do princípio do contraditório, o prazo para a resposta é o


mesmo da interposição do recurso (art. 42°, § 2°, Lei 9.099).

4°) – Regularidade formal: o recurso será interposto por petição escrita da


qual constarão as razões e o pedido do recorrente ( ver art. 42°, caput, Lei
9.099 ).

5°) – Preparo: será efetuado 48 horas após a interposição do recurso,


independentemente de intimação, sob pena de deserção ( art. 42°, § 1°, Lei
9.099 ) ( obs. é dever do recorrente fazer o preparo espontaneamente ).
Em relação ao preparo, a Lei 9.099 silencia no que diz respeito à insuficiência
desse preparo. Neste caso, se aplicará por analogia as normas genéricas do
CPC, significando dizer que a secretaria do Juizado terá que intimar o
recorrente para efetuar a complementação.

Merece assinalar que a fase recursal marca o fim da gratuidade.


Desestimulam-se os recursos pela exigência do preparo e a condenação em
honorários advocatícios na hipótese de não provimento do recurso ( ver art.
55°, Lei 9.099 ).

O recurso terá somente efeito devolutivo, podendo o Juiz dar-lhe efeito


suspensivo, para evitar dano irreparável para a parte (art. 43°, Lei 9.099).
As partes serão intimadas da data da sessão de julgamento (art.
45° combinado com o art. 19° da Lei 9.099).

Segundo dispõe o art. 46° da Lei 9.099, o julgamento do recurso está sob a
influência do princípio da informalidade e se a sentença for confirmada por
seus próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.

Considerações finais

1°) – No Juizado Especial Cível as decisões interlocutórias não comportam


recurso.

2°) – Não cabem embargos infringentes da decisão da turma recursal, também


não se admite o recurso adesivo.

3°) – A mens legis ( Lei 9.099 ) é no sentido de travar todas as ações no próprio
Juizado Especial, o que por si só afasta a possibilidade de recursos quer para o
tribunal local, quer para os tribunais superiores.

Nesse sentido, não se poderá admitir recurso especial, mesmo porque este se
interpõe contra decisões de tribunais, o que não é caso da turma recursal do
Juizado Especial (ver Constituição Federal, art. 105, inciso III).

4°) – Apesar da controvérsia deve-se admitir o recurso extraordinário no


Juizado Especial Cível a fim de se manter prestigiado o controle da
constitucionalidade das leis mesmo por via difusa ou incidental.
5°) – O art. 48° e seguintes da Lei 9.099 disciplina os embargos declaratórios
quando, na sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição, omissão ou
dúvida.

Os embargos declaratórios serão interpostos por escrito ou oralmente, no


prazo de 5 dias, contados da ciência da decisão.
Quando interpostos contra sentença, os embargos de declaração suspenderão
o prazo para recurso (art. 50°, Lei 9.099).

6°) – No Juizado Especial não se admite Ação Rescisória.

O processo de execução no Juizado Especial Cível


Execução fundada em título executivo judicial:
Segundo dispõe o art. 3°, § 1° da Lei 9.099, compete ao Juizado Especial
promover a execução dos seus julgados. Trata-se de competência funcional,
sendo, portanto, absoluta, isto é, imodificável ou improrrogável.

Por sua vez, dispõe o art. 52° que a execução da sentença processar-se-á no
próprio Juizado, aplicando-se no que couber as normas genéricas do Código de
Processo Civil, desde que observadas as normas inerentes da Lei 9.099.

No plano da execução fundada em título executivo judicial ela será instaurada


independentemente de nova citação, o que constitui uma novidade da Lei
9.099.

Assim sendo, no plano da doutrina se discute se este modelo de execução


constitui um processo com a característica da autonomia, ou se apenas
representa um apêndice ou um complemento do processo de execução.

Na execução do julgado concernente à entrega da coisa, a obrigação de fazer


ou de não fazer, o que se quer dizer é a objetivação da satisfação direta, vale
dizer da tutela específica, sendo que por essa razão o Juiz para obrigar o réu a
satisfazer a obrigação, fixará no momento da sentença uma multa coercitiva.
Trata-se de multa diária, arbitrada de acordo com as condições econômicas do
devedor, para a hipótese de inadimplemento. É de se observar que se a
sentença for omissa, essa multa será fixada na fase da execução.

No plano da execução judicial, o art. 52°, inciso V da Lei 9.099 incorpora a


execução para entrega de coisa, a execução da obrigação de fazer e a execução
da obrigação de não fazer.

Na obrigação de dar, em havendo inadimplemento, a tutela específica


importará sempre na entrega da coisa.

Neste particular, merece reiterar que a multa coercitiva tem por finalidade
forçar o devedor a realizar a tutela específica.

Conforme já se disse, no plano da obrigação de dar a tutela específica diz


respeito à entrega da coisa.

Ora, o inadimplemento culposo da obrigação de dar coisa móvel se resolve


pela busca e apreensão e se esta se impossibilitar, haverá conversão para
perdas e danos (satisfação indireta).

Assim, em princípio, na obrigação de dar coisa móvel, na hipótese, de


inadimplemento, a tutela específica se concretizará através da busca e
apreensão.

Por sua vez, o inadimplemento culposo da obrigação de dar coisa imóvel se


resolve pela imissão na posse.

Assim sendo, no plano da execução, uma vez impossibilitada a busca e


apreensão ou pela inexistência da coisa ou por sua deterioração, não haverá
mais qualquer sentido para fixação de multa coercitiva, devendo, pois, de
imediato, converter-se essa execução em execução por quantia certa,
arbitrando-se desde logo o valor do prejuízo.

No plano da execução para entrega da coisa imóvel, se a imissão na posse se


impossibilita, haverá também de imediato a conversão em perdas e danos, a
fim de se objetivar a execução por quantia certa.

A obrigação de fazer é aquela na qual a prestação será sempre a realização de


um serviço ou desenvolvimento de uma atividade.

Obrigação de fazer fungível é aquela na qual a prestação pode ser prestada


não somente pelo devedor, como também por qualquer outra pessoa.
De outro lado, a obrigação de fazer infungível é aquela na qual por razões
técnicas, artísticas ou profissionais, o serviço só poderá ser realizado pelo
próprio devedor.

A fungibilidade ou a infungibilidade da obrigação de fazer tem repercussão na


execução do julgado.

Merece destacar que ao ajuizar a Ação de Conhecimento, tendo como causa de


pedir o fato concernente ao inadimplemento culposo da obrigação de fazer, o
autor não está buscando ressarcimento indenizatório (satisfação indireta), o
que ele busca, primordialmente, é a tutela específica (satisfação direta), isto é,
a realização do serviço.

Nessa direção, merece ressaltar que somente na fase da execução é que vai se
visualizar a objetivação ou não da tutela específica (satisfação direta).

Neste particular, o legislador se esforçou para assegurar a satisfação direta,


utilizando-se para tanto de um instrumento coercitivo, vale dizer, a fixação de
uma multa diária, a ser arbitrada de acordo com as condições econômicas do
devedor, para a hipótese de inadimplemento do julgado. Essa multa será
fixada na própria sentença que julgou procedente o pedido, ou se esta for
omissa, ela será fixada no momento da execução.

Não cumprido voluntariamente o julgado, o autor já agora transformado em


exeqüênte solicitará ao Juiz a sua execução, observando-se que essa solicitação
poderá inclusive ser verbal e a partir daí já se considera instaurada a
execução forçada, sem necessidade de citação. É necessário levar em conta que
a multa coercitiva é diária e os seus valores vão se somando dia a dia, mas
para que não haja o desvirtuamento da sua finalidade coercitiva, o somatório
desses valores não poderá ultrapassar o valor principal.

O certo é que ao se impossibilitar a objetivação da tutela específica, nesta fase


executória o autor já agora transformado em exeqüênte, poderá requerer a
elevação da multa ou então a transformação da condenação em perdas e
danos, que o Juiz de imediato arbitrará, seguindo-se a execução por quantia
certa (art.52°, V, Lei 9.099).
Obrigação de não fazer é aquela na qual a prestação é sempre a abstenção ou
a tolerância.

Exemplos:

Não edificar, não caçar, não pescar, não desmatar, não exercer determinada
atividade.

A obrigação de não fazer aparece com muita freqüência no campo do direito


da vizinhança, nos códigos de obras e mais modernamente no campo do direito
ecológico.

Na obrigação de não fazer a lei impõe o “non facere” e o inadimplemento


corresponde ao “facere”.

Na Ação de Conhecimento, que tenha como causa de pedir o fato concernente


ao inadimplemento culposo da obrigação de não fazer, a objetivação da tutela
específica (satisfação direta ), significa condenar o réu a restabelecer a
situação anterior.

Via de regra, a Ação de Conhecimento no caso da violação da proibição de


edificar, a ação será a Demolitória.

Pode acontecer que para o interesse público não mais convenha o


restabelecimento da situação anterior, e nesta hipótese a Ação de
Conhecimento será a Indenizatória de Perdas e Danos.

Também na obrigação de não fazer será aplicada a multa coercitiva no


momento da sentença ou na fase da execução a fim de forçar o devedor a
restabelecer a situação anterior. Aqui, também, impossibilitando-se a tutela
específica (satisfação direta), haverá também a conversão para perdas e
danos.

OBS.: Pelos motivos anteriormente salientados, não há, via de regra, a fixação
de multa coercitiva na execução para a entrega de coisa, salvo em se tratando
de coisa móvel se o oficial de justiça certificar que o devedor está ocultado a
coisa a fim de impedir a execução do julgado (ver art. 52°, V, parte final, Lei
9.099).

Poderá ocorrer no Juizado Especial Cível a execução por quantia certa em face
de devedor solvente, desde que o “quantum debeatur” seja de valor igual ou
inferior a 40 vezes o salário mínimo vigente. Em se tratando da execução de
sentença condenatória transitada em julgado, a execução inicia-se com a
penhora.

Neste particular, a fim de se evitar as formalidades do procedimento


avaliatório, o ideal é que ao se efetivar a penhora se observe a
proporcionalidade entre o valor do “quantum debeatur”e o valor do bem
penhorado.
Normalmente, em sendo respeitada a proporcionalidade, será dispensado o
edital de praça em jornais ou outros tipos de publicações (art. 52°, VII, Lei
9.099).

Alienação coercitiva do bem penhorado poderá ser feita pelo credor ou por
terceira pessoa idônea. O arrematamento tem que pagar o preço à vista, a não
ser que ofereça caução (art.52°,VII, Lei 9.099 ).

Os embargos do devedor na execução por título executivo judicial

No Juizado Especial Cível, no tocante à execução fundada em título executivo


judicial, a defesa do executado será exercitada através de embargos do
devedor (art.52°, IX, Lei 9.099). Aqui também, no plano da natureza jurídica,
esses embargos constituem uma Ação Incidental de Conhecimento ajuizada
pelo devedor em face do exeqüênte.

Assim, esses embargos do devedor constituem ao mesmo tempo uma actio e


uma exceptio (meio de defesa).
Trata-se de defesa limitada ou restrita, isto porque o embargante só poderá
argüir as razões de defesa que estão elencadas no art. 52°, IX, da Lei 9.099, que
é uma mera repetição da norma contida no art. 741, I do CPC.

As razões de defesa são as seguintes:

a)- Falta ou nulidade da citação no processo se ele correu à revelia.


OBS.: O processo aí aludido é o de conhecimento do qual se originou o título
executivo judicial.

b)- Manifesto excesso judicial.


OBS.: O CPC no art. 743 aponta as situações identificadoras do excesso na
execução.

c)- Erro de cálculo.

d)- Causa impeditiva, modificadora ou extintiva da obrigação, superveniente à


sentença (ver CPC art. 741, VI ).

OBS.:
Essas causas, conforme destaca o próprio texto legal, têm de ser superveniente
à sentença, porque se anteriores, já estarão absorvidas pela eficácia preclusiva
maior da coisa julgada material.

O momento oportuno para interposição desses embargos

É a que aparece desenhado no art. 738 do CPC, porque neste aspecto, são
aplicáveis as normas genéricas do CPC ( ver art.52°, Caput, Lei 9.099 ).
Os embargos serão rejeitados liminarmente, se presente qualquer das causas
enumeradas no art. 739 do CPC.

Uma vez recebidos, haverá a suspensividade da execução.


Se recebidos os embargos, o exeqüênte será intimado para impugná-lo no
prazo de 10 dias. Após a resposta do exeqüênte, o Juiz designará a audiência de
instrução e julgamento.

Não se realizará a audiência se os embargos versarem sobre matéria de


direito ou, sendo de direito e de fato, a prova for exclusivamente documental,
caso em que ocorrerá o julgamento antecipado da lide.

A execução por título executivo extrajudicial

Segundo dispõe o art.53° da Lei 9.099, a competência do Juizado Especial Cível


é determinada pelo critério “racione valoris”, o que significa dizer que o valor
espelhado no título executivo extrajudicial não poderá ser superior a 40 vezes
o salário mínimo vigente.

Na Lei 9.099, a execução por título executivo extrajudicial está regenciada no


art. 53° e seus parágrafos da Lei 9.099.

É de se observar que ao contrário da execução fundada em título executivo


judicial, a execução por título extrajudicial exige a citação do devedor.
É ainda de se observar que o aludido art. 53° só contém regras disciplinadoras
da execução pecuniária (execução por quantia certa contra devedor solvente ).

O procedimento na execução pecuniária

O devedor será citado para pagar ou nomear bens as penhora em 24 horas.


Se dentro desse prazo o devedor não comparecer nomeando a penhora, esse
direito transfere-se para o exeqüente.

Na nomeação à penhora ter-se-á de respeitar a ordem de graduação indicada


no art. 655 do CPC.

Efetivada a penhora, o juiz designará audiência de conciliação, para a qual


será intimado o devedor e na qual este poderá oferecer embargos, por via
escrita ou oral.

Nesta audiência, o devedor poderá oferecer embargos, mas neles só poderá


argüir as razões de defesa que aparecem elencadas no inciso IX do art. 52°, Lei
9.099, configurando-se, portanto a defesa restrita ou limitada.

Merece salientar que ao indicar as possíveis razões de defesa, o art. 52°, IX não
está apenas enumerando ou exemplificando, mas sim impondo a taxatividade
(numerus clausus).

Em face do desenvolvido, verifica-se no Juizado Especial Cível, tanto na exceção


por título judicial como na exceção por título extrajudicial, os embargos do
devedor são embargos de defesa restrita ou limitada.

É oportuno destacar que nesta audiência de conciliação os embargos do


devedor só serão oferecidos depois que se tornar bastante claro a
impossibilidade da conciliação.
Assim, antes que as partes assumam qualquer atitude, o conciliador vai
procurar solucionar o impasse, propondo, entre outras, as seguintes medidas:
pagamento do débito a prazo ou a prestação, dação em pagamento ou
adjudicação em favor do credor do bem penhorado (art. 53°, § 2° ).
Merece situar que as medidas apontadas no § 2° do art. 53°, da Lei 9.099, são
meramente enunciativos ou exemplificativos.

Não obtida a conciliação, aí sim, o devedor oferecerá, por escrito ou


verbalmente os seus embargos.

O procedimento dos embargos é o que aparece regenciado no art. 740 e seu


parágrafo único do CPC.

Merece ressaltar, que mesmo em não sendo oferecidos os embargos ou se estes


não forem recebidos, ou se forem julgados improcedentes, ainda assim,
qualquer das partes poderá requerer ao Juiz uma daquelas soluções
conciliatórias já anteriormente destacadas.

Finalmente, vencido os embargos e não prevalecendo qualquer solução


conciliatória, o Juiz designará data para a praça ou leilão, ordenando a
publicação de editais, para a concretização da alienação coercitiva do bem
penhorado.

Se porventura na fase citatória, ou se ele não tiver bens penhoráveis, o


processo será imediatamente extinto, devolvendo-se os documentos ao autor.
Trata-se de sentença formalmente extinta sem qualquer repercussão no
direito material inserido no título executivo extrajudicial (art. 53°, § 4°, Lei
9.099).

Conforme já se disse, no plano da execução por título executivo extrajudicial, a


Lei 9.099 somente normatiza as regras da execução pecuniária, o que significa
dizer que nas demais modalidades (entrega de coisa, obrigação de fazer,
obrigação de não fazer) serão aplicadas as normas do CPC (ver art. 53°, Lei
9.099).

Neste particular, nada impede que também nessas outras modalidades de


execução seja designada uma audiência de conciliação.

No plano do Processo de Conhecimento, é de se destacar que as causas


determinadoras da extinção do processo sem julgamento do mérito aparecem
elencadas no art.51° da Lei 9.099, sendo que aqui também prepondera o
princípio da informalidade, ex que: “a extinção do processo independerá, em
qualquer hipótese, de prévia intimação pessoal das partes” (art. 51°, § 1° ).

Merece chamar a atenção de que a intenção do legislador é a de tornar


irreversível a extinção do processo sem julgamento do mérito, o que,
evidentemente, não exclui a impugnação através do recurso inominado. Tanto
é assim que: “no caso do inciso I desse artigo, quando comprovar que a
ausência decorre de força maior, a parte poderá ser isentada pelo Juiz do
pagamento das custas” (art. 51°, § 2°, Lei 9.099).
Considerações básicas:

O acesso ao Juizado Especial Cível independerá, em primeiro grau de jurisdição


do pagamento de custas, taxas ou despesas (art. 54°, Lei 9.099).

Entretanto, na fase recursal encerrada fica o período de gratuidade, sendo de


se observar que esse critério foi adotado pelo legislador tão somente por
posicionamento de política processual, já que é bem claro o objetivo de se
desestimular a interposição de recurso.

Nesse sentido, dispõe o parágrafo único do art. 54°: “o preparo do recurso, na


forma do parágrafo primeiro do art. 42° desta Lei, compreenderá todas as
despesas processuais, inclusive aquelas dispensadas em primeiro grau de
jurisdição, ressalvada a hipótese de assistência judiciária gratuita”.

No art. 55° da Lei 9.099, o legislador mais uma vez busca desestimular o
oferecimento de recurso. É que se na sentença do primeiro grau não haverá
efeitos da sucumbência, o mesmo não ocorre na fase recursal, aonde o
recorrente vencido, pagará as custas e honorários de advogado, que serão
fixados entre 10% e 20% do valor da condenação ou, não havendo
condenação, do valor corrigido da causa ( ver art. 55°, Lei 9.099 ).

O art.55° aboliu no primeiro grau os efeitos da sucumbência, salvo em havendo


conduta improba ( litigante de má fé ).

No plano da execução, não serão contadas custas, salvo quando:

a)- reconhecida a litigância de má fé;


b)- improcedentes os embargos do devedor;
c)- tratar-se de execução de sentença que tenha sido objeto de recurso
improvido do devedor (art.55°, § único).

O acordo extrajudicial, de qualquer natureza ou valor, valerá como título


executivo extrajudicial, o mesmo acontecendo com o acordo celebrado pelas
partes, por instrumento escrito e referendado pelo órgão do MP.

O acordo extrajudicial se homologado por sentença passa a ter a eficácia de


título executivo judicial.

Finalmente, é conveniente lembrar que o Juizado Especial Cível não admite a


Ação Rescisória (art. 59°, Lei 9.099).

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