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ONGs: A SOCIEDADE CIVIL E O PAPEL DO ESTADO

Noeli Rodrigues
Mestranda em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR), graduada em Relações Internacionais pelo Centro
Universitário Internacional UNINTER. e-mail: noeli82ri@gmail.com –
GT:“AS INTERFACES ENTRE TEORIAS DEMOCRÁTICAS,
PARTICIPAÇÃO POLITICA E POLITICAS PÚBLICAS”

RESUMO

O objeto de estudo do presente artigo é a análise da importância e eminência das Organizações Não-
Governamentais e qual o papel do Estado diante da atuação organizada da sociedade civil global na
contemporaneidade. O problema proposto concentra-se em verificar em que medida as Organizações
Não-Governamentais agem como representação da sociedade no que refere-se à implementação de
políticas públicas, e substituem por assim dizer o poder estatal. Deve-se conferir qual o papel real que
as Organizações Não-Governamentais e o impacto que sua atuação exerce na política estatal. Nesse
sentido questiona-se a necessidade de adaptação institucional por parte do Estado para enfrentar
desafios relacionados à governança, seja nacional ou global e por fim suprir a laguna ocupada pelas
ONGs como meio de representatividade da sociedade civil. A sociedade civil influencia as decisões
estatais e a forma que essas organizações atuam com relação a sua representação e consequentemente a
democracia. As Organizações Não Governamentais é a maneira pela qual a sociedade civil encontra
mecanismos legítimos para cobrar políticas públicas referentes a questões relevantes, quer seja em
âmbito estatal ou internacional. Conclui-se que a ação das Organizações Não-Governamentais é
relevante, mas não substitui a atuação do Estado, tão pouco atua como nova forma de democracia
representativa.

Palavras-chave: Organizações Não-Governamentais. Papel do Estado. Sociedade Civil.

O presente artigo aborda o papel do Estado a partir da influência das Organizações Não-
Governamentais. Trata-se de verificar como agem e qual o papel que essas organizações ocupam na
sociedade civil. Tais organizações de fato ocupam de fato a laguna existente entre a sociedade civil e o
Estado, no que referem-se à implementação de políticas públicas ou serviriam apenas como mecanismo
de representação. Para responder esses questionamentos deve-se analisar, a priori, o papel do Estado
frente a desafios que emergiram com a globalização.

O Estado e as ONGs na Sociedade Civil Global

Apesar das tendências a constituição de uma função pública transnacional, o Estado Nacional
territorial prevalece como a instância central de legitimidade do poder. Nesse sentido, apesar do Estado
permanecer como o destinatário das demandas da população, e do fato de existir a necessidade de
regulação da política global – governança global – não significa a perda da soberania do Estado
nacional. A construção da esfera pública transnacional está balizada por dois importantes princípios: O
interesse público internacional e o patrimônio comum da humanidade, ou seja, tais princípios confere
ao Estado sua autonomia.
Porém, de acordo com SEITENFUS (2004, p.115), os assuntos que antes eram tutelados
exclusivamente pelo Estado, foram transferidos, por assim dizer a outras instituições, sejam nacionais
ou internacionais. As Organizações Não-Governamentais aparecem nesse contexto, e ocupam a laguna
entre o Estado e a população. Essa atuação oferece à sociedade civil a possibilidade de reorganização
social em conjunto com o aparato estatal LEHNING apud MARQUES, MERLO, NAGANO (2005).
Segundo a análise de VIEIRA (1997), o surgimento de novos cenários superam os limites
institucionais vigentes, tais como: as questões ambientais – ameaças ao ecossistema global, às questões
sociais – desigualdades sociais e o perigo de uma desestabilização político-social, sugerem a perda
parcial da soberania no que refere-se à questões relacionadas a autonomia do Estado. Nesse contexto,
tal transferência - mesmo que parcial - para outras instâncias de decisões efetivas, conferem as
Organizações Não-Governamentais legitimidade para agir dentro e fora do Estado, situação que parece
inevitável.
A descentralização do poder estatal causado em dada medida pelo fenômeno da globalização
descentralizou o poder em nível internacional e enfraqueceu o papel do Estado. Essa situação passou a
demandar da sociedade formas alternativas de representação, pois, a ‘crise’ que causou o
enfraquecimento do Estado, por outro lado fortaleceu outras organizações, ou seja, legitimou a ação de
organizações que se auto intitulam representantes da sociedade civil, fora do aparelho estatal. Cabe
observar que as ONGs atuam com foco no interesse público, mas não representam fundamentalmente a
população, pois buscam interesses específicos MARQUES, MERLO, NAGANO (2005).
Para VIEIRA (1997), as Organizações Não-Governamentais fazem pressão, lobby e
assemelham-se com as igrejas, grupos terroristas, empresas transnacionais. O autor afirma que as
ONGs não defendem interesses coletivos gerais, mas os interesses relacionados a determinados grupos.
Isto é, as ONGs não representam a sociedade de maneira ampla, valores universais, e etc., mas
defendem interesses específicos, por esse motivo não teriam meios suficientes para assumir o lugar do
Estado, pois tal posicionamento emana da necessidade da população, bem como da legitimidade de
poder. E, abalizadas em interesses e necessidades de seus membros as Organizações Não-
Governamentais tendem a participar de decisões nas esferas econômicas, políticas e sociais, tal foco
concede a essas organizações certa legitimidade. A legitimidade está na efetividade dos programas
implementados, na representatividade e a imagem que a sociedade tem da instituição. Esse cenário
fornece as ONGs argumentos para sua ampla participação, importância e visibilidade.
Nesse contexto, as Organizações Não-Governamentais atuam para a construção de sua
identidade política como agentes no processo de globalização, no qual a sua participação ainda é
irregular. Tais organizações participam de conferências em diversos locais do mundo, discutem e
definem normas e diretrizes, agem como forma de representar questões específicas relacionadas a
pequenos países ao redor do mundo que não dispõe de outros meios de ação a não ser essas
organizações. A irregularidade dessas organizações deve-se a avaliação, pois além da efetividade, a
aprovação e consequentemente, a credibilidade legitimam as ONGs em relação à sociedade civil
MARQUES, MERLO, NAGANO (2005, p. 71).
A transparência das ONGs consolida sua participação e atuação na gerência de atividades
públicas. Essas ações geralmente estão relacionadas às políticas públicas que são oferecidas de forma
ineficiente pelo Estado, por isso as Organizações Não-Governamentais ocupam de maneira crescente o
espaço entre o Estado e a sociedade.
Com sua consolidação as ONGs tornaram-se fundamentais para a sociedade civil. Em diversos
casos essas organizações corroboram para a formulação de normas e conceitos que pressionam os
Estados a agirem para resolver determinadas situações que a população reclama, mas não consegue
resolver sem o apoio de Organizações Não-Governamentais.
Para que Servem as ONGs?

Para verificar qual o papel das Organizações Não-Governamentais ou por que e para que agem
tais organizações, antes importa considerar o conceito de legitimidade, ou seja, entender as qualidades
e atributos que asseguram a determinadas organizações agirem como tal. As ONGs possuem duas
características que as diferenciam do amplo conjunto na esfera não estatal: sua finalidade e seu caráter
sócio-político. Desse modo, constitui-se como organizações: sem fins lucrativos; ou privadas. São
‘autogovernadas’ com a participação voluntária, além de possuem finalidade pública e função sócio-
política.
Independentemente de possuírem personalidade jurídica internacional, as ONGs têm relevância.
São organizações que corroboram no sistema do Direito Internacional, são os atores mais importantes
da sociedade civil. Devido o seu caráter transnacional essas organizações atuam também na sociedade
civil internacional, no monitoramento de cumprimento de acordos, como o ‘Greenpeace’, por exemplo:
a organização monitora o caso de “caça as baleias”.
De acordo com GONÇALVES (2006), a legitimidade dessas organizações deve ser observada
sob o ponto de vista subjetivo, ou seja, sob a perspectiva dos dominados. Pois considera-se que a
legitimidade seria a qualidade encontrada em determinadas instituições, ou em determinadas regras
pelas quais os indivíduos obedeceriam voluntariamente ao comando, de acordo com o conteúdo das
regras.
No que tange a questão da legitimidade elas advém de causas especificas definidas, como
proteção ao meio ambiente; e refugiados, e etc. Atuam in loco, ou seja, onde estão presentes o caráter e
a luta de enfrentamento, forte ativismo que caracteriza suas atividades e movimentos e os desgastes das
formas tradicionais de representação popular, e etc. Além de capacitação técnica e conhecimento em
diversas áreas.
Por outro lado, GONÇALVES (2006), destaca que embora a atuação das Organizações Não-
Governamentais tenha sua relevância, há uma série de problemas que podem afetar sua legitimidade.
De acordo com o autor, o fato das instituições não serem democráticas, uma vez que seus membros não
são eleitos ou escolhidos pela sociedade, são minoritárias, além de serem suscetíveis de influências
externas, principalmente no que tange a ordem financeira que pode comprometer seu trabalho.
O papel das ONGs é indiscutível na governança global, verifica-se que há situações nas quais as
organizações não poderiam desempenhar papel de representantes e agentes, pois não seriam capazes de
construir uma consciência cívica na humanidade. Segundo GONÇALVES (2006), as Organizações
Não-Governamentais não atendem seus objetivos específicos, pois não representam toda a sociedade de
um modo geral. Ainda pesa sobre as ONGs a própria questão da legitimidade, para o autor o fator mais
grave é a falta de fiscalização, ou seja, dificuldade de controle de monitoramento. Essas organizações
não teriam capacidade de solucionar os problemas comuns planetários de forma também planetária.
Desse modo, a agenda internacional das ONGs sempre estará limitada a temas mais ou menos
específicos e limitar-se a grupos organizados.

Reforma do Estado: Arranjos Institucionais e a Governança Global

No que tange ao status do Estado em relação à governança global, DINIZ (2001) analisa a
concentração do poder técnico, que até então concentrava-se apenas na figura do Estado, preconizou-
se novos estilos de gestão pública. Reverteu-se o confinamento e o insulamento burocrático com os
vínculos estreitados com a política. Nesse sentido, reforçou-se os instrumentos de responsabilização da
administração pública por meio do controle parlamentar através do fortalecimento da sociedade civil. O
compartilhamento de responsabilidades, por assim dizer, diversifica os espaços para a inclusão de
diferentes atores, dessa forma, associa-se o aumento da participação com o reforço das instituições
representativas.
A luz dessa concepção de reforma do Estado, governabilidade e governança devem ser usadas
como conceitos complementares. A governabilidade refere-se às condições sistêmicas mais gerais sob
as quais se dá o exercício do poder. Essas condições, por sua vez, sofrem impacto de acordo com a
forma de governo de um determinado país. A governança trata da capacidade de ação estatal na
implementação das políticas e consecução das metas coletivas, ou seja, abrange situações especificas.
Tal conceito de refere-se à capacidade de inserção do Estado na sociedade, para então romper a
tradição do governo fechado e enclausurado na alta burocracia governamental, desse modo que haja
maior democratização.
No caso do Brasil, a democratização no processo decisório trata-se de uma ação inovadora que
contribui para a melhoria de inúmeros indicadores. Dentre esses indicadores destacam-se questões
como: saneamento básico e infraestrutura urbana, por exemplo.
Outra questão de igual importância é a questão ambiental, ainda que o assunto seja tratado de
muitas vezes de forma marginal, trata-se de um problema de segurança, seja nacional ou internacional.
De acordo com BARROS-PLATIAU; VARELLA e SCHLEICHER (2004), problemas relacionados ao
meio ambiente não podem ser classificados somente como globais, ou seja, consideram-se tais
dificuldades que envolvem governança ambiental, situação que transita entre o global e o
regional/local. Para os autores, as questões de governança a nível local devem ser resolvidas através de
legislações regionais ou locais que envolvam um sistema de gestão coletiva iniciado no seio do aparato
institucional.
A fragilidade política e institucional instalada no continente [sul-americano] de uma maneira
geral, faz com que a grande parte dos temas sociais sejam paradoxalmente fortalecidos no
discurso e fracassados na sua implementação. É justamente está incongruência, que não é
apenas específica do nosso continente, mas também marca o mundo inteiro, o que contribui
para a emergência das ONGs e demais atores da sociedade civil organizada como peças
importantes do debate internacional (BARROS-PLATIAU; VARELLA e SCHLEICHER,
2004).

A citação feita pelos autores expressa a relevância dos temas sociais e a importância das
Organizações Não Governamentais e da sociedade civil como um todo. Não se refere apenas de temas
nacionais ou que implicam apenas o espaço territorial de um país, mas são questões abrangentes e
contemporâneas, que necessitam de respostas. Ainda que o Estado não consiga por meio de sua agenda
resolver tais questões, deve-se propor de forma responsável, meios para fiscalizar e orientar a sociedade
civil nesse trabalho, pois os desafios atuais são gigantescos. BARROS PLATIAU; VARELLA e
SCHLEICHER (2004).
Entre os desafios presentes, destaca-se o problema da reforma do Estado no contexto das
democracias sustentadas. No novo milênio, a questão democrática ultrapassa a consolidação das regras
formais da democracia, trata-se da sustentabilidade da ordem democrática. Não basta alcançar a
institucionalização das ‘regras do jogo’ ou implementar os princípios fundamentais do sistema
poliárquico. Faz-se necessário, em longo prazo, superar as três modalidades de déficit historicamente
acumulados, no decorrer do processo de constituição do Estado da América Latina, e que foram
aguçados sob o impacto da hegemonia.

A Intervenção das ONGs na atuação Estatal

Especialmente no Brasil, as Organizações Não-Governamentais passaram a ser caracterizadas


como entidades de apoio a partir da década de 1980. A multiplicação dessas organizações significou, a
priori, uma reestruturação da sociedade civil e do Estado. As ONGs brasileiras começaram sua atuação
com o apoio da Igreja e se consolidaram de fato devido as bases dos setores populares e por conta de
agências. O contato direto com os problemas cotidianos da população fez com que as ONGs adotassem
temáticas diversas. Nesse contexto as Organizações Não-Governamentais conquistaram espaço na
agenda, com isso, trataram de promover mobilizações em busca de interesses, além da captação de
recursos e poderes modificando, por assim dizer, a estrutura político-social. Dessa forma, conseguiram
visibilidade, logo tratou-se de explorar termos mais complexos como: democracia e cidadania. A partir
dessas mudanças abriu-se uma gama de espaços e temas OLIVEIRA (1999, p.52).
O espaço conquistado no decorrer dos anos pelas Organizações Não-Governamentais suscitou
julgamentos e contestação no que tange ao papel das ONGs: essas instituições prestam contas dos
recursos que recebe; há fiscalização; autonomia e independência; e etc. Mais de três décadas se
passaram e essas questões permanecem sem resposta OLIVEIRA (1999, p.71).
Nesse contexto, em que as ONGs atuam paralelamente com as questões estatais, o Estado
estabeleceu uma relação próxima com a sociedade, fato que desencadeou a reestruturação do Estado.
Tal processo definiu vias de participação e articulação entre o Estado e sociedade civil.
É inegável a importância do Estado, embora o aparato estatal não tenha suporte suficiente para
implementar as políticas públicas necessárias de modo que atenda amplamente a população, por isso a
contribuição das ONGs, são relevantes e suas ações se confundem com ações governamentais. Nesse
sentido a ‘parceria’ entre Estado e sociedade civil tem se mostrado benéfica.

O fortalecimento da sociedade civil e de sua atuação no campo do desenvolvimento social é o


caminho correto para que possamos superar essa herança pesada de injustiça e exclusão. Não
considero esse caminho correto pelo simples fato que aliviaria a tarefa do governo, retirando de
seus ombros uma parcela de sua responsabilidade. Não se trata disso, mas sim de reconhecer
que a ação do terceiro setor no enfrentamento de questões diagnosticadas pela própria sociedade
nos oferece modelos de trabalho que representam modos mais eficazes de resolver problemas
sociais (OLIVEIRA apud CARDOSO, 1999, p. 75).

O texto citado esclarece a relevância de ações coordenadas em prol a atender as carências da


população, principalmente no que tange a ação das ONGs, pois ainda que em determinados momentos
essas organizações busquem seus interesses, também oferecem a sociedade uma contribuição
diferenciada. Tais instituições dispõem de técnicas e temáticas inovadoras e oferecem ao Estado
mecanismos para participar da transformação social que causam. Um exemplo de inovação referente à
integração entre o governo e as ONGs ocorreu durante a gestão do presidente Fernando Henrique
Cardoso: Foram criados Conselhos que tinham como finalidade auxiliar as ONGs na gestão de políticas
públicas. Essas organizações atuaram efetivamente na elaboração de programas sociais nas áreas de
educação (básica), saúde preventiva, reforma agrária, meio ambiente, cultura, crédito popular,
formação profissional, entre outras.
A abrangência do papel das Organizações Não-Governamentais e sua própria atuação exigem
qualidade, eficiência e transparência, em uma conjuntura arrojada na qual a agenda dos países são
desenhadas de acordo com o multilateralismo, ambiente em que a inserção de ONGs nas esferas de
discussões tem se tornado determinante.

ONGs e Políticas Públicas: interação com resultados

As Organizações Não-Governamentais podem contribuir, segundo CARAGGIO (2000, p.170),


para fortalecer posicionamentos estatais frente a agências externas. Essa relação de cumplicidade
garante benefícios para ambos os lados. Pois as ONGs têm colaborado sobremaneira para o avanço de
politicas públicas, como afirma OLIVEIRA (2000), essas instituições atendem localidades, onde o
Estado supre a necessidade da população.
O papel social das Organizações Não-Governamentais, segundo GOUVEIA (2007), surgiu em
um cenário no qual o Estado ‘perdeu’, em partes, a autonomia em relação ao mercado. De acordo com
a autora as ONGs tomaram, por assim dizer, o papel de agentes implementadores de políticas públicas.
Porém, mesmo com a atuação das organizações junto à sociedade civil, essa ação é insuficiente, pois
não cumpre todas as funções garantidas pela Constituição e que devem ser tuteladas pelo Estado. A
ação bem sucedida das ONGs fica restrita a criação de mecanismo que garantam a população meio de
acesso as políticas públicas, mas não substituir a ação estatal nas políticas essencialmente estatais.
Considera-se, então que tantos as ONGs, quanto o aparato estatal não podem garantir as
políticas publicas necessárias, nessa situação surge uma importante aliada para resolver essa questão: a
comunicação e sua influência na relação entre as ONGs e o Estado.
As Organizações Não-Governamentais não possuem políticas especificas para a comunicação
externa, apenas o público interno conhece as formas de comunicação dessas organizações. Essa
consolidação feita de dentro para fora fez com que essas instituições sobrevivessem a momentos
críticos entre as décadas de 1960 e 1970. O papel da comunicação aliado, evidentemente, a informação,
logo denota-se a importância da comunicação na política mundial, que não se restringe as empresas
privadas e o Estado.
Nesse aspecto, a comunicação assume um papel social relevante que divulga, incentiva e
fiscaliza. Assim, a união entre comunicação, ONGs e políticas públicas se traduz no pleno exercício da
democracia (DIDONÉ; MENEZES, 1995).
As ONGs e grande parte da sociedade civil usam como meio de comunicação apenas panfletos,
jornais e revistas, ou seja, meios de comunicação que não despertam curiosidade, esse panorama
dificulta a divulgação das atividades desenvolvidas pelas organizações.
Nesse contexto, a comunicação desenvolve papel eficaz no sentido de trazer as Organizações
Não-Governamentais visibilidade, isso auxilia na implementação das políticas públicas. A interação
político-institucional entre esses agentes, de acordo com DIDONÉ; MENEZES (1995) age para
consolidar e qualificar sua visibilidade.

O Impacto da Sociedade Civil na Esfera Política

No Brasil, o surgimento da sociedade civil ocorreu nas últimas décadas do Século XX, em
decorrência do quadro político e o crescimento das políticas neoliberais. A atuação da sociedade civil
acontece de forma organizada e traz novos agentes e novas agendas, ou seja, representa diferentes
parcelas da população através de grupos e reinvindicações distintas. A sociedade civil organizada,
desde as organizações de bairro ou de trabalhadores, até os grupos internacionais, como a Anistia
Internacional ou o Greenpeace, interagem com o Estado. No bojo de atores que interagem interna e
externamente na esfera estatal, as ONGs figuram como as representantes mais atuante da chamada
sociedade civil (PINTO, 2006).
Com o crescimento das desigualdades e a carência de políticas públicas suficientes, segundo
DUPAS (2005,176) a sociedade passou por uma transição de sociedade política para sociedade
organizacional. O fortalecimento da sociedade civil ocorre em um contexto no qual há necessidade de
ativismo civil. As ONGs, como parte da sociedade civil ocuparam nos últimos anos o vácuo deixado
pelo Estado. Dessa forma, incorporaram-se as esferas estatais e dividem as atividades políticas,
econômicas e sociais DUPAS (2005).
As Organizações Não-Governamentais atuam, de acordo com DUPAS (2005, p.181) como
atores que reformulam, por assim dizer, a democracia na teoria e na prática. As ações dessas
organizações resumem-se em projetos ambiciosos de interferem nas arenas econômicas e estatais.
Nesse contexto, transforma-se a forma de perceber e participar da política, a partir da postura adotada a
ação coletiva torna-se o meio de atuação dos grupos. A ação da sociedade civil organizada tem a
capacidade de influenciar a população de todas as formas, principalmente por meio das mídias.
Para LAVALLE apud DUPAS, (2005), esses movimentos “provocam no espaço público
processos de articulação de consensos normativos e de reconstrução reflexiva dos valores e disposições
morais que norteiam a convivência social.” A observação dos autores aborda aspectos relevantes, pois
as Organizações Não-Governamentais atuam na promoção e representação de temas pertinentes para a
sociedade.
Nesse contexto, a participação política toma nova definição, pois defende interesses específicos,
são decisões também específicas, ou seja, politicamente dirigidas. Tal dinâmica busca afirmação,
aceitação por parte da população, pois as ONGs necessitam de legitimidade diante da opinião pública
para ocupar espaços de poder e alcançar seus objetivos (DUPAS, 2005, p. 183).
As Organizações Não-Governamentais, isto é, o terceiro setor através de suas reinvindicações
tornou-se um modelo de gestão social eficaz, captou recursos financeiros, recebeu incentivos fiscais e
estímulo do setor privado. A atuação eficiente do denominado terceiro setor redefiniu a relação entre a
esfera pública e a privada. Nesse sentido, as corporações aproveitaram para ocupar o vazio com uma
estratégia de comunicação repaginada, a responsabilidade social.
O conceito de responsabilidade social oferecido, por assim dizer, pelas empresas substituiu, de
acordo com DUPAS (2005), a noção de deliberação participativa. Reduziu-se a atuação governamental
com uma propaganda velada pelo slogan de “empresa do bem”. Desse modo, a corporação obtém ainda
mais lucros, suas iniciativas comerciais tomam-se grandes eventos, além do prestigio junto à sociedade.
Nesse jogo, no qual o Estado atua e sede espaço para a sociedade civil, as empresas (na maioria
transnacional) pegaram ‘carona’. Por um lado, o Estado oferece políticas públicas ineficientes, por
outro lado, as empresas são grandes financiadoras de ONGs. Nesse ambiente de múltiplos interesses,
percebe-se a imposição, posição antidemocrática, mesmo que de forma velada.
Em relação à autonomia tanto da sociedade civil, quanto do Estado, os próprios atores
reconhecem o início da interação em projetos de políticas públicas, porém o Estado permanece com a
mesma estrutura organizacional. Nesse contexto, a sociedade civil representa o processo de
organização e reconstrução na qual a população com renda mais baixa concentra suas expectativas,
pois a situação é usada, politicamente por diversos países como argumento de reconstrução, por isso a
sociedade civil brasileira uma instituição pluralista AVRITZER (2012).
DUPAS (2005, p.184), considera que o modelo de representação político-social desenvolvido
pela sociedade civil choca-se tanto com a chamada democracia direta, quanto com a democracia
representativa. Nesse aspecto, há ausência de atuação democrática, a democracia dilui-se na vontade de
lideranças ou grupos de interesse. Para gerir essa questão a ação estatal torna-se fundamental, pois o
Estado enquanto ator soberano exerce poder regulador perante outros atores e seus mecanismos. Ainda
que se aceite os conceitos minimalistas schumpeterianos, a ação da sociedade civil e o papel do Estado
devem ser repensados do ponto de vista democrático.
A modificação do padrão das tradições políticas no Brasil e o privatismo, de acordo com
AVRITZER (2012) esta vinculada ao comportamento dos políticos em relação à sociedade civil. Outra
questão que transformou de maneira brusca foi à transição do autoritarismo à democratização ocorrida
no Brasil. De modo que, sair de um estágio de repressão para um sistema democrático participativo,
exige tanto do Estado quanto das instituições que agem e interagem com governo AVRITZER (2012).
AVRITZER (2012) explica a lógica entre o Estado e a sociedade civil no Brasil;

Só é possível entender essa lógica a partir da perspectiva de uma sociedade civil pluralista que
se entende como independente dos partidos. É justamente essa independência que lhe permitiu
sobreviver à crise política que têm assolado o Brasil durante os últimos anos e manter a sua
legitimidade entre amplos setores da sociedade.

Segundo o entendimento de AVRITZER (2012) na citação, a sociedade civil resistiu às crises


ocorridas no Brasil devido ao pluralismo brasileiro e a legitimidade concedida pela própria sociedade.
Esse contexto reafirma que uma Organização Não-Governamental somente sobrevive se houver
legitimidade conferida pela própria sociedade. Logo, a ação da sociedade civil apenas atua
simultaneamente com a atuação governamental, e está, por sua vez prevalece devido a sua condição
imperante de Estado.
Independentemente, do prisma pelo qual se analisar a atuação da sociedade civil ou das ONGs
em âmbito nacional o internacional, entende-se que tanto as Organizações Não-Governamentais quanto
o Estado não conseguem suprir todas as necessidades da população, não cabe discutir os fatores que
impedem a implementações de tais ações, mas o que importa destacar é que muitos são os canais que
corroboram para que a ação do Estado em conjunto com as ONGs, garantem melhores oportunidades
para a população, de forma geral.
Cabe ressaltar Organizações ativas e responsáveis atuando em conjunto com o Estado
automaticamente o constrange a reforma ou modernização. Ambiente no Qual a reestruturação social e
o fortalecimento da sociedade civil corroboram com o desenvolvimento da nação. Nesse sentido,
ocorrem oportunidades de parcerias com outros países nas áreas política, econômica e social.
Alavanca-se o crescimento e abre-se a possibilidade de melhoria na qualidade de vida dos cidadãos.

Considerações Finais

O presente artigo aborda a relação ente as Organizações Não-Governamentais integrantes da


sociedade civil e o papel do Estado. A atuação das ONGs são relevantes pois são agentes de
transformação em todas as esferas da sociedade, além de sua atuação ultrapassar fronteiras, em países
com pouca visibilidade essas organizações tornam-se o canal de reinvindicações da população. Nesse
contexto, destaca-se a importância das Organizações Não-Governamentais na construção social,
especialmente no Brasil, pois essas organizações atuam na implementação de políticas públicas e
preenchem, dessa forma, a laguna que poderia ser ocupada efetivamente pela atuação de agências
governamentais.
Constata-se que independente das questões de transparência, fiscalização e legitimidade que
cercam as Organizações Não-Governamentais, sua atuação é imprescindível, no que refere-se ao
atendimento de questões de interesse geral e consegue influenciar decisões, tanto em âmbito nacional,
quanto internacional. Mas não substituem a atuação do Estado, pois não possuem legitimidade
institucional suficiente para tal. As Organizações Não-Governamentais e os Estados apenas interagem
na promoção de politicas públicas.
A sociedade civil atua de forma independente, em muitos casos recebe amparo público e
privado, além de apoio dos meios de comunicação e o apoio da sociedade como um todo. O
reconhecimento e visibilidade que as ONGs conquistaram no decorrer do seu aparecimento, aliado ao
apoio que as Organizações Não-Governamentais recebem da população concedem legitimidade para
suas ações seja dentro ou fora do aparato estatal. Essa legitimidade não deve ser comparada a uma
disputa de poder com o Estado, tão pouco determinar os rumos de um regime democrático.
Conclui-se que a importância da sociedade civil é inegável, mas essa constatação não impede o
poder estatal e muda os rumos de um processo democrático.

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