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Graciliano Ramos:
crítica social e análise
psicológica
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No agreste em meio à desolação da paisagem, fundem-se o
drama da terra e o do homem
REPRODUÇÃO
28/12/2008
A construção de um burguês
Diversificam-se as criações, invade terras vizinhas, se constrói
açude e a capela. Ergue uma escola em vista de obter favores
do Governador (reminiscência da política café com leite x
política dos governadores) Chama Padilha (escritor e militante)
para ser professor. Estando a fazenda prosperando, Paulo
Honório procura uma esposa a fim de garantir um herdeiro.
Procura uma mulher da mesma forma que trata as outras
pessoas - como objetos. Idealiza uma mulher morena, perto
dos trinta anos, e a mais perto da sua vontade é Marcela, filha
do juiz (Dr. Magalhães). Não obstante conhece uma moça
loura, da qual já haviam falado dela. Decide por escolher essa.
A moça é Madalena, professora da escola normal. Paulo
Honório mostra as vantagens do negócio, o casamento, e ela
aceita. Não muitos tempos depois de casado, começam os
desentendimentos. Paulo Honório, no início, acredita que ela
com o tempo se acostumariam a sua vida. Madalena, mulher
humanitária e de opinião própria, não concorda com o modo
como o marido trata os empregados, explorando-os. (embate
capitalista x socialista)
O eu e um fantasma
Sua imagem o persegue. As lembranças persistem em seus
pensamentos. Então, pouco a pouco, os empregados
abandonam São Bernardo. Os amigos já não freqüentam mais
a casa. Uma queda nos negócios leva a fazenda à ruína.
Sozinho, Paulo Honório vê tudo destruído e, na solidão,
procura escrever a história da sua vida. Considera-se aleijado,
por ter destruído a vida de todos ao seu redor. Reflete a
influência do meio quando afirma: ´A culpa foi minha (Jean-
Paul Charles Aymard Sartre), ou antes, a culpa foi desta vida
agreste, que me deu uma alma agreste (Hippolyte Adolphe
Taine)´ (p.187) ´Madalena entrou aqui cheia de bons
sentimentos e bons propósitos´. ´Os sentimentos e os
propósitos esbarraram com a minha brutalidade e o meu
egoísmo´. (p.187) (coisificação, reificação) Creio que nem
sempre fui egoísta e brutal. A profissão é que me deu
qualidades tão ruins. (fisiologismo de Adam Smith) ´E a
desconfiança terrível que me aponta inimigos em toda parte´!
(p. 187) A desconfiança é também conseqüência da profissão.
(p.187) (Adam Smith et Hippolyte Adolphe Taine). ´Foi este
modo de vida que me inutilizou. ´Sou um aleijado (Santo
Agostinho) Devo ter um coração miúdo, lacunas no cérebro,
nervos diferentes dos nervos dos outros homens.´- Afirma
incisivo. (p.187).
O olho da crítica
Conforme os críticos literários Graciliano Ramos é um dos mais
importantes autores da literatura brasileira, cujo interesse
estético é inseparável do comprometimento ético. Seja por
suas intervenções no campo político, pelo empenho em favor
dos oprimidos ou ainda pela defesa do artista no mundo
moderno, Graciliano Ramos reafirma, de modo inconfundível, o
vínculo entre literatura e vida. Literatura e experiência
confundem-se nas suas obras. Ele chama a atenção para o
espaço autobiográfico em que sua obra se insere. A aderência
textual à vida concreta é acompanhada da superação de seus
limites autobiográficos ou referenciais, compondo a química
paradoxal da sua obra: inclusão x exclusão, social x apartação.
O seu compromisso é, sobretudo com as questões político-
sociais num ´status quo´ aristocrático, autoritário,
antidemocrático e ditatorial, razão pela qual se tornou militante
do Partido Comunista Brasileiro desde 1945 até a morte. O seu
engajamento retrata um período crucial da história brasileira,
que culmina com o Estado Novo. Bem articulado com a prática
literária que constitui a vanguarda de 30 (Raquel de Queiroz,
José Lins do Rego, Jorge Amado e Aníbal Machado), em
nenhum momento faz essa prática tendenciar para as
facilidades do panfleto ou ceder à sedução das relações
imediatas (a mesmice parnasiana). Ao contrário, em razão do
conflito que apresentam entre texto e história, sujeito e
discurso, memória e imaginação, seus livros se abrem a uma
série de indagações experimentais que, desde o romance de
estréia, Caetés (1933), desautoriza toda sorte de respostas
excludentes e definitivas, para nosso espanto e dos próprios
narradores colocados em cena pelo autor, sejam eles
autobiográficos ou não. Melhor dizendo estabelece a
bipolaridade dos conflitos: estéticos x anti-estético, social x
segregacionista. Nesses planos não há lugar para ilusões,
melhor dizendo para Alice no país da maravilha, ou para a
Pocaronda brasileira. Enfim seus personagens são quase
sempre experimentais e ensaístas, que na minha concepção é
quase tudo que o Brasil precisa para se enxergar neles ou se
descobrir como sujeito histórico, crítico e protagoneutico da sua
própria realidade.
O discurso estético
Por ser um dos principais escritores do movimento da Geração
de 30 e pertencer a uma plêiade intelectiva de escritores
modernistas brasileiros, tais como Rachel de Queiroz, José
Lins do Rego, Érico Veríssimo e Jorge Amado. Graciliano
Ramo bebeu das estéticas inovadoras de 22, pendendo para o
regionalismo objetivo. Sua principal característica foi a
denúncia do social, retratando passo a passo a realidade de
nosso povo a exemplo de Angústia (1936) com traços
existencialista de Jean-Paul Sartre e Dostoiévski. Se observa
uma linha tênue entre o ´Eu ´ x o ´Mundo Exteno´. Existe este
embate recorrente. O desbanalizado x O banalizado . É neste
embate que o escritor recorre diante de diversas correntes
ideológicas e filosóficas para destilar a essência da sua
idiosincrasia com o fim de impactar contra a mesmice das
estéticas literárias de 22, salvo algumas exceções, com o
propósito de despertar na sociedade da sua eterna hibernação
histórica e social tanto para com os iletrados, os analfabetos,
os camponêses quanto para os conscientes de sua ignocidade
que se autodenominavam literatura moderna, arautos da
política ou das autoridades espirituais e temporais. Enfim, é
neste neste inconsciente coletivo advindo dos efeitos do
aconchavo político entre os produtores aristocráticos e o
imperador D. Pedro II (fisiocratas positivistas), da lª Guerra
mundial, da crise de 1929, da ditadura de 30 e por último da
intentona comunista de 1935 que Graciliano Ramos irá abrir os
horizontes através de suas obras, ora autobiografica; ora
ensaista, como por exemplo, o personagem Paulo Onório. O
eu-narrador se sente menor que o mundo e tenta amar e
mudar as coisa através da sua revolta (eu-deuteragonista da
mesmice). Aqui se percebe claramente a bipolarização do
tempo, ora o eu-protagonista com o tempo do enunciado, ora o
eu-deuteragonista com o tempo da enunciação, isto é, tempo
pretérito e tempo presente.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=601447