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ECOLOGIA E MANEJO

DE RECURSOS PESQUEIROS
EM RESERVATÓRIOS
DO BRASIL
Angelo Antonio Agostinho
Luiz Carlos Gomes
Fernando Mayer Pelicice

ECOLOGIA E MANEJO
DE RECURSOS PESQUEIROS
EM RESERVATÓRIOS
DO BRASIL

Editora da Universidade Estadual de Maringá

Reitor: Prof. Dr. Décio Sperandio


Vice-Reitor: Prof. Dr. Mário Luiz Neves de Azevedo
Diretor da Eduem: Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado
Editor-Chefe da Eduem: Prof. Dr. Alessandro de Lucca e Braccini

CONSELHO EDITORIAL
Prof. Dr. Antonio Belincanta, Prof. Dr. Benedito Prado Dias Filho, Prof. Dr. Carlos
Alberto Scapim, Prof. Dr. Edson Carlos Romualdo, Prof. Dr. Eduardo Augusto Maringá
Tomanik, Prof. Dr. Edvard Elias de Souza Filho, Profa. Dra. Hilka Pelizza Vier Machado, 2007
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Antonio Pereira, Prof. Dr. Neio Lucio Peres Gualda.
Divisão de Projeto Gráfico Projeto Gráfico e Editoração
Marcos Kazuyoshi Sassaka Jaime Luiz Lopes Pereira

Divisão de Marketing Normalização


Marcos Cipriano da Silva Biblioteca Setorial do Nupélia
Maria Salete Ribelatto Arita
Revisão de Língua Portuguesa Márcia Regina Paiva
Prof. Dr. Antonio Augusto de Assis
Tiragem
Capa – arte final 1000 exemplares
Jaime Luiz Lopes Pereira

“Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)”


(Biblioteca Setorial – UEM. Nupélia, Maringá, PR, Brasil)

Agostinho, Angelo Antonio, 1950-


A275e Ecologia e manejo de recursos pesqueiros em reservatórios do Brasil / Angelo
Antonio Agostinho, Luiz Carlos Gomes, Fernando Mayer Pelicice. -- Maringá :
Eduem, 2007.
501 p. : il.
Bibliografia: p.[455]-501.
ISBN
1. Pesca de água doce – Reservatórios – Brasil. 2. Recursos pesqueiros –
Manejo – Reservatórios – Brasil. 3. Ecologia de reservatórios – Brasil. I. Gomes,
Luiz Carlos, 1965- . II. Pelicice, Fernando Mayer, 1977-.

CDD 22. ed. - 639.210981


NBR/CIP - 12899 AACR/2

Maria Salete Ribelatto Arita CRB 9/858


João Fábio Hildebrandt CRB 9/1140
Márcia Regina Paiva CRB 9/1267

Copyright © 2007 para os autores UEM - Nupélia


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eletrônico, reprográfico, etc., sem a autorização, por escrito, dos autores.
Todos os direitos reservados desta edição © 2007 para Eduem.
As descobertas, interpretações e conclusões expressas neste livro são de responsabilidade dos autores, Universidade Estadual de Maringá - UEM
e não refletem, necessariamente, as posições da Eletrobrás ou do governo que ela representa. Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aqüicultura – Nupélia

Diretora do Centro de Ciências Biológicas: Prof. Dr. Sonia Lucy Molinari. Vice-Diretora do
Centro de Ciências Biológicas: Prof. Dr. Izabel de Fátima Andrian. Coordenador Geral do Nupélia:
Endereço para correspondência: Prof. Dr. Horácio Ferreira Júlio Junior. Vice-Coordenador Geral do Nupélia: Prof. Dr. Samuel
Eduem – Editora da Universidade Estadual de Maringá Veríssimo. Coordenadora Administrativa do Nupélia: Maria Claudia Zimmermann Callegari.
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Fone: (0XX44) 3261-4527/3261-4394 – Fax: (0XX44) 3261-4394
Site: http://www.eduem.uem.br – E-mail: eduem@uem.br Prof. Dr. Angelo Antonio Agostinho
Agradecimentos
A Eletrobrás. pelo patrocínio desta obra;

Ao Setor Elétrico Brasileiro, que disponibilizou dados históricos sobre os estudos conduzidos
nos seus diversos reservatórios. Especial agradecimento para as concessionárias ligadas a
Eletrobrás (Chesf, Eletronorte, Furnas e Itaipu Binacional) ou não (Cemig, Cesp, Copel, Duke
Energy e Tractebel), cujas informações foram fundamentais para essa realização;

Ao Pronex/CNPq pelo apoio aos estudos de 30 reservatórios paranaenses;

A Carla Canzi, Maria Luiza Millazo e Rodrigo Martins Amorim, do Departamento do Meio
Ambiente da Eletrobrás, pela leitura criteriosa e importantes contribuições dadas durante os
trabalhos de revisão;

Ao Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aqüicultura (Nupélia), que disponibilizou


dados e infra-estrutura;

A Bibliotecária Maria Salete Ribelatto Arita, pelo rigor na normalização da obra e o incentivo
dado;

Ao Jaime Luiz Lopes Pereira, pela diagramação e arte do livro e a paciência na correção dos
nossos erros;

Ao Dr Miguel Petrere Jr, pela revisão do manuscrito e as palavras de incentivo;

Ao Professor Antonio Augusto de Assis, pela paciente revisão gramatical;


Patrocínio Aos alunos da disciplina “Ecologia e Administração Pesqueira em Reservatórios”, que paciente
e compulsoriamente leram todos os capítulos dessa obra, com numerosas sugestões, sendo
Eletrobrás Minas e Energia que a maior parte delas considerada em nossa revisão;
Ministério de Minas e energia
Depto. do Meio Ambiente U M P A ÍS D E T O D O S A Editora da Universidade Estadual de Maringá (Eduem) e ao seu diretor pela atenção
dispensada na etapa de impressão;

A Helena São Thiago (Furnas Centrais Elétricas) e ao Domingo Rodriguez Fernandez (Itaipu
Apoio Binacional) pela disponibilidade nas discussões de alguns dos temas tratados nessa obra.

Ao economista Jair Gregoris, pelo empenho no gerenciamento do projeto;


Ciências e Tecnologia Ao Pitágoras Augusto Piana, pela sistematização das informações enviadas pelo Setor Elétrico;
Ministério de Ciências e Tecnologia
U M P A ÍS D E T O D O S
E, por fim, aos nossos familiares, pela tolerância com a nossa ausência.
Sumário

Capítulo 1
Introdução ......................................................................................................................... 1
Dificuldades na conservação e preservação de recursos pesqueiros ..................... 3

Capitulo 2
A Ictiofauna Sul-Americana .......................................................................................... 11
Introdução ...................................................................................................................... 12
História natural de peixes neotropicais ..................................................................... 13
Estratégias de vida ........................................................................................................ 14
Reprodução e sazonalidade ........................................................................................ 15
Migração ......................................................................................................................... 17
Uso do espaço ................................................................................................................ 27
Alimentação natural ..................................................................................................... 33
Considerações finais ..................................................................................................... 37

Capítulo 3
Os Reservatórios Brasileiros e sua Ictiofauna ............................................................ 39
3.1 Os Reservatórios Brasileiros .................................................................................. 41
Introdução .................................................................................................................... 41
A evolução dos represamentos no Brasil ................................................................. 43
Os reservatórios por bacias hidrográficas ............................................................... 49
Considerações finais .................................................................................................. 59
3.2 A Ictiofauna de Reservatórios ................................................................................ 69
Introdução .................................................................................................................... 69
Diagnóstico da ictiofauna ......................................................................................... 74
Riqueza de espécies .................................................................................................... 78
Abundância ................................................................................................................. 81
Riqueza e composição dominante ............................................................................ 85
Espécies migradoras ................................................................................................... 92
Estrutura trófica .......................................................................................................... 94
Considerações finais .................................................................................................. 97
Aspectos históricos das estocagens .......................................................................... 255
O insucesso da estocagem: lições a serem aprendidas .......................................... 260
Capítulo 4 Implicações nos recursos naturais ........................................................................... 267
Impactos dos Represamentos ...................................................................................... 107 Considerações finais ................................................................................................... 273
Introdução ..................................................................................................................... 108 6.3 Aqüicultura .............................................................................................................. 275
Corpo do reservatório ................................................................................................... 109 Introdução .................................................................................................................... 275
Jusante do reservatório ................................................................................................. 138 Problemas na aqüicultura brasileira ........................................................................ 276
Montante do reservatório ............................................................................................. 148 Distorções na atividade .............................................................................................. 280
Na barragem .................................................................................................................. 148 Problemas socioambientais ....................................................................................... 285
Efeitos cumulativos ...................................................................................................... 149 Pescador x aqüicultor ................................................................................................. 300
Considerações finais .................................................................................................... 151 Considerações finais ................................................................................................... 305

Capítulo 5 6.4 Mortandade de Peixes em Barragens .................................................................... 307


Introdução .................................................................................................................... 307
A Pesca em Reservatórios ............................................................................................. 153 Causas das injúrias e mortes de peixes .................................................................... 308
5.1 A Exploração e os Recursos Pesqueiros ............................................................... 155 Vertedouro ................................................................................................................... 310
Introdução .................................................................................................................... 155 Turbinas ....................................................................................................................... 314
A complexidade da conservação de recursos pesqueiros ..................................... 156 Atração e mortalidade de peixes no tubo de sucção .............................................. 320
Considerações finais ................................................................................................... 322
5.2 Rendimento da Pesca em Reservatórios ............................................................... 163
Introdução .................................................................................................................... 163 6.5 A Remoção Prévia da Vegetação ........................................................................... 323
A pesca em reservatórios tropicais ........................................................................... 165 Introdução .................................................................................................................... 323
Diagnóstico da pesca em reservatórios brasileiros ................................................ 168 Importância da estruturação dos hábitats ............................................................... 323
Considerações finais ................................................................................................... 190 Processo de decomposição ......................................................................................... 327
Erosão ........................................................................................................................... 328
5.3 Aspectos Socioeconômicos da Pesca .................................................................... 195
Introdução .................................................................................................................... 195 Qualidade da água ..................................................................................................... 328
Diagnóstico socioeconômico da pesca ..................................................................... 198 Produtores primários .................................................................................................. 330
Considerações finais ................................................................................................... 225 Invertebrados do plâncton e bentos .......................................................................... 332
Peixes ............................................................................................................................ 333
Capítulo 6 Pesca ............................................................................................................................. 336
Considerações finais ................................................................................................... 336
Manejo da Pesca em Reservatórios Brasileiros ........................................................ 227
6.6 Introdução de Espécies ........................................................................................... 339
6.1 Mecanismos de Transposição ............................................................................... 231
Introdução .................................................................................................................... 339
Introdução .................................................................................................................... 231
Aspectos conceituais, teóricos e operacionais ........................................................ 341
A experiência brasileira ............................................................................................. 237
Processos envolvidos nas introduções ..................................................................... 344
Transposição x conservação ..................................................................................... 239
Razões para introduções ............................................................................................ 347
Considerações finais ................................................................................................... 251
Impactos das introduções .......................................................................................... 349
6.2 Estocagem ................................................................................................................. 253 Espécies não-nativas em reservatórios ..................................................................... 356
Introdução .................................................................................................................... 253 Predição da colonização e de impactos ................................................................... 364
Considerações finais ................................................................................................... 371

6.7 O Controle da Pesca ............................................................................................... 373 Apresentação


Introdução .................................................................................................................... 373
Formas de controle da pesca ..................................................................................... 375
Considerações finais ................................................................................................... 381
Quando uma nova represa é construída, ou Daí, baseados nesse estudo de caso, e
por qualquer motivo se faz referência a também em outros estudos resultantes de
Capítulo 7
alguma já existente, em geral os parcerias mais recentes entre o Nupelia e
As Ações Ambientais em Andamento no Setor Elétrico Brasileiro ...................... 383 planejadores se esquecem da pesca de outras concessionárias de energia (Furnas e
Introdução .................................................................................................................... 384 pequena escala que rapidamente nela se Copel) ou órgãos de fomento (Pronex-
Recursos humanos e instalações .............................................................................. 384 desenvolve. E os recursos pesqueiros são a CNPq), seus autores fizeram uma extensão
Ações ambientais ........................................................................................................ 386 fonte de proteína mais facilmente muitíssimo apropriada para outros
Instrumentos de manejo da pesca ............................................................................. 388 disponível e mais barata para o pobre, reservatórios brasileiros.
Usos múltiplos ............................................................................................................ 390 gerando emprego, renda e senso de
Monitoramento ambiental .......................................................................................... 391 cidadania, além de se constituírem em As idéias que jorram deste livro belo
Disponibilidade da informação ................................................................................ 396 permanente lazer através da pesca tornam sua leitura um encanto
Considerações finais ................................................................................................... 402 esportiva. permanente, revelando grande dedicação
ao trabalho de campo, absoluto domínio da
Capítulo 8 Assim este livro, escrito a seis mãos, é literatura e extraordinária criatividade
oportuníssimo, lançando luzes sobre esse científica.
Perspectivas para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios ............... 403 importante tema. Ele é conseqüência de um
Introdução .................................................................................................................... 404 convênio pioneiro e exemplar, firmado há Sua publicação dignifica a ciência
Pressupostos para ações bem sucedidas ................................................................. 405 mais de 20 anos, entre a UEM/Nupélia e a brasileira, e de modo muito particular,
Natureza das ações ambientais ................................................................................ 413 Itaipu Binacional, que tornou Itaipu o sutil até, faz bem para nossa auto-estima,
Manejo de populações ................................................................................................ 423 reservatório de grande porte melhor (nós) colegas de seus autores.
Manipulação de hábitats ........................................................................................... 432 estudado na região Neotropical, e
Controle da pesca ........................................................................................................ 439 possibilitou aos seus autores uma rara
Outras ações ................................................................................................................ 442 oportunidade em nosso país, a de
estudarem e aprenderem de modo Prof. Dr. Miguel Petrere Junior
Capítulo 9 contínuo, como funciona sua biocenose.
Unesp – Rio Claro

Referências ...................................................................................................................... 455


Prefácio

Os reservatórios são hoje componentes Nas últimas duas décadas, entretanto, o


indissociáveis da paisagem brasileira, setor vem investindo em levantamentos e
presentes em todas as grandes bacias estudos de seus reservatórios, buscando o
hidrográficas. Resultado da opção feita entendimento do sistema que quer
pelo país para a geração de energia manejar. Essa busca gerou grande parte do
elétrica, essas obras de engenharia têm conhecimento hoje disponível sobre a
proliferado de forma fantástica e limnologia, a ictiologia e a exploração dos
desempenham papel preponderante na recursos pesqueiros de ambientes
matriz energética nacional. aquáticos continentais na região
neotropical. Essa obra pretende
Embora a operação dessas obras para fins contextualizar os problemas (Capítulo 1),
energéticos produza inegáveis benefícios sumarizar esse conhecimento (Capítulos 2
sociais e econômicos para o país, é também a 5), avaliar as ações de manejo
incontestável a importância dos impactos empreendidas e em andamento (Capítulo 6
negativos que causam sobre o ambiente, a e 7) e apresentar as perspectivas para a
sociedade, a cultura e mesmo a setores da racionalização dos esforços para mitigação
economia. dos impactos dos represamentos e das
ações de manejo (Capítulo 8).
Na tentativa de atenuar esses impactos
negativos, especialmente sobre os recursos Nesse sentido, cabe agradecer à Eletrobrás
pesqueiros, o setor hidrelétrico, muitas pelo patrocínio deste documento,
vezes constrangido por determinações isentando-a da responsabilidade pelas
legais, adotou medidas de manejo que, na opiniões, interpretações e conclusões
maioria dos casos, se revelaram ineficazes apresentadas, atribuindo-as
ou mesmo produziram resultados exclusivamente aos autores. Por oportuno,
adversos. A escassez de informações sobre agradecemos às concessionárias ligadas a
o sistema a ser manejado, o predomínio da essa holding (Chesf, Eletronorte, Furnas e
decisão político-eleitoreira sobre a técnica, Itaipu Binacional) ou não (Cemig, Cesp,
os equívocos da legislação sobre o tema e a Duke Energy, Tractebel e Copel) pela
ausência de um planejamento global para disponibilização de dados e informações.
as ações são aspectos responsáveis por
esses resultados. Além disso, a ausência de Finalmente, ressalta-se que esse livro não
monitoramento das ações empreendidas tem a pretensão de esgotar o assunto ou
não nos permitiu aprender com os erros sequer se constituir em obra acabada.
cometidos. Como todo conhecimento ele estará
sempre em revisão e construção. O caráter crescente desenvolvimento científico
provocativo na abordagem de assuntos nacional sobre o assunto nas últimas

1
polêmicos, muitas vezes apresentando décadas, um ano é bastante tempo em
conclusões sobre temas que ainda carecem relação a geração de novos conhecimentos.
de estudos e discussões, foi proposital e Entretanto, embora não citados, estes
visa receber contestação. É oportuno
destacar também que a obra está pronta há
novos aportes não alteram nossas
conclusões. Pelo contrário, as confirmam.
Capítulo
quase um ano e, por questões burocráticas,
somente agora foi publicada. A julgar o Os autores
Introdução
N os últimos anos, o foco das ações de governo sobre o
combate à fome mediante o uso de águas públicas para a

produção de alimento lançou luzes sobre o grave problema da


pesca e dos recursos pesqueiros em águas interiores,
especialmente em reservatórios. A despeito da necessária
urgência de ações de manejo que incrementem a produção de
pescado, estas devem ser planejadas com base em um amplo
diagnóstico do uso múltiplo em reservatórios e, principalmente,
de uma avaliação de experiências anteriores no uso de táticas
similares. Neste documento, concebido com o objetivo de
subsidiar as discussões sobre o tema, pretende-se elaborar um
diagnóstico abrangente acerca da produção de peixes em

reservatórios e avaliar as iniciativas de manejo pregressas,


analisando as perspectivas para novas ações.
2 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução 3

A tualmente, os reservatórios artificiais, em O baixo rendimento da pesca profissional O monitoramento do resultado, se Ambiente do Setor Elétrico Brasileiro -
especial aqueles de usinas hidrelétricas, estão nos reservatórios do Sul-Sudeste do Brasil conduzido de modo apropriado, teria COMASE, como parte do Seminário Sobre
presentes em todas as grandes bacias (PETRERE JUNIOR; AGOSTINHO, 1993; CESP, 1996) e contribuído não apenas para o Fauna Aquática e o Setor Elétrico Brasileiro
hidrográficas brasileiras e, em algumas o virtual desaparecimento das espécies de aprimoramento ou abandono de algumas (SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA ..., 1994).
regiões, caracterizam de forma marcante a maior porte naqueles do alto rio Paraná técnicas, como também para a formação de
paisagem local. Essas obras de engenharia (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR; PETRERE JUNIOR, 1994; recursos humanos na área. Ele foi, no As políticas públicas implantadas
provocam importantes modificações de PETRERE JUNIOR; AGOSTINHO; OKADA; JÚLIO JÚNIOR, entanto, esporádico. recentemente no Brasil, em especial aquelas
ordem econômica, social e ambiental nas 2002) demonstram de maneira irrefutável relacionadas ao combate à fome, têm
bacias em que são instaladas, em grande esse fato. Mesmo o rendimento das espécies Decorridas mais de quatro décadas de estimulado iniciativas de uso das águas
parte decorrente das alterações impostas na nativas não mostrou, para os reservatórios manejo, os recursos pesqueiros em públicas que a história do manejo dos
dinâmica natural dos recursos pesqueiros. estudados, relação com o esforço de reservatórios hidrelétricos brasileiros recursos pesqueiros em reservatórios do
repovoamento. Embora os dados de pesca apresentam ainda graves deficiências em sua Brasil sugere ser ambiental, social e
Em algumas bacias, como a do rio Paraná e não estejam disponíveis para reservatórios forma de exploração e rentabilidade, além de economicamente inadequadas. A produção
São Francisco, poucos trechos de rio de outras bacias que foram objeto dessas outros problemas no sistema de pesca, como massiva e rápida de pescado visando atender
permanecem sem a influência de ações de manejo, não há indicações de que o a conservação, processamento e a uma demanda real por alimento é
represamentos, preservando suas quadro seja diferente. comercialização do pescado. Essa exploração aspiração legítima e tem forte e justo apelo
características lóticas originais. A opção é exercida especialmente nas regiões Sul- político. A estratégia para atender a esse
brasileira pela hidroeletricidade e a crescente Obviamente, esses insucessos representam Sudeste e Nordeste, em sua maioria, por anseio deve, entretanto, considerar as
demanda de energia permitem antever que a equívocos na alocação de recursos e pessoas excluídas de outras atividades implicações ambientais e a viabilidade
ocupação de novas bacias hidrográficas ou esforços, e podem ser atribuídos, entre produtivas. As deficiências do sistema têm socioeconômica. Nesse contexto, cremos que
sub-bacias será inevitável. As perdas na outros fatores, (i) à insuficiência ou produzido um quadro de miséria que iniciativas de avaliação das ações tomadas
biodiversidade local e as alterações impostas inadequação das informações disponíveis; contrasta, em algumas regiões, com a em relação à conservação dos estoques
no funcionamento dos ecossistemas são (ii) ao enfoque reducionista com que os pujança da economia regional. pesqueiros, sua exploração e a preservação
fenômenos cada vez mais popularmente projetos de manejo são apresentados e das espécies, como a que é buscada nesta
compreensíveis e a implementação de implementados; (iii) à ausência de Na última década, verificou-se uma obra, sejam oportunas.
medidas atenuadoras de impacto é agora uma monitoramento como parte do programa de tendência promissora no setor hidrelétrico
exigência ética demandada pela sociedade. manejo; (iv) a equívocos históricos na de abandono de práticas de manejo baseadas
legislação pertinente; (v) a deficiências na na tentativa e erro, particularmente aquelas Dificuldades na Conservação
Ao longo do século XX, a construção de integração interinstitucional. relativas à estocagem de espécies alóctones. e Preservação de Recursos
reservatórios nos rios brasileiros foi O enfoque predominante, atualmente, é o Pesqueiros
acompanhada pela adoção de uma série de Ressalta-se que essas medidas foram dos levantamentos, estudos, repovoamento e
ações de manejo, com ênfase na pesca. tomadas sob forte pressão política e monitoramento dos desembarques
Entretanto, as ações implementadas pelo constrangimento legal. Tais fatos, aliados ao pesqueiros como meio de avaliar as ações P ara que as ações de manejo alcancem os
setor elétrico com o objetivo de minimizar quadro de evidente decréscimo nos estoques implementadas. objetivos de conservação e preservação dos
os impactos dos represamentos, preservar de peixes migradores de grande porte, não recursos pesqueiros, é necessária uma grande
estoques pesqueiros ou aumentar o rendi- facultaram ao tomador de decisão a Essa tendência foi reforçada nas discussões quantidade de informações, obtidas em
mento da pesca em seus reservatórios podem possibilidade da investigação ou a realizadas no setor em diversas reuniões escala espacial e temporal adequadas, de
ser, até agora, consideradas malsucedidas, alternativa de manejo do “nada fazer”, que, temáticas promovidas pelo Comitê todos os componentes envolvidos no
exceto em casos esporádicos. em muitas circunstâncias, seria preferível. Coordenador das Atividades de Meio sistema. Assim, são necessárias informações
4 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução 5

dos organismos (tais como taxonomia, espécies reconhecidas carecem ainda de uma sobre nossa fauna e (ii) a inadequação dos demandaria décadas de trabalho de equipes
ecologia, dinâmica populacional e história denominação científica. recursos metodológicos, instrumentais, altamente qualificadas e um investimento
de vida), do ambiente em que vivem (tais científicos e de modelagem para obtê-los. muito maior que aquele que vem sendo
como limnologia, qualidade e quantidade de Os estudos de natureza ecológica são ainda aplicado.
água), dos usuários (tais como mais escassos. Várias bacias, mesmo algumas Numa situação ideal, o diagnóstico ou
socioeconomia, percepções e leis) e das situadas próximo a instituições de pesquisa, prognóstico dos impactos pressupõe a Em relação aos procedimentos
atividades pesqueiras (tais como espécies jamais foram investigadas em relação a este existência de informações sobre metodológicos e recursos instrumentais
preferenciais, rendimento e estratégias de tema e em outras os estudos iniciaram distribuição, abundância, ciclo de vida para a obtenção de dados, bem como ao
pesca) (NIELSEN, 1993; MIRANDA, 1996; MCMULLIN, recentemente. (incluindo alimentação, reprodução e embasamento científico e aos modelos
1996; NEY, 1996; AGOSTINHO; GOMES, 1997). crescimento), requerimentos de espaço vital disponíveis, a maior dificuldade está no fato
O estado ainda incipiente do conhecimento home range, movimentos migratórios, de que eles não são utilizáveis, ou o são
O entendimento preciso das alterações deve-se não apenas às dificuldades inerentes relações interespecíficas (teia alimentar), apenas parcialmente, para estudos de
impostas pela formação do reservatório ao seu estudo e ao reduzido número de limiares de tolerância a fatores ambientais e avaliação de impactos ambientais. Foram
durante seu enchimento e no período especialistas que atuam nessas áreas, mas a localização e delimitação de áreas críticas. desenvolvidos para outras finalidades e têm
subseqüente é fundamental para a definição também à insuficiência de recursos A qualidade dessas informações depende do sua aplicação limitada em estudos tão
da natureza e no dimensionamento das ações financeiros e à descontinuidade que até conhecimento de sua variabilidade espacial abrangentes.
a serem implementadas. A efetividade dessas recentemente caracterizava a pesquisa e temporal em diferentes escalas, visto que
ações depende do nível de conhecimento científica no país. os sistemas biológicos apresentam Uma simples listagem de espécies, que,
disponível e de sua abrangência. flutuações naturais amplas. Isso contrasta como visto, tem aplicação limitada no
Em relação aos impactos dos represamentos, com o grau de conhecimento disponível dimensionamento do impacto, requer o
A seguir, faremos uma breve descrição do a despeito do grande número desses sobre a ictiofauna brasileira. uso de técnicas e instrumentos (redes,
estado da arte desses componentes para os empreendimentos e, portanto, de arrastes, anzóis, covos, tarrafas, peneiras,
reservatórios brasileiros, que serão objeto de oportunidades de estudos, especialmente nas Nenhum rio brasileiro tem sua fauna pesca elétrica, etc.) com seletividade
discussão mais detalhada em capítulos bacias hidrográficas do Sul-Sudeste, não há completamente identificada, e mesmo elevada e variada. Métodos menos
específicos ao longo desta obra. nenhuma investigação sistemática com alguns com extensões superiores a seletivos têm seu uso limitado por
abrangência temporal suficiente para 1.000 km jamais foram amostrados com esse restrições na fisiografia local ou podem
O conhecimento da ictiofauna neotropical é identificá-los de modo conclusivo. objetivo. Os primeiros inventários no alto acarretar modificações adicionais na fauna
ainda incipiente, sendo que a carência de rio Paraná (quarta maior bacia hidrográfica (bombas, ictiocidas). Os inventários
informações não está restrita apenas aos Além disso, a qualidade e o detalhamento do mundo), por exemplo, iniciaram-se há intensivos têm nesses fatores o maior
aspectos bioecológicos, mas inclui, para dos dados requeridos para o correto menos de 25 anos, embora a maioria dos obstáculo para que sejam aceitáveis. Além
grande parte dos rios, até uma lista básica de dimensionamento dos impactos negativos 130 reservatórios com barragens de altura disso, quando realizados em regiões de
espécies presentes. Na Amazônia, mesmo a promovidos pelos represamentos sobre a superior a 10 m, hoje existentes na bacia, já acesso difícil, raramente contemplam todos
identidade de peixes de grande porte, fauna aquática, bem como para uma estivessem construídos, e o fato desta bacia os hábitats e, se expeditos, deixam de
relevantes na pesca, é ainda desconhecida ou adequada racionalização das ações concentrar os maiores e mais antigos considerar a variação sazonal na
errônea (GARAVELLO, 1994). Na bacia do rio atenuadoras, são ainda desafios com que centros de investigação ecológica do país. capturabilidade apresentada por algumas
Paraná ou do Leste, novas espécies de peixes deparam tanto o Setor Elétrico quanto os espécies. As melhores listagens de espécies
são descritas a cada ano e as famílias mais órgãos de controle ambiental e o Ministério É obvio, portanto, que o nível das são produzidas por trabalhos continuados
diversificadas requerem revisões. No rio Público. As razões básicas desse quadro são informações disponíveis está distante do durante anos e com a utilização de
Iguaçu, bacia do rio Paraná, cerca de 20% das (i) a precariedade dos dados disponíveis ideal. A obtenção dessas informações diferentes estratégias de pesca.
6 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução 7

As diferenças na seletividade dos impacto negativo sobre essas espécies Para a eficiência das medidas que visam interações. O número de interações
instrumentos de pesca e na forma como são depende, no entanto, da posição do eixo da atenuar os impactos, requerem-se uma potenciais em um sistema composto por 200
empregados (coleta passiva, ativa, com isca) barragem em relação às áreas de vida, que definição clara e precisa do problema, um espécies é de 19.900 [(200 x 199)/2]. Visto que
impedem o uso de uma unidade de esforço variam entre as espécies, da extensão das banco de informações com abrangência e as interações deveriam ser demonstradas
comum (m2 rede/dia, número de anzóis, áreas de várzeas subtraídas do sistema, da profundidade suficiente para avaliar as como insignificantes ou quantificadas e
número de lances, área de arraste, etc.) e, existência de rios alternativos com condições implicações que essas ações terão sobre os avaliadas sazonalmente, cada uma
portanto, restringem a obtenção de adequadas para migração e desova, da demais componentes do sistema, a envolveria o esforço de um homem/ano.
informações de abundância fidedignas e qualidade da água e de procedimentos identificação de outros usos do ambiente e Isso resultaria que para um pesquisador
comparáveis da ictiofauna como um todo operacionais na barragem relacionados à suas implicações na consecução dos conhecer apenas as interações entre as
(captura por unidade de esforço para o vazão de jusante, do nível de pesca e de objetivos, a existência de mecanismos para espécies em uma bacia como a do alto rio
conjunto das amostras). outras atividades antropogênicas na região. avaliar o grau de efetividade da medida Paraná seriam necessários 19.900 anos. É
adotada e dos fatores intervenientes. óbvio que esse número é utópico, porém nos
A avaliação dos estoques existentes antes e As medidas mitigadoras, por outro lado, não Questões como qual é exatamente o objetivo dá uma idéia da grandeza do desafio a ser
após a implantação do empreendimento, que podem ser tomadas no contexto geral do da ação mitigadora a ser adotada, como pode enfrentado.
seria uma informação útil para aferir o impacto, sob pena de fracassarem ou ser alcançado o objetivo, como serão
prejuízo ambiental decorrente do apresentarem resultados insatisfatórios, ou analisadas as informações, quando é Outras informações fundamentais referem-se
represamento, não é factível. Os modelos mesmo resultarem em novos impactos não esperado que os objetivos sejam alcançados, à pesca e aos pescadores. Para a pesca, devem
disponíveis têm como pré-requisitos a previstos. Medidas tomadas dessa maneira são básicas nesse mister. estar disponíveis as informações sobre o
sobrepesca deliberada dos estoques (RIGLER, resultaram em perda de esforços, recursos e rendimento específico, em uma escala
1982, considera acertadamente como eventos tempo nos reservatórios da bacia do rio Parece óbvio que estudos mais prolongados temporal suficientemente abrangente para
não passíveis de predição aqueles para cuja Paraná. Estações de piscicultura destinadas a e intensivos possam resultar em mais contemplar a elevada variabilidade dos
identificação necessitamos promover um outras finalidades, a soltura de milhões de informações. Nada assegura, entretanto, que recursos (RICKER, 1975; KING, 1995). Além disso,
distúrbio no sistema), séries históricas de alevinos que, provavelmente, jamais se o volume de informações melhore de modo a zonação espacial, particularmente a
pesca, marcações/recapturas massivas e/ou transformaram em adultos e mecanismos de substancial o seu valor intrínseco para as longitudinal, presente em grandes
parâmetros de crescimento e mortalidade. transposição que ecologicamente não finalidades de avaliação de impacto e reservatórios e pouco considerada nos
funcionam são o saldo desses procedimentos. manejo. O esforço e os custos elevam-se estudos, deve receber mais atenção, pois os
Para que medidas mitigadoras e/ou potencialmente com a quantidade e gradientes nos processos de transporte e
compensatórias se tornem possíveis e Toda ação sobre o ambiente, inclusive sua qualidade da informação. Entretanto, o seu sedimentação influenciam, além da
efetivas seria necessário o seu ausência, tem impacto sobre o valor intrínseco tende a um valor assintótico qualidade da água, a distribuição dos peixes,
dimensionamento adequado a priori, funcionamento de sistemas regulados, que (BISWAS, 1988). Teoricamente, a decisão o rendimento pesqueiro e as estratégias de
requerimento que, como salientado necessariamente devem ser considerados. Os racional estará no ponto em que a diferença pesca (OKADA; AGOSTINHO; GOMES, 2005).
anteriormente, não é realizável, tanto pelo resultados obtidos pela obrigatoriedade entre o valor intrínseco da informação e o
caráter imprevisível da resposta dada pela legal da adoçãode medidas mitigadoras de esforço aplicado seja máxima e positiva. O monitoramento do rendimento da pesca só
comunidade biótica, como pela caráter geral, como a construção de escadas tem sentido se produzir dados passíveis de
complexidade dos distúrbios decorrentes de de peixes, peixamentos ou estações de Adicionalmente, deve-se considerar o comparação no tempo e no espaço. Para isso,
represamentos. É sabido, por exemplo, que piscicultura, vigentes no Brasil durante problema prático para se conhecer de forma é necessário que o esforço de pesca
os represamentos alteram a estrutura das muito tempo, se configuram agora como integral os aspectos comportamentais e envolvido na captura seja adequadamente
comunidades de peixes, com prejuízos aos punições ao empreendedor, sem resultados interações bióticas. Rigler (1982) faz algumas dimensionado. As informações disponíveis
grandes migradores. A intensidade do satisfatórios para a conservação. considerações oportunas em relação às são, em geral, pouco úteis à tomada de
8 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução 9

decisão nas ações de manejo. Na maioria das ser usada para tornar claro que a pesca é um acadêmico, têm limitada relevância tanto na Assim, nesta obra é apresentado de modo
vezes carecem de abrangência espacial e/ou indicador da “saúde” dos estoques e que os avaliação do impacto quanto para subsidiar sucinto e discutido de forma preliminar o
temporal, ou não são passíveis de pescadores desempenham papel as medidas atenuadoras, apesar de conhecimento disponível acerca do estado de
comparação. fundamental na sua conservação. Melhorias adquirirem algum significado se baseadas conservação da ictiofauna brasileira de água
na comunicação devem envolver, além dos em levantamentos realizados em todos os doce, sua exploração pela pesca e os impactos
Informações fidedignas da pesca permitem técnicos responsáveis pelo manejo, os tipos de biótopos ao longo da bacia a que algumas espécies estão sujeitas pelos
obter a captura por unidade de esforço pescadores, os órgãos de controle ambiental, hidrográfica. represamentos. Além disso, são avaliadas as
(CPUE), e seu acompanhamento ao longo do os cientistas e os demais usuários do medidas mitigadoras e compensatórias dos
tempo é importante para avaliar a reservatório. Nos últimos anos, entretanto, o número de impactos dos represamentos tomadas pelo
exploração pesqueira de um reservatório. especialistas e os investimentos na setor elétrico e apresentadas algumas
Essas informações também permitem a A complexidade dos sistemas ecológicos investigação da biota aquática vêm considerações e perspectivas de ações futuras
aplicação de modelos matemáticos brasileiros, bem como a carência de crescendo, tanto em razão do nesse campo. Pretende-se, com este trabalho,
multiespecíficos, que fornecem o rendimento informações de longo prazo e as dificuldades desenvolvimento científico patrocinado fornecer subsídios às discussões sobre o
máximo sustentável, os quais podem servir metodológicas, fazem com que os estudos pelos cursos de pós-graduação, no âmbito tema, sem a pretensão de fazê-lo de modo
como critério para avaliar e ordenar a pesca. prévios tenham marcantes limitações em das universidades, quanto de uma nova completo, visto que a maioria das
relação à sua aplicação no dimensionamento postura de várias concessionárias do setor informações disponíveis teve caráter
Informações sobre os pescadores, geralmente dos impactos e das medidas preventivas, hidrelétrico, onde o conhecimento dos disperso e provisório (trabalhos de pós-
colocadas na literatura de manejo como a mitigadoras e/ou compensatórias. Isso não recursos, do seu ambiente e das formas de graduação, comunicações em eventos
dimensão humana da pesca, vêm sendo, significa que tais estudos sejam explotação vem sendo considerado como científicos, monografias e relatórios de
recentemente, consideradas como um dos prescindíveis. Ao contrário: devem ser requisito para o manejo da pesca. circulação restrita).
aspectos mais críticos para o sucesso das aprimorados, dada a carência de informações
ações de manejo e, aparentemente, estão já mencionada. Significa, entretanto, que os
mudando os paradigmas da área (MIRANDA, esforços devem ser concentrados na obtenção
1996). de informações biológicas e auto-ecológicas
com maior valor ao manejo. Nesse contexto,
O sucesso das ações de manejo da pesca destacam-se aquelas relacionadas à
depende igualmente do conhecimento das identificação dos fatores críticos para o
percepções e aspirações sociais, bem como recrutamento de novos indivíduos aos
das condições socioeconômicas e culturais estoques (proteção, ampliação e/ou
dos usuários dos recursos. Assim, ações bem- melhoria dos locais de desova, criadouros
sucedidas têm incorporado a dimensão naturais, procedimentos operacionais na
humana como parte integrante do plano de barragem, etc.). Além disso, inferências
manejo. sobre a dieta das espécies têm ampla
aplicação no entendimento das relações
Uma comunicação social eficiente e o tróficas, podendo fornecer evidências acerca
envolvimento das organizações dos do processo de colonização do novo
pescadores nas decisões de manejo são ambiente. Simples listagens das espécies
fundamentais para a manipulação do sistema resultantes de inventários na área do
de pesca. Inclusive, a comunicação poderia empreendimento, embora com algum valor
Capítulo 2
A Ictiofauna Sul-Americana:
composição e história de vida

E mbora os levantamentos da ictiofauna Neotropical ainda


sejam incompletos e não haja consenso acerca do status
taxonômico de muitas espécies, o número de espécies de peixes
dessa região é estimado em 8.000, representando cerca de 24%
de toda a diversidade de peixes do planeta, tanto de água doce
quanto marinha (VARI; MALABARBA, 1998). Além da elevada
diversidade, as espécies dessa região apresentam fantástica
heterogeneidade de formas e histórias de vida.
12 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna Sul-Americana: composição e história de vida 13

Introdução isolamento geográfico do continente sul- trechos altos da bacia. Sato e Godinho (1999)
História Natural de Peixes
americano e de algumas bacias de drenagem registram 133 espécies para esses trechos,
em épocas passadas, associado a uma grande enquanto Godinho e Vieira (1998), baseados Neotropicais
D iferentemente de outras regiões diversidade de hábitats (lagos, poças, em levantamentos secundários, estimaram
zoogeográficas, onde predominam riachos, corredeiras, rios, planícies tal número em 170, para o trecho mineiro
ciprinídeos (exceto Austrália), os peixes inundadas), são fatores que contribuíram desta bacia. Esses autores estimam que cerca E ssa fantástica diversidade de espécies
neotropicais de água doce pertencem para o elevado número de espécies de peixes de 68% das espécies desse rio são restritas a ele. reflete uma incrível diversidade de formas e
majoritariamente ao grupo Otophysi (± 90%; e a grande variedade de formas e estratégias padrões comportamentais. Tais padrões,
BRITSKI, 1992). Nesse grupo estão incluídos os de vida que observamos hoje. A exemplo do rio São Francisco, outros rios relacionados basicamente às formas de
representantes das ordens Characiformes da bacia Leste são caracterizados pelo alto alimentação, manutenção e reprodução,
(peixes de escamas, ex: lambaris), com cerca Na bacia Amazônica, onde os levantamentos grau de endemismo, devido ao seu histórico definem a estratégia de vida das espécies
de 1.200 espécies, Siluriformes (couro ou são ainda mais incompletos, já foram isolamento das demais bacias. No rio (WOOTTON, 1990). Os peixes de água doce
placas, ex: bagres), com cerca de 1.300 catalogadas mais de 1.300 espécies (LOWE- Jequitinhonha (36 espécies identificadas) o caracterizam-se por apresentarem a maior
espécies e Gymnotiformes (tuviras), com MCCONNELL, 1999), com dominância de número de espécies restritas a ele chega a variedade de tipos de estratégias de vida
aproximadamente 80 espécies (MOYLE; CECH, Characiformes (43%) e Siluriformes (39%). 70%; no Doce, 48% das 77 espécies entre os vertebrados. Como exemplo da
Jr., 1996; LOWE-MCCONNELL, 1999). As estimativas para números totais alcançam registradas; no Paraíba do Sul, 46% das 59 gama de possibilidades, existem espécies
5.000 espécies (SANTOS; FERREIRA, 1999). espécies (GODINHO; VIEIRA, 1998). Tendências que vivem em lagoas e que são capazes de
Entre os demais grupos destacam-se os similares são registradas nos rios se reproduzir no primeiro ano de vida
Perciformes ciclídeos (100 a 150 espécies, ex.: A ictiofauna da bacia do rio Paraná é nordestinos e nos riachos costeiros (IBAMA, (lambaris); outras, que habitam grandes
acarás), Ciprinodontiformes (± 100 espécies, estimada em 600 espécies (BONETTO, 1986), 2002), assim como no rio Iguaçu, que teve rios, podem levar anos para atingir a
ex: guarus), osteoglossídeos (dois gêneros, sendo que apenas o Pantanal deve apresentar sua ictiofauna isolada do restante da bacia do maturidade sexual (grandes bagres); algu-
pirarucu e aruanãs) e lepidosirenídeos (uma 400 espécies (FERRAZ DE LIMA, 1981). O número rio Paraná no período Oligoceno, composta mas, habitantes de lagoas sazonais, se
espécie, pirambóia) - Moyle e Cech, Jr. de espécies da bacia deve, no entanto, ser de pequenos peixes e elevado endemismo reproduzem uma única vez na vida (peixes-
(1996). Cerca de 50 representantes endêmicos maior, visto que em sua estimativa Bonetto (ABILHOA, 2004). anuais).
de grupos marinhos, como raias (1986) relata 130 espécies para o que
(potamotrigonídeos), linguados (soleídeos), denominou Província do Paraná Superior É evidente que a ictiofauna neotropical é As estratégias exibidas por uma dada
sardinhas (clupeídeos), manjubas (alto Paraná + Iguaçu); por outro lado, uma das mais ricas do planeta. Sua espécie são resultantes evolutivas da busca
(engraulídeos), pescadas e curvinas Agostinho, Vazzoler e Thomaz (1995), em distribuição no continente é desigual, e empreendida pelos indivíduos em reduzir
(cianídeos), agulhas (belonídeos), entre revisão dos levantamentos realizados no alto muitas espécies estão restritas a locais os custos com sua manutenção e aumentar a
outros, complementam essa fauna. Somam- rio Paraná, compreendendo 110 áreas de específicos. Apesar de muitas espécies ainda eficiência na obtenção da energia,
se ainda a ela várias espécies de peixes amostragem (rios, riachos, lagoas, poças, não estarem descritas, as alterações investindo o saldo energético na
marinhos eurihalinos que ascendem em canais secundários e reservatórios), listaram promovidas em ambientes aquáticos reprodução, o que eleva seu fitness, aqui
graus variados os grandes cursos de água 221 espécies, apenas para esse trecho. continentais nas últimas décadas entendido como o número de descendentes
(AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR., 1999). Incluindo-se as do rio Iguaçu, onde o (principalmente com a introdução de viáveis deixados pelo indivíduo. As
endemismo é elevado, esse número pode espécies exóticas, a construção de barragens e adversidades pregressas impostas pelo
Apesar do predomínio de espécies de alcançar 300. a poluição) vêm ameaçando a perpetuação de ambiente constituíram a força seletiva
Characiformes e Siluriformes em todas as populações naturais. Para efetivar a sua dessas estratégias. O sucesso dessa
bacias sul-americanas, a composição No rio São Francisco, a despeito de as conservação, o valor da ictiofauna precisa ser empreitada pode ser aferido pela
específica e o número de espécies entre primeiras coletas terem sido feitas há dois rapidamente melhor apreciado, em termos persistência da espécie ao longo de gerações
bacias varia consideravelmente. O séculos, os levantamentos estão restritos aos econômicos, científicos e ecológicos. (AGOSTINHO, 1994).
14 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna Sul-Americana: composição e história de vida 15

Os atributos da história de vida produtivas, ser capturadas com idades já mencionada. Winemiller (1989), intermediário entre r e k-estrategista, que
(alimentação, reprodução), que determinam menores e seus estoques podem suportar analisando atributos da história de vida de inclui espécies com reprodução
a estratégia de vida, são os alicerces onde a altos níveis de mortalidade por pesca, peixes da Venezuela, e com base no conceito estreitamente sazonal e que desempenham
seleção natural atua, além de serem, em recuperando-se mais rapidamente dos efeitos r-k estrategistas, propôs uma classificação longas migrações reprodutivas. Esta
grande parte, responsáveis pelos padrões de sobrepesca. Apresentam, no entanto, diferente para os peixes neotropicais, estratégia foi denominada sazonal (S) e
ecológicos existentes na distribuição e flutuações populacionais mais amplas, visto amplamente aceita pelos pesquisadores da inclui os grandes bagres e caracídeos
abundância das espécies (HARRIS, 1999). Dessa que são mais susceptíveis a variações área de ecologia de peixes. Em sua migradores neotropicais. O Box 2.1 mostra
forma, fica claro que o conhecimento da ambientais. Dessa maneira, a manutenção de classificação, esse autor considera um grupo os atributos considerados nessa classificação.
história natural das espécies é essencial ao um dado nível de explotação ao longo dos
entendimento dos processos de ocupação de anos pode levar à depleção dos estoques Bo
Boxx 2.1
novos ambientes, como os reservatórios, (VAZZOLER, 1996). Embora sem um bom
além de ser crucial para a efetivação de Padrões de variação na história de vida entre peixes sul-americanos em ambientes sazonais
exemplo de depleção em água doce, a
medidas de preservação ou conservação. rarefação dos estoques de sardinha no litoral WINEMILLER, K. Patterns of variation in life history
among South American fishes in seasonal environments.
sul-brasileiro é ilustrativa. Entre as espécies Oecologia (Berlin), v. 81, no. 2, p. 225-241, 1989.
Estratégias de Vida r-estrategistas neotropicais estão espécies de
“Dez características relacionadas à teoria de história de vida foram medidas ou estimadas de 71 espécies de
pequeno porte das ordens
peixes de água doce, de dois locais nas planícies venezuelanas. Estatísticas multivariadas e análises de
Cyprinodontiformes e Characiformes, como
D urante a década de 1960, com a publicação os guarus, e diversos lambaris e pequiras.
agrupamento revelaram três padrões finais básicos ao longo de um contínuo bidimensional. Um grupo de
atributos associados com cuidado parental e reprodução não-sazonal parece corresponder à estratégia de
equilíbrio. Um segundo grupo de pequenos peixes foi identificado pelas características associadas à habilidade
dos trabalhos de Robert MacArthur, foi
Por outro lado, as espécies k-estrategistas de rápida colonização: maturação precoce, reprodução contínua e desova em pequenas parcelas. O terceiro
desenvolvido o conceito de estrategistas r e k,
padrão básico foi associado com reprodução sincronizada, durante o início da estação chuvosa, alta fecundidade,
uma forma generalizada de explicar como as são, em geral, menos abundantes e
ausência de cuidado parental e migração reprodutiva. Um subgrupo de peixes, principalmente pequenos,
espécies conseguem sua perpetuação. Desde apresentam um rendimento máximo por que exibia escasso ou nenhum cuidado parental, desovas em parcelas e reprodução com duração de dois a
então os pesquisadores vêm tentando recruta mais elevado. São capturadas em quatro meses, foi intermediário entre os oportunistas (colonização rápida) e a estratégia sazonal. Todas as
categorizar a estratégia de vida das espécies idades maiores e não suportam níveis altos dez variáveis do ciclo de vida mostraram efeitos significativos da filogenia. O grupo de espécies correspondente
ao de equilíbrio foi dominado por peixes siluriformes e perciformes (ciclídeos). O grupo dos oportunistas foi
nesses dois grupos, que representam pólos de mortalidade por pesca, sendo, portanto,
dominado por Cyprinodontiformes e Characiformes, enquanto que o grupo sazonal era composto
extremos de um gradiente: os estrategistas r, mais susceptíveis à sobrepesca. Embora com essencialmente por Characiformes e Siluriformes. Sete de nove características foram significativamente
espécies oportunistas, que alocam energia menor variação interanual, em caso de correlacionadas com o comprimento do peixe. Os três padrões reprodutivos são interpretados como sendo
principalmente para a reprodução; os depleção de estoques, sua recuperação adaptativos em relação à intensidade e predictibilidade das variações espaciais e temporais nos fatores
abióticos, disponibilidade alimentar e pressão de predação.”
estrategistas k, espécies de “equilíbrio”, que exigirá um tempo mais prolongado. Como
utilizam a maior parte de sua energia para o exemplo de espécies desse grupo, podemos
crescimento somático (ADAMS, 1980). citar os grandes bagres e várias espécies com Reprodução e Sazonalidade parceladas ou totais, desovas únicas ou
Independentemente da estratégia, o produto cuidado parental. Já para exemplificar múltiplas no ano, migrações, etc.
final é o mesmo: garantir a existência das depleções de estoque, é emblemática a quase (VAZZOLER, 1996). Como mencionado
espécies. extinção comercial de alguns tipos de E ntre as espécies de peixes sul- anteriormente, o desenvolvimento
bacalhau, em ambientes marinhos. americanos, as estratégias reprodutivas evolutivo dessas estratégias está
A identificação da estratégia de vida dos podem estar expressas de diferentes intimamente ligado ao ambiente e às
peixes tem grandes implicações práticas, Apesar dessa evidente aplicação prática, a maneiras, como pela fecundação externa ou forças seletivas que atuaram durante sua
como, por exemplo, o manejo da pesca e a categorização de espécies de peixes em interna, diferenças na idade de maturação, história. Mesmo assim, é comumente
conservação dos estoques. As espécies r- estrategistas r ou k torna-se difícil, em vista cuidado parental bem-desenvolvido ou observado um alto grau de flexibilidade
estrategistas podem sustentar pescarias mais da elevada diversidade de histórias de vida ausência de cuidado parental, desovas nas estratégias (WOOTTON, 1990).
16 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna Sul-Americana: composição e história de vida 17

Uma característica importante Em corpos de água menores, especialmente é longo, tendência oposta àquela verificada
nas grandes bacias hidrográficas 500 RPD 100 aqueles sujeitos a cheias repentinas e de curta em seus trechos inferiores (GARUTTI, 1989).
Nível do rio (cm)
sul-americanas é que as 450 80 duração (riachos), a sazonalidade na

Reprodução (%)
Nível do rio (cm)
principais forças seletivas que reprodução é menos evidente. Nesses casos, Os reservatórios de pequenas centrais
400 60
atuaram no desenvolvimento o período reprodutivo pode ocorrer em hidrelétricas, pelo fato de promoverem
350 40
de estratégias reprodutivas épocas do ano em que as precipitações são pulsos diários e semanais na vazão de
parecem ter sido aquelas 300 20 menores (GARUTTI, 1988), constituindo-se jusante, tornam os ambientes mais variáveis,
relacionadas ao regime de 250 0 numa estratégia para assegurar o com reflexos negativos às diferentes
Jan Fe v Mar Abr Ma i Jun Jul A go Se t Out Nov De z
cheias. Isso pode ser Meses desenvolvimento da prole, evitando que estratégias reprodutivas.
evidenciado pelo alto Figura 2.1 - Variação média diária do nível da água (1978-2000) ovos e larvas sejam arrastados para trechos
sincronismo existente entre as e freqüência mensal de indivíduos maduros e semi-
esgotados (RPD) na assembléia de peixes na planície de
inferiores da bacia, onde as condições
Migração
cheias e os principais eventos inundação do alto rio Paraná (modificado de VAZZOLER; ambientais podem ser adversas ao
do ciclo biológico dos peixes, SUZUKI; MARQUES; PEREZ LIZAMA, 1997; AGOSTINHO; desenvolvimento inicial (WINEMILLER;
tais como a maturação gonadal,
GOMES; ZALEWSKI, 2001).
AGOSTINHO; CARAMASCHI, no prelo). Tem sido C onsiderando-se o espaço vital requerido
migração, desova e desenvolvimento inicial Gomes e Agostinho (1997), por outro lado, demonstrado, por outro lado, que algumas pelas espécies durante seu ciclo de vida,
das larvas e alevinos (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR, demonstraram que somente a ocorrência das espécies de lambaris superam a podemos classificar os peixes neotropicais
1999; AGOSTINHO; THOMAZ; MINTE-VERA; cheias pode não ser suficiente. Outros imprevisibilidade das cheias em riachos, em duas categorias principais: espécies
WINEMILLER, 2000) (Figura 2.1). atributos, como a época, duração e estendendo sua atividade reprodutiva por sedentárias e grandes migradoras. Ressalta-
intensidade das cheias, são fatores críticos todo o ano (BARBIERI, 1992). A duração do se, entretanto, que um grande número de
O monitoramento da desova de peixes para o sucesso no recrutamento de peixes. período reprodutivo e a época de maior espécies se posiciona ao longo de um gradi-
migradores em Cachoeira das Emas (rio Mogi Esses autores relatam drásticas reduções na intensidade parecem depender do grau de ente de continuidade entre essas duas
Guaçu, alto rio Paraná), realizado por Godoy variabilidade imposto pelo regime de cheias categorias. Em geral, as respostas dadas pelas
coorte do ano em que as cheias não ocorrem.
(1975) de 1943 a 1970, demonstrou que a cheia ao longo da bacia. Assim, nas cabeceiras de espécies posicionadas nos extremos desse
é importante como sincronizadora da desova Assim, a reprodução das espécies de peixes riachos, onde as condições são mais adversas gradiente aos estímulos ambientais, entre os
e que as águas lóticas são fundamentais para a de grandes rios neotropicais é, e variáveis, o período reprodutivo do quais se destaca o já mencionado regime de
fertilização dos ovócitos, flutuação e deriva. independentemente da estratégia utilizada, lambari Astyanax bimaculatus (= A. altiparanae) cheias, são distintas (Tabela 2.1).
altamente sazonal. Essa sazonalidade está,
Para a bacia Amazônica, Goulding (c1980) em geral, associada ao regime de cheias, com Tabela 2.1 - Atributos reprodutivos gerais que diferenciam espécies migradoras e
sedentárias (baseado em VAZZOLER, 1996; SUZUKI; VAZOLLER; MARQUES; PEREZ LIZAMA;
relata que caracídeos migradores abandonam a desova ocorrendo sob condições de níveis INADA, 2004)
os tributários e várzeas em direção ao canal de água crescente, particularmente entre as Atributos Migradoras Sedentárias
do rio principal, onde provavelmente é feita espécies migradoras (AGOSTINHO; GOMES; Fecundidade alta baixa/moderada
a desova. Essas migrações ocorrem entre o VERÍSSIMO; OKADA, 2004). Fecundação externa externa/interna
inicio e a metade da época de águas altas. Os Desova total total/parcelada
grandes bagres também empregam longas Lamentavelmente, os reservatórios Período reprodutivo curto curto/longo
migrações reprodutivas na Amazônia. promovem a redistribuição das vazões Ovócitos (tamanho) pequenos médio/grandes
Algumas espécies de pimelodídeos viajam sazonais, elevando o nível mínimo do rio Ovócitos (tipo) livres adesivos
incríveis distâncias, abandonando a região durante o período de seca e o reduzindo Cuidado parental ausente presente
estuarina do rio Amazonas rumo às durante o de cheias. Esse fato se constitui Tempo de primeira maturação longo curto
cabeceiras, em direção oeste (GOULDING; numa das principais fontes de alteração da Porte adulto grande pequeno/médio
SMITH; MAHAR, 1996). ictiofauna a jusante, como será visto adiante.
18 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna Sul-Americana: composição e história de vida 19

As espécies sedentárias são aquelas aptas a 1994; CÂMARA; HAHN, 2002) e da bacia Diferentemente, porém muito comuns, são Assim, ocorrem também migrações de caráter
desenvolver todas as atividades vitais Amazônica (SILVA, 1995; SABINO; ZUANON, 1998). espécies sedentárias que se adaptam às térmico ou sazonal, trófico ou nutricional, e
(alimentação, reprodução e crescimento) A reprodução ocorre, geralmente, durante condições represadas, mas que dependem de ontogenético ou de crescimento, quase todas,
numa área restrita da bacia. Os período prolongado e está associada a outros ambientes para completar etapas de de alguma forma, associadas ao regime
deslocamentos, quando ocorrem, são de desovas parceladas. Incluem-se nessa seu ciclo de vida, principalmente relacionadas hidrológico (BONETTO; CASTELLO, 1985;
curta extensão. Essa categoria é freqüente em categoria as espécies com ovócitos grandes, à reprodução (AGOSTINHO; VAZZOLER; THOMAZ, GOULDING; SMITH; MAHAR, 1996). É comum que

ambientes lênticos, onde apresentam baixa fecundidade e que são menos 1995). Esse é o caso de uma espécie de piau na essas migrações se combinem ou se
adaptações respiratórias a períodos de baixa dependentes das cheias. Alguns cascudos represa de Três Marias, o qual necessita de sobreponham em grau variável, ou mesmo
oxigenação, tolerando grandes variações também apresentam prolongada época lagoas a montante para completar o ciclo que uma dependa das outras (BONETTO, 1963).
térmicas. reprodutiva em rios de pequeno porte reprodutivo, apesar de viver na região
(BARBIERI, 1994), estratégia que parece represada (RIZZO; SATO; FERREIRA; CHIARINI- Muitas espécies, entretanto, desenvolvem
Mesmo vivendo em áreas restritas, algumas aumentar o fitness dos indivíduos. GARCIA; BAZZOLI, 1996). Fato similar tem sido curtas migrações laterais para a reprodução,
espécies sedentárias apresentam sazonalidade registrado no reservatório de Segredo, no rio ou algo mais extensivo, como mecanismo de
pronunciada no período reprodutivo, como o Algumas espécies sedentárias são bem- Iguaçu, onde as espécies melhor sucedidas na dispersão. Neste último caso, os
cascudo-chinelo Loricariichthys anus e o peixe- sucedidas na ocupação dos novos ambientes colonização do novo ambiente, em geral deslocamentos podem tomar direções
cachorro Oligosarcus jenynsii em lagoas no Sul formados pelos represamentos, ou mesmo em sedentárias, buscam os segmentos mais distintas. Em rios com amplas várzeas, esses
do Brasil (BRUSCHI JUNIOR.; PERET; VERANI; FIALHO, rios de vazão controlada. São espécies com lóticos a montante ou os tributários para a movimentos de dispersão ocorrem durante a
1997; HARTZ; VILELLA; BARBIERI, 1997). Variações pré-adaptações à vida em ambientes lênticos, desova (SUZUKI; AGOSTINHO, 1997). vazante, quando a retração da água traz
na estratégia em uma mesma população ou como lagos e lagoas, ou que são capazes de consigo grande quantidade de jovens, e estes,
entre populações da mesma espécie podem apresentar elevada plasticidade A outra categoria, das espécies grandes geralmente, são seguidos por cardumes de
comportamental. Destacam-se, entre esses migradoras, conhecidas também como predadores. Esse tipo de migração,
ocorrer em razão das condições ambientais
peixes, os ciclídeos, alguns loricarídeos, espécies potamódromas, requerem amplos importante no processo de dispersão, tem
vigentes. A traíra Hoplias malabaricus, por
eritrinídeos, gymnotídeos e vários caracídeos trechos livres da bacia, onde se deslocam por sido observado em lambaris e saguirus. No
exemplo, tem a habilidade de se reproduzir
tetragonopteríneos. Apesar da drástica grandes distâncias. Embora os deslocamentos Pantanal, onde ele tem grande importância na
durante todo o ano (AZEVEDO; GOMES, 1942) ou
alteração provocada no ambiente, algumas mais relevantes sejam os reprodutivos, é atividade pesqueira, é conhecido como lufada
apresentar ciclo sazonal definido (BARBIERI,
espécies podem completar todo o ciclo no possível reconhecer outras motivações. (ver Box 2.2).
1989), dependendo do ambiente em que se
encontra. Esse fato representa táticas distintas próprio reservatório. Na represa de Três
de uma mesma estratégia. Marias, rio São Francisco, uma espécie de Bo
Boxx 2.2
pirambeba Serrassalmus brandtii é capaz de [A lufada]
Pantanal-Peixes
Espécies sedentárias são também freqüentes reproduzir-se durante todo o ano no
http://www.pantanalms.tur.br/peixes_pantanal3.htm
em riachos e ribeirões, onde apresentam reservatório (TELES; GODINHO, 1997). Em Salto
morfologia adaptada a uma existência em “Na estação chuvosa, as espécies mais procuradas deixam os rios e vão para as áreas inundadas, onde há
Grande, alto rio Paraná, a piranha
muito alimento. No final de abril, quando as chuvas se tornam menos freqüentes e as águas começam a
águas correntes, sendo nesse caso sensíveis a Serrassalmus spilopleura (= S. maculatus) baixar, voltam aos rios novamente, sinal evidente de que as chuvas teminaram. Inexplicavalmente, pois a
baixas concentrações de oxigênio. A também completa seu ciclo dentro do desova só vai ocorrer meses mais tarde, diversas espécies de peixes, reunindo-se em vastos cardumes,
ictiofauna de riachos é composta reservatório, mas a reprodução é sazonal começam de novo a nadar rio acima. Os cardumes são tão extensos, densos e dramáticos que podem ser
majoritariamente por espécies sedentárias, ouvidos chapinhando a grandes distâncias. O fenômeno é conhecido no Pantanal como lufada, pois quando
(FERREIRA; HOFLING; RIBEIRO NETO; SOARES;
aparece um cardume na curva do rio, a água parece açoitada por um temporal. A superfície fica fervilhando
sendo essa tendência registrada em pequenos TOMAZINI, 1998), a exemplo do que ocorre com de peixes e milhares de lambaris, curimbatás, piavas, piavuçus, dourados, peixes-cachorros e piraputangas
corpos de água tanto da bacia do rio Paraná o lambari Astyanax bimaculatus (= A. saltam nas águas, irradiando um brilho de ouro e prata nas rápidas trajetórias pelo ar. Não confundir com
(CASTRO; CASATTI, 1997; LEMES; GARUTTI, 2002), altiparanae) na represa de Bariri (RODRIGUES; a piracema, que ocorre na época da reprodução (novembro a fevereiro) quando cardumes sobem os rios,
quanto de outras do Sul do Brasil (TAGLIANI, transpondo as corredeiras aos saltos, para desovarem nas águas calmas das cabeceiras.”
RODRIGUES; CAMPOS; FERREIRA, 1989).
20 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna Sul-Americana: composição e história de vida 21

Na Amazônia, considerando a motivação para amplamente relatada na literatura Nessas depressões laterais (lagoas
os deslocamentos, foram identificados três especializada (GODOY, 1975; BONETTO; CASTELLO, marginais, lagos, canais), as larvas e
tipos de migração de peixes, ou seja, as 1985; CARVALHO; MERONA, 1986; AGOSTINHO; alevinos de tais espécies encontram
laterais, geralmente ligadas à dispersão e VAZZOLER; GOMES; OKADA, 1993; AGOSTINHO; condições ideais para o desenvolvimento
alimentação, que ocorre em direção à várzea GOMES; SUZUKI; JÚLIO JÚNIOR, c2003). Embora a inicial (alimento, temperatura e oxigênio) e
alagada; as reprodutivas, que podem ser elevação dos níveis hidrométricos tenha papel abrigo que os protegem da predação. Com a
ascendentes ou descendentes; e as tróficas, decisivo, um conjunto de fatores atua como retração da água durante a vazante, esses
geralmente ascendentes (SANTOS; FERREIRA, gatilho para o desenvolvimento gonadal jovens concentram-se em corpos de água
1999). Entretanto, o sentido das migrações (VAZZOLER, 1996). Barbieri, Salles e Cestarolli remanescentes na várzea ou são levados
pode depender muito da espécie de peixe (2000), estudando o ciclo reprodutivo do para a calha principal. Neste último caso, Figura 2.3 - “Boca de vazante” ou “corixo” na
considerada. Por exemplo, na busca por dourado e do curimbatá no rio Mogi Guaçu, planície de inundação do alto rio
podem procurar ativamente os acessos às Paraná.
hábitats adequados para o desenvolvimento evidenciaram a correlação positiva entre o baias e lagoas. Os jovens permanecem
das formas iniciais, Characiformes tendem a desenvolvimento gonadal e as precipitações nesses ambientes por um tempo variável,
permanecer em várzeas e outras áreas pluviométricas, o aumento da temperatura e conforme a espécie considerada. O curimba
alagadas, enquanto que os juvenis de grandes do fotoperíodo. Estes dois últimos fatores têm Prochilodus lineatus os abandona e passam a
bagres migram rio abaixo, na direção dos sido considerados como determinantes do integrar o estrato adulto da população no
estuários (GOULDING, SMITH; MAHAR, 1996; processo de maturação gonadal e de desova segundo ano de vida (AGOSTINHO; VAZZOLER;
RUFINO; BARTHEM, 1996). de peixes de maiores latitudes, onde são GOMES; OKADA, 1993). No rio Tocantins, o
verificadas as maiores variações destes. mapará Hypophthalmus marginatus e o
A migração exerce papel fundamental no
curimatã Prochilodus nigricans ascendem o
sucesso reprodutivo dos peixes, porque ela Após a desova, os ovos de espécies com essa
rio para desova e os alevinos derivam rio
permite a busca de ambientes adequados para estratégia reprodutiva derivam rio abaixo
abaixo, como forma de dispersão Figura 2.4 - Lagoa marginal em processo de
a fertilização dos ovos (encontro de um enquanto se desenvolvem, sendo lançados, dessecação na planície de inundação do
(CARVALHO; MÉRONA, 1986). A construção da alto rio Paraná.
elevado número de indivíduos de ambos os geralmente na forma de larvas, para as
hidrelétrica de Tucuruí em 1984 bloqueou
sexos), desenvolvimento inicial (elevada depressões laterais (várzea) durante o
essa rota de migração (MÉRONA; CARVALHO; Embora seja consenso que os grandes
oxigenação e disponibilidade alimentar) e transbordamento da calha (GODOY, 1975;
BITTENCOURT, 1987). Characiformes e alguns Siluriformes
condições de baixas taxas de predação (baixa CARVALHO; MÉRONA, 1986; AGOSTINHO; THOMAZ;
transparência da água). MINTE-VERA; WINEMILLER, 2000) (Figura 2.2). desenvolvam migrações ascendentes no
A vazante é marcada pela grande início das cheias e com finalidade
Os migradores de longa distância mortalidade natural de juvenis, tanto pela reprodutiva, essa generalização não pode
são, geralmente, de maior porte e Dourado predação nas “bocas de vazante” ainda ser estendida a todos os peixes
Cabeceira
maior valor comercial, e têm ovos Brilhante (Figura 2.3) quanto em poças migradores neotropicais. Mesmo para
pequenos e numerosos, que são Vacaria remanescentes que secam (Figura 2.4). peixes de escama, Bonetto e Castello (1985)
eliminados em curto intervalo de Foz
Alto Ivinheima Como visto, características hidrológicas, relatam que uma considerável parte do
tempo (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR, 1999).
Baixo Ivinheima Ovos Larvas como duração, regularidade, época e cardume marcado de espécies
15 12 9 6 3 0 3 6 9 12 15
Não dispensam à prole qualquer intensidade das cheias relacionam-se aos reconhecidamente migradoras (curimba e
Ind/10m3 Ind/10m3
cuidado. A desova, em geral, ocorre Figura 2.2 - Gradientes longitudinais de ovos e larvas de valores dessa mortalidade e, portanto, ao dourado) permaneceu nos locais de soltura
em áreas lóticas de trechos mais altos peixes migradores na bacia do rio Ivinheima, um sucesso do recrutamento de novos por períodos prolongados. O fato levou
tributário do alto rio Paraná, durante o período
da bacia, quando o nível do rio está reprodutivo (modificado de NAKATANI; BAUMGARTNER; indivíduos às populações de peixes (GOMES; esses pesquisadores a sugerir que os
em ascensão, sendo essa tendência CAVICCHIOLI, 1997). AGOSTINHO, 1997). estoques dessas espécies seriam compostos
22 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna Sul-Americana: composição e história de vida 23

por “ecótipos” distintos, alguns requerendo Bonetto e Castello (1985) crêem também O completo entendimento dos mecanismos exigentes em relação aos longos
amplos deslocamentos para manter suas que os peixes não necessitam alcançar as migratórios das diferentes espécies de deslocamentos e, portanto, promover
populações e reproduzir, e outros podendo cabeceiras dos rios ou afluentes para peixes e sua flexibilidade em relação aos impactos relevantes sobre a variabilidade
fazê-lo em áreas mais restritas. reproduzir, como sugeriam os estudos requerimentos espaciais para a desova genética inicial, com a extinção de ecótipos
iniciais. O que se sabe é que os peixes carece de um grande esforço de pesquisa. É migradores de longas distâncias.
Dessa maneira, o trecho mínimo de rio migram águas acima até alcançar locais muito provável, entretanto, que as
necessário para que as atividades vitais de apropriados para a desova, sendo que essas restrições de movimento, impostas pelos Concluindo, embora o comportamento
peixes se realizem em toda a sua plenitude é áreas podem se situar a distâncias variáveis. represamentos, tenham implicações sobre reprodutivo da maioria das espécies
desconhecido. Deve variar com a espécie as espécies migradoras, se não sobre conhecidas ainda não esteja elucidado,
considerada, as condições ambientais do Ao contrário dos salmonídeos do extinções globais e locais, ao menos na evidências obtidas para algumas delas
trecho e mesmo dentro de uma dada Hemisfério Norte, os peixes migradores heterogeneidade genética de suas permitem algum consenso em relação ao
população. neotropicais parecem não ser tão populações, o que também é altamente hábito migratório. A Tabela 2.2 lista as
conservativos em relação ao local de preocupante. Assim, é esperado que a principais espécies brasileiras com tais
Godoy (1975) menciona deslocamentos desova. Uma indicação disso pôde ser permanência de curtos trechos lóticos possa estratégias. Algumas dessas espécies são
superiores a 1.000 km para caracídeos do rio constatada no rio Piquiri, um afluente do favorecer pools gênicos (ecótipos) menos mostradas nas Figuras 2.5 e 2.6.
Paraná. Barthem e Goulding (1997) rio Paraná, cuja foz localiza-se
apresentam evidências de deslocamentos imediatamente acima dos antigos Saltos de Tabela 2.2 - Espécies migradoras de grandes distâncias nas principais bacias hidrográficas
ainda maiores (3.500 km) em bagres Sete Quedas, e que não recebia cardumes de brasileiras. 1.Bacia do Uruguai, 2.Bacia do Paraná/Paraguai, 3.Bacia do São Francisco,
4. Bacia do Amazonas (modificado de CAROLSFELD; HARVEY; ROSS; BAER, c2003)
migradores da bacia Amazônica, que se dourados e curimbas antes da formação do (continua)
deslocam entre o estuário do rio Amazonas reservatório de Itaipu. Com a formação do ESPÉCIES NOME COMUM 1 2 3 4
e seus tributários superiores. reservatório e o afogamento de Sete ENGRAULIDAE
Quedas, cardumes provenientes dos 170 km Anchoviella carrikeri Fowler, 1940 Sardinha X
No trecho compreendido entre os a jusante de sua desembocadura passaram a Lycengraulis batensii (Günther, 1868) Sardinha de lata X
reservatórios de Itaipu e Porto Primavera, utilizar esse rio como área de desova Lycengraulis grossidens (Agassiz, 1829) Sardinha X X
isolado do restante da bacia desde 1994, (AGOSTINHO; VAZZOLER; GOMES; OKADA, 1993). PRISTIGASTERIDAE
durante a construção desta última, a Pellona spp. Sardinha X X
extensão de 230 km parece ser suficiente Experimentos de marcação realizados após ANOSTOMIDAE
para a manutenção de populações viáveis de a interrupção do fluxo de peixes pela Leporinus spp. Piau X X X
espécies migradoras (dourado, pintado, barragem de Porto Primavera demonstram Leporinus elongatus Valenciennes, 1850 Piapara X X X
curimba, piava, piracanjuba, etc.) que os peixes em migração ascendente, Leporinus friderici (Bloch, 1794) Piau cabeça-gorda X X
(AGOSTINHO; ZALEWSKI, 1996; VAZZOLER; SUZUKI, capturados, marcados e liberados a jusante Leporinus macrocephalus Garavello e Britski, 1988 Piaussu X
MARQUES; PEREZ LIZAMA, 1997; NAKATANI; dessa barragem, foram recapturados, após Leporinus obtusidens (Valenciennes, 1836) Piava X X X
BAUMGARTNER; CAVICCHIOLI , 1997). Mesmo no 48 horas, em um tributário da margem Schizodon borellii (Boulenger, 1900) Ximboré X
rio Paranapanema, num trecho lótico de direita desse rio, cuja foz localiza-se a 40 km Schizodon fasciatus Agassiz, 1829 Aracu-pintado X
cerca de 80 km entre os reservatórios de a jusante do ponto de soltura (ANTÔNIO; Schizodon nasutus Kner, 1858 Taguara X X
Capivara e Salto Grande, construídos há OKADA; DIAS; AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR, 1999). Schizodon vittatus (Valenciennes, 1850) Piau boca-de-flor X
mais de 15 anos, eram registrados cardumes Esse resultado demonstra que, durante a CHARACIDAE
de dourados e pintados, durante a piracema migração ascendente, uma eventual Brycon cephalus (Günther, 1869) Matrinxã X
(o trecho é atualmente represado pelos interceptação na rota pode levar o peixe a Brycon falcatus Müller & Troschel, 1844 Ladina X
reservatórios de Canoas I e II). procurar outra.
24 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna Sul-Americana: composição e história de vida 25

Tabela 2.2 - Espécies migradoras de grandes distâncias nas principais bacias hidrográficas Tabela 2.2 - Espécies migradoras de grandes distâncias nas principais bacias hidrográficas
brasileiras. 1.Bacia do Uruguai, 2.Bacia do Paraná/Paraguai, 3.Bacia do São Francisco, brasileiras. 1.Bacia do Uruguai, 2.Bacia do Paraná/Paraguai, 3.Bacia do São Francisco,
4. Bacia do Amazonas (modificado de CAROLSFELD; HARVEY; ROSS; BAER, c2003) 4. Bacia do Amazonas (modificado de CAROLSFELD; HARVEY; ROSS; BAER, c2003)
(continuação) (conclusão)

ESPÉCIES NOME COMUM 1 2 3 4 ESPÉCIES NOME COMUM 1 2 3 4


Brycon orthotaenia Günther, 1864 Matrinchã X Rhinodoras boehlkei Glodek, Whitmire & Orcés, 1976 Abotoado X
Brycon hilarii (Valenciennes, 1850) Piraputanga X
HEPTAPTERIDAE
Brycon orbignyanus (Valenciennes, 1850) Piracanjuba X X
Rhamdia quelen (Quoy e Gaimard, 1824) Jundiá X X X X
Brycon amazonicus (Agassiz, 1829) Jatuarana X
LORICARIIDAE
Colossoma macropomum (Cuvier, 1818) Tambaqui X X X
Rhinelepis aspera Agassiz, 1829 Cascudo-preto X X
Mylossoma e Myleus spp. Pacu X X X
PIMELODIDAE
Piaractus brachypomus (Cuvier, 1818) Pirapitinga X
Brachyplatystoma filamentosum (Lichtenstein, 1819) Piraíba X
Piaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887) Pacu caranha X
Brachyplatystoma flavicans (Castelnau, 1855) Dourada X
Salminus affinis Steindachner, 1880 Dorada
Brachyplatystoma juruense (Boulenger, 1898) Zebra X
Salminus brasiliensis (Cuvier, 1816) Dourado X X X X
Brachyplatystoma rousseauxii (Castelnau, 1855) X
Salminus hilarii Valenciennes, 1850 Tabarana X X X
Goslinia platynema (Boulenger, 1898) Babão X
Triportheus spp. Sardinha X X X
Brachyplatystoma vaillantii (Valenciennes, 1840) Piramutaba X
CYNODONTIDAE
Calophysus macropterus (Lichtenstein, 1819) Zumurito X
Hydrolycus spp. Cachorra X
Conorhynchus conirostris (Valenciennes, 1840) Pirá X
Rhaphiodon vulpinus Agassiz, 1829 Peixe cachorro X X X
Hemisorubim platyrhynchos (Valenciennes, 1840) Jurupoca X X
HEMIODONTIDAE

Hemiodus microlepis Kner, 1858 Voador X Leiarius marmoratus (Gill, 1870) Jundiá X

Hemiodus orthonops (Eigenmann & Kennedy, 1903) Peixe-banana X Megalonema platanus (Günther, 1880) Fidalgo X X

Hemiodus ternetzi Myers, 1927 Voador X Megalonema platycephalum Eigenmann, 1912 Dourada X

Hemiodus unimaculatus (Bloch, 1794) Piau pirco X Phractocephalus hemioliopterus (Schneider, 1801) Pirarara X

PROCHILODONTIDAE Pimelodus blochii Valenciennes, 1840 Mandi X

Prochilodus costatus Valenciennes, 1850 Curimatã-pioa X Pimelodus maculatus Lacépède, 1803 Mandi-amarelo X X X

Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1836) Curimbatá X X Pimelodus ornatus Kner, 1858 Mandi X X

Prochilodus argenteus Agassiz, 1829 Curimbatá-pacu X Pimelodus pictus Steindachner, 1877 X


Prochilodus nigricans Agassiz, 1829 Curimatã X Pinirampus pirinampu (Spix, 1829) Barbado X X
Prochilodus rubrotaeniatus Jardine e Schomburgk, 1841 Bocachica X Platynematichthys notatus (Jardine, 1841) Coroatá X
Semaprochilodus spp. Jaraqui X Pseudoplatystoma corruscans (Agassiz, 1829) Pintado X X X
AUCHENIPTERIDAE Pseudoplatystoma fasciatum (Linnaeus, 1766) Cachara X X X
Ageneiosus brevifilis Valenciennes, 1840 Bocudo X X Pseudoplatystoma tigrinum (Valenciennes, 1840) Caparari X
DORADIDAE Sorubim lima (Schneider, 1801) Jurupecem X X
Oxydoras knerii Bleeker, 1862 Abotoado X X X
Sorubimichthys planiceps (Agassiz, 1829) Peixe lenha X
Oxydoras niger (Valenciennes, 1821) Cuiú-cuiú X
Steindachneridion scripta Ribeiro, 1918 Surubi X X
Pterodoras granulosus (Valenciennes, 1821) Armado X X X
Zungaro zungaro (Humboldt, 1821) Jaú X X X
26 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna Sul-Americana: composição e história de vida 27

a b
a b c

e
d c d

e f
g h

g
j

h i

k l

Figura 2.6 - Espécies migradoras de peixes de couro da fauna neotropical (a=Hemisorubim


platyrhynchos, b=Zungaro zungaro, c=Pseudoplatystoma fasciatum, d=Pimelodus maculatus,
e=Oxydoras knerii, f=Pinirampus pirinampu, g=Sorubim lima, h=Pterodoras granulosus,
i=Rhinelepis aspera). Ver Tabela 2.2 para os nomes populares.

m
Uso do Espaço e lagoas. Envolve basicamente espécies de
pequeno e médio porte, como cascudos,
pequenos bagres, caracídeos, gimnotídeos,
A s espécies sedentárias são capazes de ciclídeos e poecilídeos. Devido ao pequeno
completar todas as etapas de seu ciclo de tamanho, são geralmente encontradas
vida em um mesmo ambiente, realizando, associadas a algum tipo de substrato, como
Figura 2.5 - Espécies migradoras de peixes de escama da fauna neotropical (a=Pellona flavipinnis, em alguns casos, curtos deslocamentos. troncos, rochas, macrófitas aquáticas e até
b=Leporinus elongatus, c=Leporinus friderici, d=Triportheus nematurus, e=Leporinus
obtusidens, f=Prochilodus lineatus, g=Schizodon borellii, h=Mylossoma orbignyanus, Representantes desse grupo podem ser mesmo junto ao sedimento. Nesses locais
i=Rhaphiodon vulpinus, j=Brycon microlepis, k=Salminus brasiliensis, l=Leporinus encontrados em todos os tipos de encontram proteção, alimento e superfície
macrocephalus, m=Piaractus mesopotamicus. Ver Tabela 2.2 para os nomes populares.
ambientes, mas principalmente em riachos adequada para a deposição dos ovos.
28 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna Sul-Americana: composição e história de vida 29

O predomínio de espécies sedentárias em o reservatório de Lajes, bacia do rio Paraíba em águas mais lênticas, com fundo arenoso são levados pelas correntes até os trechos
pequenos rios e lagoas foi também observado do Sul, um dos mais antigos do Brasil (ARAÚJO; (VAZZOLER; SUZUKI, MARQUES; PEREZ LIZAMA, 1997; inferiores do rio ou tributários enquanto se
na bacia Amazônica (SANTOS; FERREIRA, 1999), SANTOS, 2001). NAKATANI; BAUMGARTNER; CAVICCHIOLI, 1997). desenvolvem e eclodem. Todo o processo
em lagoas da planície de inundação do rio Outras espécies são encontradas reproduzindo parece ocorrer durante a elevação de nível da
Paraná (OLIVEIRA; LUIZ; AGOSTINHO; BENEDITO- Os grandes peixes migradores de água doce na calha do rio principal, como é o caso do jaú água, sendo que as larvas são levadas
CECÍLIO, 2001) e córregos da mata Atlântica têm como atributo de seu comportamento a Zungaro zungaro e do pacu Piaractus passivamente pelas cheias para as áreas
(ESTEVES; LOBÓN-CERVIÁ, 2001). separação, no tempo e no espaço, dos hábitats mesopotamicus no rio Paraná (AGOSTINHO; recém- alagadas onde ocorre seu
usados para reprodução, crescimento e GOMES; SUZUKI; JÚLIO JÚNIOR, c2003). desenvolvimento inicial.
Para algumas espécies os hábitats de alimentação durante diferentes estágios de
alimentação, crescimento e reprodução vida (NORTHCOTE, 1998). Assim, esses três tipos Na Amazônia, os caracídeos migradores Hábitat de crescimento: são, em geral, áreas
podem ser os mesmos. Outras necessitam de de hábitats são necessários para que essas também procuram locais onde a turbidez é de várzeas situadas nas partes mais baixas de
locais diferentes numa determinada fase da espécies completem seus ciclos de vida. Na mais elevada, como o leito principal de rios tributários, ao longo do canal principal ou em
vida, porém dentro de um mesmo ambiente. região amazônica, onde o número de espécies de água branca (GOULDING; SMITH; MAHAR, 1996) ilhas de grandes rios. Nas várzeas, depressões
Estudos elaborados para identificar esses migradoras é muito maior, e também em ou na confluência de tributários (GOULDING, armazenam água de forma temporária ou
hábitats requerem abordagens diferenciadas, outras grandes bacias hidrográficas c1980). Para isso eles abandonam várzeas e permanente (lagoas marginais) sendo esses
como a biotelemetria, a marcação-recaptura e brasileiras, as informações disponíveis acerca tributários de águas claras ou pretas, com um corpos d’água heterogêneos em relação à
a observação subaquática direta. Sabino e dos hábitats de espécies migradoras são ainda padrão de migração reprodutiva diferente forma, área superficial, profundidade média e
Castro (1990) observaram a mudança de restritas a poucas espécies. Na bacia do rio daquele registrado nas demais bacias grau de conexão com o rio principal. Larvas à
hábitats em pequena escala temporal Paraná, alguns desses hábitats foram brasileiras, com os peixes realizando deriva alcançam essas lagoas quando o rio
(períodos de dia/noite) em peixes de um localizados e mais extensivamente estudados migrações descendentes até o leito do rio tem seu volume de água aumentado,
riacho atlântico. Algumas espécies nadam (AGOSTINHO; GOMES; SUZUKI; JÚLIO JÚNIOR, c2003). principal (SANTOS; FERREIRA, 1999). Como já permitindo a conexão. O uso desses hábitats
durante o dia próximo ao fluxo de água, mas mencionado, os grandes bagres migradores pelos juvenis tem sido reportado para rios das
durante a noite procuram locais abrigados Hábitat de reprodução: de modo geral, esses amazônicos realizam grandes viagens na bacias Amazônica, Paraná e São Francisco,
junto à vegetação. hábitats estão localizados nas porções direção oeste, provavelmente desovando em sendo sugeridas ainda para o rio Paraíba do
superiores de grandes rios e afluentes. Isso locais do alto rio Solimões (RUFFINO; BARTHEM, Sul (ARAÚJO, 1996).
Uma característica importante das espécies tem sido inferido pela elevada ocorrência de 1996).
sedentárias reside no fato de que elas são, indivíduos no estádio de reprodução e pela Na vazante, quando a água está retraindo, os
geralmente, as mais pré-adaptadas à distribuição e abundância de ovos, que Na bacia do rio São Francisco, apesar da jovens que abandonam as lagoas temporárias
sobrevivência em reservatórios, aumenta em direção à parte superior de ocorrência de grandes migradores, como o podem entrar ativamente nas lagoas
principalmente aquelas que habitam águas tributários (VAZZOLER; SUZUKI, MARQUES; PEREZ dourado, o pintado e o curimba, pouco se permanentes através dos canais de conexão
lênticas. Muitos reservatórios comportam LIZAMA, 1997). Characiformes preferem, sabe dos seus locais de desova (SATO; GODINHO, remanescentes. Estudos sugerem que as
extensas áreas litorâneas, ocupadas por geralmente, cursos de águas rasos (menos de 1999). Sabe-se que reproduzem na época de lagoas são os ambientes com a maior
macrófitas aquáticas, que podem ser 3 m), não muito largos (menos de 80 m), com águas altas, sendo provável que desovem na diversidade de fitoplâncton, perifíton,
colonizadas por espécies com essa estratégia moderada turbulência e fundo rochoso, com calha dos rios principais e tributários (SATO; rotíferos, zooplâncton, macrófitas aquáticas,
de vida. O predomínio de espécies sedentárias depósitos de areia ou cascalho. A reprodução GODINHO, c2003). bentos e peixes. Além disso, apresentam
de pequeno porte é relatado para o ocorre durante a elevação do nível do rio, abundância mais elevada de fitoplâncton,
reservatório de Jurumirim, no rio quando a água está mais túrbida e com a Entretanto, qualquer que seja a bacia, as zooplâncton, macrófitas aquáticas e peixes
Paranapanema, onde foi constatada a extinção condutividade e temperatura elevadas. espécies migradoras lançam seus gametas em (AGOSTINHO; THOMAZ; MINTE-VERA; WINEMILLER,
local das espécies migradoras (CARVALHO; Embora alguns Siluriformes requeiram águas movimentadas, que facilitam o contato 2000). Em lagos de planícies de inundação, as
SILVA, 1999). Padrão similar é registrado para hábitats desse tipo, muitos podem desovar entre eles e a fecundação. Os ovos fecundados macrófitas aquáticas constituem importante
30 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna Sul-Americana: composição e história de vida 31

hábitat, assegurando o desenvolvimento de natatória como pulmão (piararucu, pirambóia No alto rio Uruguai, onde as áreas alagadas o período de águas altas, época de maior
juvenis, ao fornecer abrigo e recursos e eritrinídeos) (FARREL; RANDALL, 1978; MATTIAS; são restritas, acredita-se que as imediações da disponibilidade alimentar, o que resulta em
alimentares (SÁNCHEZ-BOTERO; ARAÚJO-LIMA, MORON; FERNANDES, 1996), a vascularização da foz dos grandes tributários, que comporta grande acúmulo de gorduras (JUNK, 1985).
2001). Estudos recentes em região tropical cavidade bucal (poraquê) ou o estômago grandes áreas de remanso pela vazão Espécies herbívoras aproveitam o acesso a
vêm mostrando que complexas relações se como órgão auxiliar na respiração (cascudos) aumentada do rio principal, desempenhem áreas de floresta alagada, onde consomem
estabelecem entre assembléias de peixes e (PERNA; FERNANDES, 1996). Entre os caracídeos, importante papel no desenvolvimento inicial frutos e sementes, como o tambaqui Colossoma
bancos de macrófitas (AGOSTINHO; GOMES; JÚLIO uma estratégia bem difundida é a projeção do de larvas (David A. R. Tataje, informação macropomum e a pirarara Phractocephalus
JÚNIOR, 2003; MAZZEO; RODRÍGUEZ-GALEGO; KRUK; lábio inferior formando uma barbela, verbal). Mesmo assim, existe uma hipótese hemiolopterus (GOULDING, c1980; GOULDING;
MEERHOFF; GORGA; LACEROT; QUINTANS; LOUREIRO; permitindo que aproveitem a camada alternativa de que os peixes que desovam SMITH; MAHAR, 1996).

LARREA; GARCIA-RODRÍGUEZ, 2003; PETRY; BAYLEY; superior da coluna d’água mais rica em nesta região têm suas larvas carreadas por
MARKLE, 2003; PELICICE; AGOSTINHO; THOMAZ, oxigênio (WINEMILLER, 1989). Após a queda da centenas de quilômetros até lagoas marginais Espécies piscívoras caçam suas presas no leito
2005). tensão de oxigênio, esta projeção pode se localizadas no trecho médio do rio Uruguai dos rios, especialmente na desembocadura
desenvolver em questão de horas (Figura 2.7). (HAHN, 2000). dos corixos e dos tributários, e dentro de
Um fato peculiar em lagos tropicais e que lagoas marginais (ARAÚJO-LIMA; AGOSTINHO;
possivelmente teve influência decisiva na A despeito dos baixos níveis de oxigênio Como já mencionado, os grandes bagres FABRÉ, 1995). Os grandes bagres amazônicos

evolução da ictiofauna é que, durante a fase dissolvido nas camadas mais profundas, as amazônicos utilizam estratégia diferente no permanecem no leito dos grandes rios,
de altos níveis do rio, quando as lagoas são lagoas fornecem grande quantidade de desenvolvimento de formas jovens. Após a aproveitando ou até mesmo acompanhando
mais profundas, estratificação térmica pode abrigo e alimento para os jovens de peixes desova na região do alto rio Solimões, ovos e cardumes de Characiformes que estão se
persistir por mais que 24 horas, levando a (GOMES; AGOSTINHO, 1997). Na falta de lagoas, larvas derivam milhares de quilômetros até a deslocando (BARTHEM; RIBEIRO; PETRERE JUNIOR,
estratificação vertical de nutrientes e gases os remansos laterais, assim como bancos de região dos estuários, na foz do rio Amazonas 1991; GOULDING; SMITH; MAHAR, 1996).
(THOMAZ; LANSAC-TÔHA; ROBERTO; ESTEVES; LIMA, macrófitas aquáticas no canal principal do (GOULDING; SMITH; MAHAR, 1996). Essa é uma
Os iliófagos migradores (curimbas e jaraquis)
1992; LANSAC-TÔHA; THOMAZ; LIMA; ROBERTO; rio, parecem desempenhar papel região de alta produtividade planctônica. Os
concentram-se nas margens de grandes rios,
GARCIA, 1995). Freqüentemente surgem importante para o desenvolvimento inicial. peixes lá permanecem até atingirem a fase
ou adentram as regiões alagadas (CARVALHO;
camadas anóxicas próximas ao sedimento adulta ou pré-adulta, quando iniciam jornada
MERONA, 1986; GOULDING; CARVALHO; FERREIRA,
(THOMAZ, 1991). Quando ocorre a mistura da rio acima.
1988). Nesses ambientes encontram substratos
coluna nessas circunstâncias, uma grande
onde detritos e algas perifíticas se aderem,
mortandade de peixes pode ocorrer, Hábitat de alimentação: os hábitats de
como troncos e pedras.
fenômeno conhecido como “friagem” no alimentação são aqui definidos como locais
Pantanal (ESTEVES, 1988). Isso ocorre pela utilizados pelos indivíduos adultos, com fins
Nas áreas de várzeas do rio Paraná, os
diminuição da concentração de oxigênio nas alimentares. Após a desova, os grandes peixes iliófagos prochilodontídeos podem
camadas superficiais, aumentando também a migradores permanecem, geralmente, no permanecer nas lagoas, se alimentando
concentração de gases tóxicos. leito dos rios ou em hábitats criados com o (MARÇAL-SIMABUKU; PERET, 2002), enquanto que
alagamento de florestas e planícies. em rios de águas claras na Amazônia é
Muitas espécies de peixes desenvolveram comum que permaneçam também em praias
adaptações que permitem sobreviver em Na Amazônia, os caracídeos retornam às arenosas marginais.
condições de baixa concentração de oxigênio regiões de várzea de rios de água branca ou
Figura 2.7. Projeção labial em Astyanax migram para locais superiores de rios de
ou até mesmo respirar o ar atmosférico. Estas Durante as águas altas na planície de
altiparanae, decorrente da
estratégias respiratórias, presentes tanto em diminuição da concentração de águas claras e pretas. Fato interessante é que inundação do alto rio Paraná, o armado
algumas espécies sedentárias quanto nas oxigênio em lagoas da planície do nessa bacia as espécies migradoras Pterodoras granulosus, uma espécie onívora,
alto rio Paraná (Foto: F.M. Pelicice).
migradoras, incluem a utilização da bexiga apresentam alta atividade alimentar durante consome frutos/sementes de Ficus, Cecropia e
32 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna Sul-Americana: composição e história de vida 33

Polygonum, funcionando como dispersor de alimentação. Após a construção do Além disso, considerando que espécies especialização da dieta se constitui em
dessas espécies (SOUZA-STEVAUX; NEGRELLE; reservatório de Itaipu, essa espécie passou a verdadeiramente pelágicas em águas sul- estratégia arriscada, já que a disponibilidade
CITADINI-ZANETTE, 1994; PILATI; ANDRIAN; utilizar a região superior do reservatório americanas são raras (GOMES; MIRANDA, 2001), de alimento é altamente flutuante e
CARNEIRO, 1999). para fins de alimentação, permanecendo somente as regiões litorâneas dos dependente de fatores pluviométricos,
nesse ambiente até o próximo evento reservatórios são ocupadas, basicamente por variáveis sazonal e anualmente. Pode
Com a construção de reservatórios, os reprodutivo (AGOSTINHO; VAZZOLER; GOMES; espécies de pequeno porte não-migradoras. ocorrer que em determinados anos alguns
hábitats de alimentação dos peixes OKADA, 1993) (Figura 2.8). Exceto pela sua As áreas abertas dos reservatórios, que se recursos não estejam disponíveis, e uma
migradores podem mudar. Na planície de porção fluvial, os reservatórios parecem não constituem na maior parte destes, são especialização extrema pode significar
inundação do alto rio Paraná, o curimba P. se constituir em hábitat adequado para a caracterizadas pela baixa densidade de peixes solução evolutiva perigosa. Como exemplo,
lineatus sobe os tributários para desovar, maioria das espécies migradoras (ARAÚJO- (AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; podemos citar a relevante variação na época,
voltando à calha principal dos rios, seu sítio LIMA; AGOSTINHO; FABRÉ, 1995). SUZUKI, 1999). intensidade e duração das cheias na região
do alto rio Paraná, antes do fechamento da

A B
Alimentação Natural represa de Porto Primavera (AGOSTINHO;
Rio Ivinheim
a 1º Ano THOMAZ; NAKATANI, 2002). Dessa forma é

Lêntico
compreensível que a seleção natural tenha
Lagoas 2º Ano U ma característica marcante da maioria favorecido espécies com grande amplitude
NOV - FEV

Ca
na das espécies de peixes neotropicais é a alta na dieta.
is
plasticidade na dieta (ver Box 2.3). Muitos

Reservat.
e Canais
DEZ - MAR
hábitats de água doce, ao contrário da Mesmo com esse elevado grau de
Ciclo
maioria daqueles terrestres, são marcados plasticidade, a variedade de formas
Rio Paraná

Anual
Lótico

por elevada variabilidade em seus atributos morfológicas é imensa, com relação à


FEV - A BR

hidrológicos e limnológicos, o que dentição, posição da boca e sistema


provavelmente impediu que as espécies de digestório (LOWE-McCONNELL, 1999).
Rio Igua
te mi peixes seguissem trilhas evolutivas rumo à Considerando que hábitos alimentares
NOV -
FEV especialização trófica. Em águas tropicais, a generalistas não precisam de aparelhagem
OV

Rio Piquiri
-N

Legenda
Bo
Boxx 2.3
ET

S NOV - FEV Larvas


Jovens
DEZ - JA N
A BR - JUN

Imaturo
Plasticidade trófica em peixes de água doce
Repouso
ABELHA, M.C.F.; AGOSTINHO,A.A.; GOULART, E.
Adultos > 18,9 cm

Plasticidade trófica em peixes de água doce. Acta


Reservatório de Itaipu

Maturacão
Área de alimentacão

Reproducão Scientiarum, Maringá, v. 23, no. 2, p. 425-434, Apr. 2001.


Esgotado
“Esta revisão apresenta uma síntese a respeito da plasticidade alimentar em teleósteos de água doce em
JU L - NOV
A BR - JUN

Repouso relação às variações espaço-temporais, ontogenéticas, individuais e comportamentais. A ocorrência de dieta


flexível é uma característica marcante da ictiofauna fluvial tropical, onde a maioria das espécies pode mudar
Áreas de Reproducão
de um alimento para outro tão logo ocorram oscilações na abundância relativa do recurso alimentar em uso,
Áreas de crescimento motivada por alterações ambientais espaço-temporais. Quase todas as espécies mudam troficamente durante
e alimentacão
a ontogenia, e em muitas populações os indivíduos podem apresentar preferências alimentares ou fazer uso
Barragem
de táticas alimentares distintas, conduzindo a um forrageamento intra-específico diferenciado. Essas
Figura 2.8 - Modelo conceitual representando o comportamento do curimba Prochilodus lineatus considerações evidenciam dificuldades que podem ser encontradas no estabelecimento de padrões alimentares
na bacia do alto rio Paraná (A) e ambientes usados durante seu ciclo de vida (B) (modificado
específicos fidedignos para as espécies de teleósteos.”
de AGOSTINHO; VAZZOLER; GOMES; OKADA, 1993).
34 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna Sul-Americana: composição e história de vida 35

alimentar especial, não seria esperado que as adaptações morfológicas bucais que vão 1995), e vale destacar que muitas espécies assembléia de peixes comendo
espécies apresentassem padrões desde lábios suctoriais ou suctoriais- migradoras pertencem a esta guilda trófica. predominantemente insetos, outros
morfológicos semelhantes entre si? raspadores, como nos cascudos (loricarídeos) Dentre as estratégias de predação, existem invertebrados, algas e detritos. Padrões
Entretanto, cada espécie tem sua história e curimbas (prochilodontídeos), até espécies que caçam emboscando suas semelhantes são descritos para a bacia do
evolutiva particular e é provável que mandíbulas em forma de pá, nos canivetes vítimas (eritrinídeos, pirarucu e grandes alto rio Paraná (CASTRO; CASATTI, 1997; LEMES;
fizessem algum uso de suas adaptações em (parodontídeos) e sagüirus (curimatídeos). bagres), outras que formam cardumes para GARUTTI, 2002).
épocas passadas. Além disso, o isolamento Adaptações morfológicas no estômago e caçar (dourado, cachorras, tucunarés),
pode permitir que a evolução desenvolva intestino também são comuns. Os intestinos enquanto outras predam de forma Em rios, a natureza dos recursos alimentares
soluções tróficas distintas para situações são longos, excedendo em muito o tamanho oportunística (piranhas e saicangas). utilizados é muito variada, dependente das
semelhantes. Mesmo hoje, podemos do corpo do peixe, o que possibilita a características particulares de cada ambiente
observar espécies que tendem a se alimentar digestão e absorção de alimentos como Os padrões alimentares em assembléias de (declividade, planícies alagáveis, substrato,
preferencialmente de determinados itens, fibras vegetais e microorganismos. É peixes são pouco consistentes, dada a etc.). De modo geral os itens consumidos
mas que na sua ausência podem assimilar importante destacar que, especialmente para flexibilidade na dieta de muitas espécies, pelos peixes são partes vegetais e detritos,
facilmente outros. Como exemplo, piranhas as detritívoras, o detrito é um recurso como já discutido. Entretanto, alguns algas, zooplâncton, insetos (adultos e larvas),
dos gêneros Serrassalmus e Pygocentrus, com abundante e presente em todos os hábitats. padrões de consumo relacionados ao outros invertebrados aquáticos (caranguejos,
mandíbulas e dentes adaptados a capturar Ao longo da história evolutiva, o ambiente em que a assembléia está inserida camarões, moluscos, poríferos, anelídeos,
peixes e dilacerar tecidos, consomem também aparecimento de espécies aptas a explorar podem ser detectados, provavelmente em briozoários) e peixes (inteiros, sangue,
insetos e material vegetal (WINEMILLER, 1989). exclusivamente detritos não parece ter sido razão da disponibilidade dos recursos. escama e nadadeiras). Embora algum nível
tão arriscado quando comparamos com de especialização alimentar possa ser
Os itens mais consumidos, principalmente espécies hipotéticas especialistas, As assembléias de peixes de córregos e encontrado nos rios, essa não deve ser uma
por espécies de pequeno e médio porte, são dependentes exclusivamente de certas ribeirões consomem principalmente insetos boa estratégia para os ambientes altamente
algas filamentosas, microcrustáceos, larvas espécies de insetos (chironomídeos, por e partes vegetais, resultando num flutuantes das planícies de inundação.
de insetos, outros invertebrados aquáticos e exemplo), que têm distribuição e abundância predomínio de espécies onívoras. Esses
terrestres, material vegetal terrestre e restos mais incerta. Dessa forma, a detritivoria se itens, geralmente de origem alóctone Em rios e ambientes de planícies de
de peixes (ARAÚJO-LIMA; AGOSTINHO; FABRÉ, tornou um hábito presente em todas as (externa), são abundantes nesse tipo de inundação, as espécies detritívoras e
1995). A representatividade desses itens bacias sul-americanas, formando, inclusive, a ambiente, dada a maior relação do piscívoras apresentam geralmente alta
depende basicamente da espécie de peixe base de muitas teias tróficas (CATELLA; ambiente aquático com as encostas. Embora biomassa total. Esse padrão está
considerada, do ambiente e da época do ano. PETRERE JUNIOR, 1996). Interessantemente, a os riachos com grande incidência de luz evidenciado em trabalhos realizados em
Macrófitas aquáticas, apesar de muito grande biomassa de detritívoros é possam apresentar elevada disponibilidade diversas bacias.
abundantes (SANTAMARÍA, 2002), são balanceada por um baixo número de espécies de algas, especialmente perifítica (aderida),
raramente consumidas por peixes sul- especializadas neste recurso, à exceção dos o material alóctone parece predominar No rio Mujacai, Rondônia, a biomassa de
americanos (AGOSTINHO; GOMES; JÚLIO JÚNIOR, cascudos (BOWEN, 1983). Outras espécies, sem (ARAÚJO-LIMA; AGOSTINHO; FABRÉ, 1995). Essa piscívoros/carnívoros e detritívoros
2003). adaptações específicas, também consomem tendência encontra respaldo em diferentes somaram 70% e 20% do total,
detritos em conjunto com outros recursos, bacias brasileiras. Assim, em um riacho de respectivamente (FERREIRA; SANTOS; JÉGU,
Entretanto, existem exceções quanto à porém seu valor proteíco e energético é floresta Atlântica, Sabino e Castro (1990) 1988). No rio Trombetas, bacia Amazônica,
amplitude alimentar; por exemplo, algumas incerto. constataram que os insetos aquáticos e a biomassa dominante foi a de piscívoros,
espécies apresentam restrições morfológicas terrestres, além de algas, foram os itens em diversos locais amostrados (FERREIRA,
a eurifagia, como os planctívoros filtradores Outro hábito muito difundido é a piscivoria, mais consumidos. Sabino e Zuanon (1998) 1993). No alto rio São Francisco, Alvim e
e os iliófagos (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR, 1999). tanto em número de indivíduos quanto de obtiveram resultado semelhante em um Peret (2004) relataram a dominância das
Nesses casos as espécies desenvolveram espécies (ARAÚJO-LIMA; AGOSTINHO; FABRÉ, riacho na Amazônia Central, com a guildas iliófaga, herbívora e piscívora.
36 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna Sul-Americana: composição e história de vida 37

Na região de planície do alto rio Paraná, sua formação. A incorporação de matéria planctônicos (fito e zooplâncton) são
Considerações Finais
seus ambientes apresentam elevada riqueza orgânica terrestre ao sistema aquático consumidos em grande parte por espécies
de espécies piscívoras e insetívoras, durante a fase de enchimento e de pequeno porte que habitam as regiões
enquanto que, em termos de biomassa, os imediatamente após o represamento produz litorâneas, e pelos juvenis (CASATTI; MENDES; O s peixes neotropicais de águas interiores
maiores valores são de espécies piscívoras, um incremento acentuado na FERREIRA, 2003; PELICICE; AGOSTINHO, 2006). são marcados por uma imensa diversidade
iliófagas e detritívoras (AGOSTINHO; JÚLIO disponibilidade de alimento, especialmente de espécies e padrões comportamentais.
JÚNIOR; GOMES; BINI; AGOSTINHO, 1997). Em para peixes de pequeno porte, que, em Por outro lado, a vegetação inundada Apesar de as espécies apresentarem histórias
lagoas dessa região, Peretti e Andrian (2004) geral, são insetívoros, herbívoros ou permite o florescimento do perifíton e, de vida específicas, com inúmeras adaptações
verificaram que os itens mais consumidos onívoros. Esse incremento pode levar à portanto, elevada disponibilidade desse morfo-fisiológicas, estreitamente associadas
são peixes, material vegetal e detrito/ proliferação de piscívoros em momentos recurso alimentar, que é valioso para os à sua história evolutiva, podemos destacar a
sedimento, sendo que a guilda subseqüentes. Após o fechamento da iliófagos (PETRERE JUNIOR, 1996; AGOSTINHO; elevada flexibilidade em suas estratégias de
predominante foi a detritívora/iliófaga. Em barragem de Tucuruí, Mérona, Santos e GOMES, 1998). Ainda, em reservatórios rasos, vida, amplamente dependentes do contexto
lagoas da planície de inundação do rio Almeida (2001) observaram um aumento da o detrito pode assumir maior importância onde o indivíduo está inserido.
Mogi-Guaçu, bacia do rio Paraná, as biomassa piscívora. Em 31 reservatórios do na dieta, seguido pelo consumo de insetos
espécies mais abundantes foram o curimba estado do Paraná e bacias limítrofes, um (ARCIFA; MESCHIATTI, 1993). Mesmo com uma enorme variedade de tipos
e saguirus, espécies detritívoras/iliófagas estudo recente evidenciou a enorme de estratégias reprodutivas e alimentares
(MARÇAL-SIMABUKU; PERET, 2002). participação da biomassa piscívora Entretanto, a capacidade de uso de recursos entre as espécies, a sazonalidade é a
compondo as assembléias, discutindo alimentares variados pela ictiofauna limita característica mais conspícua da maioria,
Em reservatórios, as assembléias de peixes inclusive os possíveis efeitos controladores qualquer tentativa de generalização sobre estando fortemente associada a ciclos de
são sustentadas essencialmente por recursos promovidos por essa predação (top-down) na sua ecologia alimentar. Mudanças cheia/seca. Espécies com hábitos
autóctones (locais). Agostinho e Zalewski produtividade de peixes desses ontogenéticas, sazonais, espaciais e sedentários e migradores são encontradas
(1995) estimam que, no reservatório de reservatórios (PELICICE; ABUJANRA; FUGI; LATINI; individuais na dieta, aliadas a um amplo em todas as bacias e nos mais variados
Itaipu, cerca de 70% da biomassa é composta GOMES; AGOSTINHO, 2005). repertório de táticas alimentares, fornecem ambientes sul-americanos, sendo
por espécies que se alimentam de elementos exemplos dessa flexibilidade e dificultam o importantes componentes das assembléias
autóctones (plâncton, bentos e peixes), 25% Já a mineralização da matéria orgânica e a estabelecimento de padrões que viabilizem ícticas e desempenhando papéis distintos no
utiliza detritos com origem mista e apenas decorrente elevação de nutrientes nos comparações fidedignas entre funcionamento dos ecossistemas. Embora
5% é sustentada por itens de origem reservatórios permite uma elevada ecossistemas, e classificações da ictiocenose com adaptações distintas, essas espécies
alóctone. Já nos cinco primeiros anos após a produção primária e o desenvolvimento de em categorias tróficas consistentes (ABELHA; dependem do regime hidrológico, sendo
formação deste reservatório, mais de 75% zooplâncton, resultando no incremento da AGOSTINHO; GOULART, 2001). Talvez o mais essa dependência maior entre os
das capturas eram baseadas em espécies biomassa de planctívoros (AGOSTINHO; indicado seja o estudo da amplitude da migradores.
insetívoras, planctófagas e piscívoras (HAHN, MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999). variabilidade natural na dieta dos peixes.
1991). No reservatório de Itaipu, ocorreu enorme Somente conhecendo os limites dessa É inerente aos objetivos da construção de
crescimento populacional de Hypophtalmus variabilidade e os principais fatores um reservatório, qualquer que seja sua
Nos reservatórios pequenos, que preservam edentatus, espécie planctófaga filtradora, responsáveis pelas variações, poderemos finalidade, a redistribuição das vazões ao
maior relação com as encostas, a entrada de permitindo inclusive o estabelecimento de fazer inferências mais precisas acerca da longo do ano (produção de energia,
material alóctone pode ser importante uma importante pesca comercial (AMBRÓSIO; ecologia trófica das espécies, podendo navegação, controle de cheias) ou a
(ABELHA; GOULART; PERETTI, 2005). Contudo, a AGOSTINHO; GOMES; OKADA, 2001; ABUJANRA; inclusive predizer impactos derivação da água (irrigação,
contribuição deste material é, em geral, AGOSTINHO, 2002). Como é comum a ausência antropogênicos sobre a dieta e, por fim, abastecimento). Assim, o impacto mais
maior nos trechos mais altos dos de espécies filtradoras planctófagas em predizer alterações na estrutura das pronunciado dos represamentos incide
reservatórios ou durante o primeiro ano de águas sul-americanas, os recursos assembléias. sobre a ictiofauna, especialmente os peixes
38 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

migradores. Além do controle do regime terço superior da área represada, ou

3
hidrológico, a interceptação de rotas naqueles onde estes sejam objetos de
migratórias e a redução de hábitats de interesse na pesca.
desova e criadouros naturais estão entre os
fatores que afetam esse grupo de peixes.
No grupo dos migradores, estão incluídos
As espécies sedentárias podem manter suas
populações desde que amplamente
Capítulo
os maiores peixes de nossa fauna, a distribuídas e mantidos os seus processos
maioria predadores de topo, com metapopulacionais, especialmente os de

Os Reservatórios Brasileiros e sua


importante papel na cadeia alimentar de natureza genética. As espécies sedentárias e
nossas águas. Portanto, além de ser os mais endêmicas requerem atenção especial,
principalmente se concentradas em áreas a
Ictiofauna
prejudicados pelos represamentos,
constitui um grupo de elevado interesse serem represadas ou nos primeiros
social, econômico e ecológico, devendo ser quilômetros a jusante da barragem. De
objeto especial de interesse de manejo. qualquer forma, é nesse grupo que os
Lamentavelmente, o trecho do reservatório impactos sociais decorrentes do
passível de ocupação por eles é geralmente
o superior. Assim, ações de preservação
represamento podem ser compensados,
visto que muitas dessas espécies podem
proliferar no ambiente represado e manter
O s grandes reservatórios brasileiros foram construídos, em sua
devem ser implementadas nos trechos maioria, na segunda metade do século XX. Com fins
ainda livres da bacia, e ações de uma pesca sustentada, desde que
conservação dos estoques nas pescarias do adequadamente manejada. primariamente hidrelétricos, inundaram extensas áreas, superando
hoje 35.000 km2. As bacias do Sul e Sudeste do país, por
apresentarem densos aglomerados urbanos e uma zona industrial
bem -desenvolvida, contêm a maior parte desses empreendimentos,
sendo também as mais impactadas quanto à conservação de seus
recursos pesqueiros. Isso porque o barramento de rios provoca
transformações profundas na ictiofauna local, geralmente com perda
de biodiversidade. A fauna de peixes que habita reservatórios é
composta primariamente por espécies sedentárias de pequeno porte,
mas a alteração mais marcante e ubíqua é, sem dúvida, o
desaparecimento de espécies migradoras de grande porte.
Capítulo 3.1
Os Reservatórios Brasileiros

como decorrência do desenvolvimento


Introdução tecnológico, urbano e industrial. Aqueles
destinados à geração hidrelétrica
O s reservatórios são obras de
começaram a ser construídos a partir da
década de 1880. A crescente demanda por
engenharia que têm sido construídas há
energia elétrica para as atividades
pelo menos 5.000 anos, como sugerem os
industriais (no começo representadas pelas
levantamentos realizados no Oriente
fábricas de tecido, processamento de
Médio e na Ásia. Durante milhares de
produtos agrícolas, mineração) e de
anos, estas foram construídas com a
iluminação pública (a lâmpada havia sido
finalidade de controle de cheias, irrigação
inventada em 1879), foi inicialmente
e suprimento de água para abastecimento
suprida por termoelétricas e, mais tarde,
doméstico. A barragem de Sadd-el-Kafara,
por fontes hídricas.
contruída em 2600 AC, no Egito, com a
finalidade de controlar cheias, tinha 14 m
O século XX iniciou-se com algumas
de altura e 110 m de crista, sendo
centenas de grandes reservatórios em todo
reconhecida como a mais antiga. Sua
o mundo (Figura 3.1.1). Os critérios
construção levou cerca de 12 anos, mas
adotados pela World Commission on Dams
uma forte cheia causou sua erosão antes
(WCD) estabelecem como grandes
mesmo que estivesse concluída (JANBERG,
reservatórios aqueles que apresentam
2005). Um dos reservatórios mais antigos,
barragens mais altas que 15 m (MÜLLER,
e ainda em uso para irrigação, é o de
c1996). Barragens com alturas inferiores
Tashahyan, com uma barragem de 27 m,
podem ser consideradas para definir essa
no rio Abang Xi, na China, construído em
categoria desde que tenham volume
833 AC (PETTS, c1984).
superior a 100.000 m3 de água acumulada,
vazão superior a 2.000 m3/s e barragens
A construção de reservatórios apresentou,
com pelo menos 500 m de comprimento de
entretanto, marcante expansão no final do
crista.
século XIX e, especialmente, no século XX,
42 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Os Reservatórios Brasileiros 43

Até o final da Segunda Guerra, com a crise localizada na China e em outros países Constatam-se, por outro lado, grandes disponíveis na literatura, na rede mundial
econômica, o número de novas obras foi asiáticos, mas uma porção considerável diferenças entre as estimativas publicadas (Internet) ou em relatórios produzidos por
ainda baixo, com menos de 1.000 grandes também distribuída na América do Norte, sobre o número de reservatórios. Viotti instituições nacionais ou do exterior são
barragens por década. No período de pós- América Central e Europa Ocidental (Figura (2000), por exemplo, estima em mais de 2.000 contraditórias.
guerra, com o crescimento econômico e o 3.1.2). Comparativamente, a América do Sul o número de grandes barragens na América
desenvolvimento da tecnologia do concreto apresenta um número menor de do Sul e Caribe. Já Avakyan e Iakovleva Em relação ao número, a falta de
armado e de movimentação de terra, o represamentos (WCD, 2000); entretanto, neste (1998), considerando reservatórios com informações sobre o critério para a
mundo assistiu a uma fantástica proliferação continente estão situados alguns dos maiores volume maior que 107 m3, estimam esse estimativa contribui para sua imprecisão.
de grandes reservatórios. Assim, na década reservatórios do mundo. número em 270, um valor mais baixo que o Paiva, Petrere Junior, Petenate, Nepomuceno
que se seguiu à formação de outros continentes, como a América do e Vasconcelos (1994) mencionam a existência
do primeiro grande Norte (915), Europa (576) e Ásia (815). Tais de cerca de 60.000 pequenos reservatórios
reservatório contido por 6000 disparidades decorrem dos diferentes somente na região Nordeste do país. Os
Número de Reservatórios

barragem de concreto 5000 critérios utilizados para classificação de um grandes reservatórios hidrelétricos
(Reservatório de Mead, 4000 corpo de água como reservatório, brasileiros são estimados em cerca de 300
640 km2, rio Colorado, 3000 especialmente os relacionados ao tamanho. por Viotti (2000) e em 109 por Avakyan e
EUA, 1941), o número Considerando os critérios da WCD, o Iakovleva (1998) (volume >107 m3).
2000
dessas construções número de grandes reservatórios na América
1000
superou 2.000 unidades do Sul foi estimado em 979 (WCD, 2000). Neste tópico é feita, com base nos dados
0
disponíveis, uma avaliação dos
<1900

1900-1909

1910-1919

1920-1929

1930-1939

1940-1949

1950-1959

1960-1969

1970-1979

1980-1989

>1990
anuais, com pico no
período de 1960 a 1990, No Brasil, as informações disponíveis sobre represamentos brasileiros numa perspectiva
quando mais de 15.000 os reservatórios são fragmentadas e pouco histórica e espacial, com informações sobre o
grandes reservatórios
Período
consistentes, exceto para aqueles de grande número, área e volume destes, sem
foram formados Figura 3.1.1 - Número de reservatórios construídos no mundo porte ou mais recentes. É comum que a ficha preocupação com a ordenação das
durante o século XX (Fonte: WCD, 2000). informações. São priorizadas as informações
(AVAKYAN; IAKOVLEVA, técnica da maioria deles, especialmente
1998; GARRIDO, 2000; WORLD aqueles pequenos, mesmo operados para produzidas pela concessionária do
COMMISSION ON DAMS produção de energia, não reporte a data de reservatório, seguidas por aquelas de
(WCD), 2000). Para isso formação e a área superficial alagada. Para agências oficiais, publicadas e, finalmente, as
China
contribuíram, além do muitos deles, não há dados como contidas em relatórios.
Ásia
desenvolvimento profundidade média ou tempo de residência
A Evolução dos
Américas do Norte e Central
tecnológico, a demanda da água, fundamentais na análise de sua
energética resultante da Europa Ocidental produção pesqueira. É também comum a
inconsistência dos dados disponíveis.
Represamentos no Brasil
duplicação da população África

mundial entre os anos Valores distintos para o mesmo atributo ou


A
Europa Oriental
1940 e 1990. América do Sul
nomes diferentes para um mesmo exemplo do que ocorreu no mundo, os
reservatório podem ser constatados, represamentos brasileiros tinham,
Austrália-Sul da Ásia
No final do século XX, o inclusive em dados de mesma fonte. Isso inicialmente, objetivos mais restritos, sendo
0 5000 10000 15000 20000 25000
número de grandes torna difícil uma avaliação histórica dos em sua maioria destinados ao abastecimento
Número de Reservatórios
reservatórios existentes represamentos ou a determinação do de água e irrigação, especialmente no
no mundo era superior a Figura 3.1.2 - Número de grandes reservatórios existentes nos número deles. Assim, também para os Nordeste. A produção de energia elétrica em
diferentes continentes (Fonte: WCD, 2000).
45.000, a maioria reservatórios brasileiros, informações pequena escala e em caráter suplementar à
44 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Os Reservatórios Brasileiros 45

produção mecânica ou por termelétrica foi destaque coube à empresa Light, que atendia A construção de
também a destinação dada a alguns as demandas de São Paulo e do Rio de reservatórios 240
reservatórios, iniciada no século XIX. Janeiro. Atualmente, os reservatórios hidrelétricos no século a
200

Número Acumulado
Posteriormente, com a construção de hidrelétricos são componentes comuns das XX aumentou
160
grandes barragens, o uso das águas paisagens brasileiras e encontram-se timidamente até a
represadas se diversificou dramaticamente, inseridos no cotidiano das pessoas. década de 1940, quando 120

incluindo, além de abastecimento e um grande número de 80


irrigação, o controle da vazão, a estocagem A primeira usina hidrelétrica pública hidrelétricas começou a 40
de peixes, a aqüicultura, a recreação, o brasileira contendo um lago de maior porte, ser instalado em
0
turismo, o uso industrial, a navegação e, a Usina de Marmelos, foi inaugurada em diversos rios,

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2000-2003

construção
principalmente, a produção de energia 1889. Construída no rio Paraibuna, fornecia principalmente da
elétrica em larga escala (TUNDISI; energia elétrica à cidade de Juiz de Fora, região Sudeste (bacias
Período
MATSUMURA-TUNDISI, 2003). Minas Gerais (SANTOS; FREITAS, 2000). Com dos rios Paraná e Paraíba
uma capacidade inicial de 250 kW, abastecia do Sul). Com o incentivo 50
O histórico dos grandes represamentos o sistema de iluminação pública composto governamental e a b
nacionais está, entretanto, intimamente por 180 lâmpadas incandescentes de 32 elaboração de planos de 40

Número Total
ligado ao histórico da construção de usinas velas/50 volts, e mais tarde 700 lâmpadas aproveitamento dos 30
hidrelétricas. O domínio das termelétricas para uso doméstico (MARCOLIN, 2005). Outras cursos d’água,
no final do século XIX e dos açudes para a 20
hidrelétricas já existiam, mas eram de intensificados durante o
contenção de água nas décadas iniciais do propriedade particular e geravam governo de Juscelino 10
século XX foi rapidamente sobrepujado pela quantidades modestas de energia (MÜLLER, Kubtischek, observou-se
0
energia hidrelétrica gerada por c1996). Na virada do século, o país contava na década seguinte um

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construção
barramentos de rios. O desenvolvimento com cinco hidrelétricas, que produziam aumento exponencial no
econômico no início do século XX, 5.500 kW, além de seis centrais número de reservatórios
geralmente expresso pela instalação de termelétricas. O primeiro grande hidrelétricos, com a Período
indústrias e crescimento das cidades reservatório, entretanto, foi formado em construção de quase 50
brasileiras, impôs uma elevada demanda de 1901, com o fechamento da barragem da Figura 3.1.3 - Número de reservatórios hidrelétricos construídos
barragens entre 1950 e
desde 1900, considerando somente aqueles com registro de
energia elétrica, principalmente nas regiões hidrelétrica de Edgard de Souza, operada 1959 (Figura 3.1.3). fechamento. A figura apresenta o número acumulado no
Sul e Sudeste do país (VALÊNCIO; GONÇALVES; pela Light, que deu origem a um período (a) e o número de reservatórios construídos em cada
década (b).
VIDAL; MARTINS; RIGOLIN; LOURENÇO; MENDONÇA; reservatório com 30x106 m3. Outros grandes Nas décadas de 1960 e
LEME, 1999). Nesse período, os planos de reservatórios construídos no período foram 1970, o ritmo das
racionamento eram comumente adotados os de Guarapiranga (1906; 200x106 m3) e construções continuou elevado e mais de 40 Furnas, Itaipu, Ilha Solteira e Três Marias,
em face da crescente demanda. Isso, aliado à Lajes (1907; 1052 x106 m3), operados pela barragens foram implantadas. Até então, todos com áreas superiores a 1.000 km2
elevada disponibilidade hídrica no país, Light para a produção de energia, além dos apesar do grande número de reservatórios, (Tabela 3.1.1).
tornou a construção de hidrelétricas uma açudes de Cedro (1906; 126 x106 m3) e estes ainda eram pequenos em relação aos
alternativa urgente e desejada. A presença Acaraú-Mirim (1907; 52 x106 m3), no Ceará, que começaram a ser construídos (Figura Embora o número de reservatórios
de capital estrangeiro no país também operados inicialmente pela Inspetoria, mais 3.1.4). Após a década de 1960, foram construídos por década tenha diminuído a
contribuiu para a instalação das usinas e tarde denominada Departamento Nacional construídos os maiores reservatórios partir de 1960, a área alagada decresceu
melhorias no sistema de transmissão de Obras Contra a Seca (DNOCS) (PAIVA, brasileiros, como Sobradinho, Tucuruí, apenas a partir da década de 1990 (Figura
(MÜLLER, c1996). No início das atividades, o 1982; MÜLLER, c1996; GARRIDO, 2000). Balbina, Porto Primavera, Serra da Mesa, 3.1.4). A utilização de outras fontes de
46 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Os Reservatórios Brasileiros 47

energia, como a nuclear, dos empréstimos (NADER, 2005). A segunda ampla reformulação no setor levou a criação
a térmica e o gás natural, 35000
crise do petróleo, no final da década de 1970, do Programa Prioritário de Termelétricas e
algumas tidas como mais 30000
a teve grande impacto sobre a economia, de entidades como a Agência Nacional de

Área Acumulada (km2)


lucrativas em termos de 25000
resultando no desequilíbrio das contas Energia Elétrica (ANEEL), com papel
aplicação de capital públicas, elevação da inflação e redução no regulador e de planejamento, o Operador
20000
(SANTOS; FREITAS, 2000), PIB, com conseqüências na queda da atividade Nacional de Sistema (ONS), para centralizar
15000
explicam em parte essa produtiva, aumento de desemprego e redução e programar a geração, o Mercado Atacadista
10000
tendência. Entretanto, da demanda energética. A menor capacidade de Energia (MAE), formador de preços onde
5000
outros fatores de financiamento do setor elétrico na década as geradoras vendem a energia. Entretanto,
0
conjunturais parecem ter de 1980, para a qual também contribuiram os os investimentos esperados do setor privado
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tido maior relevância, preços subsidiados, dilatou cronogramas de não se efetivaram, culminando com medidas
com destaque à queda no construção e restringiu o início de novas de racionamento e o apagão em 2001.
produto interno bruto e Período obras, com reflexos na década seguinte. Na
nas políticas públicas década de 1990, com o país em recessão, as Em 1990, o Comitê Brasileiro de Grandes
12000
estabelecidas para o b discussões acerca da privatização do setor, Barragens (CBGB) cadastrava 124 grandes
10000
setor. iniciada na metade final da década anterior, hidrelétricas no país. Entretanto, esse
Área Total (km2)

8000 passaram à prática, com o lançamento do número, considerando-se os critérios da


O setor hidrelétrico 6000 Plano Nacional de Desestatização. Sob o WDC, foi estimado em 175. Contudo,
brasileiro, que até a 4000
argumento da necessidade de captação de devido ao caráter não-sistemático dos
década de 1960 era recursos e de que o setor privado teria maior inventários, o número real está muito
2000
essencialmente privado, eficiência na alocação de recursos para os subestimado e, como veremos, deve estar
teve sua expansão, nas 0 novos empreendimentos, planejou-se a em torno de 600 atualmente. Os maiores
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duas décadas seguintes, privatização, liberou-se o mercado de capitais reservatórios de hidrelétricas são
patrocinada pelo Estado, e preços e fomentou-se o livre comércio. A apresentadas na Tabela 3.1.1.
que passou a ocupar o Período
espaço deixado pela
Tabela 3.1.1 - Os maiores reservatórios hidrelétricos brasileiros (Fonte: MÜLLER, c1996)
iniciativa privada. Foram Figura 3.1.4 - Área inundada por reservatórios hidrelétricos
construídos no Brasil desde 1900, considerando somente Potência
feitos grandes reservatórios com registro de fechamento e informação sobre a Bacia Área Altura Volume Capacidade do
Usina Vertedouro instalada
investimentos na área. A figura apresenta a área total acumulada no período (a) e Hidrográfica 2
(km ) (m) 6
(10 m )3
3
(MW)
a área alagada em cada década (b). (m /s)
construção de novos
Sobradinho São Francisco 4.214 43 34.100 22.850 1.050
reservatórios e no
Tucurui Tocantins 2.875 93 45.500 100.000 4.000
aprimoramento tecnológico. Assim, a década Entretanto, a partir do segundo Plano
Balbina Amazonas 2.360 39 17.500 6.450 250
de 1970 foi marcada pela grande expansão na Nacional de Desenvolvimento (1974-78), a
ampliação da base industrial e o incremento Porto Primavera Paraná 2.250 38 18.500 52.000 4.540
infra-estrutura energética, fornecendo
eletricidade a preço baixo e sem interrupção de importações levaram ao aumento na Serra da Mesa Tocantins 1.784 144 55.200 15.000 1.275

no fornecimento. A primeira crise mundial dívida externa, em razão das políticas Furnas Paraná 1.440 127 22.950 13.000 1.216
do petróleo (1973) não afetou de modo governamentais indutoras de captação de Itaipu Paraná 1.350 196 29.000 61.400 12.600
relevante a economia brasileira, que tinha, recursos externos para atenuar a balança de Ilha Solteira Paraná 1.195 74 21.166 40.000 3.444
na época, um PIB com crescimento anual pagamento. Usinas hidrelétricas foram
Três Marias São Francisco 1.142 75 21.000 8.700 396
superior a 10%. utilizadas como instrumento para obtenção
48 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Os Reservatórios Brasileiros 49

A opção hídrica para a produção de atualmente com restrições motivadas pelas Os Reservatórios por Bacias e dimensão, sendo esse número reduzido
eletricidade no Brasil decorreu da elevada percepções acerca da necessidade de para 660 reservatórios (incluindo açudes).
disponibilidade desse recurso, aliada aos contemplar os usos múltiplos e a
Hidrográficas
estoques limitados de outras fontes conservação dos recursos hídricos. A maioria destes foi construída com
energéticas (gás natural, carvão e petróleo; Atualmente, a legislação reconhece a água A drenagem dos 8.512.000 km2 do território finalidades de abastecimento, irrigação e
produção de energia elétrica. Do total de
SANTOS; FREITAS, 2000). Considerando toda a como um bem público, limitado e dotado brasileiro é feita por cinco grandes bacias
América Latina, o potencial hidrelétrico é de valor econômico. Sua gestão deve hidrográficas (Amazonas, Tocantins, São reservatórios considerados, 510 (77%) podem
bem alto, estimado em cerca de 730 GW, o enfocar aspectos amplos, que incluam toda Francisco, Paraná-Paraguai e Uruguai), que ser classificados como “grandes
que corresponde a 22,7% do potencial bacia hidrográfica, assegurando o seu incluem milhares de rios, ribeirões e riachos. reservatórios” (sensu WDC), pois têm altura
mundial, o terceiro maior do mundo. aproveitamento múltiplo e conservação. Outras bacias, de menor porte e de barragem superior a 15 m. Vale destacar
Entretanto, o instalado está em torno de 200 Essa gestão não deve ser centralizada e é independentes, completam a hidrografia que 592 (90%) têm altura de barragem
GW, participando com apenas 6,4% da importante a participação direta dos brasileira. Estas últimas se localizam na superior a 10 m. Do total, 247 (37%) são
produção energética mundial e consumindo usuários, incluindo o poder público, a região costeira e deságuam diretamente no destinados prioritariamente à produção de
cerca de 6,3% da geração no mundo (VIOTTI, comunidade e os demais setores oceano Atlântico. A vazão estimada para o energia elétrica. Os reservatórios de
2000). O Brasil contribui consideravelmente envolvidos. Com isso foi criado o Sistema conjunto dessas bacias é de 182.170 m3/s, hidrelétricas que continham informações
para a produção do continente, pois, Nacional de Recursos Hídricos, visando sendo que a bacia Amazônica contribui com técnicas, pelo menos parcialmente
segundo Santos e Freitas (2000), detém mais organizar e fortalecer as tomadas de cerca de 73% desse total. A Tabela 3.1.2 consistentes, têm suas características
de 62,5 GW de capacidade instalada, com decisões, no que concerne à utilização das apresenta a área e a vazão dessas bacias. apresentadas no final desse capítulo
potencial total estimado em torno de 260 reservas de água. Esse sistema inclui um (APÊNDICE A), assim como sua distribuição
GW. Condições hídricas favoráveis foram Conselho Nacional de Recursos Hídricos Tendo como base informações obtidas em pelo território brasileiro (APÊNDICE B).
responsáveis pela proliferação de (CNRH), Comitês de Bacias e Agências, aos diferentes tipos de publicações (impressas e Cabe reiterar, entretanto, que as inferências
hidrelétricas no país, evidenciada pelo quais cabe decidir a gestão e o uso do eletrônicas) foi possível levantar mais de 720 apresentadas neste tópico referem-se
aumento exponencial da potência recurso. reservatórios, com área superior a 1 ha, em essencialmente aos reservatórios com
hidrelétrica instalada águas continentais brasileiras. É provável informações disponíveis. É ponderado, por
(Figura 3.1.5). que esta seja, ainda, uma subestimativa do outro lado, que entre estes estão todos os
Atualmente, o país número real. Lamentavelmente, as maiores e os mais recentes até o ano de 2004.
figura em terceiro lugar 60000 informações sobre muitos
em capacidade instalada, deles não estão disponíveis,
50000 Tabela 3.1.2 - Área e vazão das bacias hidrográficas localizadas
perdendo somente para mesmo aquelas mais em território brasileiro (Fonte: modificada de SANTOS;
básicas, como área, volume, FREITAS, 2000)
o Canadá e os EUA. Essa 40000
Potência (MW)

forma de geração de altura de barragem e até Área Vazão


Bacia
30000
mesmo o ano de
2 3
energia tem contribuído Km % m /s %

com mais de 80% da fechamento. Assim, para as Amazonas 3.900.000 47,8 133.380 73,2
20000
eletricidade consumida avaliações realizadas neste Paraná 891.000 10,9 12.290 6,7
no Brasil. 10000 tópico, foram considerados Tocantins 757.000 9,3 11.800 6,5
apenas aqueles
0 São Francisco 634.000 7,8 2.850 1,6
Embora ainda com um 1910 1930 1950 1970 1990 2010 reservatórios com, no
Uruguai 178.000 2,2 4.150 2,3
grande potencial de Anos mínimo, alguma
Costeira
expansão, o setor Figura 3.1.5 - Potência hidrelétrica instalada no Brasil, entre 1920 e informação consistente (Norte, Sul e Leste)
1.798.000 22,0 17.700 9,7

elétrico depara 2003 (Fonte: SANTOS; FREITAS, 2000). acerca de bacia hidrográfica
50 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Os Reservatórios Brasileiros 51

Considerando o conjunto das reservatórios de


informações levantadas, a área hidrelétricas, que
35000 a
inundada por reservatórios no geralmente apresentam
país é superior a 35.200 km2 30000 maior área, o padrão se

Área acumulada (km2)


Açudes e Atl. Norte
(Figura 3.1.6). Essa figura 25000 mantém, com a bacia do Paraná
apresenta a área acumulada dos 20000 rio Paraná sendo a mais Atlântico Leste
Atlântico Sul
reservatórios, em ordem 15000 alagada por esse tipo de São Francisco
decrescente, a partir dos de empreendimento (51%; Uruguai
10000 Tocantins
maior área. Aspecto Total Figura 3.1.8b). O papel Amazônica
5000 Hidrelétricas
importante é o fato de que das indústrias e a
0
reservatórios de hidrelétricas 0 50 100 150 200 250 300 350 elevada demanda
representam quase 95% de toda Reservatórios energética pelos centros Quantidade de Reservatórios (%)
essa área inundada (mais de urbanos foram
Figura 3.1.6 - Área total inundada por reservatórios em
33.300 km2; Figura 3.1.6). Vale território brasileiro (n = 365), e a área inundada somente responsáveis pela
por reservatórios de hidrelétricas (n = 170).
destacar também que a área instalação de tais usinas b

inundada total deve ser nessa região.


Açudes e Atl. Norte
ligeiramente maior, já que por inexistência de Esse padrão de distribuição é evidente Paraná
informação, este levantamento considerou quando consideramos somente As Pequenas Centrais Atlântico Leste
Atlântico Sul
somente 365 reservatórios para computar a reservatórios de hidrelétricas (Figura Hidrelétricas (PCHs) têm São Francisco
área total, sendo 170 hidrelétricas. Muitos 3.1.7b). Mais de 80% estão localizados na sido consideradas, desde Uruguai
Tocantins
reservatórios antigos e/ou pequenos não regiões Sul/Sudeste, nas bacias do rio 1998, um dos principais Amazônica
foram, portanto, incluídos nesta análise. Paraná (42%), Atlântica Leste (19%), focos de prioridade no
Atlântica Sul (14%) e do Uruguai (5%). Vale fomento à expansão do
Os reservatórios não estão distribuídos de destacar o baixo número desses setor elétrico pelos
Quantidade de Hidrelétricas (%)
forma uniforme no território brasileiro. A empreendimentos na região Norte do país órgãos públicos.
distribuição, em número e tamanho, bem (bacias do rio Amazonas e Tocantins), onde Definidas como unidades Figura 3.1.7 - Número de reservatórios (%) nas bacias hidrográficas
como a finalidade, estão intimamente brasileiras (a), e considerando somente reservatórios de
a demanda por eletricidade é, em geral, com capacidade geradora
hidrelétricas (b). A figura inclui somente os reservatórios
ligadas às necessidades de cada região. menor. Ressalta-se, entretanto, que os entre 1 e 30 MW e inventariados com informação a respeito de sua localização.
Considerando o total de reservatórios planos de expansão do setor elétrico para reservatório com área
inventariados neste capítulo, a maior parte essa região prevêem um grande número de igual ou inferior a 2 km2,
encontra-se na região Nordeste, na forma de represamentos, principalmente na bacia do as PCHs são vistas como mais adequadas ao Bacia Amazônica
pequenos açudes de abastecimento (55%; Tocantins. atendimento de demandas de pequenos
Figura 3.1.7a), tendo sido construídos para centros urbanos e áreas rurais mais O rio Amazonas é o rio mais longo do
atenuar os efeitos da seca (GURGEL; FERNANDO, Considerando a área alagada por todos os afastadas. Segundo a ANEEL planeta, com mais de 6.500 km de extensão, e
1994). Do restante, grande parte está naz reservatórios, quase metade encontra-se na (www.aneel.gov.br), no início de 2005 sua bacia cobre grande parte do território
regiões Sul/Sudeste (bacias do Paraná: 22%; bacia do rio Paraná (47%), seguida pela existiam 250 dessas unidades em brasileiro, somando quase 4.000.000 km2
Atlântica Leste: 9%; Atlântica Sul: 7%), sendo bacia do São Francisco (18%), Tocantins funcionamento, contribuindo com 1,2% (quase 50% do território).
que esses reservatórios apresentam, em (15%) e Amazônica (8%), que possuem (1.220 MW) da capacidade instalada, Conseqüentemente, a bacia é detentora de
geral, maior área alagada e são destinados reservatórios de grande porte (Figura concentrando-se principalmente no eixo uma das maiores reservas de água doce do
basicamente à produção hidrelétrica. 3.1.8a). Quando consideramos somente Sul-Sudeste. mundo, na qual estão inseridos os estados do
52 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Os Reservatórios Brasileiros 53

Amazonas, Rondônia, Como já mencionado, a produção da Mesa, Lajeado, Cana Brava, Izamu
Acre, Roraima, Pará e energética é muito baixa, mesmo se Ikeda) totalizam uma área alagada que
a
Amapá, além de outros considerarmos a área alagada pelos supera os 5.400 km2 (Figura 3.1.10),
países sul-americanos. maiores represamentos. Samuel, que representando 15% de toda a área alagada
Açudes e Atl. Norte
Paraná inunda uma área de 656 km2 tem potência por reservatórios no país. Destacam-se os
Apesar da elevadíssima Atlântico Leste de apenas 217 MW, Paredão de 40 MW e reservatórios de Tucuruí (2.875 km2) e Serra
Atlântico Sul
disponibilidade hídrica, o São Francisco Curuá-Una de 30 MW, contrastando com o da Mesa (1.784 km2), que estão entre os
número de reservatórios Uruguai potencial hidrelétrico da região, estimado maiores do país.
Tocantins
é baixo, resultado de Amazônica em mais de 54 GW.ano-1
pressões de segmentos (MÜLLER, c1996). A
ambientalistas, da (ainda) produção de energia
menor demanda Área Total Alagada (Km2) destas usinas, que soma 3000

energética na região e da menos de 1% da 2500


baixa declividade do

Área acumulada (km2)


b capacidade instalada no
2000
relevo (por volta de 100 país, é destinada à região
m nas regiões superiores, Açudes e Atl. Norte Norte. 1500
Paraná
no Peru), aspecto que Atlântico Leste 1000
diminui a capacidade Atlântico Sul

geradora. Fearnside
São Francisco Bacia Araguaia/ 500
Tocantins
Uruguai
(1989) discutiu Tocantins 0
Amazônica 0 1 2 3 4 5
amplamente a
inviabilidade desses Os rios Araguaia e Reservatórios

empreendimentos na Tocantins percorrem uma Figura 3.1.9 - Área acumulada por reservatórios localizados na
bacia Amazônica, todos com fins hidrelétricos.
Área Alagada por Hidrelétricas (Km2) extensão de 2.500 km, com
região.
desnível de 1.100 m. Na
Figura 3.1.8 - Percentual da área alagada por todos os
Entretanto, os reservatórios nas diferentes bacias hidrográficas brasileiras bacia estão os Estados de
(a), e percentual da área alagada somente por reservatórios de Goiás, Mato Grosso, Pará e
reservatórios em hidrelétricas (b). A figura superior inclui somente os 5000
operação são de grande e reservatórios inventariados que continham informação a Maranhão, com área de
respeito de sua localização e área. drenagem de
médio porte, todos com 4000

Área acumulada (km2)


finalidade hidrelétrica. aproximadamente 757.000
São eles: Paredão, no rio Araguari, Estado extremamente baixa (Tabela 3.1.1), devido à km 2 . 3000

do Amapá; Curuá-Una, no rio Curuá-Una, já citada baixa declividade. Muita discussão 2000
Estado do Pará; Balbina, no rio Uatumã, permeou sua construção, pelo baixo retorno De maneira similar à bacia
Estado do Amazonas; e Samuel, no rio econômico e os elevados danos e custos Amazônica, esta bacia
1000
Jamari, Estado de Rondônia. ambientais/socioeconômicos. (ainda) não possui um
número expressivo de 0
0 1 2 3 4 5 6
Balbina é um dos maiores reservatórios A área alagada pelos quatro represamentos hidrelétricas em operação.
Reservatórios
nacionais, inundando uma área superior a da bacia Amazônica soma quase 3.200 km2 Entretanto, os cinco
2.300 km . Entretanto, considerando seu
2
(Figura 3.1.9), um valor relativamente baixo grandes reservatórios em Figura 3.1.10 - Área acumulada por reservatórios localizados na
bacia dos rios Araguaia/Tocantins.
porte, a produção energética é pelo enorme potencial hídrico da região. operação (Tucuruí, Serra
54 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Os Reservatórios Brasileiros 55

Todos esses reservatórios foram construídos Foram constatados 21 grandes Porém, por falta de informações precisas constituição dos órgãos precursores do
com finalidade de produção energética, reservatórios na bacia do rio São Francisco, sobre a localização na bacia e ausência de DNOCS.
sendo que a capacidade instalada soma 5.394 sendo estes construídos prioritariamente dados sobre a área alagada, alguns estão
MW, contribuindo com 8,9% do total do país. para fins hidrelétricos. Na calha do médio inclusos na seção seguinte. Os reservatórios dessa bacia estão inseridos
rio São Francisco localiza-se o maior lago em dezenas de sistemas fluviais,
A ocupação da bacia do rio Tocantins por destacando-se os rios Piranhas, Acaraú,
artificial do país, com mais de 4.200 km2, Açudes e Atlântico Norte/Nordeste
reservatórios é, entretanto, recente. Três Apodi, Parnaíba, Jaguaribe, Itapicuru,
que é o reservatório de Sobradinho.
deles foram fechados no período de 1996 a Contas, Pajeu, Curu, Capibaribe, Ipojuca,
2002. Vários outros reservatórios estão
Outros reservatórios que se destacam pelo A região semi-árida do Nordeste apresenta Curimatau e o São Francisco. A maioria
tamanho são Três Marias (1.142 km2), no características climáticas e edáficas
previstos ou em construção nessa bacia, desses rios flui independentemente para o
alto São Francisco, e Itaparica (828 km2), peculiares, com destaque à irregularidade
destacando-se Peixe Angical, Estreito, São oceano Atlântico, compondo a bacia
mais próximo à sua foz. Esses reservatórios espacial e temporal das chuvas, elevada
Salvador, Couto Magalhães e Santa Isabel conhecida como Atlântico Norte/Nordeste.
hidrelétricos começaram a ser construídos evapo-transpiração e solo cristalino, que
(GALINKIN; SWITKES, [2003]). Todos serão
após a década de 1960. Outros propicia um quadro grave de falta d’água. O presente capítulo inventariou 361 açudes/
instalados no rio Tocantins, com exceção dos
reservatórios que se destacam em tamanho Tal característica motivou a construção de reservatórios, dos quais 345 continham
dois últimos, que serão construídos no rio
são Moxotó (93km2), Xingó (60 km 2), um grande número de pequenos, médios e informações a respeito de suas finalidades.
Araguaia. Segundo a ANEEL, os futuros
Queimada (40 km2), além do complexo grandes reservatórios, conhecidos como Vale destacar que somente 21 eram
projetos prevêem a instalação de 14.500 MW
Paulo Afonso. açudes, para atenuar problemas com o hidrelétricas. O restante foi construído
em bacias nacionais, sendo que 36% serão
abastecimento e irrigação. O problema da primariamente para abastecimento e
instalados na bacia Araguaia/Tocantins.
Reservatórios menores (< 5 km2) são mais falta d’água é crônico nessa região, irrigação de lavouras, adquirindo
antigos, e foram construídos antes ou especialmente no polígono da seca, que posteriormente importância como fonte de
Bacia do São Francisco durante a década de 1950. Pequenos açudes compreende uma área de 1.548.672 km2 e pescado. Cobrem uma área total superior a
também estão presentes no norte de Minas envolve nove Estados do Nordeste. 2.500 km2, com menor participação de
O rio São Francisco apresenta 2.700 km de Gerais e em estados nordestinos, fazendo hidrelétricas, que cobrem aproximadamente
extensão, drenando uma área de 634.000 km2, parte da bacia do São Francisco. Considerando o conjunto dos açudes 700 km2 (Figura 3.1.12).
que inclui terras dos Estados de nordestinos, o número total
Minas Gerais, Goiás, Bahia, é estimado em torno de
Pernambuco, Sergipe e 60.000 (GURGEL; FERNANDO, 2500

Alagoas. O desnível total é de 6000 1994). Essas obras têm

Área acumulada (km2)


2000
aproximadamente 1.600 m. tamanho variado e estão
5000
Área acumulada (km2)

espalhadas por diversos 1500


Apesar de o número de grandes 4000
estados. A grande maioria
1000
reservatórios na bacia não ser 3000 delas tem área inferior a 10
alto, a área ocupada por eles é km2 e foi construída antes da 500 Total
2000
grande, inundando quase 6.500 Total década de 1980. Suas Hidrelétricas
1000
km2, o que equivale a 18% da Hidrelétricas construções, iniciadas nas 0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
área represada brasileira 0 últimas décadas do século Reservatórios
0 2 4 6 8 10 12 14 16
(Figura 3.1.11). Nessa bacia Reservatórios XIX, ainda no império, Figura 3.1.12 - Área acumulada por açudes e reservatórios
encontra-se a segunda maior Figura 3.1.11 - Área acumulada por reservatórios com ganharam impulso na localizados na região Norte/Nordeste do país. A figura
capacidade instalada do país, diferentes finalidades e hidrelétricas, localizados na bacia apresenta a área acumulada por todos os represamentos e a
primeira metade do século área acumulada somente por hidrelétricas.
do rio São Francisco.
com 10.473 MW (17,3% do total). XX, especialmente após a
56 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Os Reservatórios Brasileiros 57

O maior reservatório é a hidrelétrica de Boa A maioria dos represamentos é de médio A bacia de drenagem do
rio Paraná compreende 18000
Esperança, localizada no rio Parnaíba, com ou pequeno porte, com áreas variando
área superior a 360 km e potência geradora
2
entre 0,001 e 5 km . Exceção é a
2
mais de 10% do território
15000
de 108 MW. Dentre os açudes, somente hidrelétrica de Paraibuna, com 224 km2 , brasileiro (891 000 km2) –

Área acumulada (km2)


quatro apresentaram área superior a 100 fechada em 1978 e com potência geradora Agostinho e Júlio Júnior 12000

km2, sendo estes os açudes Orós (220 km2, de 86 MW. Com áreas intermediárias, (1999).
9000
CE), Açu (195 km2, RN), Pedra do Cavalo existem Lajes, Santa Branca, Funil e
(186 km , BA) e Pedra (101 km , BA). Os dois
2 2
Jaguari, variando entre 30 e 40 km de 2 Essa bacia comporta as 6000
últimos geram energia elétrica, com área. A capacidade instalada está em 2.367 áreas de maior densidade
Total
potência de 600 e 23 MW, respectivamente. MW, representando 3,91% do total populacional do país, 3000
Hidrelétricas
Assim como o açude Pedra, as demais nacional. além de ser a mais 0
hidrelétricas apresentam baixa potência industrializada e com 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Reservatórios
geradora. Esses reservatórios representam grande atividade
Bacia do Paraná
0,5% da capacidade instalada nacional. agrícola. É a mais Figura 3.1.14 - Área acumulada por reservatórios na bacia
intensamente explorada hidrográfica do Paraná. A área alagada somente por
O rio Paraná percorre, desde sua nascente pelos aproveitamentos
hidrelétricas também é apresentada.

Atlântico Leste (rio Paranaíba, Serra Mata da Corda), cerca energéticos, fornecendo
de 1.900 km em território brasileiro, cerca de 70% da energia elétrica produzida Nessa bacia, os principais rios, como o
Essa região inclui diversas bacias cruzando diversos estados, e apresentando no país, além de deter a maior capacidade Paranaíba, o Grande, o Tietê, o
hidrográficas, que drenam águas da região desnível total de quase 1.000 m. Recebe instalada nacional (63,76%). Paranapanema e o Iguaçu, tiveram seus
Sudeste do país em direção ao oceano esse nome após a conjunção dos rios cursos transformados em cascatas de
Atlântico. Entre elas, destacam-se as dos Grande e Paranaíba, tendo o curso de seus Nos levantamentos foram registrados 146 reservatórios, reduzindo drasticamente os
rios Paraíba do Sul, Doce e Jequitinhonha, principais afluentes profundamente grandes represamentos na bacia, 70% dos trechos lóticos. Mesmo na calha do rio
que juntas drenam cerca de 500.000 km2. alterados por represamentos. quais destinados à geração hidrelétrica (104). Paraná, a água efluente de um reservatório
É importante destacar que muitos alcança logo o remanso do reservatório
Foram levantados 58 apresentam área superior a 100 km2. A área subseqüente. Constitui notável exceção o
reservatórios nessa 500
total alagada nessa bacia é de trecho compreendido entre a barragem de
região. A área total aproximadamente 16.700 km2, contribuindo Porto Primavera e o remanso do
400
alagada por com quase a metade da água represada no reservatório de Itaipu, com uma extensão
Área acumulada (km2)

represamentos é de quase país. A contribuição de hidrelétricas para de pouco mais de 200 km, que atualmente
300
450 km2 (Figura 3.1.13). esse alagamento é quase total (Figura 3.1.14). comporta três importantes Unidades de
Os 46 reservatórios Conservação. Esse trecho, que também
200
destinados à produção A tabela 3.1.3 apresenta algumas apresenta uma planície de inundação
hidrelétrica são 100 Total informações sobre os reservatórios dessa dotada de alta diversidade biológica
responsáveis por quase Hidrelétricas bacia, com destaque para a usina de Itaipu, (para cuja conservação foram implantadas
toda a área alagada. 0
0 5 10 15 20 25 30 que, apesar de ser a terceira maior da bacia, é as Unidades de Conservação), é, no
Ressalta-se, entretanto, Reservatórios a que tem maior capacidade geradora. Os dez entanto, afetado pelo controle de vazão
que os dados de área não principais reservatórios têm uma área total exercido pelos barramentos à montante
Figura 3.1.13 - Área acumulada por reservatórios na bacia
estiveram disponíveis hidrográfica do Atlântico Leste. A área alagada somente por de 10.270 km2, correspondendo a quase (capítulos em THOMAZ; AGOSTINHO; HAHN,
para vários reservatórios. hidrelétricas também é apresentada.
metade do território do Estado de Sergipe. 2004).
58 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Os Reservatórios Brasileiros 59

Tabela 3.1.3 - Maiores reservatórios construídos na bacia do rio Paraná, todos com A área total alagada
finalidade hidrelétrica pelos reservatórios foi
300
Fecha- Área Volume Potência um pouco superior a 300
Reservatórios Empresa mento Rio Estado instalada
(km2) (106m3) (MW) km , quase toda
2
250

Área acumulada (km2)


Porto Primavera CESP 1998 Paraná SP/MS 2.250 18.500 1.540 relacionada à produção
200
hidrelétrica (Figura
Furnas Furnas 1963 Grande MG 1.440 22.950 1.216
3.1.15). 150
Itaipu Itaipu-Binacional 1982 Paraná PR 1.350 29.000 12.600
100

Bacia do Uruguai
Ilha Solteira CESP 1978 Paraná SP/MS 1.195 21.166 3.444 Total
50
Hidrelétricas
Três Irmãos CESP 1993 Tietê SP 785 13.450 1.292
0
Itumbiara Furnas 1980 Paranaíba GO/MG 778 17.030 2.280 O rio Uruguai, assim 0 5 10 15
Reservatórios
20 25

São Simão CEMIG 1978 Paranaíba MG/GO 722 12.540 1.680 chamado após a junção
dos rios Pelotas e Figura 3.1.15 - Área acumulada por reservatórios na bacia
Água Vermelha AES-Tietê 1979 Grande SP/MG 647 11.100 1.380 hidrográfica do Atlântico Sul. A área alagada somente por
Canoas, na divisa dos
hidrelétricas também é apresentada.
Capivara Duke 1970 Paranapanema SP/PR 576 10.500 640 Estados de Santa Catarina
Promissão AES-Tietê 1977 Tietê SP 530 7.400 264 e Rio Grande do Sul, tem
suas nascentes situadas na Serra Geral, em km2. Dentre os mais novos, construídos após
uma altitude aproximada de 1800 m. Seu 2000, estão os de Machadinho, no rio Pelotas,
Os reservatórios dispostos em série na calha rios litorâneos, como o Itapanhau e Itatinga. percurso total é de 2.262 km, dos quais 510 com 79 km2, e Ita, na calha do rio Uruguai,
do rio Paraná e nos tributários mencionados Da mesma forma, nos Estados do Paraná e km em território do Uruguai e Argentina com 141 km2.
apresentam extensas áreas alagadas, Santa Catarina, os rios litorâneos são (ZANIBONI FILHO; SCHULZ, c2003). Essa bacia
geralmente superiores a 100 km2. Nos rios e comuns, destacando-se o Itajaí e o Cedros. inclui rios que drenam os estados do Paraná, Todos os reservatórios considerados foram
ribeirões tributários dessas sub-bacias, a No Rio Grande do Sul, as principais bacias Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A área construídos com finalidade hidrelétrica,
presença desses empreendimentos também é são as do Jaguarão, Jacuí-Taquari-Antas, de drenagem, em território brasileiro, é de alagando uma área de quase 400 km2 (Figura
comum, porém, em geral, com áreas Guaíba e Santa Cruz. aproximadamente 178.000 km2, com vazão de 3.1.16). A capacidade instalada é ainda
inferiores a 20 km2. 4.150 m3/s e desnível de 422 m. pequena, contribuindo com apenas 0,49%
Nesse inventário, 48 reservatórios foram daquela do país. Entretanto, as previsões de
Bacia Atlântico Sul identificados, porém muitos não continham Em território brasileiro, 16 reservatórios investimento do setor mostram que, do total
informação sobre área. foram identificados nessa bacia. Porém, da capacidade a ser instalada no território
Esta bacia, conhecida também como A maior parte é composta por reservatórios metade não pode ser incluído nas análises nacional (14.500 MW), 24% ocorrerão nessa
Sudeste, inclui diversas bacias hidrográficas antigos, construídos entre as décadas de em face da precariedade dos dados bacia.
independentes, drenando as regiões Sudeste 1940 e 1970. Mais de 70% são hidrelétricas, disponíveis. Comparativamente, os
alagando áreas não muito grandes, que reservatórios dessa bacia não são muito
e Sul do país, com rios que fluem em
grandes, não excedendo 150 km2 de área. Os
Considerações Finais
direção ao oceano Atlântico. A área de variam de 0,01 a aproximadamente 15 km2.
O reservatório de Passo Real, situado no rio mais antigos datam da década de 1940,
drenagem total soma 224.000 km2, com
vazão de 4.300 m3/s. Jacuí (RS), é uma exceção, alagando uma apresentando área inferior a 1 km2, exceto o A tendência de incremento nas construções
área de 223 km . Com relação à capacidade
2 reservatório de Caveiras, no rio Caveiras, de reservatórios no Brasil seguiu o padrão
No Estado de São Paulo, essa bacia inclui instalada, essas usinas geram 2.508 MW, ou com 14 km2. O de Passo Fundo, concluído em mundial, com aceleração a partir de 1950 e
rios da bacia do Ribeira de Iguape, além de 4,15% do total brasileiro. 1975, tem, por outro lado, uma área de 151 subseqüente queda nas décadas de 1980 e 90
60 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Os Reservatórios Brasileiros 61

(ver Figura 3.1.1, 3.1.3 e dos diferentes tipos de recursos aquáticos distinto, dentro de um mesmo
3.1.4). No entanto, apesar vêm apresentando nos últimos anos (água reservatório. Também é relevante a
de o Brasil possuir cerca 400
para consumo, espaço para assentamentos marcante zonação longitudinal, comum em
de 17% do potencial humanos, produção de pescado, grandes represamentos (zonas lótica,

Área acumulada (km2)


hidrelétrico das águas 300 aqüicultura, turismo, lazer e diversidade transição e lacustre; THORNTON; KIMMEL;
continentais de todo o biológica), além da heterogeneidade de PAYNE, c1990; OKADA; AGOSTINHO; GOMES, 2005;
mundo, o número de 200 pleitos interpostos pelos vários usuários. É PAGIORO; ROBERTO; THOMAZ; PIERINI; TAKA,
reservatórios é baixo, se correntemente aceito que no processo de 2005). Esses compartimentos, com
comparado ao de países 100 construção de novos reservatórios essas dinâmicas distintas, influenciam a
desenvolvidos, onde o demandas sejam contempladas na análise composição e a abundância dos recursos
uso de outras formas de 0 de custo-benefício. Uma gestão de aquáticos e devem, por exemplo, ser
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
geração é mais qualidade deve, atualmente, se preocupar considerados na avaliação dos impactos
Reservatórios
relevante. A WCD (2000) com o atendimento de múltiplos interesses sobre a ictiofauna e na elaboração de
estima o número de Figura 3.1.16 - Área acumulada por hidrelétricas na bacia
de forma balanceada, abdicando-se de planos de manejo para sua atenuação.
hidrográfica do rio Uruguai.
reservatórios na vantagens centralizadas e evitando
América do Sul em prejuízos unilaterais. O uso múltiplo de Em relação à fauna aquática e, em especial,
aproximadamente 1.000, valor que é similar aproveitamento, exceto para as pequenas reservatórios já era preconizado pela aos recursos pesqueiros, os reservatórios
ao do continente africano, porém menor centrais elétricas. Eletrobrás na década de 1970, que listava 14 não podem ser considerados como uma
que os da Europa, Ásia ou América do tipos de usos (OLIVEIRA FILHO, 1976). Assim, forma de geração de “energia limpa”,
Norte, que superam 6.000. Como demonstrado, os reservatórios são como preconizado por muitos, em face do
além da produção de energia elétrica,
atualmente componentes comuns das seu caráter renovável. Sabe-se, atualmente,
destaca-se a irrigação, abastecimento,
Apesar desse aparente subaproveitamento paisagens brasileiras, principalmente que os represamentos provocam efeitos
navegação, pesca e controle de vazão
do potencial hídrico brasileiro, nenhuma represamentos com fins hidrelétricos. Esses adversos sobre o ambiente, como liberação
(BARROS, 2000; RODRIGUEZ, 2000; SANTOS, 2000;
grande bacia nacional está livre de empreendimentos desempenham papel
TUCCI, 2000). de gases tóxicos, condições anóxicas,
represamentos. As bacias da região Norte central no funcionamento e manutenção do
eutrofização e produção excessiva de algas
são, atualmente, as de maior potencial, sistema econômico atual, por subsidiarem a
Os reservatórios nacionais são em geral (algumas tóxicas), e uma série de outras
porém as menos exploradas. A perspectiva, maior parte da energia elétrica de grandes
rasos, com profundidades inferiores a 30 m, alterações nas propriedades químicas e
entretanto, é de que o número de metrópoles, cidades, indústrias e
tendo como característica proeminente a físicas da água. Adicionalmente, os
aproveitamentos hidrelétricos se amplie na agricultura/pecuária. Entretanto, embora a
morfologia complexa, de aspecto dendrítico, reservatórios promovem alterações nas
região (TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI; CALIJURI, energia elétrica se constitua em fator de
ligado à topografia regional. Poucos são os características do curso de água que, muitas
c1993), a exemplo do que já vem ocorrendo bem-estar e desenvolvimento para a
reservatórios que apresentam formas bem vezes, não são toleradas por várias espécies
na bacia do rio Tocantins. Já nas regiões Sul sociedade em geral, a construção de
definidas, similares a lagos (TUNDISI; fluviais (alteração de hábitats). No tópico
e Sudeste, o número massivo dessas obras reservatórios proporciona uma gama de
MATSUMURA-TUNDISI; CALIJURI, c1993). A seguinte são fornecidas algumas
alterou profundamente as características outros efeitos, positivos e negativos, em
implicação desse fenômeno está na criação características gerais sobre a fauna de
originais dos sistemas e, apesar dos diferentes escalas espaço-temporais e em
de compartimentos com funcionamento reservatórios.
benefícios da energia elétrica, problemas diferentes componentes da paisagem
socioambientais perduram por décadas. A (TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI; ROCHA;
continuidade da construção de grandes ESPÍNDOLA, 2000). Essa dualidade de
obras nessas regiões é improvável, já que o resultados decorre da crescente importância
potencial está próximo do completo que a conservação dos recursos hídricos e
APÊNDICE A - Reservatórios de hidrelétricas inventariados nessa obra, que continham informações básicas de localização,
ano de fechamento e área alagada. A concessionária responsável pela usina e a altura da barragem também são
apresentadas. No inventário completo, um total de 660 reservatórios foram registrados
(continua)
Nº Reservatórios Concessionária Ano Rio Bacia Cidade Estado Área km2 Altura m
Bacia Amazônica
1 Paredão (Coaracy Nunes) ELETRONORTE 1975 Araguari Amazônica Ferreira Gomes AP 23 28
2 Curuá-Una ELETRONORTE 1977 Curuá-Una Amazônica Santarém PA 78 26
3 Samuel ELETRONORTE 1989 Jamari Amazônica Porto Velho RO 656 89,5
4 Balbina ELETRONORTE 1987 Uatumã Amazônica Presidente Figueiredo AM 2360 39

Bacia Tocantins
5 Isamo Ikeda CELTINS 1982 Balsas Tocantins Ponte Alta TO 10,98
6 Luis Eduardo Magalhães (Lajeado) CELG 2002 Tocantins Tocantins Tocantínea TO 630
7 Cana Brava TRACTEBEL 2002 Tocantins Tocantins Cavalcante GO 139
8 Serra da Mesa FURNAS/CPFL 1996 Tocantins Tocantins Minasul GO 1784 144
9 Tucuruí ELETRONORTE 1984 Tocantins Tocantins Tucuruí PA 2875 78

Atlântico Norte
10 Muniz Freire ESCELSA 1997 Pardo Itapemirim Muniz Freire ES 0,18 5,5
11 Suíça ESCELSA 1963 Sta.Maria Sta Maria S.Leopoldina ES 0,6 17
12 Rio Bonito ESCELSA 1958 Sta Maria Sta Maria Sta Maria Jetiba ES 2,2 54
13 Funil CHESF 1962 Das Contas Rio das Contas Ubaitaba BA 4 60
14 Airés de Souza DNOCS 1936 Jaibara Acaraú Sobral CE 12 29
15 Pentecoste DNOCS 1956 Canindé Capitão Curu Pentecoste CE 57 29
16 Pedra CHESF 1970 De Contas Rio das Contas Jequié BA 101 58
17 Pedra do Cavalo EMBASA 1985 Paraguassu Paraguassu Cachoeira BA 186 142
18 Boa Esperança CHESF 1969 Parnaiba Parnaíba Guadalupe PI/MA 363 55

Bacia São Francisco


19 Pandeiros CEMIG 1957 Pandeiros São Francisco Januária MG 0,08 9
20 Gafanhoto CEMIG 1946 Pará São Francisco Divinópolis MG 0,5 25
21 Parauna CEMIG 1927 Parauna São Francisco Gouveia MG 1,5 11
22 Rio Pedras CEMIG 1928 Velhas São Francisco Itabirito MG 4 32
23 Paulo Afonso I CHESF 1955 São Francisco São Francisco Paulo Afonso BA 5 11
62 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

24 Paulo Afonso IV CHESF 1979 São Francisco São Francisco Paulo Afonso BA 17 30
25 Cajuru CEMIG 1959 Para São Francisco Carmo do Cajuru MG 25,5 22
26 Queimada Preto São Francisco Unai MG 40 45
27 Xingó CHESF 1994 São Francisco São Francisco Caninde do S. Francisco SE/AL 60 150
28 Moxotó CHESF 1977 São Francisco São Francisco Paulo Afonso BA/AL 93 34
29 Itaparica/Luiz Gonzaga CHESF 1988 São Francisco São Francisco Glória PE/BA 828 105
30 Três Marias CEMIG 1962 São Francisco São Francisco Três Marias MG 1142 75
31 Sobradinho CHESF 1979 São Francisco São Francisco Sobradinho BA 4214 43

APÊNDICE A - Reservatórios de hidrelétricas inventariados nessa obra, que continham informações básicas de localização,
ano de fechamento e área alagada. A concessionária responsável pela usina e a altura da barragem também são
apresentadas. No inventário completo, um total de 660 reservatórios foram registrados
(continua)

Nº Reservatórios Concessionária Ano Rio Bacia Cidade Estado Área km2 Altura m
Bacia Atlântico Leste
32 Sodré EMAE 1912 Piagui Paraíba do Sul Guratingueta SP 0,0015 7,5
33 Bocaina EMAE 1912 Bravo Paraíba do Sul Cachoeira Paulista SP 0,01 6
34 Vigário II Light 1953 Vigário Paraíba do Sul Pirai RJ 0,04 41
35 Poquim CEMIG 1950 Poquim Rio Doce Itambacurí MG 0,27 11
36 Isabel Superior EMAE 1915 Sacatrapo Paraíba do Sul Campos do Jordão SP 0,3 16
37 Dona Rita CEMIG 1959 Tanque Rio Doce Sta Maria do Itabira MG 0,33 15
38 Piau CEMIG 1955 Piau Paraíba do Sul Piau MG 0,5 24
39 Sumidouro CEMIG 1956 Sacramento Paraíba do Sul Bom Jesus Do Galho MG 0,6 5
40 Tronqueiras CEMIG 1955 Tronqueiras Rio Doce Coroaci MG 0,8 20
41 Santa Marta CEMIG 1944 Ticororó Jequitinhonha Grão Mogol MG 0,94 12
42 Pereira Passos LIGHT 1962 Lages Paraíba do Sul Piraí RJ 1,09 55
43 Madeira Lavrada CEMIG 1956 Salto Antônio Paraíba do Sul Braunas MG 1,3 24
44 Areal CERJ 1949 Preto Paraíba do Sul Areal RJ 2 23
45 Macabu CERJ 1960 Macabu Macabu Trajano de Moraes RJ 3,2 38
46 Mascarenhas ESCELSA 1972 Doce Rio Doce Baixo Guandu ES 3,9 30
47 Nilo Peçanha LIGHT 1953 Paraíba do Sul Paraíba do Sul Barra Do Piraí RJ 4
48 Salto Grande CEMIG 1956 Guanhães Rio Doce Braúnas MG 6,02 31
49 Paraitinga CESP 1975 Paraitinga Paraíba do Sul Salesópolis SP 6,43 105
50 Peti CEMIG 1946 Sta.Barbara Rio Doce S.Goncalo do Rio Abaixo MG 6,5 46
51 Guilman Amorim CEMIG 1997 Piracicaba Rio Doce Nova Era MG 10
52 Santa Branca LIGHT 1960 Paraíba do Sul Paraíba do Sul Santa Branca SP 27,16 54
53 Lajes LIGHT 1907 Lajes Guandu Piraí RJ 30 63
54 Funil FURNAS 1969 Paraíba do Sul Paraíba do Sul Itatiaia RJ 40 85
55 Jaguari CESP 1972 Jaguari Paraíba do Sul Jacareí SP 56 67
56 Paraibuna CESP 1978 Paraibuna Paraíba do Sul Paraibuna SP 224 104
Bacia Paraná
57 Mafra CELESC 1910 São Lourenço Rio Negro Mafra SC 0,06
58 Anil CEMIG 1964 Jacaré Grande Santana do Jacaré MG 0,08 4
59 Melissa COPEL 1962 Melissa Piquiri Corbélia PR 0,1 7,2
60 Cariobinha CPFL 1936 Quilombo Piracicaba Americana SP 0,1003
61 Martins CEMIG 1947 Uberabinha Grande Uberlândia MG 0,2 9
62 Pitangui COPEL 1911 Pitangui Tibagi Ponta Grossa PR 0,2 5
63 Porto Goez EMAE 1928 Tietê Tietê Salto SP 0,25 7,2
64 Elói Chavez CPFL 1956 Mogi Guaçu Pardo Espirito Santo Pinhal SP 0,276
65 Salesópolis EMAE 1914 Tietê Tietê Salesópolis SP 0,5 6
Os Reservatórios Brasileiros

66 Chopim I COPEL 1963 Chopim Iguaçu Dois Vizinhos PR 0,5 7


67 Santana CPFL 1951 Jacaré Guaçu Tietê São Carlos SP 0,6 19
68 Jaguari CPFL 1917 Jaguari Piracicaba Pedreira SP 0,74 25
63
APÊNDICE A - Reservatórios de hidrelétricas inventariados nessa obra, que continham informações básicas de localização,
ano de fechamento e área alagada. A concessionária responsável pela usina e a altura da barragem também são
apresentadas. No inventário completo, um total de 660 reservatórios foram registrados
(continua)

Nº Reservatórios Concessionária Ano Rio Bacia Cidade Estado Área km2 Altura m
69 Rasgão EMAE 1925 Tietê Tietê Pirapora SP 0,8 26
70 São Domingos CELG 1990 São Domingos Paraná São Domingos GO 0,86 18
71 Euclides da Cunha AES 1965 Pardo Grande Mococa SP 1,07 58
72 Curucaca SANTA MARIA 1982 Jordão Iguaçu Guarapuava PR 1,2 11
73 Chicão CEMIG 1942 Santa Cruz Grande Campanha MG 1,2
74 Itutinga CEMIG 1955 Grande Grande Itutinga MG 1,64 23
75 Jordão COPEL 1996 Jordão Iguaçu Foz do Jordão PR 1,9 95
76 Fiú (Apucaraninha) COPEL 1949 Apucaraninha Tibagi Londrina PR 2,1 16
77 Limoeiro AES 1966 Pardo Grande Mococa SP 2,7 41
78 Poço Fundo CEMIG 1949 Machado Machado Poço Fundo MG 3,2 6
79 Bortolan DME 1956 Antas Pardo Pocos de Caldas MG 3,21 11
80 Edgard De Souza EMAE 1901 Tietê Tietê Santana do Parnaíba SP 3,5 34
81 Mogi Guaçu AES 1994 Mogi Guaçu Parana Mogi Guaçu SP 5,7 15
82 São Jorge COPEL 1945 Pitangui Tibagi PR 7,2 14
83 Sangradouro Pedras EMAE 1928 Pedras Pedras São Bernardo do Campo SP 7,95 15
84 Mourão COPEL 1964 Mourão Ivai Campo Mourão PR 11,3 21
85 Pirapora EMAE 1956 Tietê Tietê Pirapora do Bom Jesus SP 11,42 40
86 Salto Grande DUKE 1951 Paranapanema Paraná Salto Grande SP/PR 12 25
87 Americana CPFL 1949 Atibaia Piracicaba Americana SP 13 25
88 Água do Vere COPEL Chopim Iguaçu Verê PR 14 40
89 Salto Grande do Chopim COPEL 1967 Chopim Iguaçu C.Vivida PR 15 34
90 Mimoso ENERSUL 1969 Pardo Paraná Ribas Rio Pardo MT 15,62 24
91 Taiaçupeba DAEE 1976 Taiaçupeba Tietê São Paulo SP 20 20
92 Machado Mineiro CEMIG 1992 Pardo Pardo Águas Mineiras MG 21,3 34
93 Canoas II DUKE 1998 Paranapanema Paraná Palmital SP 22,51 25
94 Itupararanga CBA 1914 Sorocaba Tietê Votorantim SP 30,7 38
95 Canoas I DUKE 1998 Paranapanema Paraná Cândido Mota SP 30,85 29
95 Caconde AES 1966 Pardo Grande Caconde SP 31,12 60
97 Guarapiranga EMAE 1906 Guarapiranga Gurapiranga São Paulo SP 33,83 16
98 Jaguara CEMIG 1971 Grande Grande Sacramento MG/SP 36 71
99 Igarapava CEMIG 1999 Grande Grande Igarapava MG/SP 40,94 32
100 Paranoá CEB 1962 Paranoá Paranoá Brasília DF 39,48 50
64 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

101 Estreito (Luiz C. Barreto Carvalho) FURNAS 1969 Grande Paraná Pedregulho MG/SP 46,7 92
102 Miranda CEMIG 1998 Araguari Paranaíba Uberlândia MG 50,6 79
103 Bariri AES 1969 Tietê Paraná Bariri SP 62,5 33
104 Salto Osório TRACTEBEL 1975 Iguaçu Iguaçu Quedas do Iguaçu PR 62,9 56
104 Corumbá FURNAS 1997 Corumbá Paranaíba Caldas Novas GO 65 90
106 Cachoeira Dourada CDSA 1958 Paranaiba Paranaíba Cachoeira Dourada GO 74 26
107 Camargos CEMIG 1960 Grande Grande Itutinga MG 77,40 36
108 Segredo COPEL 1992 Iguaçu Iguaçu Mangueirinha PR 84,88 145

APÊNDICE A - Reservatórios de hidrelétricas inventariados nessa obra, que continham informações básicas de localização,
ano de fechamento e área alagada. A concessionária responsável pela usina e a altura da barragem também são
apresentadas. No inventário completo, um total de 660 reservatórios foram registrados
(continua)

Nº Reservatórios Concessionária Ano Rio Bacia Cidade Estado Área km2 Altura m
109 Capanema COPEL Iguaçu Paraná Capanema PR 89 58
110 Taquaruçu DUKE 1980 Paranapanema Paraná Sandovalina SP 180 61
111 Ibitinga AES 1969 Tietê Paraná Ibitinga SP 113,5 32
112 Billings EMAE 1926 Pedras Tietê Sao Bernardo do Campo SP 127 30
113 Porto Colômbia FURNAS 1973 Grande Grande Planura MG/SP 143 40
114 Salto Caxias COPEL 1998 Iguaçu Iguaçu Capitão Leônidas Marques PR 144,2

115 Foz Do Areia COPEL 1979 Iguaçu Iguaçu Bituruna PR 165 160
116 Salto Santiago TRACTEBEL 1980 Iguaçu Paraná Rio Bonito Iguaçu PR 208 80
117 Nova Avanhandava AES 1982 Tietê Paraná Buritama SP 210 71
118 Rosana DUKE 1987 Paranapanema Paraná Teodoro Sampaio SP/PR 220 30
119 Volta Grande CEMIG 1974 Grande Grande Miguelópoles MG/SP 221,7 56
120 Mascarenhas de Moraes FURNAS 1956 Grande Grande Delfinópolis MG 250 72
121 Barra Bonita AES 1963 Tietê Paraná Barra Bonita SP 308 33
122 Jupiá CESP 1974 Paraná Paraná Três Lagoas MS/SP 330 43
123 Chavantes DUKE 1959 Paranapanema Paraná Chavantes SP 400 89
124 Jurumirim DUKE 1962 Paranapanema Paraná Cerqueira César SP 425 35
125 Manso FURNAS 2000 Manso Corumbá Cuiabá MT 427 72
126 Marimbondo FURNAS 1975 Grande Grande Fronteira Icem MG/SP 438 94
127 Nova Ponte CEMIG 1994 Araguari Paranaíba Nova Ponte MG 446,58 142
128 Emborcação CEMIG 1982 Paranaiba Paranaíba Araguari MG/GO 485 158
129 Capivara DUKE 1970 Paranapanema Paraná Porecatu/Taciba SP/PR 576 59
130 Promissão AES 1977 Tietê Paraná Promissão SP 530 35
131 Água Vermelha AES 1979 Grande Paraná Iturama SP/MG 647 67
132 São Simão CEMIG 1978 Paranaiba Paranaiba São Simão MG/GO 722,25 127
133 Três Irmãos CESP 1993 Tietê Paraná Pereira Barreto SP 785 82
134 Itumbiara FURNAS 1980 Paranaiba Paraná Itumbiara GO/MG 778 110
135 Ilha Solteira CESP 1978 Paraná Paraná Ilha Solteira SP/MS 1195 74
136 Itaipu ITAIPU BINACIONAL 1982 Paraná Paraná Foz do Iguaçu PR 1350 196
137 Furnas FURNAS 1963 Grande Grande São José da Barra MG 1440 127
138 Porto Primavera (Sergio Motta) CESP 1998 Paraná Paraná Bataiporã SP/MS 2250 38

Bacia Atlântico Sul


139 Salto CELESC 1914 Itajaí-Açu Itajaí-Açu Blumenau SC 0,0003
140 Canastra CEEE 1956 Santa Maria Sta Maria Canela RS 0,05 24
Os Reservatórios Brasileiros

141 Cedros II CELESC 1956 Cedros Rio dos Cedros Rio dos Cedros SC 0,096 17
142 Salto Do Meio COPEL 1930 São João São João S.J.Dos Pinhais PR 0,1 12
143 Piraí CELESC 1908 Piraí Itapocu Joinvile SC 0,12
65
APÊNDICE A - Reservatórios de hidrelétricas inventariados nessa obra, que continham informações básicas de localização,
ano de fechamento e área alagada. A concessionária responsável pela usina e a altura da barragem também são
apresentadas. No inventário completo, um total de 660 reservatórios foram registrados
(conclusão)

Nº Reservatórios Concessionária Ano Rio Bacia Cidade Estado Área km2 Altura m
144 Garcia CELESC 1964 Garcia Rio Garcia Angelina SC 0,74 17
145 Guaricana COPEL 1957 Guaricana Rio Arraial S.J.Dos Pinhais PR 0,86 30
146 Bracinho I CELESC 1931 Bracinho Rio Bracinho Schroeder SC 0,88 15
147 Divisa CEEE 1950 Divisa Sta Cruz S.Fran.de Paula RS 1,1 25
148 Alecrim CBA 1974 Juquiaguassu Ribeira de Iguape Juquia-Tapirai SP 1,5 55
149 Barra CBA 1986 Juquiá Ribeira de Iguape Ibiúna SP 1,9 90
150 Serraria CBA 1977 Juquiaguassu Ribeira de Iguape Juquiá SP 2,13 54
151 Salto CEEE 1952 Sta Cruz Sta Cruz S. Francisco de Paula RS 2,5 12
152 Cedros I CELESC 1949 Cedros Rio dos Cedros Rio dos Cedros SC 2,94 15
153 Palmeiras CELESC 1963 Cedros Rio dos Cedros Rio dos Cedros SC 3,1 19
154 Iporanga CBA 1989 Assungi Ribeira de Iguape Juquia Itapirai SP 3,5 78
155 Ernestina CEEE 1954 Jacuí Jacuí Ernestina RS 4 13
156 Jacuí CEEE 1963 Jacuí Jacuí Salto do Jacui RS 4,7 25
157 Vossoroca COPEL 1949 São João Rio São João S.Jose dos Pinhais PR 5,1 21
158 Fumaça CBA 1963 Juquiáguassu Ribeira de Iguape Ibiuna SP 5,3 54
159 França CBA 1958 Juquiáguassu Ribeira de Iguape Juquitiba SP 12,7 48
160 Itaúba CEEE 1978 Jacuí Jacuí Pinhal Grande RS 13,8 90
161 Capivari-Cachoeira (Parigot de Souza) COPEL 1970 Capivari Rio Capivari Campina Grande do Sul PR 16,28 58
162 Passo Real CEEE 1973 Jacuí Jacuí Fortaleza dos Valos RS 223 58

Bacia Uruguai
163 João Amado CEEE-RS 1953 Guarita Uruguai Palmeira das Missões RS 0,01 11
164 Pery CELESC 1992 Canoas Canoas Curitibanos SC 0,05
165 Ivo Silveira CELESC 1967 Lageado Santa CruzUruguai Campos Novos SC 0,06
166 Celso Ramos CELESC 1963 Chapecozinho Uruguai Faxinal dos Guedes SC 0,08 15,7
167 Caveiras CELESC 1940 Caveiras Uruguai Lages SC 14,3 10
66 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

168 Machadinho TRACTEBEL 2002 Pelotas Uruguai Piratuba RS/SC 79 124


169 Itá TRACTEBEL 2000 Uruguai Uruguai Itá SC 141 123
170 Passo Fundo TRACTEBEL 1973 Passo Fundo Uruguai Entre Rios dos Sul RS 151,5 46
0

136
W70°

400

165
163

155
156
162
59

160
90

66
138

89

169
84
122

10911410411675
800km

166
W65°

72

170 168
135

88 108115

140
118 110 129

76
133

164
3

167

147 151
62

142
95 93
132

82
131

117

86

145

139152
153
130

123

0
141 143
61

161
W60°

57 146

144
124

157
79
111
106134

126 113
4

121
105

67
102
128

103 149

200
127

148 49
87
125

64 7771
120

158 159 91
96
W55°

162
92
119 99 98136109
59
2

81 78 156
170

80 150 154 65 52
94 68 69 83 97

400km
108
138 110

1011148911620

56 36 54
30

63 60 112 85 32 33
163 169165
84 76

151

O
15573 140
147
160 168
164
167
62
117

115142
dos reservatórios está discriminada no APÊNDICE A

53
107
74 153
139
1

S
58145

N
118 129 93123

13766 88 25 57146

144
143
152
166 141 13
9

50
157

42 47
34
W50°

105

38
132106 102
7
6

L
134 128

92 158

37
9586 124 6394
100

103 6777
5

55
104 7572 82 161 51
13011164 71
61 99127
26

68
80150
2112187149

44
22 79 14849
6040
90 122133 126119 120

112

45
154
6985
431599165
48
5636
8178 73
8397
52

39
3254
25
19

10
46
30 21

10713
96 74 38
W45°

37
18

533455
40
41

11 12
44
22 43 48

3342 47 45
10
135 131 113 98101 20585051 39 46
1112
31

16
17
14 15
W40°

2328
29
24 27

Brasil
W35°
Os Reservatórios Brasileiros

S5°

N5°

S10°

S15°

S20°

S30°
S25°

S35°
informações básicas sobre localização, ano de fechamento e área alagada. A numeração
APÊNDICE B - Distribuição dos grandes reservatórios em território brasileiro, com
67
Capítulo 3.2
A Ictiofauna de Reservatórios
Introdução alimentares, terminam por reestruturar a
composição de toda biota. Esse conjunto de

P ara compreender a ictiofauna que habita


modificações é tão profundo que o processo
equivale à criação de um novo ecossistema
reservatórios é preciso antes conhecer as
(BAXTER, 1977), principalmente pelas
modificações ocasionadas nos hábitats.
mudanças nas relações tróficas, na base da
Essas modificações, em conjunto com as
produção primária e na ciclagem de
características da biologia de cada espécie,
nutrientes.
determinarão, em grande parte, a ictiofauna
que colonizará o ambiente. Este tema,
Após o represamento, a fauna de peixes a se
embora objeto do Capítulo 4, será
estabelecer é primariamente dependente da
sucintamente adiantado nesta seção. No
fauna preexistente na região alagada. As
entanto, o propósito desta é apresentar e
adaptações e particularidades de cada espécie
discutir os padrões de composição de
determinarão quais terão sucesso na
espécies e estrutura das assembléias de
exploração de novos hábitats (FERNANDO;
peixes, observadas em diferentes
HOLCÍK, 1982; AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES;
reservatórios brasileiros.
THOMAZ; SUZUKI, 1999). No geral, dado o
caráter transitório das condições ambientais,
Com o barramento de um rio, a hidrologia
as espécies generalistas serão as mais bem-
local é severamente alterada, passando de
sucedidas, visto que apresentam certa
um estado lótico para uma condição lêntica
flexibilidade quanto às suas necessidades
ou semilêntica. Isso significa que as
alimentares e reprodutivas, ajustando-se mais
condições químicas e físicas da água são
facilmente às variações na disponibilidade
modificadas, assim como a qualidade e a
alimentar e à alternância nas condições
quantidade de hábitats para a fauna e flora
ambientais. Esse aspecto é de suma relevância,
aquática. Na verdade, a formação do novo
pois o represamento de rios de menor porte,
ambiente leva à criação de novos hábitats e
com faunas mais pobres e com adaptações a
à perda de outros. Entre os hábitats novos,
situações lóticas, pode ser decisivo na extinção
destacam-se bancos de areia, galhadas
e perda de grande parte da biodiversidade
submersas, bancos de macrófitas e,
local. Da mesma forma, o resultado pode ser
principalmente, a zona pelágica. Dentre os
igualmente catastrófico quando
perdidos, cabe destaque para lagoas
represamentos atingem sistemas formados
marginais, canais, remansos, poções e
por espécies com comportamento pouco
corredeiras. Tais alterações, aliadas às
flexível.
modificações na disponibilidade de recursos
70 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna de Reservatórios 71

Entretanto, grande parte das espécies de são fatores restritivos à ocupação do novo apresenta certas adaptações ao ambiente da coluna e decomposição da matéria
peixes neotropicais segue o padrão de ambiente. pelágico é o peixe-rei, Odontesthes bonariensis, orgânica alagada (TUNDISI; MATSUMURA-
elevada plasticidade comportamental, em um clupeídeo proveniente de bacias TUNDISI; CALIJURI, c1993). Essa faixa apresenta
termos alimentares e reprodutivos, o que As espécies que se estabelecem são argentinas e do Sul do Brasil. Essa espécie, extensão variável, sendo menor nos
impede que ocorram extinções massivas na geralmente capazes de completar todo o seu que também pode apresentar hábito reservatórios com maior fluxo de água.
maioria dos casos. O mais comum é que ciclo de vida no próprio reservatório. Esse alimentar zooplanctívoro filtrador, foi
ocorram modificações na composição e grupo habita preferencialmente as áreas introduzida em reservatórios do rio Iguaçu, Em condições não-anóxicas, a espécie que
estrutura da assembléia. Em um primeiro rasas litorâneas (profundidades < 2m), apresentando sinais de sucesso no seu melhor se ajustou ao ambiente demersal de
momento, algumas espécies tendem a tirando proveito da estruturação espacial estabelecimento (CASSEMIRO; HAHN; RANGEL, reservatórios foi a corvina (ou pescada do
desaparecer ou diminuem drasticamente o promovida pela presença de macrófitas 2003). Considerando esses exemplos Piauí) Plagioscion squamosissimus, originária
tamanho de suas populações (reofílicas), aquáticas, pedras, galhadas submersas, além isolados, e que a fauna sul-americana é da região Nordeste do país e introduzida em
enquanto outras proliferam rapidamente. Se de outros substratos. De fato, um dos estimada em 5.000 espécies de peixes (REIS; praticamente todos os reservatórios do Sul e
existirem espécies capazes de explorar a padrões mais recorrentes em reservatórios é KULLANDER; FERRARIS, Jr., 2003; AGOSTINHO; Sudeste. A corvina tem hábito alimentar
região pelágica, estas provavelmente melhor o estabelecimento das assembléias de peixes THOMAZ; GOMES, 2005), fica claro o baixo piscívoro/carnívoro e também é encontrada
se ajustarão. Resultado semelhante é nas regiões litorâneas (ARAÚJO-LIMA; potencial das espécies na exploração dos em hábitats litorâneos. Contudo, pode
esperado para as espécies que exploram AGOSTINHO; FABRÉ, 1995; SMITH; PEREIRA; hábitats pelágicos criados com os formar grandes cardumes e permanecer nas
hábitats litorâneos de águas estagnadas. ESPÍNDOLA; ROCHA, 2003). As espécies que reservatórios. A ausência de grandes lagos regiões mais profundas próximas ao
habitam essas áreas são lambaris, piquiras, naturais, com áreas pelágicas desenvolvidas, sedimento, realizando periódicas migrações
Após certa estabilização no meio abiótico, a piranhas, sagüirus, pequenos bagres e na maioria das bacias hidrográficas verticais e laterais em direção à região
fauna pode ainda ser bastante modificada, cascudos, além de alguns piscívoros como brasileiras, pode explicar a virtual litorânea. Essa espécie, que ainda retém
em decorrência do tipo de uso ou impactos jacundás, tucunarés e traíras. inexistência de espécies de água doce pré- algumas características de seus ancestrais
recebidos pelo corpo d’água, destacando-se a adaptadas às áreas abertas dos reservatórios. marinhos, especialmente pelo
eutrofização, alterações de nível Áreas pelágicas e profundas permanecem desenvolvimento pelágico de seus ovos,
hidrométrico, operação da barragem, inabitadas ou pouco exploradas, pela falta de Padrão semelhante é observado com relação proliferou em vários reservatórios
variações na densidade de macrófitas espécies de peixes com adaptações especiais a aos hábitats de regiões profundas. Apesar de brasileiros, tornando-se freqüentemente
aquáticas, proliferação de espécies exóticas, esses hábitats. Exceções são espécies do limitações metodológicas impedirem dominante em muitos reservatórios da bacia
entre outras. gênero Hypophthalmus, conhecidas amostragens bem sucedidas nesses do rio Paraná (AGOSTINHO; MIRANDA; BINI;
popularmente como sardela, perna-de-moça ambientes (ausência de aparelhos de pesca GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999).
Como já foi explicitado no Capítulo 2, a ou mapará, que apresentam adaptações para eficientes), a ictiofauna sul-americana de
ictiofauna de reservatórios mais antigos é, explorar recursos da região pelágica e são água doce parece carecer de espécies Grandes bagres também costumam habitar
invariavelmente, formada por espécies abundantes em alguns reservatórios. Essas demersais, possivelmente também pela regiões mais profundas em momentos pré-
sedentárias, de pequeno a médio porte, e de espécies têm hábito alimentar ausência histórica desse tipo de hábitat nos represamento, como o canal principal do rio
baixo valor econômico. Espécies que zooplanctívoro, através da filtração da água rios e lagos originais. Outra agravante pela e os “poções” abaixo de quedas d’água
desempenham movimentos migratórios pelos seus finos rastros branquiais. O sucesso não-ocupação de regiões profundas em (GOULDING; SIMTH; MAHAR, 1996), suportando as
longitudinais são as mais prejudicadas, pois do mapará na colonização de reservatórios reservatórios está na possibilidade da condições de pressão nesses estratos. Com o
requerem hábitats distintos e, em geral, foi observado em Itaipu e Tucuruí, onde formação de camadas anóxicas (sem represamento, a distribuição desses peixes
distantes, para integralizar seu ciclo de vida. passou a constituir importante fonte de oxigênio). Estratos anóxicos na coluna d’água não é bem conhecida e certa dúvida permeia
Nesse caso, a barreira física ao deslocamento, pescado (AMBRÓSIO; AGOSTINHO; GOMES; OKADA, são de ocorrência comum, principalmente as suposições, já que os grandes bagres são
representada pela barragem, e as exigências 2001; ABUJANRA; AGOSTINHO, 2002; CAMARGO; nos primeiros anos após a formação de espécies reofílicas e notadamente
comportamentais ligadas à dinâmica da água PETRERE JUNIOR, 2004). Outra espécie que reservatórios, devido à estratificação térmica migradoras, possivelmente evitando áreas
72 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna de Reservatórios 73

com baixo fluxo de água. Além disso, as encontrando um padrão dominado por é composta essencialmente por espécies Paraná e bacias limítrofes (PELICICE;
camadas anóxicas devem contribuir para que lambaris (Astyanax altiparanae e A. fasciatus), sedentárias de pequeno porte, ABUJANRA; FUGI; LATINI; GOMES; AGOSTINHO,
tais peixes evitem esses locais. De fato, essas curimatídeos (Cyphocharax modestus) e acarás principalmente Characiformes e 2005). Os autores verificaram que alguns
espécies são as mais propensas a desaparecer (Geophagus brasiliensis), espécies oportunistas Perciformes (Cichlidae). Além disso, foi reservatórios apresentam elevada biomassa
nas capturas da pesca comercial após a ou que consomem detritos. detectada uma singular influência da bacia piscívora, constituída basicamente pela
formação de reservatórios (BARTHEM; RIBEIRO; hidrográfica determinando padrões de traíra Hoplias aff. malabaricus. A biomassa
PETRERE JUNIOR, 1991; RIBEIRO; PETRERE JUNIOR; Agostinho, Vazzoler e Thomaz (1995) composição, riqueza de espécies e piscívora relativa pode exceder 50 % em
JURAS, 1995). Entretanto, camadas profundas analisaram dados de 11 reservatórios da abundância dos peixes. alguns, e é provável que uma biomassa tão
de reservatórios podem ser ocupadas por região do alto rio Paraná e observaram a desproporcional exerça alguma influência
alguns doradídeos, como o armado ocorrência generalizada de algumas espécies, Vale destacar ainda uma outra análise, na estruturação das assembléias, formada
(Pterodoras granulosus) e o abotoado como mandis (Pimelodus maculatus e realizada em 29 reservatórios do Estado do por espécies de pequeno porte.
(Oxydoras knerii), ambos migradores Iheringichthys labrosus), lambaris Astyanax,
(AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; piranhas Serrassalmus, traíras Hoplias, além da
Bo
Boxx 3.2.1
SUZUKI, 1999).
Sua distribuição nos introduzida corvina P. squamosissimus. Esses
reservatórios, contudo, se restringe aos autores encontraram uma relação negativa Padrões de colonização em reservatórios neotropicais, e diagnose sobre o envelhecimento
trechos mais altos e com maior renovação de entre a riqueza de espécies e a idade do AGOSTINHO, A.A.; MIRANDA, L.E.; BINI, L.M.; GOMES,
L.C.; THOMAZ. S.M.; SUZUKI, H.I. Patterns of colonization
água (OKADA; AGOSTINHO; GOMES, 2005). reservatório, e uma positiva com a área da
in neotropical reservoirs, and prognoses on aging. In:
bacia. TUNDISI, J.G.; STRASKABA, M. (Ed.). Theoretical reservoir
Com essas informações, podemos reconhecer ecology and its applications. São Carlos: International
Institute of Ecology; Leiden, The Netherlands: Backhuys
três tipos de hábitats majoritários em Em outra importante revisão, Araújo-Lima, Publishers; Rio de Janeiro: Brazilian Academy of Sciences,
reservatórios: (i) litorâneos, incluindo a foz Agostinho e Fabré (1995) compilaram dados 1999. p. 227-265.
de tributários; (ii) pelágicos, os mais de 19 reservatórios, situados na bacia
“A ocupação de um reservatório pode ser vista como uma colonização ou simplesmente uma grande
conspícuos pela sua extensão; (iii) demersais Amazônica, São Francisco, Paraná e Leste. A
reestruturação da comunidade de peixes local. As espécies que ocuparão satisfatoriamente o novo ambiente
(profunda), presentes nos reservatórios de fauna foi dominada por espécies sedentárias, deverão ser capazes de desenvolver adaptações diferentes daquelas que possuíam no ambiente lótico. Para
maior profundidade. Contudo, a distribuição a maioria da ordem Characiformes. descrever o processo de colonização é possível distinguir estratos orientados de forma longitudinal (lótico,
da ictiofauna é desigual, sendo a ocupação Verificaram também que a fauna concentra- transição e lacustre), transversal (litoral e pelágico) e vertical (epipelágico e batipelágico), em relação ao eixo
principal do reservatório, particularmente nos maiores. Com relação às dimensões transversal e vertical, a
quase totalmente restrita à região litorânea se predominantemente em áreas litorâneas,
zona litorânea possui a maior riqueza de espécies e é mais produtiva que as zonas epi e batipelágicas. Essa
(ver Box 3.2.1). com muitas espécies de pequeno porte. Um produtividade está associada com a entrada de nutrientes e recursos alimentares de áreas ripárias, com a
gradiente de riqueza de espécies também foi baixa profundidade da região, e com uma elevada estruturação e diversidade de hábitats. Essas diferenças
Algumas revisões gerais sobre a ictiofauna identificado, com maiores valores nas costumam se acentuar com o envelhecimento do reservatório. Em geral, a colonização de áreas litorâneas é
em reservatórios já foram realizadas, com porções lóticas do reservatório. Espécies feita por espécies com adaptações generalistas e ampla tolerância a variações no hábitat, particularmente
espécies de Cichlidae, pequenos Characiformes e Siluriformes, além da bem-sucedida corvina Plagioscion
intuito de identificar padrões na composição reofílicas predominam nessas áreas. squamosissimus. Diferentemente, as espécies de peixes que ocupam hábitats pelágicos necessitam
de espécies, estrutura da assembléia e adaptações morfológicas e comportamentais específicas para a alimentação, reprodução, movimentação e
estratégias de vida mais comuns. Essas Resultado semelhante foi obtido por Luiz, para evitar predadores. A ictioufauna do alto rio Paraná carece de espécies com essas adaptações, o que
informações podem ser úteis na predição de Petry, Pavanelli, Júlio Júnior, Latini e explica o baixo rendimento pesqueiro em reservatórios da região. Exceções são a corvina e o armado
alguns impactos, principalmente naqueles Pterodoras granulosus, que habitam freqüentemente essas zonas. Além desses, o filtrador
Domingues (2005), que estudaram 31
Hypophthalmus edentatus, o insetívoro Auchenipterus nuchalis e o piscívoro Raphiodon vulpinus,
relacionados à formação das assembléias. reservatórios situados em seis sub-bacias possuem certas adaptações e conseguem explorar a zona pelágica, porém apresentam maiores abundâncias
hidrográficas, localizados no Estado do na zona litorânea. A zona batipelágica é pobremente habitada, possivelmente devido à estratificação térmica
Na região Sul do país, Castro e Arcifa (1987) Paraná e suas bacias limítrofes. Os autores e de oxigênio, limitações na disponibilidade alimentar e atenuação luminosa. A riqueza de espécies e a
analisaram a fauna de 9 reservatórios, verificaram que a fauna desses reservatórios abundância de peixes nessa zona também são menores, em relação aos habitats litorâneos.”
74 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna de Reservatórios 75

Diagnóstico da Ictiofauna espécies dominantes e composição

Tabela 3.2.1 - Informações gerais a respeito da ictiofauna dos 77 reservatórios estudados, localizados em diferentes bacias
hidrográficas brasileiras (Bacias: 1 = Amazônica; 2 = Araguaia/Tocantins; 3 = Norte/Nordeste; 4 = Leste; 5 = São Francisco;
6 = Paraná; 7 = Sul). São apresentadas a data de fechamento do reservatório, sua área, o ano em que o estudo foi realizado, a
captura por unidade de esforço (CPUE) em número (N) e peso (P) (ind. ou kg/100m2 de rede/24 h), a riqueza de espécies total
(S TOT), e o número de espécies dominantes (S DOM, espécies que quando somadas perfizeram entre 80 e 90 % das capturas
(continua)

Paiva, Petrere Junior, Petenate, Nepomuceno e Vasconcelos (1994)


específica dominante. Aqui, as espécies

Fundação BIORIO e Universidade Federal do Rio de Janeiro (1998)

ECO Consultoria Ambiental e Comércio/AES Tietê (2001)


ECO Consultoria Ambiental e Comércio/AES Tietê (2001)
C

Universidade Estadual de Maringá. Nupélia/FURNAS (2001a)


Universidade Estadual de Maringá. Nupélia/FURNAS (2001b)
dominantes foram aquelas cujas capturas
om o intuito de atualizar e aprofundar o somadas corresponderam a,

Universidade Federal de Minas Gerais (1995)


conhecimento sobre padrões ecológicos em aproximadamente, 80 e 90 % da captura
reservatórios, o presente tópico reuniu total, o que dependeu do primeiro ponto de
dados da ictiofauna de 77 reservatórios,

FURNAS Centrais Elétricas (2002a)


inflexão na seqüência de abundâncias. Os

Referências

E.E.Marques (informação verbal)1


obtidos em dissertações e teses de pós- dados provêm de capturas realizadas

Smith e Petrere Junior (2001)


graduação, artigos científicos e relatórios somente nas regiões a montante da

Oliveira e Lacerda (2004)


técnicos, além de dados não-publicados

Araújo e Santos (2001)


barragem, não sendo possível, infelizmente,

Castro e Arcifa (1987)

Castro e Arcifa (1987)


Castro e Arcifa (1987)
Castro e Arcifa (1987)
Castro e Arcifa (1987)
Castro e Arcifa (1987)
obtidos nos projetos de pesquisa

Luiz Júnior (1999)


explorar padrões longitudinais (regiões

Ferreira (1984a)
executados pelo Núcleo de Pesquisas em

CESP (2000a)
CESP (2000a)
Santos (1995)

Castro (1997)
lacustre, transição e lótica), devido à falta de

Alvim (1999)
Leite (1993)
Limnologia, Ictiologia e Aqüicultura informações a respeito da localização dos
(Nupélia), da Universidade Estadual de pontos de amostragem em alguns estudos,
Maringá. além da ausência de amostragens mais

DOM

22
17

13
15

10
10
abrangentes em outros.

9
3

7
6
4
9
3
3
5
4
9
7

2
6
3
4
2
5
5
8
Cabe ressaltar que os dados analisados não

18
82
127
268
103
18
19
33
15
12
18
16
35
49
102
153
4
16
9
14
5
14
9
35
34
33
foram originalmente obtidos de forma

TOT
Além disso, devido ao caráter não-

S
padronizada, comportando diferentes padronizado de muitas informações, pouco

2,37
CPUE

13,1

3,9
metodologias de amostragem, esforços e

11,3
será abordado a respeito dos fatores

P
--
--

--
--
--
--
--

--
--
--
--

--
--
--
--
--
--
--
--
--
--
períodos. No entanto, a metaanálise determinantes da estrutura das assembléias,
realizada pode ser útil na identificação de

46,18

74,92
89,11
ou seja, as relações da ictiofauna com

CPUE

18,5

57,6

80,7

29,9
3,3
503
N

50

86

39

161
61
57
7

80
--

--
--
--

--
--
--

--
--
padrões gerais a respeito da ictiofauna que variáveis potencialmente importantes. A
habita reservatórios, principalmente discussão será centrada basicamente na

1984-1987

1977-1986
2000-2002
1999-2000

1993-1994
1997-2000
2000-2001

1981-1982

1997-1999
1992-1993
2000-2001
2000-2001
1991/1992
porque trabalhos dessa natureza são descrição das assembléias e dos possíveis

Ano do
estudo

1994
1979
2000
2000
1999

1979

1979
1979
1979
2000
escassos. Além disso, esse tipo de padrões na composição.

1982

2003
1997
procedimento, que agrupa e analisa dados

Notícia fornecida por E.E. Marques (dados não publicados).


obtidos em trabalhos independentes, tem- Os reservatórios estudados estão

27,2

30,7

62,5
113,5
78
656
2875
630
1784

1142
(km2)

40

30

56
224

447
65
427
20
13

127
308
Área

--
se constituído em ferramenta poderosa em apresentados na Tabela 3.2.1, bem como

--

--
--
--
estudos ecológicos, auxiliando na algumas informações sobre a ictiofauna e

Fecha-
Bacia mento

1977
1989
1984
2002
1996

1969
1995
1907
1960
1972
1978
1962
1994
1997
2000
1976
1949
1972
1972
1932
1914
1926
1963
1969
1969
identificação de padrões em escalas espaço- as referências nas quais os dados foram

em número de indivíduos)

--
temporais que trabalhos individuais não obtidos. Esses reservatórios localizam-se

1
1
2
2
2
3
4
4
4
4
4
4
5
6
6
6
6
6
6
6
6
6
6
6
6
6
conseguem contemplar ( PATTEN, c2004). em praticamente todas as grandes bacias
brasileiras destacadas no capítulo anterior,

Açudes Nordeste
As informações reunidas dos vários com grande predomínio daqueles situados

Chapéu d'Úvas
Reservatório

Serra da Mesa

Santa Branca

Pedro Beicht

Barra Bonita
Três Marias
Nova Ponte

Taiaçupeba
trabalhos, quando apresentadas, incluíram na bacia do rio Paraná. A área alagada

Curuá-Una

Americana

Ituparanga
Paraibuna

Cachoeira
Atibainha
Corumbá
Lajeado
Samuel
Tucuruí

Jaguari

Ibitinga
Billings
captura por unidade de esforço (CPUE, variou de 0,1 a 2.875 km2, e o tempo

Manso
Lajes

Bariri
Funil
proveniente somente de capturas com decorrido do fechamento do reservatório
redes de espera, apresentadas em número e ao ano de estudo variou de 1 a 87 anos

10

12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
11
1
2
3
4
5
6
7
8
9
(Tabela 3.2.1).

1
peso), riqueza total de espécies, riqueza das
Tabela 3.2.1 - Informações gerais a respeito da ictiofauna dos 77 reservatórios estudados, localizados em diferentes bacias
hidrográficas brasileiras (Bacias: 1 = Amazônica; 2 = Araguaia/Tocantins; 3 = Norte/Nordeste; 4 = Leste; 5 = São Francisco; 76
6 = Paraná; 7 = Sul). São apresentadas a data de fechamento do reservatório, sua área, o ano em que o estudo foi realizado, a
captura por unidade de esforço (CPUE) em número (N) e peso (P) (ind. ou kg/100m2 de rede/24 h), a riqueza de espécies total
(S TOT), e o número de espécies dominantes (S DOM, espécies que quando somadas perfizeram entre 80 e 90 % das capturas
em número de indivíduos) (continuação)
Fecha- Área Ano do CPUE CPUE S S
Reservatório Bacia mento Referências
(km2) estudo N P TOT DOM
27 Promissão 6 1977 530 2000-2001 130,42 -- 35 7 ECO Consultoria Ambiental e Comércio/AES Tietê (2001)
28 Nova Avanhandava 6 1982 210 2000-2001 76,22 -- 33 10 ECO Consultoria Ambiental e Comércio/AES Tietê (2001)
29 Três Irmãos 6 1993 785 2000 16,06 -- 35 7 ECO Consultoria Ambiental e Comércio/AES Tietê (2001)
30 Caconde 6 1966 31,1 2000-2001 32,67 -- 14 3 ECO Consultoria Ambiental e Comércio/AES Tietê (2001)
31 Euclides da Cunha 6 1965 1,07 2000-2001 27 -- 6 3 ECO Consultoria Ambiental e Comércio/AES Tietê (2001)
32 Limoeiro 6 1966 2,7 2000-2001 129,3 -- 18 4 ECO Consultoria Ambiental e Comércio/AES Tietê (2001)
33 Mogi Guaçu 6 1994 5,7 2000-2001 82,33 20 7 ECO Consultoria Ambiental e Comércio/AES Tietê (2001)
34 Furnas 6 1963 1440 1996-2002 41,4 2,1 39 7 FURNAS Centrais Elétricas (2002b)
35 Porto Colômbia 6 1973 143 1998-2002 14,62 2,25 24 8 FURNAS Centrais Elétricas (2002c)
36 L.C.B. Carvalho 6 1969 47 1998-2003 85,18 4,81 24 6 FURNAS Centrais Elétricas (2003a)
37 Mascarenhas Moraes 6 1956 250 1998-2002 49,31 2,61 33 6 FURNAS Centrais Elétricas (2002d)
38 Marimbondo 6 1975 438 1996-2002 54,28 2,97 47 7 FURNAS Centrais Elétricas (2002e)
39 Volta Grande 6 1974 221,7 1995 -- -- 33 3 Braga e Gomiero (1997)
40 Itumbiara 6 1980 778 1996-2003 44,62 3,72 57 9 FURNAS Centrais Elétricas (2003b)
41 Água Vermelha 6 1979 647 2000-2001 26,04 -- 29 6 ECO Consultoria Ambiental e Comércio/AES Tietê (2001)
42 Itutinga 6 1955 1,64 1988-1990 52,2 4,59 25 5 Alves, Godinho, A.L., Godinho, H.P. e Torquato (1998)
43 Alagados 6 1968 13,1 2001 48,41 0,56 9 2 Projeto PRONEX1
44 Jurumirim 6 1962 425 1996-1997 20,72 0,08 31 9 Carvalho e Silva (1999)
45 Salto Grande 6 1951 12 2001 14,4 1,31 30 10 Projeto PRONEX1
46 Chavantes 6 1959 400 2001 17,44 0,68 23 10 Projeto PRONEX1
47 Canoas I 6 1998 30,9 2001 13,81 1,73 34 8 Projeto PRONEX1
48 Canoas II 6 1998 22,5 2001 14,46 1,32 40 10 Projeto PRONEX1
ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

49 Taquaruçú 6 1980 180 2001 27,53 2,08 39 7 Projeto PRONEX1


50 Capivara 6 1970 576 2001 21,06 1,22 34 6 Projeto PRONEX1
51 Rosana 6 1987 220 2001 13,47 1,95 67 10 Projeto PRONEX1
52 Cavernoso 6 1965 -- 2001 17,72 0,84 21 5 Projeto PRONEX1
1
Projeto PRONEX desenvolvido pela Universidade Estadual de Maringá/Nupélia (dados não publicados).

Tabela 3.2.1 - Informações gerais a respeito da ictiofauna dos 77 reservatórios estudados, localizados em diferentes bacias
hidrográficas brasileiras (Bacias: 1 = Amazônica; 2 = Araguaia/Tocantins; 3 = Norte/Nordeste; 4 = Leste; 5 = São Francisco;
6 = Paraná; 7 = Sul). São apresentadas a data de fechamento do reservatório, sua área, o ano em que o estudo foi realizado, a
captura por unidade de esforço (CPUE) em número (N) e peso (P) (ind. ou kg/100m2 de rede/24 h), a riqueza de espécies total
(S TOT), e o número de espécies dominantes (S DOM, espécies que quando somadas perfizeram entre 80 e 90 % das capturas
em número de indivíduos) (conclusão)
Fecha- Área Ano do CPUE CPUE S S
Reservatório Bacia mento Referências
(km2) estudo N P TOT DOM

53 J. Mesquita Filho 6 1970 0,5 2001 24,31 0,55 23 7 Projeto PRONEX1


54 Segredo 6 1992 84,9 2001 40,24 1,3 34 8 Projeto PRONEX1
1
55 Caxias 6 1998 144,2 2001 131,5 1,94 23 4 Projeto PRONEX
1
56 Foz do Areia 6 1979 165 2001 47,06 1,12 21 3 Projeto PRONEX
1
57 Salto Osório 6 1975 62,9 2001 26,97 1,17 21 7 Projeto PRONEX
1
58 Salto do Vau 6 1959 -- 2001 14,4 0,23 13 5 Projeto PRONEX
1
59 Salto Santiago 6 1980 208 2001 41,6 1,1 23 7 Projeto PRONEX
1
60 Iraí 6 1999 14,6 2001 98,05 2,95 29 3 Projeto PRONEX
1
61 Jordão 6 1996 1,9 2001 20,87 0,75 19 4 Projeto PRONEX
1
62 Curucaca 6 1982 1,2 2001 29,18 2,56 17 5 Projeto PRONEX
1
63 Piraquara 6 1979 3,3 2001 6,5 0,38 9 4 Projeto PRONEX
1
64 Passaúna 6 8,3 2001 23,06 0,78 12 5 Projeto PRONEX
65 Porto Primavera 6 1998 2250 1999-2001 31,67 7,03 78 13 CESP (2001)
66 Ilha Solteira 6 1978 1195 2000 -- -- 35 8 CESP (2000a)
67 Jupiá 6 1974 330 2000 -- -- 37 8 CESP (2000a)
Universidade Estadual de Maringá. Nupélia/Itaipu Binacional (1998),
68 Itaipu 6 1982 1350 1997-1998 23,52 3,7 114 7
Benedito-Cecílio, Agostinho, Júlio Júnior e Pavanelli (1997)
1
69 Harmonia 6 1942 -- 2001 36,38 2,38 10 2 Projeto PRONEX
70 Fiu 6 1957 2,1 1995-1999 50 1,2 22 4 Luiz (2000)
1
71 Melissa 6 1962 0,1 2001 28,27 0,57 15 4 Projeto PRONEX
1
72 Mourão 6 1964 11,3 2001 53,7 1,54 21 3 Projeto PRONEX
1
73 Patos 6 1949 1,3 2001 14,97 0,45 10 3 Projeto PRONEX
1
74 G. Parigot de Souza 7 1970 16 2001 23,98 1,23 27 3 Projeto PRONEX
1
75 Guaricana 7 1957 0,86 2001 29,07 0,75 15 2 Projeto PRONEX
1
76 Salto do Meio 7 1930 0,1 2001 33,55 1,42 13 4 Projeto PRONEX
A Ictiofauna de Reservatórios

1
77 Vossoroca 7 1949 5,1 2001 61,03 1,11 17 2 Projeto PRONEX
1
Projeto PRONEX desenvolvido pela Universidade Estadual de Maringá/Nupélia (dados não publicados).
77
78 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna de Reservatórios 79

Riqueza de Espécies Entretanto, como seria esperado, os Mesmo considerando essas limitações e o como a bacia hidrográfica a que pertence o
reservatórios com maior diversidade fato de os reservatórios estarem distribuídos reservatório e sua área de alagamento.
específica foram aqueles de maior área, mais em bacias diferentes, terem históricos Contudo, pode-se observar que, apesar de a
É interessante observar que cerca de 85 % recentes e/ou localizados em bacias mais particulares e áreas de alagamento distintas, maioria das observações terem sido obtidas
dos reservatórios analisados apresentam especiosas, como dos rios Araguaia- a Figura 3.2.2 permite evidenciar forte na bacia do rio Paraná, parece que a
uma riqueza total inferior a 40 espécies de Tocantins (Tucuruí, Lajeado e Serra da Mesa), influência da idade do represamento no influência da bacia hidrográfica nessa relação
peixes, e que quase a metade tem entre 20 e Corumbá-Paraguai (Manso) e mesmo do rio número de espécies de peixes presentes. é pequena (Figura 3.2.2a), já que os valores
40 (Figura 3.2.1), com média em torno de 30 Paraná (Corumbá e Itaipu). Nessa figura, observa-se uma relação obtidos para reservatórios de diferentes
espécies por reservatório. Raros foram negativa entre a idade e o número de bacias encontram-se difusos na figura.
aqueles com mais de 80 espécies, o que Muitas variáveis parecem atuar espécies, ou seja, a
contrasta com a riqueza presente na maioria determinando o número de espécies em riqueza de espécies tende
dos rios neotropicais. Assim, um número de reservatórios e, aparentemente, a a diminuir em
280 a
espécies inferior a 40 por reservatório pode determinação da riqueza de espécies é reservatórios mais velhos. Bacias Hidrográficas
Amazônica
ser considerado relativamente baixo, se altamente contexto-dependente. Destacam- Porém o fenômeno mais 240
Araguaia-Tocantins
analisarmos as áreas alagadas pelos se, entretanto, a diversidade original do

Riqueza de espécies
interessante talvez seja a 200 Atlântico Leste
represamentos (80 % tiveram áreas alagadas local, a área alagada, a severidade do elevada variabilidade nos São Franscisco
160
Paraná
superiores a 10 km2). Como já destacado, em impacto proporcionado pelo reservatório, valores de riqueza Atlântico Sul
120
situações pré-represamento, alguns hábitats sua idade e as ações antropogênicas quando os reservatórios
80
têm como característica uma elevada riqueza existentes no entorno. Como algumas dessas são novos, certamente um
local, formando ricos gradientes de informações inexistem para a maioria dos resultado promovido por 40

diversidade e, por fim, determinando uma reservatórios e os estudos que incluem múltiplos fatores, mas 0
elevada diversidade regional. Por exemplo, períodos pré e pós-represamentos são raros, que deve refletir, 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Idade
na planície alagável do alto rio Paraná, essas generalizações são limitadas. essencialmente, a fauna
lagoas marginais com áreas original encontrada no
inferiores a 0,2 km2 podem sistema. A riqueza média 280 2 b
Área (km )
conter até 30 espécies de diminui com o aumento 240 < 20
35
peixes, muitas não n = 77
da idade, e após 20 anos a 20,1 - 100

Riqueza de espécies
200 100,1 - 500
compartilhadas com outras 30
variabilidade também
Número de reservatórios

500,1 - 1000
160
lagoas, hábitats de rios e 25 diminui 1000,1 - 2000
> 2000
canais (OLIVEIRA; LUIZ; 20 consideravelmente, com 120
nd
AGOSTINHO; BENEDITO- 15 todos os valores de 80
CECÍLIO, 2001). Mais 10 riqueza convergindo para 40
impressionante, na planície 5 cerca de 20 espécies. 0
de inundação do rio 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Mamoré, bacia Amazônica,
1-20

21-40

41-60

61-80

81-100

101-120

121-140

141-160

161-180

181-200

201-220

221-240

241-260

>260

Entretanto, como já Idade


o número de espécies nas adiantado, a relação
lagoas marginais variou de Riqueza Total observada poderia ser, na Figura 3.2.2 - Relação entre a idade dos reservatórios e a riqueza de
espécies de peixes, destacando a influência das bacias
70 a 99 espécies (POUILLY; verdade, resultado da hidrográficas (a) e a área dos reservatórios (b). A área está
Figura 3.2.1 - Distribuição de freqüências do número total de dividida em classes, e nd significa “não determinada”. O número
YUNOKI; ROSALES; TORRES,
espécies de peixes observado nos reservatórios. influência de outras
de reservatórios analisados foi de 75.
2004). variáveis importantes,
80 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna de Reservatórios 81

Além disso, a relação negativa entre a idade diversidade sejam atenuados, aumentando as Numa escala temporal maior, parece maior escala espacial (longitudinais, em
e a riqueza se mantém mesmo quando diversidades alfa (local) e gama (regional). sobressair o efeito da idade, como demonstra grandes reservatórios), uma inevitável
consideramos somente a bacia do rio Paraná, Espera-se que após certo tempo, com o o fato de os valores de riqueza de espécies homogeneização da fauna entre
que obviamente possui a amostragem mais fortalecimento dos gradientes longitudinais tenderem a convergir para um valor comum reservatórios de uma mesma bacia,
representativa. (zonas fluvial, transição e lacustre) e mesmo em idades avançadas (20 espécies), como culminando no declínio da diversidade
transversais (litorânea, pelágica, braços de apresentado na Figura 3.2.2. Aliás, o padrão regional ao longo do tempo, parecem ser
Outra variável que poderia influenciar a tributários), a diversidade β volte a mostrar observado nessa figura, apesar de não acontecimentos generalizados com o
relação observada na Figura 3.2.2 é a área incrementos, como já demonstrado por testado estatisticamente, assemelha-se a um estabelecimento e envelhecimento de um
alagada do reservatório. Para o conjunto dos Amaral e Petrere Junior (1993), Agostinho, “efeito envelope” (GAUCH, Jr., 1982). Nesse tipo reservatório. Os reservatórios dispostos em
reservatórios, constata-se uma correlação Miranda, Bini, Gomes, Thomaz e Suzuki de relação, a dificuldade na predição em um série nos afluentes do alto rio Paraná
positiva entre a riqueza de espécies e a área (1999), Oliveira, Goulart e Minte-Vera (2004) dos extremos do gradiente, no caso, quando demonstram o efeito sinérgico adverso de
alagada (R = 0,51; F1;67 = 24,10; p < 0.00001), e Oliveira, Minte-Vera e Goulart (2005). os reservatórios são jovens, decorre da ação represamentos sobre a diversidade
apesar da moderada intensidade da relação. Porém, em comparação com períodos pré- de múltiplos fatores influenciando a variável ictiofaunística regional.
Essa correlação é mais forte com a remoção represamento, é esperada uma diminuição em questão. De maneira oposta, quando os
do reservatório de Serra da Mesa (R = 0,65; nas diversidades local e regional, por reservatórios envelhecem, a predição da
F1;66 = 49,41; p < 0.00001). No entanto, como envolver fugas e mesmo extinções locais de riqueza parece ser mais acurada. Abundância
evidenciado na Figura 3.2.2b, a área do várias espécies que não encontram no novo
reservatório parece não ter influenciado
decisivamente na relação entre idade e
ambiente as condições adequadas ao ciclo de Cabe a ressalva, no entanto, de que os A captura por unidade de esforço (CPUE) é
vida. reservatórios amostrados carecem de censos uma boa estimativa da abundância dos
riqueza, visto que o padrão se mantém amplos e, devido ao número de espécies ser recursos pesqueiros, sendo considerada um
quando analisamos separadamente a relação O quadro apresentado acima demonstra a uma medida muito dependente do esforço bom índice nas análises de variações
com reservatórios menores que 500 km2 complexidade dos processos de ocupação de amostral (GOTELLI; COLWELL, 2001), o número espaciais e temporais (KING, 1995). Se em um
(pontos abertos na figura) e reservatórios novos reservatórios e da colonização em real de espécies nesses ambientes só poderá determinado ambiente ou período são
maiores que 500 km2 (pontos fechados). longo prazo, e, portanto, a dificuldade em se ser conhecido com a intensificação do capturados 10 indivíduos por hora e em
Nesse caso, para um mesmo valor de idade, fazer previsões. As variáveis envolvidas são número de estudos, utilizando diferentes outro 20, pode-se supor que a abundância no
os reservatórios com áreas superiores a 500 muitas e as interações entre elas são aparelhos de pesca. Porém, apesar de a segundo seja o dobro daquela do primeiro.
km2 (pontos escuros) tenderam a apresentar contínuas e variadas. O grau de descoberta de outras espécies ter grandes Entretanto, o pressuposto da uniformidade
valores mais altos de riqueza de espécies. complexidade torna-se ainda mais relevante implicações ecológicas, não deverá aumentar do esforço deve ser atendido.
pela heterogeneidade de procedimentos substancialmente os valores já registrados,
A correlação positiva entre a riqueza de operacionais entre os reservatórios. Em visto que as primeiras amostragens (quando Lamentavelmente, nem todos os documentos
espécies e a área alagada pode ser explicada muitos deles a irregularidade temporal no bem conduzidas) costumam registrar a consultados mencionam o esforço amostral
pelo fato de que, quanto maior a área nível da água pode ser fonte de impactos maior parte da riqueza local (GOTELLI; utilizado, fato que prejudica de forma
inundada, um maior número de hábitats e adicionais que levam o processo sucessional COLWELL, 2001). Com a reunião de mais sistemática a comparação entre eles, a
áreas adjacentes serão atingidos pelo a ser abortado precocemente, antes que dados, incluindo outros reservatórios, formulação de sínteses de conhecimento e
represamento, possivelmente englobando alguma tendência de sucessão levantamentos atualizados e possivelmente uma melhor apreciação de impactos
mais espécies. Com isso, espera-se que no biologicamente regulada se instale. melhor padronizados, essa tendência poderá ambientais. Em muitas ocasiões, os dados de
primeiro momento, a diversidade β (entre ser verificada de forma mais adequada. CPUE foram extrapolados de figuras,
locais, diversidade observada em gradientes Área e idade parecem ser, no entanto, duas enquanto que em outras, foi necessário
ambientais; HARRISON; ROSS; LAWTON, 1992) variáveis relevantes determinando a riqueza Assim, a perda de gradientes espaciais de calculá-los com base em informações
diminua acentuadamente e gradientes de de espécies presente nesses ambientes. diversidade, a criação de gradientes em colhidas ao longo dos documentos,
82 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna de Reservatórios 83

procedimento que confere certo grau de influenciado a mensuração da CPUE, estrutural dos hábitats. Isso pode ser períodos de maior estabilidade das condições
incerteza aos resultados aqui apresentados. subestimando ou superestimando os valores atestado com o fato de os reservatórios da físico-químicas sejam atingidos. Mesmo
Ressalta-se, ainda, que as capturas podem ter reais. bacia Tietê, famosos pelo histórico de durante fases de maior estabilidade
sido subestimadas para alguns reservatórios eutrofização, apresentarem elevados valores ambiental abruptas alterações na abundância
em razão do uso de baterias de redes com destacar o reservatório de Lajes na bacia do de CPUE (maiores que 70). das espécies também podem ocorrer, como,
malhagens maiores que em outros. rio Paraíba do Sul (ARAÚJO; SANTOS, 2001), que por exemplo, durante variações bruscas no
apesar de muito antigo (quase 90 anos no Santos e Ferreira (1999) apresentam a nível do reservatório, tornando instáveis os
A captura por unidade de esforço (ind./100 período de estudo), apresentou valor elevado amplitude de CPUE, em número de hábitats de alimentação e desova, ou pelo
m2 de rede/24h) foi avaliada para 65 de CPUE (57,6). Uma possível razão para tal indivíduos, para diversos sistemas ingresso de poluentes orgânicos,
reservatórios e variou de 3,3 no reservatório valor seria a realização de pescarias amazônicos, variando de 0,7 a 62 ind./100 m2 promovendo a depleção nos teores de
de Taiaçupeba a 503 em Corumbá, ambos exclusivamente no período noturno, horário de rede/24h, valores próximos aos oxigênio e/ou a proliferação de algas
localizados na bacia do rio Paraná. No em que as capturas são sabidamente maiores. registrados nos reservatórios analisados. De tóxicas. Assim, um limite de densidade passa
reservatório de Corumbá, a elevada captura Além disso, na época de estudo houve uma forma similar, Agostinho, Júlio Júnior, a ser bastante variável e de difícil
de lambaris nos anos que sucederam ao seu explosão demográfica do cascudo Gomes, Bini e Agostinho (1997) reportam mensuração.
fechamento proporcionou esse valor Loricariichthys castaneus, que contribuiu em valores entre 20,8 e 69 ind./100 m2 de rede/
extraordinário de CPUE. elevar os valores de abundância total 24h para ambientes da planície de inundação É importante lembrar também que as
(Luciano N. dos Santos, comunicação do alto rio Paraná, demonstrando que as capturas apresentadas derivam da pesca com
A maior parte dos reservatórios apresentou pessoal). assembléias presentes nas lagoas (ambientes redes de espera, que é altamente seletiva.
CPUE inferior a 50 ind./100 m2 de rede/24h, lênticos) apresentam maior número de Indivíduos de pequeno porte geralmente não
sendo que poucos apresentaram valores Além disso, a abundância dos peixes parece indivíduos que aquelas dos rios (ambientes são amostrados de forma adequada com
acima de 100 (Figura 3.2.3). A CPUE média ser uma variável mais relacionada com o lóticos). No rio Jequitinhonha, bacia esses equipamentos, tendo, portanto, suas
foi de 52. Não houve correlação grau de trofia do corpo d’água, ou mesmo Atlântico Leste, Godinho, Godinho e Vono abundâncias subestimadas. Em alguns
estatisticamente significativa com a área e com o nível de desenvolvimento marginal/ (1999) também apresentam valores de CPUE reservatórios essa fauna tem importante
idade do represamento, próximos ao observado em reservatórios, contribuição em número de indivíduos e
apesar de a literatura com valor de 71,7 ind./100 m2 de rede/24h. riqueza de espécies. No reservatório de
destacar a queda nos seus Rosana, por exemplo, alguns estudos vêm
valores após fases iniciais 40
n = 65 Como assinalou Harris (1999), uma demonstrando que essa fauna é rica
tendência geral em ecossistemas é a de se
Número de reservatórios

de grande produtividade (representa mais de 30 % da riqueza total) e


primária, acentuando-se 30 desenvolverem até que o “ecoespaço” seja abundante, sendo, certamente, importante
com o envelhecimento preenchido pelos indivíduos, sendo este como elo nas teias tróficas (CASATTI; MENDES;
20
do reservatório (ver delimitado, em grande parte, pela FERREIRA, 2003; PELICICE; AGOSTINHO; THOMAZ,
AGOSTINHO; MIRANDA, BINI, 10 disponibilidade de energia e nutrientes. 2005).
GOMES, THOMAZ; SUZUKI, Considerando reservatórios como
1999). Nesse caso, 0 ecossistemas, o limite comum ao Com relação à CPUE em peso (CPUEp),
0-50

51-100

101-150

151-200

201-250

251-300

301-350

351-400

401-450

451-500

501-550

algumas desenvolvimento das assembléias de peixes avaliada em somente 44 dos reservatórios


particularidades, parece ser em torno de 50 ind./100 m2 de considerados, o valor médio observado foi
pertencentes a cada CPUEn rede/24h. Entretanto, devemos destacar que de 2,31 kg/100 m2 de rede/24 h, variando de
estudo e derivadas da as capturas observadas nos reservatórios 0,08 a 13,1 (Figura 3.2.4). Cerca de 90 %
Figura 3.2.3 - Distribuição de freqüências de CPUE em número de
falta de padronização nas 2
indivíduos (ind.100m de rede/24h), capturados com rede de mais novos podem ser transitórias e sujeitas apresentaram CPUE entre 1 e 4 kg, sendo os
espera nos reservatórios. ainda a grande variabilidade, até que
amostragens, podem ter maiores valores observados em Tucuruí,
84 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna de Reservatórios 85

Lajes e Porto Primavera, que é formada principalmente por lambaris, faunística, a equitabilidade (inverso da
o que indica a captura de mandis, acarás e outras espécies pequenas, dominância) tem sido registrada como muito
n = 44
indivíduos de maior 25 como será descrito adiante. Para baixa no reservatório de Samuel, bacia
porte, como algumas proporcionar altos valores, seria necessário Amazônica, pelo marcante predomínio de

Número de reservatórios
20
espécies de cascudos, um número de indivíduos descomunal, piranhas e maparás (SANTOS, 1995), e no de
corvina, piranhas, piaus, 15 acontecimento improvável. Espécies de Tucuruí, na bacia do rio Tocantins, pela
tucunarés e bagres. grande porte são geralmente representadas proliferação de piranhas e tucunarés (SANTOS;
Comparativamente, 10 pelas migradoras, como o dourado, o pacu e MÉRONA, 1996). No reservatório de Lajes, rio
Santos e Ferreira (1999) muitos bagres, que, como veremos, não são Paraíba do Sul, um cascudo do gênero
5
descrevem valores entre comuns nas assembléias de reservatórios. Loricariichthys contribuiu com mais de 80 %
1,50 e 21,8 para 0 das capturas (ARAÚJO; SANTOS, 2001).
0-2

11-12
3-4

9-10

13-14
5-6

7-8
ambientes não alterados
de sub-bacias
Riqueza e Composição
CPUEp Embora em ambientes naturais, aquáticos ou
amazônicas,
Figura 3.2.4 - Distribuição de freqüências de CPUE em peso
Dominante terrestres, a abundância também não seja
aparentemente 2
(kg/100m de rede/24h), avaliada com redes de espera nos eqüitativamente distribuída entre as
superiores ao dos
reservatórios,
reservatórios.
E m geral, o número de espécies espécies, sendo a maioria considerada como
dominantes (80 a 90 % da abundância total) rara, por apresentar baixo contingente
possivelmente relacionado à captura de biomassa e produtividade de peixes em foi baixo nas assembléias dos reservatórios populacional, pelo menos nas amostragens
grandes migradores, especialmente reservatórios. A produtividade do corpo avaliados, com variação total entre 2 e 22, e (DEWDNEY, 2003), essa tendência se acentua em
pimelodídeos. Na planície alagável do alto d’água parece ser o principal preditor, média de 6 espécies em cada assembléia. A ambientes alterados. Dessa forma, apesar de
Paraná, o intervalo de valores médios geralmente medida em termos de clorofila a, maior freqüência foi de assembléias com 3 ser um padrão naturalmente esperado, a
observado também é mais elevado, variando que é um indexador da biomassa ou 4 espécies dominantes, sendo, entretanto, distribuição desigual do número de
entre 4,64 e 6,84 (AGOSTINHO; JÚLIO JUNIOR; fitoplanctônica do reservatório (GOMES; freqüentes aquelas com até 10 (Figura 3.2.5). indivíduos entre as espécies foi bem
GOMES; BINI; AGOSTINHO, 1997). No rio MIRANDA; AGOSTINHO, 2002; PIANA; GASPAR DA
Jequitinhonha, Godinho, Godinho e Vono LUZ; PELICICE; COSTA; GOMES; AGOSTINHO, 2005). Como já mencionado, a
(1999) também apresentam valores de Elevados valores de clorofila a têm-se dominância da
CPUEp mais elevados, de 7,4 kg/100 m2 de correlacionado positivamente com a assembléia por um baixo n = 77
20
rede/24 h. Baixos valores de CPUEp nos biomassa de peixes. Como o consumo de número de espécies é

Número de reservatórios
reservatórios estão associados à captura de algas planctônicas não é uma estratégia fenômeno recorrente em 15
espécies de médio a pequeno porte, em geral difundida entre as espécies de peixes reservatórios, onde
sedentárias. Por exemplo, o peso somado de neotropicais, as vias principais de espécies de 10
mais de 300 lambaris pode equivaler ao peso assimilação dessa fatia de energia devem ser comportamento flexível
de um único indivíduo adulto de uma (i) o consumo direto de detritos produzidos (oportunistas) se 5

espécie de grande porte, como um pintado pelas algas e (ii) o consumo de invertebrados adaptam melhor ao novo
0
ou um dourado. que se alimentam das algas ou dos detritos ambiente e conseguem

1-2

3-4

5-6

7-8

9-10

11-12

13-14

15-16

17-18

19-20

21-22
por elas gerados. sobrepujar
Entretanto, além desse caráter específico na numericamente as Riqueza Dominante
determinação de valores de CPUEp, estudos Mesmo assim, os menores valores de CPUEp demais. Com marcante Figura 3.2.5 - Distribuição de freqüências do número de espécies
recentes têm evidenciado outros em reservatórios estão fortemente reflexo na maioria dos dominantes nas assembléias, que representaram cerca de 80 a
90% das capturas totais.
determinantes (diretos ou indiretos) da associados à composição específica da fauna, índices de diversidade
86 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna de Reservatórios 87

acentuada nos As outras espécies com


reservatórios, 18 elevadas freqüências de 50
16 n = 77
possivelmente pelos n = 77 ocorrência foram o acará 40

Número de reservatórios
14
menores valores de riqueza Geophagus brasiliensis, o

Reservatórios (%)
12
total. Nos reservatórios mandi Pimelodus 30
10
avaliados, em média, 25 % maculatus e a corvina P. 20
8
das espécies de uma squamosissimus, todas
6
assembléia contribuem pertencentes ao grupo 10
4
com mais de 80% da dominante em 33 % dos
2 0
abundância total. O reservatórios (Figura

A. altiparanae
G. brasiliensis
P. maculatus
P. squamosissimus
A. fasciatus
I. labrosus
S.maculatus
A. affinis
Astyanax sp b
M. intermedia
S. nasutus
S. insculpta
C. modesta
Astyanax sp c
C. monoculus
O. longirotris
0
0-5 3.2.7). Essas espécies
6-10

11-15

16-20

21-25

26-30

31-35

36-40

41-45

46-50

51-55

56-60
percentual dessas espécies
variou entre 4 a 56% do povoam principalmente
% de Espécies Dominantes
número de espécies no os represamentos do Sul/
local, sendo que as maiores Figura 3.2.6 - Distribuição de freqüências do percentual de Sudeste (bacias do rio
Espécies Dominantes
freqüências observadas espécies dominando as assembléias, que representaram Paraná e Atlântico Sul).
cerca de 80 a 90% das capturas totais.
foram de 16 a 25 % Figura 3.2.7 - Ocorrência das espécies dominantes nos
(Figura 3.2.6). O acará, ainda com reservatórios, que contribuíram com 80 a 90 % da abundância
total.
reservatórios analisados (Figura 3.2.7). Esse é identificação imprecisa,
Considerando os 77 reservatórios um lambari de pequeno porte, alcançando tem pequeno porte (até
inventariados, as espécies dominantes com comprimento padrão máximo de 14,2 cm e 23,0 cm de comprimento padrão), cuida da ocorrência em reservatórios, estudos mais
maior ocorrência nas assembléias maturidade aos 4,2 cm (SUZUKI; VAZZOLER; prole e reproduz nas áreas litorâneas dos específicos podem revelar se essa espécie
pertenceram a diferentes categorias MARQUES; PEREZ LIZAMA; INADA, 2004). Comum reservatórios. Tem hábito bentônico, com desova em áreas próximas aos reservatórios,
taxonômicas, destacando-se as famílias em todos os sistemas do alto rio Paraná, tem dieta flexível e tendência à insetivoria não requerendo longos trechos em seu
Characidae, Parodontidae, Anostomidae, hábito alimentar generalista, podendo (ARCIFA; FROEHLICH; NORTHCOTE, 1988), deslocamento reprodutivo. Tem ovócitos
Curimatidae (ordem Characiformes), apresentar tendências à invertivoria (HAHN; detritivoria (ARCIFA; MESCHIATTI, 1993) ou muito pequenos e de rápido
Pimelodidae (ordem Siluriformes), Cichlidae FUGI; ANDRIAN, 2004), herbivoria ou onivoria onivoria (ABELHA; GOULART, 2004). Tem desenvolvimento, reproduzindo
e Sciaenidae (ordem Perciformes). A elevada (LUZ-AGOSTINHO; BINI; FUGI; AGOSTINHO; JÚLIO importância na pesca artesanal de vários principalmente em rios durante a primavera
ocorrência dessas espécies é obviamente JÚNIOR, 2006), conforme o reservatório reservatórios da bacia do rio Paraná. e início do verão (SUZUKI; VAZZOLER; MARQUES;
influenciada pelas bacias hidrográficas, já considerado. É capaz de reproduzir em PEREZ LIZAMA; INADA, 2004). Está entre as

que a maior parte das observações é da bacia ambientes variados, especialmente lênticos, O mandi, por outro lado, é uma espécie de espécies mais importantes na pesca artesanal
do rio Paraná. São espécies de pequeno a com fecundação externa, ovos pequenos e de médio porte, alcançando até 36,0 cm de dos reservatórios da bacia do rio Paraná.
médio porte, sedentárias, residentes na rápido desenvolvimento (NAKATANI; comprimento padrão e atingindo a
região litorânea e com hábitos generalistas AGOSTINHO, BAUMGARTNER; BIALETZKI; SANCHES; maturidade aos 16,0 cm (SUZUKI; VAZZOLER; A corvina, como já mencionado, não é nativa
quanto à alimentação e menos exigentes MAKRAKIS; PAVANELLI, 2001), apresentando MARQUES; PEREZ LIZAMA; INADA, 2004). Tem na maioria dos reservatórios em que figura
quanto à reprodução. A freqüência de período reprodutivo que se estende por toda hábito onívoro, ingerindo de detritos a entre as dominantes. A pré-adaptação à
ocorrência das principais espécies a primavera e verão (SUZUKI; VAZZOLER; peixes (LUZ-AGOSTINHO; BINI; FUGI; AGOSTINHO; reprodução em ambientes lênticos, como
dominantes está apresentada na Figura 3.2.7. MARQUES; PEREZ LIZAMA; INADA, 2004). Tais JÚLIO JÚNIOR, 2006). Tem sido considerado desovas parceladas na maior parte do ano,
características, sem dúvida, estão migrador por muitos autores (GODINHO, 1984; ovos pelágicos, pequenos e de
A mais freqüente foi Astyanax altiparanae, relacionadas à capacidade de essa espécie AGOSTINHO; GOMES; SUZUKI; JÚLIO JÚNIOR, c2003), desenvolvimento rápido (NAKATANI;
presente entre as dominantes em 44 % dos proliferar em reservatórios. mas, a julgar pela sua alta abundância e AGOSTINHO, BAUMGARTNER; BIALETZKI; SANCHES;
88 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna de Reservatórios 89

MAKRAKIS; PAVANELLI, 2001), capacidade de de insetos em meio ao sedimento. Já a colonização do reservatório. Essa capacidade de se reproduzir nesse ambiente
ocupar hábitats variados (zona pelágica, piranha, que atinge 26,1 cm de comprimento plasticidade, presente em diferentes graus pode ser decisiva na determinação de
litorânea e profunda; AGOSTINHO; MIRANDA; padrão e matura aos 10,8 cm (SUZUKI; nas espécies citadas anteriormente, diminui a dominâncias.
BINI; GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999) e seu hábito VAZZOLER; MARQUES; PEREZ LIZAMA; INADA, exigência por hábitats e condições específicas
piscívoro em ambiente rico em espécies 2004), reproduz em águas calmas ou paradas para postura de ovos e desenvolvimento No intuito de identificar padrões de
forrageiras (HAHN; AGOSTINHO; GOITEIN, 1997) durante a primavera-verão, mostrando inicial dos jovens. Esse comportamento é composição da assembléia dominante nos
lhe facultam vantagem na colonização de cuidado parental, geralmente em áreas característico de algumas das espécies represamentos, foi realizada uma análise de
reservatórios. Destaca-se pela contribuição abrigadas por macrófitas. Alimenta-se de sedentárias, como pequenos caracídeos, ordenação multivariada. O método
que tem na pesca artesanal e amadora em nadadeiras ou músculos que arranca de piranhas e acarás, sendo extremamente empregado foi a Análise de Correspondência
vários reservatórios brasileiros. outros peixes, além de insetos e plantas importante, pois permite que o ciclo (CA) (McCUNE; GRACE; URBAN, c2002), aplicada a
(HAHN; FUGI; ANDRIAN, 2004). reprodutivo seja completado, da postura ao dados de presença/ausência de gêneros de
Outras espécies também apresentaram alta recrutamento populacional, em diferentes peixes em 76 reservatórios (um reservatório
ocorrência na condição de dominantes, como As demais espécies dominantes têm condições ambientais. Diferentemente, o apresentou elevada influência e foi excluído
o lambari Astyanax fasciatus, o mandi- primariamente pequeno porte, típicas de requerimento de hábitats particulares para da análise; outlier). A opção pela ordenação
beiçudo Iheringichthys labrosus e a piranha hábitats litorâneos estruturados (com a desova e desenvolvimento inicial, hábito das assembléias utilizando somente os
Serrassalmus maculatus, presentes como presença de plantas aquáticas e troncos), com característico de espécies migradoras, gêneros foi devido ao baixo número de
dominantes em mais de 18 % dos hábito alimentar onívoro, detritívoro ou certamente contribui para a diminuição das espécies dominantes em cada reservatório
reservatórios, principalmente na bacia do piscívoro. Em relação ao porte, a exceção é o densidades dessas espécies em ambientes (Figura 3.2.5), o que torna a ordenação difícil,
Paraná. A primeira tem características tucunaré Cichla monoculus, espécie amazônica represados. Além disso, as migradoras dado o caráter idiossincrático de cada
morfológicas/comportamentais muito introduzida nas bacias do Sul/Sudeste, que necessitam de “gatilhos ambientais” para unidade observacional (reservatório), se
semelhantes às da sua congenérica A. pode ultrapassar 60 cm de comprimento. que o ciclo reprodutivo se inicie, considerássemos a ordenação com espécies.
altiparanae, partilhando com ela características Abundante em reservatórios amazônicos, estimulando a maturação gonadal. Apesar de
como pequeno porte, período de desova, onde é nativa, aparece pouco nas capturas diversos gatilhos atuarem em conjunto, um Optamos pela interpretação somente do
tamanho de ovócito e dieta onívora. O com redes. Mesmo assim, figura entre as dos mais importantes é a elevação do nível primeiro eixo (autovalor = 0,53), devido a
mandi-beiçudo, com comprimento padrão de dominantes em pelo menos 10 % dos hidrométrico do rio na época chuvosa, este considerar a maior variabilidade, ou
até 27,6 cm e maturidade aos 12,3 cm, desova reservatórios analisados. É uma espécie que fenômeno que é profundamente alterado seja, o padrão mais evidente, que é o
em ambientes variados, incluindo ambientes constrói seu ninho nas áreas litorâneas dos com o represamento. objetivo deste capítulo (McCUNE; GRACE; URBAN,
lênticos (SUZUKI; VAZZOLER; MARQUES; PEREZ reservatórios e cuida da prole durante as c2002). O primeiro eixo sumarizou um
LIZAMA; INADA, 2004), tem fecundação externa fases iniciais de desenvolvimento. Tem forte Como já descrito em sínteses passadas gradiente geográfico de norte a sul do país
e ovócitos pequenos. Tem hábito alimentar interesse para a pesca esportiva, sendo (AGOSTINHO; VAZZOLER; THOMAZ, 1995; ARAÚJO- (Figura 3.2.8a), que na verdade, indica a
invertívoro (HAHN; FUGI; ANDRIAN, 2004), atribuída aos pescadores com ela envolvidos LIMA; AGOSTINHO; FABRÉ, 1995), a ictiofauna atuação de fatores regionais e históricos na
selecionando seu alimento no fundo, a sua disseminação na bacia do rio Paraná. dominante de reservatórios é composta por determinação da composição de gêneros das
apresentando comportamento bentônico, Nos locais onde foi introduzido, seu hábito espécies sedentárias de pequeno porte, que assembléias. Os reservatórios da bacia
semelhante a P. maculatus. Apresenta piscívoro, extremamente voraz, vem exibem grande plasticidade trófica e são, Amazônica, Tocantins e Nordeste
reduzida variação na dieta entre ambientes ameaçando, em conjunto com a corvina, os assim, mais propensas a colonizar concentraram-se em um extremo do
distintos, no que deve contribuir a sua estoques de peixes de pequeno porte (SANTOS; eficientemente o novo ecossistema. A gradiente, tendo sua fauna dominante
morfologia bucal (FUGI; HAHN; AGOSTINHO, MAIA-BARBOSA; VIEIRA; LÓPEZ, 1994). capacidade de realização de todo o ciclo composta por gêneros característicos da
1996; ABES; AGOSTINHO; OKADA; GOMES, 2001). reprodutivo dentro do reservatório é uma região, como Bryconops, Catoprion,
Aproveita, no entanto, um recurso muito Cabe ressaltar ainda o papel da plasticidade característica que certamente garante a Serrassalmus, Hemiodus, Hemiodopsis,
abundante nos reservatórios, ou seja, larvas reprodutiva durante o processo de perpetuação da espécie. Inclusive, a Hydrolicus, Ageneiosus, Semaprochilodus, Cichla,
90 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna de Reservatórios 91

dentre outros (Figura Os reservatórios do rio


3.2.8b). É importante Grande, Paranapanema e 400
400 a Tributários (Ivai, Tibagi e Piquiri)
Amazônica São Francisco
ressaltar que, nesses alto Paraná Alto Paraná
Tocantins Leste 300
reservatórios, foi 300 (considerandos, neste Tietê
Açudes Paraná Grande
observada a maior 200
Sul caso, os reservatórios 200 Paranapanema
Iguaçu
participação de espécies localizados na calha do

CA 2
100

CA 2
100
migradoras como rio Paraná a montante de
dominantes na assembléia, 0 Itaipu, incluindo o rio 0
principalmente em Tucuruí Paranaíba) apresentaram
-100
e Serra da Mesa, como assembléias dominantes -100
Norte/Nordeste
Prochilodus nigricans, -200 Sudeste/Sul mais semelhantes entre
-200
Sorubim lima, -300 -200 -100 0 100 200 300 si, em termos de gêneros. -150 -100 -50 0 50 100 150 200 250 300

Semaprochilodus brama e CA 1 Algumas espécies CA 1

espécies do gênero Brycon. dominantes tiveram Figura 3.2.9 - Análise de Correspondência com dados de
Bryconops Triportheus b
1200 Catoprion
Hemiodopsis
Hydrolicus Auchenipterus
Hypothtalmus
Prochilodus
Hemigramus
Tilapia
Deuterodon grande ocorrência nos presença/ausência de gêneros dominantes em reservatórios da
1000 Anodus
Argonectes Brycon Phaloceros bacia do rio Paraná, evidenciando a ordenação das sub-bacias.
No extremo oposto do Curimata
Hassar
Pigocentrus
Semaprochilodus
Cynodon
Rhaphiodon Salminus Rhamdia
Mimagoniates
reservatórios dessas
800 Lycengraulis Sorubim Acestrorhyncus
gradiente, estão os 600
Oxydoras Bouengerela
Hemiodus
Astronotus
sub-bacias, como o
Psectogaster Ageneiosus Characidium
reservatórios da bacia do 400
Poecilia
Geophagus canivete Apareiodon affinis, o lambari A. assembléia foi de certa forma semelhante à
Sul (Figura 3.2.8a), altiparanae, o mandi-beiçudo I. labrosus, o das sub-bacias citadas anteriormente. As
CA 2

200
caracterizados pela grande 0 mandi P. maculatus e a corvina P. espécies de ocorrência mais generalizada
Hemisorubim
dominância de lambaris do -200 Astyanax
Parauchenipterus Myleus
Pterodoras squamosissimus. foram os lambaris A. altiparanae e A. fasciatus,
Loricaria Loricarichthys
-400 Trachydoras Pterodoras Parodon
gênero Deuterodon, seguido Serrassalmus
Plagioscium
Roeboides
Iheringichthys Hoplias
Crenicichla
Satanoperca Oligossarcus o sagüiru Cyphocharax modestus, o acará G.
-600 Schizodon Apareiodon Galeocharax Glanidium
do acará Geophagus. As -800
Leporinus
Cichla
Steindachnerina
Pimelodus
Cichlasoma
Hoplosternum Moenkhausia
Cyphocharax
Corydoras
Bryconamericus No rio Paranapanema, a pequira Moenkhausia brasiliensis, a corvina P. squamosissimus e a
Metynnis Oreochromis Hypostomus Psalidodon
espécies do primeiro ainda Callichthys Hyphessobrycon
intermedia e a piranha S. maculatus também piranha S. maculatus.
-800 -600 -400 -200 0 200 400 600
estão sendo descritas, tiveram alta ocorrência como dominantes.
CA1
sendo todas lambaris de No rio Grande, destacaram-se o sagüiru O lado direito da ordenação foi ocupado,
pequeno porte. Figura 3.2.8 - Análise de Correspondência (CA) com dados de Steindachnerina insculpta, o campineiro principalmente, pelos reservatórios do rio
presença/ausência de gêneros dominantes em 67 Schizodon nasutus e o lambari A. fasciatus. No Iguaçu e dos tributários dos trechos mais ao
reservatórios, localizados em diferentes bacias hidrográficas. A
As bacias do Paraná e Leste figura apresenta a ordenação dos locais (a) e dos gêneros (b). alto Paraná, a assembléia dominante foi mais sul da bacia (Ivaí, Piquiri e Tibagi). A
se sobrepuseram, inclusive variada entre reservatórios, mas podemos assembléia dominante dos Tributários foi
com a do Sul (Figura destacar as maiores ocorrências do piau formada, em geral, por poucas espécies,
3.2.8a), por partilharem gêneros de espécies Os reservatórios da bacia do Paraná, Leporinus friderici e do curimba Prochilodus sendo as de maior ocorrência os lambaris A.
em comum. Reservatórios da bacia Leste presentes em maior número, apresentaram- lineatus. Como padrão recorrente, com altiparanae, A. scabripinnis, a pequira
foram caracterizados principalmente pela se de certa forma difusos na ordenação. Para exceção do curimba, espécies migradoras Bryconamericus iheringii e o peixe-cachorro O.
dominância de lambaris Astyanax, traíras melhor explorar esse comportamento, que raramente estiveram entre as dominantes. paranensis. Os lambaris, todos ainda não
Hoplias, peixe-cachorro Oligosarcus, acarás deve estar sendo influenciado por fatores descritos pela ciência, também dominaram a
Geophagus e tamboatás Hoplosternum, todas temporais (idade), regionais (históricos) e Os reservatórios da sub-bacia Tietê fauna dos reservatórios do rio Iguaçu, sendo
de pequeno a médio porte, sedentárias e locais (hábitats), a Figura 3.2.9 apresenta a estiveram mais difusos na ordenação. Porém, seguidos pelo acará G. brasiliensis e de uma
habitantes de regiões marginais com elevada ordenação somente dos reservatórios dessa apesar de a assembléia dominante ter espécie endêmica de peixe-cachorro, O.
estruturação física do hábitat. bacia, evidenciando as sub-bacias existentes. variado entre os reservatórios, essa longirostris. Devido ao caráter endêmico de
92 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna de Reservatórios 93

grande parte das espécies encontradas nessa suas maiores participações, já que são todas A ocorrência de espécies
bacia, ela tendeu a ser mais distinta. de porte considerável. O fato de a maioria migradoras na fauna 100
delas ser piscívora ou frugívora as torna dominante dos 90 n = 77 reservatórios
A influência dos gêneros na ordenação dos apreciadas sobremaneira pelo mercado da reservatórios analisados 80
reservatórios pode ser checada na Figura pesca. Espécies com esses hábitos atesta sua raridade 70
3.2.8b, enquanto que a composição da

Reservatórios (%)
alimentares tendem a apresentar sabor e nesses ambientes. Mais 60
assembléia dominante em cada reservatório textura da carne mais agradável (GOULDING; de 50% dos reservatórios
50
pode ser observada em detalhes no final SMITH; MAHAR, 1996). Com isso, a pesca em analisados não têm
40
desse capítulo (APÊNDICE B). sistemas lóticos pode ser baseada espécies migradoras
30
exclusivamente nessas espécies (PETRERE como componentes de
Com essas análises, fica evidente que os JUNIOR; AGOSTINHO; OKADA; JÚLIO JÚNIOR, 2002). sua fauna dominante
20

reservatórios seguem padrões definidos de (Figura 3.2.10), e


10

composição de espécies (ou gêneros), Muito se cogita a respeito do somente 27% têm uma
0
0 1 2 3 4 5
dependentes da bacia e sub-bacia nas quais desaparecimento dos grandes migradores espécie migradora entre Número de Espécies Migradoras
estão inseridos. Tal fenômeno é reflexo direto após o represamento de rios. Na verdade, o as dominantes. Poucos
da fauna preexistente, que é a matriz onde as desaparecimento dessas espécies tem sido reservatórios Figura 3.2.10 - Distribuição de freqüências do número de espécies
migradoras presente na fauna dominante dos reservatórios.
influências decorrentes do represamento irão registrado tanto em inventários baseados na apresentaram mais do
atuar. Diferenças imprevisíveis e de difícil pesca experimental científica, quanto na que duas espécies
explicação estão associadas a eventos de pesca comercial e recreativa, como será migradoras entre as dominantes (Figura das principais em tributários do
ordem local, alguns inclusive de ocorrência descrito no Capítulo 5. De fato, os resultados 3.2.10), indicando que as espécies mais reservatório de Volta Grande (bacia do rio
estocástica, dependentes do contexto e do provenientes dos 77 reservatórios abundantes nas assembléias são realmente Grande), mas ressalta que não a encontrou
histórico do represamento. Dessa maneira, a inventariados com pesca experimental as sedentárias. em atividade reprodutiva nestes ambientes.
ictiofauna que observamos nos reservatórios confirmam essa tendência. Tendo como base Já no reservatório de Corumbá (bacia do rio
nada mais é do que uma versão depauperada a classificação contida em Carolsfeld, Os gêneros identificados como migradores, Paranaíba), o mandi foi observado em
e modificada da fauna original. Harvey, Ross e Baer (c2003), das 159 espécies bem como suas ocorrências na fauna atividade reprodutiva a jusante e montante
de peixes registradas como dominantes dominante nos reservatórios analisados, do reservatório, além dos tributários (DEI
(APÊNDICE B), somente 22 foram estão apresentados na Figura 3.2.11. Entre TOS; BARBIERI; AGOSTINHO; GOMES; SUZUKI, 2002).
Espécies Migradoras
consideradas grandes migradoras. Além eles, o de maior ocorrência foi Pimelodus, É possível que, como já mencionado, a
disso, cabe ressaltar que algumas espécies devido à ampla distribuição do mandi P. espécie requeira trechos livres
N as grandes bacias hidrográficas sul- não apresentam comportamento migratório maculatus nesses reservatórios. Contudo, relativamente curtos para a migração
americanas, as espécies mais conspícuas da bem caracterizado, e que há diferenças no como destacado anteriormente, seria reprodutiva, como o de pequenos
ictiofauna são as migradoras (AGOSTINHO; comportamento de uma mesma espécie entre necessária uma melhor avaliação do tributários laterais, e que o período
JÚLIO JÚNIOR, 1999; SANTOS; FERREIRA, 1999; SATO; bacias hidrográficas diferentes. Migrações de comportamento reprodutivo dessa espécie demandado para os processos de maturação,
GODINHO, 1999; capítulos em CAROLSFELD; mapará foram relatadas por Carvalho e em reservatórios, já que apresenta desova e recuperação das gônadas seja
HARVEY; ROSS; BAER, c2003), visto que entre Mérona (1986) e Araújo-Lima e Ruffino populações viáveis em um grande número curto.
estas estão incluídas quase todas as de grande (c2003) nas bacias do Norte do país, enquanto deles, incluindo aqueles dos rios Tietê e
porte. Embora algumas tenham contribuição que no reservatório de Itaipu essa espécie Grande, onde a disposição em séries O segundo gênero migrador de maior
relevante no número de indivíduos, como é realiza todo o seu ciclo de vida dentro dos contínuas faz com que os trechos livres a ocorrência (~10 %) na fauna dominante foi
o caso de curimbas Prochilodus e jaraquis limites represados (AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; montante sejam curtos ou inexistentes. Prochilodus, o curimba, que inclui espécies
Semaprochilodus, é na biomassa que elas têm GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999). Braga (2000) registra essa espécie como uma detritívoras. Apesar de utilizar recursos
94 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna de Reservatórios 95

alimentares abundantes Tendo como base a


na área represada, 40 ictiofauna de sete 100
35 n = 77
necessita de tributários e reservatórios, Araújo-

Reservatórios (%)
30
80
lagoas marginais para 25 Lima, Agostinho e Fabré

Reservatórios (%)
desova e 20 (1995) registraram como
15 60
desenvolvimento dos mais especiosas as
10
alevinos (AGOSTINHO; 5 categorias onívora e a 40
VAZZOLER; GOMES; OKADA, 0 carnívora. No presente

Pimelodus

Prochilodus

Myleus

Ageneiosus

Metynnis

Brycon

Hydrolicus

Leporinus

Salminus

Hemisorubim

Hypophtalmus

Pterodoras

Semaprochilodus

Sorubim
1993). Sem o acesso a inventário, 20

esses hábitats superiores, consideravelmente mais


as espécies desse gênero extensivo, porém 0

Onívora

Piscívora

Herbívora

Carnívora

Invertívora

Planctófaga
Detritívora/
iliófagas
correm grande risco de restrito às espécies
Gêneros
não completar seu ciclo dominantes, a categoria
de vida. Figura 3.2.11 - Ocorrência de gêneros de grandes migradores na trófica de maior Categorias Tróficas
fauna dominante nos reservatórios analisados. ocorrência foi, como Figura 3.2.12 - Ocorrência das diferentes categorias tróficas na
esperado, a dos assembléia dominante dos 77 reservatórios analisados.
Pacus de médio porte do
gênero Myleus vêm em seguida, ocorrendo remanescentes retidos nas regiões a onívoros, presente na
na fauna dominante em quase 7 % dos montante do reservatório e que não ictiofauna dominante de quase todos os 77 Espécies com hábito carnívoro e invertívoro,
reservatórios. Há, entretanto, dúvidas de conseguem mais retornar para as porções reservatórios (Figura 3.2.12). Entre os além das planctívoras, não foram tão comuns
que as espécies desse gênero requeiram inferiores, nem alcançar tributários lóticos onívoros com alta ocorrência destacam-se entre as dominantes (Figura 3.2.12). A
grandes trechos livres para superiores (na existência de cascatas de espécies dos gêneros Astyanax, Geophagus e categoria planctófaga, por exemplo,
complementação de seu ciclo de vida. Os reservatórios). Pimelodus. participou da fauna dominante em somente
demais gêneros raramente estiveram 2,6 % dos reservatórios, confirmando a
presentes entre os mais abundantes, sendo Em seguida, também com elevada tendência de baixa relevância dessa categoria
registrados como tal em menos de 4% dos
Estrutura Trófica ocorrência (superior a 50 %) vêm as trófica em águas neotropicais.
reservatórios analisados (Figura 3.2.11). categorias piscívora, detritívora/iliófaga e
Mesmo assim, é possível que os gêneros O s principais recursos consumidos em herbívora. Dentre os piscívoros, A Figura 3.2.13 apresenta em detalhes a
representatividade de cada categoria trófica,
Ageneiosus, Metynnis e Hypophthalmus reservatórios são os de origem interna, destacaram-se os gêneros Serrassalmus,
incluam espécies não-migradoras ou com autóctones, como zooplâncton, insetos, Plagioscion, Oligossarcus e Cichla. É entre as espécies dominantes, em todos os 77
alta flexibilidade em relação à demanda por outros invertebrados aquáticos, detritos e necessário ressaltar que, devido à reservatórios. Novamente, destacam-se o
espaço. peixes. Em termos de número e biomassa, plasticidade no hábito alimentar, alguns baixo número de espécies e a baixa
espécies que consomem esses recursos piscívoros podem incluir outros itens de ocorrência nos reservatórios das categorias
Questão importante a ser investigada é se as prevalecem (AGOSTINHO; ZALEWSKI, 1995; origem animal. carnívora, invertívora e planctófaga.
espécies migradoras estão conseguindo ARAÚJO-LIMA; AGOSTINHO; FABRÉ, 1995). Apenas uma espécie de planctófagos foi
sobreviver em hábitats de regiões a Entretanto, esses itens são raramente Dentre as detritívoras/iliófagas, espécies registrada entre as mais abundantes em cada
montante dos represamentos, ou se estão consumidos de forma restrita por táxons dos gêneros Apareiodon, Cyphocharax, assembléia. Os carnívoros se fizeram
sendo de fato localmente extintas. A simples especialistas, sendo a ingestão de diferentes Steindachnerina e Prochilodus foram as representar com até duas espécies entre as
presença dessas espécies não caracteriza a itens, geralmente os de maior prevalentes, em ocorrência. Já entre as dominantes nas assembléias e os
existência de populações viáveis. Esses disponibilidade, o padrão de dieta mais herbívoras destacaram-se espécies de invertívoros com até quatro, mas todas em
indivíduos podem ser, na verdade, comum (onivoria). Astyanax, Myleus, Metynnis e Schizodon. um número reduzido de reservatórios.
96 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna de Reservatórios 97

Os herbívoros tiveram até três espécies Já a distribuição dos onívoros confirmou seu sucesso na instalação de ambientes alterados. peixes (efeito top down; PELICICE; ABUJANRA;
dominantes em uma mesma assembléia, caráter bem-sucedido na ocupação de Essa estratégia permite que maximizem a FUGI; LATINI; GOMES; AGOSTINHO, 2005).
sendo que pelo menos uma ocorreu em mais reservatórios, com elevada ocorrência de até aquisição de energia de acordo com a oferta
de 45 % dos reservatórios. 3 espécies dominantes por assembléia. Além e qualidade do alimento, Entretanto, para que uma espécie com
disso, quase 15 % dos reservatórios têm 4 independentemente da magnitude das grande plasticidade ou com pré-adaptações
As categorias com maior número de espécies espécies onívoras entre as dominantes. variações temporais e espaciais. Tais espécies adequadas na dieta consiga colonizar um
dominantes em uma única assembléia foram são, no entanto, de médio a pequeno porte, novo ambiente é importante também que
a detritívora/iliófaga, a onívora e a Esses resultados evidenciam ainda mais o representando pouco na biomassa total. mostre flexibilidade na reprodução ou tenha
piscívora, com até 5, 6 e 11 espécies, padrão de elevada freqüência de onívoros, pré-adaptações reprodutivas adequadas às
respectivamente. Com relação às piscívoros e detritívoros dominando as A detritivoria, uma estratégia alimentar condições que se instalaram. Como as
detritívoras e piscívoras, mais de 20 % dos assembléias de reservatórios, tanto em conservativa, dado que o grupo de peixes estratégias reprodutivas são, em geral, mais
reservatórios têm de 2 a 3 espécies entre as número de indivíduos quanto de espécies. que a apresenta mostra uma série de conservativas que as alimentares, a pré-
dominantes, e mais de 37 % deles adaptações morfológicas para esta dieta adaptação reprodutiva é mais relevante para
apresentaram pelo menos uma, sendo O consumo oportunista, característico dos (lábios, faringe, estômago, intestino), pouco uma colonização bem sucedida. Desovas
portanto, grupos bem característicos. onívoros, é uma estratégia importante para o adequadas a outros tipos de alimento, é bem- parceladas, ovos pequenos e de
sucedida em reservatórios. desenvolvimento rápido ou cuidado com a
Com o alagamento de grande quantidade de prole, como visto, parecem ser componentes
80 80 80 fitomassa terrestre, a produção de detritos é da estratégia reprodutiva adequados à
contínua e de grande magnitude, pelo menos reprodução em reservatórios.
Reservatórios

Reservatórios

Reservatórios

60 60 60
40 40 40 nos primeiros anos. Além disso,
procedimentos operacionais das barragens,
20 20 20
que provoquem depleções prolongadas no
Considerações finais
0 0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1112 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1112 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1112
nível da água, podem favorecer o
Carnívoros Detritívoros/Iliófagos Herbívoros
crescimento de gramíneas e outras plantas A lém da óbvia alteração paisagística,
80 80 80 nas regiões litorâneas, que, com a reservatórios são responsáveis por diversas
Reservatórios

Reservatórios

Reservatórios

60 60 60 submersão, contribuem sobremaneira para a modificações não tão evidentes, que somente
40 40 40 produção de detritos. estudos específicos ou monitoramentos são
20 20 20 capazes de evidenciar. Assim, a criação de
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1112
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1112
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1112
A elevada freqüência de piscívoros é um uma nova dinâmica hidrológica traz consigo
Invertívoros Onívoros Piscívoros padrão recorrente em reservatórios. A implicações de ordem limnológica que, por
proliferação de espécies oportunistas, que, si sós, são passiveis de grande preocupação
80
como visto, são geralmente de pequeno porte, social, econômica e ambiental (TUNDISI;
Reservatórios

60
é um recurso alimentar importante nesse tipo MATSUMURA-TUNDISI; CALIJURI, c1993).
40
de ambiente. Essa alta participação de Entretanto, além da inquietação manifestada
20
piscívoros tem estimulado o aparecimento de em diferentes setores sociais e econômicos,
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1112 hipóteses acerca da dinâmica e funcionamento muitos pesquisadores vêm também
Planctófagos
desses sistemas, nos quais a predação poderia, alertando para os efeitos dos represamentos,
Figura 3.2.13 - Representatividade das diferentes categorias tróficas nos 77 reservatórios em alguns casos, exercer papel decisivo na especialmente aqueles em cascatas, sobre a
analisados, considerando apenas as espécies dominantes nas assembléias. A figura determinação da riqueza total de espécies, biodiversidade regional (AGOSTINHO;
apresenta a riqueza de espécies entre as categorias e sua ocorrência nos reservatórios.
além de exercer controle na biomassa de THOMAZ; GOMES, 2004).
98 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Ictiofauna de Reservatórios 99

de 80 a 90% do número total capturado em cada um). As fontes dessas informações estão referenciadas na Tabela 3.2.1. Códigos:

NORTE, 6 – Açudes; ATLÂNTICO LESTE, 7 – Funil; 8 – Chapéu d´Úvas; 9 – Lajes; 10 – Santa Branca; 11 – Jaguari; 12 – Paraibuna;
BACIA AMAZÔNICA, 1 – Curuá-Una; 2 – Samuel; BACIA TOCANTINS, 3 – Tucuruí; 4 – Lajeado; 5 – Serra da Mesa; ATLÂNTICO

BACIA SÃO FRANCISCO, 13 – Três Marias; BACIA PARANÁ, 14 – Nova Ponte; 15 – Corumbá; 16 – Manso; 17 – Taiaçupeba; 18 –
Americana; 19 – Atibainha; 20 – Cachoeira; 21 – Pedro Beicht; 22 – Ituparanga; 23 – Billings; 24 – Barra Bonita; 25 – Bariri; 26 –
APÊNDICE B - Espécies de peixes que dominaram as assembléias em 77 reservatórios investigados (espécies que juntas corresponderam

(continua)
A fauna de peixes é um dos componentes mais são mais de natureza genética e podem ser

10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

X
evidentes da diversidade biológica quando o atenuados por transposições controladas.

X
assunto é o represamento. É natural que assim
As alterações impostas por um represamento

X
o seja, dada a importância social e econômica
desses recursos, que estão associados a sobre a ictiofauna têm suas dimensões

X
atividades de pesca e a uma importante fonte reguladas pelas características e localização do

X
de proteína animal para alimentação humana. empreendimento, sendo as extinções locais

X
É um recurso, entretanto, não-visível e os inevitáveis. Entretanto, a transformação de

X
efeitos mais danosos de um represamento um rio em sucessivos represamentos tem

X
X
ocorrem de maneira silenciosa, exceto nos maior probabilidade de eliminar hábitats

X
casos de grandes mortandades. Isso explica a únicos e levar a extinções globais. Assim, é
preocupação desproporcional que o setor, a urgente que os aproveitamentos hidrelétricos

X
mídia e mesmo os órgãos ambientais têm em uma bacia sejam objeto de um

X
com as operações de resgate de peixes durante planejamento integral, realizado com forte

X
o fechamento e a operação de reservatórios. base de conhecimento da fauna da região,

Ibitinga; 27 – Promissão; 28 – Nova Avanhandava; 29 – Três Irmãos; 30 – Caconde


Essa inversão de prioridades faz com que boa incluindo a delimitação de áreas críticas ao

X
parte dos esforços para obter o licenciamento ciclo de vida das espécies migradoras, raras

X
ambiental ou dos critérios para concedê-lo ou endêmicas.

X
estejam focados nessas operações, cuja eficácia

X
e importância para a conservação é, no As alterações promovidas pelos

X
mínimo, questionável. represamentos serão, entretanto, objeto do

X
próximo capítulo. Neste, mais que uma

X
As alterações mais relevantes produzidas sistematização das informações, pretendeu-se
pelos reservatórios incidem sobre as espécies mostrar o caráter ainda incipiente dos dados

X
9
migradoras e endêmicas, tanto a montante disponíveis. Assim, informações

X
X
X
8
quanto a jusante da barragem. Regulação de extremamente básicas, como a de inventário

X
7
vazão e degradação de hábitats são as fontes da ictiofauna, estiveram disponíveis para

X
6
preponderantes de impactos e, também, as de apenas 77 dos 660 reservatórios brasileiros

X
5
mais difícil solução. Os impactos sobre essas registrados aqui. Quase a metade destes foi

X
4
duas categorias de peixes têm reflexos, realizada por uma única instituição (Nupélia/

X
3
simultaneamente, sobre a pesca e a UEM) e a maioria dos reservatórios

2
biodiversidade. No primeiro caso, pelo fato brasileiros jamais foi objeto de levantamentos

X
X

X
1
de a categoria dos migradores incluir quase sistematizados e, digno de ênfase, centenas
todos os grandes peixes da fauna neotropical, jamais tiveram qualquer tipo de amostragem

Acestrorhynchus microlepsis
Acestrorhynchus pantaneiro

Auchenipterus osteomystax
Acestrorhyncus falcirostris

Acestrorhynchus lacustris

Ageneiosus valenciennesi

Astyanax eigenmanniorum
e, portanto, os mais desejados. No segundo científica. Ironicamente, alguns destes já

Acestrorhyncus falcatus

Auchenipterus nuchalis
Astyanax bimaculatus

Boulengerella ocellata
Astyanax intermedius
caso, pelo fato de na extinção de uma espécie foram objeto de manejo, especialmente do

Astyanax altiparanae
Ageneiosus brevifilis

Boulengerella cuvieri
Astronotus ocelatus
Argonectes robertsi

Astyanax fasciatus
Ageneiosus brevis

Bryconops gracilis
Anodus elongatus
Apareiodon affinis

Astyanax abramis

Brycon microlepis
endêmica estar implícita a extinção global. É que se convencionou chamar “peixamento”.

Astyanax sp. 2
Astyanax sp. 1

Astyanax spp.
Astyanax sp.

Brycon lundii
óbvio que outros impactos, inclusive sobre Não é possível conservar o que não

Espécies
fragmentação de populações de espécies conhecemos, nem manejar um sistema
sedentárias, são esperados. Estes, entretanto, desconhecendo seus componentes básicos.
(continuação)

Espécies 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 100
Callichthys callichthys X X
Catoprion mento X
Characidium allipioi X
Cichla monoculus X X X X
Cichla ocellaris X X
Cichla temensis X
Crenicichla sp. X
Curimata acutirostris X
Cynodon gibbus X
Cyphocharax modestus X X X X X X X X
Cyphocharax nagelii X X
Galeocharax cf. gulo X
Galeocharax humeralis X
Galeocharax knerii X
Geophagus brasiliensis X X X X X X X X X X X
Geophagus sp. X
Hassar wilderi X
Hemigrammus marginatus X X
Hemiodopsis sp. X
Hemiodus argenteus X
Hemiodus microlepis X X
Hemiodus semitaeniatus X
Hemiodus unimaculatus X X X X
Hoplias aff. malabaricus X X X X
Hoplosternum littorale X X
Hydrolycus armatus X
Hydrolycus scomberoides X
Hyphessobrycon sp. 1 X
Hyphessobrycon bifasciatus X
Hypophthalmus edentatus X
ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

Hypostomus punctatus X
Hypostomus regani X
Hypostomus tietensis X
Hypostomus spp. X

(continuação)

Espécies 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Iheringichthys labrosus X X
Leporinus faciatus X
Leporinus friderici X X
Leporinus heingrardt X
Leporinus lacustris X
Leporinus obtusidens X
Leporinus sp. X
Loricariichthys castaneus X
Lycengraulis batesii X
Moenkhausia intermedia X X X X X X
Myleus tiete X X
Oligosarcus hepsetus X X
Oligosarcus paranensis X X
Oreochromis niloticus X X
Oxydoras niger X
Paracheunipterus striatulus X
Parauchenipterus galeatus X
Parodon nasus X
Phalloceros caudimaculatus X
Pigocentrus nattereri X
Pimelodus blochii X X
Pimelodus maculatus X X X X X X X X
Pimelodus sp. X
Plagioscion squamosissimus X X X X X X X X X X X
Poecilia vivipara X
Prochilodus affinis X
Prochilodus cearensis X
Prochilodus lineatus X X
Prochilodus nigricans X
Psectogaster amazonica X
Rhamdia quelen X
A Ictiofauna de Reservatórios

Rhamdia sp. X
Rhaphiodon vulpinus X X X
Salminus brasiliensis X X
101
102

(continuação)

Espécies 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Schizodon borellii X
Schizodon nasutus X X
Schizodon vittatum X
Semaprochilodus brama X
Serrassalmus geryi X
Serrasalmus maculatus X X X X X X X
Serrassalmus marginatus X
Serrasalmus rhombeus X X X X X
Sorubim lima X
Steindachnerina insculpta X X X X X X
Steindachnerina corumbae X
Triportheus albus X X
Triportheus angulatus X X
Triportheus nematurus X
Triportheus paranensis X
ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

APÊNDICE B - Continuação com os demais reservatórios. Códigos: BACIA PARANÁ, 31 – Euclides da Cunha; 32 – Limoeiro; 33 –
Mogi Guaçu; 34 – Furnas; 35 – Porto Colômbia; 36 – Luiz C.B. Carvalho; 37 – Mascarenha de Moraes; 38 – Marimbondo; 39 – Volta
Grande; 40 – Itumbiara; 41 – Água Vermelha; 42 – Itutinga; 43 – Alagados; 44 – Jurumirim; 45 – Salto Grande; 46 – Chavantes; 47
– Canoas I; 48 – Canoas II; 49 – Taquaruçu; 50 – Capivara; 51 – Rosana; 52 – Cavernoso; 53 – J. Mesquita Filho; 54 – Segredo; 55
– Caxias; 56 – Foz do Areia; 57 – Salto Osório; 58 – Salto Vau; 59 – Salto Santiago; 60 – Irai
(continuação)

Espécies 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60
Acestrorhynchus lacustris X X
Apareiodon piracicabae X
Apareiodon affinis X X X X X X X X X X
Apareiodon vittatus X X
Astyanax scabripinnis paranae X
Astyanax altiparanae X X X X X X X X X X X X X X
Astyanax fasciatus X X X X X X X X X
Astyanax sp. b X X X X X X X X
Astyanax sp. c X X X X X X
Astyanax sp. e X X X X X
Astyanax sp. f X X X
Auchenipterus osteomystax X X
Bryconamericus iheringii X
Bryconamericus sp. a X X
Bryconamericus sp. c X X
Bryconamericus stramineus X X
Callichthys callichthys X
Cichla monoculus X X
Cichlasoma fascetum X
Corydoras paleatus X X
Crenicichla haroldoi X
Crenicichla niederleinii X
Cyphocharax modestus X X X
Cyphocharax nagelii X
Galeocharax knerii X X X X X
Geophagus brasiliensis X X X X X X
A Ictiofauna de Reservatórios

Glanidium ribeiroi X
Hemigrammus marginatus X
Hoplias lacerdae X
103
104

(continuação)

Espécies 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60
Hoplosternum littorale X
Hypostomus spp. X X
Iheringichthys labrosus X X X X X X X X X X X X
Leporinus friderici X
Leporinus obtusidens X
Leporinus octofasciatus X
Loricaria prolixa X X
Metynnis maculatus X X X
Mimagoniates microlepis X
Moenkhausia intermedia X X X X X X
Myleus tiete X
Oligosarcus longirostris X X X X
Pimelodus maculatus X X X X X X X X X X X X X X X X
Pimelodus ortmanni X X
Pimelodus sp. X X X X X
Plagioscion squamosissimus X X X X X X X X X X
Prochilodus lineatus X
Psalidodon sp. X
Rhamdia voulezi X
Rhaphiodon vulpinus X
Roeboides paranensis X
Satanoperca pappaterra X X X
Schizodon nasutus X X X X X X X X X X
Serrasalmus maculatus X X X X X X
Steindachnerina insculpta X X X X X
ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

APÊNDICE B - Continuação com os demais reservatórios. Códigos: BACIA PARANÁ, 61 – Jordão; 62 – Curucaca; 63 – Piraquara; 64 –
Passaúna; 65 – Porto Primavera; 66 – Ilha Solteira; 67 – Jupiá; 68 – Itaipu; 69 – Harmonia; 70 – Fiu; 71 – Melissa; 72 – Mourão; 73 –
Patos; BACIA ATLÂNTICO SUL, 74 – Parigot Souza; 75 – Guaricana; 76 – Salto do Meio; 77 – Vossoroca
(continuação)

Espécies 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77
Apareiodon affinis X
Astyanax eigenmanniorum X
Astyanax scabripinnis paranae X
Astyanax altiparanae X X X X X X X
Astyanax janeiroensis X
Astyanax sp. b X X X X
Astyanax sp. c X X X
Astyanax sp. i X
Astyanax sp. l X
Auchenipterus nuchalis X
Auchenipterus osteomystax X
Bryconamericus iheringii X X X
Bryconamericus stramineus X
Cichla monoculus X X
Corydoras paleatus X
Deuterodon iguape X X
Deuterodon sp. a X X
Deuterodon sp. b X
Deuterodon sp. d X
Geophagus brasiliensis X X X X X X X X
Geophagus cf. jurupari X
Hemisorubim platyrhynchus X
Hoplias aff. malabaricus X
Hypostomus aspilogaster X
Hypostomus derbyi X
Hypostomus spp. X
Leporinus friderici X X
Loricariichthys platymetopon X X
Loricariichthys rostratus X
A Ictiofauna de Reservatórios

Myleus tiete X X
Oligosarcus longirostris X X X
Oligosarcus paranensis X X
105
106 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

(conclusão)

Capítulo 4
77
76

Impactos dos Represamentos:


75
74

X
73

alterações ictiofaunísticas e colonização


72
71

U
70

m efeito inevitável de
69

qualquer represamento sobre a fauna aquática é a alteração na


68

X
X

X
67

composição e abundância das espécies, com elevada proliferação de


X

X
X
66

X
X

algumas e redução ou mesmo eliminação de outras (AGOSTINHO;


65

X
X

X
X

MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999). A avaliação dos fatores


64

que levam a esses impactos não é, entretanto, uma tarefa simples,


63
62

visto que se relaciona às variáveis físicas, químicas e biológicas, com


X
X
61

uma profusão de interações que raramente são entendidas na


extensão e profundidade adequadas.
Plagioscion squamosissimus
Phalloceros caudimaculatus

Trachydoras paraguayensis
Parauchenipterus galeatus

Steindachnerina insculpta
Serrassalmus marginatus
Psalidodon gymnodontus

Serrasalmus maculatus
Pterodoras granulosus

Schizodon altoparanae
Pimelodus maculatus

Rhaphiodon vulpinus
Prochilodus lineatus

Schizodon borellii
Psalidodon sp.

Tilapia rendalli
Schizodon sp.
Espécies
108 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 109

Introdução dos reservatórios. Os procedimentos Entretanto, o grupo de peixes mais afetado físicas e químicas vigentes no represamento
operacionais na barragem e mesmo pelos represamentos é o dos grandes durante a fase heterotrófica inicial

A natureza e a intensidade de
algumas atividades humanas de natureza
competitiva ou destrutiva praticadas na
migradores que, por ocuparem ampla área
de vida (home range), podem ter suas
(AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ;
SUZUKI, 1999).
impactos decorrentes das modificações
bacia podem ter papel relevante nesse populações fragmentadas, suas rotas de
hidrológicas impostas pelos represamentos
dependem das peculiaridades da fauna
processo, além de promover um retardo na migração bloqueadas pela barragem ou seus Fase de Enchimento
estabilização das condições limnológicas. hábitats de desova, crescimento e
local, tais como estratégias reprodutivas,
padrões de migração, especializações
Nesse sentido, a introdução de espécies não- desenvolvimento inicial modificados pelo As rápidas transformações que
nativas, mais factíveis de se estabelecerem alagamento (montante) e regulação das ocorrem logo no início do processo de
tróficas e grau de pré-adaptações a
permanentemente em ambientes alterados, cheias (jusante). Já as espécies sedentárias, enchimento são decorrentes da diminuição
ambientes lacustres, e das características do
tem destaque (PETTS, c1989). cujos limites geográficos de distribuição do tempo de renovação da água, visto que
reservatório (ex: localização, morfologia,
populacional são geralmente mais restritos, um ecossistema lótico transforma-se
hidrologia), desenho da barragem,
Em geral, as respostas às condições naturais embora possam ser influenciadas pelo repentinamente em outro com características
procedimentos operacionais, usos das
ou manipuladas em reservatórios são caráter lacustre do trecho represado e pela lênticas. Conseqüentemente, padrões
encostas, natureza do solo, vazão, e das
incompletas, uma vez que podem ser vazão e qualidade da água a jusante, são verticais decorrentes da formação de
interações com outros reservatórios da
alteradas ou destruídas antes de sua menos afetadas. estratificação térmica, e que afetam a
bacia e entre essas variáveis.
completa efetivação. Nesse caso, o resultado ciclagem de nutrientes e distribuição de
esperado é um incremento caótico na Na área de influência de um reservatório, os organismos, são acrescidos aos vetores
Os impactos dos represamentos em nível de
sucessão de respostas, uma redução na impactos têm natureza e intensidade predominantemente longitudinais,
ecossistema podem ser categorizados em (i)
interdependência e menor estabilidade consideravelmente distintas. Sua abordagem existentes antes do fechamento da barragem.
impactos de primeira ordem, que englobam as
biótica, confundindo a continuidade e os deve considerar, portanto, essa
conseqüências físicas, químicas e
processos sucessionais naturais da biota peculiaridade. Embora a ênfase nas Elevação das concentrações de nutrientes
geomorfológicas decorrentes do bloqueio
do rio e de alterações na distribuição (WETZEL, c1990). Um novo estado de avaliações de impactos venha sendo dada ao constitui-se numa ocorrência comum durante
espaço-temporal na vazão; (ii) impactos de “equilíbrio”, se ocorrer, pode levar entre 1 e trecho alagado, talvez em razão da maior a fase de enchimento (ESTEVES, 1988;
segunda ordem, que envolvem mudanças na 100 anos para que seja alcançado, desde o visibilidade dada pelo represamento, tanto MATSUMURA-TUNDISI; TUNDISI; SAGGIO; OLIVEIRA

produtividade primária e na estrutura do impacto de primeira ordem (PETTS, c1984). na fisionomia regional quanto no NETO; ESPÍNDOLA, 1991; PATERSON; FINDLAY;

canal, compreendendo o trecho represado e, deslocamento de populações humanas, é no BEATY; FINDLAY; SCHINDLER; STAINTON;

principalmente, o segmento a jusante da Essa situação restringe os tipos de trecho abaixo da barragem que estes se McCULLOUGH, 1997). Esse aumento pode ser

barragem; (iii) impactos de terceira ordem, que organismos em reservatórios àqueles com mostram mais relevantes. atribuído a pulsos associados à
incluem as modificações nas assembléias de ampla tolerância fisiológica e adaptações decomposição do folhedo e à liberação de
comportamentais (WETZEL, c1990). Algumas nutrientes do solo alagado, no primeiro
invertebrados e peixes decorrentes dos
espécies são incapazes de sobreviver em
Corpo do Reservatório momento, e, posteriormente, à queda das
impactos de primeira (ex: efeito de bloqueio
de migração, por exemplo) ou de segunda corpos d’água represados, devido, folhas das árvores alagadas e sua
ordem (ex.: mudanças na biomassa principalmente, à temperatura da água e/ou A ictiofauna de um reservatório tem sua decomposição (MATSUMURA-TUNDISI; TUNDISI;
planctônica) – WCD (2000). oxigênio dissolvido, baixa diversidade de origem no sistema fluvial onde ele se situa, SAGGIO; OLIVEIRA NETO; ESPÍNDOLA, 1991). Os
hábitats, baixo fluxo de água, locais de podendo o processo de ocupação ser visto efeitos desses pulsos, que começam a atuar
Interações entre os diferentes componentes desova inapropriados, falta de presa como colonização ou simplesmente uma ainda na fase de enchimento, podem ser
do ecossistema nos impactos de terceira suficiente para um estágio particular do reestruturação nas assembléias locais. A sentidos mesmo depois de o reservatório
ordem podem ter implicações sobre as ciclo de vida, ou falta de refúgio para as maneira como essa ocupação é vista depende entrar em operação, principalmente nas
demais categorias e afetar os usos múltiplos presas (O’BRIEN, c1990). do grau de restrição imposto pelas condições camadas mais profundas da coluna d’água,
110 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 111

onde elevadas concentrações de nutrientes e propício ao desenvolvimento das flutuantes tem sido
12
elevados valores da condutividade elétrica comunidades de produtores primários, constatado em vários Superfície

Oxigênio dissolvido (mg.L-1)


são constatados (THOMAZ; PAGIORO; ROBERTO; representados pelo fitoplâncton ou pela reservatórios tropicais, 10 Fundo

PIERINI; PEREIRA, 2001). comunidade de macrófitas aquáticas. como o de Tucuruí, no 8

Brasil (TUNDISI, 1994) e 6


O desenvolvimento de estratificação térmica, Estudos no reservatório de Corumbá (bacia Kariba, na África 4
que se segue à formação do reservatório, do rio Paranaíba, alto rio Paraná) (MITCHELL; PIETERSE;
2
apresenta importante papel para que o evidenciaram que a produtividade primária MURPHY, 1990).
0
acúmulo de íons constatado na fase de fitoplanctônica na camada subsuperficial,

j/97
mar
mai
jul
set
nov
j/98
mar
mai
jul
set
nov
j/99
mar
mai
jul
set
nov
enchimento se prolongue pela fase de que era inferior a 0,17 mgO2 l-1 h-1 até 10 dias Outro fenômeno Meses
operação, principalmente no caso dos após o fechamento da barragem, aumentou constatado com freqüência Figura 4.1 - Variações na concentração de oxigênio dissolvido na
reservatórios que apresentam tomadas de para 0,84 mgO2 l-1 h-1 39 dias após o durante a fase de superfície e no fundo do reservatório de Corumbá, bacia do rio
Paraná, nos três anos subseqüentes à sua formação ( Fonte:
água superficial. fechamento (THOMAZ; PAGIORO; ROBERTO; enchimento de THOMAZ; PAGIORO; ROBERTO; PIERINI; PEREIRA, 2001).
PIERINI; PEREIRA, 2001). Além da elevação das reservatórios é a marcante
Mesmo que em geral se constate um concentrações de nutrientes, o aumento das queda das concentrações de oxigênio O consumo de oxigênio dissolvido
incremento das concentrações de nutrientes taxas de produtividade primária deve ter dissolvido da água, que pode ficar registrado imediatamente após o fechamento
durante e logo após a fase de enchimento, sido favorecido pela melhora do regime de virtualmente ausente em parte da coluna de uma barragem pode ser atribuído à
deve ser considerado que as concentrações de luz, pois os valores do coeficiente de d’água (Figura 4.1) ou mesmo em sua mineralização de compostos dissolvidos
alguns importantes elementos, como o atenuação luminosa passaram de 4,60 m-1 no totalidade. Nesse período, a desoxigenação lábeis, liberados por lixiviação, sendo
fósforo, por exemplo, são determinadas pela dia do fechamento para 0,89 m-1 10 dias independe dos ciclos de estiagem e chuvas, mantido posteriormente pela decomposição
interação de processos antagônicos. Assim, após o fechamento da barragem (THOMAZ; sendo determinada basicamente pela do material orgânico mais refratário. Essa
simultaneamente às entradas desse elemento PAGIORO; ROBERTO; PIERINI; PEREIRA, 2001). decomposição da biomassa alagada afirmação é baseada em resultados de
provenientes dos pulsos mencionados, a (ESTEVES, 1988). experimentos realizados em microcosmos,
formação de um ecossistema lêntico Porém, no caso do aumento das populações que evidenciaram que a demanda de
representa o aumento das taxas de de macrófitas aquáticas, outras condições Existem registros da formação de camada oxigênio pela matéria orgânica dissolvida é
sedimentação, que atuam no sentido de favoráveis, tais como a ausência de vento anóxica durante a fase de enchimento de consideravelmente maior do que a demanda
retirá-lo da água. acentuado, redução da turbulência da água, reservatórios tropicais no caso de gerada pela matéria orgânica particulada
disponibilidade de propágulos e de focos de alagamento de florestas, que têm grande (BIANCHINI JUNIOR; TOLEDO, 1998).
Assim, o acúmulo de fósforo na água durante dispersão, devem ocorrer simultaneamente à biomassa disponível para a decomposição
a fase de enchimento sugere que as entradas elevação das concentrações de nutrientes (MATSUMURA-TUNDISI; TUNDISI; SAGGIO; OLIVEIRA A grande entrada de material orgânico
a partir das áreas alagadas predominam derivada dos pulsos (ESTEVES; CAMARGO, 1986; NETO; ESPÍNDOLA,
1991), e também de dissolvido também é responsável pelo
durante esse período. Por outro lado, as THOMAZ; BINI, 1999). cerrados, com menor biomassa (DE FILIPPO; imediato aumento da produção secundária
concentrações de fósforo são muito mais SOARES; THOMAZ; ROBERTO; PAES DA SILVA, bacteriana durante a fase de enchimento
influenciadas por processos de sedimentação Nesse caso, espécies flutuantes, tais como 1997). (PATERSON; FINDLAY; BEATY; FINDLAY; SCHINDLER;
após o término da fertilização decorrente do Eichhornia crassipes, Pistia stratiotes e Salvinia STAINTON; McCULLOUGH, 1997). Desse modo,
alagamento. auriculata, podem se desenvolver Os eventos de anoxia são de importância além do aumento da produção primária
acentuadamente durante e logo após a fase capital para o manejo desses ecossistemas fitoplanctônica e de macrófitas, o aporte de
O aumento do tempo de retenção e das de enchimento, chegando inclusive a durante sua formação, por comprometerem detritos terrestres também deve contribuir
concentrações de nutrientes faz com que a prejudicar os usos múltiplos do reservatório. sobremaneira a sobrevivência e a para o incremento da atividade biológica de
fase de enchimento represente um período Desenvolvimento maciço de espécies diversidade da fauna aquática. reservatórios em processo de formação.
112 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 113

Ainda durante a fase de enchimento, a queda após o represamento, dados não publicados Esse padrão teórico pode ser amplamente desse grupo de espécies na metade superior
das concentrações de oxigênio dissolvido de um monitoramento realizado durante o modificado conforme as características e a do reservatório tem sido atribuída à
provoca mudanças na proporção entre as enchimento do reservatório de Salto Caxias, abundância da fitomassa alagada, o tamanho, existência de áreas de desova e criadouros
diferentes formas iônicas. Assim, as formas no rio Iguaçu (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE profundidade e morfometria da bacia, a naturais em segmentos livres a montante.
predominantemente oxidadas da fase rio são MARINGÁ.NUPELIA/COPEL, 2001) demonstram velocidade do processo e a operação de
substituídas por formas reduzidas na fase de que, nos primeiros dias, indivíduos de enchimento. No reservatório de Corumbá , No reservatório de Manso (bacia do rio
enchimento. Isso explica o acentuado acúmulo diferentes espécies ocupam toda a coluna cuja área de alagamento envolveu vegetação Cuiabá), cinco das quinze principais espécies
de nitrogênio amoniacal em reservatórios d’água, independentemente do tipo de hábitat de cerrado, a camada anóxica chegou a 10 na pesca experimental realizada no primeiro
tropicais recém-formados (ESTEVES, 1988; que ocupavam anteriormente ou que, metros da superfície durante o enchimento ano do represamento foram constituídas por
MATSUMURA-TUNDISI; TUNDISI; SAGGIO; OLIVEIRA provavelmente, venham a ocupar no novo (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ.NUPELIA/ grandes migradores, com destaque para a
NETO; ESPÍNDOLA, 1991; THOMAZ; PAGIORO; ambiente. FURNAS, 2000). Já no reservatório de Samuel, piraputanga Brycon microlepis e o dourado
ROBERTO; PIERINI; PEREIRA, 2001). na Amazônia, essa camada ficou a 6 metros da Salminus brasiliensis, que juntas compuseram
Nessa fase, a pesca experimental com superfície (MATSUMURA-TUNDISI; TUNDISI; SAGGIO; 12% do número de indivíduos capturados
Com base nessas observações, pode-se métodos passivos (redes de espera, por OLIVEIRA NETO; ESPÍNDOLA, 1991). (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ.NUPELIA/
caracterizar a fase de enchimento de um exemplo) apresenta elevado rendimento, FURNAS, 2001b).

reservatório como sendo um período de sugerindo intensa mobilidade dos indivíduos. A época do ano em que ocorre o fechamento
do reservatório é também relevante no As pescarias realizadas nos três anos
transformações rápidas e intensas, que
processo de colonização do novo ambiente, subseqüentes revelaram sensíveis reduções na
marcam a transição de um ecossistema lótico A expansão da camada anóxica que ocorre a
especialmente quando a barragem posiciona- participação desse grupo de espécies (dados
para outro lêntico ou semi-lêntico. partir do fundo e das imediações da
se em um ponto intermediário no trecho de não publicados). Fato similar foi constatado
barragem, geralmente ao final da primeira
distribuição populacional de espécies nos reservatórios de Corumbá e Itaipu,
Os pulsos de entrada de nutrientes e detritos, quinzena do início do enchimento, marca um
migradoras. ambos na bacia do rio Paraná e cujo
aumento da transparência da coluna d’água, período de deslocamentos massivos de peixes
fechamento ocorreu no início da quadra
redução da turbulência e a formação de para os tributários e trechos não-represados a
As condições favoráveis de vazão na estação reprodutiva das espécies migradoras
estratificação térmica podem ser montante (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
chuvosa têm levado os tomadores de decisão (AGOSTINHO, 1994; UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
considerados, resumidamente, os fatores- MARINGÁ.NUPELIA/COPEL, 2001). As espécies
a estabelecer esse período para o fechamento MARINGÁ.NUPELIA/FURNAS, 2001a).
chave envolvidos nesse processo. Todos os remanescentes concentram-se nas margens,
das comportas e enchimento do reservatório.
fenômenos que ocorrem durante o nas áreas rasas e partes mais altas do
Esse procedimento, embora deletério para os
enchimento devem ainda ser mais acentuados reservatório (FERNANDO; HOLCÍK, 1991;
estratos populacionais a jusante, tem impacto Fase de Colonização
em reservatórios tropicais do que em RODRÍGUEZ RUIZ, 1998).
positivo sobre a colonização inicial do trecho
temperados, tendo em vista a elevada
temperatura dos primeiros, durante todo o Ventos, chuvas ou mesmo variações térmicas
represado, visto que retém no trecho a Colonização será aqui utilizada em
montante aquelas espécies com migração seu sentido amplo, para descrever as
ano. (frentes frias) podem promover a mistura da
reprodutiva ascendente. O enchimento do alterações a que as assembléias de peixes são
coluna ou parte dela, promovendo
reservatório simula as condições de grandes submetidas durante o período que se inicia
Os processos limnológicos associados ao mortandades extensas ou localizadas
cheias, apropriadas ao desenvolvimento inicial com a conclusão da fase de enchimento e se
enchimento de reservatório têm implicações (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ.NUPELIA/
de suas larvas, resultando em grande aporte estende por um período variável, até que
relevantes sobre o processo subseqüente de FURNAS, 2000). Com o início da liberação da
de juvenis no primeiro ano da sua formação. certa “estabilidade” seja alcançada.
ocupação deste pela ictiofauna regional. água pela barragem, novo período de
Embora a literatura seja também pobre em instabilidade ocorre, cuja magnitude e Entretanto, essa tendência não é sustentável e, O tempo para que uma comunidade de peixes
registros acerca dos processos que ocorrem impacto sobre as espécies remanescentes já a partir do segundo ano o recrutamento a alcance alguma estabilidade temporal em um
com a comunidade de peixes imediatamente depende da posição da tomada de água. partir do reservatório é nulo, e a persistência reservatório é, entretanto, variável. Lowe-
114 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 115

McConnell (1999) relata períodos de 6 a 10 Os eventos que se seguem ao represamento, c1993). Entretanto, as alterações impostas Na abordagem espacial do processo de
anos para reservatórios russos de latitude em relação às comunidades de peixes, são pelos represamentos mostram consideráveis ocupação há que se distinguir diferentes
menor que 55o N, e de 25 a 30 anos naquelas determinados pelas condições ambientais nos variações de intensidade no espaço e no estratos longitudinais (zonas lacustre,
maiores. Balon (1974) concluiu que o períodos críticos como o do enchimento e tempo, o que leva a respostas distintas das transição e fluvial - Figura 4.2), transversais
reservatório de Kariba, no rio Zambezi, início de operação. assembléias de peixes. Assim, o processo de e verticais (zonas litorânea, pelágica e
alcançou certa estabilidade no 10o ano após o colonização será aqui considerado em seus profunda), especialmente em grandes
fechamento. Naqueles reservatórios em que a anoxia é aspectos espaciais e temporais. reservatórios.
localizada, ocorre forte alteração na estrutura
No reservatório de Itaipu, baseado na queda das comunidades, com mudanças drásticas na
da dissimilaridade entre amostras da abundância das espécies ou mesmo a extinção 54º50’

Reservatório de Itaipu
ictiofauna obtidas em diferentes anos, esse local de alguns elementos. Quando a anoxia O
54º45’

tempo foi estimado em 15 anos (AGOSTINHO; alcança grandes extensões da área represada, S N
54º40’

MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999). o processo de colonização é iniciado pelos L

indivíduos que permaneceram na periferia do 54º35’

N
Entretanto, a composição da fauna original, a reservatório tão logo as condições aeróbicas O L 54º30’

área da bacia de captação, o tempo de sejam restabelecidas. É esperado que a S


54º25’
renovação da água, a extensão do trecho livre extensão do volume anóxico nos
de barramentos a montante, a presença de reservatórios seja distinta entre as bacias, 54º20’

Rio São Vi
Rio Pa
grandes tributários, o desenho da barragem e

R
Rio São João
visto que o grau de ocupação humana, e seus

io
Rio Pin

Rio
54º15’

S.
Rio

Arroio Guaçu
S.
os procedimentos operacionais são alguns dos
Fc

sso C
impactos decorrentes, variam. o. F

cente
O

Fco
to
als

coí
54º10’
fatores que influenciam nesse tempo.
o

.
Verd
Assim, na bacia dos rios Paraná, São Francisco Lacustre Transição Fluvial 54º05’

a
deir
Grandes perturbações não-cíclicas e bacias Atlânticas, onde a ocupação humana é
2
( 1115,9 km )
2
( 174,2 km ) ( 83,9 km2 )

o
54º00’

relacionadas à operação da barragem, além de maior, a biomassa vegetal alagada é, em

25º30’

25º25’

25º20’

25º15’

25º10’

25º05’

25º00’

24º55’

24º50’

25º45’

24º40’

24º35’

24º30’

24º25’

24º20’

24º15’

24º10’

24º05’

24º00’
contribuírem para a instabilidade na estrutura geral, inferior às da Amazônia e Tocantins, o
das comunidades, reduzem a riqueza de que resultaria em menores problemas com a Processos
Verticais
Longitudinais-
Longitudinais
predominantes verticais
espécies e o tamanho dos estoques, como depleção de oxigênio. Entretanto, nas
Largura Largo e profundo Intermediário Estreito, canalizado
demonstram as baixas diversidades e os primeiras bacias citadas, o alagamento,
Fluxo da água Baixo fluxo Moderado Alto Fluxo
baixos rendimentos da pesca em reservatórios muitas vezes, envolve áreas agrícolas nas Águas claras, alta Aumento da turbidez Águas túrbidas, baixa
Turbidez e luz
mais antigos da bacia do rio Paraná quais fertilizantes químicos, pesticidas e disponibilidade de luz e diminuição da luz disponibilidade de luz
(AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; herbicidas foram aplicados intensivamente, Nutrientes
Baixa concentração, Moderada; Alta concentração,
suprido por ciclagem interna intermediário suprido por advecção
SUZUKI, 1999). contribuindo para a deterioração da Fonte de Matéria Primariamente Primariamente
Orgânica autóctone; produção > respiração Intermediária
qualidade da água logo após o enchimento alóctone; produção < respiração
Assim, flutuações amplas e aleatórias de nível (TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI; CALIJURI, c1993).
Trofia Mais oligotrófico Intermediário Mais eutrófico

da água podem retardar a estabilização do Plâncton Escasso Abundante Escasso


Peixes não
reservatório, levando a oscilações nas A primeira implicação na colonização do migradores
Escasso Abundante Escasso
populações de espécies oportunistas (r- novo ambiente é que só serão bem-sucedidos Peixes Migradores Escasso Moderado Abundante
estrategistas) e afetando negativamente as de os elementos da ictiofauna que estão aptos a Diversidade Riqueza baixa, Riqueza moderada, Riqueza alta,
Ictiofaunistica dominância moderada dominância alta dominância moderada
equilíbrio (k-estrategistas) e sazonais (sensu desenvolver mecanismos adaptativos
WINEMILLER, 1989), que incluem os peixes de diferentes daqueles que tinham no sistema Figura 4.2 - Zonação longitudinal nos fatores ambientais e na biota do reservatório de Itaipu
(modificado de KIMMEL; LIND; PAULSON,1990 e OKADA; AGOSTINHO; GOMES, 2005.)
maior porte da região neotropical. lótico (FERNANDO; HOLCÍK, 1982; KUBECKA,
116 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 117

Marcantes diferenças entre No reservatório de Itaipu,


0
as amostras obtidas antes e AREI decorridos 15 anos de sua 60
MOIT 1987

Diferença entre os escores (DCA)


após a formação do -20 COPE formação, 64 das 67 espécies 50 1997

Número de espécies
reservatório de Corumbá PONTE capturadas com redes de 40
-40
demonstram que o grau de espera o foram na zona
30
modificação imposto pelo -60 litorânea. Na pelágica e na
CPIR 20
represamento na LISA profunda foram registradas 22
-80
composição e estrutura das e 20 espécies, respectivamente. 10

assembléias de peixes -100 JACU O número de indivíduos 0


Flu Tra Lac Flu Tra Lac Flu Tra Lac
variou com a distância da -120
capturados em 1.000 m2 de Zona litorânea Zona pelágica Zona funda
barragem (BINI; AGOSTINHO, 0 10 20 30 40 50 60 rede durante 24h foi, em
Distância da barragem (km)
2001). média, de 388 na litorânea, 22

Abundância (ind./1000 m2 rede/24h)


Figura 4.3 - Gradiente espacial das diferenças entre os escores 700
médios do eixo 1 de uma DCA obtidos antes e após o
na pelágica e 20 no fundo. 1987
600
Assim, utilizando-se as represamento ao longo da calha do rio Corumbá. (Fonte: 1997
BINI; AGOSTINHO, 2001). 500
diferenças entre os escores A colonização das zonas
400
do primeiro eixo de uma litorâneas é, em geral, feita
DCA (Análise de Correspondência com 300
O terço superior do reservatório de Itaipu por espécies regionais com
200
remoção do efeito do arco ) calculados antes contém todas as espécies registradas nos estratégias generalistas e com
100
e após o enchimento do reservatório, esses trechos mais internos, acrescidas de outras ampla tolerância a variações
autores verificaram que as alterações na 0
típicas do trecho lótico a montante de hábitat. Trata-se da zona Flu Tra Lac Flu Tra Lac Flu Tra Lac
ictiofauna foram mais intensas nas (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR; PETRERE JUNIOR, 1994). biologicamente mais Zona litorânea Zona pelágica Zona funda

proximidades da barragem (locais: LISA, Fato similar foi evidenciado já no segundo produtiva que, em
Figura 4.4 - Variações espaciais e temporais na diversidade
JACU, CPIR) e pouco relevantes a montante ano da formação do reservatório de Segredo reservatórios de latitudes específica e abundância de peixes no reservatório de
do reservatório (AREI e MOIT) – Figura 4.3. (AGOSTINHO; FERRETTI; GOMES; HAHN; SUZUKI; temperadas da Europa, é Itaipu. Flu=fluvial, Tra=transição, Lac=lacustre. (Fonte:
AGOSTINHO; MIRANDA; THOMAZ; SUZUKI, 1999).
FUGI; ABUJANRA, 1997). A manutenção de habitada principalmente por
Dessa forma, em geral, as espécies regionais algumas características do ambiente original, ciprinídeos e alguns percídeos,
são mais bem-sucedidas na colonização das como o baixo tempo de residência da água, a e da America do Norte por catostomídeos, Os impactos do represamento sobre a
zonas fluvial e litorânea dos reservatórios. entrada de material alóctone, transparência e silurídeos e percídeos (FERNANDO; HOLCÍK, diversidade de peixes nos estratos de
a heterogeneidade de hábitats, explica essa 1991). Em reservatórios africanos, essa zona é margem e da calha do rio mostraram-se
A zona fluvial, caracterizada como aquela tendência. ocupada por ciclídeos. distintos no rio Corumbá (BINI; AGOSTINHO
em que os processos de transporte ainda 2001). Assim, após o enchimento do
predominam sobre os deposicionais e que, Já as zonas litorâneas apresentam maior Em Itaipu, embora os ciclídeos estejam reservatório de Corumbá, constatou-se um
em geral, se localiza no terço superior de diversidade específica e são mais produtivas restritos a essa área, a família contribuiu com incremento no índice de diversidade de
grandes reservatórios, normalmente não que as demais, sendo isso decorrência dos apenas 13,2% da CPUE nela registrada em Shannon na zona litorânea do reservatório
apresenta a maior biomassa ou densidade de aportes de nutrientes e alimentos das 1997 (AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES; em relação às antigas margens do rio e uma
peixes (KIMMEL; LIND; PAULSON, c1990). Porém encostas, menor profundidade e maior grau THOMAZ; SUZUKI, 1999). Nesse reservatório, redução significativa nas áreas abertas em
a diversidade específica é a maior entre as de estruturação dos hábitats (SMITH; PEREIRA; um scianídeo introduzido (corvina), relação à calha (Figura 4.5). Pré-adaptações
zonas de reservatórios, independentemente ESPÍNDOLA; ROCHA, 2003). Essas diferenças pequenos tetragonopterídeos da ictiofauna fluvial às condições das áreas
do estrato transversal ou vertical tendem a se acentuar com a idade do (Characíformes) e pimelodídeos rasas e com maior disponibilidade de abrigo
considerado (Figura 4.4). reservatório (Figura 4.4). (Siluriformes) são dominantes. podem explicar essa tendência.
118 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 119

A ictiofauna da maioria O hábitat pelágico, menos que os litorâneos, atribuído a um conjunto complexo de fatores,
das bacias hidrográficas 3,0 requer pré-adaptações morfológicas e como correntes de densidade, estratificação
a
brasileiras carece de 2,5
comportamentais para a tomada de alimento, térmica, depleção de oxigênio,

Índice de diversidade (H´)


espécies lacustres no reprodução, deslocamentos e evitação da disponibilidade de alimento e penetração da
sentido preconizado por 2,0 predação. luz (MATTHEWS; HILL; SCHELLHAASS, 1985;
Fernando e Holcík (1991), 1,5 RUDSTAM; MAGNUSON, 1985; FERNANDO; HOLCÍK,

ou seja, peixes endêmicos No reservatório de Itaipu, todas as espécies 1991). A diversidade específica e a densidade
de lagos que vivem nesse 1,0 registradas nas áreas abertas o foram, de peixes, a exemplo daquelas da zona
pré-enchimento
ambiente durante todo o também, na zona litorânea. Algumas dessas pelágica, tendem a diminuir nessa zona
0,5 enchimento
ciclo de vida. A virtual operação
espécies, entretanto, foram bem-sucedidas nas (Figura 4.4).
ausência de lagos
0,0 áreas abertas, destacando-se o zooplanctívoro
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naturais impediu que filtrador Hypophthalmus edentatus (mapará), o No reservatório de Itaipu, decorridos 15 anos
espécies com essa Meses de coleta
insetívoro-zooplanctívoro Auchenipterus do fechamento, as capturas no fundo foram
estratégia de vida se osteomistax (palmito) e o piscívoro Raphiodon dominadas pelo armado P. granulosus (53,9%),
3,0
desenvolvessem nas b vulpinus (dourado-facão), todas com seguido pelo cascudo Loricariichthys (19,1%) e
águas interiores do 2,5 adaptações para deslocamento e tomada de a corvina P. squamosissimus (17,0%). Espécies
Índice de diversidade (H´)

Brasil. alimento pelagial, como forma do corpo, características da zona pelágica podem ser
2,0
posições da boca e dos olhos (FREIRE; registradas no fundo ou próximo dele,
Na fauna neotropical, 1,5 AGOSTINHO, 2000). durante o dia (AGOSTINHO; VAZZOLER; THOMAZ,
algumas espécies com 1995). Nesses levantamentos, não foram,
1,0
Essas espécies, embora tenham-se constituído entretanto, explorados ambientes com
hábitos
0,5 como as principais nesse hábitat, foram mais profundidades superiores a 60 metros.
predominantemente
abundantes nas áreas litorâneas. São oriundas
lacustres têm-se 0,0
do médio rio Paraná e, portanto, presentes Numa perspectiva temporal, os impactos
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desenvolvido em rios e
apenas nos dois primeiros reservatórios a decorrentes dos represamentos relacionam-se
lagoas de planície de
Meses de coleta montante de Itaipu (Rosana e Porto às mudanças na produtividade primária do
inundação, destacando-se
Figura 4.5 - Variações nas amostras da ictiofauna obtidas antes do Primavera), fechados em datas posteriores às reservatório de acordo com sua idade.
entre elas os eritrinídeos
represamento, durante o enchimento e na fase de operação no suas dispersões no alto rio Paraná.
(traíras), calictídeos reservatório de Corumbá, considerando-se as áreas marginais (a)
Como visto anteriormente, a elevada
(cabojas), serrassalmídeos e abertas (b). (Fonte: Bini; Agostinho, 2001).
Duas outras espécies importantes nas capturas produção biológica nos primeiros anos do
(piranhas), alguns
da zona pelágica, porém mais abundantes nas represamento é um processo decorrente da
loricarídeos (cascudos), curimatídeos sido associada ao baixo rendimento da pesca
demais, foram a piscívora introduzida P. grande liberação de nutrientes dissolvidos
(sagüirus) e ciclídeos (acarás) (AGOSTINHO; nas zonas mais internas de grandes
squamosissimus (corvina) e o doradídeo pela matéria orgânica submersa durante o
JÚLIO JÚNIOR , 1999). Entretanto, essas espécies reservatórios dessa bacia (AGOSTINHO;
onívoro Pterodoras granulosus (armado). A processo de decomposição (BALON, 1973;
ocupam hábitats de fundo ou guardam MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999).
primeira é a principal espécie na pesca PETRERE JUNIOR, 1996).
profunda relação com as macrófitas Fernando e Holcík (1991) relatam ser a
artesanal praticada em quase todos os
flutuantes e nenhuma delas tem modo de formação do hábitat pelágico a característica Esse aporte de nutrientes, em geral, aumenta
reservatórios da bacia (PETRERE JÚNIOR;
vida pelágico. mais extraordinária dos grandes a produção em todos os níveis tróficos
AGOSTINHO; OKADA; JÚLIO JÚNIOR, 2002).
represamentos, e que a falta de elementos da (O’BRIEN, c1990), sendo esse período de elevada
A ausência de espécies pré-adaptadas às ictiofauna para ocupá-lo está ligada ao baixo O fundo dos reservatórios é também pouco produção conhecido como trophic upsurge
condições pelágicas no alto rio Paraná tem rendimento pesqueiro do reservatório. ocupado pelos peixes, podendo o fato ser period (KIMMEL; GROEGER, 1986). Como os
120 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 121

processos físicos, tamanho dos peixes e na estrutura trófica dos a estratégia reprodutiva um conjunto de
Captura por Unidade de Esforço
químicos e biológicos reservatórios são feitas ao final. características, como idade e tamanho de
tendem a ser mais enchimento
primeira maturação, fecundidade, tamanho e
rápidos em latitudes do A reprodução, pelo caráter mais conservador natureza dos gametas, grau de paridade,
reservatório
tropicais, essa fase de suas estratégias em relação às de outras período de reprodução, local de desova,
espera-se ser mais atividades vitais, impõe relevantes organização do comportamento reprodutivo,
efêmera nos trópicos limitações à ocupação dos novos tipo de desenvolvimento ovocitário, tipo de
(WILLIAMS; WINEMILLER; reservatórios pela fauna fluvial. A primeira e desova e proporção sexual (VAZZOLER, 1996).
TAPHORN; BALBAS, 1998). mais evidente é o requerimento de grandes
áreas livres pelos grandes peixes Dependendo das condições ambientais
Com o tempo, ocorre Rio Heterotrófica Pós-Heterotrófica
"upsurge period" "depression period"
Equilíbrio trófico (?) migradores. momentâneas vividas pelo peixe, essas
um acentuado Fases características mostrarão modificações
decréscimo de Figura 4.6 - Modelo conceitual das variações no rendimento durante As barragens, dependendo de sua posição em táticas. Essas modificações, que podem ser
nutrientes no corpo do as diferentes fases do represamento. relação à área vital dessas espécies, podem mais ou menos plásticas, representam uma
reservatório (depression interceptar seus acessos às áreas de desova, resposta homeostática para minimizar o
period), sendo tal fato atribuído a processos A manipulação de nível visando elevar a reduzir os espaços livres e deplecionar suas custo das flutuações ambientais.
de sedimentação, remoção pela pesca ou taxa de recrutamento de peixes e a populações a densidades abaixo de limiares
exportação pelo vertedouro (AGOSTINHO; capacidade biogênica de reservatórios tem críticos, ou mesmo eliminá-las como tal. O De acordo com Dias (1989), as características
MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999). sido preconizada por diversos autores efeito combinado de barragens em série nos da estratégia reprodutiva que são passíveis
Após esses eventos, o novo patamar de (BENNETT, c1970; NOBLE, 1980; MARTIN; principais tributários do alto rio Paraná tem de maiores alterações são época de desova e,
produtividade deve se localizar em algum MENGEL; NOVOTNY; WALBURG, 1981; MITZNER, sido responsabilizado pelo virtual possivelmente, local de desova. O tamanho
ponto entre a produção original do rio e a 1981; RAINWATER; HOUSER, 1982; BEAM, 1983; desaparecimento dos grandes peixes da primeira maturação também é bastante
de um lago natural (BALON, 1973; NOBLE, MIRANDA; SHELTON; BRYCE, 1984; PLOSKEY, 1985; migradores dessa área (LOWE-McCONNELL, flexível, naturalmente dentro dos limites de
1986; RANDALL; KELSO; MINNS, 1995; WILLIAMS; SUMMERFELT, 1993; HAYES; TAYLOR; MILLS, 1999). cada espécie. Outras, como cuidado parental
WINEMILLER; TAPHORN; BALBAS , 1998) – 1993). A depleção trófica pode também ser e tamanho e natureza dos gametas (como a
Figura 4.6. retardada pela entrada de nutrientes A manutenção de trechos livres a montante adesividade, estruturas para flutuação,
resultantes da atividade antropogênica, tem, entretanto, assegurado a ocupação do proteção contra choques mecânicos), são
A tendência de depleção trófica, que como a poluição urbana ou agropecuária. trecho superior dos reservatórios por várias mais conservativas.
caracteriza a maioria dos reservatórios após dessas espécies (AGOSTINHO, 1994).
os primeiros anos da formação (RIBEIRO; Nos parágrafos seguintes são apresentados A alteração na dinâmica da água pode impor
PETRERE JUNIOR; JURAS, 1995), pode ser alguns padrões relacionados à colonização Os peixes exibem enorme gama de outras restrições a muitas espécies da fauna
revertida pela alternância de períodos de reservatórios pelos peixes. Embora o estratégias reprodutivas, determinadas pela regional que requerem ambientes lóticos
prolongados de baixos níveis de água, foco principal seja sobre os padrões história evolutiva do pool gênico do qual o para a reprodução, em razão da natureza e
permitindo o desenvolvimento de temporais, as variações nesses padrões peixe é membro. tamanho dos ovócitos.
vegetação na zona de depleção, seguidos de consideram os efeitos da zonação espacial.
períodos de níveis normais. No reservatório As variações no esforço reprodutivo são O entendimento da estratégia reprodutiva Ambientes de água corrente, altamente
de Sobradinho, bacia do rio São Francisco, avaliadas primeiro, dada a sua relevância está na identificação do processo seletivo que oxigenados, levaram, ao longo de séculos, a
esse processo tem sido associado às sobre a diversidade e a abundância levou à evolução da estratégia observada adaptações morfológicas dos ovos, como a
extraordinárias variações no rendimento da específica, também consideradas nesta (WOOTTON, 1990), que no caso das espécies adesividade para fixação em substrato ou,
pesca artesanal (AGOSTINHO, 1998). sessão. Considerações sobre as variações no fluviais foram as condições lóticas. Compõe quando livres, a utilização da dinâmica da
122 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 123

água para a flutuação. Essas estratégias (AGOSTINHO; VAZZOLER; THOMAZ, 1995; SUZUKI; aquelas que produzem ovos pequenos com Lamas (1993), em levantamento sobre a
seculares não são de grande valia no novo AGOSTINHO, 1997; VAZZOLER; SUZUKI; MARQUES; eclosão rápida, ou seja, A. bimaculatus (=A. duração da embriogênese de 52 espécies de
ambiente, tanto pela escassez de substrato PEREZ LIZAMA, 1997). altiparanae), A.fasciatus, Moenkhausia intermedia, água doce, relata que esta variou de 330 a
como pelo fato de, sob condições lacustres, P. maculatus, Galeocharax knerii e Leporinus 5.365 horas-graus, sendo que A. bimaculatus e
os ovos poderem afundar e atingir as regiões No reservatório de Itaipu, seis das dez friderici. As três primeiras espécies P. maculatus estiveram entre as espécies com
profundas e pouco oxigenadas do principais espécies na pesca artesanal se começaram a ser recrutadas na pesca já a menor tempo (446,3 e 400 horas-graus,
reservatório. utilizam da planície a montante para a partir do terceiro mês do enchimento. respectivamente).
desova e desenvolvimento inicial
O aumento na taxa de predação nas áreas (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR; PETRERE JUNIOR, 1994). Todas essas espécies apresentam ovócitos Entre as espécies que tiveram suas capturas
abertas e transparentes do reservatório é Já no reservatório de Segredo, confinado menores que 1,1 mm, têm alta fecundidade e diminuídas nos reservatórios analisados na
uma restrição adicional de impactos, visto entre duas barragens, mesmo as espécies baixo tempo de embriogênese e eclosão. Figura 4.7, algumas apresentam características
que no ambiente fluvial a desova ocorre bem-sucedidas na ocupação desse ambiente
principalmente em períodos chuvosos e de buscam os trechos de águas mais
elevada turbidez da água. movimentadas (entradas de tributários, Reservatório de Corumbá Reservatório de Rosana Reservatório de Itaipu
trechos mais altos do reservatório) para a Steindachnerina sp
I.labrosus
R.aspera
A.bimaculatus
Hypostomus sp
H.malabaricus
As flutuações de nível no ambiente represado, reprodução (SUZUKI; AGOSTINHO, 1997). S.insculpta
Hypostomus a
I.labrosus
G.knerii
A.cirrhosus
A.valenciennesi
R.hilarii
como decorrência da operação da barragem, M.intermedia
A.bimaculatus
P.maculatus
P.lineatus
A.eigenmaniorum
Oligosarcus sp
S.nasutus L.obtusidens
podem, por outro lado, ser desastrosas para Uma questão que permeia esse tema seria se A.piracicabae L.friderici
P.squamosissimus
G.carapo
A.affinis A.ostromystax G.brasiliensis
espécies com ovos aderidos a algum há suficiente documentação sobre a relação A.fasciatus A.lacustris P.lineatus
T.paraguayensis
P.maculatus S.spilopleura
A.bimaculatus
substrato litorâneo, ou que deposite seus entre as estratégias reprodutivas e o sucesso G.knerii
L.friderici
H.platyrhynchos
P.galeatus A.ucayalensis
P.lineatus P.squamosissimus A.ostromystax
ovos em ninhos construídos nas margens. específico na colonização de reservatórios S.brasiliensis P.granulosus
H.edentatus
P.galeatus
H.littorale S.brasiliensis P.maculatus
Assim, o padrão de flutuação do nível da neotropicais. Embora esses estudos sejam A.eigenmanniorum antes depois R.vulpinus antes depois S.brasiliensis antes depois
Hypostomus b H.edentatus M.intermedia
água na área represada, principalmente no escassos, comparações entre a composição e a Outros Outros Outros
40 30 20 10 0 10 20 30 40 30 24 18 12 6 0 6 12182430 50 40 30 20 10 0 10203040 50
período reprodutivo, pode ser um fator abundância de assembléias de peixes antes e CPUE (%) CPUE (%) CPUE (%) CPUE (%) CPUE (%) CPUE (%)

preponderante no sucesso do recrutamento dois anos após o represamento, obtidas em


para a maioria das espécies de peixes de cinco reservatórios do rio Paraná, fornecem
Reservatório Três Irmãos Reservatório de Jordão
reservatórios (SUZUKI; AGOSTINHO, 1997). Além algumas evidências (Figura 4.7). C.modestus Astyanax b
H.derbyi
disso, o substrato adequado para a desova de C.nagelii
A.bimaculatus Astyanax h
A.lacustris G.brasiliensis
muitas espécies da fauna original (rochas, O primeiro padrão que emerge dessa análise P.squamosissimus R.voulezi
P.lineatus R.branneri
cascalhos, areia ou plantas) pode ficar é que há forte interação entre a época de S.insculpta C.iguassuensis
H.malabaricus
M.intermedia
submerso a dezenas de metros. migração e desova e a época em que o fluxo S.spilopleura
S.hilarii
Bryconamericus a
Astyanax c
H.malabaricus O.longirostris
de peixes é interrompido na determinação da L.friderici P.ortmanni
S.borellii Astyanax f
Nos reservatórios espera-se que aquelas composição da fauna de peixes que ocupa o G.brasiliensis C.paleatus
P.maculatus Psalidodon sp
espécies com maior plasticidade quanto ao reservatório. M.tiete
L.obtusidens
A.vittatus
antes depois C.carpio antes depois
local de reprodução tenham maior sucesso C.monoculus
Outros
G.ribeiroi
Outros
na ocupação. Constata-se, no entanto, que a Por exemplo, a formação do reservatório de 30 2418 12 6 0 6 12 1824 30 50 40 30 20 10 0 1020304050
CPUE (%) CPUE (%) CPUE (%) CPUE (%)
maioria das espécies que colonizam os Corumbá, iniciado em setembro de 1997,
reservatórios procuram os tributários ocorreu no início do período reprodutivo de 2
Figura4.7 - Abundância das principais espécies (número de indivíduos por 1000m de redes em 24
laterais, trechos a montante ou mesmo as muitas espécies de peixes. As espécies bem- horas) antes e nos dois primeiros anos após o represamento, em cinco usinas hidrelétricas da
áreas mais lóticas para a reprodução sucedidas durante esse processo foram bacia do rio Paraná (Fonte: AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999).
124 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 125

ovocitárias e de incubação similares às tendências à insetivoria, ao contrário de baixa na região. É provável que o número de Ao contrário dos reservatórios recentes, nos
espécies citadas anteriormente, porém com Corumbá, onde também predominou e teve indivíduos na área alagada tenha sido quais espécies que produzem ovos pequenos
hábitos alimentares distintos (iliófagas e dieta essencialmente herbívora. No Jordão, a insuficiente para iniciar o processo de parecem ter mais sucesso que aquelas
bentófagas; UNIVERSIDADE ESTADUAL DE principal espécie, Astyanax sp.b, teve dieta colonização, visto que a espécie apresenta espécies com estratégias mais elaboradas,
MARINGÁ.NUPELIA/FURNAS, 2000) ou herbívora, sendo seguida de outra espécie do uma distribuição agregada, pela formação de como as que envolvem corte, construção de
tipicamente reofílicas (AGOSTINHO; JÚLIO mesmo gênero, porém detritívora. No grandes cardumes (observações pessoais). ninhos e cuidado parental, os reservatórios
JÚNIOR; PETRERE JUNIOR, 1994). reservatório de Segredo, também na bacia do antigos podem ser ocupados por espécies
Iguaçu, as espécies dominantes e suas dietas Em Rosana, a espécie mais importante na com cuidado parental.
Mesmo assim, comparando-se espécies foram as mesmas do Jordão (HAHN; FUGI; pesca experimental foi, entretanto, a
congenéricas (Steindachnerina sp. x S. ALMEIDA; RUSSO; LOUREIRO, 1997). migradora P. lineatus (curimba). Isso é Nos reservatórios com mais de 15 anos da
insculpta; Apareiodon piracicabae x A. affinis), explicado pela retenção de grandes cardumes bacia do rio Paraná (Promissão, Ibitinga e
verifica-se que a mais bem-sucedida do par é No reservatório de Rosana e Itaipu, essas dessa espécie durante o fechamento das Itaipu), essas espécies compõem entre 15 e
aquela com ovócitos menores e cujas zonas espécies foram substituídas por A. comportas. 24% da captura por unidade de esforço em
radiatas são mais delgadas e, portanto, osteomystax e Parauchenipterus galeatus, número, enquanto nos mais novos (Rosana,
menos adesivos (SUZUKI, 1992). Resultados também com tendências à insetivoria, porém A atividade reprodutiva das espécies que Segredo, Três Irmãos) eles contribuem entre
similares foram registrados para outros com fecundação interna. Essas espécies, ocupam reservatórios parece variar com o 0 e 7,7% (dados derivados de SUZUKI, 1992;
gêneros de peixes nos reservatórios de adicionadas de duas outras com a mesma tempo. Visando avaliar as flutuações de CESP, 1996; UNIVERSIDADE ESTADUAL DE

Segredo e Foz do Areia, com idades distintas estratégia reprodutiva (Ageneiosus médio prazo no esforço reprodutivo MARINGÁ.NUPÉLIA/ITAIPU BINACIONAL, 1998;
e supostamente colonizados por fauna valenciennesi e A.ucayalensis), estiveram entre primário (sensu MILLER, 1984), as variações AGOSTINHO; FERRETTI; GOMES; HAHN; SUZUKI; FUGI;
similar (SUZUKI, 1999). as 10 principais nos dois primeiros anos do no peso das gônadas foram analisadas nos ABUJANRA, 1997).
reservatório de Itaipu. seis anos que se seguiram ao
Como mencionado, espera-se que espécies represamento de Itaipu. Para
com ovos grandes e adesivos encontrem Assim, a fecundação interna parece ser uma excluir o efeito do tamanho dos 0,3
restrições para o desenvolvimento num estratégia bem-sucedida nos primeiros anos indivíduos, a análise foi
Fluvial
0,2 Transição
ambiente cuja água apresenta níveis de represamento (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR; baseada nos resíduos da Lacustre
variáveis e problemas com a oxigenação no PETRERE JUNIOR, 1994). No reservatório de regressão linear entre o peso 0,1
fundo. Além disso, ovos grandes Itaipu, entretanto, o mapará H. edentatus, das gônadas e o dos peixes (log-

Resíduos
caracterizam espécies que dispensam espécie zooplanctívora filtradora, proliferou transformados; Figura 4.8). 0,0
cuidados à prole (SUZUKI, 1999), muitas vezes rapidamente, ocupando a zona pelágica deste.
com comportamento territorial, uma Entre as características favoráveis que essa Verifica-se que o esforço -0,1

estratégia inadequada para ambientes com espécie apresenta, destacam-se a produção de reprodutivo, baixo nos dois
-0,2
níveis de água variáveis. grande quantidade de ovos pequenos (0,75 primeiros anos, aumentou
mm), depositados em vários lotes (SUZUKI, significativamente com a idade -0,3
A proliferação de pequenos caracídeos, 1992); ovos e larvas pelágicos (NAKATANI; do reservatório. Esse 84 85 86 87 88
especialmente tetragonopteríneos, nos BAUMGARTNER; CAVICCHIOLI, 1997) e capacidade incremento mostrou diferenças Anos

primeiros anos foi também verificada nos de apresentar dois picos de desova durante o também significativas entre as Figura 4.8 - Variações no peso das gônadas de peixes após a
reservatórios de Três Irmãos (rio Tietê) e ano (BENEDITO-CECÍLIO; AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR; zonas do reservatório, sendo formação do reservatório de Itaipu, estimado com base
nos resíduos derivados da regressão linear entre os
Jordão (bacia do rio Iguaçu) (Figura 4.7). PAVANELLI, 1997). Embora presente na área mais pronunciado na fluvial e logarítimos dos pesos das gônadas e total para diferentes
Astyanax bimaculatus, espécie dominante no alagada pelo reservatório de Rosana, a de transição e menos relevante zonas do reservatório de Itaipu (Fonte: AGOSTINHO;
MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999).
primeiro, apresentou dieta onívora com participação dessa espécie nas capturas foi na lacustre.
126 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 127

Em reservatórios rasos e antigos do estado sua ocorrência era restrita ao período A. valenciennesi, Schizodon altoparanae, S. de alimento apropriado (ABUJANRA;
do Paraná, essa participação alcança 40,4% reprodutivo. Após 15 anos, a área de desova borellii, Sorubim lima, Cyphocharax modestus e C. AGOSTINHO, 2002). Entretanto, é provável que
(UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ.NUPÉLIA/ foi notavelmente expandida, incluindo os nagelii, que, embora não conhecidas como uma interação de fatores seja responsável
COPEL, 2000). A proliferação de macrófitas trechos lênticos dos tributários e as áreas grandes migradoras (VAZZOLER, 1996), devem pela depleção em seus estoques (AMBRÓSIO;
aquáticas com o tempo parece importante no litorâneas do reservatório (UNIVERSIDADE requerer ambiente lótico para efetivar a AGOSTINHO; GOMES; OKADA, 2001).
aumento das populações com estratégias ESTADUAL DE MARINGÁ.NUPÉLIA/ITAIPU reprodução.
reprodutivas que envolvam cuidado BINACIONAL, 1998). Embora os efeitos dos represamentos sobre a
parental. Hypophthalmus edentatus, espécie de hábitos riqueza de espécies não tenha ainda sido
O sucesso dessa espécie na colonização desse pelágicos, planctófaga, com produção de satisfatoriamente estudados em rios
No reservatório de Itaipu, o incremento nas e de outros reservatórios da bacia do Paraná grande quantidade de ovos pequenos neotropicais, os levantamentos disponíveis
capturas da traíra Hoplias malabaricus e pode ser explicado pela sua estratégia depositados em vários lotes, e desova no mostram que há um aumento no número de
ciclídeos foi concomitante à ocupação de reprodutiva. Essa espécie produz ovos ambiente represado, parecia destinada ao espécies nos primeiros anos após o
alguns braços com macrófitas aquáticas. A pequenos (0,51 mm) que são depositados em sucesso no reservatório. Nos primeiros anos enchimento. Comparações entre o número
existência dessa relação pode ser evidenciada várias posturas durante o período figurou entre as mais abundantes na pesca de espécies aferido antes e após o
por uma modalidade de pesca artesanal reprodutivo. Os ovos são pelágicos comercial e experimental (AGOSTINHO; represamento de quatro reservatórios da
implantada no reservatório nos últimos (FONTENELE; PEIXOTO, 1978), e têm uma gota de BORGHETTI; VAZZOLER; GOMES, 1994; AGOSTINHO; bacia do rio Paraná (teste t para amostras
anos, destinada à captura da traira e que lipídio que ocupa quase todo o volume do JÚLIO JÚNIOR; PETRERE JUNIOR, 1994), tendo, no pareadas, aplicado aos dados previamente
consiste no uso de anzol e linha suspensos ovo, responsável pela sua flutuação. As entanto, sua captura notavelmente reduzida log transformados) revelaram que esse
por um flutuante, instalados às dezenas em larvas também são pelágicas (NAKATANI; nos últimos anos. Embora o fato possa estar número é significativamente maior nos dois
meio à vegetação (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR; LATINI; BAUMGARTNER, G.; BAUMGARTNER, M.S.T., associado ao final da fase heterotrófica, anos subseqüentes ao represamento
PETRERE JUNIOR, 1994). 1993; NAKATANI; BAUMGARTNER, G.; devem-se ressaltar a pressão de predação (Figura 4.9).
BAUMGARTNER, M.S.T, 1997). imposta pela corvina P.
Das 31 espécies para as quais foi possível squamosissimus sobre seus
identificar atividade reprodutiva no No geral, entretanto, os peixes apresentam jovens (AGOSTINHO; JÚLIO 80
reservatório de Itaipu, onze apresentaram as grande dependência da zona fluvial dos JUNIOR, 1996; HAHN;
primeiras evidências disso após o quarto ano reservatórios para realizar seus eventos AGOSTINHO; GOITEIN, 1997) e 70
do represamento, destacando-se entre essas a reprodutivos. Em Itaipu, três espécies a sobrepesca (AGOSTINHO;
corvina P. squamosissimus, o sagüiru reproduzem essencialmente nesta zona THOMAZ; MINTE-VERA; 60

Riqueza de espécies
Steindacnerina insculpta, o linguado (A. osteomystax, A. ucaylaensis e I. labrosus). WINEMILLER, 2000).
Catathyridium jenynsii, cascudos Loricariichthys Além dessas, constatou-se a presença de 18 50

sp., Loricariichthys platymetopon e Loricaria sp., espécies com capturas relevantes durante os A concomitância na queda
a piranha Serrassalmus marginatus e a anos, mas que não mostraram atividade dessa espécie com outra 40

morenita Porotergus ellisi. Exceto a primeira, reprodutiva no reservatório. Entre essas que na fase jovem tem
30 pré-represamento
abundante desde o início do represamento, estão as grandes migradoras como Salminus dieta similar (A.
Pós-represamento
as demais eram esporádicas nos primeiros brasiliensis, Pseudoplatystoma corruscans, P. osteomystax), que não é
20
anos. maculatus, P. lineatus, Zungaro zungaro, predada pela corvina e não Rosana Três Irmãos Jordão Corumba
Pinirampus pirinampu, Leporinus elongatus, L. tem relevância na pesca, Reservatórios
As áreas de desova iniciais de P. obtusidens, Hemisorubim platyhrynchos, P. sugere que essa queda na
Figura 4.9 - Variações na riqueza de espécies antes e após 2 anos da
squamosissimus eram os trechos lóticos dos granulosus, Rhinelepis aspera, e Rhaphiodon abundância esteja mais formação de quatro reservatórios da bacia do rio Paraná (Fonte:
AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999).
tributários laterais desse reservatório, onde vulpinus, e outras espécies como associada à disponibilidade
128 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 129

Cabe ressaltar, entretanto, que a aplicação de dois reservatórios do rio Iguaçu, com envelhecimento do reservatório (Figura principalmente ao longo do ano (Figura 4.12;
da mesma estratégia de amostragem nas idades distintas, fornecem indicações sobre 4.11). Esses dados indicam ainda diferenças AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ;
fases rio e reservatório pode levar a isso. Segredo e Foz do Areia são na intensidade dessas perdas, sendo elas SUZUKI, 1999). A DCA revelou ainda que as
subestimativas no número de espécies na reservatórios contíguos no rio Iguaçu, sendo mais acentuadas na zona lacustre. diferenças entre as zonas lacustre, transição e
primeira. Há que se considerar que o que o remanso do primeiro alcança a fluvial tendem a aumentar com a idade do
represamento, nos primeiros anos, acolhe barragem do segundo. Supõe-se que a Com o objetivo de avaliar as variações reservatório (exceto 1997).
tanto as espécies tipicamente fluviais ictiofauna original do trecho do rio ocupado temporais na diversidade,
quanto aquelas de lagoas e riachos da área por eles tenha sido similar, e que as considerando-se os distintos
2,0
alagada ou de suas imediações. diferenças constatadas entre as amostras de hábitats ao longo de

Diversidade de Shannon (H’)


(29; 0,53) (35; 0,50)
peixes dos dois ambientes decorram das reservatórios, foram 1,8 (29; 0,48)

De qualquer maneira, o número de espécies diferenças em suas idades (1 ano e 14 anos, analisados padrões de
presentes na área recém-represada não deve respectivamente, na época em que o estudo diversidade β de amostras 1,6 (25; 0,46)
ser muito inferior àquele representado pela foi realizado). obtidas durante sete anos em 1,4
(28; 0,38)
somatória das espécies dos ambientes três regiões do reservatório de
alagados. Balon (1973) sugere padrão Assim, valores significativamente menores Itaipu, através de uma Análise 1,2 Segredo
(22; 0,33)
similar para o reservatório de Kariba, de riqueza de espécies (H de Kruskal- de Correspondência com Foz do Areia
1,0
enfatizando, entretanto, que a riqueza tende Wallis=3,97; P=0,046), equitabilidade remoção do efeito de arco Fluvial Transição Lacustre
Zonas
a cair no final da fase heterotrófica. (H=3,85; P=0,049) e, conseqüentemente, do (DCA).
Figura 4.11 - Valores do índice de diversidade de Shannon para
índice de Shannon-Wienner, observados no as comunidades de peixes dos reservatórios de Segredo (1
Já a diversidade específica, cujo valor reservatório mais antigo, devem refletir o A diversidade β é ano) e Foz do Areia (14 anos), considerando a zonação.
(número entre parênteses: riqueza e equitabilidade;
depende do número de espécies e da processo de perda de diversidade com o essencialmente uma medida de Fonte: AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ;
proporção de indivíduos quão diferentes (ou similares) SUZUKI, 1999)
entre elas, tende a cair já um conjunto de hábitats ou
nos primeiros anos, como amostras são em termos de
decorrência da (30; 0,66) suas espécies e abundâncias.
F
extraordinária abundância 3,2
Assim, quanto menos espécies T
Diversidade de Shannon (H’)

de algumas espécies (35; 0,58) as diferentes assembléias ou


(elevada dominância) que posições no gradiente L L L
T
encontram farto recurso 2,8 partilharem, maior será a T L T
diversidade β (MAGURRAN, F

DCA 2
alimentar no ambiente 83 F F
L L
represado e têm elevada 2,4
1988). 84
L F
capacidade reprodutiva 85 T
(30; 0,43) T
86 TF
(Figura 4.10). Os dois primeiros eixos
87
2,0 mostraram que a variância 88
F
Pré-represamento Pós(ano I) Pós(ano II)
Passada a fase anual foi substancialmente 97
Fases
heterotrófica, são maior que a variância entre as DCA 1
esperadas reduções na Fig. 4.10 - Variações no índice de diversidade de Shannon (H') na zonas do reservatório, Fig. 4.12 - Escores das zonas/anos do reservatório de Itaipu
fase de pré-represamento e nos dois anos após o represamento
riqueza e na diversidade do reservatório de Jordão (números entre parênteses indicam a sugerindo que o padrão de derivados de uma Análise de Correspondência com
remoção do efeito do arco (DCA; L=Lacustre; T=Transição;
específica. Comparações riqueza de espécies e equitabilidade; Modificado de UEM- diversidade β para o F=Fluvial; 83-87 indicam os anos de coleta; Fonte
NUPÉLIA-COPEL, 2002).
entre as faunas de peixes reservatório de Itaipu varia AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999).
130 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 131

Conclui-se, portanto, que em entre a freqüência das classes de


1977 1987 1997
um grande reservatório, como Migradores de longa distância m tamanho e a idade do
m
o de Itaipu, há uma tendência Migradores de curta distância
ml mm reservatório de Itaipu (entre *Z. jahu
Sedentários *P.mesopotamicus
de redução no número de Desconhecidos mm m
1983 e 1997), revela que a *S. brasiliensis
l m s *P.corruscans
espécies partilhadas entre as l l
l l m
l m
s s m mm freqüência de indivíduos *P.lineatus
s s m l m m l m *P.fasciatus
diferentes zonas ao longo do m m l m menores tem correlação *B.orbignyanus
s l m m *P.pirinampus

DCA 2
tempo, conforme também sm m
l m m m mm
s m positiva com o tempo decorrido S.borellii
s l m m ms
apontado por Oliveira, Goulart
s s m m sm s do fechamento das comportas. H.edentatus
m m m P.squamosimus
s m m m
sm m P.granulosus
e Minte-Vera (2004). As classes de tamanho mais R.aspera
m m
m mm freqüentes no período (entre 15 P.maculatus
H.malabaricus
A dispersão das espécies ao m m e 30 cm) e as maiores (40 a 50 *R.vulpinus
Gradiente temporal
m I.labrosus
longo dos eixos 1 e 2 da DCA, s
s cm) estiveram negativamente 0 10 20 30 40 0 10 20 30 40 0 10 20 30 40
realizada para o reservatório DCA 1 correlacionadas com esse tempo (Fr) (Fr) (Fr)
de Itaipu (Figura 4.13), indica (Figura 4.15). Figura 4.14 - Composição do pescado desembarcado na pesca
Figura 4.13 - Escores das espécies derivados de uma DCA obtida
que as espécies migradoras de para o reservatórios de Itaipu. (s = espécies de pequeno profissional do reservatório de Itaipu, antes (1977) e após o
porte, Ls < 20 cm; m = especies de porte médio, Ls = 20-50 represamento (1987 e 1997). Espécies grafadas em negrito
longas distâncias e de grande A abundância de peixes, a são grandes migradoras, * indicam aquelas que alcançam
cm; l= espécies de grande porte, Ls > 50 cm; Fonte:
porte (Ls > 50 cm) AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999). exemplo da diversidade e do comprimentos superiores a a 60,0 cm (Fonte: AGOSTINHO;
GOMES; SUZUKI; JÚLIO JÚNIOR, 2003).
apresentaram os seus ótimos tamanho dos peixes, também
(máximas abundâncias) somente nos anos pesqueiro, mas principalmente na muda após o represamento.
que sucederam a formação da barragem. Ao lucratividade e nas estratégias de pesca Comparações entre os valores
1,0
contrário, as assembléias nos anos mais (AGOSTINHO; GOMES, 2005). A Figura 4.14 da captura por unidade de
recentes são dominadas por espécies mostra a composição do pescado esforço, obtidos antes e até dois
0,5
sedentárias e de porte médio (Ls =20-50 cm). desembarcado pela pesca artesanal, antes e anos após o represamento, e
após a formação do reservatório de Itaipu. realizadas com a aplicação do

Correlação
A redução no comprimento médio dos As oito espécies mais importantes nas teste t para amostras pareadas 0,0

indivíduos que compõem a comunidade de pescarias antes do represamento (previamente log


peixes, pelas implicações que tem na desenvolvem grandes migrações, seis transformados), revelaram, -0,5

rentabilidade da pesca, é o aspecto mais alcançam comprimentos superiores a um para quatro reservatórios, um
notável em relação às alterações na metro, e seis são caracteristicamente incremento significativo na -1,0
0- 5 5-10 10-15 15-20 20-25 25-30 30-35 35-40 40-45 45-50
ictiofauna. Esse decréscimo no tamanho piscívoras. São, ainda hoje, considerados abundância de indivíduos após Classes de Comprimento Padrão (cm)
médio tem sido relatado por diversos peixes de excepcional valor comercial, cujos o represamento (t=6.72; Figura 4.15 - Coeficientes de correlação de Pearson entre as
autores (ARAÚJO-LIMA; AGOSTINHO; FABRÉ, 1995; preços oscilam entre duas e quatro vezes o P=0,0067) – Figura 4.16. abundancias de peixes e a idade do reservatório de Itaipu
(1983-1997) para diferentes classes de comprimento
AGOSTINHO; VAZZOLER; THOMAZ, 1995; PETRERE maior preço praticado pelo pescado mais (Fonte: AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ;
JUNIOR, 1996; BENEDITO-CECÍLIO; AGOSTINHO; comercializado no reservatório de Itaipu Essa tendência, esperada nos SUZUKI, 1999).
JÚLIO JÚNIOR; PAVANELLI, 1997). (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR; PETRERE JUNIOR, 1994). primeiros anos em razão do
grande aporte de nutrientes e da elevação da que assegure um bom suprimento alimentar
A depleção nos estoques de espécies de A análise dos dados da pesca experimental produtividade primária, torna-se mais para os jovens), especialmente se o segmento
grande porte, geralmente com hábitos confirma essa tendência de redução acentuada quando a formação do da bacia comporta uma fauna relevante de
migradores e piscívoros, tem impactos gradativa do tamanho dos peixes com o reservatório simula uma grande cheia espécies migradoras, como o caso do
consideráveis, não tanto sobre o rendimento tempo. Uma análise de correlação de Pearson (enchimento durante a quadra reprodutiva reservatório de Corumbá.
132 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 133

O elevado rendimento de peixes matéria orgânica terrestre ao sistema


em reservatórios tende, entretanto, 800 aquático eleva de modo extraordinário 300
Zona fluvial
100

CPUE (números de indivíduos)


Antes
a reduzir com o tempo e depende a disponibilidade de alimento, 250 (Guaíra)

CPUE (número)
700 80

CPUE (peso)
Depois
200
das características físicas desses 600 especialmente para espécies de 60
150
ambientes. Uma análise de 500 pequeno porte com hábitos insetívoro, 40
100
regressão múltipla aplicada aos 400 herbívoro e onívoro e, como 20
50
valores de CPUE (variável resposta 300 decorrência da proliferação dessas, de 0 0
log transformada) obtidos em nove 200 piscívoros. Essa disponibilidade tende 83 84 85 86 87 88 89 97
anos
reservatórios (Itaipu, Segredo, 100 a reduzir-se conforme os processos de
300 100
Areia, Corumbá, Rosana, Três 0
Rosana Três Irmãos Jordão Corumba mineralização da matéria orgânica Zona de transição
250

CPUE (número)
(Santa Helena) 80
Irmãos, Promissão, Ibitinga, Nova Reservatórios progridem, os nutrientes são exauridos

CPUE (peso)
200
60
Avanhandava) de diferentes áreas Fig. 4.16. Variações na captura por unidade de esforço ou carreados para jusante. 150
40
(8 a 1.350 km2, log transformadas),
2
(indivíduos por 1000m de redes em 24h) antes e após 100
a formação de quatro reservatórios da bacia do rio
idades (1 a 23 anos, raiz quadrada) e A riqueza de nutrientes e a elevada 50 20
Paraná (Fonte: AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES;
tempo de residência (1,2 a 118 dias; THOMAZ; SUZUKI; 1999). produtividade primária asseguram 0 0
83 84 85 86 87 88 89 97
raiz quadrada), revelou que as três elevada produtividade secundária por anos

variáveis explicam 88% da variação Além disso, a análise das variações da CPUE um período maior, especialmente para 300 100
Zona lacustre
observada na CPUE (R2). A hipótese conjunta no período que se seguiu à formação do os peixes planctófagos (TUNDISI; 250

CPUE (número)
(Fóz) 80

CPUE (peso)
de que que pelo menos um coeficiente reservatório de Itaipu revela tendências MATSUMURA-TUNDISI; CALIJURI, c1993). 200
60
150
parcial fosse igual a zero foi rejeitada distintas de variação conforme a zona Também o aumento na 40
100
(F=12,25; gl=3,5; P=0,010). considerada desse ambiente (Figura 4.17). disponibilidade de substrato para o
50 20
desenvolvimento do perifiton
0 0
Os coeficientes parciais (padronizados) No terço superior (zona fluvial), constatou-se (alagamento de vegetação arbórea e 83 84 85 86 87 88 89 97
anos
obtidos para idade do reservatório e tempo um decréscimo acentuado nos primeiros anos construções feitas pelo homem) torna
de residência foram significativos e iguais a após o represamento, seguido de um período esse recurso altamente disponível para
2
Figura 4.17 - Variações na captura por 1000m de
redes de espera por 24h (número de indivíduos ou
–0,493 (t=2,85; P=0,036) e 0,576 (t=3,65; de grandes oscilações e tendências de os peixes iliófagos (PETRERE JUNIOR, peso, em kg) na pesca experimental realizada no
P=0,015), respectivamente. O coeficiente incremento no último ano. Na zona de 1996; AGOSTINHO; GOMES, 1998). reservatório de Itaipu (Fonte: AGOSTINHO;
MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999).
parcial da área, igual a –3,81, não foi transição, as capturas em número oscilaram
significativo, considerando um nível de 5% em torno de um valor médio, com leve Quedas no rendimento de espécies com
(t=-2,202; P=0,079). incremento a partir do segundo ano. As esse hábito alimentar têm sido atribuídas à reservatórios pode ser avaliada pela
capturas em peso, entretanto, decresceram a decomposição de troncos e galhos no quantidade de alimento consumido em
Embora devam ser ressaltadas as restrições partir do terceiro ano e elevaram-se no reservatório de Itaipu (AGOSTINHO; VAZZOLER; relação à fase anterior ao represamento.
impostas pelo baixo número de último. Na zona lacustre, constatou-se um GOMES; OKADA, 1993; GOMES; AGOSTINHO, 1997).
reservatórios analisados, fato que leva a decréscimo contínuo desde o represamento, Uma avaliação nesse sentido foi realizada
considerar esses dados como preliminares, tanto em número (de 285 para 134 ind./ Em relação à estratégia alimentar, os para os reservatórios de Corumbá e Jordão, a
eles revelam que reservatórios com altos 1.000m2 de rede/24h) quanto em peso (de 80,4 reservatórios tendem a favorecer as espécies partir dos resíduos da regressão entre os
tempos de residência apresentam maior para 20,7 kg/1.000m2 rede/24h). com maior plasticidade na dieta e que não dados log-transformados do peso dos
abundância de peixes, o oposto sendo apresentem restrições relevantes nas demais estômagos e peso total de amostras obtidas
verificado para aqueles antigos e com Na fase de enchimento e períodos estratégias de vida. A elevada abundância de antes e após a formação desses reservatórios
maior área. imediatamente seguintes, a incorporação da alimento disponível nas fases iniciais dos (Figura 4.18).
134 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 135

Análises de variância aplicadas a Rosana (antes: 2,7%; após: 2,6%) e Itaipu O sucesso dos herbívoros em alguns
0,06
esses dados revelaram que o peso Reservatório de Corumbá
(antes: 2,0%; após: 3,0%). reservatórios esteve, aparentemente,
0,03
dos estômagos e, portanto, a tomada relacionado à sua importância no sistema
de alimento, aumentou 0,00 Mesmo o esperado incremento de piscívoros fluvial. Já os piscívoros, tornaram-se

Resíduos
significativamente após o -0,03 logo após o represamento não é um particularmente abundantes em
represamento, tanto no reservatório -0,06 fenômeno com tendência generalizada. reservatórios de bacias em que espécies pré-
de Corumbá (F=7,46; P=0,001), -0,09 Ocorreu em Tucuruí (antes: 16,7%; após: adaptadas às condições lacustres eram
quanto no de Jordão (F=389,72; -0,12 46,0%), Corumbá (antes: 10,3%; após: 12,7%) abundantes, como Cichla sp. e Plagioscion sp.,
antes depois
P=0,001). Fase e Rosana (antes: 21,9%; após: 28,0%). Já uma em Tucuruí (LEITE, 1993; PETRERE JUNIOR,
0,14 tendência oposta foi observada em Itaipu 1996).
Reservatório de Jordão
A análise das proporções da 0,10 (antes: 26,7%; após: 19,2%) e Três Irmãos
abundância das categorias tróficas 0,06 (antes: 32,5%; após: 29,6%). Em reservatórios mais antigos, a
Resíduos

em seis reservatórios de diferentes 0,02 comunidade de peixes parece sustentada


sub-bacias (Corumbá, Jordão, Três -0,02 Os resultados indicam que a estrutura trófica principalmente por recursos de origem
Irmãos, Rosana, Itaipu e Tucurui), -0,06 nos primeiros anos do represamento, tidos autóctone (aquática), apresentando também
-0,10
realizada antes e nos dois anos como decisivos no processo de colonização maior dependência das regiões litorâneas
-0,14
imediatamente após o represamento, pré-represamento pós (ano I) pós (ano II) posterior (RODRÍGUEZ RUIZ, 1998), parece para a obtenção desses recursos (ARAÚJO-LIMA;
não permitiu definir um padrão Fase depender (i) da presença de elementos da AGOSTINHO; FABRÉ, 1995; HOFLING; FERREIRA;
único de ocupação pelas diferentes guilda pré-adaptados às condições lacustres RIBEIRO NETO; BRUNINI, 2000; SMITH; PEREIRA;
Figura 4.18 - Variações no peso dos estômagos de
guildas, exceto pela redução na peixes antes e após o represamento, estimado com (eurióicas) e com grande plasticidade nas ESPÍNDOLA; ROCHA, 2003). Agostinho e
base nos resíduos derivados da regressão linear
abundância dos detritívoros- estratégias alimentares (eurífagas) e Zalewski (1995), analisando aspectos tróficos
entre os logarítimos dos pesos de estômago e total
iliófagos, grupo dominante em todos (Fonte: AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES; reprodutivas; (ii) do tamanho dos estoques do reservatório de Itaipu após quatro anos
THOMAZ; SUZUKI, 1999).
os sistemas fluviais em que esses que ficam retidos acima da barragem. de sua formação, estimaram que mais de 70%
reservatórios foram construídos da biomassa de peixes era composta por
(LEITE, 1993; AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR; PETRERE Os herbívoros tiveram marcante incremento Isso parece mais decisivo sobre o processo de espécies com dieta composta de itens
JUNIOR, 1994; PETRERE JUNIOR, 1996; CESP, 1996). na participação (CPUE-número) nos dois ocupação que a própria disponibilidade de autóctones (plâncton, bentos e peixes), 25%
reservatórios em que a guilda era um dado recurso alimentar. A elevada se alimentavam de detritos de origem mista
Mesmo os detritívoros/iliófagos, com importante antes do represamento, ou seja, biomassa de plâncton, especialmente na fase e apenas 5% utilizavam alimento de origem
tendências de reduções substanciais após o os reservatórios de Corumbá (antes: 13,2%; heterotrófica, não tem sido utilizada por ecotonal (folhas, frutos, insetos terrestres).
represamento (redução entre ½ a ¾ nesses após: 42,2%) e de Jordão (antes: 31,5%; após: peixes adultos nos grandes reservatórios do
reservatórios) tiveram uma participação 46,7%). Resultados semelhantes foram alto rio Paraná, em razão da inexistência de Essa tendência parece acentuar-se com o
relevante nas capturas do reservatório de registrados para o reservatório de Curuá- espécies pré-adaptadas às condições tempo, como demonstram os resultados
Jordão (antes: 26,4%; após: 40,3%). Una, na bacia Amazônica (FERREIRA, 1984b). pelágicas (GOMES; MIRANDA, 2001). Mesmo no obtidos por Hahn, Agostinho, Gomes e Bini
reservatório de Rosana, onde ocorre uma (1998) e mostrados na Figura 4.19. Para o
Os zooplanctívoros, presentes na fase rio de Já nos reservatórios em que a participação espécie zooplanctívora-filtradora, esta não reservatório como um todo, as espécies
dois deles, apresentaram tendências de anterior dessa categoria trófica era baixa sua teve sua ocupação bem-sucedida, insetívoras, piscívoras e planctófagas
ocupação distintas, sendo a guilda mais contribuição nas capturas totais não se provavelmente pelo fato de o estoque retido constituíram a base das capturas nos últimos
abundante em Itaipu (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR; alterou nem mesmo caiu. Esse foi o caso dos na barragem não ter alcançado os limiares anos. Esses autores ressaltam que tais
PETRERE JUNIOR,
1994), porém a menos reservatórios de Três Irmãos (antes: 1,7%; demográficos críticos para que a população mudanças temporais apresentam variações
importante em Rosana (CESP, 1996). após: 0,3%), Tucuruí (antes: 4,0%; após: 2,0%), fosse viabilizada. conforme a zona do reservatório considerada.
136 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 137

Assim, as guildas bentófaga e envolveram as guildas detritívora e do Areia. Já os insetos participaram da dieta
a detritívora (sensu FUGI; HAHN; Número herbívora, a primeira mais abundante em de todas as espécies, exceto H. malabaricus. Os
100
AGOSTINHO, 1996) onívoros Segredo (46% x 6%) e a segunda em Foz do taxa dos insetos foram, no entanto, diferentes
apresentaram maior Areia (70% x 32%) - Agostinho, Ferretti, entre os dois reservatórios, com amplo
80

Categorias Tróficas (%)


piscívoros
biomassa na zona fluvial, Gomes, Hahn, Suzuki, Fugi e Abujanra predomínio de himenópteros no mais antigo
enquanto que a planctófaga, 60 insetívoros aquáticos (1997). e de coleópteros no mais recente (AGOSTINHO;
iliófaga (sensu FUGI; HAHN; FERRETTI; GOMES; HAHN; SUZUKI; FUGI; ABUJANRA,
insetívoros terrestres
AGOSTINHO, 1996), piscívora e 40 Visando inferir sobre as alterações na 1997).
bentófagos
insetívora foram mais disponibilidade de alimento com a idade do
iliófagos
importantes nas partes mais 20 detritívoros
reservatório, esses autores analisaram os Entre os demais recursos, os peixes e
lacustres do reservatório. As herbívoros planctívoros conteúdos estomacais de todos os indivíduos crustáceos tiveram participação similar nos
amplitudes dessas variações 0 cujas espécies, no ciclo de um ano, dois ambientes, enquanto algas, detrito/
83-84 84-85 85-86 86-87 87-88 88-89
são também distintas entre as Anos correspondessem por 97% das capturas de sedimento e tecamebas reduziram
zonas do reservatório, com cada um deles. Os recursos explorados pelas drasticamente sua importância na dieta dos
Biomassa
flutuações pouco 100 assembléias de peixes dos dois reservatórios peixes no reservatório mais antigo.
onívoros
pronunciadas já a partir do 3o foram classificados como algas, vegetais
ano nas partes mais internas 80 superiores, tecamebas, insetos, crustáceos, Em reservatórios rasos e antigos da bacia do
Categorias Tróficas (%)

piscívoros
(lacustre e transição), e outros invertebrados, peixes e detritos. rio Paraná (>30 anos), os recursos mais
amplas ao longo de todo o
60 insetívoros terrestres abundantes parecem ser os detritos e insetos
período, no terço superior. bentófagos insetívoros aquáticos Tendo como critério a freqüência de (ARCIFA; FROEHLICH; NORTHCOTE, 1988; ARCIFA;
40
ocorrência de cada uma dessas categorias de MESCHIATTI, 1993; ABELHA; GOULART; PERETTI,

Amostragens realizadas no iliófagos alimento nos estômagos dos exemplares 2005), com amplo predomínio de espécies
20 detritívoros
15o ano da formação do capturados, independentemente da espécie, onívoras (ARAÚJO-LIMA; AGOSTINHO; FABRÉ,
herbívoros planctívoros
reservatório de Itaipu verificou-se que insetos e vegetais foram os 1995).
0
(UNIVERSIDADE ESTADUAL DE 83-84 84-85 85-86 86-87 87-88 88-89 itens mais amplamente
Anos
MARINGÁ.NUPÉLIA/ITAIPU utilizados, em ambos os
50
BINACIONAL, 1998) revelam, Fig. 4.19 - Variações nas proporções das categorias tróficas no reservatórios (Figura 4.20). Reservatório de Segredo

Freqüência de ocorrência
reservatório de Itaipu (HAHN; AGOSTINHO; GOMES; BINI, 1998). Esses recursos foram, no
entretanto, acentuado 40 Reservatório de Foz do Areia

incremento de piscívoros entanto, mais importantes no


30
(33% do número e 52% da biomassa) e predomínio dos herbívoros (42,2% da reservatório de Foz do Areia,
onívoros (19,4% e 24,5%) em relação aos anos biomassa), seguidos dos invertívoros onde 76% dos indivíduos os 20
iniciais, e redução de insetívoros (9,3% e (30,7%), piscívoros (25,5%) e detritívoros consumiram (44% em
10
5,3%) e planctófagos (0,9% e 2,3%). (1,4%), destacando-se as variações Segredo).
longitudinais nessas proporções. 0
detrito/
Marcante redução de planctófagos ocorreu A elevada abundância de insetos plantas algas
sedimento
peixes tecameba crustáceo outros

nas zonas mais internas do reservatório, Como já mencionado, no rio Iguaçu, Segredo Astyanax sp.b, uma espécie Recurso de dieta

onde eram mais abundantes. Ferreira e Foz do Areia são reservatórios contíguos, herbívora, esteve relacionada Figura 4.20 - Freqüência de ocorrência das diferentes categorias
(1984b), analisando a estrutura trófica do porém com idades distintas (1 e 14 anos, à importância desse recurso de recursos na dieta das assembléias de peixes dos
reservatórios de Segredo e Foz do Areia, rio Iguaçu (Fonte:
reservatório de Curuá-Una, na Amazônia, respectivamente, na época de estudo). Nesses em ambos os reservatórios, AGOSTINHO; FERRETTI; GOMES; HAHN; SUZUKI; FUGI;
cinco anos após sua formação, relata o reservatórios, as alterações mais relevantes com destaque para o de Foz ABUJANRA, 1997).
138 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 139

A origem do detrito não está clara, mas estabilidade no nível da água, visto que bloqueio de rotas migratórias
Mozeto, Nogueira e Esteves (1988) utiliza as áreas rasas marginais para a de peixes e a qualidade da 6
Fase I (1964 - 1967)
encontraram que, na represa do Lobo, ele é reprodução e cuidado com a prole (WILLIAMS; água liberada. Fase II (1969 - 1986)
5
composto principalmente de carbono de WINEMILLER; TAPHORN; BALBAS, 1998). Fase III (1988 - 1997)

Nível hidrométrico (m)


Fase IV (1999 - 2001)
macrófitas e input dos tributários. Para A regulação no regime de
4
Tundisi, Matsumura-Tundisi e Calijuri cheias nos trechos a jusante é
(c1993) as macrófitas são, de longe, o
Jusante do Reservatório uma decorrência esperada de
3
alimento mais importante para herbívoros e qualquer represamento (WARD;
detritívoros em reservatórios da Amazônia. A s características hidrológicas de STANFORD, 1995). Assim, além
2
um rio modelam os componentes físicos, de alguma redução na
A produtividade e a estrutura das químicos e biológicos dos ecossistemas descarga, os represamentos 1
J F M A M J J A S O N D
comunidades em reservatórios mais antigos fluviais (PETTS, c1984). Velocidade da água, afetam o hidrográfico natural,
Meses
parecem ser afetadas pelo número e tipo de variabilidade na descarga em diferentes atenuando e retardando os
predadores. Paiva, Petrere Junior, Petenate, escalas temporais, freqüência de vazões picos de cheias (Figura 4.21). Figura 4.21 - Médias mensais nos níveis hidrométricos do rio
Paraná na Estação Hidrométrica de Porto São José. Fase
Nepomuceno e Vasconcelos (1994), extremas exercem um controle fundamental I=antes da UHE Jupiá; Fase II=antes da UHE Rosana; Fase
comparando 17 reservatórios do Nordeste do sobre a natureza dos hábitats e dos Na atenuação da intensidade III=antes da UHE Porto Primavera; Fase IV=após UHE
Porto Primavera (Dados fornecidos por DENAEE ).
Brasil, demonstram que aqueles com dois organismos presentes (NEIFF, 1990). Em das cheias, com as vazões
predadores apresentam maior rendimento sistemas naturais, onde as comunidades mínimas sendo elevadas e as
que os com um número diferente desse, presentes são resultantes de um longo máximas reduzidas, ocorrem perdas alimento, locais de abrigo e nutrientes, são
atribuindo tal resultado à competição por processo evolutivo, as espécies têm seus significativas de hábitats, especialmente se controladas pela interação cheias-
recursos pelas presas e entre os predadores. ciclos de vida fortemente associados à o segmento a jusante contiver uma planície sedimentos e muitas espécies dependem de
dinâmica do regime hidrológico (JUNK; de inundação (Figura 4.21). Nesse caso, aqüíferos rasos, que são recarregados
Santos, Maia-Barbosa, Vieira e López (1994) BAYLEY; SPARKS, 1989; NEIFF, 1990). extensas áreas estarão alagadas durante a sazonalmente pelas cheias, para o
analisaram o impacto da presença de duas seca, perdendo sua dinâmica sazonal, crescimento e germinação.
espécies de piscívoros introduzidos (o Os represamentos, independentemente de enquanto outras não serão alagadas
tucunaré Cichla ocellaris e a corvina P. suas finalidades, são construídos para alterar (redução da vazão durante a época de Em geral, a vegetação mostra marcantes
squamosissimus) em reservatórios do rio a distribuição natural das vazões no tempo e cheias), reduzindo a conectividade do rio gradientes transversais na composição
Grande, bacia do rio Paraná, sobre a no espaço, comprometendo assim os com a sua várzea (WARD; STANDFORD, 1995). específica relacionados ao grau de umidade
composição do zooplâncton e de peixes aspectos da dinâmica dos rios que são sazonal a que está sujeita. Alterações nos
forrageiros, concluindo que a presença de fundamentais para a manutenção das Sazonalidade e conectividade são eventos níveis máximos e mínimos impostos pelos
ambas promove o incremento na densidade características dos ecossistemas aquáticos fundamentais para a integridade biológica represamentos e os pulsos artificiais
do primeiro e redução no segundo. (WCD, 2000), incluindo a ictiofauna e seus das planícies de inundação (ver Box 4.1). A gerados por liberações de água em épocas
hábitats. redução das cheias nesses ambientes afeta a erradas, em termos ecológicos, são
Essas duas espécies estão amplamente ictiofauna, tanto direta (migração, desova e reconhecidos na literatura como
dispersas na bacia do rio Paraná (AGOSTINHO, Embora o controle da vazão, incluindo a desenvolvimento inicial), quanto responsáveis pela destruição de florestas
1994). Plagioscion squamosissimus é o predador época, freqüência e a intensidade dos pulsos, indiretamente (produtividade de áreas riparias em diferentes partes do mundo
mais abundante nos grandes reservatórios seja a principal fonte de impacto no trecho a riparianas, planícies de inundação e deltas). (WCD, 2000).
dessa bacia, enquanto C. ocellaris (=C. jusante de um reservatório, outras fontes são
monoculus) tem seu sucesso determinado pelo também relevantes, com destaque para a As comunidades vegetais riparianas, A atenuação do hidrográfico implica severa
desenvolvimento das zonas litorâneas e retenção de sedimentos e nutrientes, o responsáveis por aportes importantes de perda de hábitats nas planícies de
140 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 141

inundação, com impactos sobre a Os estudos conduzidos na planície de JÚNIOR; PETRERE JUNIOR, 1994; GOMES; dessas estratégias, a abundância de juvenis
produtividade e a diversidade de peixes. A inundação do trecho do alto rio Paraná AGOSTINHO, 1997; AGOSTINHO; GOMES; VERÍSSIMO; foi baixa em anos sem cheias (1986-87).
perda de conectividade é especialmente compreendido entre os reservatórios de OKADA, 2004).
deletéria, visto que impede o acesso das Porto Primavera e Itaipu, com uma extensão Os resultados de um monitoramento da
larvas às lagoas marginais, afetando o aproximada de 230 km de trecho livre, têm As espécies parecem, entretanto, responder biomassa de peixes com diferentes
recrutamento (AGOSTINHO; VAZZOLER; GOMES; demonstrado que o fator ambiental de maior de forma diferenciada ao regime de cheias. O estratégias reprodutivas realizado em três
OKADA, 1993). relevância no controle da reprodução dos grau de dependência da elevação de nível do lagoas marginais da planície de inundação
peixes e recrutamento de novos indivíduos rio é menor nas espécies sedentárias que do rio Paraná fornecem algumas indicações
Como as variações sazonais no nível da água aos estoques explorados, inclusive os do cuidam da prole do que nos grandes sobre os impactos da regulação de vazão por
anexam grandes extensões do ambiente reservatório de Itaipu, é o regime de cheias. migradores que buscam os trechos altos da reservatórios. As amostras foram realizadas
terrestre ao sistema fluvial (zonas alagáveis), bacia para a desova e cujos jovens habitam as com arrastes, no sexto mês após o pico
elas promovem notáveis flutuações Isso pode ser observado não apenas pelo alto áreas alagadas durante as fases iniciais de reprodutivo das principais espécies. Os
ambientais que influenciam processos grau de sincronia entre as cheias e os desenvolvimento (AGOSTINHO; GOMES; hábitats monitorados são ocupados por
biológicos e a estrutura e funcionamento das principais eventos do ciclo reprodutivo ZALEWSKI, 2001). jovens do ano de grandes peixes migradores
assembléias de peixes. Assim, as flutuações (maturação dos ovócitos, migração, desova e e adultos e juvenis de espécies com outras
sazonais determinam, em graus variáveis, a desenvolvimento de juvenis), mas também Os estudos conduzidos na planície de estratégias.
disponibilidade de abrigo e alimento, pela alta correlação entre o sucesso de inundação do alto rio Paraná, abaixo de
reprodução, crescimento, mortalidade, recrutamento e a época, duração e amplitude Porto Primavera, demonstram que a Como a duração da cheia foi o principal fator
competição, predação e parasitismo. das cheias (AGOSTINHO, 1994; AGOSTINHO; JÚLIO abundância de indivíduos de espécies ligado ao recrutamento de peixes nesse
sedentárias em reprodução foi maior em trecho (GOMES; AGOSTINHO, 1997), esse atributo
anos secos (1986-87; Figura 4.22), enquanto a do regime de cheias foi empregado como
Bo
Boxx 4.1 de migradoras o foi nos anos de maiores variável explanatória, sendo considerado
Assembléias de peixes de lagoas em planícies de inundação tropical: explorando o papel da cheias (1992-93). Migradores de curta como duração das cheias o número de dias
conectividade distância mostraram tendências compreendido entre setembro e março, em
PETRY, A.C.; AGOSTINHO, A.A.; GOMES, L.C. Fish intermediárias. Contudo, para qualquer que o nível da água superou 3,5 m (221,5 m
assemblages of tropical floodplain lagoons: exploring
the role of connectivity in a dry year. Neotropical
Ichthyology, São Paulo, v. 1, no. 2, p. 111-119, Oct./
a
Dec. 2003. 45 Sedentários 6 Migratório curto 1.2 Migratório longo

CPUE*1000

CPUE*1000

CPUE*1000
“A irregularidade das chuvas e as reduções pronunciadas no nível hidrométrico alteraram drasticamente 30 4 0.8
a conectividade hidrológica dos ambientes lênticos da planície de inundação do alto rio Paraná em 2000. O 15 2 0.4
presente trabalho teve como objetivo examinar os padrões espaciais e temporais dos atributos e da estrutura 0 0
0
das assembléias de peixes em relação a variáveis limnológicas associadas à conectividade hidrológica. Os b
Sedentários Migratório curto Migratório longo
peixes foram coletados em arrastos trimestrais, na área marginal de 15 lagoas, pertencentes a duas categorias

CPUE*1000

CPUE*1000

CPUE*1000
45 15 15
12 12
de biótopos (lagoas conectadas e desconectadas). Variações na composição das assembléias refletiram o grau 30 9 9
de conectividade hidrológica. Os valores dos atributos das assembléias (riqueza de espécies, densidade e 15 6 6
3 3
biomassa capturada) foram significativamente menores em lagoas conectadas em relação a lagoas 0 0 0
86-87 87-88 92-93 86-87 87-88 92-93 86-87 87-88 92-93
desconectadas. Valores significativamente elevados de riqueza de espécies e biomassa capturada foram Período (anos)
registrados em novembro em relação a agosto. Espécies raras tiveram os maiores efeitos nos padrões observados
Figura 4.22 - Variação anual na abundância (CPUE=captura por unidade de esforço) de (a) adultos em
na ordenação das assembléias de peixes (DCA). Padrões observados na variação dos atributos das assembléias reprodução e (b) peixes juvenis de acordo com a estratégia reprodutiva, no alto rio Paraná,
foram diretamente correlacionados a fatores relacionados à conectividade hidrológica, com a profundidade, durante anos com diferentes níveis de cheias. Índices Hidrométricos Anuais: 1986-87=0mm;
os recursos (zooplâncton, clorofila a) e os nutrientes (fósforo total).” 1987-88=199mm; 1992-93=592mm (Fonte: AGOSTINHO; GOMES; ZALEWSKI , 2001).
142 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 143

acima do nível do mar, na estação Os levantamentos realizados por Sanches ser recrutadas a partir de tributários laterais Os procedimentos operacionais na maioria
hidrométrica de Porto São José). (2002) durante esse período revelaram altas não diretamente afetados pela barragem. dos reservatórios hidrelétricos resultam em
densidades de larvas e, portanto, uma desova Contudo, quando as cheias são ausentes por um regime de vazão altamente variável,
Os peixes migradores foram favorecidos por bem-sucedida. As larvas, entretanto, não estiagens regionais, todas as estratégias são com alterações abruptas que podem se
períodos anuais de cheias superiores a 75 puderam acessar os hábitats da planície em afetadas. propagar a vários quilômetros a jusante, até
dias, e essas espécies foram particularmente razão da falta de conectividade, fato que que sejam atenuadas (PETTS, 1986). Essa
bem-sucedidas em anos em que esse período refletiu na biomassa da coorte. O retardamento do pico hidrológico é ocorrência é mais evidente naqueles
foi maior (ex.: 1998) – Figura 4.23. esperado pelo fato de a onda de cheia se empreendimentos destinados a atender
Após o fechamento de Porto Primavera, as propagar mais lentamente no ambiente picos de demanda energética. Nessas
O fechamento do reservatório de Porto cheias foram extremamente raras. Em 2000, a represado, especialmente quando o volume ocasiões ocorre a exposição parcial ou, em
Primavera, no final de 1998, ocorreu quando ausência de cheias pode ser atribuída à de espera é elevado. Essa ocorrência, casos extremos, total do leito do rio a
o nível do rio encontrava-se alto, em pleno insuficiência de chuvas, enquanto em 2001, à quando exacerbada, é particularmente jusante, promovendo grandes mortandades.
período de reprodução das principais complementação do enchimento do adversa àquelas espécies cuja desova é O caráter catastrófico dessas ocorrências
espécies de peixes (dezembro), e resultou em reservatório de Porto Primavera. Nos anos sincronizada pelos picos de cheias. depende da amplitude da variação, da
uma diminuição de vazão a jusante similar em que o nível de água abaixo de Porto presença de planícies alagáveis a jusante e
às dos períodos de seca. Tal fato explica a Primavera é mantido artificialmente baixo, Gomes e Agostinho (1997) demonstram que do relevo do leito do rio.
baixa captura de peixes em 1999, a despeito algumas estratégias, como a dos não- as variações no regime de cheias no rio
da duração do período de cheias. migradores e com cuidado parental, podem Paraná, acima do reservatório de Itaipu, são A ocorrência desses pulsos é regulada pela
críticas para o recrutamento de curimba demanda de energia, podendo, portanto,
nesse reservatório, promovendo flutuações variar ao longo do dia, semanalmente ou
Duração de inundação (dias por ano) de até 39 vezes na intensidade de por estação do ano. Após o início da
recrutamento. Esses autores reportam que operação da UHE Porto Primavera, por
Biomassa (Kg/10m2) 2
Biomassa (Kg/10m )
1
1995
160 1 cheias duradouras, envolvendo o verão e o exemplo, constata-se a elevação do débito
2001
130
0.5 0,5 outono, correlacionam-se fortemente com o no início da noite, provocada pelo aumento
100
0
NM CP FI ML MC NI
0
NM CP FI ML MC NI recrutamento dessa espécie (n=5; r=0,83; da necessidade de geração para compensar o
70
Estratégias reprodutivas
40
Estratégias reprodutivas
Tabela 4.1). pico de consumo.
Biomassa (Kg/10m )
2 10 2
Biomassa (Kg/10m )
1 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 1
1996 2000 Tabela 4.1 - Matriz de correlação entre as diversas variáveis relacionadas ao regime de cheias
0.5 0,5
que podem afetar o recrutamento (defasagem temporal de um ano). Média: nível médio
0 2
0 da água; Máxima: amplitude das cheias ou nível máximo alcançado; Total: número de
NM CP FI ML MC NI Biomassa (Kg/10m ) NM CP FI ML MC NI
5 Estratégias reprodutivas dias com nível da água superior a 3,5 m em um dado ano; Verão, Outono, Verão-
Estratégias reprodutivas 1998 Outono,Inverno, Primavera: número de dias com o nível da água acima de 3,5m para
4
2 2
cada estação e ano; * correlações significativas (Fonte: GOMES; AGOSTINHO, 1997)
Biomassa (Kg/10m ) 3 Biomassa (Kg/10m )
1 1 Verão-
1997 2 1999 Variável Média Máxima Total Verão Outono Inverno Primavera
0.5 0,5 Outono
1
0 0 0
Média 1,00
NM CP FI ML MC NI NM CP FI ML MC NI NM CP FI ML MC NI Máxima 0,41 1,00
Estratégias reprodutivas Estratégias reprodutivas Estratégias reprodutivas Total 0,88 0,22 1,00
Verão 0,03 0,59 0,23 1,00
Figura 4.23 - Biomassa média estimada (kg 10m-2) de peixes em três lagoas do alto rio Paraná, de Outono 0,91* 0,02 0,93* -0,12 1,00
acordo com as estratégias reprodutivas obtidas seis meses após o pico reprodutivo das Verão-Outono 0,84 0,34 0,97* 0,44 0,84 1,00
principais espécies. NM = não-migradores; CP = cuidado parental; FI = fecundação interna; Inverno 0,34 -0,28 0,41 -0,56 0,51 0,16 1,00
ML = migradores de longa distância; MC = migradores de curta distância; NI = não Primavera 0,11 0,17 -0,05 0,30 -0,01 0,15 -0,82 1,00
identificado (Fonte: AGOSTINHO; GOMES; VERÍSSIMO; OKADA, 2004). Recrutamento 0,50 -0,06 0,74 0,43 0,66 0,83 -0,11 0,41
144 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 145

No município de Porto Rico, cerca de 40 redução de 24,9 para 10,8 mg.l-1 após a como conseqüência dessa
60
quilômetros a jusante dessa barragem, a formação desse reservatório. A menor carga retenção têm sido bem 2000-2001
1987-1988
variação de nível do rio Paraná mostra de sólidos confere à água evertida ou estudadas em alguns países 50

diferenças diárias de 20 cm a mais de um turbinada uma maior capacidade carreadora africanos, envolvendo não

P-total (µg.l-1)
40
metro entre o período da manhã e o início da ou erosiva, facultando-lhe promover apenas a pesca como
30
noite (SOUZA FILHO; ROCHA; COMUNELLO; alterações morfológicas e granulométricas também a agricultura e a
STEVAUX, 2004). Na região do remanescente nos hábitats de jusante, com conseqüências diversidade faunística (WCD, 20

de planície alagável do rio Paraná, essas sobre algumas espécies. 2000). 10


variações isolam lagoas onde se concentram 0
grandes quantidades de alevinos. Em alguns A maior transparência da água, por outro No Brasil, essa retenção

Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jlh
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
locais, essas lagoas isoladas podem dessecar lado, pode elevar a mortalidade por tem sido pouco estudada. Meses

precocemente, levando a grandes predação dos ovos e larvas de peixes. Informações preliminares Figura 4.25 - Variações mensais na concentração de fósforo total
antes (1987-1988) e após (2000-2001) a formação do
mortandades de larvas, alevinos e perda de Considera-se, neste ponto, que as espécies de indicam, entretanto, que na reservatório de Porto Primavera (AGOSTINHO; THOMAZ; GOMES,
biodiversidade. peixes migradoras desovam durante o bacia do rio Paraná, abaixo 2004), no trecho do rio Paraná a jusante da barragem. As
linhas horizontais indicam as médias de cada período.
período de chuvas e se beneficiam da do reservatório de Porto
Uma evidência de efeitos erosivos são os turbidez da água para a proteção da prole Primavera, a concentração
numerosos orifícios circulares que aparecem contra os predadores visuais (AGOSTINHO; de fósforo total mostrou 60 7
nas margens dos rios a jusante. Esses orifícios GOMES; SUZUKI, JÚLIO JUNIOR, c2003). sensível redução após a Fósforo total
50 Clorofila-a 6
são decorrentes de pipping, que é provocado formação desse

Fósforo Total (µg-1)


por mudanças rápidas no nível da água, o Em relação à retenção de nutrientes, os reservatório (Figura 4.25). 40 5

Clorofila-a
que gera um gradiente hidráulico elevado na reservatórios tendem a empobrecer as 30 4
água do lençol freático das margens. A saída áreas a jusante. Reduções da fertilidade Estudos realizados no rio
20 3
dessa água remove as partículas dos locais de planícies alagáveis e deltas de rios Paraná, antes da construção
de Porto Primavera, 10 2
por onde passa e gera
uma forma particular de fornecem, por outro lado, 0 1
0 1 2 3 4 5 6 7 8
erosão (SOUZA FILHO; 4,5
2000-2001
importantes indícios de Estações de Amostragem
ROCHA; COMUNELLO;
4,0 1993-1994 que os reservatórios já
1987-1988
Figura 4.26 - Concentrações de fósforo total e clorofila-a ao longo
STEVAUX, 2004). 3,5 existentes naquele período de um transecto no canal do rio Paraná, antes da formação
Transparência (m)

3,0 exerciam forte controle do reservatório de Porto Primavera (1 = 4 km abaixo do


reservatório de Jupiá; 3 = próximo à cidade de Porto Epitácio;
A retenção de sólidos em 2,5 sobre a fertilização da 6 = 40 km abaixo do rio Paranapanema; 7 = 5 km acima do
suspensão e nutrientes é 2,0 planície desse rio, reservatório de Itaipu (Fonte: TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI;
HENRY; ROCHA; HINO, 1988; SURHEMA/ITAIPU BINACIONAL,
uma característica 1,5 retirando dela nutrientes 1989; THOMAZ, 1991; THOMAZ; ROBERTO; LANSAC-TÔHA;
ESTEVES; LIMA ,1991; CESP ,1994).
comum aos reservatórios 1,0 ao invés de fornecer.
- Figura 4.24 (AGOSTINHO; 0,5 Observou-se, por exemplo,
THOMAZ; GOMES, 2004). A 0,0 que as concentrações de fósforo total e Embora parte desse incremento possa
Fev Mar Abr Mai Jun Jlh Ago Set Out Nov Dez Jan Fev
concentração de material Meses clorofila a na calha do rio Paraná, baixas no decorrer da entrada de importantes rios no
suspenso no rio Paraná, Figura 4.24 - Variações mensais na transparência da água (disco de trecho imediatamente a jusante do trecho, o fato de a concentração de fósforo
cerca de 25km a jusante Secchi) antes (1993-1994 e 1987-1988) e após (2000-2001) a reservatório de Jupiá, têm nítido incremento cair para menos da metade nas lagoas da
formação do reservatório de Porto Primavera (AGOSTINHO;
da barragem de Porto THOMAZ; GOMES, 2004), no trecho do rio Paraná a jusante da ao passar pela planície (Figura 4.26; planície e aumentar na calha do rio durante
Primavera, mostrou uma barragem. AGOSTINHO; VAZZOLER; THOMAZ, 1995). os picos de cheias, corrobora essa
146 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 147

interpretação. É provável que após a Contudo, diferentemente de Itaipu, interrompendo a tomada de alimento a 18 oC
construção de Porto Primavera, que isolou Dezembro reservatórios heterotróficos podem (MARQUES; AGOSTINHO; SAMPAIO; AGOSTINHO,
importantes rios que antes traziam 0 apresentar camadas anóxicas até próximo à 1992). Por outro lado, uma avaliação das
nutrientes para a planície, esse superfície (MATSUMURA-TUNDISI; TUNDISI; gônadas dos peixes a jusante do reservatório
-20
empobrecimento possa estar sendo ainda SAGGIO; OLIVEIRA NETO; ESPÍNDOLA, 1991; de Itaipu, durante a quadra reprodutiva,
7,7
maior. -40 AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; mostrou elevadas taxas de atresia folicular,
SUZUKI, 1999). sugerindo que a falta de acesso a hábitats
7,.1

Profundidade (m)
A qualidade da água liberada pelos -60 adequados e as condições térmicas
reservatórios é certamente distinta 6,5
As mudanças na qualidade da água a jusante prevalentes levaram essas espécies a
-80
daquela do rio natural, sendo determinada dos reservatórios podem afetar os peixes em reabsorverem seus gametas (AGOSTINHO;
pelos processos limnológicos que ocorrem -100 5,9 três caminhos distintos, ou seja, (i) por MENDES; SUZUKI; CANZI, 1993).
ao longo do trecho represado e, em razão exceder os limites de tolerância, (ii) por
de estratificações verticais, pela posição da -120 5,3 inibir processos biológicos como reprodução A barreira física interposta pela barragem
tomada d’água na barragem. Assim, os e alimentação, e (iii) por alterar o balanço aos movimentos migratórios de peixes é o
-140 4,7
processos metabólicos em reservatórios competitivo e as relações predador-presa impacto mais evidente nos represamentos,
a
heterotróficos tendem a produzir efluentes -160 (PETTS, 1986). dado que geralmente resulta no acúmulo de
M R1 R2 R3 R4 R5
com baixas concentrações de oxigênio e grandes cardumes nas imediações do
Estações
alta de amônia ou gás sulfídrico. Mortandades massivas a jusante são obstáculo e, devido à elevada
fenômenos recorrentes em muitos vulnerabilidade à pesca, atrai grandes
Já a posição da tomada d’água é altamente Dezembro reservatórios durante a fase heterotrófica contingentes para a pesca ilegal.
0
relevante, dado que a maioria dos (trophic upsurge period), especialmente
reservatórios apresenta-se, pelo menos -20 naqueles com tomadas d’água profundas e Nos sistemas hidrográficos da América do
29,7
sazonalmente, estratificado. Nesses casos, anóxicas (PETTS, 1986; AGOSTINHO; MIRANDA; Sul, o padrão de migração predominante é o
28,7
as liberações superficiais tendem a atuar -40 BINI; GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999; WCD, 2000). das migrações ascendentes para a reprodução
como retentoras de nutrientes e 27,7 Mudanças na composição específica são (AGOSTINHO; GOMES; SUZUKI; JÚLIO JÚNIOR, c2003).
-60
Profundidade (m)

exportadoras de calor, enquanto liberações 26,7 esperadas em razão das condições térmicas Entretanto, várias espécies da Amazônia
de fundo podem exportar nutrientes e -80 25,7 vigentes após a formação de reservatórios, (SANTOS; FERREIRA, 1999) e mesmo da bacia do
reter calor. 24,7 com a fuga das espécies para as quais as rio Paraná (BONETTO, 1986), mostram
-100 23,7 novas temperaturas são adversas. deslocamentos descendentes para a desova.
A Figura 4.27 mostra a distribuição 22,7 Muitas espécies amazônicas vivem grande
-120
espacial dos valores de temperatura e de Mesmo quando os adultos podem suportar parte do ano nos rios de águas claras e
21,7
concentração do oxigênio no reservatório -140
as novas condições na área a jusante das pretas, buscando aqueles de águas brancas
20,7
de Itaipu em dezembro de 1997. Na barragens, é possível que algumas espécies para a desova (ARAÚJO-LIMA; RUFFINO, c2003;
b
barragem desse reservatório, a tomada -160 tenham sua alimentação e reprodução ver Capítulo 2).
M R1 R2 R3 R4 R5
d’água localiza-se a aproximadamente 30 inibidas. Experimentos realizados com o
Estações
m abaixo da superfície. Variações pintado P. corruscans, uma espécie freqüente O bloqueio do acesso entre as áreas de
hipotéticas na posição dessa tomada Figura 4.27 - Diagrama espacial da concentração a jusante do reservatório de Itaipu, têm alimentação e reprodução é a ocorrência
-1 o
d’água produzem variações térmicas de de oxigênio (mg.l ; a) e da temperatura ( C; b) demonstrado que essa espécie reduz mais freqüente e geralmente atinge as
no reservatório de Itaipu, em dezembro de
até 9 oC e nas concentrações de oxigênio 1997. M = montante; R5 = barragem drasticamente a taxa de consumo alimentar espécies grandes migradoras em seus
em até 3 mg.l-1. (Modificado de PAGIORO, 1999). em temperaturas inferiores a 20oC, deslocamentos ascendentes para a
148 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 149

reprodução. Além disso, a área represada posição da barragem em relação aos


Efeitos Cumulativos entre as maiores do mundo. Assim, a calha
oferece restrições aos deslocamentos movimentos e distribuição das populações de rios como Grande, Tietê, Paranapanema,
passivos dos ovos e larvas produzidos pelo têm papel-chave na manutenção da Iguaçu e mesmo a do rio Paraná foi
fragmento populacional localizado a biodiversidade genética no trecho a Q uando diversos reservatórios são transformada em cascata de reservatórios.
montante, para jusante. Essas restrições montante. construídos em um único rio, os impactos Um modelo conceitual para predizer os
relacionam-se principalmente à cumulativos podem induzir a drásticas efeitos dos barramentos do rio Tietê sobre a
transparência da água (predação de ovos e Em bacias cuja fauna aquática seja reduções da fauna de peixes, podendo o qualidade da água e as assembléias de
larvas), ao seu caráter lêntico (transporte naturalmente fragmentada por grandes processo de extinção ser pronunciado. Muitas fitoplâncton foi proposto por Barbosa,
lento ou mesmo deposição no fundo, em quedas d’água, os represamentos podem bacias hidrográficas do mundo comportam Padisák, Espíndola, Borics e Rocha (1999) –
geral com menos oxigênio dissolvido) e à propiciar fantásticas misturas de fauna. O atualmente múltiplos reservatórios. Estima- ver Box 4.2.
mortalidade durante a passagem pela reservatório de Itaipu, por exemplo, se que 60% das maiores bacias hidrográficas
turbina ou vertedouro. possibilitou, com o alagamento de Sete do planeta estejam moderadas ou altamente A adição de reservatórios num curso d’água
Quedas (Guaíra), a dispersão de pelo menos fragmentadas por barragens (WCD, 2000). No implica aumento na perda de hábitats, na
16 espécies de peixes anteriormente Brasil, a densidade de reservatórios de fragmentação e perda de qualidade dos
Montante do Reservatório confinadas nos trechos inferiores da bacia do alguns rios da bacia do rio Paraná situa-se hábitats remanescentes, afetando os recursos,
rio Paraná, entre as quais algumas
O s impactos dos represamentos indesejáveis à pesca, como uma piranha e
duas raias (AGOSTINHO; VAZZOLER; THOMAZ, Bo
Boxx 4.2.
são, em geral, menos pronunciados nos
segmentos de rio acima do remanso dos 1995; AGOSTINHO; PELICICE; JÚLIO JÚNIOR, 2006).
O conceito de continuidade em cascata de reservatórios (CRCC) e suas aplicações para o rio
reservatórios. Entretanto, a troca de Duas das três espécies atualmente Tietê, Estado de São Paulo, Brasil
indivíduos entre populações de uma região é dominantes no trecho de planície a montante
BARBOSA, F.A.R.; PADISÁK, J.; ESPÍNDOLA, E.L.G.;
importante para manter suas estruturas do reservatório de Itaipu (GASPAR DA LUZ; BORICS, G.; ROCHA, O. The cascading reservoir
genéticas, especialmente quando existem OLIVEIRA; PETRY; JÚLIO JÚNIOR; PAVANELLI; GOMES, continuum concept (CRCC) and its application to the river
Tietê-basin, São Paulo State, Brazil. In: TUNDISI, J.G.;
populações mais isoladas. A fragmentação 2004) eram anteriormente confinadas nos
STRASKRABA, M. (Ed.). Theoretical reservoir ecology and its
de hábitats, fato inevitável nos trechos inferiores e médios desse rio. applications. São Carlos: International Institute of Ecology;
Leiden, The Netherlands: Backhuys Publishers; Rio de
represamentos, leva à formação de
Janeiro: Brazilian Academy of Sciences, 1999. p. 425-437.
metapopulações não- naturais, acelerando a
perda da heterogeneidade genética (HEDRICK;
Na barragem “As principais mudanças na qualidade da água e nas características básicas do fitoplâncton em uma série
GILPIN, c1997; AGOSTINHO; GOMES; SUZUKI; JÚLIO (cascata) de 7 reservatórios no médio rio Tietê, Sudeste do Brasil, foram investigadas em fevereiro de
JÚNIOR, c2003). Esse efeito pode ser mais T axas elevadas de mortalidade de peixes 1998 (estação chuvosa). As variáveis biologicamente não afetadas alteraram rapidamente nos reservatórios
superiores e então permaneceram constantes, enquanto aquelas biologicamente afetadas mostraram uma
importante para espécies migradoras, pois a são constatadas de forma eventual em
resposta prolongada, que pode ser explicada apenas se a cascata for considerada como um sistema. As
barragem e o trecho lêntico são, como visto, barragens hidrelétricas. Elas decorrem da
mudanças no primeiro reservatório do sistema concordam com o predito no conceito de descontinuidade
barreiras que impedem os movimentos passagem destes pelas turbinas, sua atração e
serial (SDC): o contínuo do rio (RCC) é basicamente afetado. Entretanto, as mudanças nos reservatórios
migratórios, influenciando, diretamente, na confinamento no tubo de sucção durante a a jusante tornam-se novamente contínuas e mostram que o mesmo processo se mantém operativo em todo
estrutura genética das populações. Assim, o parada de unidades geradoras para o contínuo do rio. Portanto, um conceito de continuidade em cascata de reservatórios (CRCC) pode ser
número de indivíduos retido a montante é manutenção, sua passagem pelo vertedouro proposto para a manipulação de processos ecológicos ao nível de sistema. Uma comparação dos presentes
fundamental para a manutenção da ou o impacto do funcionamento deste sobre dados com aqueles registrados previamente para alguns dos reservatórios mostra um crescimento rápido
heterogeneidade genética, além da peixes concentrados no seu canal de na eutrofização do reservatório mais superior da cascata. Baseando-se no CRCC e no atual status
escoamento. Essa modalidade de impacto é ecológico e da qualidade da água da cascata Tietê, uma progressiva eutrofização a jusante pode ser
integridade de locais adequados para sua
prevista, chamando então a atenção para urgentes necessidades de medidas restauradoras nas cabeceiras.“
proliferação. A época do fechamento e a analisada no Capítulo 6.4.
150 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Impactos dos Represamentos: alterações ictiofaunísticas e colonização 151

a sustentabilidade e a integridade dos Cascatas de reservatórios, pelo efeito Considerações Finais Apesar dessas dificuldades, pode-se
ecossistemas. Assim, a neutralização dos cumulativo da retenção de nutrientes, generalizar que, mesmo com o enorme
impactos de primeira ordem (físicos) na contribuem para a oligotrofização do rio volume de água e a extensa área alagada
bacia incremental pode não ocorrer em como um todo, com reflexos altamente O s represamentos alteram profundamente resultante da construção de grandes
razão de um novo reservatório, podendo as negativos na pesca. Um bom a dinâmica da água, a quantidade e reservatórios, a ictiofauna tende a habitar a
condições físicas adversas (vazão, entendimento do impacto da qualidade de hábitats, os processos de zona litorânea, o que cria abismos
temperatura, nutrientes, etc.) se propagar oligotrofização sobre a pesca é dado por produção primária e, conseqüentemente, a demográficos nas regiões pelágica e
por todo o curso do rio. Ney (1996) – ver Box 4.3. estrutura das comunidades naturais dos profunda. As assembléias de peixes que
sistemas fluviais em que se inserem. Com colonizam esses ambientes são,
base no exposto, vimos que as modificações essencialmente, aquelas presentes na região
Bo
Boxx 4.3. relevantes são promovidas na composição da antes do represamento. Vale destacar que só
ictiofauna, com profundas alterações na permanecerão no novo ambiente as espécies
Oligotrofização e suas conseqüências: efeitos da redução da carga de nutrientes na pesca demografia das populações, incluindo a com pré-adaptações para sobreviver em
em reservatórios redução drástica ou mesmo o ambientes com menor fluxo de água
desaparecimento local de espécies reofílicas e (lênticos) e que consigam completar todas as
NEY, J.J. Oligotrophication and its discontents: effects of
reduced nutrient loading on reservoir fisheries. In: a profusão daquelas oportunistas. Em geral, etapas do ciclo de vida no reservatório e
MIRANDA, L.E.; DeVRIES, D.R. (Ed.). Multidimensional é esperado que a riqueza regional de áreas livres remanescentes na região
approaches to reservoir fisheries management. Bethesda,
Maryland: American Fisheries Society, 1996. p. 285-295. espécies diminua e os padrões de elevada contígua. Essas são, geralmente, espécies
(American Fisheries Society Symposium, 16). dominância se acentuem. sedentárias com pouca especificidade
alimentar.
“A oligotrofização é o inverso do processo de eutrofização e pode ocorrer em reservatórios como resultado
O entendimento e a capacidade de predição
da sedimentação de nutrientes em reservatórios a montante, ou pela operação de estações de tratamento
avançadas (ETA), de água que entram em rios. Eu examinei a resposta da pesca em reservatórios à das assembléias de peixes a colonizar os Embora as alterações na ictiofauna se
oligotrofização, usando estudos de casos e analises de regressão da relação entre a concentração de fósforo, reservatórios mostram-se, ainda, mostrem extremamente deletérias na região
o principal nutriente limitante, e a produtividade pesqueira. No reservatório Smith Mountain (Virgina) extremamente precários. Além de a lacustre dos reservatórios, os impactos
e reservatório Beaver (Arkansas), localizados acima de ETAs, e no reservatório Mead (Nevada), localizado colonização ser influenciada por interação de atingem toda a área de entorno do
na parte superior, a oligotrofização foi acompanhada por reduções de mais de 50% na biomassa instantânea muitos fatores, estes com ampla variação empreendimento, especialmente os trechos a
(standing stock) de peixes presa planctívoros, e reduções no crescimento, biomassa instantânea ou espaço-temporal, fato que torna as jusante. O entendimento dos padrões de
rendimento de piscívoros na pesca esportiva. O fitoplâncton e a produtividade total de peixes foram
generalizações difíceis e imprecisas, o número zonação da ictiofauna é fundamental, visto
altamente correlacionados (r = 0,7-0,9) com a concentração de fósforo total de lagos e reservatórios,
de estudos que tentam avaliar os impactos que as espécies migradoras, típicas da fauna
aumentando linearmente em uma grande variação de concentrações. Status de eutrofização, em termos
de clorofila a e transparência da água, é alcançado em reservatórios da região temperada quando a derivados dos represamentos é ainda de rios, são as mais afetadas pelo
concentração de fósforo ultrapassa 40 ug/l, mas a biomassa de peixes esportivos não alcança pico em reduzido. Além disso, após o barramento dos represamento, e sua presença nos trechos
concentrações inferiores a 100 ug/l, com potencial para gerar conflito entre os diversos usuários de rios, a tendência de estabilização das superiores dos reservatórios depende dos
reservatórios. Medidas mitigadoras para restaurar a pesca esportiva em reservatórios após a oligotrofização condições ambientais nos reservatórios é ambientes remanescentes localizados a
incluem a introdução de peixes e a fertilização dos mesmos, sendo, o sucesso de ambos, duvidoso. A comumente revertida pelas ações montante. A construção de reservatórios em
prevenção da oligotrofização através da manipulação top-down das cadeias alimentares tem potencial antropogênicas na área de influência, cascata cria condições especiais em que os
para promover lagos com águas limpas e boa pesca, mas, provavelmente não será efetiva em grandes
incluindo aquelas decorrentes da própria impactos ambientais são amplificados,
represamentos eutróficos. Uma abordagem mais promissora é prevenir a indesejável oligotrofização através
operação da barragem, implicando alterações complicando demasiadamente qualquer
de tomada de decisão informativa. Cientistas da pesca devem colaborar com limnólogos para predizer os
impactos das reduções da carga de nutrientes na pesca de reservatórios e, então, atuar como educadores adicionais e constantes na ictiofauna. medida de conservação.
e defensores de seus recursos.”
Capítulo 5
A Pesca em Reservatórios:
diagnóstico da pesca e pescadores

A pesca é uma atividade que inevitavelmente se estabelece


em regiões de reservatórios, geralmente em períodos logo após
sua construção. Adquire relevante papel social, envolvendo
milhares de pessoas, de pescadores profissionais a amadores.
Entretanto, a produção pesqueira em reservatórios neotropicais é
caracteristicamente baixa, necessitando de ações de manejo
constantes. Ao longo da história, a pesca nesses ambientes foi
marcada pela aplicação de medidas de manejo questionáveis,
além do descaso das autoridades com as classes sociais
envolvidas. Tais posturas vêm resultando no colapso das pescarias
e na miséria das comunidades dependentes do recurso.
Capítulo 5.1
A Exploração e os Recursos Pesqueiros:
conflitos entre a demanda e as limitações

demanda por esse tipo de alimento (DE

Introdução SILVA, 2001).

Entretanto, a pesca em grandes rios


P eixes e outros organismos aquáticos mostra também, com poucas exceções,
sinais de depleção (PETRERE JUNIOR;
constituem importante fonte de alimento
no mundo atual, contribuindo com cerca BARTHEM; CÓRDOBA; GÓMEZ, 2004; ALLAN;

de 16% de toda a proteína consumida pela ABELL; HOGAN; REVENGA; TAYLOR; WELCOMME;

humanidade (FAO , 1999). Estima-se que WINEMILLER , 2005). Mesmo em rios que
aproximadamente metade da população ainda mantêm suas condições primitivas,
mundial tenha no peixe 20% de sua dieta. como o Amazonas, há evidências de
O crescimento populacional eleva essa depleções localizadas de alguns estoques.
demanda por pescado e contrasta com o Bayley e Petrere Junior (1989) relatam
estado de explotação dos estoques que os pescadores que desembarcam o
marinhos. pescado no mercado de Manaus têm que
se deslocar a maiores distâncias para
Acredita-se que 47% dos estoques estejam manter seus rendimentos, enquanto
no limite de sua exploração, 18% estejam Bittencourt (1991) acredita que alguns
sendo sobre-explorados e 10% estoques nas proximidades de Manaus
deplecionados, sendo que o restante mostram sinais de depleção. Além da
(25%) tem seu status desconhecido. A sobrepesca, o avanço da fronteira
estabilidade ou mesmo depleção nos agrícola e industrial, com a ocupação de
desembarques da pesca marinha tornam a novas bacias e criação de centros
pesca e a aqüicultura de água doce as urbanos, permite antever um
únicas alternativas capazes de satisfazer a agravamento no rendimento da pesca.
156 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Exploração e os Recursos Pesqueiros: conflitos entre a demanda e as limitações 157

A Complexidade da quadro da pesca e dos recursos pesqueiros analisados separadamente. Os autores barbado P. pirirampu, jaú Z. zungaro, além

Conservação de Recursos que caracteriza os reservatórios brasileiros. nomearam o fenômeno como pescando em dos grandes bagres do gênero
direção à base da teia trófica (fishing down the Brachyplatystoma), as alterações impostas nos
Pesqueiros Um desses trabalhos, de autoria de Pauly, food web), numa alusão à depleção ecossistemas pelos represamentos são
Christensen, Dalsgaard, Froese e Torres, Jr. progressiva e seqüencial de todos os níveis certamente mais eficientes na depleção de
A o paradoxo existente entre, de um lado, (1998), identificou possíveis efeitos de uma tróficos, a começar pelos superiores. seus estoques. Assim, para a pesca em áreas
as demandas por elevada produção pesca histórica, intensa e seletiva nas Alertaram que, se não houver um represadas, o raciocínio é algo diferente.
pesqueira e, de outro, as limitações características dos ecossistemas, medidos restabelecimento na estrutura das teias, a Nessa situação, a pesca apenas acelera a
biológicas e ambientais para satisfazê-las, em termos de alterações nos níveis tróficos pesca caminhará para uma crise de difícil depleção dos estoques de elevado nível
somam-se as recentes discussões sobre os das teias alimentares. Esses autores reversão. trófico na área represada, já que a causa
efeitos da própria pesca na sua demonstraram que a pesca marinha, após principal da falta de recrutamento é o
sustentabilidade. Essa discussão é décadas de atuação direcionada a espécies A ausência de predadores pode alterar a represamento do rio (interceptação de
importante, pois, apesar de ainda caminhar carnívoras e piscívoras (de elevado nível estruturação de toda a comunidade de cardumes, afogamento de áreas de
na trilha das hipóteses não-testadas, trófico), de grande porte e longo ciclo de diversas formas, (i) pela sua óbvia ausência, reprodução e/ou de desenvolvimento
demonstra que a solução do problema da vida, teve seus estoques seriamente (ii) por aliviar efeitos top-down, que inicial). Os efeitos proporcionados pela
pesca e conservação dos recursos pesqueiros deplecionados, principalmente após contribuem na manutenção da diversidade ausência desses grandes predadores na
em reservatórios é muito mais complexa. melhorias na eficiência do sistema de pesca de presas em alguns casos (PAINE, 1966), (iii) estrutura da comunidade de reservatórios e
Medidas simples, envolvendo a estocagem durante a década de 1970. por deixar de influenciar indiretamente nas do próprio ecossistema, embora não sejam
de peixes, a introdução de espécies ou relações entre grupos tróficos inferiores, bem conhecidos, podem ser mascarados
mesmo o controle da atividade, começam a Com a diminuição das capturas de espécies como na ligação entre zooplanctívoros, pela reestruturação da assembléia de peixes
mostrar-se altamente infrutíferas. de elevado nível trófico, geralmente de zooplâncton e fitoplâncton, (iv) além de que acompanha o fechamento da barragem.
maior valor comercial, os registros de expor, por falta de alternativas, as espécies A situação atinge proporções tão complexas
Nos últimos anos, a publicação de alguns desembarque passaram a acusar crescentes presas à pesca. O problema desta última que a ausência dessas espécies não significa
artigos científicos (PAULY; CHRISTENSEN; participações de pescados pertencentes a suposição está no fato de que, em um ausência de níveis tróficos superiores, visto
DALSGAARD; FROESE; TORRES, Jr., 1998; CONOVER; níveis tróficos inferiores. Isso significa que, sistema sem presas, logicamente não que predadores oportunistas de menor
MUNCH, 2002; BERKELEY; CHAPMAN; SOGARD, com a depleção dos estoques de interesse, existem predadores, e uma pesca excessiva porte, como piranhas, apaiaris, saicangas,
2004; BERKELEY; HIXON; LARSON; LOVE, 2004; houve alteração na estrutura do acaba por estabelecer um sistema de feedback traíras e jacundás comumente prosperam
BIRKELAND; DAYTON , 2005) provocou grande ecossistema, em termos de composição e positivo de depleção geral, com difícil em águas represadas. A substituição de
agitação entre os especialistas envolvidos abundância das espécies. Essa alteração recuperação dos estoques em todos os predadores de grande porte por aqueles
com a dinâmica da pesca, especialmente a pressionou a pesca a dirigir seus esforços a níveis. menores também gera perguntas ainda sem
marinha. Esses trabalhos reportam a ação de outras espécies, geralmente planctívoras, respostas.
dois fenômenos que possivelmente pertencentes a níveis tróficos mais baixos, Embora a pressão de pesca exercida sobre os
estariam alterando a dinâmica da pesca, com menor tamanho e menor valor estoques de espécies migradoras, a maioria As pescarias comerciais em reservatórios
com profundo impacto nos ecossistemas. As comercial. de nível trófico elevado, seja alta em rios brasileiros ainda buscam espécies
ocorrências observadas adquiriram elevado brasileiros, dado que estas apresentam migradoras, mas destas, as únicas com
grau de importância nos debates, com A diminuição no nível trófico médio do porte considerável e são, em termos capturas relevantes nesses sistemas são o
similar magnitude no nível de preocupação pescado foi observada como padrão geral palatáveis, muito apreciadas (dourado S. mandi e o corimba, que não se caracterizam
entre os especialistas. Apesar de terem sido nos oceanos e mesmo em águas interiores. brasiliensis, pintado P. corruscans, cachara P. como predadoras de topo. Além disso, a
observados primariamente em ambientes O padrão também persistiu localmente, fasciatum, jurupoca Hemisorubim diminuição do nível trófico médio das
marinhos, é impossível não associá-los ao quando diversos mares e oceanos foram platyrhynchos, sorubim Sorubim lima, capturas ainda não ocorreu naqueles
158 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Exploração e os Recursos Pesqueiros: conflitos entre a demanda e as limitações 159

reservatórios em que a pesca é exercida e apenas na diversidade biológica, mas risco à sustentabilidade da pesca é a Após quatro gerações, esses autores
monitorada há mais tempo, em virtude da também na pesca. Em relação ao tucunaré, degradação genética decorrente da detectaram alterações marcantes na estrutura
participação de piscívoros como a corvina e trabalhos clássicos demonstram que sua exploração dos indivíduos maiores populacional da espécie quando somente os
o tucunaré, pré-adaptadas às condições abundância no lago Gatun, Panamá, (BIRKELAND; DAYTON, 2005), tanto pelos indivíduos maiores eram experimentalmente
lacustres e introduzidas a partir da contribuiu para a extinção local de anseios dos pescadores, quanto pelas retirados. Esse tratamento experimental
Amazônia em diferentes bacias brasileiras. numerosas espécies (ZARET; PAINE, 1973). Essa exigências legais em relação a aparelhos de resultou em menores rendimentos, menor
Como evidenciado em alguns casos, se as espécie, dada sua procura por pescadores pesca e a tamanho mínimo. Conover e peso dos peixes, ovócitos com menor
capturas das espécies introduzidas esportivos, tem sido alvo de proteção Munch (2002) apresentaram resultados de um diâmetro e crescimento mais lento dos
declinarem, é muito provável que a pesca (pesque e solte) e repovoamento experimento realizado com uma espécie de indivíduos. Após a quarta geração, os
tenha que visar exclusivamente aquelas de clandestino em diversos pontos da bacia do peixe do oceano Atlântico, a Menidia menidia, indivíduos remanescentes tinham tamanho
pequeno porte, menos valorizadas, rio Paraná. Mesmo a corvina P. espécie com certa importância nos corporal muito menor, com crescimento
forrageiras e, portanto, pertencentes a squamosissimus, exemplo de introdução desembarques comerciais. Os resultados substancialmente mais lento em relação aos
níveis tróficos inferiores. Dentre elas bem-sucedida na bacia do rio Paraná, tem foram impressionantes e sua discussão é dos demais tratamentos.
destacamos os acarás, lambaris, piaus e seu benefício à pesca contestado por pertinente para as pescarias e o manejo da
curimatídeos, espécies já com relevante Agostinho, Vazzoler e Thomaz (1995) no pesca em águas interiores, especialmente nos Esse fenômeno tem explicação genética: os
participação nas pescarias de alguns reservatório de Itaipu, que demonstram reservatórios brasileiros. indivíduos maiores da população possuem
reservatórios. estar o rendimento dessa espécie num dado aparato genético ligeiramente diferente, que,
ano correlacionado negativamente com o A motivação desse experimento deu-se pela de forma geral, lhes confere maior rapidez
De qualquer maneira, o controle da pesca e do mapará H. edentatus no ano subseqüente observação da grande dificuldade na no crescimento. Como esses indivíduos
as ações de manejo nos habitats críticos de (relação de 1:2,8). É relevante o fato de a recuperação dos estoques marinhos após um foram subtraídos da população, a
espécies migradoras podem assegurar um corvina e o mapará serem comercializados colapso populacional, derivado da pesca característica genética também foi extirpada.
melhor desempenho em seus estoques e juntos nesse reservatório. Entretanto, o intensiva. Em geral, após evidências de Dessa forma, o rendimento diminuiu, pois a
prevenir o efeito de pescarias na base da impacto de peixes não-nativos sobre a pesca colapso, é comum que a pesca seja proibida população remanescente era formada por
cadeia alimentar, pelo menos nos trechos tem um aspecto menos evidente, porém de em determinadas regiões, com o intuito de indivíduos de crescimento mais lento, que
mais fluviais dos reservatórios com amplos alta relevância, que é aquele imposto aos que as populações de peixes se reestruturem. precisam de mais tempo para um incremento
segmentos livres a montante. Outro aspecto serviços que a biodiversidade presta a essa Porém os indivíduos demoravam tempo em peso.
de grande importância é a pressão de atividade, ou seja, fornecer aos pescadores demais para atingir tamanhos satisfatórios
predação exercida por espécies alternativas de exploração quando um ou iguais aos anteriores à sobrepesca, fato Devido ao fato de as pescarias serem
introduzidas, notadamente a corvina e o estoque por razões naturais ou que intrigava os pesquisadores. altamente seletivas, tanto por razões de
tucunaré. A principio, pelo menos em antropogênicas entra em depleção. Esse rendimento quanto por restrições legais
reservatórios do Tietê e do rio Grande, serviço tem sido registrado nos Os autores simularam então uma pesca (tamanho mínimo de captura), a atividade
essas espécies têm sido responsabilizadas monitoramentos de longo prazo nos seletiva nos estoques de M. menidia, mantidos vem promovendo uma seleção artificial nas
pela marcante redução na abundância reservatórios da bacia do rio Paraná, em em tanques artificiais. Essa pesca populações. Isso determina quais indivíduos
daquelas de pequeno porte (SANTOS; MAIA- especial no de Itaipu, onde o estoque mais experimental foi realizada em três níveis: sobreviverão, o que altera o curso evolutivo
BARBOSA; VIEIRA; LÓPEZ , 1994), afetando explorado durante os 15 anos passou por retirada somente dos indivíduos menores, das espécies. No caso de M. menidia,
espécies forrageiras que eventualmente espécies como curimba, mapará, corvina e somente dos maiores e retirada ao acaso. indivíduos de crescimento lento foram
poderiam sustentar alguns estoques de armado. Sabe-se, entretanto, que a retirada de selecionados, com perda de diversidade
piscívoros nativos. Restrições de pesca indivíduos maiores da população é a situação genética em nível populacional. O que esse
envolvendo essas espécies não-nativas A segunda categoria de problemas que mais comum a qualquer sistema de pesca, experimento mostra de preocupante é que a
teriam, em tese, impacto negativo não torna a exploração pesqueira um fator de seja marinho, seja de água doce. pesca funciona seletivamente para todas as
160 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL A Exploração e os Recursos Pesqueiros: conflitos entre a demanda e as limitações 161

demais espécies, incluindo, para o ambiente Em face a todas essas informações, é de, pelo menos, classes de indivíduos com com isso, é grande a possibilidade de que a
marinho, a pesca histórica do bacalhau, do impossível deixar de traçar um paralelo maior comprimento. variabilidade genética esteja se esvaindo.
atum e do esturjão, sempre objetivando os entre estas conclusões e a pesca em Como exemplo, nas pescarias estuarinas do
maiores indivíduos. reservatórios brasileiros. Os dois fatores É importante lembrar que não só os rio Amazonas, a escassez de bagres de
principais que levam à seletividade também migradores são vulneráveis a tal fenômeno, grande porte está resultando no
Outras pesquisas vêm dando suporte aos estão presentes, ou seja, (i) o desejo dos visto que as restrições a tamanhos de aparecimento de juvenis de grandes bagres
resultados de Conover e Munch. Estudando pescadores em capturar os maiores captura estendem-se também a diversas de alto valor comercial, como a piramutaba
o peixe-pedra Sebastes melanops, Berkeley e espécimes e (ii) a regulamentação com base espécies sedentárias. Ou seja, espécimes e a dourada, nos desembarques em Manaus
colaboradores verificaram o importante em tamanhos mínimos de captura. Ambas as grandes só não serão alvo das pescarias (GOULDING; SMITH; MAHAR, 1996). Fatos
papel das fêmeas grandes e com maior ações convergem na retirada seletiva de quando eles não existirem mais. A similares parecem ter ocorrido com
idade na estruturação populacional indivíduos maiores, e possivelmente uma legislação, que proíbe a captura de juvenis, populações de tambaqui, decorrentes
(BERKELEY; CHAPMAN; SOGARD, 2004; BERKELEY; seleção genética também esteja em curso. tem enorme valor por garantir a também da perda de habitats, e de pirarucu,
HIXON; LARSON; LOVE , 2004). Esses indivíduos abundância do recrutamento de novas esta levada à beira da extinção.
desovam com maior vigor, suas larvas Em reservatórios, esse efeito teria grande coortes nos próximos anos, mas a ausência
crescem até três vezes mais rápido que a de probabilidade de ocorrer, tanto a jusante de controle na captura das grandes matrizes O fenômeno das alterações na estrutura dos
outros mais jovens, e são mais resistentes à quanto na área represada. A jusante o fato parece ser danosa à viabilidade dos estoques pesqueiros, como decorrência da
falta de alimento. A explicação está no pode afetar os grandes cardumes de espécies estoques. Seria necessária uma exaustiva sobrepesca, vem sendo observado há algum
acúmulo de um lipídeo altamente migradoras que se acumulam discussão desses aspectos e revisão na tempo. Este efeito é conhecido como a
energético no corpo dessas fêmeas, o imediatamente abaixo da barragem, mesmo legislação específica para a pesca comercial, “tropicalização dos estoques” (HAEDRICH;
triacilglicerol (TAG), que é repassado para o com a existência de mecanismos de de maneira a garantir a proteção também BARNES, 1997; JACKSON; KIRBY; BERGER;

corpo dos alevinos. A retirada desses transposição. Apesar de a pesca ser proibida dessa parcela da população, considerando os BJORNDAL; BOTSFORD; BOURQUE; BRADBURY;

indivíduos grandes da população fatalmente nesses locais, é fato conhecido que ela efeitos negativos na perda da variabilidade COOKE; ERLANDSON; ESTES; HUGHES; KIDWELL;

reduzirá o tamanho médio dos peixes no ocorre e é intensa em algumas ocasiões. O genética. LANGE; LENIHAN; PANDOLFI; PETERSON; STENECK;

estoque, os quais, inclusive, apresentarão mesmo tem sua ocorrência provável nas TEGNER; WARNER, 2001; STERGIOU, 2002),
crescimento mais lento. regiões a montante da barragem, nesse caso, Entretanto, não é apenas a pesca comercial a situação em que ocorre a diminuição do
como decorrência dos aspectos legais de responsável por essa modalidade de tamanho médio dos peixes que compõem os
Além dos problemas de ordem genética, é tamanho mínimo de captura e uso de impacto genético. Em vários reservatórios, desembarques. O trabalho de Conover e
interessante observar a relação exponencial malhadeira a partir de um determinado a pesca esportiva extrai parcelas Munch (2002), acrescido pelos resultados de
existente entre a fecundidade e o tamanho tamanho. Vale destacar que existe, significativas do estoque, equiparando-se, Berkley e colaboradores apenas o explica e
corporal dos peixes (BIRKELAND; DAYTON, inclusive, uma classe de pescadores para algumas espécies, à pesca comercial nos dá a dimensão assustadora do
2005), ou seja, fêmeas grandes tendem a especializada na exploração pesqueira em (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ.NUPÉLIA/ problema. Assim, se essa perda de
produzir uma quantidade muito superior de novos reservatórios (barrageiros, PETRERE ITAIPU BINACIONAL , 2004). Essa modalidade variabilidade genética decorrente da
ovócitos. Isto significa que, após um evento JUNIOR,1996), a qual deve promover elevada visa, exclusivamente, indivíduos de grande exploração seletiva em relação ao tamanho
de depleção, espera-se uma recuperação pressão sobre os estoques, em razão do porte, tendo como meta a captura dos for muito difundiada entre as espécies de
mais rápida do estoque se a população tiver grande esforço e diversidade de métodos de maiores (troféus). peixes, os paradigmas estabelecidos em
fêmeas de elevado tamanho corporal. Dessa pesca que empregam. Tal episódio foi bem relação ao tamanho mínimo devem ser
forma, a manutenção da estrutura em documentado após o fechamento de Tucuruí É obvio que ainda não sabemos exatamente imediatamente revistos, dado que pode ser
tamanho da população pode ter relação e Sobradinho, quando se constatou a as implicações dessas remoções seletivas em um fenômeno irreversível. Nesse caso,
direta com o aumento da resiliência dos depleção dos estoques ao longo do tempo. nível populacional, mas o fato é que elas medidas como o controle da pesca ou a
estoques. Dessa forma, não seria difícil a dizimação estão ocorrendo em diversos ambientes. E, criação de santuários já não terão mais valia.
162 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

Nesse contexto, opções de manejo de pesca, represamentos ou da operação de


como reservas biológicas aquáticas nos reservatórios podem promover o
moldes das terrestres e implantadas antes
que a variabilidade seja perdida, ou
repovoamentos controlados visando
restabelecer a variabilidade genética, ou
deplecionamento dos estoques antes que a
pesca reduza sua variabilidade genética.
Entretanto, a sinergia desses dois impactos
deve ser objeto de maior atenção da
Capítulo 5.2
ainda reformulações profundas nos
documentos que regulamentam a pesca, são
pesquisa, do gerenciamento dos recursos e
dos órgão responsáveis pelos documentos Rendimento da Pesca em Reservatórios:
urgentes. É obvio que os efeitos dos que regulam a exploração pesqueira.
diagnóstico

sinônimo de desenvolvimento sustentável


de pesca em reservatórios (WELCOMME,
Introdução 1996; DE SILVA, 2001).

Avakyan e Iakovleva (1998) registraram


A proliferação de reservatórios aumento de 12 vezes no volume dos
hidrelétricos e seus impactos sobre os reservatórios em todas as partes do
estoques, especialmente de espécies mundo, após a Segunda Guerra Mundial.
migradoras, são fatores adicionais que Porém, para a América Latina, esse
acentuam tendências de depleção. Embora aumento foi de 40 vezes e para África e
os reservatórios sejam, geralmente, mais Ásia, de 100 vezes. Dado o caráter
produtivos que os rios que lhes dão conspícuo desses novos ambientes, a pesca
origem, esse benefício é amplamente passou a ser considerada um importante
neutralizado pelos efeitos relacionados à componente entre os seus usos múltiplos,
regulação da vazão a jusante, com impacto embora raramente levada em consideração
negativo sobre os criadouros naturais e a durante o planejamento de sua construção.
reprodução, e à menor qualidade do Dessa forma, apenas em alguns países,
pescado que produzem (ver Capítulo 4). como a China, a pesca já é considerada na
fase de planejamento da construção de
Entretanto, os reservatórios vêm pequenos e médios reservatórios (DE SILVA,
transformando a dinâmica fluvial de rios c1996, 2001).
de todo o mundo em uma sucessão de
ambientes lênticos, mudando a fisiografia Independentemente de ser planejada ou
regional e se constituindo em única não, é fato inconteste que a pesca se
alternativa de pesca em diversas bacias. A estabelece em reservatórios, constituindo
esse propósito, alguns autores destacam um dos mais importantes usos
que o desenvolvimento futuro da pesca em secundários. Entretanto, a expectativa
águas interiores está destinado a se tornar inicial de uma atividade promissora na
164 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Rendimento da Pesca em Reservatórios: diagnóstico 165

geração de pescado e renda, implícita, no profundos, apesar de a natureza e a Nesse período, a produtividade é elevada em de renda, geração de emprego e produção de
Brasil, nas ações de manejo praticadas dinâmica de lagos e reservatórios serem razão do grande aporte de nutrientes das proteínas para as populações socialmente
durante o período de 1960 a 1990, não se muito diferentes. A Tabela 5.2.1 apresenta áreas alagadas. Isso atrai para a atividade um menos favorecidas. São em geral exercidas
concretizou. Foram construídas diversas essa produtividade, observada em diversos grande número de pessoas. Quando a fase com o uso de redes de espera. Entretanto, há
estações de piscicultura (produtoras de ambientes de água doce tropicais (JACKSON; heterotrófica (decomposição da matéria diferenças marcantes na produtividade e no
alevinos) e, durante décadas, foram MARMULLA, 2000). orgânica alagada) finda, a produtividade número de espécies exploradas e,
realizadas estocagens de espécies exóticas e diminui, não sendo suficiente para a obviamente, na composição específica dos
nativas, sem respostas satisfatórias no Mesmo considerando a baixa rentabilidade manutenção do esforço de pesca inicial. A desembarques. Além disso, verificam-se, em
rendimento pesqueiro (ver Capítulo 6.2). e o fato de os grandes reservatórios persistência do mesmo esforço depleciona os cada continente, variações também
brasileiros jamais terem sido construídos estoques, o rendimento cai ainda mais e o relevantes no rendimento e em seu manejo.
A baixa produtividade dos grandes visando o desenvolvimento da pesca, essa caos social se instala.
reservatórios é, portanto, a maior restrição atividade vem se constituindo no mais Na Ásia, a pesca em reservatórios é, em
para a rentabilidade da atividade pesqueira importante uso secundário desses Este capítulo se propõe a avaliar o estado da geral, baseada em poucas espécies
nesse tipo de ambiente. No geral, a produção ambientes. A atividade pesqueira, arte da pesca em reservatórios brasileiros. (geralmente uma, podendo ser duas ou três),
pesqueira depende de muitos fatores, mas a especialmente nos reservatórios das bacias Essa, entretanto, não é tarefa simples, visto sendo realizada com redes de espera ou
área inundada e a profundidade do dos rios Paraná e São Francisco, abriga que o monitoramento dessa atividade é, em deriva, com pouca variação no tamanho das
reservatório parecem ter bastante influência. grandes contingentes populacionais geral, precário, carecendo, quando realizado, malhas (DE SILVA, c1996). Carpas e tilápias
Quirós (1999), avaliando cerca de 700 excluídos de outras atividades produtivas, de padronização, continuidade e rigor na são as espécies mais abundantes na maioria
reservatórios de todo o mundo, conclui que constituindo-se na única alternativa de tomada de dados. Além disso, em muitos dos países, sendo que as primeiras
o tamanho destes está relacionado à sobrevivência para milhares de pessoas. casos, os dados estão contidos em relatórios contribuem com cerca de 41%, e a segunda
produtividade, e que reservatórios grandes internos, com a metodologia de amostragem com 4% das capturas em águas continentais.
são pouco produtivos, independentemente O grande desafio da sustentabilidade é que a não claramente descrita. A maior dificuldade Excluindo-se os reservatórios da China, a
do esforço de estocagem (peixamento) pesca se estabelece de maneira desordenada relaciona-se à quantificação do esforço de produção média é de cerca de 20 kg ha-1 ano-1,
realizado. Reservatórios pequenos e rasos logo após a formação dos reservatórios. pesca, sem o qual as comparações não são com valores variando entre 5 a 675 kg ha-1
geralmente são mais possíveis. Assim, não foram considerados ano-1 (DE SILVA, 1988). Se incluídos os
produtivos e respondem nesta análise dados de desembarque que não reservatórios chineses, a média é mais alta,
Tabela 5.2.1 - Produtividade de peixes estimada em diversos
melhor aos esforços de continham informações acerca do esforço de aproximando-se de 100 kg ha-1 ano-1, com
ambientes tropicais (Fonte: JACKSON; MARMULLA, 2000)
manejo. Quando pesca ou da sua representatividade do valores entre 6,5 e 1.500 kg ha-1 ano-1 (DE
Produtividade
comparada com outros Tipo de Ambiente universo amostrado. SILVA, c1996). Porém cabe ressaltar que, nesse
(kg ha-1ano-1)
tipos de ambientes, a caso, estão incluídos reservatórios pequenos
produção de peixes em 1. Tanques de aqüicultura 400 - 9.300 que são intensamente estocados, sendo
pequenos e rasos 2. Planícies de inundação 200 - 2.000 A Pesca em Reservatórios prudente, no caso da Ásia, separar a pesca em
Tropicais
3. Tanques naturais rasos 50 - 1.000
reservatórios é similar à reservatórios pequenos e grandes.
4. Lagos rasos 50 - 200
produção observada em
5. Reservatórios rasos 110 - 300
lagos rasos, enquanto Em reservatórios menores que 5.000 ha (50
que a produção de
6. Grandes rios
7. Lagos profundos
30 - 100
10 - 100
A s pescarias realizadas em reservatórios km2; China, Indonésia, Filipinas, Sri Lanka,
reservatórios maiores e 8. Reservatórios profundos 10 - 50
tropicais nos diferentes continentes têm Tailândia e Vietnã), a produção pesqueira
mais profundos se 9. Rios pequenos e riachos 5 - 20 algumas características comuns, ou seja, são variou entre 7,3 e 1508 kg ha-1 ano-1 (DE SILVA,
aproxima da produção 10. Brejos 5 exercidas de forma artesanal e em pequena 2001). Na China, reservatórios com áreas
de lagos naturais escala, constituindo-se em importante fonte inferiores a 70 ha (0,7 km2) apresentam
166 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Rendimento da Pesca em Reservatórios: diagnóstico 167

produção que varia entre 750 e 3.000 kg ha-1 e chinesas. Dessa maneira, as pescarias têm- rendimento asiático, com 88,4 kg ha-1 ano-1 também localizado no rio Zambezi, em
ano-1, porém nestes a estratégia de manejo é se desenvolvido em torno das espécies não- (MARSHALL, 1984). Devido à elevada Moçambique, a principal espécie capturada é
similar à praticada em tanques de cultivo. As nativas, que apresentam populações auto- biodiversidade da ictiofauna nesse o clupeídeo Limnothrissa miodon, introduzida
espécies utilizadas nesses reservatórios são sustentáveis (tilápias), ou dependem de continente, será feita a descrição do a partir do reservatório Kariba, no qual
essencialmente ciprinídeos (carpas chinesas). estocagem regular, como o caso das carpas. rendimento pesqueiro para cada um dos também é a principal espécie nas capturas,
O sucesso desses empreendimentos na No Sri Lanka, outra opção tem sido a pesca principais reservatórios. juntamente com as tilápias T. rendalli,
China, que está sendo utilizado em outros de espécies carnívoras, como bagres e Serranochromis codringtoni e O. mortimeri (FAO,
países, como o Sri Lanka, tem sido atribuído ophicephalideos, que contribuem para No reservatório Volta (8.270 km2), localizado 2002). Nesse reservatório, o peixe-tigre
a vários fatores, destacando-se (i) o fato de elevados rendimentos pesqueiros. Em alguns em Gana no rio Volta, a produção média Hydrocynus vittatus também é um
que a pesca é levada em consideração no reservatórios da Tailândia e Lao, a pesca tem atinge cerca de 49 kg ha-1 ano-1. As tilápias componente importante das capturas
planejamento da construção do reservatório, incluído clupeídeos pelágicos, como a Tilapia zilli e Sarotherodon galileus e a perca do (BERNACSEK; LOPES, 1984).
ou seja, o fundo do reservatório é preparado; Clupeichthys aesarnensis e outras espécies Nilo Lates niloticus são as principais espécies
(ii) realização de estocagens massivas de nativas, como Notopterus notopterus, nas capturas (KAPETSKY, 1986; FAO, 2002). Já no No Lago Kainji (1.260 km2), localizado no rio
alevinos de tamanhos uniformes e Cyclochelichthys armatus, Hampala macrolepidota reservatório Nasser/Núbia (6.850 km ), 2
Niger, Nigéria, a pesca tem produtividade de
geralmente maiores que 12,5 cm; (iii) e Mystus nemurus (DE SILVA, 2001). Estudos localizado no rio Nilo, na divisa entre o 47 kg ha-1 ano-1 (ITA, 1984), sendo que as
eliminação quase completa das espécies mais recentes têm demonstrado que em Egito e o Sudão, as principais espécies nas tilápias Sarotherodon spp., Oreochromis spp. e
predadoras; (iv) estabelecimento de vários reservatórios existe um considerável capturas são O. niloticus, S. galilaeus, L. Tilapia spp. compõem 75% das capturas. A
proporções adequadas de estocagem entre estoque de espécies nativas de pequeno porte niloticus, Labeo spp., Clarias spp., Bagrus (2 participação de espécies migradoras na pesca
diferentes espécies, de maneira a permitir a (maioria ciprinídeos), de origem fluvial, que espécies) e Synodontis spp. Em 1968, as (mormorídeos, characoides, ciprinídeos,
exploração dos diversos recursos ocupam a zona pelágica quando adultos. tilápias contribuíam com cerca de 27% do bagres e a perca do Nilo) diminuiu após o
alimentares; (v) prevenção e/ou Dessa maneira, há possibilidade de total desembarcado no lado egípcio (Nasser), fechamento da barragem (FAO, 2002).
minimização do escape através da estabelecer pescarias sobre essas espécies, aumentando a participação para 90% em
incorporação de redes de bloqueio, e (vi) sem detrimento das já conduzidas, com 1991. No lado do Sudão (Núbia), as tilápias No continente sul-americano e
captura eficiente. Ressalta-se, no entanto, que potencial para aumentar o rendimento representam cerca de 64% do total capturado, especialmente no Brasil, onde os
em alguns reservatórios chineses, como no pesqueiro (DE SILVA, c1996). Lates 13,7%, Labeo 10,4% e Barbus 7,4% (FAO, reservatórios são mais numerosos, a pesca é,
Ea Kao (2,74 km2), onde a pesca baseada em 2002). em geral, menos produtiva, exceto nos
estocagem-remoção está associada à de Na África, onde estão localizados alguns dos primeiros anos de formação desses
populações auto-sustentáveis, esta apresenta maiores reservatórios do planeta, a pesca é O lago Kariba (5.550 km2), situado no rio ambientes (upsurge period; AGOSTINHO;
também elevada produtividade, ou seja, predominantemente de pequena escala, Zambezi, na divisa entre a Zâmbia e o MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999).

248,2 kg ha-1 ano-1 (PHAN; DE SILVA, 2000). conduzida por pescadores individuais, em Zimbábue, apresenta produção pesqueira Invariavelmente, a pesca é iniciada de forma
duplas ou em pequenos grupos. As média geral de 26 kg ha-1 ano-1 (MARSHALL, desorganizada, atraindo inicialmente grande
Para os reservatórios maiores que 5.000 ha, a principais técnicas de pesca variam entre os 1984). Entretanto, a região litorânea tem contingente de pessoas, incluindo algumas
média da produção é bem menor, variando reservatórios, mas no geral são utilizadas, baixa participação nos desembarques (6 kg com alta capacidade de pesca e já experientes
entre 6,5 e 85,5 kg ha-1 ano-1, em reservatórios além das redes de espera, redes feiticeiras, ha-1 ano-1), sendo a pesca baseada nas tilápias na exploração desse tipo de recurso em
da China, Indonésia, Filipinas e Vietnã (DE arrastos de praia e na coluna d’água (para Oreochromis mortimeri e Tilapia rendalli. Já a outros reservatórios (pescadores barrageiros;
SILVA,
2001). A pesca nesses reservatórios é captura de clupeídeos) e, mais pesca na região pelágica tem uma PETRERE JUNIOR; RIBEIRO, 1994; PETRERE JUNIOR,

dependente basicamente do sucesso de esporadicamente, tarrafas (KAPETSKY, 1986; produtividade de 21 kg ha-1 ano-1, sendo 1996). A ausência de planejamento durante a
colonização por espécies nativas dos rios, as FAO, 2002). Para os reservatórios africanos sustentada principalmente pela introdução instalação da atividade pesqueira e a queda
quais não se reproduzem no ambiente com informações sobre o rendimento da de Limnothrissa miodon (KAPETSKY, 1986). No esperada no rendimento da pesca em
represado, como é o caso das carpas indianas pesca, a média é alta, aproximando-se do reservatório Cahora Bassa (2.665 km2), momentos subseqüentes geram problemas
168 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Rendimento da Pesca em Reservatórios: diagnóstico 169

de sustentabilidade dos estoques, cuja explorar ambientes pelágicos e a existência equívocos na alocação de recursos e esforços, sendo o produto conservado em gelo e
solução requer medidas socialmente de cadeias tróficas longas. A baixa que são desviados dessa atividade para ações comercializado na região. O rendimento
drásticas e de difícil execução. produtividade primária fitplanctônica cuja racionalização dela depende (estocagem, desse tipo de pescaria é estimado por Santos
observada nos reservatórios também pode controle da pesca, etc.). Além disso, destaca- (1986/87) em 45.000 t.ano-1. (ii) Pescaria de
Entretanto, nas regiões da América do Sul estar associada aos baixos valores de se o fato de a pesca ser tida por muitos subsistência, praticada por ribeirinhos,
para as quais existem informações produtividade de pesca (GOMES; MIRANDA; tomadores de decisão como uma atividade apresentando características artesanais e
disponíveis, o rendimento pesqueiro é AGOSTINHO, 2002). pouco rentável e predatória. Petrere Junior difusas. O produto é destinado ao próprio
muito variável. Essa variabilidade parece (1985) destaca outro fator relevante, ou seja, consumo. Bayley e Petrere Junior (1989)
relacionada ao tamanho e profundidade dos as dificuldades de se obter informações, estimam que ela seja responsável por cerca
reservatórios, das espécies presentes e do Diagnóstico da Pesca em especialmente na região amazônica. de 60% do rendimento total da pesca na
seu histórico de uso e manejo, além de
Reservatórios Brasileiros Amazônia. (iii) Pescaria industrial, que tem
vários outros fatores. Na Ásia e África, Essa escassez de dados dificulta uma como objeto a captura da piramutaba
apesar de grande variação, a produtividade avaliação consistente do status dos recursos Brachyplatystoma vaillantii, sendo praticada nos
média da pesca é alta, atingindo, como P ara um diagnóstico preciso da pesca são pesqueiros e um diagnóstico conciso da segmentos mais baixos do rio Amazonas. O
visto, cerca de 100 e 88 kg ha-1 ano-1, necessárias informações acerca (i) do pesca, restringindo o planejamento e a pescado é destinado ao Sul do país ou ao
respectivamente. Na América do Sul, desembarque pesqueiro, (ii) do esforço tomada de medidas racionais de manejo. exterior. Bayley e Petrere Junior (1989)
embora a disponibilidade de dados de aplicado e (iii) da representatividade das Assim, neste tópico são apresentadas e estimam o rendimento dessa modalidade de
desembarque seja escassa, essa amostras em relação ao universo amostral, discutidas, de forma preliminar, as pesca em 28.000 t.ano-1. (iv) Pescaria de peixes
produtividade média é muito menor. Como embora bons resultados para comparações informações disponíveis para as mais ornamentais, praticada principalmente no rio
exemplo, considerando somente o Brasil, a possam ser obtidos a partir das duas importantes bacias hidrográficas brasileiras, Negro. O produto dessas capturas é
produtividade em Sobradinho atingiu 57 kg primeiras. É igualmente imprescindível que com destaque para os reservatórios. destinado à exportação para os Estados
ha-1 ano-1 em 1980, variou em torno de 5 kg os dados tenham abrangência espacial e Unidos, Alemanha e Japão. O rendimento é
ha-1 ano-1 em Tucuruí e tem uma média de temporal suficiente para contemplar as avaliado entre 15 e 20 milhões de
9,1 kg ha-1 ano-1 em reservatórios da bacia variações dos estoques nessas duas Bacia Amazônica exemplares/ano, destacando-se o marcante
do rio Paraná (AGOSTINHO; VAZZOLER; THOMAZ, dimensões. predomínio do tetra cardinal Paracheirodon
1995; PETRERE JUNIOR, 1996; GOMES; MIRANDA;
As informações disponíveis sobre a pesca no
N a bacia Amazônica, a pesca em ambientes axelrodi. (v) Pescaria em reservatórios, que
AGOSTINHO, 2002). Por outro lado, esses naturais é dotada de grande heterogeneidade inclui as duas modalidades anteriores
valores chegam a 152 kg ha-1 ano-1 nos Brasil são, no entanto, geralmente espacial, elevada diversidade específica e alto (comercial e de subsistência), além da
açudes nordestinos, que têm áreas menores incompletas e intermitentes, tendo sido rendimento (MÉRONA, 1990). Os esportiva. Nos primeiros anos de formação
e onde a estocagem é massiva (PAIVA; obtidas com metodologias variadas e desembarques em Manaus na década de 1980 do reservatório (fase heterotrófica), a pesca
PETRERE JR.; PETENATE; NEPOMUCENO; algumas vezes sem o rigor científico somaram cerca de 30.000 t.ano-1, em Belém comercial é praticada principalmente por
VASCONCELOS, 1994; PETRERE JUNIOR , 1996). necessário. Tais informações já foram 20.000 t.ano-1 (ISAAC; MILSTEIN; RUFFINO, 1996), pescadores itinerantes. Tem, inicialmente,
classificadas como extremamente pobres, sendo que Bayley e Petrere Jr. (1989) composição específica variável, sendo
Gomes e Miranda (2001) destacam alguns tanto em qualidade quanto em quantidade, estimaram o potencial da pesca amazônica posteriormente dominada por tucunarés
fatores possivelmente envolvidos com a por Welcomme (1990). Essa escassez e/ou em 902.000 t.ano-1. (Cichla spp.). No geral, o rendimento
baixa produtividade pesqueira em inconsistência de dados sobre a pesca em observado é muito baixo.
reservatórios da bacia do alto rio Paraná, reservatórios brasileiros decorre tanto da Santos e Ferreira (1999) reconhecem cinco
mas que podem ser estendidos a outras cultura do não-monitoramento (“todo ano categorias de pesca nessa região: (i) Pescaria Bayley e Petrere Junior (1989) acreditam que
bacias. Dentre as causas, mencionam a repete-se a mesma coisa”, “não há nada de comercial que é realizada num raio de 100 a a grande variedade de peixes nos
ausência de espécies de peixes adaptadas a novo”), tradicional no país, quanto de 1.000 km a partir de grandes centros urbanos, desembarques de Manaus só não é ainda
170 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Rendimento da Pesca em Reservatórios: diagnóstico 171

maior devido às preferências do mercado e (1999). O reservatório de Balbina está O número de pescadores comerciais capturas de 1.000 kg dia-1 no reservatório,
às dificuldades de conservação de algumas localizado no rio Uatumã, Estado do registrados na colônia vem diminuindo principalmente tucunarés. Dessa maneira, é
delas. Além da piramutaba e tucunarés, Amazonas, região do baixo rio Amazonas. A desde 1992, caindo de 300 nesse ano para possível estimar preliminarmente, pois o
destacam-se nas pescarias da Amazônia os barragem foi fechada em 1987, inundando cerca de 100 em agosto de 1997. A densidade esforço de pesca e as capturas devem variar
pacus e tambaquis, cianídeos, uma área de aproximadamente 2.360 km2. A de pescadores é muito baixa (0,04 – 0,07 ind./ consideravelmente durante o ano, o
prochilodontídeos, curimatídeos, pesca comercial iniciou-se no ano seguinte km2). Os pescadores atuam em média 18 dias rendimento em 240 t.ano-1 (assumindo 240
anostomídeos e hemiodontídeos. Petrere ao do fechamento, tendo sido favorecida por mês, resultando em uma captura por dias de pesca ao ano). Da mesma forma,
Junior (1978, 1982) e Bayley e Petrere Junior sobremaneira com a pavimentação da unidade de esforço (CPUE) de 33 kg pesc.- levando em consideração a área do
(1989) descrevem as espécies dominantes em rodovia BR 174, que liga Manaus a Balbina. dia-1. Praticamente todo o pescado é
1
reservatório (579 km2), podemos estimar a
vários tipos de ambientes de pesca, enquanto Atualmente, a pesca amadora e esportiva direcionado ao mercado de Manaus. produtividade de peixes em 4,1 kg ha-1 ano-1.
que Goulding, Smith e Mahar (1996) também tem sido importante para a Se tal produtividade estiver próxima à real, o
descrevem o panorama da pesca no baixo economia da região. Com relação à pesca esportiva e amadora, reservatório de Samuel também apresenta
Amazonas. cerca de 50 pescadores visitam o reservatório baixa produtividade pesqueira.
Entre os anos de 1991 e 1994 o rendimento da por final de semana, totalizando um
Informações sobre atividades de pesca em pesca comercial foi de aproximadamente 500 expressivo rendimento de 6 t.mês-1, já que
reservatórios da bacia Amazônica são t.ano-1, considerando somente o existe cota de 30 kg/pescador. Bacia Araguaia/Tocantins
escassas, incompletas e fragmentadas, desembarque de tucunarés. A partir de 1994
estando restritas aos reservatórios de Balbina
e Samuel. Grande parte dos estudos
observou-se queda progressiva no
rendimento, atingindo menos de 300 t em
Reservatório de Samuel O s rios Araguaia e Tocantins constituem
uma bacia separada na Amazônia, drenando
realizados em reservatórios amazônicos não 1996 (Figura 5.2.1). Nesse período a produção Esse reservatório localiza-se no rio Jamari, somente território brasileiro e passando por
avalia a pesca ou rendimento pesqueiro, média oscilou em 1,2 - 3,1 kg ha-1 ano-1, afluente direito do rio Madeira, Estado de diversos Estados. Nos últimos 20 anos a
sendo os estudos mais voltados a aspectos revelando uma baixa produtividade. Apesar Rondônia. A obra foi concluída em 1988, bacia vem sendo intensamente ocupada pela
ecológicos/zoológicos (descrição da de outras 70 espécies serem registradas nos inundando uma área de 579 km2. Um total de pecuária, mineração e construção de grandes
ictiofauna). Sabe-se, porém, que os desembarques desse reservatório, o tucunaré 122 espécies de peixes foi registrado na reservatórios (PETRERE JUNIOR, 1996; CETRA;
pescadores envolvidos são na maioria compôs a base das capturas. Entre as espécies região. A pesca comercial no reservatório foi PETRERE JUNIOR, 2001).
itinerantes e objetivam a pesca do tucunaré secundárias, incluem-se a piranha preta liberada em 1991 para 20 pescadores
(SANTOS; FERREIRA, 1999), tanto na modalidade Serrassalmus rhombeus, o aruanã Osteoglossum cadastrados na colônia de Porto Velho, mas O número de espécies situa-se em torno de
comercial quanto na esportiva. Descrevem-se bicirrrhosum e a traíra Hoplias malabaricus. fechada um mês depois por falta de 400, considerando-se toda a bacia (Núcleo de
a seguir as pescarias praticadas fiscalização. Somente a pesca com linhada foi Estudos Ambientais, dados não publicados).
nos reservatórios para os quais permitida e não existem dados de Antes da construção do reservatório de
os dados estão disponíveis. 800
desembarque de pescarias em Samuel. Sabe-se Tucuruí, a pesca acontecia na calha do rio,
que a pesca se intensificou após o objetivando cardumes de espécies
Rendimento (t)

600
migradoras como curimbas, maparás e
Reservatório de Balbina 400
represamento do rio, e que os peixes mais
procurados são o tucunaré, o mapará e o piau- grandes bagres (CARVALHO; MÉRONA, 1986). As
200 comum Schizodon fasciatus, que proliferaram frotas pesqueiras de diversas cidades, como
As informações aqui citadas, 0
após o enchimento da represa (SANTOS, 1995). Marabá, Cametá e Imperatriz, possuíam
tanto das características do 1991 1992 1993 1994 1995 1996 áreas e épocas bem-definidas de atuação,
Anos
reservatório quanto da pesca Santos e Ferreira (1999) apresentam resultando num rendimento de 4.250 t.ano-1
Figura 5.2.1 - Rendimento pesqueiro (t) no reservatório de
comercial, provêm do trabalho Balbina, entre 1991 e 1996 (Fonte: SANTOS; OLIVEIRA informações cedidas pelo Setor de Meio em toda a bacia (SANTOS; MÉRONA, 1996). Após
de Santos e Oliveira Junior JUNIOR, 1999).
Ambiente da Eletronorte, apontando a construção desse reservatório, profundas
172 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Rendimento da Pesca em Reservatórios: diagnóstico 173

modificações foram observadas na ictiofauna A região a jusante do reservatório O número de pescadores


e na pesca. Segundo Santos e Mérona (1996), apresentou elevação no rendimento logo também aumentou. Em 1988 600

populações de peixes a jusante da barragem após o fechamento da barragem, mas que eram 0,5 ind./km , passando
2

desapareceram, acontecendo o mesmo com diminuiu drasticamente nos anos para 1,6-2,1 ind./km2 em 1995 4500

Toneladas
as espécies migradoras dentro do subseqüentes, como resultado da pesca (CAMARGO; PETRERE JUNIOR, 2004).
3000
reservatório. Populações de outras espécies intensiva e dos efeitos hidrológicos do O número máximo de
sofreram explosões demográficas na área barramento (SANTOS; MÉRONA, 1996). Nos dois pescadores no reservatório foi
1500
represada, como piranhas, tucunarés e o anos subseqüentes ao fechamento houve limitado a 2.500, mas existem
próprio mapará (espécie planctófaga). Desde queda de 65% nas capturas dessa região inúmeros atuando 0
então, cinco novos reservatórios mudaram a (RIBEIRO; PETRERE JUNIOR; JURAS, 1995). clandestinamente (ELETROBRÁS; 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Anos
fisiografia do rio Tocantins. Destes, no ELETRONORTE,2000).
Das 400 espécies de peixes registradas na Figura 5.2.3 - Projeção do rendimento pesqueiro (t) no
entanto, não há informações sobre a pesca, Considerando o aumento na reservatório de Tucurui até o ano de 2009, considerando
que, mesmo proibida, é intensa (observação bacia, aproximadamente 30 são densidade de pescadores ao uma taxa de crescimento de 10% ao ano na densidade de
desembarcadas na pesca do reservatório de pescadores (Fonte: CAMARGO; PETRERE JUNIOR, 2004).
pessoal). longo dos anos, Camargo e
Tucuruí, sendo que o tucunaré Cichla Petrere Junior (2004) fizeram
monoculus, o mapará Hypophthalmus uma projeção do estoque de peixes até 2009. com um rendimento de 26.100 toneladas
Reservatório de Tucuruí marginatus e a corvina P. squamosissimus Com um incremento de 10% ao ano na nesse ano (SATO; GODINHO, 1999).
totalizaram mais de 85% das capturas totais densidade de pescadores, observou-se
O reservatório de Tucuruí está localizado no no período de 1992 a 1999 (CAMARGO; PETRERE diminuição no estoque a partir de 2001, A composição do pescado mostra variações
rio Tocantins (Tucuruí e Marabá, PA), abaixo JUNIOR, 2004). O tucunaré e a corvina são seguindo dessa forma em progressão linear, acentuadas entre os trechos livres da bacia e
da confluência com o rio Araguaia. O espécies sedentárias, enquanto que o mapará com sobrepesca em 2005 (Figura 5.2.3). os reservatórios. Assim, nos trechos livres
reservatório, fechado em 1984, inundou uma é migradora. Nesse mesmo período, o Considerando os dados apresentados por predominam os grandes peixes migradores,
área de 2.430 km2. Nos primeiros quatro rendimento do tucunaré vem diminuindo, Camargo e Petrere Junior (2004), a CPUE como o pintado Pseudoplatystoma corruscans, o
anos após o enchimento do reservatório, a enquanto que o do mapará aumentou nos deve ser aproximadamente 4,7 kg pesc.-1 dia-1. curimba Prochilodus marggravii e o dourado S.
produtividade da pesca comercial aumentou últimos anos (Figura 5.2.2). brasiliensis. Já nos reservatórios, a captura de
em 600% (ELETROBRÁS; espécies migradoras é esporádica, exceto a
ELETRONORTE, 2000). Antes do
Bacia do Rio São Francisco do curimba. Neles as espécies predominantes
fechamento da barragem, a 800
Cichla monoculus são os anostomídeos e corvinas (SATO;
produção pesqueira era estimada 900
GODINHO, 1999).
P
Plagioscion squamosissimus
em 452 t.ano-1 na região, sendo 700 Hypophthalmus marginatus ara a bacia do rio São Francisco, embora
600
que em 1995 foi estimada em existam numerosas referências sobre a pesca, Apesar de não existirem estatísticas
Toneladas

500
4.500 t.ano-1 (CAMARGO; PETRERE pode-se afirmar que praticamente não consistentes, a pesca na bacia declinou
400
JUNIOR, 2004), o que significa
300
existem estatísticas pesqueiras globais, sendo consideravelmente, sendo essa tendência
uma produtividade de 18 kg ha-1 200 os registros disponíveis pouco consistentes atribuída à poluição, ao uso inadequado do
ano-1. Os maiores rendimentos 100 (GODINHO, A.L.; GODINHO, H.P. c2003). Mesmo solo, às normas pesqueiras impróprias, à
são registrados no período de 0 assim, o rio São Francisco foi, sobrepesca e aos represamentos (GODINHO,
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
seca, sendo os “paliteiros” e os Anos
historicamente, uma das principais fontes de A.L.; GODINHO, H.P., c2003). O principal
braços laterais do reservatório pescado do país. As estimativas mais recentes ambiente de pesca em sua região superior
Figura 5.2.2 - Rendimento pesqueiro de tucunaré, corvina e
os ambientes mais produtivos mapará no reservatório de Tucurui, entre os anos de foram realizadas em 1987, estimando um era a calha do rio, enquanto que no trecho
1992 e 1998 (Fonte: CAMARGO; PETRERE JUNIOR, 2004).
(ELETROBRÁS; ELETRONORTE, 2000). contigente de 26.000 pescadores nessa bacia, médio as lagoas tomavam esse posto
174 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Rendimento da Pesca em Reservatórios: diagnóstico 175

(GODINHO; KYNARD; MARTINEZ, c2003). De espécies nos desembarques. Nos anos Com base nesses dados, a CPUE nesse ano branco, corvinas e tucunarés (SATO; GODINHO,
acordo com esses autores, a pesca de hoje é seguintes, entretanto, outras espécies pode ser estimada em torno de 27 kg pesc.-1 1999; THÉ; MADI; NORDI, c2003).
menos produtiva que em tempos passados, aumentaram de importância e passaram a dia-1, o que indica pouca alteração quando
em termos quantitativos e qualitativos. predominar nas pescarias, destacando-se entre comparada com o período anterior. Porém em O rendimento em 1986 foi estimado em 500 t,
elas as corvinas (Pachyurus e Plagioscion) e 1993 a CPUE registrada foi de 16,9 kg pesc.- o que significa uma produção aproximada de
piaus (PETRERE JUNIOR, 1996; AGOSTINHO, 1998). 1
dia-1, que corresponde à metade do valor 5 kg ha-1 ano-1 (SATO; OSÓRIO, 1988; BORGHETTI,
Reservatório de Sobradinho As espécies migradoras, por outro lado, registrado no período de maior produção. 2000). O número de pescadores em 1997 foi
apresentaram notáveis declínios nas capturas. estimado em 160 (CAMARGO; PETRERE JUNIOR,
Sobradinho foi completado em 1979, Apesar da inegável queda nas capturas desde 2001), com densidade aproximada de 0,15
inundando uma imensa área de 4.200 km2, De forma similar, os valores de CPUE vêm a formação do reservatório, Agostinho (1998) ind./km2. O rendimento por unidade de
sendo, portanto, um dos maiores apresentando diminuição desde o fechamento relacionou a variação no rendimento da pesca esforço é de aproximadamente 13 kg
reservatórios do continente. Após a do reservatório, apesar de ocorrer relevante com as variações observadas no nível pescador-1 dia-1.
construção da barragem, houve um fantástico variação espacial dentro do represamento hidrométrico do reservatório, embora a série
incremento nas capturas, subindo de 2.500 (AGOSTINHO, 1998). No primeiro ano de sua temporal de dados não seja contínua, entre
t.ano-1 no período pré-represamento para existência (1980), a CPUE era razoavelmente
Reservatórios de Paulo Afonso e
1978 e 1995. Nesse caso, o aporte de nutrientes
24.000 t em 1980 (PETRERE JUNIOR, 1996), o que baixa (8,1 kg pesc.-1dia-1); aumentou a partir do alagamento da vegetação terrestre Itaparica
significa uma elevada produtividade de pesca significativamente no ano seguinte, somando em momentos de elevadas cotas poderia estar
(57,1 kg ha-1 ano-1). Entretanto, a partir de 1982 31 kg pesc.-1dia-1. É provável que tal fato alterando o estado trófico do sistema, o que, Na bacia do São Francisco existem dados de
o rendimento começou a declinar, alcançando deva-se à ação concomitante do aumento da por fim, refletiria na produção pesqueira. rendimento pesqueiro para mais dois
aproximadamente 13.000 t em 1986 (Figura produtividade do sistema – normal nos Se futuras avaliações evidenciarem a reservatórios, Itaparica e Paulo Afonso,
5.2.4). Nesse período a zona de transição do primeiros anos – e do aumento do esforço de ocorrência desse fenômeno, a manipulação situados a jusante de Sobradinho. As
reservatório era a mais produtiva para a pesca pesca. Após quatro anos, em 1985, cerca de planejada do nível hidrométrico desse informações aqui descritas foram obtidas de
(PETRERE JUNIOR, 1996). A tendência de queda 2.000 pescadores atuavam no reservatório reservatório, em conjunto com estudos Borghetti (2000). Os demais aspectos da pesca
no rendimento pesqueiro se agravou (GODINHO, A.L.; GODINHO, H.P., c2003), o que avaliativos dos impactos decorrentes de tal não são descritos.
sobremaneira na década de 1990 (Figura significa uma densidade de 0,48 ind./km2. procedimento, poderiam se constituir em
5.2.4), já que apresentou valores efetiva ferramenta de manejo para a elevação Paulo Afonso, fechado em 1955, é um
abaixo de 10.000 t. Em 1994 o do rendimento pesqueiro. reservatório pequeno, com cerca de 5 km2.
rendimento somou apenas Borghetti não informa o ano da estimativa,
25
3.000 t, o que equivale a uma mas apresenta um rendimento pesqueiro
Reservatório de Três Marias
Rendimento (x 1000 t)

produtividade de pesca de 7,1 20


alto, de 500 t.ano-1. O reservatório de
kg ha-1 ano-1, ou seja, oito vezes 15 Itaparica, fechado em 1988 e com área de 828
menor que o valor inicial. Seria
10
Localizado na região superior da bacia, foi km2, apresentou rendimento de 4.000 t no
fundamental avaliar o estado formado em 1962 e inunda uma área de 1.142 ano de 1992. Estimando sua produtividade
atual das capturas. 5 km2. Uma extensão de 1.050 km separa os chega-se a um valor de 48,3 kg ha-1ano-1,
reservatório de Três Marias e Sobradinho, elevado para os padrões sul-americanos.
0
Espécies migradoras eram 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1993 1994 1995 constituindo um trecho livre de barramentos Esses dados, entretanto, não foram
muito capturadas logo após o Anos
e ainda composto por várzeas. Cerca de 73 resultantes de trabalhos sistematizados de
represamento, sendo que o Figura 5.2.4 - Rendimento pesqueiro no reservatório de
Sobradinho, entre os anos de 1979 a 1986 (Fonte:
espécies de peixes estão descritas para a coleta de informação em campo, o que deve
curimba e o pintado P. PETRERE JUNIOR, 1996) e de 1993 a 1995 (Fonte: região de Três Marias, mas as espécies que ser considerado uma restrição para
corruscans foram as principais AGOSTINHO, 1998; BORGHETTI, 2000).
dominam as capturas na pesca são o piau- comparações.
176 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Rendimento da Pesca em Reservatórios: diagnóstico 177

Reservatórios da Região kg ha-1 ano-1, com destaque para Rômulo


Tabela 5.2.2 - Rendimento, produção pesqueira e algumas características de 17
Campos, com uma produção de 667 kg ha-1
Nordeste ano-1. A produção média nos 17
reservatórios da região Nordeste do país (Fonte: PAIVA; PETRERE JUNIOR; PETENATE;
NEPOMUCENO; VASCONCELOS, 1994)
Área Produção Rendimento
reservatórios foi de 152 kg ha-1 ano-1, com
N
Reservatório Fechamento -1 -1
Km2 Kg ha ano t ano
-1

o início do século XX, com o intuito de rendimento médio de 752 t.ano-1. Cerca de Aires de Souza 1936 12,9 184 236,9
mitigar os efeitos da seca no Nordeste 18 espécies estiveram presentes na pesca, Arrojado Lisboa 1966 60 289 1.7
brasileiro, foram construídos centenas de mas as principais são as tilápias, corvinas, Caxitoré 1962 22,6 127 287
Cedro 1906 17,5 117 204,2
reservatórios (açudes) nessa região (PAIVA; tucunarés e curimbas. A Tabela 5.2.2
Cocorobó 1968 24,1 24 57,9
PETRERE JUNIOR; PETENATE; NEPOMUCENO; apresenta um resumo das características dos Eng. Avidos 1936 28 88 246,4
VASCONCELOS, 1994). Concomitantemente, na reservatórios e da pesca. Nota-se que os Eng. Francisco Sabóia 1958 56 122 683,2
reservatórios são, em geral, de pequeno Eng. Vinicius Berredo 1978 72,9 67 488,3
tentativa de elevar o rendimento pesqueiro,
Epitácio Pessoa 1956 26,8 149 39 9,3
muito baixo até então, inúmeras espécies de porte e muito produtivos.
E.M./Mãe d'água 1943 111,5 169 1.884
peixes foram introduzidas nesses General Sampaio 1935 33 108 356,4
reservatórios, provenientes de outras bacias Gurgel e Fernando (1994) avaliaram a pesca Orós 1961 220 113 2.486
ou até mesmo de outros continentes. em 100 reservatórios da região, entre 1950 e Paulo Sarasete 1958 96,3 125 1.203
Pereira de Miranda 1957 55 120 660
1990. A média de rendimento nos 100
Pompeu Sobrinho 1934 19 94 178,6
A construção desses reservatórios, aliada à reservatórios foi de impressionantes 20.000 Rômulo Campos 1956 24,7 667 1.650
introdução de espécies de interesse, teve t ano-1. A produção média estimada no Saco II 1970 20,2 18 36,4
resultado impressionante na produção período foi de 111,7 kg ha-1 ano-1, com média 151,8 752,5

pesqueira, e hoje os reservatórios da região máximo de 1.101 kg ha-1 e mínimo de 12,7


Nordeste constituem-se nos mais kg ha-1. Observou-se também que
produtivos do país. Outros fatores estão reservatórios de idade intermediária são os Bacia do Rio Parnaíba pescadores foi estimado em torno de 68,
envolvidos nessa alta produtividade, e mais produtivos (com idade entre 21 e 30 utilizando 52 canoas. A CPUE variou de 12 a
anos), assim como os de menor área (< 1 16 kg pesc.-1dia-1. Espécies de curimatídeos
Paiva, Petrere Junior, Petenate,
Nepomuceno e Vasconcelos (1994) citam km2). Os autores verificaram que a O rio Parnaíba, região Nordeste do Brasil, foram predominantes nos desembarques.
como preponderantes o número de atividade dos pescadores não é permanente, está localizado na divisa dos Estados do Piauí
e que eles exercem também outras funções e Maranhão, pertencente à bacia do Atlântico
piscívoros presentes, a erradicação das
Norte. Cerca de 90 espécies de peixes foram
Bacia do Rio Paraíba do Sul
piranhas e a introdução do tucunaré e da (agricultura). A captura por unidade de
tilápia. Os desembarques são baseados em esforço média foi de 208,3 kg pesc.-1ano-1. registradas, e esse rio tem importância
tilápias (do Nilo e do Congo), e o alto Também destacaram que até 1960 a considerável para a pesca. O rendimento N ão existem dados disponíveis que
rendimento total parece ser dependente da produção anual era de 43,5 kg ha-1, mantida potencial foi estimado em mais de 5.000 permitam estimar as características da pesca
estocagem artificial de alevinos (FONTELES- por espécies indígenas. Em 1978, após a t.ano-1 (PETRERE JUNIOR, 1989). em reservatórios dessa bacia, que drena
FILHO; ALVES , 1995). introdução da tilápia, a produção atingiu águas do leste paulista e Rio de Janeiro.
161,4 kg ha-1. Entretanto, deve-se destacar O reservatório de Boa Esperança, fechado em Portanto, as informações apresentadas têm
Paiva, Petrere Junior, Petenate, que o aumento no esforço de pesca e de 1969, tem área de 363 km2 e localiza-se na caráter muito preliminar, devendo ser
Nepomuceno e Vasconcelos (1994) estocagem, assim como as melhorias na região média do rio, nas proximidades do avaliadas considerando essa restrição. Em
apresentam uma compilação do rendimento condução de censos, devem ter tido grande município de Guadalupe, Piauí. O extenso trabalho, Santos, Câmara, Campos,
e produção de pesca em 17 reservatórios, influência nesses resultados. Desde 1970 a rendimento pesqueiro na década de 1970 foi Vermulm Junior e Giamas (1995) realizaram
entre 1977 e 1986. Muitos apresentam pesca tem-se mantido relativamente de aproximadamente 226 t.ano-1, com uma diversas viagens por rios e reservatórios do
valores médios de produção acima de 100 estável. produção de 7 kg ha-1ano-1. O número de Estado de São Paulo, estimando a
178 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Rendimento da Pesca em Reservatórios: diagnóstico 179

produtividade pesqueira e a socioeconomia CORRÊA; CARVALHO JUNIOR; SANTOS; GONÇALVES; Nos reservatórios, o
dos pescadores profissionais, entre 1992 e GERETO; CRUZ; MOREIRA; SILVA; DEUS; FERREIRA, predomínio nos 35
Grande
1993. Entretanto, a partir desse trabalho não 1993; AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR; PETRERE JUNIOR, desembarques cabe à corvina 30 Paraná
é possível estimar o rendimento específico de 1994). Para alguns reservatórios as P. squamosissimus, mandis Paranapanema
25
cada reservatório, pois não são estatísticas de desembarque foram P. maculatus e I. labrosus,
discriminados e a informação da pesca está interrompidas (década de 1990) e não se curimba P. lineatus, pequenos 20

kg/dia
misturada em áreas lóticas e lênticas. sabe se as tendências observadas são as characídeos Astyanax spp. e 15
mesmas atualmente. Ressalta-se que, nos Moenkhausia intermedia, traíra
10
De qualquer maneira, na região que inclui trechos superiores da bacia do Paraná, H. malabaricus e peixe-cadela
os reservatórios de Santa Branca, Paraibuna incluindo reservatórios das sub-bacias rio G. knerii. Estas quatro 5
e Jaguari, o rendimento pesqueiro foi Grande, Tietê e Paranapanema, a pesca últimas espécies têm maior 0
1994 1995 1996 1997 1998 1999
estimado em 91 t.ano-1, com um número de esportiva e de subsistência é intensamente relevância na pesca dos Anos
pescadores atuantes estimado em 55. praticada. reservatórios menores ou -1 -1
Figura 5.2.5 - Captura por unidade de esforço (Kg pesc. dia ) nas
Considerando que grande parte pesca até 25 naqueles de cabeceira. bacias dos rios Paranapanema, Paraná e Grande, entre
dias.mês-1, calculamos uma CPUE de 5,3 kg Entre 1994 e 1999, Vermulm Junior, Giamas, 1994 e 1999 (Fonte: VERMULM JUNIOR; GIAMAS; CAMPOS;
CAMARA; BARBIERI, 2001).
pesc.-1dia-1. Em outra região, que inclui os Campos, Camara e Barbieri (2001)
reservatórios de Funil, Itatiaia e Redenção, avaliaram o rendimento pesqueiro
Sub-Bacia Rio Grande
o rendimento estimado foi de 104 t.ano-1, comercial nos trechos paulistas dos rios No reservatório de Água Vermelha, fechado
com estimativa de 46 pescadores em Grande, Paranapanema e Paraná, incluindo O rio Grande tem nove grandes em 1979 e com área de 647 km2, a média do
atividade. A CPUE aproximada deve ser de regiões represadas e lóticas. A bacia do reservatórios ao longo de seu curso, antes de rendimento foi de 252,3 t.ano-1, para os anos
7,3 kg pesc.-1.dia-1. Paraná foi responsável por 60% do total desembocar no rio Paraná. De acordo com de 1990 e 1991. A produtividade da pesca
capturado, a do rio Grande 30% e a do Petrere Junior, Agostinho, Okada e Júlio ficou em 3,92 kg ha-1 ano-1. Um total de 34
Paranapanema 6,7%. Verificaram que a Júnior (2002), uma grande variedade de espécies foi capturado pela pesca, sendo as
Bacia do Rio Paraná CPUE (kg pesc.-1dia-1) permaneceu peixes compõe as capturas nessa bacia, principais mandi, corvina, acarás, tilápia e
relativamente constante nas bacias do destacando-se o curimba, o barbado, mandis traíra. Nesses anos o número de pescadores
N a bacia do rio Paraná, os dados de Paraná e Paranapanema durante o período, (espécies migradoras), acarás Geophagus, monitorados foi de 33, conferindo uma
desembarques são recentes e, embora apresentando, porém, queda progressiva na tilápias Oreochromis niloticus e traíras densidade de 0,05 ind./km2 e CPUE de 33,9
restritos a alguns reservatórios, são bacia do rio Grande, a bacia inicialmente (espécies sedentárias). Segundo Vermulm kg pesc.-1dia-1(CORRÊA; SANTOS; FERREIRA;
baseados em coletas sistemáticas realizadas mais produtiva (Figura 5.2.5). Para o Junior, Giamas, Campos, Camara e Barbieri TORLONI, 1993). Desconhece-se, entretanto, o
a partir de 1986, sob o patrocínio de conjunto das bacias, constatou-se um (2001), a produção vem diminuindo na bacia, número de pescadores envolvidos com a
empresas do setor elétrico. A pesca decréscimo de 29,6% na produtividade (kg caindo de 33 kg dia-1 em 1994 para 19 kg dia-1 atividade. Em avaliação recente, nos anos de
artesanal, amadora e de subsistência é dia-1) entre 1994 e 1999. em 1999. Entretanto, com exceção dos 2000 e 2001, o rendimento ficou em 136,56
praticada na maioria dos reservatórios e nos reservatórios de Furnas e Mascarenhas de t.ano-1, a produção em 2,12 kg ha-1 ano-1 e a
segmentos ainda livres do rio Paraná. Nos trechos ainda livres do alto rio Paraná, Moraes, praticamente não existem dados de CPUE em 28,45 kg pesc.-1dia-1 (ECO
Dessas modalidades, a primeira é a mais as espécies predominantes na pesca são o estatística pesqueira. Além disso, a maioria CONSULTORIA AMBIENTAL E COMÉRCIO/AES
sistematicamente monitorada, tendo como pintado P. corruscans, dourado S. brasiliensis, dos levantamentos não considera o universo TIETÊ, 2001).
características relevantes uma baixa barbado P. pirinampu, piaparas Leporinus amostral, sendo provável que a proporção
rentabilidade (2,5 a 12,0 kg ha-1ano-1) e um elongatus e L. obtusidens, mandi P. maculatus do rendimento registrado nas amostras em No reservatório de Volta Grande, fechado
elevado número de espécies (entre 30 e 50) e, mais recentemente, o armado P. relação ao total não seja a mesma entre os em 1974 e com área de 221 km2, as
(PETRERE JUNIOR; AGOSTINHO, 1993; TORLONI; granulosus, todas consideradas migradoras. reservatórios, dificultando as comparações. principais espécies capturadas são a corvina,
180 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Rendimento da Pesca em Reservatórios: diagnóstico 181

o mandi e o curimba, mas capturas, que vêm aumentando


não existe 200 1.2 sobremaneira desde 2001 35
1.2
acompanhamento (Figura 5.2.8). 30

Produção kg ha-1 ano-1


pesqueiro (BRAGA; 160

Produção kg ha-1 ano-1


0.9 25 0.9

Rendimento (t)
GOMIERO , 1997; BRAGA, Santos, Camara, Campos,

Rendimento (t)
20
2000). 120 Vermulm Junior e Giamas
0.6 15 0.6
(1995) avaliaram a pesca
80
Desde a década de 1990, comercial na região dos 10
0.3
Furnas Centrais Elétricas 40
0.3 reservatórios de Marimbondo, 5

mantém um programa de Volta Grande, Água Vermelha 0 0


1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
acompanhamento dos 0 0 e Porto Colômbia, entre 1992 e
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Anos
desembarques pesqueiros 1993. No entanto, não
Anos
nos reservatórios de discriminaram os resultados Figura 5.2.7 - Rendimento (toneladas; barras) e produção
-1 -1
pesqueira (kg ha ano ; pontos) no reservatório de
Furnas e Mascarenhas de Figura 5.2.6 - Rendimento (toneladas; barras) e produção para cada reservatório. O Mascarenhas de Moraes, entre 1998 e 2004.
-1 -1
pesqueira (kg ha ano ; pontos) no reservatório de Furnas,
Moraes (Furnas, dados entre 1996 e 2004.
rendimento pesqueiro para a
não publicados). região foi estimado em 507
t.ano-1, com número de
8 30
Em Furnas, um dos maiores reservatórios do No reservatório de Mascarenhas de Moraes, pescadores estimado em 86. Rendimento (t)
Brasil (1.440 km2), existem quase dez anos de que apresenta uma considerável área Considerando que a maioria % das Capturas 25
informação sobre estatística pesqueira, com inundada de 250 km2, o monitoramento da pesca cerca de 25 dias/mês, 6

% das Capturas
Rendimento (t)
20
monitoramento de 1996 a 2004. Nesse pesca foi conduzido de 1998 a 2004. O calculamos uma CPUE de 20
período, o rendimento pesqueiro apresentou rendimento é muito baixo e apresentou sutil kg pesc.-1dia-1. 4 15
certa oscilação, com média de 115,3 t.ano-1, tendência de acréscimo nos últimos anos,
10
porém sem apresentar tendências de passando de aproximadamente 15 t anuais Relatórios produzidos por 2
decréscimo ou acréscimo. A Figura 5.2.6 entre 1998 e 2001, para cerca de 25 t anuais Furnas Centrais Elétricas S.A. 5

apresenta os valores anuais do rendimento e entre 2002 e 2004 (Figura 5.2.7). A média no (FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS, 0 0
produção pesqueira nesse reservatório. A período foi de 19 t.ano-1. Quanto à produção 2002c, 2002e, 2003a ) 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Anos
média de produção no período foi pesqueira, esse reservatório também evidenciaram que nos
extremamente baixa, com valor de 0,8 kg ha-1 apresentou valores extremamente baixos, reservatórios de Marimbondo, Figura 5.2.8 - Rendimento (t) e participação (%) da tilápia
Oreochromis sp. na pesca comercial do reservatório de
ano-1, reflexo da enorme área do com média de 0,75 kg ha-1 ano-1 no período. Luiz Carlos Barreto de Mascarenhas de Moraes, no período de 1998 a 2004.
represamento. Cerca de 27 espécies de peixes Um número de 17 espécies de peixes compõe Carvalho e Porto Colômbia a
fazem parte das capturas pela pesca as capturas da pesca comercial, mas seis ictiofauna é composta por
comercial, mas cinco costumam somar mais correspondem a mais de 95% das capturas espécies de baixo valor comercial e por Os documentos consultados sugerem que a
de 95% da biomassa total capturada: lambari em biomassa: trairão, traíra, tilápia, espécies atrativas para a pesca esportiva, pesca comercial não é monitorada e
A. altiparanae, tilápia, mandi P. maculatus, tucunaré, ximboré S. nasutus e o piau L. como o tucunaré e a corvina. É sabido, preconizam a necessidade de fazê-lo para
traíra e sagüiru C. modesta, em ordem friderici, em ordem decrescente de entretanto, que esta última espécie tem que seja regulamentada. De fato, dos nove
decrescente de importância. Vale destacar importância. Destaque para as duas grande relevância na pesca de outros reservatórios da bacia do rio Grande, apenas
que no período monitorado o lambari primeiras, que no período representaram reservatórios da bacia do rio Paraná e a pesca praticada em Água Vermelha, Furnas
representou cerca de 70% das capturas em 60% da biomassa capturada. Digna de certamente é explorada na pesca comercial e Mascarenhas de Moraes é conhecida, ou
biomassa. ressalva também a participação da tilápia nas praticada nesses reservatórios. tem dados disponibilizados.
182 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Rendimento da Pesca em Reservatórios: diagnóstico 183

Sub-Bacia Tietê reservatórios dessa bacia está correlacionada respectivamente em 295 t.ano-1 e 24 kg ha-1 ano-1, e a CPUE em 40,4 kg pesc.-1 dia-1. O
com a produtividade primária. O esforço de ano-1, medidos durante o ano de 1996 e número de pescadores atuando no
pesca parece ser também um fator início de 1997 (MINTE-VERA; CAMARGO; BUBEL; reservatório era de 79, com densidade de
S imilarmente ao rio Grande, o rio Tietê importante. É provável que a produção PETRERE JUNIOR , 1997; MINTE-VERA; PETRERE 0,23 ind./km2. Em nova avaliação, nos anos
tem uma série de barramentos ao longo de aumente com o emprego de um maior JUNIOR, 2000; GOMES; MIRANDA; AGOSTINHO, de 2000 e 2001, a atividade pesqueira parece
sua extensão, somando seis a jusante da esforço. 2002). Esse é o valor de produtividade de estar se mantendo em condição estável, com
cidade de São Paulo. Esse rio é o principal pesca mais elevado da bacia. O número rendimento estimado em 304,8 t.ano-1,
tributário da margem esquerda do rio O reservatório Billings, fechado em 1926, estimado de pescadores artesanais é de 101, produção em 9,8 kg ha-1 ano-1 e CPUE em
Paraná, sendo um dos mais poluídos do pode não ser considerado como parte da conferindo média de 0,9 pescadores km2 54,4 kg pesc.-1 dia-1 (ECO CONSULTORIA
Sudeste brasileiro, já que atravessa a cidade cascata de reservatórios, pois está localizado (MINTE-VERA; CAMARGO; BUBEL; PETRERE JUNIOR, AMBIENTAL E COMÉRCIO/AES TIETÊ, 2001),
de São Paulo e diversos outros grandes na região superior da bacia (região 1997). Com base nesses dados, a CPUE valores próximos aos do período anterior.
centros urbanos do interior (PETRERE JUNIOR; metropolitana de São Paulo), junto aos estimada é de aproximadamente 12 kg pesc.- Entretanto, a despeito de o rendimento total
AGOSTINHO; OKADA; JÚLIO JÚNIOR, 2002). Dessa contrafortes da Serra do Mar. Tem longo 1
dia-1, valor proporcionalmente baixo em não ter sido alterado, a composição dos
forma, alguns reservatórios tiveram histórico de eutrofização, já que recebeu por relação ao de produtividade, revelando desembarques mudou consideravelmente,
histórico de severa eutrofização. A pesca muito tempo as águas poluídas dos rios Tietê elevado esforço. sendo a tilápia a base das capturas. Aliás, no
inclui diversas espécies de peixes, mas as e Pinheiros. Tem área de 127 km2 e 14 ano de 2002, ou seja, cinco anos após os
espécies sedentárias são as mais importantes. espécies de peixes são registradas no O reservatório de Barra Bonita é o primeiro primeiros registros da tilápia nos
reservatório. A principal espécie na pesca da série após a cidade de São Paulo, com desembarques da pesca comercial,
As capturas nesses reservatórios variam artesanal é a introduzida tilápia do Nilo (> área de 308 km2, tendo sido fechado em constatou-se um decréscimo no rendimento
muito entre os anos, sendo aqui apresentadas 80%), seguida por lambaris, traíra e a 1963. Esse reservatório recebe ainda grande desse reservatório (Figura 5.2.10).
as médias do rendimento e da também introduzida carpa Cyprinus carpio. O carga de poluentes
produtividade. Observando a produção rendimento e a produtividade da pesca nesse domésticos e industriais.
pesqueira ao longo da série, entre Billings e reservatório são mais altos, estimados Com registro de 39 600
Três Irmãos, é evidente seu espécies de peixes na
decréscimo em direção à foz pesca comercial, as 500 Outros

(Figura 5.2.9). Essa 28


principais são, em ordem
Caboja
Produção pesqueira (kg há-1 ano-1)

diminuição na produção 24 decrescente de 400 Piaus

pode estar relacionada à

Toneladas
importância, corvina, Lambarís
20
diminuição no grau de trofia curimba, traíra, piavas, 300 Traíra
16
dos reservatórios, resultado mandis e curimatídeos Cascudo
da disposição em cascata, que 12 (TORLONI; CORRÊA; 200 Tilápia
jusante
favorece a sedimentação e 8 CARVALHO JUNIOR; SANTOS; Curvina
retenção de matéria GONÇALVES; GERETO; CRUZ;
100
Mandis
4
orgânica/nutrientes nos MOREIRA; SILVA; DEUS; Curimba
0
reservatórios a montante 0
Billings Barra Bonita Ibitinga Promissão Avanhandava Três Irmãos FERREIRA , 1993). O 91 92 93 94 95 96 97 98 99 '00 '01 '02
(BARBOSA; PADISÁK; ESPÍNDOLA; Reservatórios rendimento médio
Anos

BORICS; ROCHA , 1999). De fato, Figura 5.2.9 - Produção pesqueira nos reservatórios durante o período de Figura 5.2.10 - Variações no rendimento total da pesca (linha) e
Gomes, Miranda e Agostinho posicionados em série no rio Tietê, Estado de São Paulo. O composição dos desembarques da pesca comercial (barras) do
1989 a 1991 foi estimado reservatório de Barra Bonita no período de 1991 a 2002 (Fonte:
ano das estimativas (virada do século XX), o número de
(2002) observaram que a pescadores envolvidos, bem como os demais detalhes da em 291 t.ano-1, a CORRÊA; SANTOS; FERREIRA; TORLONI, 1993; ECO CONSULTORIA
produtividade da pesca nos pesca estão discriminados ao longo do texto. AMBIENTAL E COMERCIAL / AES TIETÊ S.A., 2002 ).
produção em 9,4 kg ha-1
184 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Rendimento da Pesca em Reservatórios: diagnóstico 185

O próximo reservatório da série é o de recente, a média estimada do rendimento foi produção pesqueira no ano de 1999 indicou A produtividade esperada para a pesca seria
Ibitinga, com área de 114 km2, tendo sido de 330 t.ano-1, a produção de 5,6 kg ha-1 ano-1, rendimento de 159,6 t, com baixa de 30 kg ha-1 ano-1, considerando-se o
formado em 1969. Cerca de 41 espécies de com CPUE de 33,6 kg pesc.-1 dia-1 (ECO produtividade, ou seja, 1,95 kg ha-1 ano-1 conjunto das espécies. Porém, se
peixes foram registradas na pesca comercial CONSULTORIA AMBIENTAL E COMÉRCIO/AES TIETÊ, (CESP, 2000a). De 26 espécies registradas na consideradas as espécies dominantes e
desse reservatório, sendo as mais capturadas, 2001). O rendimento atual é maior que o do pesca, as principais foram o acará e a passíveis de exploração, esse valor alcançaria
em ordem decrescente, corvina, mandis, período anterior, mas os valores de CPUE corvina. Não se sabe o número de no máximo 12,7 kg ha-1 ano-1. Com base nas
lambaris, curimba, traíra e piavas. O são semelhantes, sendo provável que o pescadores na região, mas a CESP anotava capturas dessas espécies, a extrapolação para
rendimento de pesca teve média estimada esforço de pesca tenha aumentado. 19 pescadores profissionais cadastrados todo o reservatório, estimada de forma
em 54,9 t.ano-1, com produção de 4,8 kg ha-1 em 1999. preliminar e grosseira, seria de 566 t.ano-1.
ano-1 e CPUE de 16,3 kg pesc.-1 dia-1, entre os Em Nova Avanhandava, fechado em 1982, Ressalta-se, entretanto, que esses dados
anos de 1989 e 1991. Nesse período a CESP com 210 km2 de área, são registradas 42 A CESP continuou o monitoramento da pressupõem um esforço elevado, que de fato
tinha 26 pescadores cadastrados, conferindo espécies de peixes. As espécies que compõem pesca nesse reservatório nos anos seguintes, não ocorre ou não foram objeto das
uma densidade de 0.23 ind./km2 (TORLONI; a pesca comercial são basicamente as apresentando informações entre 2000 e 2003. amostragens em monitoramento de
CORRÊA; CARVALHO JUNIOR; SANTOS; GONÇALVES; mesmas dos reservatórios à montante, ou O rendimento no período aumentou reservatórios da bacia do rio Paraná. As
GERETO; CRUZ; MOREIRA; SILVA; DEUS; FERREIRA, seja, em ordem decrescente de importância: sutilmente, com média de 233,8 t.ano-1. A espécies dominantes nessas pescarias seriam
1993). Desconhece-se, no entanto, quanto esse corvina, mandi, curimba, traíra, piranha e produção média continua baixa, em torno curimatídeos, lambaris, mandis e piavas.
esforço representava do total. Em avaliação lambaris (TORLONI; CORRÊA; CARVALHO JUNIOR; de 3,04 kg ha-1 ano-1, com CPUE média de 45
mais recente (2000 e 2001), o rendimento foi SANTOS; GONÇALVES; GERETO; CRUZ; MOREIRA; kg pesc.-1.dia-1. Apesar de 43 espécies terem Os estudos de Santos, Camara, Campos,
estimado em 75,3 t.ano-1, a produção em 6,2 SILVA; DEUS; FERREIRA,
1993). Os valores sido registradas em pescarias experimentais Vermulm Junior e Giamas (1995) revelam
kg ha-1 ano-1, e a CPUE em 26,1 kg pesc.-1 dia-1 médios de rendimento e a produtividade no período, acarás e corvinas continuam um rendimento pesqueiro de 159 t.ano-1 para
(ECO CONSULTORIA AMBIENTAL E COMÉRCIO/AES pesqueira no período de 1988 a 1991 foram perfazendo a maior parte dos desembarques a região do rio Paranapanema e tributários, a
TIETÊ,2001). Esses valores são maiores que os estimados respectivamente em 65,9 t.ano-1 e comerciais (CESP, 2005). qual inclui o reservatório de Capivara, que
do censo anterior. O esforço total de pesca é 3,1 kg ha-1 ano-1. A CPUE foi de 22,9 kg pesc.-1 conta com 61 pescadores em atividade.
entretanto desconhecido, fato que dificulta as dia-1. Existiam 39 pescadores cadastrados, Considerando um período declarado de 25
Sub-Bacia Paranapanema
comparações. com densidade de 0,18 ind./km2. Em dias de pesca por mês, conclui-se que a CPUE
avaliação mais recente, nos anos de 2000 e é de 8,7 kg pesc.-1.dia-1.
O reservatório de Promissão, formado em 2001, o rendimento foi estimado em 75,8 O rio Paranapanema também tem uma
1977, tem área de 530 km2. Um total de 43 t.ano-1, a produção em 2,1 kg ha-1 ano-1, com série de reservatórios ao longo de seu curso Os resultados obtidos por Santos, Camara,
espécies de peixes é registrado na pesca, mas CPUE de 35,1 kg pesc.-1 dia-1 (ECO CONSULTORIA principal. Nestes, a despeito de existir pesca Campos, Vermulm Junior e Giamas (1995)
mandis, corvinas, curimbas e lambaris AMBIENTAL E COMÉRCIO/AES TIETÊ, 2001). comercial, as informações acerca dos para outro trecho da bacia, compreendendo
perfazem grande parte das capturas. Entre os Devido ao aumento na CPUE e valores desembarques são escassas. os reservatórios de Xavantes, Salto Grande e
anos de 1986 e 1991 a média estimada do semelhantes de rendimento entre os Capivara, mostram um rendimento
rendimento foi de 234,5 t.ano-1, a produção períodos, é provável que o número de O reservatório de Jurumirim, o primeiro da estimado em 49 t.ano-1, para 15 pescadores
de 3,9 kg ha-1 ano-1, com CPUE de 44,1 kg pescadores tenha diminuído, mas o esforço série, foi fechado em 1962 e apresenta área de em atividade. Nesse caso, a CPUE foi
pesc.-1 dia-1. Existiam cerca de 80 pescadores de pesca, pelo menos o monitorado, tenha 425 km2. Não há dados de desembarques estimada em 11 kg pesc.-1.dia-1. Já as
atuantes, com densidade de 0,15 ind./km2 aumentado no reservatório. para esse reservatório. Entretanto, os dados estimativas realizadas por estes autores para
(TORLONI; CORRÊA; CARVALHO JUNIOR; SANTOS; da pesca experimental obtidos por Carvalho os reservatórios Taquaruçu e Rosana,
GONÇALVES; GERETO; CRUZ; MOREIRA; SILVA; DEUS; A represa de Três Irmãos, última da série no e Silva (1999) permitem estimar, revelaram rendimentos de 230 t.ano-1, onde
FERREIRA, 1993; PETRERE JUNIOR; AGOSTINHO; rio Tietê, foi formada em 1991 e apresenta preliminarmente, em 32,6 t.ano-1 o 47 pescadores estiveram em atividade, com
OKADA; JÚLIO JÚNIOR, 2002). Em censo mais área de 770 km2. Um levantamento da rendimento em 11,5 km2 desse reservatório. CPUE de 16,3 kg pesc.-1dia-1.
186 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Rendimento da Pesca em Reservatórios: diagnóstico 187

Alto Rio Paraná O reservatório de Jupiá, com 327 km2 de áreas alagadas do Brasil
área, fechado em 1974, apresenta pesca (2.250 km2). A CPUE foi 25

N o curso principal do alto rio Paraná


baseada em 34 espécies de peixes, sendo as
principais curimba, mandi, corvina, acarás,
alta, com valor de 48,7 kg
pesc.-1 dia-1, e as principais
1600
20
existem 4 grandes reservatórios: Ilha
piavas e cascudos. Entre 1989 e 1991 o espécies capturadas

Rendimento (t)
1200
Solteira, Jupiá, Porto Primavera e Itaipu.
rendimento médio foi de 185,7 t.ano-1, com foram corvinas, cascudos 15

CPUE
Porto Primavera é o mais recente, tendo sido
produção de 5,28 kg ha-1 ano-1 e CPUE de 36,8 e piaus, além de traíra e
800
fechado no final de 1998, sendo que os dados
kg pesc.-1 dia-1. O número de pescadores tucunaré. 10
de estatística pesqueira são parciais,
ativos e monitorados foi de 49, com média
abrangendo somente o ano de 2004. de 0,14 ind./km2 (TORLONI; CORRÊA; CARVALHO O reservatório de Itaipu,
400
Rendimento (t) 5
-1 -1

JUNIOR; SANTOS; GONÇALVES; GERETO; CRUZ; fechado em 1982 e com CPUE (kg pesc dia )
Ilha Solteira é o primeiro reservatório da 1.350 km2 de área, 0 0
MOREIRA; SILVA; DEUS; FERREIRA, 1993). Em 1994 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998
série, tendo sido fechado em 1973 e contando apresenta um
foram capturadas 174,8 t de peixes (CESP, Anos
com área de 1.200 km2. Em 1994 o acompanhamento mais
1996), portanto próximo à média do período Figura 5.2.11 - Rendimento e CPUE na pesca de Itaipu entre 1987 e
rendimento foi de 97,5 t, o que significa uma prolongado e intensivo. 1998 (Fonte: OKADA; AGOSTINHO; PETRERE JUNIOR, 1996;
anterior. AGOSTINHO; OKADA; GREGORIS,1999).
produtividade de pesca de 0,8 kg ha-1 ano-1 Tem uma pesca bem
(CESP, 1996). Em 1999 o rendimento estimado No entanto, informações recentes acerca da diversificada (~50
foi de 136 t, com produção aproximada de 1,1 pesca comercial nesse reservatório, obtidas espécies), com predomínio de armado, É interessante notar que em 1987, três anos
kg ha-1 ano-1 (CESP, 2000a). Das 32 espécies entre 2000 e 2003 (CESP, 2005), indicam que o corvina, mapará e curimba, além de cascudos após o fechamento do reservatório, o
registradas no reservatório, acará, corvina e rendimento diminuiu substancialmente em sua porção mais alta. O monitoramento, curimba era a principal espécie nos
mandis constituíram a base dos quando comparado com os desembarques da iniciado em 1987, revela um rendimento desembarques, apresentando queda
desembarques. O baixo rendimento década de 1990. O rendimento médio no médio de 1.470 t.ano-1 para o período de 1987 acentuada e progressiva até 1998.
observado pode estar relacionado a um período foi de 83,15 t.ano-1, cerca de metade a 1998, com produção média de 13,3 kg ha-1 Diferentemente, a participação do armado
baixo esforço de pesca ou de amostragem. do observado anteriormente. A produção ano-1 (OKADA; AGOSTINHO; PETRERE JUNIOR, 1996; vem aumentando significativamente nos
Desconhece-se o número de pescadores pesqueira média foi de 2,36 kg ha-1 ano-1 e a AGOSTINHO; OKADA; GREGORIS, 1999; PETRERE desembarques (Figura 5.2.12). Por outro
atuantes, porém no levantamento de 1999 CPUE parece não ter mudado muito, com JUNIOR; AGOSTINHO; OKADA; JÚLIO JÚNIOR, 2002). lado, a principal espécie na pesca durante o
foram computadas cerca de 30 fichas de média de 31,23 kg pesc.-1 dia-1, um indicativo Cerca de 1.000 pescadores, considerando-se período de 1988 a 1993 foi o filtrador-
controle por mês. de que provavelmente ocorreu diminuição os ajudantes de pesca, trabalham no planctófago Hypophthalmus edentatus, o
no número de pescadores atuantes. As reservatório, conferindo uma densidade de mapará. Entretanto, seu rendimento vem
A CESP continua monitorando a pesca nesse espécies capturadas na pesca continuam 0,74 ind./km2. A CPUE tem diminuído ao apresentando queda acentuada desde 1992
reservatório, e entre 2000 e 2003 os aspectos sendo as mesmas, com prevalência de acarás, longo dos anos e em 1998 foi estimada em (450 t) alcançando apenas 150 t no ano de
da pesca parecem não ter mudado quando mandi e corvina. 11,2 kg pesc.-1 dia-1. O decréscimo da CPUE 1998 (Figura 5.2.12). Também a captura por
comparados com períodos anteriores. O está associado a um aumento no esforço de unidade de esforço dessa espécie vem
rendimento médio não foi muito diferente, A CESP monitorou pesca no reservatório de pesca, já que o rendimento mantém-se apresentando tendência semelhante de
com média de 122,44 t.ano-1, a produtividade Porto Primavera de maio a agosto de 2004, relativamente constante, embora com leve queda durante esses anos (Figura 5.2.13).
pesqueira média foi de 1,02 kg ha-1 ano-1 e a portanto as informações têm ainda caráter decréscimo nos últimos anos (OKADA; Ocorrência similar é registrada nas capturas
CPUE apresentou média de 29,5 kg pesc.-1 incompleto. No período, o rendimento foi de AGOSTINHO; PETRERE JUNIOR, 1996; AGOSTINHO; da corvina, que parecem acompanhar as
dia-1. As principais espécies continuam sendo 85,48 t, o que significa uma baixíssima OKADA; GREGORIS, 1999). A Figura 5.2.11 variações populacionais do mapará, sua
a corvina, mandi e acarás, perfazendo mais produção de 0,38 kg ha-1, reflexo da elevada apresenta valores de CPUE e rendimento no principal presa (HAHN; AGOSTINHO; GOITEIN,
de 50% das capturas. área do represamento, uma das maiores período de 1987 a 1998. 1997) - Figura 5.2.13.
188 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Rendimento da Pesca em Reservatórios: diagnóstico 189

Ainda no alto rio Paraná, há Sub-Bacia Iguaçu Os dados apresentados a seguir


dados disponíveis para a 650
curimba correspondem a uma avaliação preliminar
mapará
pesca praticada no Lago
Paranoá, um reservatório
550 corvina
armado A bacia do rio Iguaçu é caracterizada por
da pesca nos reservatórios Salto Santiago e
Salto Osório, realizada por Okada, Gregoris,

Rendimento (t)
450
construído em 1959 no rio uma ictiofauna endêmica de pequeno porte, Agostinho e Gomes (1997). Os pescadores
Paranoá, Distrito Federal, 350 formada basicamente por pequenos foram entrevistados em 1996. A pesca
que drena suas águas para o caracídeos. Na década de 1970, o rio já era iniciou-se em 1987 e funciona
250
rio São Bartolomeu, considerado pouco piscoso e os principalmente como complemento de
afluente do Corumbá. Esse
150 reservatórios construídos ali seriam pouco renda. O pescado é destinado a mercados da
reservatório urbano 50 propícios para o desenvolvimento de uma região, de Guaíra e de Curitiba.
1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998
inundou uma área de 37,5 pesca comercial (GOODLAND, 1975). Cerca de
Anos
km2 e, embora construído 5 reservatórios foram construídos no leito O reservatório Salto Santiago foi fechado
Figura 5.2.12 - Rendimento pesqueiro das principais espécies
com finalidade hidrelétrica, capturadas no reservatório de Itaipu, entre 1987 e 1998
principal do rio, que é um dos principais em 1980, inundando uma área de 208 km2.
tem forte apelo recreativo. (Fonte: OKADA; AGOSTINHO; PETRERE JUNIOR ,1996; tributários do rio Paraná. Um total de 27 pescadores foi entrevistado.
AGOSTINHO; OKADA; GREGORIS, 1999).
Situada na área urbana de As espécies com maiores capturas da pesca
Brasília, a represa sofreu Além da baixa produção natural de peixes comercial foram, em ordem decrescente,
muitos anos com a da bacia, uma portaria do IBAMA de 1996 lambaris, peixe-rei Odonthestes bonariensis,
eutrofização. 10 5 proibiu a pesca comercial no rio Iguaçu. pintadinho Pimelodus ortmanni e traíra H.
P. squamosissimus
H. edentatus Mesmo assim, uma atividade pesqueira foi malabaricus. Considerando somente as
CPUE (kg pesc.-1 dia-1)

CPUE (kg pesc.-1 dia-1)


O rio original continha
8 identificada nos trechos médios do rio, principais espécies para a pesca, Okada,
4
cerca de 50 espécies nativas. especialmente nos reservatórios de Salto Gregoris, Agostinho e Gomes (1997)
6
Hoje a fauna desse Santiago e Osório, baseada em pequenos calcularam um rendimento médio de
reservatório está 3 lambaris (OKADA; GREGORIS; AGOSTINHO; aproximadamente 0,5 t.dia-1, o que significa
4
completamente alterada, GOMES ,1997). Nos demais reservatórios, a 17,5 kg pesc.-1 dia-1. Extrapolando o valor do
dominada por espécies não- 2
pesca está ausente, mas, seguindo a rendimento diário, tem-se um rendimento
2
nativas, como tilápias,
1988 1989 1990 1991 1992 1993 *1995 1996 1997 **1998 tendência observada em reservatórios do anual estimado de 113 t (considerando 240
Anos
carpas, bluegill, bagre país, espera-se que logo alguma atividade dias de pesca/ano). A produção estimada
Figura 5.2.13 - Captura por unidade de esforço (CPUE) do
africano e tucunarés. A mapará H. edentatus e da corvina P. squamosissimus no venha a ser estabelecida. Em vista do seria de 4,9 kg ha-1 ano-1.
pesca foi proibida de 1966 a reservatório de Itaipu, entre 1988 e 1998. O eixo y-esquerda caráter incipiente da pesca, essa atividade
representa a CPUE do mapará, enquanto que y-direita é a
1999. Porém, mesmo ilegal, CPUE da corvina; * indica ausência de coleta de dados em ainda não é considerada como ameaça à O reservatório Salto Osório foi formado em
em 1985 cerca de 100 1994; ** interrupção da pesca durante o período reprodutivo conservação dos estoques de peixes da 1975 e tem uma área inundada de 62,9 km2.
(Fonte: AMBRÓSIO; AGOSTINHO; GOMES; OKADA, 2001).
famílias viviam do pescado. bacia. Entretanto, a regulamentação e o Somente 3 pescadores foram entrevistados
O rendimento anual era de controle da atividade revelam-se no período, pescando essencialmente
200 t, principalmente tilápias e carpas, com foi de 62,5 t, com produção em torno de 16,4 necessários, já que a proibição é ineficiente lambaris, peixe-rei, pintadinho e traíra.
produção de 48 kg ha-1ano-1 (RIBEIRO; STARLING; kg ha-1ano-1. A tilápia do Nilo continua sendo e a pesca na região deve se intensificar nos Okada, Gregoris, Agostinho e Gomes (1997)
WALTER; FARAH, 2001). a principal espécie nas capturas (~ 85%), próximos anos (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE estimaram um rendimento médio de 29 kg
seguida da carpa, da tilápia do Congo e da MARINGÁ.NUPELIA/COPEL, [1997]). Tal dia-1, cerca de 9,7 kg pesc.-1 dia-1. Realizando
Em avaliação recente, Walter (2000) traíra. Em média, cerca de 21 pescadores preocupação é relevante e justificada pelo o mesmo cálculo anterior, o rendimento
caracterizou a situação da pesca no lago entre atuavam por mês, rendendo uma CPUE de alto grau de endemismo que caracteriza a anual estimado seria de 7 t, com uma baixa
os anos de 1999 e 2000. O rendimento anual aproximadamente 11,23 kg pesc.-1 dia-1. ictiofauna da bacia. produção de 1,11 kg ha-1 ano-1.
190 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Rendimento da Pesca em Reservatórios: diagnóstico 191

Considerações Finais resultado da decomposição da matéria


Tabela 5.2.3 - A pesca em reservatórios brasileiros. As informações foram obtidas de diversos
orgânica submersa (trophic upsurge period; trabalhos independentes, citados ao longo do texto desse capítulo
(continua)
AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ;
A s informações disponíveis acerca dos SUZUKI, 1999). Assim, o aumento observado PESCA

desembarques, embora ainda insuficientes no rendimento pesqueiro no reservatório Reservatórios Área Ano do Pescadores Rendimento Produção-1 CPUE Kg Principais espécies na
2 2 -1 Kg há-1 -1 -1
Km Censo ind./Km t ano pesc. dia pesca
para uma análise conclusiva, permitem decorre do aumento da produtividade ano

evidenciar alguns aspectos importantes e primária (mecanismo bottom up) ou mesmo Bacia Amazônica
Balbina 2.360 1991 - 1996 0,04 –0,07 500 1,2 – 3,1 33 tucunarés
detectar alguns padrões. A Tabela 5.2.3 da incorporação de recursos terrestres ao
Samuel 579 -- -- 240 4,14 -- tucunaré, mapará, piau
apresenta essas informações, de forma sistema aquático. Com o esgotamento dessa Bacia Araguaia-Tocantins
resumida, descrevendo a pesca em diversos carga de nutrientes, a produtividade geral Tucurui 2.430 1995 1,6 – 2,1 4.500 18 4,7 tucunaré, mapará, corvina
reservatórios, pertencentes a diferentes começa a diminuir, acontecendo o mesmo Bacia São Francisco
bacias. Dado o caráter não-sistematizado da com a produtividade de peixes. Entretanto, a Sobradinho 4.200 1980 -- 24.000 57,1 -- curimba, sorubim
1986 0,48 13.000 30,9 27 corvina, piau
obtenção dessas informações, infelizmente depleção nos estoques de peixes esperada
1994 -- 3.000 7,14 -- corvina
não é possível explorar relações estatísticas com a diminuição da produtividade Três Marias 1.050 1986 e 1995 0,15 500 5 ~13 piau, corvina, tucunaré
entre variáveis. Abaixo seguem os principais biológica pode ser agravada sobremaneira Paulo Afonso 4,8 -- -- 500 -- -- --
padrões observados. por fatores como (i) o insucesso reprodutivo Itaparica 828 1992 -- 4.000 48,3 -- --

de várias espécies de peixes no novo Região Nordeste -- 1950 - 1990 -- 20.000 111,7 -- tilápia, corvina, tucunaré
Bacia Parnaíba
1 - Nos primeiros anos após o represamento a ambiente; (ii) a variação abrupta de nível do
Boa Esperança 352 -- -- 226 7 12 – 16 --
produtividade de pesca aumenta reservatório, decorrente dos procedimentos Bacia Paraíba do Sul
consideravelmente. Esse fenômeno se repetiu operacionais; (iii) o elevado esforço de pesca Grupo 1 -- 1992 - 1993 -- 91 -- 5,3 --
em diversas ocasiões, excedendo em muito que se instala durante a fase mais produtiva Grupo 2 -- 1992 - 1993 -- 104 -- 7,3 --
os valores registrados na pesca na fase de do reservatório. Com isso, após uma fase de Bacia Paraná
Sub-bacia rio Grande
pré-represamento. Nos trechos a jusante, esse alto rendimento, segue-se um período de
Água Vermelha 644 1990 - 1991 0,05 252,3 3,92 33,91 mandi, corvina
incremento no rendimento deve-se à queda progressiva, sendo que um aumento 2000 - 2001 -- 136,6 2,12 28,45 acará, mandi, corvina
concentração de cardumes nas proximidades no esforço de pesca não recuperará o Grupo 3 -- 1992 - 1993 -- 507 -- 20 --
das barragens. Isso pode decorrer (i) da rendimento passado, além de contribuir para Sub-bacia Tietê
interceptação imposta pela barragem nos acelerar e intensificar a tendência de queda. Billings 112 1996 - 1997 0,9 295 24 ~12 tilápia
Barra Bonita 334,3 1989 - 1991 0,23 291 9,4 40,4 corvina, curimba, traíra
deslocamentos ascendentes de cardumes; (ii) Esse fenômeno foi bem caracterizado em
2000 - 2001 305 9,8 54,4 tilápia, mandi, curimba
da atração de cardumes de pequenos peixes reservatórios antigos e com longo histórico Ibitinga 114 1989 - 1991 0,23 54,9 4,82 16,3 corvina, mandi, lambari
insetívoros e planctívoros, dada a maior de pesca, caso de Itaipu, Sobradinho e 2000 - 2001 75,29 6,16 26,1 mandi, curimba, corvina
disponibilidade de alimento nas Tucuruí. Promissão 530 1986 - 1991 0,15 234,5 3,88 44,4 mandi, corvina e curimba
proximidades da barragem; (iii) da atração 2000 - 2001 -- 330 5,64 33,6 mandi e corvina
Nova Avanhandava 217 1988 - 1991 0,18 65,9 3,14 22,87 corvina, mandi, curimba
de piscívoros pela elevada concentração de 2 - As espécies migradoras são importantes para a
2000 - 2001 -- 75,8 2,12 35,11 corvina, acará, mandi, piau
pequenos peixes e/ou peixes injuriados ao pesca apenas nos primeiros anos do reservatório. Três Irmãos 817 1999 -- 159,6 1,95 -- acará, corvina
passar pelas estruturas da barragem. Uma Esse fenômeno se repetiu em diversas bacias. Sub-bacia Paranapanema
pesca intensiva e descontrolada pode afetar Nos anos seguintes ao represamento, a Jurumirim 446 1996 - 1997 -- ~566 ~12,70 -- curimatídeos, lambari e mandi

de modo relevante os estoques de jusante. queda no rendimento de espécies Grupo 4 -- 1992 - 1993 -- 159 -- 8,7 --
Grupo 5 -- 1992 - 1993 -- 49 -- 11 --
Na área represada, os primeiros anos de um migradoras tem sido inevitável,
Grupo 6 -- 1992 - 1993 -- 230 -- 16,3 --
reservatório são caracterizados pela especialmente quando o segmento livre a
liberação de nutrientes na coluna d’água, montante é reduzido ou inexistente.
192 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Rendimento da Pesca em Reservatórios: diagnóstico 193

foram satisfatoriamente elucidados, mas o caminham para baixos valores. A


Tabela 5.2.3 - A pesca em reservatórios brasileiros. As informações foram obtidas de diversos
trabalhos independentes, citados ao longo do texto desse capítulo potencial de extermínio de espécies de quantidade diária de pescado por pescador
(conclusão)
pequeno porte por piscívoras introduzidas (CPUE) ainda é alta em muitos
PESCA parece alto (ZARET; PAINE, 1973; SANTOS; MAIA- reservatórios (> 30 kg pesc.-1dia-1),
Reservatórios Área Ano do Pescadores Rendimento Produção-1 CPUE Kg Principais espécies na BARBOSA; VIEIRA; LÓPEZ, 1994; LATINI; PETRERE possivelmente associada ao baixo número
2 2 -1 Kg há-1 -1 -1
Km Censo ind./Km t ano pesc. dia pesca
ano JUNIOR, 2004). de pescadores (< 1/km2). Entretanto, o
Alto Rio Paraná aumento do número de pescadores em
Ilha Solteira 1.231 1994 -- 97,5 0,0008 -- acará, corvina e mandi
3 - O rendimento pesqueiro, embora muito Itaipu, por exemplo, diminuiu a CPUE e não
1999 -- 136 0,001 -- Idem
Jupiá 352 1989 - 1991 0,14 185,7 5,28 36,8 curimba, mandi e corvina
variável entre reservatórios, é, em geral, baixo nos elevou o rendimento. Alguns autores já
1994 -- 174,8 5,0 -- idem reservatórios neotropicais. Como já discutido, o discutiram as possíveis causas para essa
Itaipu 1.350 1987 - 1998 0,74 1.470 13,3 11,2 mapará, corvina, armado curimba rendimento é muito dependente do esforço baixa produtividade dos reservatórios
Paranoá 37,5 1985 - 1991 -- 200 48 -- tilápias e carpas de pesca empregado, da área, profundidade e brasileiros, especialmente na bacia do rio
1999 - 2000 0,6 62,5 16,4 11,23 Idem
idade do reservatório, além de seu grau de Paraná (GOMES; MIRANDA, 2001; GOMES;
Sub-bacia Iguaçu
Salto Santiago 230 1996 -- 113 4,9 17,5 lambaris, peixe-rei, pintadinho
trofia e dos demais usos da bacia MIRANDA; AGOSTINHO, 2002; PETRERE JUNIOR;

Salto Osório 62,9 1996 7,0 1,11 9,7 lambaris, peixe-rei, pintadinho hidrográfica. No Brasil, a amplitude de AGOSTINHO; OKADA; JÚLIO JÚNIOR, 2002). Entre
variação no rendimento total dos essas causas, destacam-se o baixo esforço de
Grupo 1: Santa Branca, Paraibuna, Jaguari; Grupo 2: Funil, Itatiaia e Redenção; Grupo 3: Marimbondo, Volta Grande,
Água Vermelha e Porto Colômbia; Grupo 4: Galvão, Capivara e Água Inhuma; Grupo 5: Capivara, Salto Grande e reservatórios varia de modestas 7 t.ano-1 pesca, a oligotrofia característica da maioria
Xavantes; Grupo 6: Taquaruçu e Rosana.
(Salto Osório), até o fantástico rendimento deles, a ausência de espécies pelágicas
dos açudes nordestinos, com 20.000 t.ano-1. A verdadeiras, o longo comprimento das teias
maioria dos valores situa-se, entretanto, tróficas, e fontes variáveis de impactos,
Diversos peixes nobres, como o dourado e Além disso, é comum que a pesca seja entre 100 e 500 t.ano-1. De qualquer modo, a inerentes ao represamento.
o pintado, além dos grandes bagres composta por uma ou duas espécies produção pesqueira de reservatórios
amazônicos, passam a ser raros nas oportunistas (muitas vezes introduzidas no neotropicais é baixa quando comparada com Mesmo com todos esses problemas,
capturas, sendo substituídos por espécies sistema), que, eventualmente, conseguem a produção de reservatórios tropicais de somando a falta de investimentos e atenção
sedentárias. Nos casos como o de Itaipu e elevada proliferação nas águas represadas. outros continentes. Com exceção dos do setor público, a pesca tem tido papel
alguns reservatórios com grandes de rio Dessa forma, em todas as bacias, as reservatórios nordestinos, muitos mantidos social relevante, não apenas por se
ainda livre a montante, a pesca na metade espécies mais difundidas e pescadas são a por um grande esforço de estocagem com constituir em fonte de proteínas para a
superior do reservatório pode ser ainda tilápia, a corvina e o tucunaré. Na região tilápia e sujeitos a prolongados períodos de alimentação humana ou de lazer para as
baseada em espécies migradoras. Ressalta- Amazônica, o tucunaré, nativo nessa bacia, depleção de nível, e que apresentam uma comunidades urbanas, como também por
se que o mandi P. maculatus, um migrador é a principal espécie, enquanto que na produtividade média de pesca de 112 kg ha-1 abrigar segmentos sociais que não
moderado, que pode se reproduzir em região Nordeste a introduzida tilápia ano-1, a maioria apresentou valores encontram nos meios de produção formal as
tributários laterais, tem importante apresenta rendimentos espantosos. Nas inferiores a 10 kg ha-1 ano-1. Vale lembrar oportunidades de sobrevivência familiar.
participação nos desembarques de regiões Sul e Sudeste, a também que as médias asiática e africana são, No reservatório de Itaipu e no segmento do
reservatórios da bacia do rio Paraná. Os introduzida corvina, associada à tilápia e respectivamente, 100 e 88 kg ha-1 ano-1. rio Paraná a montante, a pesca profissional
levantamentos evidenciam que ao tucunaré, tem sustentado diversas Reservatórios amazônicos e da bacia do tem atuado como refúgio para contingentes
reservatórios dispostos em série têm sua atividades pesqueiras. O preocupante é que Paraná são marcados por valores populacionais consideráveis, que não obtêm
pesca baseada em espécies sedentárias, que, essas espécies dominam as assembléias e extremamente baixos (< 10 kg pesc.-1dia-1). os rendimentos necessários para a
embora resultem em maior biomassa que a apresentam alto rendimento pesqueiro, Reservatórios como Tucuruí e Sobradinho manutenção familiar em outros setores da
do rio original, têm menor valor mas fora de seu local de origem. Seus apresentaram rendimentos relativamente sociedade (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR; PETRERE
comercial. impactos nas assembléias locais ainda não altos em épocas passadas, mas hoje também JUNIOR, 1994; AGOSTINHO; ZALEWSKI, 1996).
194 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

Em síntese, os padrões que emergem das do rio Paraná, pelo fato de a pesca ser um
informações disponíveis sobre a pesca em dos últimos refúgios para contingentes
reservatórios brasileiros são os de que, nos
primeiros anos, a pesca apresenta elevado
rendimento, estimulando o ingresso de
grandes contingentes de pessoas à
populacionais excluídos de outros setores
da produção.

Essa situação requer disciplina na


Capítulo 5.3
Aspectos Socioeconômicos da Pesca:
atividade, especialmente excluídos de instalação da atividade de pesca em novos
outros setores da produção. Decorridos reservatórios, através de um ordenamento
alguns anos, a produtividade diminui, os pesqueiro adequado, um controle rígido do
estoques de peixes migradores tornam-se acesso ao recurso e de um conhecimento diagnóstico
comercialmente extintos (com raras amplo do sistema de pesca da região, além,
exceções) e a pesca fica restrita a poucas obviamente, do apoio do Estado aos Introdução
espécies de baixo valor comercial. O pescadores. Nos reservatórios em que a
situação da pesca é caótica, o ordenamento Por outro lado, há custos sociais que têm
esforço de pesca inicial torna-se exacerbado
para os estoques remanescentes, é também necessário, porém medidas O s empreendimentos hidrelétrico sido frequentemente negligenciados
acentuando a queda na rentabilidade, adicionais de natureza social e econômica, promovem, em todas as etapas do projeto, durante as análises socioeconômicas dos
tornando difícil ao pescador obter o como assistência à saúde, educação, impactos no modo de vida e nas relações empreendimentos. Entre estes, destacam-se
sustento de sua família com a atividade. A segurança e linhas de créditos para a sociais e econômicas da região onde se relacionados aos trabalhadores que não
busca de outra fonte de renda é dificultada, atividade, além da agregação de valores ao inserem. Generalizações sobre o grau e a detêm posse da terra, as comunidades que
especialmente nos reservatórios da bacia pescado, são fundamentais. natureza desses impactos são difíceis de vivem abaixo da barragem (WCD, 2000) e,
serem feitas, dadas as diferentes especialmente, os pescadores tradicionais.
características dos projetos, das dimensões Geralmente desorganizados e sem
do reservatório e, especialmente, de sua participação clara no sistema produtivo,
localização (WCD, 2000). esses segmentos populacionais têm baixo
poder de reivindicação e não são, em geral,
O principal impacto socioeconômico da objeto das ações sociais e econômicas que
construção de reservatórios está relacionado vizam atenuar as dificuldades de
com a re-alocação das pessoas que sobrevivência impostas pelos
habitavam originalmente a área. Esse represamentos.
procedimento, implícito na maioria delas,
altera o modo de vida da comunidade, Os que não possuem títulos de terra são
modificando sistemas econômicos de geralmente trabalhadores volantes rurais,
agricultura e pesca, além de quebrar laços que, com a formação do reservatório,
emocionais e culturais (PETRERE JUNIOR, perdem a oportunidade de trabalho e são
1996). Outros impactos, cuja natureza tem deslocados para os núcleos urbanos
sido objeto de controvérsia, estão regionais ou para a periferia dos maiores
relacionados às transformações sociais centros, compondo o grande contingente
decorrentes do grande afluxo de de desempregados ou “biscateiros”.
trabalhadores envolvidos temporariamente Alternativamente, ingressam na pesca sem
na construção da barragem. o necessário treinamento.
196 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aspectos Socioeconômicos da Pesca: diagnóstico 197

Entre os segmentos populacionais que vivem com paliteiros, podem estar restritas ao uso As razões para tais contradições são várias, a Como visto na seção anterior, isso ocorre
a jusante das grandes barragens, os mais de redes de emalhar. maioria relacionada a falhas no devido ao fato de algumas espécies de peixes
afetados são os ribeirinhos que praticam a ordenamento da atividade e a problemas proliferarem intensivamente no novo
agricultura ou a pesca de subsistência, Os grandes empreendimentos hidrelétricos com a comercialização. Assim, além de ser ambiente, mantendo a atividade pesqueira e
especialmente se localizados em planícies têm como meta atender as demandas ligadas espoliada na cadeia de comercialização, a garantindo o sustento de famílias de
aluviais onde a produtividade do solo e a ao desenvolvimento econômico e social do atividade pesqueira em reservatórios é pescadores por alguns anos. Essa é a situação
renovaçãodos recursos explorados (aquático país, sendo, portanto, necessários e iniciada de forma atabalhoada e característica do estabelecimento da
ou florestal) dependem do regime de cheias. inquestionáveis. Entretanto, o exame de insustentável. atividade pesqueira em reservatórios como
Como mencionado no Capítulo 4, os vários estudos de caso em todo o mundo Itaipu, Tucuruí, Sobradinho e, mais
impactos a jusante, geralmente revela que os benefícios desses A falta de opção de trabalho na região após recentemente, Porto Primavera.
negligenciados nas avaliações e na empreendimentos atingem populações a formação de reservatórios e os altos
mitigação/compensação, podem se estender urbanas, grandes fazendeiros e indústrias, e rendimentos da pesca nos primeiros anos de Com o ingresso na fase autotrófica, a
por centenas de quilômetros, principalmente tipicamente não incluem alguns grupos locais sua formação (fase heterotrófica; ver produtividade do reservatório cai, reduzindo
pelo efeito regulador das cheias e retenção que arcam com os custos (WCD, 2000). É, Capitulo 4) levam grande número de a capacidade de suporte e instalando a
de nutrientes. portanto, paradoxal e injusto que qualquer pessoas a ingressar na pesca. Esse fato tem miséria entre os que dependem dos recursos.
segmento das comunidades humanas locais, sido recorrente no histórico da pesca em Pescadores com outras opções de trabalho
Além dos pescadores da área a jusante dos participante ativa ou não do sistema vários reservatórios. Levantamentos abandonam a atividade. Para a maioria
reservatórios, aqueles que praticavam a produtivo, arque com os custos realizados no reservatório de Manso, por deles, entretanto, não há essas opções, tendo,
pesca no trecho alagado são também socioambientais do empreendimento e os exemplo, revelam que, no terceiro ano de muitas vezes, ingressado na pesca por terem
afetados de modo relevante. Como visto em benefícios diretos sejam direcionados a outras sua formação, cerca de 85% dos pescadores sido excluídos de outras atividades
outros capítulos, os represamentos mudam a regiões ou grupamentos sociais. em atividade haviam ingressado na produtivas. Estes permanecem na pesca,
composição dos recursos pesqueiros, atividade havia apenas dois anos pressionando os estoques e inviabilizando-a
geralmente favorecendo espécies Os reservatórios, como ambientes lênticos ou (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ.NUPELIA/ como atividade rentável.
oportunistas de menor porte e menor valor semilenticos, são mais produtivos que os rios FURNAS, 2005). Fato similar foi registrado em
comercial. Dessa maneira, embora o que lhes dão origem (AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; Itaipu (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE A percepção de boas pescarias logo se
rendimento da pesca seja maior, em termos GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999). Assim, à MARINGÁ.NUPELIA/ITAIPU BINACIONAL, 1998). transforma em pesadelo e a necessidade de
de biomassa capturada, no período que se primeira vista, a construção de reservatórios Nesse período é comum a presença de sobrevivência familiar leva às práticas de
segue ao represamento, as espécies poderia ser considerada altamente positiva na pescadores itinerantes (barrageiros) que pesca ilegal. Tentativas isoladas de controlar
desembarcadas têm menor preço na produção de alimento e no sustento de exploram temporariamente esse tipo de a pesca pelas agências de controle ambiental
comercialização e maior dificuldade de grandes contingentes de pescadores. ambiente (PETRERE JUNIOR, 1996; AGOSTINHO; são infrutíferas. Multas, apreensões e outras
venda, por não estarem ainda incorporadas Entretanto, a baixa lucratividade da exploração OKADA; GREGORIS, 1999). O afluxo de medidas de fiscalização, com a devida
no hábito alimentar do consumidor. Além dos recursos pesqueiros nesses ambientes tem pescadores e a desorganização com que a cobertura da mídia, submete estes
disso, a exploração do novo recurso requer apontado para outra direção. Levantamentos atividade é exercida lembram o caos da profissionais à execração pública, sendo lhes
estratégia de pesca distinta e, às vezes, mais realizados no reservatório de Itaipu, um dos exploração ilegal de novas jazidas em zonas atribuída a culpa pela depleção dos estoques
dispendiosa, para a qual o pescador mais produtivos da bacia do rio Paraná, de garimpo. e outras mazelas que não são de sua
geralmente não tem equipamento ou revelam que apenas 15,8% dos pescadores responsabilidade (extinção local de grandes
experiência. As pescarias em rios são muitas manifestaram satisfação com a atividade. A A atividade pesqueira estabelecida com essas peixes migradores, por exemplo). Esse
vezes baseadas em anzóis ou formas ativas maioria nela permanece por falta de opção ou características e estimulada pela alta ambiente desfavorável à atividade da pesca
de pesca (cerco, arraste), enquanto aquelas qualificação (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE lucratividade inicial, é responsável por não motiva o poder público para o seu
em ambientes represados, mais profundos e MARINGÁ.NUPELIA/ITAIPU BINACIONAL, 2004). algum desenvolvimento econômico local. ordenamento e apôio.
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O aspecto talvez mais lamentável é que uma correspondem à estratégia mais aceita e Como não existem levantamentos de pescadores atuantes, embora impreciso,
atividade que poderia funcionar como forma versátil (GOULDING; SMITH; MAHAR, 1996). Os socioeconômicos da pesca nos reservatórios, parece estar caindo nos últimos anos. Em
de inclusão social acaba por desempenhar ambientes pescados incluem as várzeas, os as informações apresentadas são escassas e 1992 haviam 300 sócios filiados à Colônia e
papel oposto, colocando na marginalidade da principais tributários e os estuários do rio centralizadas nos excelentes trabalhos de em 1997 esse número caiu para 100. A
lei um segmento da população que já era Amazonas. A produção, que envolve dezenas Santos e Oliveira Junior (1999) para o Colônia seria mantida pela arrecadação de
economicamente marginalizado. de espécies de peixes, é direcionada uma taxa de 10% da produção de cada barco
reservatório de Balbina, e Santos (1995) para
basicamente aos mercados de Manaus, Belém (5% do intermediário na comercialização; 5%
o reservatório de Samuel.
Diagnóstico socioeconômico e exterior. Com a diminuição no rendimento do pescador), além de uma mensalidade que,
de espécies nobres, as frotas pesqueiras
da pesca viajam distâncias cada vez maiores atrás de Reservatório de Balbina em 1997, era de R$ 1,50. Entretanto, a falta de
pagamentos tem levado a Colônia Z-8 a
pescado de boa qualidade. Com o
N essa capítulo serão sumarizadas, para cada investimento privado, a pesca comercial Entre os reservatórios brasileiros e, em grandes dificuldades financeiras para o
cumprimento de sua missão, e com reduzida
bacia, as informações disponíveis acerca da começou a empregar novas tecnologias, como especial, aqueles da Amazônia, este foi o
atuação na organização da atividade
estrutura e funcionamento da pesca em enormes redes de arrasto e barcos equipados mais polêmico em relação à avaliação de
pesqueira ou nos serviços prestados aos
reservatórios, com foco nos aspectos com melhor sistema de refrigeração para o custo x benefício, sendo freqüentemente
pescadores.
socioeconômicos. Ressalta-se que a escassez pescado. Evidências de sobrepesca sobre mencionado como exemplo de decisão
de estudos socioeconômicos e as abordagens alguns estoques são relatadas por Petrere errada (FEARNSIDE, 1989). Desconsiderando A pesca é exercida com anzol, única arte de
distintas empregadas por eles refletem em Junior, Barthem, Córdoba e Gómez (2004) e todo o conjunto de impactos ambientais, pesca permitida nesse reservatório, além de
um desequilíbrio no grau de detalhamento por Santos, G.M. e Santos, A.C.M. (2005). perda de recursos e controvérsias que arpão e arco-flecha (Portaria 003/95-IBAMA).
conferido à descrição da pesca nas diferentes acompanharam a construção desse A estratégia mais comum na pesca é o
bacias. Ainda, visando o entendimento das Com uma realidade muito diferente, a pesca
reservatório, sua formação teve certo currico, para a captura do tucunaré. Este
alterações nas estratégias de pesca com a em reservatórios da Amazônia não recebeu
impacto positivo na economia local, visto consiste em arremessos consecutivos do
formação do reservatório, considerações investimentos e restrições aouso de diferentes
que possibilitou o estabelecimento de uma anzol iscado (pequenos peixes) de maneira
sobre as pescarias vigentes na bacia antes do estratégias são comuns. O controle da pesca
atividade pesqueira comercial, inicialmente que, quando recolhido, a isca simule a
represamento ou fora dos limites dos via proibição é a forma de manejo mais
tida como promissora. natação de um peixe pequeno. A vantagem
reservatórios serão feitas. comum nesses reservatórios, podendo esta ser
do currico está na sua seletividade,
total ou parcial. A alta rentabilidade inicial
Além disso, uma pesca de caráter esportivo capturando principalmente tucunarés na
das pescarias nesses ambientes impulsionou
Bacia Amazônica economias locais, atraindo pessoas e
também se instalou, sendo responsável pela superfície. Nos primeiros anos do
presença de cerca de 50 pescadores por final reservatório era comum também o uso de
estabelecendo um novo comércio pesqueiro.
C omo mencionado no capítulo anterior, as Contudo, a falta de ordenação na atividade
de semana, resultando inclusive na
realização de festivais anuais. Ressalta-se,
iscas artificiais do tipo colher,
confeccionadas industrial ou artesanalmente.
modalidades de pesca praticadas na região pesqueira tem, decorridos alguns anos,
entretanto que, essas duas modalidades de
amazônica são bastante diversas. A pesca de colaborado com o aumento da pobreza das
pesca têm-se tornado concorrentes nos A pesca, realizada em equipes de 4 a 5
subsistência é a mais difusa, sendo populações de vilas ribeirinhas, tornando essa
últimos anos. pessoas, tem duração média de seis dias. Em
responsável por parte considerável da atividade pouco rentável. Além disso, os
produção. Entretanto, a pesca comercial impactos que acompanham o processo de 1993 existiam 33 equipes, caindo para 25 no
Os pescadores profissionais, ou seja, que têm ano de 1997.
praticada nas imediações dos maiores centros ocupação humana no entorno de um
na pesca a atividade produtiva principal,
urbanos tem alta relevância. As estratégias reservatório, como desmatamentos, poluição
residem nas imediações do reservatório, Os pescadores utilizam embarcações de
mais comuns envolvem o uso de anzóis, e doenças, contribuíram ainda mais na
arpões, tarrafas, espinhéis, arco e flecha, além estando organizados em uma Colônia de madeira (capacidade entre 0,8 a 1,0 tonelada)
intensificação da pobreza e piora na
de redes. Destas, as redes de malhadeira qualidade de vida (FEARNSIDE, 1989). Pescadores criada em 1990 (Z-8). O número para realizar os deslocamentos até os pontos
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de pesca, onde se distribuem em canoas 1991, a companhia responsável pela As estratégias de pesca empregavam enorme Reservatório de Tucuruí
menores (“montarias”), pescando somente administração do reservatório (Eletronorte) gama de apetrechos, dependendo do
durante o dia. As embarcações maiores são liberou a pesca comercial com malhadeiras, ambiente e da espécie de peixe-alvo: redes de Embora considerada uma das usinas com
dotadas de caixas térmicas para para cerca de 20 pescadores cadastrados na cerco, espinhéis, malhadeiras e tarrafas. O melhor relação área alagada/geração, a
acondicionamento do gelo e do pescado. Colônia de Porto Velho. No entanto, no mês período de maior rendimento era o de águas construção do reservatório de Tucuruí gerou
seguinte, a pesca comercial voltou a ser baixas. também grande polêmica sobre relações
Quando a carga está completa, os barcos fechada, pela dificuldade de fiscalização da ambientais de custo/beneficio (FEARNSIDE,
retornam aos portos e entregam os peixes a atividade e acompanhamento nos Ribeiro, Petrere Junior e Juras (1995) 1999). As informações aqui apresentadas
compradores, que despacham a mercadoria a desembarques. identificaram três tipos de pescadores acerca dos pescadores de Tucuruí foram
Manaus. Pouco pescado é consumido atuando na fase pré-represamento: ribeirinhos extraídas de Ribeiro, Petrere Junior e Juras
localmente. Os comerciantes locais têm, A partir daí, os únicos aparelhos de pesca de subsistência, que pescam de forma artesanal (1995), Petrere Junior (1996), Santos e Mérona
entretanto, preferência na compra, já que permitidos no reservatório foram linhadas e e somente parte do tempo, explorando (1996), Cetra e Petrere Junior (2001),
fornecem insumos aos pescadores, sendo, anzóis. Redes malhadeiras, embora principalmente lagoas marginais; fazendeiros Camargo e Petrere Junior (2004) e Eletrobrás
alguns deles, donos de frotas pesqueiras. O proibidas, têm uso freqüente e de forma pescadores, que também pescam (c2003-2005).
gelo utilizado provém de Manaus, comprado clandestina, havendo movimentos pela sua esporadicamente, mas podem vender o
a R$ 1,50 a barra de 25 Kg. O pescador liberação. Todo o pescado encontrado em excedente para mercados regionais; pescadores A pesca no reservatório de Tucuruí se
recebia, em 1999, em torno de R$ 0,50 a 0,70 vilas da região deve estar sendo capturado profissionais, os quais se mantêm na atividade instalou espontânea e, como sempre ocorre,
por quilo do peixe, o que significava um no reservatório, assim como o pescado em tempo integral e utilizam diversos desordenadamente, a partir de 1986, dois
ganho diário de aproximadamente R$ 20,00 comercializado nas cidades próximas e na apetrechos para maximizar as capturas, anos após a sua formação. As alterações
(R$ 1,82= U$ 1,00). O comerciante entregava rodovia que cruza a região (BR 364). Não pescando principalmente na calha dos rios. ambientais promovidas pelo represamento
o peixe em Manaus por R$ 2,00 o quilo, existem, entretanto, informações de Uma quarta categoria seria dos pescadores alteraram também o sistema de pesca,
sendo que este produto chegava ao acompanhamento socioeconômico dos barrageiros, com atividade itinerante, que se especialmente no reservatório, com
consumidor final ao preço de R$ 4,00 o quilo. pescadores envolvidos na atividade, estabelece na pesca nas fases iniciais dos substituição de espécies (diminuição da
provavelmente em decorrência dessas reservatórios. Utilizaram grandes redes, sem captura de bagres migradores e aumento de
Devido à queda no rendimento pesqueiro proibições. compromissos com a conservação do recurso curimba, mapará e tucunaré, por exemplo),
(ver Capitulo 5.2) e à diminuição do e abandonaram o local assim que o perda de pontos de pesca (corredeiras e
tamanho dos peixes nos desembarques, rendimento diminuiu. Por isso, o atrito com lagoas), substituição dos aparelhos (maior
existem discussões acerca da necessidade de Bacia Araguaia-Tocantins as demais categorias era freqüente. uso de vara e anzol), e alteração na dinâmica
se programar estratégias de manejo mais sazonal da atividade.
eficientes no reservatório.
C omo descrito na seção anterior, a Na bacia do Araguaia-Tocantins, a pesca
profissional é legalizada apenas no Como geralmente acontece, a atividade de
atividade pesqueira tem longo histórico de
Reservatório de Samuel atuação nessa bacia. A pesca nos rios reservatório de Tucuruí, dado que os demais pesca no reservatório representou uma
estão localizados nos Estados de Goiás e alternativa econômica para a população
Araguaia/Tocantins era executada por frotas
A pesca na área do rio Jamari tem caráter de barcos provenientes de diversos Tocantins, onde essa modalidade de pesca é ribeirinha da região. Os altos rendimentos
principalmente de subsistência. Após a proibida, embora hajam evidências de que apresentados após a formação do
municípios, distribuídos desde as regiões
construção de Samuel, em 1988, ocorreu um superiores até sua foz. Com áreas de atuação ela efetivamente ocorra de forma reservatório ainda vêm atraindo pescadores,
grande impulso na atividade pesqueira, pela clandestina. Nesses estados, a opção da pesca com claras tendências de aumento na
específicas, essas frotas apresentavam intensa
presença de cardumes de espécies apreciadas atividade pesqueira, com o rendimento total foi dada à esportiva, em detrimento da densidade destes nos últimos censos. Em
no mercado. Em especial, houve grande tradicional, e seu componente turístico é 1993, uma das estimativas apontava cerca de
para a bacia estimado em aproximadamente
proliferação de tucunarés. Em fevereiro de 4.200 t.ano-1 (SANTOS; MÉRONA, 1996). fortemente apoiado pelo poder público. 6.000 pescadores, enquanto que em 2004 esse
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número foi ampliado para 8.000 Entrevistas realizadas pela Eletrobrás a intermediários no atacado (40%), sendo capturadas no reservatório de Tucuruí,
(ELETROBRÁS, c2003-2005). A construção do (c2003-2005) junto a 8.000 pescadores quase todo o restante destinado ao consumo evidenciando a maior importância da pesca
reservatório inegavelmente impulsionou a profissionais do reservatório de Tucuruí próprio ou vendido a varejo. do tucunaré e uso de anzóis. Essas diferenças
economia da região e promoveu o revelam que 7.200 estão registrados em são, entretanto, bastante influenciadas pelos
crescimento populacional observado nas colônias de pesca, estando o restante Comparações entre as condições preços praticados no comércio regional. O
cidades do entorno, hoje com um associado a cooperativas. As principais socioeconômicas e de qualidade de vida dos preço de venda do mapará correspondia, na
contingente superior a 250.000 habitantes. colônias, onde ocorrem as maiores pescadores no reservatório de Tucuruí e a ocasião (2004), a 1/10 daquele do tucunaré e
Porém Camargo e Petrere Junior (2004) não concentrações de pescadores, estão jusante da barragem (Tabela 5.3.1) da corvina (também conhecida como
detectaram relação direta entre esse localizadas em Marabá (Z30), Tucuruí (Z32) demonstram que estes últimos têm mais pescada). O tucunaré e a corvina,
crescimento populacional e um aumento no e Nova Jacundá. Petrere Junior (1996) afirma conforto e renda. considerados de melhor qualidade, são
esforço de pesca. que os pescadores da região consumidos majoritariamente pela
espontaneamente procuram pela A pesca no reservatório, a exemplo do que população ribeirinha ou são vendidos nas
As pescarias praticadas na área do legalização de sua situação profissional, e ocorre em outros de áreas subtropicais, cidades que circundam o reservatório. Já o
reservatório podem ser categorizadas como que a licença de pesca é um documento também tem caráter sazonal, com maiores mapará é quase todo exportado para o
profissional (artesanal e comercial) e muito valorizado e apreciado. rendimentos no período de seca. Essa mercado de Belém. O retorno financeiro da
esportiva, sendo esta última esporádica. Em sazonalidade se reflete nas espécies pesca do mapará é, entretanto, fortemente
1988 cerca de 80% eram pescadores Com relação à situação de moradia e capturadas, na quantidade do pescado e nos dependente da demanda desse mercado. O
comerciais e 20% artesanais. Pescadores qualidade de vida, dos 8.000 pescadores aparelhos de pesca utilizados. Como ganho diário com a atividade pesqueira em
artesanais utilizam equipamentos inventariados somente 10% possuem casa esperado, as estratégias de pesca mostram Tucuruí fica em torno de US$ 2,00 pesc.-1dia-1,
modestos, como pequenas canoas, linhadas, própria, sendo que a metade desse também variações espaciais relevantes. baseando-se em dados de desembarques no
tarrafas e pequenas malhadeiras. Pescadores contingente tem acesso à rede de energia Assim, nos trechos fluviais do reservatório e município de Imperatriz, MA, que recebe
comerciais estão melhor equipados, elétrica. Cerca de 10% possui rede de água nos lóticos a montante, redes de arrasto e pescado das regiões superiores do
possuindo barcos motorizados e, como já encanada, mas 50% consomem a água do tarrafas são os equipamentos preferidos na reservatório (CETRA; PETRERE JUNIOR, 2001).
dito, muitos tipos de apetrechos, como próprio reservatório. Quase a totalidade época de águas baixas, enquanto nas cheias o
malhadeiras, arrastos, tarrafas, espinhéis, não possui sistema de esgoto nas casas. uso de malhadeiras é predominante. Já nos A percepção vigente entre os próprios
varas com carretilhas e iscas artificiais. Os Quanto ao grau de instrução, 40% são trechos mais internos, a pesca é realizada pescadores é a de que existem mais peixes na
pescadores esportivos talvez sejam a analfabetos e 30% têm o ensino essencialmente com redes malhadeiras e região represada, e de que esses peixes são
categoria mais bem-equipada, com lanchas fundamental incompleto. Cerca de 90% dos equipamentos à base de anzóis. mais facilmente capturados. De fato, a
modernas e até pequenos aviões, pescadores recebem até 1 salário mínimo movimentação financeira resultante da pesca
conseguindo alcançar mais facilmente os por mês, sendo que o mesmo percentual A Tabela 5.3.2 apresenta o rendimento no mercado do município de Tucuruí foi
locais pouco explorados. tem atividade extra, no setor rural. financeiro para as principais espécies estimada em R$ 9,9 milhões entre 1992 e

Os censos atuais não detectam conflito entre Em relação à posse dos apetrechos de pesca,
Tabela 5.3.1 - Aspectos socioeconômicos dos pescadores atuantes no reservatório de
pescadores de diferentes categorias, mesmo somente 10% dos entrevistados se Tucuruí, na região represada e a jusante do reservatório (ELETROBRÁS, c2003-2005).
com os esportivos, embora explorem os consideram donos; o restante relata que eles Com exceção do número de pescadores, o restante significa números percentuais (%)
mesmos recursos. O fato pode ser atribuído foram cedidos ou financiados pelas Número Renda Renda
Casa Água Energia Analfa- Apetrecho
de até 1 acima de 1
ao rendimento da pesca ainda elevado. colônias, cooperativas e intermediários. Local
Pescadores
Própria Encanada Elétrica betos sal. min. sal. min
Próprio
Contudo, a exploração dos recursos é Aqui a rede de espera é o principal Represa 8.000 10 10 20 40 90 10 10
caracterizada pela ausência de cooperação aparelho, seguido de vara, espinhel e Jusante 1.500 60 20 30 40 80 20 50
entre as categorias de pescadores. tarrafa. Grande parte do pescado é vendida
204 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aspectos Socioeconômicos da Pesca: diagnóstico 205

1999. Comparativamente, o intrincadas relações sociais dos pescadores tendo na pesca, entretanto, sua principal
Tabela 5.3.2 - Rendimento proporcionado pela
montante movimentado no comercialização de tucunaré, corvina e mapará na nesses ambientes comecem a ser reveladas fonte de renda. Embora com grande variação
município de Marabá, região de Tucuruí, Pará, no período de 1992 a 1999. O ((MANCUSO; VALENCIO, c2003; VALENCIO; LEME; sazonal e espacial, a renda semanal destes
apetrecho de pesca utilizado nas capturas também está
localizado a montante do destacado (Fonte: CAMARGO; PETRERE JUNIOR, 2004) MARTINS; MENDONÇA; GONÇALVES; MANCUSO; pescadores pode alcançar US$ 70 por semana
reservatório, somou pouco MENDONÇA; FELIX, c2003; THÉ; MADI; NORDI, (GUTBERLET; SEIXAS; THÉ, 2004).
Espécies Apetrecho Rendimento (R$)
mais de R$ 3,5 milhões, no c2003).
mesmo período. Entretanto, Tucunaré anzol 6.285.410,00 A participação de mulheres na pesca é
aspecto importante e muito Corvina anzol + rede 4.205.583,00 Como mencionado no capítulo anterior, duas também constatada nesta bacia. Muitas
preocupante está na falta de Mapará rede 462.531,60 modalidades de pesca são bem características iniciam a atividade de forma auxiliar,
percepção dos pescadores com na bacia do rio São Francisco: as de rios e as tornando-se, mais tarde, profissionais, com
relação a suas atitudes e de reservatórios, que se distinguem dedicação integral à atividade. Este
estratégias de sobrevivência, ou seja, nas número de pescadores profissionais em marcantemente em relação às espécies engajamento acontece pela ausência de
relações de causa-efeito em que estão atividade na bacia do rio São Francisco na capturadas e aos aparelhos de pesca alternativas empregos formais e pelos
inseridos. Não foram capazes de relacionar o década de 1980 tenha sido de utilizados. A pesca em ambientes lóticos é benefícios de direito oferecidos aos
alto esforço de pesca/caça com diminuições aproximadamente 26.000 (SATO; GODINHO, realizada com o uso de diversos aparelhos, pescadores. Em geral utilizam anzóis,
no rendimento dos recursos explorados. c2003). Apesar de não existirem estatísticas incluindo redes malhadeiras, tarrafas, anzóis, linhadas e peneiras nas atividades. No
Segundo Camargo e Petrere Junior (2004), tal de pesca consistentes, há evidências de que a linhadas e arpões, que objetivam município de Penedo, AL, uma Associação de
posição se manifesta pela ausência de atividade mostrou acentuado declínio nas essencialmente a captura de espécies Pescadoras foi criada, filiada à Colônia Z-12,
avaliações de risco conduzidas pelos ultimas décadas (SATO; GODINHO, c2003). migradoras. Em reservatórios, congregando profissionais de 24 municípios
próprios usuários, que, nesse caso, não Como visto no capítulo anterior, diversos diferentemente, a pesca é executada (GUTBERLET; SEIXAS; THÉ, 2004).
consideram a possibilidade de ocorrer um fatores devem estar contribuindo para essa basicamente com o uso de redes de espera
colapso no uso dos recursos explorados. tendência, destacando-se dentre eles, a com diferentes malhagens, na tentativa de Os grandes represamentos contruídos na
construção de reservatórios, a poluição, a capturar tucunarés, corvinas e mandis bacia afetaram de forma relevante as
subtração de água para grandes projetos de (GUTBERLET; SEIXAS; THÉ, 2004). Os pescadores populaçoes ribeirinhas que tradicionalmente
Bacia do São Francisco irrigação e a sobrepesca. costumam acampar próximos aos locais de exploravam a pesca nesta bacia. Os laços
pesca, permanecendo por até duas semanas ou culturais e as relações produtivas
O s estoques pesqueiros do rio São Com a construção de grandes reservatórios até que o rendimento obtido cubra os custos
da atividade.
anteriormente existentes foram rompidas
pela re-alocação das famílias que ocupavam
Francisco eram considerados entre as nessa bacia, particularmente os de
principais fontes de pescado nacional, Sobradinho e Três Marias, um enorme as áreas alagadas. Nos trechos abaixo do
fornecendo proteínas para a população contingente de pessoas teve de ser re- De modo similar à situação encontrada nos represamento, a redistribuição temporal da
ribeirinha e atendendo demandas de alocado. Entretanto, o elevado rendimento reservatórios, os pescadores que exploram os vazão, inevitável em represamentos,
mercados do Nordeste e do Sudeste do pesqueiro inicial nas áreas represadas atraiu trechos de rio desta bacia sofrem com a contribuiu na queda dos estoques dos peixes
Brasil. A pesca na bacia era efetuada na muitas pessoas de volta para a região. exclusão social, a falta de apoio do Estado e a de grande porte, que em geral são
forma de subsistência, comercial e esportiva. Embora os escassos levantamentos baixa auto-estima gerada pela precariedade migradores e dependentes do regime de
Os pescadores ribeirinhos obtinham peixes socioeconômicos realizados na bacia do rio com que a atividade é exercida. A qualidade cheias sazonais, afetando a rentabilidade da
suficientes para seu consumo e São Francisco envolvam predominantemente de vida é muito baixa, e somente aqueles que pesca e contribuindo para a deterioração na
comercialização, gerando recursos e os trechos lóticos (CAMARGO; PETRERE JUNIOR, vivem em centros urbanos dispõem de qualidade de vida.
garantindo seu sustento. Muitos 2001), alguns deles, apesar de também serviços de água tratada, esgoto e energia
estabelecimentos comerciais e turísticos conduzidos em porções de rio, incluem áreas elétrica. Muitos têm sua renda Ressalta-se que os pescadores estão
eram baseados na pesca. Estima-se que o de reservatórios e permitem que as complementada pela atividade agrária, conscientes das ameaças que sucedem a
206 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aspectos Socioeconômicos da Pesca: diagnóstico 207

construção de um represamento, e na região atividades associativas, sendo que um Gutberlet, Seixas e Thé (2004) relatam, para foram realocados por programas de
inferior da bacia, reclamam da presença de número reduzido tem seus débitos com as este reservatório, uma renda em torno de assentamentos conduzidos pela
espécies exóticas e do sumiço das de Colônias quitados. A ausência do Estado e a US$ 30,00/semana durante o melhor concessionária hidrelétrica, engajando-se na
interesse (GUTBERLET; SEIXAS; THÉ, 2004). fragilidade das associações promovem período de pesca (cheias), podendo diminuir pesca pela falta de opção e incentivo à
Embora culpem as concessionárias distorções no sistema de pesca, sendo as a US$ 7,00/semana nas piores temporadas. agricultura, de onde eram oriundos; (ii)
hidrelétricas pelas alterações hidrológicas e regras da pesca e o preço do pescado Os autores acreditam que o rendimento da barrageiros, provenientes de diversos pontos
o desaparecimento das espécies de peixes estabelecidos pelos intermediários na pesca na região do baixo São Francisco vem do Nordeste do país, itinerantes e altamente
migradoras, identificam, também, uma série comercialização, que financia os insumos da apresentando tendência de queda, e tal especializados, que utilizavam longas redes
de outras fontes de impactos ambientais, atividade e, mesmo precariamente, presta fenômeno tem levado os pescadores a na região a jusante do reservatório. No pico
como a poluição, siltagem, agricultura, assistência básica à família dos pescadores. buscar emprego fora dela. Na estação de de produção, em 1981, os barrageiros
mineração, desflorestamento e a pesca Contudo, a Federação de Pescadores de aqüicultura de Xingó, um pescador recebe, somavam cerca de 3.400 pessoas, sendo que
predatória. Minas Gerais realizou uma reunião no ano por uma jornada fixa de serviço (8h.d-1) até a maioria evadiu da região após o inicio da
de 2000, entre pescadores e o poder público, US$ 71,00 por mês. depleção dos estoques em 1986.
Os conflitos na região são, no entanto, mais para a discussão do manejo pesqueiro e a
amplos e se estendem por diversos grupos elaboração da legislação pertinente a A construção de outras centrais hidrelétricas Problemas sociais eram freqüentes entre as
sociais, principalmente pela pesca ser uma atividade. Contrariando as expectativas, os na trecho baixo do rio São Francisco vem duas classes de pescadores. Os barrageiros
atividade histórica e intensa na bacia. Entre resultados de tal encontro foram promovendo quedas acentuadas no são essencialmente profissionais e, por não
os grupos em conflito destacam-se considerados altamente positivos, e rendimento gerado pela pesca, de peixes e terem vínculos com os costumes e
pescadores amadores, profissionais demonstraram a que a capacidade dos camarão. Antes do represamento, o necessidades sociais da região, usualmente
registrados, profissionais não registrados, pescadores na solução de problemas rendimento alcançava até US$ 70,00 por dia, transgrediam regras comunitárias e a
fazendeiros e os órgãos ambientais. A relativos ao manejo de seus recursos tem caindo drasticamente para valores de US$ própria legislação. Por isso, não obtiveram
categoria mais execrada é a dos pescadores sido amplamente subestimada (GUTBERLET; 30,00 por mês, após a construção dos a simpatia dos pescadores locais, sendo
comerciais e ribeirinhos, acusados de serem SEIXAS; THÉ, 2004). reservatórios. As alternativas consideradas também relevante para isso o estilo de vida
os responsáveis pelas acentuadas quedas no pelos pescadores têm sido a execução de itinerante daqueles, a competição gerada
rendimento pesqueiro da bacia e Como já mencionado, o conhecimento da atividades agrícolas, como o trabalho em pelo seu elevado poder de pesca, e o
desaparecimento de espécies de grande realizade socioeconômica dos pescadores plantações de cana-de-açúcar. Estas aumento no custo de vida local, gerado pelo
porte, embora esta assertiva careça de desta bacia, a exemplo das demais, é, atividade geram um retorno de maior poder aquisitivo dessa categoria. Os
comprovação cientifica. Sabe-se, entretanto, precário. Em razão da escassez de dados aproximadamente 4 a 9 dólares por dia. pescadores locais tinham natureza muito
que, além da sobrepesca, vários fatores desta natureza serão apresentados apenas distinta, já que exerciam a atividade de
podem ser responsáveis pelo nível atual do aqueles referentes aos reservatórios de pesca consumindo ou comercializando o
rendimento pesqueiro, com destaque ao Xingo, Sobradinho e Três Marias.
Reservatório de Sobradinho pescado, além de balanceá-la também com
controle das cheias pelos represamentos. atividades paralelas (agricultura). A disputa

Reservatório de Xingó
As informações sobre a vida dos entre as duas categorias só foi amenizada
A fragilidade na organização dos pescadores pescadores aqui apresentadas são baseadas com a troca mútua de experiências.
profissionais não permite constestações nos trabalhos de Petrere Junior (1996) e
eficazes ou que suas reivindicações sejam O reservatório de Xingo foi fechado em Agostinho (1998). Segundo esses autores, O número de pescadores aumentou
atendidas. Um número relevante de 1994, alagando uma área de 60 km2 no após a construção de Sobradinho, a pesca exponencialmente nos anos seguintes ao
pescadores está registrado nas Colônias de segmento inferiores do rio São Francisco. Os profissional foi exercida por dois tipos de barramento. No primeiro ano após o
Pesca existentes ao longo da bacia. Poucos, dados sobre a pesca nesse ambiente são pescadores: (i) pescadores locais, na verdade represamento, o número estimado era de
no entanto, participam efetivamente das escassos. ribeirinhos que já habitavam a região e que aproximadamente 2.500 pescadores,
208 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aspectos Socioeconômicos da Pesca: diagnóstico 209

principalmente famílias locais. No segundo biomassa de peixes era capturada com esse armazenamento e escoamento da produção, ocorrer também na forma de salga. Em
ano, o número total manteve-se, com equipamento. Apesar de o limite legal de bem como a atuação em favor dos filiados, ambos os processos o peixe é comumente
acréscimo da parcela barrageira. Contudo, malhagem ser 14 cm, redes com malha de era reduzida. Dessa forma, com o baixo mal-acondicionado, devido ao uso
em 1980 (terceiro ano), a atividade já era até 7 cm também foram utilizadas pelos engajamento dos pescadores e da própria insuficiente de gelo e à aplicação do sal em
exercida por 8.000 pessoas, sendo 3.400 pescadores, as quais capturavam grandes colônia, a atividade encontrava-se pouco peixes já deteriorados. Neste último caso, a
barrageiros. quantidades de juvenis. O anzol era o articulada, com níveis precários de situação decorre de pessoas que não têm
segundo apetrecho mais empregado, organização. acesso a gelo ou a outros meios de
Passado o período de elevada utilizado na captura de pescadas e surubim. acondicionar o pescado, sendo a salga a
produtividade, grande parte de barrageiros Dentre os outros apetrechos, destacam-se as A comercialização do pescado se concretiza única opção. Conseqüentemente, a
migrou para outras regiões do país. Com redes de cerco, arrastos, covos e timbó. pela ação de intermediários (patrões da qualidade do pescado é severamente
isso, no final da década de 1990, a pesca), que se aproveitam da falta de prejudicada no reservatório. A maior parte
quantidade de pescadores estimada era bem Os deslocamentos até os pontos de pesca são organização entre os pescadores e as do pescado é comercializada em grandes
menor, somando cerca de 3.500 pessoas. realizados com canoas independentes, colônias para praticar preços ínfimos. Esses centros urbanos do Nordeste, mas espécies
Destas, cerca de 50% não eram filiadas às movidas a vela ou a remo, que costumam intermediários financiam todos os insumos nobres podem ser despachadas para Brasília
colônias de pesca da região e, portanto, viajar por 3 h até esses locais. Outro tipo necessários à pesca e à família do pescador, e região Sudeste.
consideradas clandestinas na atividade. comum de transporte é a embarcação criando uma situação de dependência e
Além da situação profissional irregular, motorizada, de maior porte, que reboca as endividamento permanentes, que não O rendimento financeiro dos pescadores
costumam utilizar equipamentos e canoas menores (até cinco) até os pontos de faculta ao pescador negociar o preço do nesse reservatório é considerado alto para o
estratégias de pesca proibidas. interesse. Essas embarcações maiores produto. Para isso contribui bastante a padrão nacional, principalmente a
funcionam também como base de apoio, ausência do Estado, cujo papel, considerar o baixo preço pago pelo quilo do
Posteriormente, em 1997/98, o número de fornecendo mantimentos, mantendo os especialmente na área de saúde, é exercido pescado (AGOSTINHO, 1998). Em 1998, esse
pescadores apresentou incrementos equipamentos de pesca e transportando o pelo intermediário. autor estimou uma receita mensal em torno
relevantes novamente, motivados pela pescado. Na década de 1980, existiam quase de R$ 675,00 por pescador, com despesa de
aparente reversão trófica do reservatório 500 rebocadores e mais de 2.200 canoas, O pescador pode, entretanto, escoar sua aproximadamente R$ 90,00, o que confere
(maior produtividade). Esse reservatório, número que caiu substancialmente na produção diretamente para um comprador um saldo líquido de R$ 585,00. Porém é
operado na maior parte do tempo em níveis década de 1990, passando para 200 no porto (balanceiro). Os principais portos digno de ressalva que esse levantamento foi
baixos, apresenta elevações espaçadas e rebocadores e cerca de 1.500 canoas. de desembarque são os de Remanso, Porto realizado na parte mais produtiva do
dependentes das chuvas do ano. A elevação de Passagem, Sento Sé e Xique-Xique. reservatório e as únicas despesas
de nível do reservatório e o alagamento dos Em meados da década de 1990, existiam sete Contudo, é normal que o peixe seja computadas foram redes, gelo e
terrenos adjacentes são responsáveis pelo colônias de pescadores no reservatório de repassado a intermediários ou para o barco combustível. Portanto, se considerarmos o
incremento na produtividade e conseqüente Sobradinho, embora metade dos pescadores rebocador, que podem também vendê-lo a reservatório como um todo, o rendimento
elevação dos estoques pesqueiros. Na não fosse filiada (~ 1.700 pessoas). um balanceiro ou entregá-lo diretamente ao deve estar num patamar abaixo.
verdade, esse é um padrão bem Entretanto, mesmo os filiados tinham baixa caminhão responsável pelo transporte ao
característico em Sobradinho, que marca a participação nas reuniões e o interesse era mercado varejista. O preço final do pescado As principais restrições legais à pesca
afluência de pescadores da região atraídos voltado apenas para a obtenção de licença ao consumidor pode representar um relacionam-se ao controle da malhagem das
pela oferta de peixes. de pesca e, mais tarde, seguro desemprego incremento 600% superior àquele praticado redes, aos locais destinados à pesca e ao
durante a piracema. Por outro lado, apesar na primeira transação comercial (pescador). tamanho dos peixes. Contudo, a ausência de
As estratégias de pesca na década de 1980 de duas colônias possuírem instalações e uma fiscalização efetiva e os problemas
eram baseadas essencialmente na rede de infraestrutura adequadas para a conservação A comercialização dos peixes ocorre sociais supracitados tornam pouco relevante
espera, sendo que cerca de 80 a 90% da do pescado, a participação no basicamente na forma fresca, mas pode a sua existência.
210 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aspectos Socioeconômicos da Pesca: diagnóstico 211

Reservatório Três Marias econômica, pressionando legisladores e Paradoxalmente, os pescadores consomem


órgão ambientais para a proibição da pesca pouco pescado, preferindo produtos a

Informações sobre aspectos comercial. pecuários. Embora essa preferência possa ser
socioeconomicos da pesca profissional no uma questão de gosto, alguns tabus e
alto/médio São Francisco, incluindo o As famílias de pescadores, quando não preconceitos parecem também envolvidos,
reservatório de Três Marias, podem ser ribeirinhos, habitam a periferia de centros alguns relacionados a crenças e outros à
encontadas em Valencio, Leme, Martins, urbanos, em condições marginalizadas e aparência do pescado.
Mendonça, S.A.T., Gonçalves, Mancuso, precárias, com pouco acesso aos bens de
Mendonça, I. e Felix (c2003) e Thé, Madi e consumo. Apesar de preocupados com os Entrevistas realizadas com mulheres de
Nordi (c2003). Esses trabalhos se destacam estudos e a formação social dos filhos, os pescadores da região de Três Marias por b

por retratar a difícil vida do pescador números relacionados ao tempo de estudo Mancuso e Valencio (c2003) revelam a
artesanal, que vem se degradando escolar são alarmantes, sendo que 64% dos precariedade e a marginalização das famílias
progressivamente. As informações a seguir pescadores inventariados têm problemas de pescadores. Esse trabalho deixa clara a
provêm desses trabalhos, além daquele de com leitura. falta dos serviços e da assistência do Estado.
Sato e Godinho (c2003). Embora a valorização do núcleo familiar e
A maioria dos pescadores está filiada a anseios de desenvolvimento social sejam
A pesca nessa região é centrada na unidade colônias da região e procura elevados e semelhantes aos de famílias
familiar, sendo o marido o chefe-pescador espontaneamente estas para a obtenção de encontradas em grandes centros urbanos, a c

e as mulheres responsáveis pelas licença, evitando problemas com a sensação de “desgraça” na vida parece ser
atividades domésticas, podendo fiscalização ambiental. Mesmo assim, perene, e a auto-estima muito baixa. A falta
eventualmente ajudá-lo nas pesca. A pescadores clandestinos estão sempre de perspectiva de sucesso na vida e a
atividade pesqueira é geralmente passada presentes. A pesca é realizada percepção manifesta de uma situação cada
de pai para filhos. Entretanto, as principais principalmente em canoas de madeira, com vez pior caracterizam esse segmento,
razões alegadas para o exercício da propulsão a remo ou motor (Figura 5.3.1). contribuindo para isso a queda no
profissão foram o desemprego e a falta de As redes empregadas na pesca nesse rendimento da pesca. No Box 5.3.1 são
opção de trabalho fora da pesca. A renda reservatório (malhadeiras e tarrafas) são, transcritos alguns dos vários depoimentos de Figura 5.3.1 - Embarcações e propulsores
mais utilizados na pesca artesanal:
média mensal na região do reservatório é em geral, confeccionadas artesanalmente pescadores da região (colhidos por VALENCIO, barco de alumínio (a), canoa de
de aproximadamente 3,5 salários mínimos pelos pescadores. O pescado é vendido no LEME; MARTINS; MENDONÇA, S.A.T.; GONÇALVES; madeira a remo (b) e motor de popa (c).
Fotos: E. K. Okada.
por família, sendo maior que a renda atacado, a maior parte para “peixeiros” MANCUSO; MENDONÇA, I.; FELIX, c2003).

estimada para pescadores de regiões a (intermediários) locais ou de outras regiões,


jusante do reservatório. Entretanto, grande sendo o restante vendido para as colônias. A Thé, Madi e Nodi (c2003), avaliando os muitas vezes ignorado ou não creditado,
parte dos pescadores realiza atividades relação de dependência que o pescador tem conhecimentos locais no trecho alto-médio demonstrando a falta de valor que nossa
paralelas para complementar os com o intermediário é também grande do rio São Francisco, onde se insere o sociedade atribui às culturas tradicionais. Na
rendimentos, com destaque para a nesse reservatório. As dívidas com insumos reservatório de Três Marias, demonstraram região de Três Marias, a percepção dos
agricultura. Conflitos com pescadores relacionados à atividade de pesca, como como o conhecimento adquirido pela pescadores a respeito da biologia, ecologia e
esportivos são, atualmente, comuns, já que gelo, redes, combustível, são pagas ao experiência acumulada dos pescadores funcionamento do sistema mostrou-se
o peixe está escasseando e a competição intermediário com o pescado. Embora revela-se, em muitas ocasiões, altamente extremamente acurada, envolvendo noções
pelo recurso aumentando. Ressalta-se, a explorado pelo intermediário, geralmente sobreposto com o conhecimento adquirido de biologia reprodutiva e distribuição
propósito, que a categoria esportiva tem um ex-pescador, o pescador tem nele a com a metodologia científica convencional. espacial das espécies, envolvendo inclusive
maior representatividade política/ garantia de vazão para toda a produção. O conhecimento adquirido é, entretanto, padrões temporais de variação nas suas
212 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aspectos Socioeconômicos da Pesca: diagnóstico 213

abundâncias. O conhecimento empírico Valêncio e colaboradores – ver Box 5.3.1 - A queda nos rendimentos pesqueiros tem e aqüicultura. Poucos destes açudes têm
acerca do papel da cheia e da piracema na demonstra de forma sintética e precisa sido atribuída à pesca excessiva, mas finalidade de produção de energia elétrica
geração de elevados rendimentos também resultados recentes de pesquisas que vêm amparada por pouca evidência científica (HARTMANN; CAMPELO, 1998). Devido às
foi evidente. sendo conduzidas há vários anos e cuja (VALENCIO, LEME; MARTINS; MENDONÇA, S.A.T.; condições climáticas e às demandas de
ignorância levou (e leva) a inúmeros GONÇALVES; MANCUSO; MENDONÇA, I.; FELIX, consumo urbano e irrigação, esses
Em especial, o conhecimento empírico equívocos no manejo da pesca em c2003). De qualquer maneira, essa crença tem reservatórios podem deplecionar de forma
manifestado pelo sr. Norberto, de São reservatórios brasileiros, com fantástico culminado em medidas restritivas e dramática durante a estiagem, sendo comum
Gonçalo de Abaeté, e reproduzido por desperdício de esforço e dinheiro. controversas de controle da pesca que, chegarem a apenas 10% de sua capacidade.
embora tenham uma implicação social
devastadora, não são avaliadas em relação à Em estudos desenvolvidos com pescadores
Box 5.3.1 sua efetividade. Com os resultados dos em açudes do Ceará, Hartmann e Campelo
trabalhos apresentados acima, não restam (1998) relatam a existências de duas
A precarização do trabalho no território das águas: limitações atuais ao exercício da pesca
profissional no alto-médio São Francisco. dúvidas de que essas ações de manejo não categorias de usuários dos recursos, ou seja,
vêm produzindo os resultados esperados, aqueles que detêm a posse de pequenos lotes
VALENCIO, N. F. L. S.; LEME, A. A.; MARTINS, R. C.; MEN- contribuindo somente no agravamento da onde desenvolvem cultivos de subsistência
DONÇA, S. A. T.; GONÇALVES, J. C.; MANCUSO, M. I. R.;
MENDONÇA, I.; FELIX, S. A. In: Godinho, H.P.; Godinho, miséria social. As medidas de manejo da em concomitância com a pesca, e os que se
A.L. (Org.). Águas, peixes e pescadores do São Francisco das Mi- pesca nos reservatórios do rio São Francisco, dedicam integralmente a esta última. De
nas Gerais. Belo Horizonte: PUC Minas, c2003. cap. 23, p. 423- acordo com levantamentos realizados pela
a exemplo daquelas de outras bacias onde ela
446.
é tradicional, devem ser precedidas de CNBB (Pastoral Regional da Seca) e
Nesse capítulo, os autores avaliaram, em termos socioeconômicos, a vida dos pescadores do alto-médio rio discussões com os pescadores, dando-lhes mencionados por esses autores, apenas 10%
São Francisco, onde se insere o reservatório de Três Marias. Abaixo são feitas algumas transcrições dos uma atenção compatível com o dos residentes nas imediações do
depoimentos dos próprios pescadores, que revelam, a partir de suas próprias percepções, o permanente conhecimento de que dispõem sobre o reservatório não exercem a pesca, sendo que
estado de aflição e falta de perspectiva da profissão. 42% o fazem para consumo próprio, 40%
sistema.
“Só tem represa pra cima e represa pra baixo, como é que vai prestar? O peixe fica trancado nas lagoas, sem para subsistência e comércio e 2,5% apenas
cheia para trazer o peixe.” Sr.Ismael, colônia de Januária. para o comércio. Os estudos realizados por
Região Nordeste Paiva, Petrere Junior, Petenate, Nepomuceno
“Eu queria que deixassem de ver o pescador como vilão. A pesca bem feita não faz o rio sofrer. A pesca e Vasconcelos (1994), em 17 reservatórios da
profissional sempre existiu. Algumas modalidades precisa fazer correção, das modalidades ou das leis. A
gente precisa sentar junto para discutir. Não queremos ser extintos pois não temos do que sobreviver. Faz
A lém dos limites da bacia do rio São região, registraram uma média de 148 pesc.
o que com a proibição das redes? Tô olhando para aquele que é marginalizado pela fiscalização, que mora com Francisco, a pesca em ambientes represados é ano-1 por reservatórios, entre 1977 e 1986,
a família num rancho de capim.” Sr. Norberto, São Gonçalo do Abaeté. praticada principalmente em açudes. Estes com variações relevantes entre eles.
ambientes foram construídos como parte das
“Que o IBAMA, o IEF, fornecessem para CEMIG o momento exato em que a água deveria ser liberada para
políticas de governo para amenizar os As embarcações utilizadas são, em geral, de
as lagoas marginais para o peixe desovar lá. Que o IBAMA e o IEF fiscalizassem, também, a mata ciliar, que
serve de alimento para os peixes. Tem que tirar o gado da mata ciliar (...). Prá repovoar o rio no prazo mais problemas da seca na região. Estima-se que madeira, raramente motorizadas. Os
curto? A única coisa que repovoa o rio é a água. É preciso voltar a ter enchente para repovoar o rio.” Sr. exista atualmente cerca de 60.000 açudes artefatos de pesca utilizados são bastante
Norberto, São Gonçalo do Abaeté. nessa região, inundando uma área de variados, predominando aqueles baseados
aproximadamente 8.000 km2. O propósito em redes de emalhar (GURGEL, 1986), que são
“Na época em que a gente pegava muito peixe, todo mundo conhecia e respeitava. Hoje, não pode comprar
desses reservatórios é principalmente a utilizados passivamente como redes de
nada no comércio, porque não tem crédito. Meu fogão pifou e não pude comprar outro porque o comércio não
achava que a gente é trabalhador. (...) hoje aumentou o número de pescadores por falta de emprego na estocagem de água para a agricultura e uso espera ou ativamente na pesca de batida
cidade. Antigamente, tinha fartura de peixe, tinha mercado, o pescador vivia melhor. Hoje ele pega um doméstico durante períodos prolongados de (HARTMANN; CAMPELO, 1998). No primeiro, as
pouco, ou nada, e vive em grande dificuldade.” Sr. Luís, Pirapora. estiagem, sendo usados também para a pesca redes são instaladas durante a tarde e
214 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aspectos Socioeconômicos da Pesca: diagnóstico 215

recolhidas, com os peixes (sardinha de água Embora os reservatórios nordestinos desenvolvidos, utilizando primariamente escoamento da produção quanto na aquisição
doce, pescada, curimatã, tilápia e tucunaré), tenham-se revelado os mais produtivos do artefatos de pesca baseados em anzóis (varas de insumos, (ii) a precariedade nos serviços
na manhã seguinte. Na pesca ativa (batida), país e a pesca neles praticada tenha e linhadas). prestados por essas organizações, como o
eficiente na captura de tilápias, as redes são importante papel na subsistência de grandes atendimento médico, odontológico e
instaladas em áreas rasas e os peixes contingentes populacionais, neles também A pesca profissional e aspectos jurídico, e (iii) a falta de atenção do poder
afugentados em direção a elas por batidas na não se conseguiram erradicar as precárias socioeconômicos dessa atividade no Estado público no auxílio e incentivo para a
superfície da água com varas ou remo. Após condições em que vivem os moradores das de São Paulo, especificamente nas sub-bacias formação de cooperativas.
cada manobra, os peixes são recolhidos e as imediações. dos rios Grande, Tietê e Paranapanema,
redes reinstaladas. Outras modalidades de foram descritos detalhadamente por Santos, Em estudo recente, Carvalho (2004)
pesca utilizadas nesses ambientes são Camara, Campos, Vermulm Junior e Giamas descreveu alguns aspectos socioeconômicos
baseadas em anzóis, na forma de linhas de
Bacia do rio Paraná (1995), tendo como base levantamentos da pesca na região da planície de inundação
mão, especialmente para a captura de realizados entre 1992 e 1993, envolvendo 279 do alto rio Paraná, nos municípios de Porto
tucunaré e pescada (corvina) e em bóias, para A bacia do rio Paraná é, entre as sul- municípios. Esses autores estimaram em
2.800 os pescadores atuando no Estado de São
Rico e Porto São José, revelando que as
condições vigentes nessa região são
pesca da traíra. Tarrafas e covos são também americanas, aquela que apresenta maior
empregados na captura de várias espécies de número de reservatórios hidrelétricos, sendo Paulo. Destes, cerca de 80% possuem semelhantes às observadas em outras bacias
peixes e camarão. a pesca profissional e a amadora bem- embarcação própria, mais da metade feita de brasileiras. Como padrão recorrente, a
difundidas em todas as sub-bacias, tanto em madeira. Cerca de 70% dos pescadores têm atividade pesqueira está centrada na unidade
No final da década de 1970 diversas colônias regiões lóticas quanto represadas. de 1 a 4 dependentes na família e quase 75% familiar, sendo que cerca de 85% dos
foram organizadas. Nos idos de 1986 vivem exclusivamente da pesca. A maioria pescadores são casados e muitos contam com
existiam cerca de 10 colônias, prestando Nos trechos livres remanescentes dessa exerce a atividade durante mais de 20 dias a a ajuda de parentes nas tarefas pesqueiras. A
apoio médico, sanitário, financeiro e técnico bacia, além da pesca amadora e profissional, cada mês, empregando principalmente redes maioria dos pescadores está cadastrada em
(GURGEL, 1986). As principais controvérsias e registra-se também a de subsistência, rara de espera (Figura 5.3.2) e, em menores colônias, e quase a totalidade possui carteira
conflitos existentes relacionam-se aos tipos nos reservatórios. Nesses trechos, os proporções, tarrafas, espinhéis e anzóis. Com profissional. Aspecto negativo reside no fato
de pesca de batida e redes de espera. A desembarques são baseados em grandes relação à renda, mais da metade recebia, na de que quase 50% dos pescadores
primeira tem sido objeto de proibições e espécies migradoras, como o dourado, piaus, ocasião, menos que 4 salários mínimos por entrevistados são analfabetos. Os pescadores
liberações sucessivas, dada a sua eficiência na curimba e grandes bagres (PETRERE JUNIOR; mês. Infelizmente, os
pesca, chegando a capturar quatro vezes mais AGOSTINHO; OKADA; JÚLIO JÚNIOR, 2002; autores não apresentam
que a pesca passiva. Em geral, os pescadores AGOSTINHO; GOMES; SUZUKI; JÚLIO JÚNIOR, c2003). informações a respeito das
que se utilizam de redes de espera são mais Os pescadores comerciais e de subsistência formas de organização em
velhos, têm mais equipamentos, pescam utilizam diversos aparelhos de pesca, colônias de pescadores.
próximo a suas residências e são membros atuando na calha do rio, lagoas e canais. Os Entretanto, dentre as várias
de associações comunitárias. Já os que barcos utilizados, em geral, não são muito dificuldades apontadas
praticam a pesca de batida pescam em todo o potentes, a pesca emprega diferentes pelos próprios pescadores
reservatório e não participam de associações estratégias e o seu rendimento é na execução de sua
comunitárias. Além disso, se da zona rural, marcadamente sazonal (CEREGATO; PETRERE atividade, estão (i) a
são jovens e sem posse de terra, se urbanos, JUNIOR, 2003). Esses pescadores habitam incapacidade das colônias e
têm pouco equipamento de pesca, arriscam- principalmente áreas ribeirinhas. Os cooperativas em servir
se ao roubo dos aparelhos, gastam o dinheiro pescadores esportivos, por outro lado, atuam como fonte de subsídios e
mais facilmente e são mais orientados para o especialmente nos finais de semana e são intermediar transações Figura 5.3.2 - Emprego de redes de espera na pesca artesanal
(Foto: E. K. Okada).
consumo (HARTMANN; CAMPELO, 1998). oriundos de centros urbanos regionais mais comerciais, tanto para o
216 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aspectos Socioeconômicos da Pesca: diagnóstico 217

dessa região estão, de certa forma, bem- Grande parte dos pescadores reside em O pescado é, em sua maioria, comercializado muitos pescadores a procurarem outras
equipados, pois possuem aparelho de pesca áreas urbanas, em casa própria (80%) e no mesmo dia da pesca, sendo conservado no atividades ou a praticarem apenas a pesca de
próprio, bem como barcos de madeira ou geralmente de alvenaria. Em razão disso, a gelo (56%) ou vendido a fresco (32%), e subsistência.
alumínio motorizados (central ou de popa). maioria dos pescadores contam com água sendo o remanescente mantido em
Visam espécies migradoras, como o armado, encanada (80%) e quase todos dispõem de congeladores. O pescado é vendido direto ao Na represa de Água Vermelha, a pesca
o barbado, o dourado, o pacu, dentre outras. energia elétrica e aparelhos de televisão. consumidor ou repassado para comercial utiliza basicamente redes de
No entanto, a pesca parece não estar sendo Quanto ao grau de instrução, intermediários (compradores). Estes, espera, com diferentes malhagens, armadas
suficiente, visto que mais da metade dos aproximadamente 13% são analfabetos e geralmente ex-pescadores, possuem diariamente no período crepuscular e
pescadores desempenham atividades 74% têm ensino fundamental incompleto. A melhores condições de armazenamento e recolhidas no amanhecer. Os pescadores
paralelas como forma de complementar a renda média para aqueles que dependem da transporte, podendo despachar o produto atuam em média 240 dias/ano e a principal
renda. Essas atividades concomitantes estão pesca situa-se entre dois e três salários para outros municípios. É comum, inclusive, embarcação é a canoa motorizada (CORRÊA;
relacionadas à construção civil e ao turismo, mínimos mensais, com um esforço de pesca que se formem grupos de pescadores SANTOS; FERREIRA; TORLONI, 1993).

que vêm se ampliando na região. variando de 5 a 6 dias por semana. trabalhando para um único intermediário, o
que garante o escoamento da produção. No A pesca esportiva está bem estabelecida na
As informações da pesca em reservatórios na Um grande percentual (88%) está cadastrado entanto, os intermediários não costumam bacia do rio Grande, sendo praticada na
bacia do rio Paraná, embora consistentes em nas colônias de pescadores de Alfenas (Z-04) fornecer subsídios à pesca, com exceção do maioria dos reservatórios, durante quase
relação aos desembarques pesqueiros, são e Formiga (Z-06). A Colônia de Alfenas transporte do gelo aos pontos de pesca, o que todo o ano. Diversas pousadas, com boa
escassas para os aspectos estruturais e congrega mais de 700 associados, produz e faz com que não se crie um sistema de fortes infra-estrutura, fornecem suporte ao
socioeconômicos, estando restritas a alguns vende gelo para a conservação do pescado, pescador. A pesca é realizada com caniços e
dependências entre as partes. O consumidor
reservatórios. sendo o lucro com essa venda e a anuidade linhadas, estando voltada principalmente à
final compra geralmente os peixes de
paga pelos associados (com inadimplência captura de tucunaré e corvina.
comerciantes, pessoas com estabelecimento
de 50%) a receita que mantém a colônia em comercial fixo, que conseguem o produto
Sub-Bacia Rio Grande
funcionamento. A única assistência majoritariamente das mãos de Sub-Bacia Tietê
prestada, além do fornecimento do gelo a intermediários.
Na sub-bacia do rio Grande, por exemplo, baixo preço, é a facilitação na obtenção do A s pescarias na bacia do rio Tietê têm uma
informações detalhadas sobre artes de pesca seguro-desemprego. A colônia de Formiga Castro e Begossi (1995) fizeram uma história de elevadas capturas de espécies
e socioeconomia estão disponíveis apenas tem pouco mais de 150 associados, não avaliação das estratégias empregadas por migradoras de grande porte, antes dos
para o reservatório de Furnas (ELETROBRÁS, possui sede própria e é mantida pelo pescadores profissionais no trecho a jusante barramentos (PETRERE JUNIOR; AGOSTINHO;
c2003-2005). Assim, estima-se que cerca de pagamento da anuidade obrigatória. Essa da represa de Marimbondo. Nesse trecho, as OKADA; JÚLIO JÚNIOR, 2002). Conforme os
15.000 pessoas estejam envolvidas de alguma colônia presta importante assessoria estratégias de pesca variaram conforme a reservatórios foram construídos, a
forma com a pesca nesse reservatório (cinco jurídica e administrativa aos seus época do ano. Assim, durante a época composição dos desembarques e as
pessoas por família, em média), embora os associados. Contudo, vale ressaltar que chuvosa as pescarias foram realizadas estratégias de pesca alteraram de forma
registros no IBAMA em 1998 acusem a nenhuma das duas colônias tem convênios principalmente com tarrafas, na transição fantástica. Atualmente a atividade está
atuação de apenas 1.019 pescadores. A ou recebe suporte técnico regular do Estado. dos períodos chuvoso/seco utilizaram-se restrita a essas represas, com pesca
dedicação integral à pesca é, entretanto, de mais espinhéis, e na seca, as redes profissional baseada em espécies de menor
apenas 30% desse contingente, sendo os Todos os pescadores são proprietários de malhadeiras. As capturas foram mais porte e menor valor comercial, capturadas
demais envolvidos principalmente com a material de pesca (98% pescam com redes de rentáveis nos períodos de transição e no com o uso de redes malhadeiras, e pesca
atividade agrícola. Há evidência de que o espera, com média de 21 redes/pescador; chuvoso, quando os cardumes ocorrem em esportiva que incide sobre espécies
número de pessoas dedicadas Figura 5.3.2) e se deslocam principalmente maiores concentrações no trecho. Já na piscívoras introduzidas ou pequenos peixes
exclusivamente à pesca venha diminuindo. com canoa e remo. época de seca, o baixo rendimento leva capturados a partir das margens.
218 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aspectos Socioeconômicos da Pesca: diagnóstico 219

A pesca esportiva é praticada essencialmente curimbas e corvinas. Os lambaris, também seja, o uso convencional das malhadeiras e tilápias. A renda mensal do pescador, dada a
nos finais de semana e durante o verão com bom preço no mercado, são vendidos já tarrafas. Em épocas de baixo rendimento, abundância do recurso, era elevada, sendo o
(PETRERE JUNIOR ;AGOSTINHO; OKADA; JÚLIO processados aos restaurantes e bares da alguns pescadores costumam abandonar a pescado enviado para cidades satélites do
JÚNIOR, 2002), apresentando características de região. atividade ou mesmo migrar para Distrito Federal por meio de intermediários,
lazer. Esses pescadores utilizam caniços ou reservatórios do interior do Estado de São constituindo-se importante atividade
linhadas e objetivam diversas espécies, como No reservatório Billings, o mais alto da Paulo, particularmente o de Barra Bonita socioeconômica na região. Entretanto, com a
tucunarés, corvinas, mandis, piaus e mesmo série, a pesca se intensificou nas últimas (PELICICE, 1999). intensificação da fiscalização, a atividade
lambaris e acarás. décadas. Esse é um importante ponto de reduziu drasticamente até o final da década.
pesca, sustentando muitas famílias de Apesar de a produção pesqueira nesse
Os profissionais atuam em todos os pescadores profissionais, além de grande reservatório ser uma das mais altas da Tendo em vista que era uma pesca voltada
reservatórios da série, desde Billings até parte do comércio regional de pescado. Até região, o pescador profissional enfrenta para espécies exóticas e praticada há vários
Três Irmãos. Organizam-se em torno de recentemente, cerca de 3,8% do contingente problemas com o rendimento (muito anos, tendo grande importância como fonte
colônias de pescadores e, como mencionado, de pescadores artesanais e comerciais do variado), segurança, poluição e de sustento para muitas famílias de
utilizam redes malhadeiras com malhas de Estado de São Paulo pescavam nas águas contaminação química do pescado, já que a pescadores, a proibição foi revista no final da
diversos tamanhos, atuando principalmente desse reservatório urbano (MINTE-VERA; Billings recebeu por muito tempo as águas década de 1990 (RIBEIRO; STARLING; WALTER;
nos braços laterais do reservatório (TORLONI; PETRERE JUNIOR, 2000), sendo que a maioria poluídas do rio Pinheiros, colhendo FARAH, 2001).
CORRÊA; CARVALHO JUNIOR; SANTOS; GONÇALVES; atuava exclusivamente nessa represa (MINTE- atualmente apenas efluentes domésticos de
GERETO; CRUZ; MOREIRA; SILVA; DEUS; FERREIRA, VERA; CAMARGO; BUBEL; PETRERE JUNIOR, 1997). origem difusa. Walter (2000) avaliou os aspectos
1993; PETRERE JUNIOR ;AGOSTINHO; OKADA; JÚLIO socioeconômicos da pesca nesse reservatório
JÚNIOR,2002). As redes são armadas O número total de pescadores profissionais Nesse reservatório é característica a visita de entre 1999 e 2000. De acordo com essa
diariamente, geralmente no período nesse reservatório foi estimado em 101 em muitos pescadores amadores durante finais avaliação, os pescadores envolvidos na
crepuscular, e recolhidas no amanhecer, 1996/1997, residindo em três vilarejos de de semana, oriundos da região atividade vivem no Distrito Federal e nas
sendo que alguns utilizam também tarrafas. pescadores localizados no entorno do metropolitana de São Paulo. Ocupam cidades satélites, sendo que a maioria tem
A modalidade de pesca de batida é aplicada reservatório. Como as distâncias são curtas, praticamente toda a margem onde é possível residência própria (de alvenaria ou madeira).
naqueles reservatórios com altas densidades alguns pescadores realizam até duas viagens o acesso, e, em períodos piscosos, levam A infra-estrutura das moradias é considerada
de tilápia. Trabalham em média 240 dias por de pesca por dia. Os apetrechos utilizados “sacos” completamente
ano. A embarcação principal utilizada é a incluem redes de diferentes malhagens e cheios de tilápias.
canoa de madeira com motor. Durante tarrafas, sendo que Minte-Vera e Petrere
épocas de baixo rendimento é comum que os Junior (2000) identificaram duas estratégias
de pesca diferentes, uma especializada e
Alto Rio Paraná
pescadores migrem entre os reservatórios ou
exerçam outras atividades. outra mais geral. A pesca da tilápia, principal
espécie comercial, é baseada na captura ativa No lago Paranoá, Brasília,
Quanto às estratégias adotadas nessa bacia, com redes de emalhar. Essa estratégia, já também um reservatório
os pescadores também buscam maximizar o descrita para os açudes nordestinos, é urbano, cerca de uma
esforço de acordo com a espécie alvo. Na conhecida por pesca de batida: redes centena de famílias vivia da
região de Barra Bonita, os pescadores malhadeiras são posicionadas próximas à pesca, apesar de clandestina,
utilizam diversas malhagens de rede, mas margem e pancadas são desferidas na água, entre 1985 e 1991. A tarrafa
sempre direcionando o esforço para capturar fazendo com que os peixes se movimentem e era o principal instrumento
espécies mais apreciadas (SILVANO; BEGOSSI, caiam nas redes. O restante das espécies é de pesca (Figura 5.3.3),
Figura 5.3.3 - Emprego de tarrafas na pesca (Foto: E. K. Okada).
2001). Entre os peixes mais procurados estão capturado com a estratégia generalizada, ou objetivando a captura de
220 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aspectos Socioeconômicos da Pesca: diagnóstico 221

de boa qualidade, todas com abastecimento lucro da pesca esteve associado ao nível represados), não eram filiados às colônias de 2004, 53% dos pescadores já estavam na
público de água e energia elétrica. O número educacional do pescador, ao número de locais e tinham nenhum comprometimento atividade havia mais de 10 anos, enquanto
médio de pessoas por família é estimado em semanas gasto por pescaria, e ao apetrecho com o sistema de pesca local. Aliás, os menos de 5% haviam ingressado nos últimos
cinco, que têm no peixe importante alimento utilizado, bem como à época do ano. barrageiros vieram ao reservatório 12 meses. A idade média dos pescadores foi
na dieta. O analfabetismo atinge cerca de contratados por importantes peixarias do de 45,5 anos, sendo que cerca de 37% tinham
21% deles, sendo que outros 23% têm algum O reservatório de Itaipu tem talvez o mais Estado de São Paulo. A relação delicada mais de 50 anos.
grau de escolaridade. detalhado acompanhamento socioeconômico durou até 1988, quando muitos deixaram a
dentre todos os reservatórios brasileiros região pela queda nos estoques de interesse, Cerca de 90% dos pescadores do reservatório
Quase 20% vivem exclusivamente da pesca, (AGOSTINHO; OKADA; GREGORIS, 1999), com uma e outros conseguiram se integrar às de Itaipu são filiados a uma das quatro
com outros 20% realizando a pesca como série de dados coletados desde 1987. Duas comunidades locais. colônias de pescadores existentes ao longo
atividade principal. Os demais ingressam na modalidades de pesca estão bem- do reservatório (Z-12, Z-13, Z-15 e Santa
pesca quando as oportunidades de empregos estabelecidas atualmente no reservatório, a No ano de 2004 (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE Helena). O restante pratica a pesca de forma
melhores estão escassas. As embarcações são comercial e a amadora (recreativa e MARINGÁ.NUPÉLIA/ITAIPU BINACIONAL, 2005), o ilegal. A participação dos pescadores nessas
predominantemente de madeira com esportiva). número de pescadores titulares no associações tem sido reduzida e a
propulsão a remo, sendo a maioria das reservatório de Itaipu foi de 710, que, inadimplência no pagamento das taxas é
pescarias realizada por duplas. Os aparelhos A pesca comercial na região consolidou-se somados aos ajudantes de pesca, alcançaram elevada. O papel das colônias em termos de
empregados foram tarrafas e malhadeiras, as formalmente há muito tempo, com a criação 1.135. Considerando-se que o número médio benefícios aos filiados se concentra nas
últimas utilizadas como redes de espera ou de duas colônias de pescadores durante a de dependentes por pescador titular era de reivindicações da categoria junto às
pesca de batida. A renda média dos década de 1960 (Z-12 em Foz do Iguaçu, PR e 2,6 naquele ano, o número de pessoas concessionárias hidrelétricas, órgãos
pescadores ficou em torno de dois salários Z-13 em Guaíra, PR). Essas colônias diretamente dependentes da exploração dos reguladores da atividade e ambientais. A
mínimos. auxiliavam no armazenamento e recursos pesqueiros foi estimado em 1.846. O manutenção dessas organizações depende
comercialização do pescado. Com o número de mulheres nesse contingente foi em grande parte do apoio de prefeituras
Em avaliação nos reservatórios de Ilha fechamento do reservatório (outubro de de apenas 30. Pouco mais da metade dos locais e, mais esporadicamente, da
Solteira e Jupiá, curso principal do rio 1982), foi decretada a proibição da atividade, pescadores em atividade nesse reservatório comercialização do pescado.
Paraná, Ceregato e Petrere Junior (2003) estado que perdurou até 1985. Isso, atuam nos trechos mais internos. Entretanto,
caracterizaram alguns aspectos da bio- entretanto, não impediu que a pesca a densidade de pescadores é maior na zona O analfabetismo entre os pescadores do
economia da pesca artesanal. Nesses continuasse, de forma clandestina. fluvial (1,4 pesc./km2), seguida pela de reservatório de Itaipu é um dos mais baixos
reservatórios a pesca é realizada transição (0,28). Aproximadamente 28% dos em reservatórios brasileiros onde o nível de
principalmente com barcos de alumínio, ao Assim, a pesca neste reservatório foi pescadores atuavam na pesca antes de exercê- instrução foi avaliado, alcançando 5,9% do
contrário dos outros reservatórios, 100% dos oficialmente reconhecida em 1985, quando se la no reservatório de Itaipu. A origem na total. Entretanto, 67% têm apenas o primeiro
pescadores entrevistados possuíam motor no iniciaram também os trabalhos de zona rural, como pequeno produtor ou grau incompleto. O analfabetismo é, por
barco. Os apetrechos de pesca incluem redes monitoramento da pesca. Nos primeiros trabalhador volante, compôs 39% do total de outro lado, maior na zona fluvial (14%).
malhadeiras, tarrafas, linhadas, espinhéis e anos, quando a pesca nesse reservatório pescadores. Cerca de 55% das pessoas que
caniços. Os autores verificaram que no apresentava elevado rendimento, a ela atuam na pesca no reservatório de Itaipu se A pesca profissional no reservatório de
período de seca a rentabilidade da pesca é afluíram os pescadores “barrageiros”, já dedicam-se somente a essa atividade, Itaipu é realizada principalmente com redes
maior na região represada, enquanto na descritos em outros reservatórios (Tucuruí, enquanto que as demais compartilham o de espera (86% dos pescadores), seguida por
cheir, esta é maior nas regiões lóticas a Sobradinho), os quais tiveram uma relação tempo com a agricultura ou trabalhos de espinhéis (37%), anzóis de espera (18,9%),
jusante, fato provavelmente associada à de conflito com os pescadores locais, visto volante rural ou urbano. A dedicação linhadas (18,7%), caniços (6,8%) e tarrafas
concentração dos peixes migradores nas que tinham maior poder de pesca (mais exclusiva à pesca atinge, entretanto, 75% (5,1%), além de fisgas, covos e anzóis de
abaixo da barragem. Nesses reservatórios, o equipamentos e experiência com ambientes daqueles que atuam na zona fluvial. No ano galho (Figura 5.3.4). Constata-se uma notável
222 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aspectos Socioeconômicos da Pesca: diagnóstico 223

variação no emprego dos (3,6%), a maioria ligada à atividade A pesca esportiva/amadora também está
diferentes apetrechos de pesca profissional (postura, insalubridade, bem estabelecida no reservatório,
Redes
entre as zonas do reservatório, Espinhéis
insolação). impulsionada pelo apoio das prefeituras
sendo aqueles baseados em Espera
locais. Essa modalidade gera recursos
anzóis mais freqüentes na zona A renda média com a pesca no reservatório financeiros para os estabelecimentos
Linhada
fluvial, e em redes na mais de Itaipu, considerando o declarado pelos comerciais das cidades. Durante o ano de
Caniço
lacustre (Figura 5.3.5). pescadores, é de aproximadamente 1,5 2004 foram entrevistados 1.496 pescadores
Fisga
Diferenças na composição do Tarrafas salário mínimo. Entretanto, cerca de 12% amadores, sendo estimado que esse número
pescado entre as zonas explicam Covo deles ganham menos de um salário mínimo. representa cerca de 30% do total. Cerca de
essas variações. Outros A intenção de permanência na pesca foi 98% deles são oriundos do Estado do Paraná
manifestada por 93% dos pescadores. e 82% residem em municípios lindeiros. A
0 150 300 450 600
Em 2004, a pesca no Nº de pescadores Entretanto, apenas 14% declararam pesca é praticada com o uso de caniço ou
reservatório foi exercida com o satisfação com a atividade. carretilha (70%), enquanto a linha de mão
Figura 5.3.4 - Número de pescadores utilizando os diferentes
uso de 1.115.000 m2 de redes, aparelhos de pesca no reservatório de Itaipu, durante o está restrita a 25% deles. A maioria declara
94.000 anzóis e 51 tarrafas. ano de 2004. O consumo de pescado na dieta do pescador que consome o pescado capturado e apenas
Aproximadamente 95% dos e de sua família foi declarada por 90% deles, 2,3% praticam a modalidade de pesque-
pescadores detinham a posse sendo que para 32% o pescado é a principal solte.
desses equipamentos. Em fonte de proteína. A maioria do pescado é
relação às embarcações, 79% 100 vendida na forma congelada (60%) ou Embora tenham sido registradas 26 espécies
resfriada (26%), sendo essa comercialização
Número de pescadores (%)

eram de madeira e 15% Outros de peixes nos desembarques dessa


80
alumínio, sendo as demais Caniço feita principalmente com intermediários modalidade de pesca, a maioria (87%) foi
mistas, de latão ou 60
Fisga (50% dos pescadores). A análise da composta de corvina, piapara e tucunaré.
Covo
compensado. Os mecanismos de Linhada composição do preço do pescado em Nas mais de 7.000 incursões de pesca
40
propulsão foram Espera mercados de Maringá-PR, cerca de 300 km monitoradas, foram capturadas 52 toneladas
Tarrafas
predominantemente os motores 20 desse reservatório, revela que o pescador de peixes por essas pescarias. Considerando
Espinhéis
tipo rabeta (32%) e o remo Redes participa com menos de 23,3% do preço que a cobertura do monitoramento é de
0
(31%). Motores de centro e Fluvial Transição Lacustre final. 30%, acredita-se que o total estimado esteve
motores de popa compuseram Figura 5.3.5 - Proporção entre os pescadores que usaram em torno de 155 toneladas.
17% e 11% dessas facilidades, diferentes aparelhos de pesca no reservatório de Itaipu no A pesca no reservatório de Itaipu, a
ano de 2004.
respectivamente. despeito do seu baixo rendimento, quando Em 2004, os principais torneios de pesca no
comparada com outros ambientes de reservatório de Itaipu (sete) envolveram
A maioria dos pescadores do reservatório de pescadores utilize água do reservatório ou de menores latitudes, tem importância pelo menos 1.117 pessoas, considerando-se
Itaipu vive em áreas urbanas próximas minas próximas, esse percentual alcançou 21% fundamental para o sustento familiar de apenas as que retornaram ao ponto inicial e
(50,6%), sendo que 29,0% têm suas residências daqueles da zona fluvial. A energia elétrica segmentos menos favorecidos da população informavam sobre suas pescarias. O total de
estabelecidas na zona rural. Acampamentos chega a 81% dos pescadores. e excluídos dos demais setores produtivos peixes computados nesses eventos foi de
estão restritos a pouco mais de 10% deles. A Aproximadamente 2/3 dos pescadores da região. Representa também a 700 kg, 31% dos quais eram de corvina
água para o consumo é obtida principalmente declararam problemas crônicos de saúde, oportunidade de permanecer numa (Figura 5.3.6).
da rede pública (45%), seguida de poços sendo os de coluna os mais freqüentes (39,2% atividade legal numa região de fronteira,
artesianos (25%) e poços simples (17%). dos pescadores), seguidos por males onde as oportunidades para o exercício de Embora ainda pouco pronunciados, é
Embora, em média, apenas 0,5% dos reumáticos (15,8%), renais (4,7%) e de pele atividades ilícitas são grandes. esperado que os conflitos entre a pesca
224 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aspectos Socioeconômicos da Pesca: diagnóstico 225

profissional e a amadora Considerações Finais elétrica da rede pública decorrem do elevado


devam se acirrar nos percentual de pescadores que moram em
próximos anos, dado que a áreas urbanas, não sendo um serviço de que
principal espécie nesta E ntre as conclusões que emergem das dispõem em sua rotina de pesca.
última modalidade é a informações apresentadas nesse tópico sobre
corvina, posicionada entre a pesca profissional podem-se destacar: (i) a Contribui para a baixa auto-estima dos
as três primeiras na pesca pesca em reservatórios hidrelétricos pescadores profissionais a visão difundida
profissional. Por outro brasileiros é caracteristicamente artesanal e junto à população de que a atividade é
lado, a participação do de baixa rentabilidade; (ii) a pesca se instala predatória e de que a categoria é responsável
tucunaré na pesca de forma desorganizada e continua sendo pela depleção nos estoques de espécies
profissional vem exercida sem qualquer ordenamento; (iii) o importantes que originalmente habitavam a
aumentando, Estado não se faz presente, tanto no fomento região, como as grandes espécies
posicionando-se entre as à produção quanto no atendimento de migradoras.
doze principais nos demandas básicas asseguradas pela Além disso, o abandono dessa categoria
Figura 5.3.6 - Cenas de torneios de pesca no reservatório de Itaipu
últimos anos. (Foto: E. K. Okada). Constituição, como os serviços de saúde e profissional pelo Estado, exceto pela atuação
educação; (iv) os conflitos no uso dos policial da fiscalização, o estado de miséria
recursos são freqüentes, geralmente no qual muitos vivem, os conflitos com os
Sub-Bacia Iguaçu de energia elétrica e 46,7% são abastecidos envolvendo as distintas modalidades de pescadores esportivos - com maior influência
com água da rede pública. pesca e os distintos usuários da água; (v) as política e de mídia - e a divulgação freqüente
O rio Iguaçu não tem histórico de pesca raras medidas de manejo da pesca executadas de autuações de pescadores infratores,
profissional (ver seção anterior). Entretanto, Quanto ao grau de instrução, cerca de 76% são, no geral, ineficientes; (vi) o pescado tem contribuem para essa visão.
ela é exercida de forma ilegal, tendo seus são alfabetizados e apenas 3,4% são processamento precário e há dificuldades no
aspectos socioeconômicos avaliados por analfabetos. A totalidade dos filhos até oito escoamento; (vii) o pescador é espoliado no Por outro lado, pode ser também inferido a
Okada, Gregoris, Agostinho e Gomes (1997) anos é alfabetizada ou freqüenta escolas. No processo de comercialização; (viii) a partir das informações desse tópico que a
em dois reservatórios dessa bacia (Salto que concerne às reivindicações, uma grande qualidade de vida dos pescadores pesca representa, em vários reservatórios,
Santiago e Salto Osório). percentagem clama pela liberação da pesca, profissionais é precária, com parte relevante um importante refúgio para segmentos da
reclama do furto de aparelhos e da depleção deles vivendo em estado de miséria; (ix) o população excluídos de outras atividades
Na verdade, a pesca parece ser antiga na dos estoques. grau de insatisfação é
bacia, mas com caráter de subsistência. elevado, sendo que os
Cerca de 27% dos pescadores já atuavam na A embarcação principal utilizada é a de pescadores permanecem na
Tabela 5.3.3 - Aspectos socioeconômicos dos pescadores
atuantes em alguns reservatórios brasileiros. Os valores
pesca desse rio antes da formação desses madeira com remo, sendo menos comum o atividade por falta de outras apresentados significam números percentuais (%). A
reservatórios. O contingente é formado por motor rabeta. Barcos de alumínio com opções; (x) a auto-estima
fonte das informações está detalhada no texto

pequenos proprietários rurais e bóias-frias, motor de popa são raros. O aparelho mais dos pescadores é baixa. A Local
Água Energia
Analfabetos
Renda Média
Encanada Elétrica (sal. min.)
sendo a pesca uma fonte de renda adicional. utilizado é a rede de espera, seguida de Tabela 5.3.3 sumariza Tucuruí 10 20 40 1
Apenas 6,7% dedicavam-se exclusivamente espinhéis e covo. Os desembarques são alguns indicadores de Sobradinho -- -- -- 3
à pesca. compostos essencialmente por lambaris, qualidade de vida e renda Três Marias -- -- > 60 3,5
que são processados pelos familiares e da pesca. Ressalta-se, Furnas 80 98 13 2-3
Moram em propriedades rurais próximas ao vendidos na forma congelada para entretanto, que os altos
Paranoá 92 94 21 2
Itaipu 45 81 6 1,5
rio e não comem regularmente o próprio intermediários que os destinam a peixarias percentuais de pescadores
Bacia Iguaçu 47 80 3,5 1,5
pescado. Mais de 80% contam com o serviço de centros urbanos maiores. servidos por água e energia
226 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

produtivas. Assim, a despeito das consideradas nessa gestão. A negligência da


dificuldades no exercício dessa atividade, a
maioria dos pescadores tem nela sua única
alternativa de sobrevivência.

Com relação às outras modalidades de pesca,


é preciso enfatizar a natureza distinta que
primeira torna ineficaz o controle, e da
segunda afeta a sustentabilidade da
exploração.

A ausência de ações ordenadoras da pesca em


reservatórios já no início da exploração
Capítulo 6
Manejo da Pesca em Reservatórios
caracteriza a pesca esportiva e a amadora, agrava, em curto prazo, as condições
embora estas sejam tratadas de modo socioeconômicas dos pescadores. Além disso,
semelhante pela legislação. A primeira essa ausência foi responsável pelo estado de
envolve embarcações e equipamentos de
pesca mais eficientes, sendo os seus adeptos
miséria que se instalou em muitos desses
ambientes. Naqueles reservatórios em que a
Brasileiros:
melhor organizados e com maior poder pesca tem caracteristicas de sobreexplotação,
aquisitivo e político. Já a amadora, praticada esta deve ser ordenada, com investimentos l ições a serem aprendidas
em finais de semana por moradores da do Estado em ações que contribuam com a
região, não tem características competitivas, redução no esforço de pesca, como
sendo geralmente exercida com caniço nas
margens dos reservatórios e é carente de
ordenamento. Esta última, embora tenha
oportunidades de empregos mais rentáveis,
agregação de valor ao pescado, intervenções
planejadas no sistema de pesca e qualidade
A s atividades de manejo dos recursos aquáticos nos reservatórios

forte conotação de lazer, é praticada para a do pescado, além de iniciativas nas áreas de brasileiros foram, historicamente, exercidas através do controle da
obtenção de pescado para o consumo. educação e saúde. A re-alocação do
pesca, do repovoamento e da construção de mecanismos de
Entretanto, ambas competem com o pescador contingente de pescadores que excede a
profissional visto que exploram os mesmos sustentabilidade deve ser também transposição de peixes. Outras ações não diretamente ligadas ao
estoques. considerada. Além disso, gestão ou manejo
participativo, acordos de pesca e manejo manejo, porém com reflexos na conservação dos recursos
Desse modo, a pesca em reservatório é uma adaptativo são experiências bem sucedidas
pesqueiros, referem-se à remoção prévia da vegetação, à medidas de
atividade complexa, que envolve aspectos em várias partes do mundo, porém ainda
políticos, ambientais, econômicos e sociais, pouco empregados no Brasil. prevenção de mortandade de peixes em turbinas e vertedouros, e à
necessitando de planejamento e medidas
especiais, e devendo ser gerida com a O manejo responsável da pesca, desprovido produção de peixes em tanques-redes ou soltura de espécies não-
participação de todos os que se utilizam dos de intenções eleitoreiras, baseado no
nativas.
recursos ou possam, por suas atividades, profundo conhecimento do sistema de pesca
afetá-los. Qualquer abordagem visando o seu e alimentado por um monitoramento Excetuando-se algum sucesso localizado, essas iniciativas, em
ordenamento deve contemplar, intensivo, evitará desperdício de recursos,
concomitantemente, o meio ambiente, os esforços e oportunidades. O Capítulo 6 dessa
maioria, não produziram o resultado esperado, sendo que em alguns
pescadores e os peixes, considerando as obra nos fornece uma ideia razoável do que casos constituíram-se em fontes adicionais de impactos negativos
restrições impostas pelos usos múltiplos não deve ser feito nessa área. Assim, conclui-
previstos para esses ambientes (AGOSTINHO; se que o problema da pesca em reservatórios sobre a ictiofauna. Essas estratégias serão objeto de discussão
GOMES; LATINI, 2004). Assim, as restrições do Brasil é enorme, e requer atenção e
vontade política para ser resolvido.
nesse capítulo.
socioeconômicas e as biológicas devem ser
228 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Manejo da Pesca em Reservatórios Brasileiros: lições a serem aprendidas 229

O s reservatórios, a exemplo de outros Desde então, e até meados do século, essa foi diagnosticando a situação vigente, Neste capítulo são discutidos alguns temas
ambientes artificiais, requerem mais atenção a alternativa de consenso no setor para a sistematizando o conhecimento e propondo recorrentes nos embates entre especialistas
no gerenciamento que os ambientes naturais mitigação dos impactos, especialmente para soluções (SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA..., do Setor Elétrico, das Universidades, dos
(NOBLE, 1980). Nos lagos naturais, por as espécies de peixes migradoras. A partir 1994). órgãos ambientais e entre os ambientalistas.
exemplo, as comunidades tiveram tempo e dos anos 1950, o foco passou a ser as estações Todos os temas propostos relacionam-se
oportunidade de evoluir no sentido de de piscicultura, inicialmente concebidas para Decorridos mais de 10 anos desde a direta ou indiretamente com as ações de
compartilhar os recursos disponíveis, o que ações de estocagem. Mais recentemente, a realização do “Seminário Sobre Fauna manejo e as tentativas de atenuar impactos
resulta em sistemas complexos e eficientes. opção dos mecanismos de transposição Aquática e o Setor Elétrico Brasileiro”, dos represamentos sobre os recursos
Nesses, o nível de estabilidade alcançado voltou a ser discutida, agora em grandes verificaram-se avanços relevantes na pesqueiros ou seus usuários. Assim, são
pode ser tal que dispense um manejo barragens. atuação das concessionárias de discutidos os mecanismos de transposição
intensivo, mesmo que seriamente afetado. hidroeletricidade na área ambiental, como a de peixes (Capítulo 6.1), as estocagens ou
Assim, a interferência humana, geralmente Além dessas obras, consideradas durante sensível redução nas estocagens com peixamentos (6.2), a aqüicultura, com ênfase
exercida pela poluição ou sobrepesca, uma muito tempo como “fins em si mesmas” e espécies não-nativas, mudanças nos naquela praticada em águas públicas (6.3), a
vez interrompida, pode permitir a sua não como instrumentos para o manejo, protocolos de estocagem, no mortandade de peixes em barragens (6.4), a
recomposição. outras iniciativas ligadas ao controle da monitoramento e no esforço sobre o remoção prévia da vegetação e seus reflexos
pesca foram implementadas. Algumas dessas entendimento do sistema a ser manejado na qualidade de água e ictiofauna (6.5), a
Já em reservatórios, a natureza recente das iniciativas foram consideradas bem- (ver Capítulo 7). Entretanto, muitas introdução de espécies deliberada ou
relações entre os componentes da sucedidas, enquanto outras não. Entretanto, recomendações ainda são ignoradas e erros acidental (6.6) e o controle da pesca pelos
taxocenose, a modificação nos hábitats, os jamais houve consenso sobre a oportunidade continuam a ser cometidos. órgãos ambientais (6.7).
procedimentos operacionais na barragem ou de qualquer delas. Por outro lado, a despeito
o fato de esses ambientes serem pontos de da escassez de monitoramento, acumularam-
convergência das ações antropogênicas da se experiências.
bacia, os tornam altamente estocásticos e,
portanto, sujeitos a maiores flutuações Nos anos de 1993 e 1994, por iniciativa da
populacionais. Desse modo, ações Eletrobrás, através do Comitê Coordenador
ambientais são indispensáveis. Nesses das Atividades de Meio Ambiente do Setor
ambientes, inclusive a decisão de “nada Elétrico (COMASE), foram realizadas séries
fazer” deve ser tomada com base nas de Reuniões Temáticas Preparatórias e um
informações disponíveis sobre o sistema, e Seminário Nacional que congregou, nas
deve ser considerada como uma forma de diferentes etapas, técnicos do setor elétrico,
manejo. pesquisadores e comunidade acadêmica,
visando fornecer ao setor elementos para
No Brasil, a busca por formas de mitigação subsidiar diretrizes nacionais para a
dos impactos de represamentos hidrelétricos conservação da fauna aquática em
sobre a ictiofauna e de conservação dos reservatórios.
recursos pesqueiros teve seu início com os
primeiros reservatórios no começo do século Os documentos gerados durante esses
passado, com a construção da escada de eventos representaram avanços
peixes do reservatório de Itaipava (rio Pardo; consideráveis no trato da questão dos
bacia do rio Paraná), concluída em 1911. recursos aquáticos em reservatórios,
Capítulo 6.1
Mecanismos de Transposição:
sucessos e falhas

federais, sendo licenciadas pela FERC


Introdução (Federal Energy Regulatory Commission).
Destas, cerca de 174 barragens (9,5%) são
A s passagens para peixes têm uma dotadas de mecanismos de transposição
(CADA, 1998).
longa história, iniciada na Europa há pelo
menos 300 anos (CLAY, c1995). A
Na Grã-Bretanha, inventários recentes
necessidade de se construir passagens para
demonstram a existência de 380 passagens
que os peixes migradores pudessem
para peixes, das quais 100 foram construídas
transpor obstáculos nos rios,
após 1989 (COWX, 1998). Na Espanha, foram
aparentemente desenvolveu-se
catalogados sistemas de transposição em
simultaneamente nos países do hemisfério
108 barragens, 31% construídas após 1990 e a
Norte, onde ocorre a migração de
maioria destinada à transposição de
salmonídeos, grupo de peixes importante
salmonídeos (89%) – Elvira, Nicola e
na indústria pesqueira daqueles países.
Almodóvar (1998). Na França, onde a
Embora o primeiro barramento artificial a legislação prescreve a obrigatoriedade de
ser dotado de facilidade de transposição mecanismos de transposição, mais de 500
date de 1828 (GODOY, 1985), foi no século XX passagens de peixes foram construídas ou
que essas estruturas foram difundidas em reformadas nos últimos 20 anos (LARINIER,
todo o mundo, sendo consideradas como 2000), grande parte destinada a
medidas adequadas de mitigação ao salmonídeos. Na Alemanha e Áustria, a
impacto decorrente do bloqueio interposto construção de mecanismos de transposição
pelas barragens aos deslocamentos de também foi intensa nos últimos 15 anos,
peixes. O número dessas obras, estimado tendo como espécies-alvo os peixes
para todo o mundo, é de cerca de 13.000 potamódromos. Em vários outros países
unidades (MARTINS, 2000). A maioria delas europeus, a transposição é voltada
está distribuída na Europa e América do principalmente para salmões, enguias e
Norte. outros migradores. Na Rússia, além do
salmão e enguias, as escadas visam também
Nos Estados Unidos, das 2.350 barragens a passagem de esturjões, arenque e peixes
hidrelétricas em operação, 1.825 são não com baixa capacidade migratória.
232 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Mecanismos de Transposição: sucessos e falhas 233

Na China, onde o número estimado de Inicialmente, essa modalidade de 1 − seqüência de tanques, dispostos em A eficiência desses dispositivos na
grandes reservatórios supera 20.000, existem transposição era restrita a escadas com diferentes patamares, onde o peixe transposição de peixes depende das espécies-
entre 60 e 80 passagens de peixes, e visam seqüência de tanques, onde os peixes necessita pular ou ascender pela lâmina alvo e das condições locais. Algumas formas
essencialmente espécies potamódromas venciam a declividade saltando de tanque d’água ao tanque seguinte (tipo pool & híbridas, onde características de diferentes
(quatro espécies de carpas) e catádromas em tanque. Com os novos aportes de weir); tipos são combinadas, foram construídas com
(enguia). conhecimentos científicos à hidrologia, estas o objetivo de acomodar variações no fluxo
passaram a ter desenhos mais eficientes, com da água ou servir a diferentes espécies.
2 − seqüência de tanques, com passagem de
As escadas de peixes são concebidas para melhores dissipadores de energia,
fundo por meio de orifícios, por onde o
reduzir a velocidade da água e o gradiente de resultando em uma grande variedade de Eclusas e elevadores são modalidades
peixe ascende ao tanque seguinte (tipo
maneira que eles possam ascender e passar modelos. distintas, também utilizadas para a
weir & orifice);
pela barragem de forma eficiente. São dotadas transposição de peixes.
de uma entrada, uma passagem (condutor), Estes podem, no entanto, ser agrupados em
uma saída e um suprimento auxiliar de água, quatro modelos hidráulicos/funcionais 3 − com defletores instalados no fundo e/ Eclusa de peixes (fish locks, Borland locks) –
geralmente usado para promover a atração. básicos (Figura 6.1.1): ou nas paredes (soleiras centrais), Figura 6.1.2 - consiste em um compartimento
servindo de dissipadores de energia. As localizado ao nível da água, a jusante, ligado
águas são turbulentas, requerendo a um outro localizado ao nível de montante
natação constante dos peixes e, portanto, por uma câmara delimitada por comportas e
fluxo fluxo fluxo fluxo tanques de repouso (descanso). Esse de nível variável. A operação é similar à de
modelo foi desenvolvido há mais de 90 uma eclusa de navegação, ou seja, os peixes
anos, na Bélgica, pelo cientista G. Denil são atraídos para o compartimento
(tipo Denil); intermediário, que é então fechado e enchido

4 − seqüência de tanques
e orifícios laterais 1- Fase de atração
fluxo
orifício com jatos d’água, Comporta aberta
a b orifícios
modelo desenvolvido
em 1943, conhecido
fluxo fluxo
fluxo fluxo por tipo Hell’s Gate
(tipo pool & jet ou 2- Fase de enchimento fluxo

vertical slot). Comporta fechada

Um tipo especial de
escada é utilizado no
3- Fase de saída fluxo
hemisfério Norte para a
Comporta fechada
passagem de enguias,
c d
consistindo em tufos de
fibras sintéticas ao longo
Figura 6.1.1 - Principais modelos de escadas de peixes. a = seqüência de tanques; b = seqüência de de um canal inclinado
tanques com orifício; c = Denil; d = vertical slot. Figura 6.1.2 - Eclusa para transposição de peixes.
(tipo eel pass).
234 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Mecanismos de Transposição: sucessos e falhas 235

até o nível de montante, sendo assim esse autor, adaptações operacionais podem destacam-se os maiores custos operacionais e Entretanto, estudos paralelos os consideram
liberados no reservatório pela abertura da tornar as eclusas já construídas em boas de manutenção. com uma eficiência satisfatória na
comporta superior. A eficiência desse alternativas para a passagem de peixes. transposição de peixes migradores
mecanismo depende da capacidade de Na América do Sul, três estruturas desse tipo (ARGENTINA, 1996). No período de jan/95 a
atração dos compartimentos aos peixes. Dada Os elevadores de peixes (fish lifts) – Figura encontram-se em funcionamento, sendo uma jul/96, a transposição envolveu 36 espécies,
a impossibilidade de prever 6.1.3 - têm funcionamento similar ao das na Argentina (barragem de Yacyretá, no rio ou seja, 44% das espécies registradas no
antecipadamente o ótimo hidráulico para tal eclusas, ou seja, os peixes são atraídos para Paraná) e duas no Brasil (barragem de Porto trecho imediatamente a jusante. Estima-se
atração, é desejável que essa estrutura tenha um compartimento com água posicionado Primavera, no rio Paraná, e Funil, no rio que no ano de 1995 tenham sido transferidos
a máxima flexibilidade de operação. Eclusas abaixo da barragem e transportados Grande). Os elevadores de peixes da 1.767.000 indivíduos, correspondendo a uma
têm sido consideradas pouco ou nada passivamente para o alto, sendo então barragem de Yacyretá foram, entretanto, os biomassa aproximada de 252 toneladas.
eficientes. liberados no reservatório. Sua eficiência é primeiros a serem construídos na América
regulada pela capacidade de atração e do Sul, estando em operação desde 1995. Sua Embora com resultados distintos, essas duas
Várias dessas obras foram construídas em freqüência de funcionamento. As vantagens eficiência na transposição de peixes foi avaliações diferem especialmente pelos
todo o mundo. Na América do Sul, desses dispositivos são (i) os custos de avaliada por Oldani e Baigún (2002), que critérios utilizados para o julgamento da
entretanto, há apenas uma em construção, que, praticamente, independem concluíram pela ineficiência - ver Box 6.1.1. eficiência.
funcionamento (rio Uruguai, reservatório de da altura da barragem, (ii) suas dimensões
Salto Grande), considerada pouco eficiente mais reduzidas e (iii) menor sensibilidade a
(QUIRÓS, 1988). Para esse autor, embora variações de nível do reservatório. Além Bo
Boxx 6.1.1
algumas espécies a ascendam, ela apresenta disso, (iv) são menos seletivos e (v)
Performance de um sistema de passagem de peixes em uma grande barragem no rio Paraná
deficiências de funcionamento relacionadas à permitem um controle da quantidade de (Argentina-Paraguai).
atração dos peixes e aos ajustes de caudal e peixes transpostos. Como aspectos negativos
ciclo hidrológico. OLDANI, N.O.; BAIGÚN, C.R.M. Performance of a fishway
system in a major South American dam on the Paraná River
(Argentina-Paraguay). River Research and Applications, Chichester,
As eclusas de navegação, Sistema de elevação v. 18, no. 2, p. 171-183, Mar.-Apr. 2002.
freqüentes em Comporta fechada
“Desenhos e operações bem-sucedidos de sistemas de passagem de peixes são importantes para proteger
reservatórios brasileiros, Montante
comunidades de peixes dos impactos de barragens hidrelétricas na bacia do rio da Prata. Nós avaliamos a
especialmente na bacia do Comporta aberta performance de um elevador para passagem de peixes adultos pela barragem de Yacyreta, no rio Paraná,
rio Paraná, são fluxo entre 1995 e 1998. O sistema de elevadores esteve fora de operação entre 30 e 38% do tempo durante o
consideradas pouco período de maior migração de peixes (Out-Dez). As espécies-alvo que representaram 30% do número total
eficientes, tanto pela baixa Válvula de suprimento
de peixes em amostras com redes de espera no trecho imediatamente a jusante, constituíram apenas 10% do
capacidade de atração dos número total de peixes transferidos. Os peixes coletados dentro do sistema foram dominados pelo mandi
peixes (localizam-se, em Pimelodus clarias (>69%), embora essa espécie represente apenas 10% das capturas experimentais a
Jusante Barragem
geral, em águas mais jusante. O curimba Prochilodus lineatus ,uma espécie-chave, representou menos que 5% dos peixes
Comporta aberta transferidos, mas constituíram 22,1% das amostras a jusante. O número estimado de peixes anualmente
calmas para permitir
fluxo transferidos variou de 1.210.000 (1995) a 3.610.000 (1996), com uma biomassa de 631 a 1.989 toneladas,
manobras em
respectivamente. Nós estimamos a eficiência na passagem de peixes de 1,88% para todas as espécies e
embarcações) quanto pela 0,62% para as espécies-alvo. Com esse nível de eficiência, as espécies transferidas aumentariam o rendimento
incompatibilidade total de peixes no reservatório em cerca de 4,9 kg.ha.ano-1, mas apenas 0,5 kg.ha.ano-1 para as espécies-alvo.
operacional com as Nós concluímos que a eficiência na transferência de peixes é inadequada para manter as populações de
Atrator
demandas da navegação espécies-alvo no sistema do rio Paraná, e identificamos a necessidade de pesquisas para melhorar a passagem
(LARINIER, 2000). Segundo Figura 6.1.3 - Elevadores para transposição de peixes. de peixes na barragem.”
236 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Mecanismos de Transposição: sucessos e falhas 237

Canais de passagem secundários (bypass Dificuldades em relação a essa estratégia de O sistema de transposição do tipo captura e A Experiência Brasileira
channel) – Figura 6.1.4 - são tipos especiais de passagem relacionam-se à necessidade de transporte por caminhões (trapping and
meios de transposição desenhados para espaço nas imediações da barragem e ao fato hauling), utilizado apenas em caráter
permitir a passagem de peixes, localizando- de ser de difícil adaptação às variações de nível temporário no Brasil, porém freqüente em N o Brasil, as facilidades de transposição de
se em torno do principal obstáculo. São a montante, exceto se providos de comportas. outros países, é uma opção válida para aqueles peixes restringem-se às escadas, excetuando
muito semelhantes aos tributários naturais De qualquer maneira, a entrada no sistema empreendimentos cuja casa de força posiciona- os elevadores instalados nas barragens de
do rio (LARINIER, 2001). Esses “rios artificiais” deve estar localizada o mais próximo possível se distante da barragem. Esse sistema tem a Porto Primavera (CESP, rio Paraná, operado a
buscam restabelecer o contato entre os do obstáculo, onde os peixes se acumulam. O vantagem de permitir o controle das partir de 1999) e de Funil (CEMIG; rio Grande,
trechos a montante e a jusante da barragem e Canal de Piracema de Itaipu, que se utiliza, em transposições (período reprodutivo) e, em concluído em 2001 - Figura 6.1.6), além do
se caracterizam pelo baixo gradiente parte, do rio Bela Vista, é o único conhecido geral, destina-se a manter a qualidade genética canal de migração em Itaipu (Itaipu
(geralmente menor que 5%), sendo a energia nessa modalidade de meio de transposição na dos fragmentos populacionais. Na barragem Binacional; rio Paraná, operado a partir de
dissipada através de corredeiras e cascatas América do Sul. Entretanto, nesse caso, dada a de Porto Primavera, um sistema desse tipo 2003),
dispostas de forma regular ao longo do curso declividade a ser vencida em alguns trechos, teve funcionamento satisfatório (Figura 6.1.5).
(GEBLER, 1998). Têm, em geral, um curso foram implantadas escadas e redutores de As escadas foram inicialmente concebidas

sinuoso. velocidade da água. Alternativamente, os elementos de com base na experiência norte-americana com
transposição em atividade podem ser salmonídeos e destinadas a assegurar a
utilizados na captura de peixes para a obtenção migração de peixes para as partes superiores
de matrizes no ambiente natural, promovendo dos rios represados.
a desova e realizando estocagens a partir de
um grande número delas. Nesse caso, os Ao contrário da crescente tendência existente
mesmos conhecimentos e cuidados necessários no hemisfério Norte de garantir o retorno dos
Montante peixes para os segmentos a jusante, nenhum
à estocagem são recomendados.
tipo de obra de transposição que assegure
Várias outras estruturas têm sido utilizadas esse movimento foi construído no Brasil. Isso
para a transposição de peixes para o se deve, em parte, ao foco dado às ações de
reservatório, muitas delas representando manejo aos trechos represados, à maior
combinações dos tipos descritos (Martins, 2000). visibilidade dada pelo acúmulo de peixes a

xo
Flu

Jusante

S/escala Figura 6.1.5 - Modelo experimental de


escada a jusante de Porto Primavera. Figura 6.1.6 - Elevador de peixes na
Seta mostra o local de carregamento do barragem da UHE Funil, no rio Grande
Figura 6.1.4 - Canal de passagem secundário. caminhão (Foto: J. H. P. Dias). ( Foto: V. C. Torquato).
238 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Mecanismos de Transposição: sucessos e falhas 239

jusante e à crença de que os peixes poderiam Nesse período, foram construídas escadas de Godinho, H.P., Godinho, A.L., Formagio e alcançaria os trechos superiores caso não
descer pelo mesmo dispositivo usado para peixes logo acima de cachoeiras de até 70 m Torquato (1991), por outro lado, informam existisse a barragem (GODINHO, H.P.; GODINHO,
subir. de altura, como a edificada no córrego dos acerca da baixa eficiência da escada (10,8 m) A.L.; FORMAGIO; TORQUATO, 1991; OLDANI;
Negros (São Carlos-SP), ou em riachos onde instalada junto à barragem do reservatório BAIGÚN, 2002; FERNANDEZ; AGOSTINHO; BINI,
A primeira escada de peixes construída no a ictiofauna era composta apenas por de Salto Morais, no rio Tijuco (ver Box 6.1.2). 2004). É esperado, portanto, que alguma
Brasil foi a da represa de Itaipava, no rio espécies sedentárias (CHARLIER, 1957). perturbação de natureza transitória ou
Pardo (alto rio Paraná), concluída em 1911, Essas avaliações foram, por outro lado, permanente seja interposta no processo de
com um desnível de 7 m, sendo considerada Após a construção das escadas, nenhuma realizadas apenas em relação à ascensão dos colonização dos reservatórios dotados com
bem-sucedida na transposição de peixes avaliação sistemática e abrangente de sua peixes. Diferenças nas conclusões referem-se essas estruturas.
(GODOY, 1985). efetividade como ferramenta de manejo ao fato de alguns dos estudos considerarem
conservacionista foi realizada nesses apenas a abundância de peixes que ascendem Infelizmente, as informações sobre o destino
No início da década de 1920, uma segunda empreendimentos. Entretanto, alguns essas estruturas, enquanto outros levam em das espécies que sobem são escassas e
escada foi construída na barragem da estudos, com conclusões distintas, em relação consideração a seletividade imposta pela aquelas sobre o retorno, virtualmente
represa Cachoeira das Emas, no rio Mogi à eficiência na transposição de peixes, são escada e a composição específica dos peixes inexistentes.
Guaçu. Embora com um desnível de apenas encontrados na literatura. que são transpostos. Assim, enquanto Oldani
três metros, foi mal-dimensionada e e Baigún (2002) consideram a passagem de
começou a funcionar com eficiência apenas a Godoy (1957, 1975) relata a grande eficiência até 3,5 milhões de peixes na barragem de
Transposição x Conservação
partir de uma reforma realizada em 1942 da escada construída em Cachoeira das Emas Yacyretá como pouco eficiente (1,88% de
(GODOY, 1985). (Pirassununga-SP), que, embora de altura
reduzida, foi objeto de amplos estudos.
eficiência) - ver Box 6.1.1, Tamada e Martins
(2002) ressaltam que a ausência de sistema de
A ausência de monitoramento das obras de
transposição era, entretanto, a característica
A construção de escadas de peixes ganhou Borghetti, Perez Chena e Nogueira (1993) e transferência de peixes seria pior que sua mais notável até recentemente, dado que elas
impulso, entretanto, já a partir de 1927, Borghetti, J.R., Nogueira, Borghetti, N.R.B. e provável baixa eficiência. Entretanto, deve-se foram propostas como medida mitigadora
quando a sua instalação passou a ser Canzi (1994) registraram um grande número considerar que os mecanismos de de impactos e, em geral, envolveram altos
exigência legal (Lei no 2250/SP, de 28/12/ de espécies ascendendo uma escada transposição transferem peixes numa investimentos e esforços. Aquelas
1927; Decreto no 4390, de 14/03/1928). Essa experimental que se localizava logo abaixo proporção muito diferente daquela que construídas nos últimos anos têm, entretanto,
legislação prescrevia que “todos quantos, para da barragem do reservatório de Itaipu, com
qualquer fim, represarem as águas dos rios, altura aproximada de 27,3 m. Essa mesma
ribeirões e córregos, são obrigados a construir escada foi considerada como de desenho Bo
Boxx 6.1.2
escadas que permitam a livre subida dos peixes”. hidráulico adequado por Fernandez, Eficiência de escada de peixes em um rio do Sudeste brasileiro.
Agostinho e Bini (2004), assegurando a GODINHO, H.P.; GODINHO, A.L.; FORMAGIO, O.S.;
Ao se generalizar a obrigatoriedade de uma ascensão de proporção significativa das TORQUATO, V.C. Fish ladder efficiency in a southeastern
obra, cujo funcionamento é resultado de espécies presentes a jusante. No complexo Brazilian river. Ciência e Cultura: Journal of the Brazilian Association
for the Advancement of Science, São Paulo, v. 43, no. 1, p. 63-67,
interações entre suas características técnicas Canoas, médio rio Paranapanema, Britto e Jan./Febr. 1991..
(tipo, declividade, vazão, posição em relação Sirol (2005) atestam a efetividade na
ao eixo da barragem, etc.) e a natureza da “Realizaram-se coletas de peixes na escada situada na barragem da UHE Salto do Morais, rio Tijuco, da
transposição ascendente de várias espécies de
bacia do alto rio Paraná, Estado de Minas Gerais, no intuito de avaliar a capacidade dos peixes de subir os
ictiofauna presente, sem o necessário peixes, incluindo migradoras. Uma avaliação
degraus-tanques. Seu comprimento é de 78,3 m e altura de cerca de 10,8 m. Das mais de 41 espécies
conhecimento técnico-científico do favorável de escadas construídas em 23 capturadas na região da UHE Salto do Morais, pelo menos 34 ocorreram na escada. No entanto, o número
empreendimento ou dos peixes, incorreu-se açudes do Nordeste brasileiro entre os anos de indivíduos das espécies presentes foi pequeno e apenas 2% conseguiram atingir o terço superior da
no risco de insucesso e desperdício de de 1957 e 1980 é também feita por Godoy escada. Os resultados indicam que a escada é seletiva para as espécies de peixes que tentam subir e que os
recursos, esforços e oportunidades. (1985). pimelodídeos são os que mais sofrem essa restrição.”
240 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Mecanismos de Transposição: sucessos e falhas 241

sido monitoradas. Os resultados produzidos Esses autores ressaltam, como primeiro seja prontamente reconhecida, os peixes barragem, especialmente vertedouro e
em algumas delas têm estimulado as passo do processo decisório, um diagnóstico podem permanecer em suas imediações por tomada de água para as turbinas, a
discussões sobre o assunto e a identificação abrangente que permita inferências sobre a tempo prolongado, atrasando a migração e efetividade da transposição pode ser
de alguns problemas (AGOSTINHO; GOMES; composição da ictiofauna local e suas comprometendo a desova, ou mesmo jamais comprometida, visto que os peixes
FERNANDEZ; SUZUKI, 2002). estratégias de vida, seguido pela a acessando. transpostos podem ser colhidos pela tomada
identificação dos locais de desova, de de água e retornar ao ponto inicial. Na
A primeira e mais importante questão desenvolvimento inicial (“berçários”) e de A barragem em si já se constitui numa fonte passagem pelas turbinas ou vertedouro, estes
resultante desse debate relaciona-se à crescimento, bem como suas relações de estresse aos peixes, que ao longo dos são, em geral, submetidos a intensa injuria e
efetividade dessas obras no contexto da espaciais com o eixo da barragem. séculos alcançavam suas áreas de desova sem mortalidade.
conservação dos estoques pesqueiros ou na esse tipo de obstáculo. Aliam-se a essa fonte
preservação dos peixes migradores. Afinal, A adequacão do desenho de estresse as condições físicas e químicas da Nas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs),
essas foram e estão sendo as razões que água a jusante (temperatura, velocidade, outra dificuldade em relação à capacidade de
justificam sua construção. O desenho da facilidade de transposição é qualidade da água, etc.). atração das escadas pode se configurar: a
altamente relevante na eficiência de seu distância do canal de fuga em relação ao
Agostinho, Gomes, Fernandez e Suzuki funcionamento, afetando o seu uso pelos Assim, a entrada à obra de transposição deve obstáculo. É comum que essa distância
(2002) discutem os aspectos que devem ser peixes e a seletividade de espécies (Ver Box ser reconhecida no menor tempo possível ultrapasse cinco quilômetros, sendo que a
considerados no processo decisório da 6.1.3). Desde que respeitadas algumas para que o processo migratório tenha região próxima à barragem permanece com
implantação de facilidades de transposição, limitações, ele não se constitui no problema solução de continuidade. baixa vazão, e às vezes com baixa qualidade
no contexto da conservação. Entre esses, são fundamental para a passagem de peixes. da água durante a maior parte do ano. Nesse
destacados (i) o desenho da facilidade de Qualquer que seja o tipo de obra de caso, uma escada posicionada próximo à
transposição; (ii) a eficiência na transposição; O aspecto mais crítico em uma obra de transposição, a efetividade dos atratores é barragem não teria sentido.
(iii) a continuidade da migração reprodutiva; transposição parece ser o mecanismo de fundamental. Estes são geralmente de
e finalmente (iv) a migração descendente e a atração, que permite ao cardume encontrar o natureza hidráulica, o que implica que Um complicador adicional em relação à saída
passagem pela barragem. início da escada (entrada). Caso a entrada não devam ser mais efetivos que os fluxos de do peixe da obra de transposição é a
água dos vertedouros e do canal de fuga. Por flutuação de nível do reservatório. Esse é um
ser uma “perda” de água para geração, seu grande desafio, especialmente em
Bo
Boxx 6.1.3 funcionamento pode se tornar conflitante reservatórios destinados a regularizar a
Seletividade em uma escada de peixes experimental na barragem do reservatório de Itaipu. com o uso hidrelétrico do reservatório, vazão de outros dispostos em série ou a
FERNANDEZ, D. R.; AGOSTINHO, A. A.; BINI, L. M. Selection particularmente em usinas que tenham atender picos de demanda energética. Nestes,
of an experimental fish ladder located at the dam of the Itaipu limitações na vazão. O fato de as migrações as flutuações de nível estão implícitas em seu
Binacional, Paraná River, Brazil. Brazilian Archives of Biology and ascendentes ocorrerem, em geral, em funcionamento.
Technology, Curitiba, v. 47, no. 4, p. 579-586, Aug. 2004.
períodos de vazão crescente, reduz esse
A seletividade específica em uma escada de peixes (tipo tanques seqüenciais com passagem de fundo), conflito. A efetividade na transposição
operada experimentalmente no reservatório de Itaipu (rio Paraná) foi avaliada por amostragens no rio,
abaixo da barragem, e em dois pontos da escada (alturas de 10 m e 27 m) durante 28 meses. Entre as 65 A localização da obra de transposição Os dados disponíveis na literatura sobre a
espécies registradas no rio, 27 foram capturadas na escada. As espécies com maiores densidades na escada,
(escada, elevador, eclusa, etc.), pelo fato de a eficiência das escadas na transposição de
a maioria migradora, foram moderada ou apenas levemente abundantes no rio. Entre as espécies mais
entrada ser um aspecto crítico do seu peixes no Brasil carecem de detalhamento e
abundantes no rio, apenas não-migradores foram registradas na escada. A escada apresentou uma seleção
negativa em relação aos grandes pimelodídeos, fato atribuído à escala do desenho da escada. Embora as funcionamento, deve ser um tema prioritário de um trabalho mais sistematizado. A
amostras demonstrem uma moderada seleção de espécie na entrada e na ascensão da escada, seu modelo no seu planejamento. Entretanto, em razão maioria das escadas de peixes jamais foi
hidráulico mostrou-se satisfatório. da localização dos outros componentes da objeto de monitoramento. Entretanto, são
242 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Mecanismos de Transposição: sucessos e falhas 243

essas as únicas informações disponíveis na de espécies de grande porte foram aquelas localizadas junto às barragens de peixes registrados nas amostras. Entre as
literatura. registradas ao longo da escada. Borghetti, Porto Primavera, Canoas I, II e Lageado. espécies mais numerosas nas escadas
J.R., Nogueira, Borguetti, N.R.B. e Canzi destacaram-se o mandi beiçudo I. labrosus e o
Dados obtidos pelo Departamento de (1994), em estudos realizados anteriormente Na escada de peixes da barragem de Porto mandi-chorão Pimelodella sp., nas escadas de
Meio Ambiente da Itaipu Binacional nessa mesma escada, relatam que a Primavera, onde dados quantitativos não Canoas I e II, respectivamente. Estas não são
( FERNANDEZ; AGOSTINHO; BINI, 2004) na escada motivação dos peixes em ascendê-la foi de estão ainda disponíveis, registrou-se a consideradas espécies migradoras.
experimental da UHE Itaipu (altura: natureza reprodutiva, baseados na elevada presença de 21 espécies das quais 12 são
27,3m; comprimento: 155m; velocidade: freqüência de indivíduos em maturação reconhecidamente migradoras, incluindo A avaliação realizada por Godoy (1985) e
1,2m/s) revelam que 28 das 68 espécies avançada. Os dados obtidos posteriormente, algumas de grande porte para as quais esse outros autores (Tabela 6.1.1) sugere que, pelo
registradas a jusante da barragem entretanto, não permitem considerar a dispositivo tem sido considerado menos para barragens com altura inferior a
ascendem a escada em alguma extensão. reprodução como motivo da ascensão, dado negativamente seletivo (CESP, 2000b). Embora 16 metros, as escadas são eficientes meios de
o grande número de indivíduos juvenis e esses dados sejam ainda preliminares, é transposição. Falhas no desenho fazem que
Entre as espécies migradoras de médio a não-preparados para a desova nela relevante o fato de que, no trecho a jusante, mesmo aquelas destinadas a superar
grande porte destacam-se o curimba P. registrados. Fernandez (2000) relata que, sejam registradas cerca de 170 espécies, das pequenos desníveis não funcionem. É sabido,
lineatus, o mandi P. maculatus e a piapara L. entre as espécies migradoras, nenhuma quais pelo menos 17 são grandes migradoras entretanto, que as escadas são, em geral,
elongatus (Figura 6.1.7). Entretanto, a relação foi encontrada entre a habilidade de (AGOSTINHO; BINI; GOMES; JÚLIO JÚNIOR; seletivas. Esse aspecto é precariamente
freqüência de outros migradores de grande ascender a escada e a migração reprodutiva, PAVANELLI; AGOSTINHO, 2004). abordado nos estudos existentes.
porte na escada foi muito baixa, como o constatando-se, mesmo durante a quadra
dourado S. brasiliensis, o pintado P. corruscans reprodutiva, um predomínio significativo de No reservatório de Lageado, no rio Tocantins, A transposição de peixes pelo elevador de
e a piracanjuba Brycon orbignyanus. indivíduos com gônadas em fases pré- o monitoramento da eficiência de Porto Primavera envolveu, em 688 ciclos de
vitelogênicas. transposição da escada (Figura 6.1.8) transposição, 19 toneladas de peixes no
Outras espécies, como o pacu Piaractus realizado pela Universidade Federal de período de novembro/99 a abril/00,
mesopotamicus e o jaú Zungaro zungaro, Outros estudos recentes sobre a eficiência de Tocantins/Investco tem revelado a presença resultando numa média de 29 kg.ciclo-1.
presentes na área a jusante, jamais foram escadas de peixes foram realizados para de 63 espécies na escada, de um total de 268 Embora os dados de proporção entre as
registradas nesse dispositivo. catalogadas para a região, com amplo espécies não estejam disponíveis, pelo menos
Restrições impostas ao predomínio de cinodontídeos (30%), 36 espécies foram transpostas, das quais 15
tamanho (ou altura) dos Curimba curimatídeos (21%) e doradídeos (18%) – ver consideradas grandes migradoras (CESP, 2000b).
peixes, pelas dimensões das Mandi
Piapara
Box 6.1.4.
aberturas superficiais e de Piava
Piau
fundo nas traves que Lambari No monitoramento realizado pela Duke
Armado
separavam os tanques nessa Dentudo
Energy (DUKE ENERGY INTERNATIONAL, 2001,
escada experimental, têm
Mandi beiçudo 2002) nas escadas das barragens de Canoas I e
Dourado cachorro
sido mencionadas por Peixe cachorro Canoas II, cujos reservatórios localizam-se no
Sorubim lima
Borghetti, J.R., Nogueira, Jurupoca rio Paranapanema e estão contidos no trecho
Abotoado Caixa 1 = 10m
Borguetti, N.R.B. e Canzi Mandi prata Caixa 2 = 27m entre aqueles de Capivara e Salto Grande,
(1994). 25 20 15 10 5 0 5 10 15 20 25 foram registradas 42 espécies de peixes (27%
Participação (%)
das espécies catalogadas para a bacia).
Espécies reofílicas, porém não Figura 6.1.7 - Freqüência das 15 principais espécies registradas Destas, sete são consideradas grandes Figura 6.1.8 - Escada de peixes da barragem
nas duas caixas de repouso da escada experimental de do reservatório de Lageado (Luiz
consideradas grandes Itaipu. Nomes grafados em negrito são de espécies migradoras e representaram juntas 9,2%
Eduardo Magalhães), rio Tocantins
migradoras, e formas juvenis consideradas migradoras (Caixa 1 = 10m; caixa 2 = 27,0m). (Canoas II) e 6,9% (Canoas I) do número de (Foto: C. S. Agostinho).
244 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Mecanismos de Transposição: sucessos e falhas 245

No Canal de Piracema de Itaipu, que da estrutura. Este não é, portanto, aspecto de essa questão (AGOSTINHO; BORGUETTI; indivíduos marcados; 315 recapturados)
apresenta 10 km de extensão, os resultados elevada relevância no uso das escadas VAZZOLER; GOMES, 1994; AGOSTINHO; GOMES; pertenciam a essa categoria (Figura 6.1.10).
preliminares do monitoramento têm para fins preservacionistas ou SUZUKI; JÚLIO JÚNIOR , c2003). Curimbas P.
demonstrado a presença de várias espécies conservacionistas. lineatus e armados P. granulosus provenientes Padrão semelhante foi observado por
migradoras (curimbas, piracanjubas, pacus, do trecho imediatamente a jusante da Antônio (2006) na região do reservatório de
pintados e dourados), sendo que algumas A continuidade da migração reprodutiva barragem de Itaipu, marcados e liberados a Porto Primavera. Indivíduos de curimba,
delas já alcançaram o reservatório montante, foram capturados acima do quando transpostos artificialmente pela
(Figura 6.1.9). Uma dúvida que permeou as discussões reservatório, até cerca de 180km distante do barragem, foram recapturados a montante
sobre a eficiência das escadas de peixes até local de soltura (AGOSTINHO; BORGUETTI; em locais distantes dos pontos de soltura
Esses resultados atestam que a transposição recentemente era a capacidade de um peixe VAZZOLER; GOMES, 1994). A velocidade média (entre 120 e 250 km). Além disso, muitos
de peixes pelos sistemas existentes no país, em migração contra a corrente, uma vez e a distância percorrida por esses indivíduos viajaram longas distâncias (> 170 km) num
embora seletivos, são razoavelmente transposta a barragem, continuar migrando foram maiores que as daqueles capturados curto período de tempo (< 50 dias), o que
satisfatórios para a passagem de espécies no ambiente lêntico das áreas mais internas logo acima da barragem e liberados no indica elevada velocidade de deslocamento
migradoras. Problemas com elevados dos reservatórios. mesmo local. Sete dos nove indivíduos com em direção oposta à barragem, rumo a locais
desníveis a serem vencidos, embora com maior deslocamento e velocidade (7.855 com menor influência do represamento.
implicações na seleção de espécies, podem Estudos de marcação e recaptura realizados
ser eficientemente resolvidos pelo desenho no reservatório de Itaipu parecem elucidar
Tabela 6.1.1 - Avaliação da eficiência de transposição de peixes de algumas escadas de
peixes em reservatórios brasileiros (Modificado de QUIRÓS, 1988 e outros)
Bo
Boxx 6.1.4 Rio / represa Desnível (m) Ano de Efetividade Fonte
construção
Levantamento das espécies que ascendem a escada de peixe da UHE Luís Eduardo Magalhães, Lajeado - TO. Poço do Barro / P. Barro - CE 15 + Godoy (1985)
AGOSTINHO, C. S.; FREITAS, I. S.; PEREIRA, C. R.; OLIVEIRA, Pardo / Itaipava 7 1911 + Godoy (1985)
R. J.; MARQUES, E. E. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE Jacaré Guaçu/Gavião Peixoto 8 1913 Martins (2000)
ZOOLOGIA, 25., Brasília, DF, 2004. Resumos... Brasilia, DF:
Mogi Guaçu / Cachoeira Emas 5 1922 + Godoy (1985)
Sociedade Brasileira de Zoologia, 2004. p. 348.
Sapucaia Mirim/Dourados 8 1926 Martins (2000)
“A escada de peixe da UHE Luís Eduardo Magalhães tem aproximadamente 700 m de comprimento, 5 m de Sorocaba / Faz.Cachoeira 6 1942 + Godoy (1985)
largura e 5 tanques de descanso. O número de degraus-tanque para vencer o desnível de 30 m é de Tibagi / Salto Mauá 6 1943 + Godoy (1985)
aproximadamente 100. Cada degrau apresenta aberturas de fundo e ranhuras de superfície duplas situadas Paranapanema / Piraju 16 1971 + Godoy (1985)
em posições intercaladas. Com o objetivo de avaliar quais espécies ascendem essa escada, foram realizadas Tijuco / Salto do Moraes 10,5 1972 -
Godinho, H.P., Godinho, A.L.,
Formagio e Torquato (1991)
coletas quinzenais durante o período de novembro de 2002 a outubro de 2003. De forma padronizada, foram Jacuí / Amarópolis 5 1973 + Godoy (1985)
utilizadas tarrafas de malha 4 cm, entre nós opostos, fio 0,50 mm, perímetro de 15 m e peso aproximado de Jacuí / Anel de Dom Marco 5 1973 + Godoy (1985)
8 kg. As coletas foram realizadas a cada 6 horas (12h00; 18h00; 00h00; 06h00). Os peixes capturados foram Jacuí / Fandango 5 1973 + Godoy (1985)
imediatamente identificados, medidos, marcados e soltos no tanque a montante. Foram capturadas 63
Taquari / Bom Retiro do Sul 9 1973 + Godoy (1985)
espécies de peixes, pertencentes às ordens Characiformes (68,3%), Siluriformes (20,6%), Perciformes
Itapocu / Guaramirim 2 1985 - Godoy (1985)
(9,5%) e Clupeiformes (1,6%). A maioria dos indivíduos capturados pertence às espécies Rhaphiodon Sapucaia Paulista/S.Joaquim 8 1991 Martins (2000)
vulpinus, Psectrogaster amazonica, Oxydoras niger e Auchenipterus nuchalis. Do total de espécies
Mogi Guaçu / Mogi Guaçu 10,5 1994 Martins (2000)
capturadas, aproximadamente 43 espécies são migradoras e 20 espécies de comportamento sedentário e/ou
Grande / Igarapava 1999
de migração curta. Cerca de 50% dos peixes capturados apresentaram comprimento inferior a 20 cm. O
Paranapanema / Canoas I 2000 + Duke Energy International (2001)
horário de maior captura de indivíduos foi 18h00. Das espécies capturadas, 12 foram constantes nas coletas,
Paranapanema / Canoas II 2000 + Duke Energy International (2001)
sendo que 4 são grandes migradores: Hydrolycus armatus, O. niger, Pseudoplatystoma fasciatum e
Paraná / Porto Primavera 20 2001 Cesp (2001)
Prochilodus nigricans. Outras 12 espécies foram acessórias e 39 ocorreram de forma acidental nas +
Agostinho, Freitas, Pereira,
coletas.” Tocantins / Lageado 30 2002 + Oliveira e Marques (2004)
246 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Mecanismos de Transposição: sucessos e falhas 247

Estudos de marcação e recaptura Para que o sistema de transposição tenha No caso de o trecho a montante do
foram também realizados pela significado na manutenção de populações ou reservatório ser extenso, comportar locais de
Duke Energy (DUKE ENERGY estoques de peixes é necessário que os desova inalterados e apresentar extensas
INTERNATIONAL, 2001) nas escadas resultados da desova se propaguem para os áreas naturalmente alagáveis, é esperado que
das barragens de Canoas I e trechos inferiores. Esse tema é tão ou mais as espécies migradoras retidas a montante
Canoas II. Nesse estudo, realizado crítico que a ascensão dos peixes aos trechos mantenham seus estoques, com perdas na
na quadra reprodutiva de 2000/ superiores e tem sido sistematicamente diversidade genética ao longo do tempo.
01, foram marcados 1.590 ignorado no planejamento dos mecanismos Nesse caso, a transposição teria como
exemplares de espécies de transposição (QUIRÓS, 1988; CLAY, c1995). objetivo apenas a manutenção da
migradoras e liberados na escada diversidade genética, com prejuízos aos
de Canoas I. Capturas Nesse contexto, dois aspectos são críticos estoques a jusante da barragem.
subseqüentes, experimentais e para a ictiofauna neotropical, ou seja, (i) as
profissionais, registraram uma larvas e juvenis devem atravessar todo o Num outro cenário, o trecho a montante
recaptura de 59 indivíduos (3,7%), corpo do reservatório até a barragem, e (ii) seria curto, conteria apenas os locais de
dos quais 19 (32% dos marcados) devem passar pela barragem com um desova, sem áreas alagáveis relevantes.
no mesmo reservatório, 37 (63%) mínimo de mortalidade. Nesse caso, o estoque de grandes migradores
no reservatório de cima (Canoas seria drasticamente reduzido, podendo após
Figura 6.1.9 - Canal de Piracema de Itaipu, um canal
II) e 3 (5%) no reservatório a secundário para a transposição de peixes (Fonte: Itaipu Em relação ao primeiro, é oportuno lembrar alguns anos ser eliminado da área a
jusante (Capivara). Nesses Binacional). que os peixes migradores neotropicais, montante. A transposição, dessa forma,
mesmos reservatórios, Britto e especialmente os das bacias dos rios Paraná, poderia permitir a desova em áreas a
Sirol (2005) concluem que após São Francisco e Tocantins, desovam em áreas montante. Entretanto, os ovos e larvas
serem transpostos, os peixes 250 altas da bacia, no período de níveis seriam conduzidos ao ambiente represado,
orientam-se rumo a trechos livres fluviométricos crescentes, temperaturas altas cujas águas apresentam baixa velocidade, o
200
a montante. ou em elevação e com águas túrbidas (que que pode promover sua sedimentação, e alta
150 Movimentos
ascendentes
reduzem a predação dos ovos e larvas por transparência, facultando intensa predação,
Esses resultados sugerem que a 100 km predadores visuais). Ovos e larvas migram principalmente por predadores visuais. Ovos
orientação dos peixes no corpo do 50 passivamente com a correnteza por dezenas e larvas, mesmo de espécies migradoras de
reservatório não se constitui em 0 de quilômetros enquanto se desenvolvem. grande porte, como o sorubim ou o dourado,
limitação aos esforços de -50
As larvas são levadas pelas cheias para a são naturalmente predados por peixes de
Movimentos
transposição de peixes a montante. descendentes várzea lateral (berçários = lagoas e baías), outros hábitos alimentares, incluindo
-100 km
onde permanecem por um tempo variável espécies forrageiras, como insetívoros ou
-150
A migração descendente e (até dois anos, conforme a espécie). Mais planctófagos. Embora não haja informações
passagem pela barragem -200
Ou No De Ja Fe Ma Ab Ma Ju Ju Ag Se Ou No De Ja Fe tarde os juvenis dispersam, integrando os na literatura especializada, é improvável que
Meses estoques adultos, geralmente a jusante. os ovos e larvas alcancem a barragem antes
Um aspecto relevante nas Figura 6.1.10 - Representação gráfica dos deslocamentos de serem totalmente dizimados pelas
(direção, sazonalidade, distância e velocidade)
facilidades de transposição de O grau de interferência de um reservatório abundantes populações de peixes forrageiros
realizados pelo armado Pterodoras granulosus no
peixes pela barragem é o reservatório de Itaipu. Linhas tracejadas = capturas, nesse processo dependeria basicamente de que dominam os reservatórios, cujas águas
marcação e liberação no reservatório; linhas escuras =
recrutamento de peixes para os sua posição em relação às áreas críticas ao são, em geral, muito transparentes,
capturas a jusante, marcação e liberação no
estratos populacionais localizados reservatório (Fonte: AGOSTINHO; BORGUETTI; ciclo de vida dos peixes (área de desova, especialmente nas áreas mais internas
VAZZOLER; GOMES, 1994).
a jusante. criadouros naturais e área de alimentação). daqueles de maior área.
248 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Mecanismos de Transposição: sucessos e falhas 249

A construção de meios de transposição neste A mortalidade em turbinas, de solução mais diâmetro. De qualquer maneira, se retidas, de ambientes lóticos como áreas de
último caso se configuraria como uma fonte difícil, decorre de (i) danos mecânicos devido poderiam ser esmagadas pela corrente alimentação e crescimento (espécies
adicional de impactos ao inviabilizar o ao contato com os equipamentos fixos ou contra a parede da tela, dependendo das reofílicas) e geralmente ocupam a metade
sucesso da reprodução de indivíduos com móveis, (ii) danos induzidos pela pressão ou condições hidrodinâmicas locais. superior dos reservatórios, evitando
chance de desova em segmentos inferiores à pela exposição a condições de drástica aquelas lacustres e menos produtivas mais
barragem. variação de pressão, (iii) danos por Estudos de ovos e larvas conduzidos pelo internas (AGOSTINHO; MIRANDA; BINI; GOMES;
decepamento, resultantes de extrema Nupélia/Universidade Estadual de Maringá THOMAZ; SUZUKI, 1999).
Uma situação diferente ocorre entre os turbulência, (iv) danos por cavitação, nos primeiros quilômetros abaixo do
salmonídeos, peixes do hemisfério Norte, decorrentes de exposição a áreas com vácuo reservatório de Itaipu demonstram que (i) Assim, é esperado que os movimentos
nos quais a concepção de meios de parcial. Em geral, esses danos ocorrem de as larvas registradas eram provenientes do descendentes dos adultos até a barragem
transposição foi baseada no Brasil. Sua forma combinada (ver Capítulo 6.4). reservatório, como demonstraram os fatos sejam restritos a algumas espécies menos
migração em direção ao mar é ativa e ocorre de pertencerem essencialmente às duas exigentes em relação à dinâmica da água e,
em tamanhos muito maiores (smolt ou Diversas técnicas visando afastar os peixes espécies que se reproduziam naquele caso ocorram, estes enfrentem também
yearling = 10 a 15cm), reduzindo em migração descendente da tomada de água ambiente, ou seja, sardela (H. edentatus; 90% problemas com mortalidade ao passarem
drasticamente a predação. para as turbinas ou da área de influência do do total) e corvina (P. squamosissimus; 8,5%), pelos componentes da barragem.
vertedouro têm sido desenvolvidas. Entre e de suas formas adultas e em reprodução Liberações de peixes marcados na escada de
Na hipótese, aqui considerada remota, de as essas, destacam-se as barreiras estarem ausentes no trecho amostrado, (ii) a Canoas II revelam que 71% permaneceram
larvas provenientes de pontos altos da bacia comportamentais, como cortinas de bolhas taxa de larvas danificadas (decepadas e no trecho a montante nos meses
alcançarem a barragem, sua transposição de ar, correntes pendentes, luzes de vários esmagadas) alcançou valores superiores a subseqüentes à marcação e 29% no
para jusante é outro aspecto que torna tipos, barreira sonora, eletricidade, telas, etc. 30% do total, sugerindo alta mortalidade, reservatório de Canoas I. Nenhum dos 1.499
questionáveis as obras de transposição como visto que aquelas fracionadas não eram exemplares marcados foi capturado abaixo
instrumento de preservação dos estoques de Esses recursos foram, no entanto, retidas pela rede de ictioplâncton, (iii) deste último reservatório (DUKE ENERGY
peixes. desenvolvidos para os salmonídeos, que são nenhuma larva de grande migrador foi INTERNATIONAL, 2001). Britto e Sirol (2005)
nadadores ativos e que podem ser repelidos registrada. também enfatizam o caráter unilateral na
As perdas na passagem pela barragem variam por condições artificiais adversas. O mesmo transposição realizada pelas escadas
de acordo com a rota tomada pelo peixe. Em não é esperado de larvas, que descem Esses resultados, embora demonstrem que instaladas no complexo Canoas.
geral, as perdas pelo vertedouro são passivamente com a água. muitas larvas podem passar pela barragem
diferentes daquelas das turbinas (CLAY, c1995). com a água turbinada ou vertida, sugerem Desse modo, embora ainda careça de
A barreira física apresenta o inconveniente que eventuais larvas que penetrem no comprovação, as escadas podem se
No vertedouro, a mortalidade depende da do acúmulo de resíduos e detritos, exigindo reservatório a partir de tributários laterais constituir em fontes de impactos às
sua altura e desenho, variando de 0,2% a intenso trabalho de manutenção. De alguma não logram alcançar as áreas mais internas populações localizadas em trechos a jusante,
99%. Entretanto, outras características do maneira, ela requer rota alternativa para a do reservatório. especialmente nos casos em que esses
dispositivo de saída estão relacionadas a essa passagem de peixes para jusante (by pass). trechos apresentem áreas alternativas de
mortandade, como a abrasão contra a Envolve, geralmente, o uso de telas com A possibilidade de retorno dos peixes que desova e desenvolvimento inicial. Nesses
superfície, mudanças bruscas de pressão, malhagens suficientemente pequenas para ascenderam a escada para os segmentos a casos, o fluxo unidirecional dos cardumes
mudanças rápidas de direção de fluxo impedir a passagem de peixes grandes e para jusante é ainda uma incógnita. É sabido que implicaria sua subtração dos trechos
(shearing effect) e supersaturação gasosa não bloquear a circulação da água. É difícil a maioria das espécies migradoras se utiliza inferiores (ver Box 6.1.5).
(RUGGLES, 1980). Esses fatores podem, no imaginar a instalação de telas com
entanto, ser minimizados pelo desenho do malhagens suficientemente pequenas para
vertedouro. reter larvas com alguns milímetros de
250 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Mecanismos de Transposição: sucessos e falhas 251

Bo
Boxx 6.1.5 Considerações Finais potamódromos da região neotropical
envolvem movimentos descendentes
Sobre os impactos das escadas na atividade pesqueira. passivos de ovos e larvas por dezenas de
DUKE ENERGY INTERNATIONAL. Relatório de monitoramento
C omo visto, as informações acerca da quilômetros, ao final dos quais necessitam
da transposição de peixes pelas escadas instaladas nas UHEs Canoas I eficiência das escadas de peixes no Brasil de lagoas marginais ou baías para que o
e Canoas II - Médio Paranapanema. Chavantes, SP, 2002. 36 f., il. referem-se apenas à capacidade das espécies desenvolvimento dos jovens seja bem-
(algumas color.). (Relatório técnico).
em ascenderem esses sistemas, não sendo sucedido. O fato de reservatórios
“A instalação das escadas para peixes nas UHE’s Canoas I e Canoas II teve dois momentos distintos: o avaliadas a importância e a efetividade apresentarem águas calmas, mais
primeiro, ocorrido na piracema 2000/2001, onde foi registrada a ascensão de grandes cardumes de desses dispositivos para a preservação dos transparentes, e comportarem um grande
espécies migradoras através dos mecanismos de transposição. Durante este período foi mantida a atividade estoques nas bacias hidrográficas. número de pequenos peixes, retardaria os
pesqueira a jusante de Canoas I e observou-se um crescimento da atividade pesqueira junto a jusante da
deslocamentos passivos de ovos e larvas, os
UHE Salto Grande, decorrente da migração dos peixes através das escadas. No segundo momento,
A efetividade da desova dos peixes exporiam a uma intensa predação e/ou
ocorrido na piracema 2001/2002, foi registrada uma redução dos cardumes de grandes migradores, fato
transpostos está sendo monitorada promoveriam a sua sedimentação para as
ponderado como possível efeito negativo das escadas sobre os estoques de jusante. Ao mesmo tempo
ocorreu um contínuo crescimento da pesca a jusante da UHE Salto Grande. A despeito da satisfação atualmente (CESP, 2001; DUKE ENERGY camadas d’água mais profundas, onde as
geral observada no primeiro momento, o segundo trouxe consigo a insatisfação de pescadores situados a INTERNATIONAL , 2001), porém sem resultados condições de oxigenação são geralmente
jusante de Canoas I, em vista da aparente depleção dos estoques de espécies migradoras, apreciadas conclusivos. Das 17 espécies de larvas críticas.
comercialmente. Os pescadores atribuíram essa redução à transposição dos cardumes durante a piracema registradas nos tributários do reservatório
2000/2001, quando a escada permaneceu aberta até o mês de julho, sendo fechada para manutenção de Porto Primavera, apenas uma foi de Na hipótese remota de as larvas alcançarem
posteriormente, após a aprovação do IBAMA/Brasília. A insatisfação com a pesca durante a piracema de espécie migradora (jaú Z. zungaro) (CESP, a barragem, elas sofreriam grande
2001/2002 ocasionou a mobilização dos pescadores, que realizaram manifestações de protesto junto à
2001). mortandade ao passar pelas turbinas ou
Duke Energy International e aos órgãos fiscalizadores, especialmente o Instituto Ambiental do Paraná
vertedouro, sem que houvesse possibilidade
(IAP). Através da mobilização, os pescadores sensibilizaram o IAP, de forma que o órgão exigiu da Duke
Assim, informações disponíveis demonstram de atraí-las para escadas (escadas e
Energy International, através de carta formal, o fechamento das escadas. A Gerência de Meio Ambiente
da Empresa respondeu à carta, evidenciando o fato de que a Licença de Operação (LO) da UHE Canoas que, com um desenho adequado, as escadas elevadores são concebidos apenas para
I havia sido expedida pelo IBAMA/Brasília, visto que o Paranapanema é um rio federal, e que qualquer são mecanismos eficientes na transposição de movimentos ascendentes) ou afugentá-las
manobra nas escadas deveria ser submetida a aprovação desse órgão. Apesar do esclarecimento, o IAP e peixes, embora com problemas em relação à das imediações da tomada d’água, visto que
os pescadores ainda mantiveram suas posições quanto ao fechamento das escadas, criando um impasse seleção das espécies. Evidências obtidas em têm movimentos passivos.
entre as orientações dos dois Órgãos fiscalizadores. O impasse levou os pescadores a formalizar uma estudos sobre o ciclo de vida das espécies
petição, assinada por todos, solicitando o fechamento das escadas devido ao baixo rendimento em suas neotropicais demonstram, entretanto, que os A migração descendente dos adultos de
atividades. Diante do impasse e da petição, a Gerência de Meio Ambiente da Duke Energy International
movimentos descendentes e o recrutamento espécies migradoras é dificultada pelo fato
voltou a consultar o IBAMA, apresentando também a petição formalizada. O Órgão, após analisar os
aos estoques de trechos a jusante da de serem, nessa fase, geralmente reofílicos
fatos ocorridos, indicou a necessidade do aval do Ministério Público, que havia movido a ação legal para
a construção das escadas, para fechar o mecanismo de transposição. Até que haja uma concordância do barragem constituem-se em pontos críticos (hábitat de água corrente) e ocuparem apenas
Ministério Público para o fechamento, as escadas permanecerão abertas. Cabe ressaltar que, ao mesmo relevantes no processo decisório de os trechos superiores de reservatórios (zona
tempo em que ocorriam esses fatos relativos a jusante de Canoas I, o aumento de peixes migradores a construção desses instrumentos de manejo. fluvial e de transição). Além disso, aqueles
jusante da UHE Salto Grande promoveu um expressivo aumento da pesca, como mencionado. Decorrente que atravessam as estruturas da barragem
desse aumento de peixes e, por conseguinte, de pescadores, houve um concomitante incremento de Dessa maneira, deve-se considerar que as experienciam fortes injurias, o que pode
infrações ambientais, decorrentes da pesca irregular, pesca predatória e invasão de áreas de segurança estratégias reprodutivas de peixes acarretar em elevada mortalidade.
a jusante da barragem. Não obstante esse aumento de peixes nos reservatórios de Canoas I e,
especialmente, de Canoas II, não há indícios de sucesso reprodutivo de nenhuma das espécies migradoras
que utilizaram o sistema de transposição do Complexo Canoas.”
Capítulo 6.2
Estocagem
Introdução interesses na exploração pesqueira e,
eventualmente, no controle biológico de
pragas.
A estocagem de peixes, também
conhecida como repovoamento ou A estocagem de suplementação, objeto
peixamento, é uma das ações de manejo principal deste tópico, é uma medida de
mais aplicadas em todo o mundo manejo recomendada apenas em três
(WELCOMME, 1988). Ela se constitui na situações, ou seja, (i) nos casos em que um
soltura deliberada de peixes provenientes dado estoque apresente sinais de
de outros sistemas naturais ou de cultivo sobrepesca e, portanto, a capacidade de
em um determinado corpo d’água. suporte do ambiente comporta maior
número de indivíduos da espécie
De modo geral, as estocagens podem ser explorada; (ii) quando as áreas de desova
classificadas em (i) introdução, quando se e/ou os criadouros naturais são
utilizam espécies não-nativas e visam o insuficientes, e (iii) nas condições em que
estabelecimento de população auto- a capacidade biogênica ou de suporte foi
sustentável; (ii) manutenção, na qual estas ampliada por uma determinada ação do
são repetidas anualmente com a homem (incorporação de alimento ou
finalidade de manter uma população de nutrientes).
peixes que não se reproduz no corpo de
água receptor; (iii) suplementação, Destinada, portanto, a recompor estoques,
quando visam aumentar a população de essa técnica de manejo deve ser realizada
uma determinada espécie de peixe ou sua com metas claras e na solução de
variabilidade genética (WHITE; KARR; problemas específicos. Tal prática, quando
NEHLSEN , 1995). Esta última modalidade bem conduzida, pode auxiliar no
pode ser realizada com finalidades restabelecimento de populações de
conservacionistas ou preservacionistas interesse, sendo relevante para a
(elevação do tamanho da população acima conservação dos recursos aquáticos
de limiares críticos, incremento da (pesca). Em reservatórios em que a
heterogeneidade genética) ou pesqueiras depleção dos estoques, como decorrência
(incremento na biomassa). As duas da alteração qualitativa e quantitativa dos
primeiras, entretanto, servem apenas a hábitats e da sobrepesca é um fato
254 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Estocagem 255

recorrente, a estocagem patógenos veiculados de forma associada aos resultantes de estímulos ou por
1.000.000
pode se constituir em alevinos ou pela água. Essas iniciativas não constrangimento legal imposto pelos órgãos
alternativa válida. Ela tem 100.000 podem ser banalizadas pelos interesses de fomento à pesca e de “proteção à fauna

Rendimento (kg . ha-1 . ano-1)


contribuído para o aumento 10.000
eleitoreiros de políticos que se aproveitam aquática”, como a Superintendência para o
do rendimento pesqueiro em de um senso comum equivocado da Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE).
1.000
diversos corpos de água ao população, no qual “soltar peixes em um
redor do mundo (SHANER; 100 corpo de água só pode ajudar”. Também não O primeiro Código de Pesca do Brasil
MACEINA; MCHUGH; COOK, 1996; podem ficar à mercê de iniciativas (Decreto-Lei No 794 de 19/10/1938) já previa
10
HANSSON; ARRHENIUS; atabalhoadas de pessoas ou instituições, que “as represas dos rios, ribeirões e
1
NELLBRING, 1997), sendo mesmo que bem-intencionadas. Como serão córregos devem ter, como complemento
registrados casos de forte 0,1
vistas neste tópico, as decisões de estocagem obrigatório, obras que permitam a
0,1 10 1.000 100.000 10.000.000
relação entre a densidade de devem ser baseadas em rigorosa avaliação conservação da fauna fluvial, seja facilitando
Densidade (peixes . ha-1 . ano-1)
peixes estocados e o da necessidade, da espécie, da procedência a passagem de peixes, seja instalando
Figura 6.2.1 - Relação (log) entre o rendimento médio anual da
rendimento da pesca, em dos alevinos, da metodologia, dos riscos e estações de piscicultura”. Essas estações
pesca e a densidade de peixes estocados, para 691 corpos de
diferentes tipos de água de todo o mundo. = tropical; = temperado (Fonte: das formas de avaliação. É preferível a tinham como finalidade a obtenção de
QUIRÓS, 1999).
ambientes (Figura 6.2.1; ausência de manejo a um manejo equivocado alevinos para o repovoamento. Poucos anos
QUIRÓS, 1999). e não passível de monitoramento. antes, Rudolph von Ihering havia iniciado,
de seu uso e causas de insucesso (COWX, 1994). no Nordeste, experimentos bem-sucedidos
Entretanto, apesar de seu valor intrínseco, A esse propósito, Quirós (1999) pondera que de aplicação de extrato de hipófise para a
muita discussão permeia a adoção dessa na busca por melhores rendimentos Aspectos Históricos das desova artificial (induzida) de espécies
modalidade de manejo, visto que existe, na pesqueiros, a estocagem pode ser realmente Estocagens nativas, o que representou um marco
história da estocagem, uma profusão de necessária, porém não suficiente. Muitos importante para a piscicultura nacional
resultados infrutíferos (MATHIAS; FRANZIN; outros fatores podem comprometer seu (VIEIRA; POMPEU, 2001). Entretanto, as
CRAIG; BABALUK; FLANNAGAN, 1992; COWX, 1994; sucesso, com destaque para as características A estocagem de peixes em reservatórios foi dificuldades iniciais de aplicá-las à maioria
VEHANEN, 1997; QUIRÓS; MARI, 1999), incluindo biológicas da espécie em questão, a uma das estratégias de manejo mais adotadas das espécies nativas e as dificuldades ainda
severos impactos sobre o ambiente e os morfometria e estado trófico do ambiente, a pelas concessionárias hidrelétricas e atuais de larvicultura, aliadas à facilidade na
estoques originais (RADOMSKI; GOEMAN, 1995). capacidade suporte, dentre outros. entidades responsáveis pelo manejo de produção de alevinos de espécies exóticas,
Na maioria dos casos de fracasso, a razão não reservatórios no Brasil. Os programas de levaram à massiva produção e peixamentos
decorreu da prática em si, mas sim do seu Porém as controvérsias sobre o sucesso da estocagem foram iniciados em açudes com espécies não-nativas. Nesse período, as
mau uso. estocagem não têm sido o pior aspecto nordestinos ainda na primeira metade do discussões acerca das ações de manejo
dessas iniciativas. O uso indiscriminado dos século XX, onde foram bem-sucedidos, com centravam-se nos mecanismos de
Numa escala mundial, os fracassos têm sido peixamentos tem elevado potencial de uso de tilápias e corvinas. Não demorou para transposição e na estocagem, que ainda
atribuídos à falta de clareza nos objetivos e a promover impactos irreversíveis sobre os que esses programas fossem implantados persistem atualmente.
displicência com vários detalhes estoques que se quer incrementar ou na também em reservatórios das bacias dos rios
metodológicos fundamentais (COWX, 1999). A ictiofauna em geral (RADOMSKI; GOEMAN, Paraná, Paraíba do Sul e do Leste, sendo As ações de estocagem ganharam impulso
banalização dessa técnica de manejo, 1995). Esses impactos estão geralmente baseados em espécies não-nativas. após a promulgação do Decreto-Lei No 221
aplicada em qualquer ecossistema aquático e relacionados à introdução de espécies não- (28/02/1967) e a publicação da Portaria No
com a espécie que se tem disponível, nativas, à soltura deliberada de indivíduos Embora atualmente praticados por livre 46/SUDEPE (27/01/1971). Esses documentos
conjugada à ausência de avaliação dos de péssima qualidade genética e à iniciativa de algumas concessionárias, legais prescreviam que “o proprietário ou
resultados, têm sido características marcantes contaminação dos cursos naturais com historicamente os peixamentos foram concessionário de represa em cursos de água,
256 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Estocagem 257

além de outras disposições legais, é período, espécies como corvina, tucunaré, liberados em reservatórios de diferentes estocagens na década de 1980 foram
obrigado a tomar medidas de proteção à tilápia, carpas, sardinha de água doce, bacias, no período de 1975 a 1997. Note-se compostas por 65% de espécies não-nativas,
fauna” e delegava à SUDEPE a tarefa de apaiari, entre outras tantas, se que o número ultrapassa 77 milhões nos entre elas as tilápias (45%), a sardinha de
determinar o melhor mecanismo para a disseminaram pelas bacias dos rios Paraná reservatórios da bacia do rio Tietê e 40 água doce (14%), a carpa (5%) e o apaiari
proteção da fauna aquática. e Paraíba do Sul, esta última recebendo milhões naqueles situados na calha do rio (0,4%). Nesse período, a espécie nativa
ainda várias espécies da primeira. Paraná, considerando-se apenas o esforço mais estocada foi o curimba (24%), seguido
Essa superintendência, voltada para a pesca Atualmente, essas estações estão de estocagem em reservatórios de lambari (4%) e pacu (3%). Entre 1992 e
e piscicultura e, paradoxalmente, com envolvidas com a produção de alevinos de hidrelétricos realizados por uma 2002, os programas de estocagens foram
carência de técnicos com poder de decisão espécies nativas e/ou se tornaram concessionária.
na área de conservação, entendeu que a estruturas de apoio a projetos ambientais.
melhor alternativa era o repovoamento e, Espécies de outras bacias ou
para isso, exigiu que as concessionárias Cabe ressaltar que o desprezo às continentes foram 800

hidrelétricas instalassem em cada sub-bacia predominantes nas

Alevinos (ind.x105)
informações técnicas e científicas e a 600
pelo menos uma estação produtora de ausência de um monitoramento que estocagens até o início da
alevinos (ALZUGUIR , 1994; AGOSTINHO; GOMES; permitisse avaliar as medidas de manejo, década de 1990, quando 400
LATINI,2004). Isso pavimentou o caminho obter novas informações e aprender com foram substituídas pelas
que levou às massivas estocagens, com elas, não esteve restrito a essas ações. Isso nativas. Isso decorreu de 200

espécies nativas e não-nativas, sem que também foi constatado nas opções de uma maior conscientização
0
jamais fosse realizado um monitoramento instalação de mecanismos de transposição da população acerca dos Tie

ran
á
em
a ul
an
de
Pa an oS Gr
sistemático para avaliar a eficácia da riscos ambientais da n ap íb ad
de peixes em barragens (ver Capitulo 6.1). P ara P ara
medida. Sem informações sobre os introdução de espécies Bacias Hidrográficas
estoques da fauna nativa, com a escolha da Os reservatórios da região Sudeste e os exóticas e de um maior
Figura 6.2.2 - Quantidade total de alevinos (ind.105) estocados
espécie-alvo de estocagem baseada nas inúmeros açudes da região Nordeste foram domínio das técnicas de pela CESP em reservatórios de diferentes bacias do
facilidades de obtenção e na reprodução artificial das sudeste, entre 1975 e 1997 (Fonte: CESP, 1998).
os locais onde mais se aplicou a técnica da
disponibilidade de alevinos, e tendo como estocagem (FONTENELE; PEIXOTO, 1979; espécies nativas. Em 1992, ao
meta apenas a quantidade a ser estocada, os GODINHO, H.P.; GODINHO, A.L., 1994; HILSDORF; assinar a Convenção da
pré-requisitos e a metodologia dessa PETRERE JUNIOR, 2002; AGOSTINHO; GOMES; Diversidade Biológica, o Nativas
Barra Bonita
técnica foram atropelados. Já as espécies de LATINI, 2004). A pesca nos açudes Brasil se comprometeu a Não Nativas
grande porte, cujos estoques são afetados nordestinos, especialmente a da tilápia, é combater as iniciativas de
Ibitinga
pelos represamentos, foram esporádicas ainda hoje mantida por elevado esforço de introdução de espécies,
nos peixamentos, em parte devido à estocagem com alevinos, produzidos em embora seja ainda hoje Promissão
dificuldade de cultivo nas fases de larva e estações de piscicultura da região praticada de forma ilegal. O
alevino, dado que são geralmente grandes (FONTELES-FILHO; ALVES, 1995). histórico das estocagens em Nova Avanhandava
1979-1989 1992-2002
migradores e de hábito piscívoro. quatro reservatórios da
20 16 12 8 4 0 4 8 12 16 20
Nos reservatórios do alto rio Paraná, os bacia do rio Tietê Alevinos (em milhões)
Entretanto, a atuação principal das programas de estocagem vêm sendo demonstra, de forma Figura 6.2.3 - Número de alevinos de espécies nativas e não-
inúmeras estações de piscicultura foi o executados desde a década de 1970, tendo evidente, essa tendência de nativas utilizadas em programas de estocagem de
concessionárias hidrelétricas, nos períodos 1979-1989 e
fomento através de distribuição de sido utilizadas mais de 25 espécies de substituição de espécies nos 1992-2002, em quatro reservatórios do rio Tietê, bacia do
alevinos, na maioria das vezes com peixes, nativas ou não. A Figura 6.2.2 programas de peixamento rio Paraná (Fonte: ECO CONSULTORIA AMBIENTAL E
COMÉRCIO/AES TIETÊ, 2002).
objetivos puramente eleitoreiros. Nesse apresenta o número total de alevinos (Figura 6.2.3). Assim, as
258 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Estocagem 259

executados apenas com espécies nativas, sucessivos, sem que jamais os indivíduos de estocagem, é um indicativo de frustração. povo brasileiro, que é uma das súplicas mais
especialmente curimba (58%), pacu (30%) e adultos fossem registrados na pesca. Outro A falta de monitoramento também não freqüentemente ouvidas dos dependentes
piapara (6,5%). exemplo é o da tilápia nos reservatórios do permite comprovar os impactos negativos de recursos aquáticos e da sociedade em
rio Tietê, onde ela foi a principal espécie nas que são esperados de programas de geral (VIEIRA; POMPEU, 2001; SIROL; BRITTO,
Embora a ausência de monitoramento, que, estocagens. No reservatório de Barra Bonita, estocagem executados sem considerações 2005). No reservatório de Itaipu, por
como visto, é a principal característica desses onde atualmente encontra-se estabelecida, o sobre a qualidade genética dos reprodutores, exemplo, foi a sugestão predominante (42%)
programas de estocagem no país, não esforço de estocagem, exercido durante que sabidamente era baixa (AGOSTINHO; nas entrevistas com mais de 500 pescadores
permita um quadro preciso dos resultados quase uma década, não produziu o resultado GOMES; LATINI, 2004). profissionais sobre a melhor medida para
até agora obtidos, a documentação esperado. A espécie começou a aparecer na melhorar o rendimento da pesca
disponível sobre o rendimento da pesca pesca apenas 12 anos depois, provavelmente O tema tem proporcionado acirradas (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ.NUPELIA/
profissional e experimental nos em razão dos massivos e constantes escapes discussões envolvendo cientistas, políticos, ITAIPU BINACIONAL, 2002).
reservatórios em que eles foram de estabelecimentos de pesque-pagues que tomadores de decisão e os
implementados sugere que tenham sido proliferaram na região no final da década de diversos usuários dos recursos
iniciativas fracassadas, tanto na perspectiva 1990 (Figura 6.2.4). naturais, sem, contudo, haver
do rendimento pesqueiro quanto na da consenso sobre a oportunidade
conservação da biodiversidade. Nos casos de estocagens com espécies de tais medidas. Os programas
nativas, de avaliação mais difícil e que de estocagem, entretanto,
Para as espécies não-nativas, oriundas de demandam o apoio de laboratórios continuam, mais por uma
outras bacias do país, a ausência ou o caráter especializados, o sucesso, muitas vezes demanda de políticos com
esporádico nas capturas indicam claramente manifestado com base em percepções interesses eleitoreiros ou
isso. Assim, grandes estruturas foram tecnicamente frágeis, não é comprovado. A instituições por eles utilizadas,
instaladas para a produção de alevinos, depleção dos estoques, a despeito do esforço que pela posição dos técnicos
algumas destinadas envolvidos (AGOSTINHO; GOMES;
originalmente a espécies LATINI,2004). A soltura de
exóticas de outros 300 peixes durante campanhas
continentes, e programas eleitoreiras, envolta em
3000 250
de estocagem grandes festividades e
Rendimento (ton.)

funcionaram por décadas, 2400 200 cobertura da mídia, é


sendo freqüente que os
Alevinos (x 1000)

freqüente em todo o Brasil


150
indivíduos liberados 1800 (Figura 6.2.5), sem que o
jamais fossem 100 motivo alegado (recuperação
1200
capturados. A estação de dos estoques) seja objeto de
50
piscicultura do avaliação. O grande desserviço
600
reservatório de Capivari, 0
prestado por essas iniciativas
na bacia Atlântico Sul, 0 está certamente na
79 81 83 85 87 89 91 93 95 97 99 01
por exemplo, foi 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 deseducação ambiental da
adaptada para a produção Ano população. A estocagem Figura 6.2.5 - Cenas de peixamentos realizados em
de alevinos de truta arco- Figura 6.2.4 - Número de alevinos estocados (colunas claras) e tornou-se arraigada de tal reservatórios do rio Paraná, nas quais os participantes
íris, tendo desenvolvido rendimento da pesca profissional (colunas escuras) de tilápia no acreditam, equivocadamente, estar contribuindo com a
forma na concepção de preservação ambiental.
reservatório de Barra Bonita durante o período de 1979 a 2002.
estocagens por anos “conservação da natureza” do
260 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Estocagem 261

A despeito do esforço de estocagem, na desconhecimento ou negligência das redução ou inadequação dos locais de construção de estações de piscicultura e na
maioria dos casos as espécies liberadas não informações sobre o ambiente e a espécie- desova ou criadouros naturais). formação de equipes responsáveis para a
produziram efeito algum, sendo que a alvo, além de falhas metodológicas. Repovoamentos realizados em áreas onde execução das estocagens (AGOSTINHO; GOMES,
maioria não conseguiu se estabelecer (VIEIRA; não há exploração dos recursos pesqueiros 1997), sendo que ainda hoje busca-se a
POMPEU, 2001) e várias jamais foram são justificados apenas para a melhoria da melhor maneira de tornar os peixamentos
Necessidade de estocagem e falta
capturadas (AGOSTINHO; GOMES, 1997). No diversidade genética de espécies, dado que eficientes.
de clareza nos objetivos
entanto, algumas espécies introduzidas, em os aspectos demográficos vigentes devem
especial a corvina, o tucunaré e a tilápia, estar sendo determinados pela capacidade Atualmente, o conhecimento da bioecologia
conseguiram tamanho sucesso na Qualquer que seja a técnica de manejo, ela é de suporte do ambiente (tamanho da de várias espécies e de padrões espaciais e
colonização dos reservatórios que hoje sempre fundamentada na implementação de população no limiar permitido pelo temporais de variação limnológicas em
compõem grande parte dos desembarques medidas sobre um sistema visando otimizá- ambiente) e/ou falhas no recrutamento reservatórios é satisfatório. Esse
pesqueiros em reservatórios do Sudeste e lo conforme um dado objetivo. Isso (reprodução incipiente ou alta mortalidade conhecimento, em grande parte patrocinado
Nordeste (ver Capítulo 5). É relevante o fato pressupõe que o objetivo deve estar claro nas fases iniciais). pelo próprio setor elétrico como parte de
de que as duas primeiras espécies, as mais para que a ação seja efetiva e passível de seus programas ambientais, é, entretanto,
bem-sucedidas na ocupação dos avaliação. Objetivos vagos, como “melhorar negligenciado. Mesmo indicações básicas
os estoques”, “aumentar o rendimento Desconhecimento e/ou negligência que deveriam ser consideradas antes de
reservatórios da bacia do rio Paraná, não
constem da série histórica de dados do pesqueiro”, “melhorar a pesca”, “contribuir das informações qualquer plano de estocagem, como o status
repovoamento elaborada pelas para a conservação da biodiversidade”, dos estoques naturais, as restrições
concessionárias dessa bacia. A introdução da freqüentes nos programas de peixamento, O estado do conhecimento limnológico e ambientais, a biologia e as exigências da
primeira é atribuída ao rompimento de embora sejam eficientes formas de ictiológico dos reservatórios durante as espécie a ser estocada, os efeitos (positivos
tanques de cultivos mantidos por comunicação popular, são tecnicamente primeiras décadas em que os ou negativos) que essa espécie poderia
concessionária hidrelétrica na bacia do rio inadequados. Durante muito tempo e mesmo repovoamentos foram realizados era causar na comunidade residente, a
Pardo, e a segunda, acredita-se que foi atualmente, em algumas concessionárias, os precário, sendo os programas concebidos capacidade de suporte do ambiente, os
resultado de solturas clandestinas de objetivos explicitados nos programas anuais dentro de uma diretriz geral e extensiva a melhores locais e época para a soltura, são
associações de pescadores esportivos. de peixamento estão restritos a uma meta diferentes bacias. Isso levou espécies com ignoradas ou têm sido consideradas
geral de soltura, expressa em milhares de estratégias distintas a serem estocadas de secundárias.
alevinos, configurando casos típicos nos forma similar, ou uma mesma espécie ser
O Insucesso da Estocagem: quais meios e fim são as mesmas coisas. É eleita para a estocagem em vários Embora notícias de peixamentos sejam
lições a serem aprendidas óbvio, por outro lado, que, dados os riscos reservatórios e sub-bacias, freqüentes na mídia, ironicamente com
ambientais das ações de repovoamento, os independentemente das restrições maior recorrência durante a Semana de
objetivos eleitoreiros são ilícitos. ambientais particulares ou da necessidade Meio Ambiente, nunca se procurou saber de
O s programas de estocagem desenvolvidos localizada da ação. A necessidade de sua necessidade. Eles não são motivados por
em diferentes partes do mundo têm, em No caso dos repovoamentos, os objetivos pesquisas e levantamentos prévios era demandas de estoques ou populações de
geral, sido bem-sucedidos. Como visto, o específicos devem ser elaborados com base contestada por se considerar que a produção peixes, sendo comum a soltura de espécies
sucesso daqueles realizados em reservatórios nas necessidades aferidas no ambiente-alvo. nos reservatórios não poderia esperar o que sabidamente não se instalam em
brasileiros, embora não adequadamente Essas necessidades podem ser de natureza desenvolvimento de pesquisas na área, pois reservatórios (espécies lóticas) e/ou cujo
monitorados, está restrito aos peixamentos genética (incremento na heterogenidade seriam financeiramente custosas e levariam estoque é naturalmente baixo, em
sistemáticos em açudes do Nordeste. Na raiz genética) ou demográfica (recomposição de muito tempo para gerar frutos. decorrência das condições tróficas do
desse insucesso estariam a falta de clareza estoques deplecionados pela pesca ou por Paradoxalmente, entretanto, vultosas ambiente e não pela mortalidade por pesca
nos objetivos dos repovoamentos, o problemas no recrutamento decorrentes de quantias em dinheiro foram investidas na (ex.: piracanjuba, pacus).
262 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Estocagem 263

Falhas metodológicas O tamanho reduzido dos alevinos estocados Entretanto, a maior restrição dos programas indivíduos. Entretanto, tal número é ilusório,
foi outro procedimento equivocado. de peixamento parece relacionada ao esforço pois, ao considerarmos a enorme área
As dificuldades metodológicas, ainda Embora esses tamanhos não constem em de estocagem. Embora o número de alevinos alagada pelos reservatórios, fica evidente a
atuais, nos programas de estocagens têm muitos dos relatórios técnicos consultados, liberados em cada estocagem seja baixa densidade estocada anualmente
na ausência de monitoramento a principal é sabido que grande parte da estocagem foi aparentemente alto (média de 1,3 milhões de (menos de 20 alevinos ha-1). Esses valores
razão de sua persistência. O realizada com pós-larvas e alevinos muito curimbas liberados anualmente durante 17 estão bem abaixo do limiar estimado por
monitoramento, procedimento obrigatório pequenos, muitas vezes sob protesto velado anos no reservatório de Promissão), a Quirós (1999) para que haja uma resposta
após qualquer ação de manejo, tem sido dos técnicos envolvidos, que sofriam densidade revela-se baixa quando relevante no estoque (>500 peixes.ha-1.ano-1).
amplamente negligenciado, em parte pressões para o cumprimento de metas confrontada com as grandes dimensões dos
devido às dificuldades técnicas que ainda baseadas na quantidade de alevinos. Tendo reservatórios brasileiros. As densidades Na avaliação realizada sobre esses
envolvem essa avaliação para espécies como base o que ocorre no ambiente médias anuais de estocagem do curimba, a peixamentos pela concessionária, eles foram
nativas. Para as não-nativas, o sucesso do natural, onde esses indivíduos são principal espécie nativa utilizada nos considerados bem-sucedidos (CESP, 2000a),
programa, pelo menos em seu início, pode liberados, a mortalidade é programas de
ser satisfatoriamente aferido pela simples exponencialmente inversa à fase de peixamento, é mostrada
presença da espécie. Para as nativas, o fato desenvolvimento do alevino. Há estimativas na Figura 6.2.6 para 70
70

) )
-1
(13) Média
Média Média±EP
Média ±EP

ano ano
de as populações apresentarem de que mais de 99% das larvas que eclodem quatro reservatórios da 60
60 (13)

. .-1 . -1 .-1
de espécies que não cuidam da prole morrem bacia do rio Tietê e um 50
naturalmente marcantes flutuações anuais 50

ha ha
40
precocemente. No caso dessas solturas, um do rio Grande (Água

(ind.
não permite inferir, com base apenas em 40
(17)

Estocagem (ind.
(17)
30
dados de abundância, se a ação de complicador adicional é o local onde elas Vermelha). Verifica-se

Estocagem
30
20 (9)
estocagem foi bem-sucedida ou não. geralmente foram feitas, ou seja, no corpo do que o número médio 20 (9)
10 (21)
Nesse caso, a marcação genética é reservatório, onde a transparência da água é anual oscilou entre 4 e 39 10
(9)
(9) (21)
0
necessária. elevada e a predação visual intensa. Existem indivíduos por hectare. 0 Barra Ibitinga Nova
Promissão Água
nita
Bonita ing
a a
Avanhandava
dav são a
Vermelha
elh
casos em que um grande número de arr
a Bo Ibit han Pro
mis Ve
rm
B Avan Reservatório A.
Agostinho e Gomes (1997) atribuem os predadores é atraído para locais próximos às Outros reservatórios da N .
Figura 6.2.6 - Densidade média anual de estocagem de alevinos de
Reservatório
insucessos nesses empreendimentos às estações produtoras de alevinos ou para os bacia do rio Paraná curimba Prochilodus lineatus (indivíduos por hectare) utilizada
Figura 6.2.6. Densidade média anual de estocagem de alevinos
também têm recebido noscurimba
programas de estocagem de cinco(indivíduos
reservatórios dahectare)
bacia do
falhas metodológicas, com destaque para a pontos de soltura, causando severos de Prochilodus lineatus por
rio Paraná. Números
utilizada nos entre parênteses
programas de representamde
estocagem o número
cinco
escolha da espécie, o local e a época de impactos, inclusive nas populações selvagens peixes há longo tempo. O reservatórios da bacia do rio Paraná. Números entre
de anos em que as estocagens foram realizadas
parênteses representam o número de anos em queECO (Fonte: as
esforço de estocagem das CONSULTORIA
estocagens AMBIENTAL
foram E COMERCIO/AES
realizadas (Fonte: AES TIETÊ , 2002).
Tietê, 2002).
soltura, o número e o tamanho dos residentes nesses locais (HINDAR; RYMAN;
alevinos estocados. É intrigante, no UTTER, 1991). duas principais espécies
entanto, que, embora a literatura fosse (curimba e pacu) Tabela 6.2.1 - Estocagem de curimba Prochilodus lineatus e
escassa no início, como já mencionado, As evidências ambientais em relação à época realizado em dois deles pacu Piaractus mesopotamicus nos reservatórios de Três
Irmãos e Jupiá, bacia do rio Paraná, realizada pela CESP na
muitos equívocos foram cometidos à luz de do ano apropriada para a soltura, conforme nos últimos anos (Três
década de 1990. São apresentados o total de alevinos
conhecimentos já existentes. Um caso as fases de desenvolvimento, foram também Irmãos: 1996 – 1999 e liberados no período indicado, a quantidade média e a
ignoradas. Com isso fica patente o Jupiá: 1994 – 1999) é densidade anual. Informação obtida em CESP (2000a)
ilustrativo é a soltura de jovens de
curimbas em reservatórios da bacia do rio desperdício de dinheiro e esforço ao liberar mostrado na Tabela 6.2.1. Três Irmãos (1996-1999) Jupiá (1994-1999)

Paraná, quando os trabalhos de Godoy centenas de milhares de indivíduos de Observando o número Curimba Pacu Curimba Pacu

(1957, 1975), desenvolvidos nessa bacia, espécies migradoras nos reservatórios, sendo total liberado no período, Total 2.132.000 1.717.000 3.727.500 1.425.000

que eles precisam de lagoas marginais nos o esforço parece ser


-1
revelavam que a espécie passa seus dois Número médio (ind. ano ) 533.000 429.250 621.250 285.000

primeiros anos em lagoas marginais, primeiros anos de vida para garantir certo considerável, já que Densidade média (ind. ha-1 ano-1) 6,79 5,47 18,83 8,64

abrigada na vegetação. percentual de sobrevivência. ultrapassa um milhão de


264 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Estocagem 265

estimulando a sua continuidade. Entretanto, Quirós (1999), em uma avaliação da Tietê como padrão. Esse autor, por outro densidades superiores a 500 alevinos ou 5 kg
a forte correlação encontrada entre o estocagem realizada em mais de 700 lado, ressalta que o sucesso nas estocagens é deles por hectare (no reservatório de Furnas
rendimento e o esforço de estocagem (R2 reservatórios de diferentes tamanhos em regulado pelo tamanho do reservatório, pela seriam 72 milhões de alevinos anualmente).
superior a 0,90) não considerou o retardo no todo o mundo, demonstrou que a relação auto-sustentabilidade das populações de
tempo entre a soltura e o recrutamento dos entre a densidade de estocagem não é linear interesse e pela entrada de nutrientes ou Como visto, é comum que se aplique um
indivíduos na pesca, que, segundo e um aumento relevante no rendimento só é alimentos. baixo esforço de estocagem em grandes
Agostinho, Vazzoler, Gomes e Okada (1993), observado quando essa densidade ultrapassa reservatórios, em virtude de sua grande área
pode demandar pelo menos 2 ou 3 anos. limiares de 500 alevinos ha-1 ano-1 ou acima Embora os dados sobre programas de superficial. Mas também é esperado que um
de 5 kg ha-1 ano-1. Esses limiares são entre 12 estocagem brasileiros não permitam chegar aumento no esforço de estocagem ultrapasse a
Embora também carente de maior a 125 vezes superiores àqueles praticados em a esse nível de debate, visto que não há capacidade suporte do ambiente, dado que
detalhamento, uma avaliação dos dados reservatórios brasileiros, se considerado o monitoramento sistemático e nem muitos reservatórios brasileiros são
históricos de esforço de estocagem anual esforço de estocagem nos reservatórios do informações sobre a capacidade de suporte oligotróficos (PAGIORO; THOMAZ; ROBERTO,
(1975 e 1997) e de dos reservatórios, a área dos reservatórios é 2005), têm grandes dimensões e apresentam
rendimento pesqueiro sabidamente grande. Quirós (1999) populações de peixes auto-sustentáveis. Além
médio (1988 e 1996), encontrou uma relação fortemente inversa disso, a falta de espécies fluviais pré-
500
a
considerando dados de 8 F1, 6 = 0,0008; p = 0,9787 entre a área dos reservatórios analisados e o adaptadas que explorem com eficiência as
Rendimento pesqueiro (t . ano-1)

reservatórios (Barra Bonita, 400


R² = 0,0001 rendimento da pesca, tanto em ambientes áreas pelágicas dos reservatórios restringe a
Ibitinga, Promissão, N. tropicais quanto em temperados (Figura ocupação desses ambientes às áreas litorâneas
Avanhandava, Três Irmãos, 300 6.2.8). Através de análise de
Ilha Solteira, Jupiá e Água correlação parcial, esse
Vermelha), mostra que não 200 autor registra uma relação
1.000.000
há significância na direta e significativa entre
100
correlação estatística entre o rendimento e a densidade 100.000

-
as variáveis, fato que de estocagem quando a

Rendimento (kg . ha-1 . ano 1)


0
permite concluir que a 0 10 20 30 40 50 60 70 80 área superfícial é mantida 10.000
Alevinos Estocados (ind. ha-1 ano-1)
estocagem realizada constante. Entretanto, o
durante mais de 20 anos não 12 mesmo não aconteceu 1.000
Produção pesqueira (kg . ha-1 . ano-1)

F1, 6 = 1,33; p = 0,2927 b


parece ter resultado em quando a densidade de
10 R² = 0,18
benefícios à pesca para a estocagem foi mantida 100

qual foi destinada (Figura 8 constante. Dessa maneira, é


10
6.2.7). Quirós e Mari (1999) 6
esperado que em grandes
observaram que, para reservatórios, como os da
1
reservatórios cubanos, 4 bacia do rio Paraná, as
incrementos significativos 2 restrições no recrutamento
0,1
no rendimento pesqueiro só das espécies nativas não 0,00001 0,001 0,1 10 1.000 100.000
0
foram observados após 0 10 20 30 40 50 60 70 80 possam ser superadas por Área (km²)
estocagens intensivas (> 10 Alevinos Estocados (ind. ha-1 ano-1) programas de
Figura 6.2.8 - Relação (log) entre o rendimento médio anual da
kg ha-1 ano-1), o que Figura 6.2.7 - Relação entre a quantidade de alevinos estocados e repovoamento, mesmo pesca e a área superficial para 709 corpos de água de todo o
dependeu também da o rendimento (a) e a produção pesqueira (b) de 8 reservatórios com estocagens fantásticas, mundo. = tropical; = temperado; = reservatórios do rio
da bacia do rio Paraná, nas décadas de 1980 e 1990. Tietê (QUIRÓS, 1999).
espécie escolhida. como a requerida em
266 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Estocagem 267

e superiores, fato explicado pela escassez de dos alevinos. Elas continuam, no entanto, Implicações nos Recursos pelo represamento, este talvez um dos meios
grandes lagos naturais no Brasil (AGOSTINHO; sendo realizadas, tanto pelo setor hidrelétrico de se alterar mais profundamente os hábitats
MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999). quanto por órgãos de controle ambiental, na
Naturais aquáticos. As questões da introdução de
Isso torna latente o problema da capacidade maioria das vezes com as mesmas falhas espécies em reservatórios, relativas a
suporte para os programas de estocagens. explicitadas até aqui. Como exemplo, Vieira e
Pompeu (2001) informam que os peixamentos
E mbora as estocagens sejam ações de definições, impactos, mecanismos e
interações, serão objeto de discussão no
manejo com grande potencial para a
O aumento na capacidade suporte com o em reservatórios e rios desenvolvidos pela conservação da biodiversidade, Capítulo 6.6.
objetivo de elevar o rendimento pesqueiro Companhia de Desenvolvimento do Vale do especialmente genética, elas são fontes
pode ser obtido em pequenos reservatórios São Francisco (CODEVASF) na bacia do rio potenciais de grandes impactos sobre a Ironicamente, os programas de estocagem
através de entradas de nutrientes ou alimento São Francisco, entre os anos de 1996 e 1997, com espécies não-nativas foram conduzidos
composição, estrutura e funcionamento das
no sistema. Nos grandes reservatórios de envolveram mais de 30 milhões de alevinos. comunidades locais, incluindo as populações e/ou estimulados por órgãos públicos, às
hidrelétricas, essa estratégia seria vezes ligados ao controle ambiental. Foi com
que eventualmente se pretenda suplementar
impraticável, especialmente naqueles Finalmente, destaca-se que o equívoco nos o estímulo ou constrangimento desses
com novos indivíduos.
dispostos em série, como os das bacias dos programas de estocagem envolve, além dos órgãos que o setor hidrelétrico desenvolveu
rios Paraná, Uruguai, São Francisco, Paraíba aspectos mencionados, falhas na abordagem. as massivas introduções de espécies nas
do Sul ou Tocantins, onde a retenção de Desenvolvida sem o conhecimento do sistema Introdução de espécies bacias hidrográficas do Sul, Sudeste e
nutrientes e sua captura pelo sedimento (fauna nativa, ambiente e espécies Nordeste brasileiro. O número de espécies
tornam aqueles de jusante extremamente introduzidas), a estocagem no Brasil é ainda O principal impacto ocorre nas estocagens que ingressou no Brasil para o propósito de
pobres. Além disso, mesmo nos pequenos, a fortemente marcada por uma abordagem de do tipo introdutória ou de manutenção, melhoria nos estoques pesqueiros, para
transformação do sistema de produção “tentativa e erro”, porém sem o quando a espécie é não-nativa ou incapaz de exploração comercial ou esportiva,
natural para um de piscicultura semi- monitoramento, que facultaria um um recrutamento natural. Geralmente assemelha-se ao número daquelas
intensivo pode ser dispendiosa, por requerer aprendizado mesmo nessa situação. Isso conduzidas com intuito de elevar o importadas para fins de cultivo (WELCOMME,
enorme esforço de fertilização e estocagem, e explica a razão de ações equivocadas serem rendimento pesqueiro, essas introduções 1988). Tanto que o maior afluxo de espécies
impor fortes restrições a outros usos devido à implementadas por tanto tempo e por tantas foram, na maioria das vezes, inócuas ou no Brasil ocorreu entre os anos de 1960 e
eutrofização e deterioração da qualidade da instituições e pessoas. Isso é, em parte, mesmo apresentaram impactos negativos 1980, quando houve grande proliferação de
água. decorrente de conceitos equivocados de que a sobre os desembarques, comprometendo reservatórios hidrelétricos e massivas
estocagem sempre aumenta o rendimento da recursos aquáticos tradicionalmente estocagens de espécies não-nativas.
Embora com alguns pontos controversos, as pesca (COWX, 1999), amplamente difundidos explorados e afetando os estoques nativos
estocagens regulares da modalidade de pelos meios de comunicação, arraigados no (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR, 1996). Não sendo um fenômeno restrito às políticas
introdução ou de manutenção exercidas nos senso comum da população e utilizados por públicas brasileiras, a introdução de espécies
açudes nordestinos têm sido consideradas políticos e empresas para fins eleitoreiros ou A relevância e preocupação a respeito dessas foi amparada até recentemente por
necessárias em face da demanda como demonstração supostamente introduções decorrem do fato de que, em organizações mundiais de renome, como o
socioeconômica regional. Já aquelas incontestável de que atuam na preservação âmbito global, a introdução de espécies é Banco Internacional de Desenvolvimento, o
realizadas nos grandes reservatórios, do tipo ambiental. Entretanto, há razoável consenso tida como a segunda principal causa de Banco Mundial e a Organização das Nações
suplementar, são tidas, de forma consensual no meio técnico e científico de que a extinção de espécies, sendo precedida apenas Unidas para a Alimentação e Agricultura
no meio técnico e científico, como ineficazes e estocagem suplementar (populações auto- pela degradação de hábitats. (FAO). Essas organizações estimularam,
desnecessárias, mesmo com as mudanças de sustentáveis) não é uma ação apropriada Lamentavelmente, as introduções em dirigiram e ainda dirigem investimentos em
enfoque que vêm apresentando nos últimos quando há evidências de insuficiente reservatórios são justificadas como projetos envolvendo o cultivo dessas
anos em algumas companhias de energia (ex.: recrutamento natural de populações necessárias para mitigar ou compensar as espécies fora de seu país de origem (PÉREZ;
CESP, 2000a) em relação à qualidade genética exploradas. alterações impostas à ictiofauna e à pesca ALFONSI; NIRCHIO; MUÑOZ; GÓMEZ, 2003).
268 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Estocagem 269

A FAO, que atualmente estabelece e apóia reconhecimento implícito dos riscos dessas anteriormente, apenas após 12 anos da o apaiari Astronotus ocelatus e o tambaqui
protocolos e códigos de conduta na estocagens para a biodiversidade, não são interrupção da estocagem. Ressalva-se, a Colossoma macropomum, todas provenientes da
introdução de espécies, até recentemente explicitados os mecanismos de propósito dessa espécie, que sua estocagem bacia Amazônica. Várias delas tiveram seus
estimulava tal prática, através de suas biossegurança que manteriam essas espécies no Nordeste e em alguns reservatórios propágulos oriundos de estações de
publicações. É emblemático o documento em apenas um trecho da bacia ou menores da bacia do rio Paraná tem sido piscicultura do Nordeste, onde haviam
divulgado por essa entidade e de autoria de reservatório. bem-sucedida. também sido introduzidas. Algumas espécies
Sugunan (1997) que, dentre diversas típicas da bacia do rio Paraná foram, por
recomendações sobre a pesca e aqüicultura, Como resultado de opiniões semelhantes, a Além da tilápia, atualmente bem- outro lado, introduzidas em reservatórios da
sugere que alguns países introduzam tilápias América do Sul figura hoje como o estabelecida em alguns reservatórios da bacia Leste e na do rio Paraíba do Sul (Tabela
e carpas onde elas ainda não foram continente com o maior número de bacia do rio Paraná, nos açudes nordestinos e 6.2.3). Como visto, de todas essas espécies,
introduzidas, para que a produção de introduções de peixes (WELCOMME, 1988; na bacia do Leste, outras espécies de apenas a corvina e o tucunaré têm
pescado aumente. O trecho a seguir é uma AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR, 1996), a despeito de continentes diferentes figuraram nos participação relevante na pesca,
tradução literal de uma de suas contar com a maior diversidade programas de estocagem do setor curiosamente espécies que não fizeram parte
recomendações: “As restrições do IBAMA ictiofaunística do planeta. É parodoxal que hidrelétrico (carpas, black bass e trutas), sendo dos programas de estocagem oficiais. Os
sobre a estocagem de reservatórios brasileiros essa posição de destaque seja compartilhada registradas nos ambientes naturais, porém indícios obtidos em estudos recentes
precisa ser revisada com base em assessorias com a de maior exportador de espécies de com baixa ou nenhuma participação na pesca demonstram que o custo ambiental dessas
científicas seguras. Reservatórios selecionados sob peixes para as águas da América do Norte artesanal. introduções foi elevado, visto que são
a concessão de agências de eletricidade e irrigação (32%das espécies introduzidas; FULLER; NICO; predadoras e têm efeito devastador sobre
devem ser estocados através de uma apropriada WILLIAMS, 1999). Entre as espécies não-nativas que foram espécies de pequeno porte ou jovens
transferência de espécies entre-bacias e entre- objeto de estocagem pelo setor hidrelétrico daquelas de grande porte (SANTOS; MAIA-
fronteiras, no intuito de melhorar o rendimento A propósito das estocagens com espécies na bacia do rio Paraná, destacam-se a BARBOSA; VIEIRA; LÓPEZ, 1994; SANTOS;
pesqueiro. A atual política de produção de alevinos não-nativas, é oportuno reafirmar que sardinha de água doce Triportheus angulatus, FORMAGIO, 2000; LATINI; PETRERE JUNIOR, 2004).
e estocagem somente de espécies nativas e a aquelas com importância na pesca, como a
construção de transposições podem não resultar corvina P. squamosissimus, o tucunaré Cichla
Tabela 6.2.2 - Espécies de peixes introduzidas em reservatórios da região Sudeste, a partir
em benefícios factíveis”. Embora a conclusão spp. e as tilápias Oreochromis niloticus e Tilapia de programas de estocagem realizados pela CESP (CESP, 1998). São apresentados o
desse curioso texto esteja condizente com as rendalli, parecem ter se estabelecido na bacia número de peixes liberados no período indicado, e o número de reservatórios
contemplados com o programa (em parênteses)
avaliações feitas aqui e em outros tópicos do rio Paraná por outros mecanismos que
deste capítulo, as recomendações não os programas de povoamento Espécies Período Tietêê Paranapanema Paraná Grande Paraíba do
Sul
demonstram profundo desconhecimento das desenvolvidos pelo setor elétrico. A corvina
Bacias brasileiras
experiências e a realidade dos grandes foi objeto de estocagem em apenas um ano,
reservatórios brasileiros, ou que foram tendo sido utilizados menos de 12 mil Apaiari 1975 - 1985 201.969 (4) 50.300 (2) 459.581 (2) 96.435 (1) 1.200 (1)

elaboradas com base nas informações de alevinos (Tabela 6.2.2). Acredita-se que sua Corvina 1975 - 1977 0 0 11.800 (2) 0 0

assessorias cientificamente pouco sólidas. introdução tenha ocorrido pelo rompimento Sardinha 1975 - 1990 9.489.000 (5) 1.380.000 (2) 5.139.650 (2) 1.237.000 (1) 0
de um açude no rio Pardo. O tucunaré, por
Trairão 1975 - 1987 60.400 (4) 357.580 (2) 343.337 (2) 22.500 (1) 0
O autor sugere ainda que um número outro lado, não figura nos relatórios
Outros continentes
apropriado de reservatórios e trechos de rios disponíveis como uma das espécies
Carpa 1980 - 1984 2.025.499 (4) 1.209.557 (2) 1.677.637 (2) 373.227 (1) 456.212 (1)
deveria ser reservado como santuários para a introduzidas pelos programas. Finalmente a
proteção da biodiversidade, enquanto o tilápia, embora os dados não sejam ainda Tilápia do Nilo 1978 - 1989 20.198.765 (5) 7.629.200 (2) 7.306.897 (2) 2.367.245 (1) 1.583.541 (1)

restante seria massivamente estocado com conclusivos, ganhou relevância na pesca Truta 1980 - 1982 0 0 0 0 370.852 (1)

espécies não-nativas. Embora com um artesanal de Barra Bonita, como mencionado


270 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Estocagem 271

Todas as introduções citadas anteriormente promovessem algum tipo de controle sobre país o peixe-mosquito Gambusia, originário novas introduções de espécies, mas também
visaram o aumento da produtividade alguma espécie “indesejável” existente no da América Central e do Norte, o peixe-de- a empenhar-se no controle ou na erradicação
pesqueira. Porém introduções a partir de ambiente, promovendo alterações em nível briga asiático Betta, além de outros peixes daquelas já introduzidas nos corpos d’água
estocagens com a alegação de combate a populacional, da comunidade e até no pequenos. A documentação de tais brasileiros, a estocagem com espécies não-
pragas (controle biológico) também foram ecossistema. Como exemplo, para controlar introduções é obscura, e seu sucesso e nativas continua a ocorrer, tanto por
realizadas. Nesse caso, a esperança era de a infestação de larvas de mosquitos, foram possíveis impactos ainda são incógnitas. Da iniciativa de associações privadas, quanto
que os indivíduos da espécie liberada introduzidos em diversos cursos d’água do mesma forma, carpas asiáticas inadvertidamente por órgãos públicos,
(Ctenopharyngodon idella) foram introduzidas incluindo alguns que são responsáveis pela
em reservatórios do Sul e Sudeste para própria aplicação da lei. Suspeita-se que a
Tabela 6.2.3 - Algumas espécies de peixes transferidas entre bacias e sub-bacias por
programas de estocagem brasileiros erradicar macrófitas aquáticas. Entretanto, soltura de tucunarés para a pesca esportiva
Espécies Ilustração Bacia de Origem Bacia Introduzida
não existem registros de que essas carpas em reservatórios da bacia do rio Paraná
tenham eliminado porções significativas da esteja sendo feita clandestinamente por
Curimba
Paraná Doce e Paraíba do Sul vegetação aquática em reservatórios. De pescadores esportivos, visto que essa espécie
Prochilodus spp.
qualquer maneira, em nenhum momento foi tem registro de ocupação de novos
Dourado
Paraná Doce e Paraíba do Sul
considerado o papel relevante que a ambientes a cada ano.
Salminus brasiliensis vegetação aquática exerce na manutenção de
uma rica assembléia de invertebrados e
Espécies nativas
Mandi
Paraná Doce e Paraíba do Sul
Pimelodus spp. algas, que formam a base da teia alimentar
de muitas espécies de peixes. Além disso,
Caborja
Paraná Paraíba do Sul abrigam populações de peixes de pequeno Ao contrário do que aponta o senso comum,
Hoplosternum litoralle
porte e jovens de espécies maiores (SÁNCHEZ- a liberação inadvertida de espécies nativas,
Piranha
BOTERO; ARAÚJO-LIMA, 2001; CASATTI; MENDES; criadas em cativeiro, também pode
Paraná Doce
Pygocentrus nattereri FERREIRA, 2003; AGOSTINHO; GOMES; JÚLIO JÚNIOR, promover impactos ambientais, como a
Surubim 2003; PELICICE; AGOSTINHO; THOMAZ, 2005). degeneração genética (HINDAR; RYMAN; UTTER,
Paraná Doce
Como último exemplo, tucunarés foram 1991; VIEIRA; POMPEU, 2001). As estações
Pseuplatystoma spp.
usados para combater o nanismo de tilápias produtoras de alevinos estabelecidas no
Peixe-Rei
Prata Paraná em aqüicultura ou reduzir populações de Brasil, com raras exceções, negligenciam a
Odonthestes bonariensis
piranhas em açudes (FONTENELE; PEIXOTO, variabilidade genética dos reprodutores. É
Tambaqui
Amazônica Paraná, Paraíba do Sul e Nordeste 1979). Esses e outros exemplos de uso de normal que, para a produção de alevinos
Colossoma macropomum peixes para controle biológico foram muito para a piscicultura, ocorra uma seleção
Tucunaré Paraná, Doce, Paraíba do Sul, difundidos no Brasil, inclusive por órgãos genética artificial em favor de certas
Amazônica
Cichla spp. São Francisco e Nordeste públicos, sendo que na maioria dos casos as peculiaridades do peixe, privilegiando a
ações foram tomadas sem nenhuma base criação de reprodutores com características
Corvina
Parnaíba Paraná, Paraíba do Sul e Nordeste
técnica ou científica, que assegurasse a zootécnicas mais adequadas à produção
Plagioscion squamosissimus
eficiência da introdução para a finalidade (tamanho, cor, crescimento) e, portanto,
Apaiari
Amazônica Paraná e Nordeste proposta. geneticamente menos diversos. Além disso,
Astronotus ocelatus os alevinos e jovens utilizados nas
Pirarucu Embora o Brasil seja signatário da estocagens, em geral, provêm de poucas
Amazônica Nordeste
Arapaima gigas Convenção da Biodiversidade, pela qual o matrizes, se comparado ao ambiente natural
país se compromete não apenas a combater e, portanto, comportam baixa variabilidade
272 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Estocagem 273

genética. A prole produzida por um número Quando o plantel de uma estação produtora se menos adaptados às condições naturais e indivíduos selvagens e aqueles obtidos
limitado de reprodutores leva à redução do de alevinos permanece isolado por algumas podem transmitir essas características à artificialmente (incluindo híbridos), a
pool gênico populacional que, com uma gerações, a seleção artificial age no sentido população já existente no corpo d’água. performance da parcela selvagem é sempre
estocagem intensiva, pode aumentar os de produzir mudanças nas características Dados analisados por Philipp e Claussen superior. A adaptação das populações às
níveis de consangüinidade na população genéticas dos indivíduos (fisiológicas, (1995) revelam diferenças genéticas e particularidades locais do ambiente tem
silvestre. Entre os efeitos já comprovados morfológicas e comportamentais), que fisiológicas entre estoques de black bass relação direta com esse fenômeno.
que isso pode provocar estão a redução nas diferem significativamente da população Micropterus salmoides na América do Norte,
taxas de crescimento, sobrevivência, nativa e que podem ser transmissíveis para sendo que os não-nativos exibem menor Esses exemplos mostram que, mesmo se
conversão alimentar e o aumento na outras gerações (KINCAID, 1995). Esses eficiência reprodutiva e desempenho geral tratando de espécies nativas, a liberação
incidência de anomalias (KINCAID, 1995; ver indivíduos, privados da atuação da seleção que os nativos. Outra possibilidade é a de inadvertida e em grandes quantidades pode
Box 6.2.1). natural nas etapas iniciais da vida, mostram- que o estoque liberado ou seus descendentes, levar à progressiva degradação do pool
inclusive a prole resultante de cruzamento gênico, sendo essa ocorrência tão impactante
com a população selvagem, não sobrevivam quanto a introdução de um piscívoro voraz
Box 6.2.1 ou tenham elevada mortalidade no ambiente ou a degradação da qualidade da água.
Melhor função para a estocagem de peixes e manejo de recursos aquáticos. natural, devido à menor performance Porém a degradação genética tem uma séria
exibida pelos indivíduos mantidos em agravante: ela não produz efeitos visíveis a
WHITE, R. J.; KARR, J. R.; NEHLSEN, W. Better roles for fish stocking
cativeiro. Esse fenômeno tem sido olho nu, e somente técnicas e análises
and aquatic resource management. In: SCHRAMM, Jr., H. L.; PIPER,
R. G. (Ed.). Uses and effects of cultured fishes in aquatic freqüentemente descrito para espécies de específicas podem quantificar tais efeitos.
ecosystems. Bethesda, Maryland: American Fisheries Society, 1995. Quando suas conseqüências são detectadas, a
salmonídeos (HINDAR; RYMAN; UTTER, 1991).
p. 527-547. (American Fisheries Society Symposium, 15).
situação pode não ser mais reversível.
“A propagação artificial e estocagem de peixes tem sido uma característica marcante nos programas de Outro problema com a estocagem de
manejo da pesca em reservatórios da América do Norte, desde seu início há mais de um século. A despeito suplementação é o uso de alevinos oriundos Entretanto, a estocagem com espécies nativas
dos questionamentos que têm sido levantados durante muito tempo acerca da efetividade destas estocagens, de bacias diferentes e com pool gênico tem outros problemas além dos genéticos,
cidadãos, agências de pesca e legisladores freqüentemente baseiam suas esperanças de pesca futura nos distinto. Populações isoladas entre si tendem destacando-se os desequilíbrios impostos nas
programas de estocagem. São abundantes as evidências de que o desempenho (sobrevivência e reprodução) relações interespecíficas pela adição artificial
a ser selecionadas, cada uma, para um
de peixes de estações produtoras de alevinos seja inferior àquele de co-específicos selvagens, assim como
melhor desempenho às condições locais. A de novos elementos na ictiocenose, a
também o são os danos que os peixes estocados podem produzir nas populações naturais. Tão importante e
mistura pode resultar na perda dessas possibilidade de disseminação de patógenos
danoso como os problemas anatômicos e fisiológicos são aqueles comportamentais vigentes logo após a
estocagem, sendo que estes últimos recebem menos atenção dos programas, talvez pela maior dificuldade na características ajustadas nas condições veiculados pela água, sendo que esta última
solução. A severidade dos problemas induzidos pela produção artificial dos alevinos aumenta com a duração peculiares do ambiente, através de trocas pode ocorrer tanto com a estocagem de
do período que os indivíduos permanecem sob cultivo. A produção de peixes maiores e um maior número de gênicas. Dessa maneira, a estocagem espécies não-nativas, quanto com nativas
gerações de peixes reproduzidos artificialmente aumentam a chance de problemas. Quando uma população suplementar de dourado (S. brasiliensis) estocadas a partir de estações de cultivo (ver
com capacidade de reprodução já existe no ambiente, a estocagem é pouco recomendada. Suplementação, ou realizada no rio dos Sinos (RS) a partir de Capítulo 6.3).
seja, estocagem de progênie de alevinos selvagens é, especialmente, um contra-senso. Os programas poderiam
plantel de reprodutores obtido no pantanal
ser aprimorados se uma melhor avaliação do desempenho de alevinos liberados no ambiente e do efeito destes
mato-grossense (MS) representaria um risco
sobre as populações selvagens fosse realizada e seus resultados considerados. Avaliações de programas de
para as populações daquele rio, dada a Considerações Finais
estocagem deveriam ir além de considerações sobre custos operacionais e valores monetários do peixe para
a pesca; ela deveria computar os custos e benefícios econômicos e ecológicos, em um contexto social. Análises menor tolerância a baixas temperaturas
de impactos ambientais da estocagem deveriam ser realizadas para cada espécie e corpo d’água. Programas esperada no pool gênico introduzido. Hindar, D o exposto neste tópico, concluímos que,
estaduais, provinciais, tribais e federais deveriam recorrer à estocagem de peixes apenas no contexto de Ryman e Utter (1991) relatam, através de da forma como são conduzidas, as estocagens
políticas ecologicamente consistentes. A prioridade principal dos programas de pesca deveria ser a proteção diversos exemplos empíricos, que, quando é definitivamente não são recomendadas. Os
dos estoques nativos e selvagens e do ambiente do qual ela depende.” possível a comparação do desempenho entre programas carecem de metas e objetivos
274 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

claros e não podem prescindir de uma vinte etapas devem ser cuidadosamente

6.3
avaliação continuada, tanto do sucesso da analisadas, e a cada etapa evadida a incerteza

Capítulo
ação quanto dos possíveis impactos. Assim, de sucesso aumenta progressivamente. Logo,
para que estas tenham algum papel na se a intenção é a utilização da estocagem
conservação dos recursos pesqueiros e da como forma de manejo, e a situação apontá-
ictiofauna brasileira, uma reformulação é la como medida necessária, muitos detalhes
necessária, da concepção à elaboração de
ações específicas.
deverão ser sempre considerados e analisados
atentamente a priori. Concluindo, a
Aqüicultura
estocagem requer muita informação para ser
Para exemplificar a complexidade do bem-sucedida e, por isso, torna-se uma
processo decisório e executivo de um projeto
de estocagem, Cowx (1994) apresenta um
modalidade de manejo complexa (NOBLE;
Introdução projetos de desenvolvimento. Entretanto, é
JACKSON; IRWIN; PHILLIPS; CHURCHILL, 1994; comum que fracassos econômicos ou
diagrama envolvendo o cumprimento de COWX, 1999; PEARSONS; HOPLEY, 1999; SIROL; ambientais sejam ignorados e conflitos de
exigências e subseqüentes decisões, BRITTO, 2005), muito diferente do esquema E mbora, em seu sentido restrito, a prioridades entre a conservação e o
particularmente voltadas para a pesca. Da no qual ela foi conduzida em águas aqüicultura não possa ser enquadrada desenvolvimento sejam recorrentes.
questão inicial, que deve impor os objetivos brasileiras até os dias de hoje, caracterizado como uma atividade de manejo de recursos
para o manejo da pesca, até o estágio em que pela falta de cuidado, critério e pesqueiros, as políticas públicas De um lado, situa-se a necessidade de
a estocagem é de fato concretizada, quase conhecimento. atualmente vigentes preconizam seu uso atender à demanda de alimento,
como uma forma de reduzir as pressões de exacerbada pelo crescimento populacional
pesca sobre os estoques naturais, tanto pelo e exaustão dos estoques explorados, e, de
envolvimento de pescadores na atividade outro, a urgência em se conservar os
de produção quanto no afrouxamento da recursos naturais e os serviços
demanda do pescado produzido pela ecossistêmicos, incluindo a água de
atividade extrativista. abastecimento, esta escassa, maldistribuída
e também com demanda crescente.
Considerada uma atividade econômica
importante e uma maneira eficiente de Embora seja uma prática antiga, a
produzir alimento, a aqüicultura, como aqüicultura tem ainda uma fraca base
outras atividades produtivas, afeta o científica (PILLAY, 2004) e muito do esforço
ambiente de forma mais ou menos intensa, da pesquisa nessa área é voltado ao
estando essa gradação geralmente desenvolvimento de tecnologias de
relacionada à modalidade com a qual o produção e ao manejo das condições do
cultivo é praticado (extensiva, semi- ambiente dentro dos tanques, pouco sendo
intensiva, intensiva). investigado acerca de sua sustentabilidade
ambiental.
Nessa área, a exemplo de outras, é
constatado que experiências de uma A aqüicultura recebeu vultosos
produção ecologicamente não-sustentável investimentos após a Segunda Guerra
acabam sendo consideradas no Mundial, quando seu potencial produtivo
delineamento de políticas públicas e começou a ser reconhecido no mundo
276 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aqüicultura 277

ocidental. Até então, o cultivo de organismos de práticas de manejo intensivo e o Assim, entre os anos 1995 e
aquáticos, como forma de produção de desenvolvimento da atividade em escala 2000, enquanto a pesca 250.000

alimentos e geração de renda, era valorizado industrial, têm gerado preocupações nos extrativa interior
basicamente em países asiáticos. Esse órgãos de controle ambiental, sendo apresentava tendências à 200.000

Produção Total (t)


sistema, conduzido por milhares de anos de exigidos, na maioria dos países, programas estagnação (~ 200.000 t ano-
150.000
forma artesanal, familiar e em pequena que assegurem sua sustentabilidade 1
), a aqüicultura teve um
escala, foi absorvido pela demanda ambiental e incorporem medidas de aumento de produção
100.000
econômica de países desenvolvidos, e desde minimização, mitigação ou compensação de progressivo e substancial
as décadas de 1960 e 1970 vem adquirindo impactos adversos (PILLAY, 2004). (Figura 6.3.1) (IBAMA, 2002).
50.000 Extrativa
características cada vez mais industriais. O Por exemplo, em 1995, a
Aqüicultura
resultado tem sido o crescimento Além das alterações de hábitats, mais aqüicultura representava 0
progressivo da produção da aqüicultura evidentes nos cultivos em áreas de cerca de 17% da produção 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

mundial, a um ritmo superior a 9% ao ano. manguezais ou em áreas de preservação total em águas continentais,
Anos

permanente, a aqüicultura tem sido passando para 40% em 2000. Figura 6.3.1 - Produção de pescado em águas interiores no Brasil,
associada à introdução de espécies, incluindo de 1995 a 2000 (Fonte: IBAMA, 2002).
Similar à Revolução Verde desencadeada na
agricultura no século passado, vem-se doenças e parasitas, e à deterioração da A produção brasileira de
proclamando que a atividade de aqüicultura qualidade da água pelos seus efluentes. aqüicultura em águas interiores é quase toda Dessa maneira, crescimento efetivo foi
presenciará revolução análoga, também em Neste tópico, pretende-se discutir a atividade composta por peixes (96%), com menor constatado apenas na última década. Apesar
âmbito mundial: a Blue Revolution de cultivo de peixes no Brasil, com ênfase na participação de camarão (3%) e rã (0,5%). A de todo esse otimismo econômico, derivado
(Revolução Azul). Isso tem motivado os aqüicultura em águas públicas, como parte região Sul do país é a maior produtora, em grande parte das facilidades de vazão da
governos a realizarem grandes dos usos múltiplos de reservatórios. representando mais da metade do total produção proporcionada pelos clubes de
investimentos no setor, com nacional (53%), seguida pelas regiões Sudeste lazer (pesque-pagues), essa perspectiva é
desenvolvimento de metodologias mais (24%) e Centro-Oeste (11%) (IBAMA, 2002). contrabalanceada fortemente com a falta de
Problemas na Aqüicultura organização da atividade, em termos de
produtivas e uma conseqüente expansão de
toda indústria. A expectativa é de que a Brasileira Ressalta-se, no entanto, que a expectativa em distribuição de tecnologias, pesquisa,
aqüicultura resolva o problema dos estoques relação a esta atividade é antiga no país, ordenação e comercialização da produção
exauridos pela pesca extrativista, tornando- A exemplo do que se verificou em todo o tendo sido amplamente patrocinada pelo
poder público no século passado, quando
(BORGHETTI, 2000; EMBRAPA, 2005). Isso faz
com que inexistam políticas concretas que
se, conseqüentemente, a “salvação” mundial mundo, a aqüicultura brasileira mostrou
na produção de alimentos. considerável crescimento na última década, várias iniciativas foram destinadas ao seu administrem e ordenem a implantação da
sendo considerada uma opção promissora de fomento, na maioria das vezes de forma atividade, o que, somado ao constante –
Por outro lado, na esteira desse investimentos e produção alternativa de equivocada. Estações e postos de piscicultura porém vago – incentivo governamental,
desenvolvimento, inúmeros problemas têm pescado. Com a diminuição das capturas de foram instalados em vários pontos do país e torna fácil e descontrolada a instalação de
sido registrados, especialmente em cultivos espécies nobres na pesca de águas interiores, muitas espécies foram introduzidas ou infra-estruturas de aqüicultura, gerando
costeiros. A aqüicultura tradicional, devido a uma possível sobrepesca e pela translocadas, sempre com a promessa de alta fracassos e o descrédito como atividade
praticada em pequena escala, com baixa construção de represamentos (ver Capítulo rentabilidade. No geral, essas iniciativas produtiva rentável.
tecnologia e insumos, era tida como uma 5), a aqüicultura tem sido vista como a resultaram em retumbantes fracassos,
atividade ambientalmente saudável, visto grande “salvação” da produção de pescado gerando lucros apenas aos produtores de A tendência constatada nos últimos anos, que
que atuava na reciclagem de resíduos no país, além de ampliar a possibilidade de alevinos, sendo exemplos emblemáticos os de resto é similar à verificada na “Revolução
agrícolas ou domésticos, reduzindo o absorver a mão-de-obra antes envolvida com casos do bagre africano e de várias espécies Azul”, é a de maximizar a produção,
montante desse tipo de poluição. Já a adoção a pesca extrativista. de tilápias. transformando uma aqüicultura de pequena
278 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aqüicultura 279

escala, mantida por ligações culturais, em à criação de peixes em tanques-rede ou Bo


Boxx 6.3.1
uma atividade com características industriais gaiolas, sendo essa uma das formas mais Como fazer uma pequena fortuna na aqüicultura?
(WHITE; O’NEILL; TZANKOVA, c2004), com óbvios intensivas de cultivo praticadas atualmente, WILCOX, J1. How to make a small fortune in aquaculture? Apopka, FL: Aquatic
Eco-Systems, c2004. Disponível em: <http://www.aquaticeco.com/index.cfm/
reflexos negativos de natureza social e estando em fase de expansão devido a um
fuseaction/ popup.techTalkDetail/ttid/38>. Acesso em: jul. 2006.
ambiental. A falta de melhor embasamento hipotético retorno rápido do investimento.
A brincadeira é “Como fazer uma pequena fortuna na aqüicultura? Inicie com uma grande fortuna”. Aqüicultura é estritamente
científico e a precariedade do ordenamento Embora o uso dessas estruturas em águas
um negócio pecuário. Cometa um erro e o seu cultivo definhará rapidamente. Cometa um erro diferente e as autoridades
culminou na criação de um enorme número públicas tenha sido facultado pelo Decreto sanitárias entrarão em seu negócio. Cometa ainda um outro erro e as autoridades poderão embargar os seus equipamentos,
de tanques espalhados por todas as bacias no 2.869, em 09/12/98, ele se tornou efetivo revogar sua licença ou executá-lo na justiça. Esta não é uma atividade para pessoas desorganizadas, despreparadas ou tímidas.
hidrográficas brasileiras, sendo que muitos apenas a partir de 2003, como parte do Aqüicultura não é uma maneira de enriquecimento rápido, freqüentemente não é nem mesmo uma forma de enriquecimento
lento! Toda pessoa bem-sucedida nesta atividade teve que passar por um trabalho duro, de longas horas, com investimento
mantêm ou cultivam organismos, mas, Programa Fome Zero, do Governo Federal.
relevante e grande sacrifício pessoal. Apenas alguns poucos que não eram ricos se tornaram ricos com a aqüicultura.
devido à interrupção no fluxo de Neste sentido, contribuiu a criação da Há algumas maneiras garantidas de fracasso na aqüicultura. São elas:
investimentos e dificuldades na Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca e a • Inicie seu negócio sem um planejamento: as falhas no planejamento são fatais: é como planejar o fracasso. Seguir
comercialização (após a decadência dos flexibilização dada pelo Decreto no. 4.895, de rigorosamente o planejado e suas revisões são atitudes fundamentais para o sucesso do empreendimento. Se você não sabe
para onde está indo, não vá.
pesque-pagues), pouco contribuem para a 25/11/2003, que revogou o anterior. Desde • Inicie seu negócio sem dinheiro suficiente: pouco capital é a causa número um do fracasso dos cultivos. Você deve estar
produção nacional. então, vários empreendimentos foram preparado para despesas não planejadas e perdas não esperadas. Se seus alevinos morrem, terá que repô-los. Se o preço da
iniciados, grande parte deles resultando em ração aumenta, mesmo assim terá que adquiri-la. Se o aerador quebra você deve consertá-lo rapidamente. Finalmente, se
A aqüicultura é uma atividade complexa, que você não tem capital para superar os imprevistos, não entre neste negócio.
fracassos retumbantes. As razões desses
• Empreste dinheiro de seus parentes e amigos: seus parentes podem querer lhe emprestar dinheiro, mas o não pagamento
exige aprendizado constante, grande fracassos são muitas e complexas, sendo a poderá deixá-los irados. Empreste de amigos apenas se você não os quiser mais como amigos. Evite usar sua casa como
dedicação, assistência técnica especializada e alegação mais comum a restrição legal ao garantia, você poderá ainda querer uma casa para morar se seu cultivo fracassar.
contínua, demanda de mercado e, acima de uso de espécies com tecnologias mais • Escolha a espécie a ser produzida antes de fazer uma pesquisa de mercado: muitos produtores decidem o que querem
produzir antes de saber se, ou como, podem ganhar dinheiro com isto. O propósito da aqüicultura é fazer dinheiro. Do
tudo, embasamento científico. O desprezo de conhecidas, especialmente as tilápias.
grupo de espécies aptas a tolerar seu sistema de cultivo e clima, selecione as mais rentáveis e destas, as que têm compradores
qualquer desses pré-requisitos explica o Entretanto, mesmo com o emprego dessa no preço esperado. Cultive a espécie errada e perderá até a camisa.
fracasso de tantos empreendimentos. O espécie nos sistemas de cultivo, a • Decida que espécie produzir antes de conhecer sua biologia: mesmo a espécie mais apreciada pelo mercado pode ser
documento “How to make a small fortune in rentabilidade esperada não tem sido impossível ou muito cara para produzir. Após sua pesquisa de mercado você deve avaliar se a espécie escolhida é compatível
com sua capacidade ou seu sistema de cultivo. Espécies que não foram bem-sucedidas em sua região, falharam por alguma
aquaculture?” (WILCOX, c2004), cuja síntese é alcançada, resultando em sucessivas razão. Conheça a sua biologia geral, ecologia, doenças, parasitas e especialmente a biologia reprodutiva, antes de qualquer decisão.
apresentada no Box 6.3.1, fornece uma desistências, como a verificada no • Gaste hoje o seu dinheiro com “tecnologia do futuro”: se um sistema lhe parece muito bom para ser verdadeiro,
excelente explicação sobre as razões desses reservatório de Furnas, no rio Grande cuidado! Muitos “sistemas de produção altamente produtivos” estão à venda. Peça para visitar um sistema que esteja
fracassos na piscicultura brasileira. A funcionando bem por cinco anos e ver seus documentos de lucros e perdas declarados à receita federal, antes de decidir.
(Dirceu Marzulo, informação verbal). Algum
• Escave seus tanques e depois corra atrás da licença: há regras restritivas para a atividade de aqüicultura comercial,
percepção errônea de que bastam água e sucesso tem sido observado, entretanto, em drenagem, represamento, uso de várzeas, armazenagem e escoamento de água, etc. Se você escava seus tanques antes de
alimento para que o cultivo funcione é a reservatórios do Nordeste, mesmo assim revisar as regras cuidadosamente, você estará sujeito a multas, poderá ter que interromper suas atividades, ou ser obrigado
causa principal das mazelas nesse setor com problemas de mortandades e subsídios a realizar um monitoramento muito caro.
• Estoque seus tanques com altas densidades durante os primeiros anos: baixa densidade de estocagem pode significar
produtivo. substanciais do Estado.
menos lucro, mas certamente significa menores riscos. Melhor conseguir uma lucratividade de 75% da máxima por alguns
anos que perder tudo enquanto você aprende com tentativas e erros. Certamente, você cometerá alguns erros sérios. Torne-
A aqüicultura brasileira é tradicionalmente Outra modalidade de cultivo que se tornou os tão baratos quanto possível.
praticada em tanques escavados (tanques de disseminada nas bacias hidrográficas das • Produza o peixe e então tente vendê-lo: a produção é apenas uma parte de seu negócio. Preços variam durante o ano.
terra), sendo essa modalidade responsável Assim, parte de seu planejamento deve ser dirigido para que sua colheita ocorra na época em que os preços estão no seu pico.
regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do
• Não faça parte de associações de aqüicultura: nas reuniões e discussões você pode ter oportunidades de aprender com
por grande parte da produção em águas Brasil foi a dos “pesque-pagues” os erros de outros produtores ao invés de ter que fazê-lo com os seus.
interiores. Por outro lado, temos assistido (FERNANDES; GOMES; AGOSTINHO, 2003). Essa • Não tenha contato com extensionistas: eles podem lhe fornecer literatura sobre as espécies, sistema de produção, manejo
nos últimos anos a uma tendência crescente modalidade não tem no cultivo sua da qualidade da água e outras tecnologias, bem como lhe proporcionar assessoria técnica e apoio continuado.
de ampliação do fomento pelo poder público principal finalidade. 1
Especialista em aquicultura da Florida A&M University.
280 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aqüicultura 281

De fato, são tanques de propriedade exigências legais em relação aos parques ou não é um bem coletivo. Para que não haja Assim, o desenvolvimento da aqüicultura e
particular e destinados à pesca recreativa e/ áreas aqüícolas, na maioria dos casos sequer distorções no caminho do desenvolvimento piscicultura brasileiras poderia desempenhar
ou à comercialização do pescado. Não se delimitadas. Cultivos ilegais, com espécies da aqüicultura, Valenti (2000) destaca que, importante papel na conservação da
constituem em sistemas auto-sustentáveis, não-nativas, são comuns em reservatórios da fundamentalmente, a atividade deve manter biodiversidade do país, se tivesse um
dependendo do aporte constante de juvenis e bacia do rio Paraná. a preocupação de se apoiar na tríade (i) planejamento abrangente e incluísse outros
adultos produzidos pela aqüicultura. produção, (ii) conservação de recursos objetivos, além dos puramente econômicos.
Participam, entretanto, de forma ativa na A falta de um controle efetivo dos orgão naturais e (iii) desenvolvimento social. O Um exemplo disso está no caso das espécies
cadeia produtiva da aqüicultura nas regiões responsáveis sobre a atividade faz com que a desvio ou a ênfase dada sobre qualquer um com estoques sobre-explotados em
do país em que estão disseminados. As proveniência dos animais cultivados não desses pilares pode derivar para ambientes naturais. As estratégias de manejo
flutuações no sucesso da aqüicultura nas obedeça aos critérios legais de sanidade, o conseqüências negativas em relação aos destinadas à conservação dessas espécies
regiões Sul e Sudeste do Brasil têm sido que, como veremos, traz uma série de demais. Além disso, com o envolvimento de poderiam se beneficiar com a produção
associadas ao sucesso desses conseqüências negativas. Aspectos como múltiplos atores no cenário, aumenta a artificial, pois teoricamente elas deveriam (i)
empreendimentos. esses colocam em risco a manutenção dos possibilidade de ocorrer conflitos pelo uso promover uma diminuição na pressão de
recursos aquáticos naturais do país e múltiplo dos recursos e do espaço, tornando explotação, visto que a produção para
O crescimento da aqüicultura é, portanto, legítimam a preocupação com o tema. necessário considerar uma quarta dimensão, consumo é mantida em tanques artificiais, e
uma fonte permanente de preocupações a político-institucional (ASSAD; BURSZTYN, 2000). (ii) criar oportunidades de estocagem
ambientais e, conseqüentemente, sociais. Em temporária, especialmente nos casos de
relação aos custos ambientais, destacam-se o Distorções na Atividade Infelizmente, no Brasil, e também no resto tanques-rede, para liberações posteriores nos
comprometimento da integridade de do mundo, a atividade tem-se impulsionado ambientes naturais, assegurando maiores
hábitats críticos, da qualidade da água e dos
recursos naturais e, principalmente, a É consenso que uma aqüicultura bem
por objetivos essencialmente econômicos e
políticos. Essa forma de produção segue na
chances de sobrevivência dos indivíduos nos
programas de repovoamento destinados a
introdução de espécies não-nativas, que planejada pode ser benéfica para o contramão das tendências modernas de melhorar geneticamente os estoques nativos
podem causar alterações ambientais desenvolvimento econômico do setor e do desenvolvimento, nas quais a atividade (ver Capítulo 6.2).
permanentes, a ponto de promover rupturas país, e até mesmo para a conservação e produtiva tem, a cada dia, procurado sua
em sistemas de produção tradicionais. Aliás, aproveitamento dos recursos naturais. Como sustentabilidade ambiental. A A redução na pressão de pesca sobre
em termos mundiais, a aqüicultura é discutiu Valenti (2000), a aqüicultura transformação das formas de cultivo estoques naturais tem sido uma das mais
considerada o principal vetor de dispersão nacional pode ser uma importante tradicional para uma escala industrial, com famosas argumentações, de ordem
de espécies não-nativas (ORSI; AGOSTINHO, 1999; ferramenta no estímulo ao aproveitamento incentivos do poder público no ambiental, em prol da implantação de
NAYLOR; WILLIAMS; STRONG, 2001; LIMA JUNIOR; de recursos locais, contribuindo para a estabelecimento de grandes sistemas de aqüicultura (NAYLOR; GOLDBURG;
LATINI, 2006). geração de renda e criação de trabalho para empreendimentos, que concentram o capital PRIMAVERA; KAUTSKY; BEVERIDGE; CLAY; FOLKE;
comunidades tradicionais. produzido, contribui enormemente no LUBCHENCO; MOONEY; TROELL, 2000).
Esse quadro é particularmente preocupante agravamento das desigualdades sociais. As Entretanto, a realidade tem-se mostrado
em relação aos usos de águas públicas, Por outro lado, quando conduzida de forma grandes fazendas de cultivo de organismos muito diferente, e justificativas desse tipo
especialmente em reservatórios. O impulso descuidada, pode facilmente se transformar aquáticos em áreas costeiras são exemplos são facilmente contraditas pela conduta dos
dado ao setor, como parte das políticas em ferramenta de acumulação de riquezas e, dessa distorção, onde os hábitats naturais próprios responsáveis pela produção. O
públicas visando a produção de alimento, conseqüentemente, em vetor de miséria são alterados, espécies e doenças aspecto de maior relevância é a predileção
tem levado à implantação desordenada de social e degradação ambiental. A própria introduzidas, recursos explorados de do setor pelo cultivo de espécies não-nativas
tanques-rede em áreas de relevância para a natureza do recurso dificulta sua gestão, maneira coletiva são depauperados, com e o esforço reduzido em buscar alternativas
biodiversidade e para o recrutamento da pois, diferentemente dos recursos pesqueiros passivos ambientais que deverão ser pagos na fauna local. Fato curioso é que este tema
fauna nativa, não sendo observadas as naturais, a produção gerada pela aqüicultura pela sociedade. tem sido recorrente ao longo de pelo menos
282 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aqüicultura 283

trinta anos, tendo sido considerado papel econômico e social, gerando renda e (KUBITZA; ONO; LOPES, 2001). Essa é uma das direto. Destaque nesse caso para as fazendas
prioritário em alguns congressos nacionais disponibilizando proteína de alta qualidade razões da tendência de reversão no que destinam sua produção exclusivamente à
que buscavam soluções para a pesca e a às camadas sociais mais carentes. Esse crescimento da atividade no Sul-Sudeste do fabricação de ração e outros insumos
aqüicultura brasileiras (ENCONTRO NACIONAL propósito encontra, entretanto, restrições na Brasil nos últimos anos. Dessa maneira, é agropecuários, utilizados na alimentação de
SOBRE LIMNOLOGIA..., 1976; ENCONTRO NACIONAL escala em que ela deve ser praticada para que esperado que a única chance de a aqüicultura peixes, frangos, suínos e outros animais
DE PESQUISA PESQUEIRA, 1980; SAINT-PAUL, 1986). seja rentável. Por essa razão, as exercida por pequenos produtores ser (NAYLOR; GOLDBURG; PRIMAVERA; KAUTSKY;
Após várias tentativas fracassadas com oportunidades de produção de peixes viabilizada, especialmente em águas BEVERIDGE; CLAY; FOLKE; LUBCHENCO; MOONEY;
dezenas de espécies não-nativas, tidas oferecidas pelos programas governamentais públicas, é a organização em grandes TROELL, 2000).
inicialmente como salvadoras, apenas a aos pequenos produtores, especialmente em cooperativas, assessoradas por especialistas,
tilápia do Nilo é considerada satisfatória e a tanques-rede nas águas públicas, têm-se com pesados investimentos governamentais Uma demanda particularmente elevada e
busca por alternativas exóticas ainda revelado ineficazes. Dificuldades na e após uma análise racional do mercado. crescente tem sido constatada na própria
continua. aquisição de insumos, precariedade da aqüicultura. Para manter cultivos intensivos
assistência técnica e obstáculos na Quanto à produção de proteínas para são requeridas quantidades fantásticas de
Os dados da produção nacional não deixam comercialização são alguns dos problemas consumo humano, o pescado ainda não é insumos (rações e fertilizantes), oriundos da
margem a dúvidas. Do total produzido pela encontrados nessas iniciativas. Os uma das opções mais baratas no mercado, o aqüicultura ou da pesca extrativista (NAYLOR;
piscicultura no ano de 2000, que somou beneficiários dessa atividade são geralmente que dificulta sua acessibilidade à maioria das GOLDBURG; PRIMAVERA; KAUTSKY; BEVERIDGE;

quase 133.000 t, 68% corresponderam à os produtores de alevinos. A venda de camadas da população humana. Assim, o CLAY; FOLKE; LUBCHENCO; MOONEY; TROELL,

produção de espécies não-nativas, alevinos é comércio certo, enquanto que o elevado valor do pescado, necessário para 2000). Existem cultivos, principalmente na
basicamente tilápias e carpas (Tabela 6.3.1). escoamento da produção de pescado pode cobrir os custos de produção, ainda não é piscicultura de espécies carnívoras, em que
Esta claro que estas espécies compõem a base apresentar notáveis flutuações. Por exemplo, compatível com os objetivos dos que são necessários 5 kg de peixe de menor
da produção da piscicultura no país. com a diminuição do comércio de pesque- enxergam essa produção como alternativa qualidade – pescado ou cultivado – para se
Conseqüentemente, devido à falta de pagues, um superávit na produção de peixes viável à erradicação da fome no país. Outra produzir 1 kg da espécie de interesse. Grande
predileção pelo cultivo de espécies nativas, a tem sido constatado, o que dificulta seu agravante é que parte considerável da parte das importações de pescado realizadas
atividade não pode aliviar qualquer pressão escoamento e provoca a queda dos preços produção não é destinada ao consumo pelos Estados Unidos a partir de produtores
extrativista, visto que os humano direto. No Brasil, o mercado que asiáticos é destinada à produção de insumos
preços não são atrativos mais absorve a produção da piscicultura é o para a aqüicultura. Parte dos desembarques
Tabela 6.3.1 - Produção de espécies exóticas e um híbrido
(custo de produção elevado). (tambacu) através da aqüicultura, no ano de 2000 (IBAMA,
dos pesque-pagues (KUBITZA; ONO; LOPES, da pesca oceânica também tem a mesma
Além disso, a predileção 2002). A tabela também apresenta a produção de peixes 2001), de onde o pescado poderá, destinação.
total para o ano, considerando todas as espécies
pelas espécies nativas eventualmente, ser consumido. Entretanto,
cultivadas no país
migradoras, como se como esses estabelecimentos destinam o Embora esses fatos tenham sido levantados
depreende de seus elevados
Espécies Produção (t) Participação (%)
produto à recreação, ocorre um considerável na aqüicultura do hemisfério Norte, parecem
preços no mercado, sugere
Carpa 54.566 41
aumento de preço, que o torna proibitivo não estar restritos a ele. Embora pontual, o
que estas continuarão a ser Tilápia 32.459 24 para o consumo das camadas mais carentes desenvolvimento da aqüicultura em tanques-
pescadas. Tambacu 8.763 6,6 da população. rede em reservatório tem levado ao uso
Bagre-de Canal 1.867 1,4 crescente de espécies de baixo valor
Os esforços de fomento à Truta 1.447 1,1 Embora não haja levantamentos sistemáticos comercial capturadas na pesca extrativista
aqüicultura desenvolvidos Bagre-Africano 478 0,4 acerca da destinação do pescado produzido, para o preparo de insumos alimentares,
pelo governo poderiam se Total 99.580 75 em âmbito mundial, grande parte da destinados ao cultivo (Figura 6.3.2). Isso tem
justificar, então, por ela Produção Total 132.955 produção da piscicultura também se destina sido constatado inclusive com espécies que
desempenhar importante a outros fins, alheios ao consumo humano anteriormente eram consumidas pelas
284 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aqüicultura 285

famílias de pescadores artesanais e que tanto a verdade como naquele da à atividade e que logo estarão instalados em
constituíam a fonte primária de proteína, a aqüicultura. Números inconsistentes são reservatórios de diversas bacias brasileiras
dado que os peixes de maior valor comercial tirados de expectativas como se fossem (AGOSTINHO; GOMES; SUZUKI; JÚLIO JÚNIOR, 1999).
são vendidos. Isso tem duas implicações reais. Um exemplo emblemático é o do O mais lamentável, entretanto, é que os
relevantes: (i) transforma em falácia pelo potencial da aqüicultura em águas públicas, dados atuais não permitem assegurar sua
menos o argumento de que a aqüicultura é onde a cadeia produtiva se resume a alguns rentabilidade econômica, pelo menos para o
ambientalmente saudável por reduzir as cálculos envolvendo a lâmina d’água, produtor, especialmente o pequeno, que
pressões sobre os estoques naturais, e (ii) ignorando propositadamente as restrições geralmente é o mais influenciado pela mídia.
tem um efeito social inesperado e oposto ao ambientais e os outros elos da cadeia.
apregoado no Programa Fome Zero, no qual
os programas de aqüicultura têm posição de A forma como o desenvolvimento da Problemas Socioambientais
destaque. aqüicultura vem sendo preconizado está
justamente sendo acusada de incompatível
Por fim, a aqüicultura pode se justificar por com a conservação da biodiversidade e a C onsiderando as estimativas do número
trazer oportunidades econômicas e sociais às manutenção do funcionamento de de aqüicultores no Brasil e a área ocupada
comunidades envolvidas com a atividade, o ecossistemas naturais. A banalização dos pelos seus estabelecimentos (Tabela 6.3.2),
que seria justo. Sobre isso, o artigo publicado problemas ambientais claramente quase 95.000 pessoas estão envolvidas na
por Ostrensky e Viana (2004) é contundente. comprometerá sua própria viabilidade, pois atividade, ocupando uma área de quase
b
Segundo esses autores, o estímulo inicial a aqüicultura depende dos recursos locais e 61.000 ha (BENITES, 2000; PEREIRA; SILVA;
dado ao micro e pequeno produtor é logo da manutenção da integridade ambiental da CORREIA, 2000; PEZZATO; SCORVO-FILHO, 2000;

transformado em carência de tecnologias, área onde ela se insere. Basta lembrar que o POLI; GRUMMAN; BORGHETTI, 2000; VAL; ROLIM;

falta de capacitação técnica, de capital, de componente básico desse sistema produtivo RABELO, 2000). Certamente o número de

orientação e de organização. O resultado é o é a água, e que sem ela não existe a pessoas envolvidas está amplamente
agravamento da situação do produtor em atividade. Contudo, a água é o primeiro subestimado, já que por todo o país existem
direção à condição de miséria. Como recurso a ser degradado numa aqüicultura milhares de pequenos produtores exercendo
exemplo, a receita média diária obtida na Figura 6.3.2 - Algumas espécies de baixo irresponsável. a atividade de forma clandestina, com
valor comercial, antes destinadas ao
safra de 2003-2004 por aqüicultores do Estado consumo próprio ou processadas tanques em condições irregulares, inclusive
do Paraná, um dos maiores produtores de para a venda (a), agora são desviadas Se o setor mantiver o ritmo de crescimento instalados em áreas de preservação
para produzir a ração dos peixes em
peixes cultivados do país, ficou abaixo da cultivo (b), fato que pode privar
(~ 9% ao ano, no mundo) e não mudar suas ambiental permanente.
linha de pobreza estabelecida pela ONU, que famílias de pescadores de uma condutas, existe a real possibilidade de, em A maior parte dos aqüicultores
importante fonte de proteína (Fotos:
corresponde a uma receita de US$ 1,00 por E. K. Okada).
breve, a atividade ser classificada como o inventariados está concentrada no eixo Sul-
dia (OSTRENSKY; VIANA, 2004). A ausência da principal vetor de impactos ambientais a Sudeste e, coincidentemente, essas regiões
atuação do poder público tem papel ecossistemas aquáticos continentais e possuem o maior número de reservatórios
determinante na deterioração da condição Não se pretendeu com essa discussão a marinhos, ou mesmo se igualar a sistemas hidrelétricos (ver Capítulo 3), o que
social das pessoas envolvidas, visto que condenação dos propósitos da aqüicultura, de agropecuária, em termos de poder de desperta grande inquietação, em vista dos
muitas vezes o Estado apresenta a mas, sim, que os problemas nela existentes modificação de hábitats e biota. O estímulo conflitos e outros problemas que
aqüicultura como alternativa viável, sejam honestamente colocados e a busca de dado ao cultivo em tanques-rede, uma das fatidicamente surgirão na gestão desses
desengaja as pessoas de suas antigas soluções conduzida com responsabilidade mais intensivas formas de cultivo, é mais ambientes, dado que estes ambientes
ocupações e deixa-as, em seguida, à mercê de econômica, social e ambiental. Em poucas uma tendência geradora de preocupação, concentram os problemas de usos
uma atividade desconhecida. áreas produtivas o esforço de fomento falseia em vista dos inúmeros impactos associados inadequados de sua bacia de captação.
286 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aqüicultura 287

A natureza e a extensão das conseqüências abastecimento dos tanques, ou mesmo Tentativas de planejamento na ocupação do de insumos. A adição desses insumos é, na
ambientais da aqüicultura dependem represamentos com a interceptação do espaço por cultivos em águas públicas têm-se verdade, uma tentativa de aumentar a
amplamente de sua localização e tipo de próprio curso d’água são alterações mostrado pouco efetivas em vários pontos capacidade de suporte do sistema, ou seja,
cultivo, bem como da tecnologia de recorrentes em empreendimentos de do mundo. Um bom exemplo disso é o da elevar a capacidade de produção (biogênica)
produção utilizada (PILLAY, 2004). Nos aqüicultura. Como o sistema não é isolado, Laguna de Bay, nas Filipinas, onde o do ambiente.
cultivos de tanque escavado o acesso a a água desviada volta ao rio com as planejamento previa a ocupação de um
fontes de água superficiais ou do subsolo é características por ele alteradas. cinturão litorâneo em parte da baía, com Com essa elevada carga de entrada, é comum
prioritário na localização do áreas destinadas à pesca, ao tráfego de que o sistema de cultivo seja um grande
empreendimento aqüícola. Isso, aliado à No caso de tanques-rede, a seleção do local embarcações e de santuários para os peixes. produtor de resíduos, devido (i) ao fato de os
conveniência econômica de ocupação de de instalação tem como critério a boa O que se verificou, entretanto, foi uma nutrientes não incorporados pelos
áreas “perdidas” ou não adequadas à qualidade da água, a proteção de ventos e ocupação desordenada que cobriu entre 38 e organismos em cultivo serem
agropecuária, conduz à escolha de espaços ondas e a natureza moderada das correntes 45% de sua superfície de 890 km2, automaticamente carreados pela água
com lençóis freáticos subsuperficiais ou e profundidades (BEVERIDGE, 2004). Em bloqueando a navegação, ocupando áreas de efluente ou circundante, quando não
várzeas, sabidamente hábitats com papel reservatórios, onde as facilidades logísticas preservação e gerando conflitos que depositados no sedimento do tanque ou do
fundamental na manutenção da são também consideradas, a escolha resultaram em roubos, vandalismos e corpo d’água, (ii) à produção constante de
produtividade aquática e da diversidade geralmente recai sobre braços protegidos e assassinatos (BEVERIDGE, 1984). No Brasil, dejetos pelos organismos em confinamento,
biológica. áreas litorâneas que sabidamente são onde essa atividade está apenas começando, que também são carreados pela água, e (iii)
hábitats importantes para o alguns conflitos pontuais com o uso do aos resíduos de biocidas e substâncias que
Assim, alterações nas nascentes de cursos desenvolvimento inicial e alimentação da espaço estão surgindo, especialmente pela impedem a multiplicação de patógenos e
d’água ou em áreas de preservação maioria das espécies de peixes, e para a ocupação de áreas de pesca ou de parasitas. Além disso, Beveridge (1987)
permanente de riachos e rios são requeridas reprodução de várias delas. Essa escolha desembarques pesqueiros. Áreas ou parques admite que, embora as espécies de peixes
para a instalação das estruturas de captação pode promover alterações na paisagem e aqüícolas estabelecidos no zoneamento de necessitem quantidades mínimas de P na
da água e instalação dos tanques. Remoção heterogeneidade espacial desses hábitats, reservatórios não tem sido obedecidas. alimentação, as dietas desenvolvidas para o
da vegetação, construção de diques para a além de causar modificações no regime de cultivo intensivo contêm uma quantidade de
proteção das estruturas, desvios do curso de circulação de água, taxa de sedimentação e Esses são apenas alguns dos impactos mais P superior à requerida, ou incluem formas de
pequenos rios e riachos para o conflitos de uso do espaço. evidentes, de caráter físico/estrutural, que P não-assimiláveis. O P excedente é
ocorrem em grande escala e de forma excretado, enquanto que o não-assimilável é
abrupta e imediata. No entanto, muitos simplesmente eliminado nas fezes, ambos
Tabela 6.3.2 - Panorama da piscicultura e aqüicultura no Brasil, apresentando o número de
produtores em cada região e a área ocupada pelas instalações. A tabela também informa outros impactos também podem ocorrer, e contribuindo para o aumento da produção de
a representatividade dos diferentes sistemas de cultivo nas diferentes regiões (Fonte: serão apresentados nesta seção. dejetos.
BENITES, 2000; PEREIRA; SILVA; CORREIA, 2000; PEZZATO; SCORVO-FILHO, 2000; POLI;
GRUMANN; BORGHETTI, 2000; VAL; ROLIM; RABELO, 2000)
Deterioração na qualidade da água: sistemas A carga excedente de nutrientes que é
Número de Sistema (%)
Região
Produtores
Área (ha) de cultivo artificiais são alimentados por eliminada no ambiente tem relação direta
Extensivo Semi-Intensivo Intensivo
insumos externos ao sistema, constituindo-se com a capacidade do animal em converter
Norte 4.319 3.014 59,8 38,4 1,8
Nordeste 2.239 3.753 41,3 53,9 4,8
numa entrada constante e em elevada alimento em massa corporal, ou seja, quanto
Centro-Oeste 1.858 2.099 20,7 77,3 2
quantidade de nutrientes (nitrogênio-N e maior a eficiência de conversão, menor será
Sudeste 17.804 5.537 -- 80 20 fósforo-P) e carbono (TACON; FORSTER, 2003). a perda de nutrientes. Porém a quantidade
Sul 68.765 46.543 26 72,3 1,7 Quanto mais intensivo é o sistema de mínima necessária de P e N dependem da
Total 94.985 60.946 cultivo, maior será a densidade de animais espécie de peixe considerada, e a eficiência
em confinamento e, portanto, maior o aporte de conversão desses elementos é bastante
288 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aqüicultura 289

influenciada pela promoverem mortandades (ZIMBA; ROWAN; Com os tanques-rede há a agravante de os


Tabela 6.3.3 - Quantidade de fósforo (P) na ração de tilápias e
composição química e a carpas com diferentes taxas de conversão alimentar TRIEMER, 2004). A concentração de fósforo na insumos alimentares serem lançados
digestibilidade do (quantidade de P na ração:quantidade de P assimilado), e água tem, em geral, uma relação positiva diretamente na água do reservatório
quantidade de P não assimilada perdida para o meio
alimento, além das com essas proliferações (BEVERIDGE, 1987). (AGOSTINHO; GOMES; SUZUKI; JÚLIO JÚNIOR, 1999;
ambiente. O conteúdo de P na ração da tilápia foi de 1,30 % e
condições fisiológicas do na de carpa 3,09 % (Fonte: BEVERIDGE, 1987) Além disso, a ausência de um escoamento DIAZ; TEMPORETTI; PEDROZO, 2001; TACON;
animal (BEVERIDGE, 1987). eficiente dos detritos e da biomassa de algas FORSTER, 2003; ALVES; BACCARIN, 2005). Tudo
Perda
Estima-se que cerca de Conversão
1 t de Ração acarretaria um acúmulo de matéria orgânica que não é consumido ou assimilado, além
P (kg)
26% do peso seco da P (kg) % nos tanques. Esse acúmulo pode diminuir dos produtos da excreção dos animais
ração consumida pelos Tilápia drasticamente a quantidade de oxigênio cultivados, contribui para o processo de
peixes, dependendo de 2:1 26 22,6 87
dissolvido, pelo aumento de sua demanda na eutrofização do ambiente. Parte do material
sua composição, sejam decomposição do material, diminuindo o pH solúvel é imediatamente respirada por
3:1 39 35,6 91
excretados na forma de da água (acidez), o que igualmente pode microorganismos decompositores,
fezes (PILLAY, 2004). 3,5:1 45,5 42,1 93 provocar mortandade em massa dos demandando consideráveis aportes de
Assim, é comum que Carpa organismos confinados. oxigênio (NAVA, 1989). A taxa de
grandes perdas de P e N 2:1 61,8 55,7 90
sedimentação de resíduos sob as gaiolas
ocorram para o ambiente. O transporte dos dejetos do cultivo para os também é altíssima (PENCZAK; GALICKA;
2,5:1 77,3 71,2 92
Por exemplo, para se cursos d’água ou, como nos tanques-rede, a MOLINSKI; KUSTO; ZALEWSKI,1982; BEVERIDGE,
produzir uma tonelada 3:1 92,7 86,6 93 sua diluição no meio circundante, resultará 1987), deplecionando as concentrações de
de tilápia, é normal que na degradação dos hábitats e biotas. No caso oxigênio. O intenso aporte de N e P promove
mais de 95 kg de N não de um reservatório, a capacidade de diluição a proliferação de algas nas redondezas, além
sejam absorvidos pelos animais, enquanto formas, como nos fragmentos de ração, e minimização dos impactos sobre a biota de alterar a comunidade zooplanctônica e
que, sob condições de baixa conversão dissolvidos na água, alimentos não dependerá da circulação da água. De zoobêntica. Em estudo num lago chinês, Guo
alimentar, mais de 40 kg de P podem ser consumidos, fezes, excreção e indivíduos qualquer maneira, reservatórios costumam e Li (2003) estimaram que os efeitos da
perdidos para o meio ambiente. A Tabela mortos. ser os receptores de todas as ações realizadas eutrofização podem ser perceptíveis, a olho
6.3.3 apresenta as perdas de P derivadas do no seu entorno, e a aqüicultura pode ser uma nu, num raio de até 50 m de distância do
cultivo de tilápias e carpas, sob condições de No caso de sistemas de cultivo em tanques fonte a mais de nutrientes, podendo adquirir sistema de cultivo.
eficiência distintas na conversão alimentar. terrestres, o escoamento dos dejetos para relevância em escala local (TEMPORETTI;
Note-se que, mesmo para a maior conversão cursos d’água adjacentes é inevitável, pois ALONSO; BAFFICO; DIAZ; LOPEZ; PEDROZO; Como exemplo, no lago Kariba, África,
alimentar, o percentual de P perdido é existe a necessidade de que esses resíduos VIGLIANO, 2001; ALVES; BACCARIN, 2005) e levar Troell e Berg (1997) avaliaram a taxa de
extremamente alto. deixem o sistema. Caso contrário, a mortandades em algumas áreas. Além deposição média de ortofosfato (PO4) e
deteriorariam a qualidade da água dos disso, a longo prazo, o recebimento de uma nitrogênio amoniacal (NH4) no sedimento
Desse modo, somente um pequeno tanques, com conseqüente deplecionamento carga constante de poluentes a partir da localizado sob tanques de cultivo, e no
percentual da carga de ração adicionada nos do oxigênio dissolvido, eutrofização, aqüicultura pode superar a capacidade do sedimento de locais sem os tanques
tanques é convertida em biomassa de proliferação de algas e inviabilidade do sistema em absorver e metabolizar esses (controles). A Figura 6.3.3 apresenta esses
pescado, o que explica a necessidade por cultivo. resíduos, resultando em sua eutrofização resultados, e é evidente como a taxa de
alimentos de melhor digestibilidade e ricos (PENCZAK; GALICKA; MOLINSKI; KUSTO; ZALEWSKI, sedimentação foi substancialmente superior
em N e P. Esses elementos entram no sistema A proliferação massiva de algas é adversa 1982), com impactos relevantes nas nas zonas de cultivo. Os autores destacam
através do uso de rações e adubação, mas aos cultivos, não apenas por alterarem o comunidades planctônicas, com destaque à que tal fenômeno, antes observado e descrito
podem ser depositados no tanque ou odor e sabor da carne dos peixes, mas tendência de proliferação de cianobactérias para cultivos intensivos de salmonídeos de
carreados para cursos d’água por diferentes também por algumas delas serem tóxicas e (BEVERIDGE, 2004). regiões temperadas, ocorre de maneira
290 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aqüicultura 291

similar em regiões ração necessária, com o objetivo de balancear uma densidade de peixes de 10 t.ha-1 é um
tropicais. De fato, no 40 o esforço de produção e as condições do valor razoável para águas brasileiras. Logo,
NH4
reservatório de Nova ambiente de cultivo. Quando a entrada de se considerarmos um aporte de 5% da
Avanhandava, bacia do rio 30 nutrientes é intensa – situação comumente biomassa de peixes em cultivo, seria

mg/m²/dia
Tietê, o cultivo em tanques- observada em cultivos intensivos e semi- necessário um aporte de alimento de,
20
rede modificou as taxas de intensivos – a determinação da capacidade de aproximadamente, 500 kg.ha-1 dia-1 ou 0,05
sedimentação de materiais suporte e a determinação de uma biomassa kg.m2 dia-1.
10
em suspensão, aumentou a de peixes condizente com esse limite são
condutividade e as aspectos fundamentais para a manutenção da Especialmente no caso de tanques escavados,
0
concentrações de N e P na Controle 1 Controle 2 Cultivo produção e da qualidade ambiental. Existem podem existir fontes adicionais de
água, e provocou Tratamentos fórmulas que permitem esse cálculo, que nutrientes, que é o caso da adubação com
acidificação (ALVES; 6 consideram, principalmente, a entrada de fertilizantes. Tal procedimento é comum a
BACCARIN, 2005).
5
PO4 nutrientes, a dimensão do sistema, o tempo esses cultivos e realizado no intuito de
de residência da água e a taxa de elevar a produtividade de todo o sistema. É
4
A deposição de restos de sedimentação desses nutrientes (BEVERIDGE, importante destacar que, no Brasil, uma
mg/m²/dia

alimento e fezes sob ou nas 3 2004). Essas estimativas devem, no entanto, considerável porcentagem dos produtores
imediações de tanques-rede ser feitas para cada local e em diferentes executa o cultivo na sua forma semi-
2
é, portanto, inevitável. O épocas do ano, de preferência utilizando intensiva (Tabela 6.3.2). Essa modalidade
resultado dessa 1
séries históricas de informação, dado que em tende a administrar uma grande quantidade
sedimentação é o acúmulo 0 reservatórios há grande heterogeneidade de insumos fertilizantes (ração e adubagem),
Controle 1 Controle 2 Cultivo
de matéria orgânica e espacial e temporal na taxa de renovação da a fim de manter uma produtividade entre 2 a
Tratamentos
nutrientes, afetando os água e nas condições tróficas. É relevante 6 t.ha-1 ano-1 (PADUA, 2001).
processos químicos pela Figura 6.3.3 - Taxa de sedimentação de nitrogênio amoniacal (NH4) considerar que os cultivos demandarem
e ortofosfato (PO4) em três localidades no lago Kariba, África.
elevada demanda de Dois dos locais estudados situavam-se fora da zona de cultivo quantidades variáveis de ração conforme a Existem técnicas que reciclam o material
oxigênio, tornando esse (Controles 1 e 2), enquanto que no terceiro local, o sedimento fase em que se encontram. fertilizante administrado, ou tratam a água
foi amostrado sob tanques flutuantes utilizados para o cultivo
ambiente crescentemente de peixes (Fonte: TROELL; BERG, 1997). que flui pelo sistema, retendo parte dos
anóxico, liberando Para ilustrar a dimensão do aporte de nutrientes (LIN; YI, 2003; PIEDRAHITA, 2003). A
compostos de nitrogênio e nutrientes em sistemas de aqüicultura, necessidade de sua implantação é elementar,
fósforo na água, podendo resultar em O cálculo da capacidade de suporte do durante a fase de alevinagem é sugerido o porém essas técnicas não têm sido muito
emissões relevantes de gás sulfídrico. Em ambiente é uma estratégia comum para se fornecimento de uma alimentação diária em consideradas por pequenos produtores. Uma
relação às comunidades bentônicas, com estabelecer a biomassa máxima de peixes quantidade equivalente a até 20% da alternativa promissora se refere ao uso de
destaque ao macrozoobentos, são esperadas suportável na área, sendo baseada biomassa dos peixes confinados. Esse “biofiltros” ou “wetlands” artificiais.
alterações relevantes em sua estrutura e principalmente no aporte de nutrientes. No percentual diminui com o desenvolvimento Sipaúba-Tavares, Fávero e Braga (2002)
composição, com redução no número de caso de tanques-rede, esse cálculo permite do peixe, e, quando adulto, na fase de apresentam um sistema barato e acessível, no
espécies e incremento de biomassa. Espécies estabelecer o volume de produção e também engorda, a quantidade usual fica entre 1,5 e qual macrófitas aquáticas flutuantes são
tolerantes à poluição, como oligoquetas e o número de tanques a serem instalados. 7% da biomassa (TEIXEIRA FILHO, 1991; PADUA, utilizadas para absorver os compostos
alguns quironomídeos, tornam-se 2001). Nota-se que essa quantidade pode fertilizantes presentes nos efluentes dos
dominantes e aquelas sensíveis, como os O conhecimento desses limites é importante, atingir elevados valores, dependendo da tanques. Posteriormente, essas macrófitas
efemerópteras, desaparecem (BEVERIDGE, pois orienta o produtor sobre o número de quantidade de organismos estocados. Por são removidas e utilizadas como adubos
2004). peixes, a produtividade e a quantidade de exemplo, Teixeira Filho (1991) sugere que orgânicos em sistemas de agricultura. Cabe a
292 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aqüicultura 293

importante ressalva, no entanto, de que, por qualquer material submerso, podendo confinamento dos peixes
razões óbvias, existe a impossibilidade do entupir as tubulações e encanamentos em um em altas densidades e o
tratamento ou retenção da carga de insumos curto período de tempo, demandando a decorrente estresse de
no caso dos tanques-rede. remoção mecânica, porém eventualmente o estocagem; (ii) o intenso
uso de compostos químicos para tráfego de indivíduos,
Ainda em relação aos tanques escavados, desobstrução ou prevenção (anti-foulants; especialmente matrizes e
estes, periodicamente, devem ser esvaziados COSTELLO; GRANT; DAVIES; CECHINI; alevinos entre estações de
para o preparo ou tratamento corretivo PAPOUTSOGLOU; QUIGLEY; SAROGLIA, 2001). Os piscicultura, desde uma
(PADUA, 2001). O objetivo desse compostos utilizados têm princípios escala local até
procedimento pode ser somente a biocidas, à base de chumbo, sendo sua intercontinental; (iii) o
oxigenação do solo, a oxidação da matéria liberação direta nos corpos d’água receptores estresse ambiental
orgânica depositada ou mesmo correções do uma nova modalidade de poluição. Devido promovido por processos
pH, mas pode também ser necessária a ao fato de o mexilhão dourado se fixar em de eutrofização e de
desinfecção da área. Em geral, estes qualquer tipo de estrutura submersa, de decomposição decorrentes
procedimentos envolvem a aplicação de forma agressiva e rápida, os tanques-rede do grande ingresso de Figura 6.3.4 - Incrustação de mexilhão-dourado Limnoperna
produtos químicos como cal virgem, instalados em reservatórios com a presença nutrientes e matéria fortunei nas estruturas de tanques-rede instalados no
reservatório de Itaipu (Foto: E. K. Okada).
hidratada ou hipoclorito de sódio. Esses dessa espécie invasora têm sido orgânica.
compostos são tóxicos aos organismos freqüentemente acometidos e avariados. O
quando em altas concentrações, e, se não principal problema da incrustação desse Os sistemas de cultivos fechados não são aumentou progressivamente de 1995 a 1999
volatilizarem substancialmente antes do molusco é a obstrução das telas da gaiola, realidades no Brasil. A prática da aqüicultura (Figura 6.3.5). Com as cheias catastróficas de
enchimento do tanque, podem ser carreados que dificulta a renovação da água dentro do em sistemas abertos, com lançamento de 1998, que promoveram o rompimento de
para os cursos d’água naturais, com impactos tanque-rede e deteriora sua qualidade. Além efluentes nos cursos naturais, facilita tanques e represas e resultaram no escape de
inerentes a esse tipo de poluição. Calagem e disso, a incrustação nas estruturas é tão consideravelmente a dispersão de patógenos mais de um milhão de indivíduos não-
dispersão de sal são procedimentos de rotina agressiva que pode provocar seu no ambiente. Assim, a disseminação de nativos nesta bacia (ORSI; AGOSTINHO, 1999), a
na aqüicultura, e, quando em demasia, afundamento por excesso de peso, parasitas e doenças para corpos d’água incidência dessa doença aumentou
podem promover alterações na salinidade e ocasionando prejuízos ao produtor. Esses naturais se constitui em ameaça permanente drasticamente entre várias espécies nativas
alcalinidade dos cursos d’água. episódios, frutos de um mal manejo, têm à integridade da fauna e flora silvestres. em seu ambiente natural (GABRIELLI; ORSI,
sido registrados no reservatório de Itaipu 2000).
Recentemente, um problema bem conhecido (Figura 6.3.4). Acredita-se que a disseminação do crustáceo
de países europeus e norte-americanos vem parasita Laernea cyprinacea em rios Em tanques-rede, a possibilidade de
ocorrendo também em águas brasileiras: o Disseminação de doenças: a ocorrência de brasileiros tenha ocorrido devido à instalação e disseminação de doenças pelas
entupimento dos encanamentos dos sistemas doenças e infestações parasitárias nos importação, pela piscicultura, de carpas espécies em cultivo é notavelmente maior.
de cultivo (fouling). O agente causador dessas organismos em cultivo é um dos problemas contaminadas, que trouxeram o parasita de Nessa modalidade de cultivo está implícito o
obstruções tem sido o mexilhão dourado mais conspícuos da aqüicultura mundial seus ambientes de origem (VIEIRA; POMPEU, emprego de elevadas densidades, nas quais
Limnoperna fortunei, que foi introduzido por (SCHOLZ, 1999). Entre os organismos 2001). Na bacia do rio Paranapanema, os indivíduos são submetidos a maior
água de lastro na foz do rio da Prata e causadores de doenças estão parasitas, Gabrielli e Orsi (2000) verificaram elevada estresse, facultando a proliferação de
alcançou os trechos altos das bacias dos rios bactérias, fungos e vírus. Algumas ocorrência desse parasita em tanques de doenças. Além disso, o contato praticamente
Paraná e Paraguai (DARRIGRAN; DAMBORENEA; características do cultivo em tanques-rede cultivo localizados em diferentes direto dos indivíduos confinados no cultivo
PENCHASZADEH; TARABORELLI, 2003). Esse são favoráveis à disseminação de doenças e propriedades. Aspecto preocupante é que o com a fauna local do lado de fora é ampliado
molusco fixa-se nas superfícies sólidas de epidemias na aqüicultura, destacando-se (i) o número de propriedades infectadas pelo adensamento destes últimos, atraídos
294 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aqüicultura 295

pela constante oferta de Atração de predadores: as perdas de introdução, estão a hibridização com as
alimento (DEMPSTER; 50 alimento no processo de cultivo, espécies nativas, a desestruturação
SANCHEZ-JEREZ; BAYLE- especialmente em tanques-rede, exercem populacional, disseminação de doenças,
40

Número de registros
SEMPERE; KINGSFORD, 2004). grande atração sobre espécies de peixes da predação, competição por recursos e até
30 fauna nativa, promovendo sua concentração extinções (para detalhes de tais efeitos, ver
Um parasita potencialmente nas imediações dos tanques. Tal fato leva, Capítulo 6.6).
transmissível e que 20 por outro lado, à concentração de outros
preocupa pelo seu poder de animais, piscívoros facultativos ou A introdução de espécies aquáticas é um
10
infestação, tanto de espécies obrigatórios, especialmente vertebrados, tema indissociável da aqüicultura, visto que
nativas quanto de peixes 0 como répteis, aves e mamíferos, atraídos escapes são fatos inevitáveis e, em todo o
1995 1996 1997 1998
cultivados, é a tênia Anos pela elevada disponibilidade de presas. mundo, estes se constituem na principal
Diphyllobothrium latum, que Além do já mencionado aumento na fonte de introdução de espécies não-nativas
Figura 6.3.5 - Número de propriedades com registro de Laernea
infesta a carne dos peixes. cyprinaceae nos peixes mantidos em tanques de aqüicultura, probabilidade de fechamento de ciclo de (WELCOMME, 1988; NAYLOR; WILLIAMS; STRONG,
Ainda não registrada em localizados na bacia do rio Paranapanema (Fonte: GABRIELLI; vida de parasitas, verifica-se também uma 2001). Fato similar vem sendo constatado no
ORSI, 2000).
peixes brasileiros, nos elevação na pressão de predação e Brasil, especialmente após as restrições
tanques-rede poderia ser incrementos nos riscos de avarias nas legais de estocagem de espécies não-nativas
um foco preocupante, principalmente se o Outro problema é a contaminação da água estruturas dos tanques-rede, levando ao dos corpos d’água naturais, responsável até
pescado for consumido na forma crua ou com medicamentos utilizados no tratamento escape dos animais cultivados. O então por massivas introduções deliberadas
malpassada. O hospedeiro definitivo e prevenção das epidemias, como hormônios, incremento na densidade de peixes atrai (ver Capítulo 6.2). Entre os fatores que
(mamíferos, incluindo o homem) libera os vacinas, antibióticos e desinfetantes. No caso também os pescadores para a área do elevam o potencial da aqüicultura em
ovos que são ingeridos por microcrustáceos de infestações parasíticas e doenças nos cultivo, sendo isso uma fonte relevante de introduzir espécies destacam-se (i) a
e estes por peixes, onde irão infestar seus animais, a aplicação de antibióticos conflito entre esses profissionais e os fascinação exercida pelas espécies não-
tecidos. Como as águas nos tanques-rede (fungicidas e bactericidas) pode ser deletéria produtores, caso medidas de ordenamento nativas e híbridos nos aqüicultores
circulam livremente, a possibilidade da para as comunidades microbianas dos corpos não sejam adotadas (BEVERIDGE, 1984) e brasileiros, (ii) o descuido com o
ingestão é aumentada. Além disso, vale d’água contíguos, levando a alterações nos respeitadas. confinamento, (iii) a precariedade das
lembrar que no Brasil somente 10% das ciclos biogeoquímicos de alguns elementos, instalações, (iv) o cultivo em áreas
águas de esgoto são tratadas antes de serem como o nitrogênio. Suspeita-se que mais de Introdução de espécies não-nativas: a marginais sujeitas a inundação em cheias
lançadas nos cursos d’água (IBGE, 2006). 70% da carga de antibióticos aplicada em introdução de espécies não-nativas, extremas e (v) ações imprudentes de manejo
conjunto com a ração não seja consumida independentemente de sua veiculação, é (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR, 1996; ORSI;
A concentração de peixes e outros animais, pelos organismos, sendo depositada no tida hoje como um dos maiores AGOSTINHO, 1999).
especialmente vertebrados, na área de sedimento (HALLING-SORENSEN; NIELSEN; LANZKY; determinantes da perda de biodiversidade e
cultivo pode ainda levar ao estabelecimento INGERSLEV; LUTZHOFT; JORGENSEN, 1998; recursos naturais (MACK; SIMBERLOFF; O uso de espécies não-nativas foi
de ciclos de parasitas, que de outra forma LALUMERA; CALAMARI; GALLI; CASTIGLIONI; CROSA; LONSDALE; EVANS; CLOUT; BAZZAZ, 2000). Dessa intensamente fomentado por agências
seria altamente improvável. Aves piscívoras, FANELLI, 2004). Além disso, a aplicação forma, a introdução de espécies não-nativas governamentais, sem a devida preocupação
por exemplo, podem atuar como indiscriminada de antibióticos pode favorecer é considerada como uma das mais com a segurança no confinamento desses
hospedeiros intermediários do nematóide o desenvolvimento de resistência microbiana agressivas formas de poluição biológica, peixes, com os aspectos sanitários da
Contracaecum e mamíferos piscívoros podem aos medicamentos, nos organismos em com a agravante de que sua erradicação, maioria das instalações e, principalmente,
ter papel fundamental no ciclo do trematóide cultivo e até mesmo em seres humanos após o estabelecimento no ecossistema, é sem o adequado investimento no
digenético Haplorchis, ambos parasitas de (HOLMSTROM; GRASLUND; WAHLSTROM; tida como impraticável. Dentre os muitos desenvolvimento de tecnologias de cultivo
tilápias. POUNGSHOMPOO; BENGTSSON; KAUTSKY, 2003). efeitos deletérios decorrentes de uma de espécies nativas. Assim, a despeito da
296 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aqüicultura 297

imensa diversidade ictiofaunística existente importações e a comercialização dessas nutricionais, destacando o piauçu Leporinus MARINGÁ.NUPELIA, dados não publicados).
no Brasil, sempre existiu uma enorme espécies, agências ligadas ao governo macrocephalus, o bagre Rhamdia quelen, o Embora o uso de OGM na aqüicultura do
predileção pelo cultivo de espécies não- continuam a estimular o cultivo de espécies tambaqui C. macropomum e espécies de pacu. Brasil seja ainda incipiente, é esperado que,
nativas, provenientes de outros continentes não-nativas. Essas agências colocam, por O restante dos trabalhos (37%) teve espécies nessa busca pela novidade, estes sejam logo
(tilápias e carpas), transferidas entre bacias exemplo, como prioridade entre suas exóticas como alvo de pesquisa, avaliando objetos de interesse dos produtores de
(piauçus, tambaquis, pacus) ou mesmo diretrizes para o setor, a consolidação do suas performances no cultivo ou alevinos.
híbridas. cultivo de tilápias e carpas na região Sul do estabelecendo procedimentos operacionais
Brasil (EMBRAPA, 2005), a despeito das para aumentar o rendimento. Nesse grupo, Além da estrutura física inapropriada, a
Importações de peixes realizadas legal ou incertezas sobre sua rentabilidade e dos as espécies mais estudadas foram bagre localização dos tanques também é um fator
ilegalmente por produtores de alevinos, potenciais impactos negativos sobre a fauna africano, bagre-de-canal, carpas e, preponderante na facilitação dos escapes,
aliadas a uma intensa propaganda articulada nativa e o funcionamento dos ecossistemas. É principalmente, espécies de tilápias. visto que usualmente encontram-se
com a apologia destas como a melhor opção oportuno ressaltar que uma série de Considerando que esses estudos foram conectados aos cursos naturais de água. Além
para a piscicultura, muitas vezes com apoio trabalhos documenta os impactos negativos publicados majoritariamente entre 2000 e disso, é comum que esses tanques estejam
da mídia e anuência de órgãos públicos, são derivados da introdução de tilápias sobre a 2004, fica evidente que as agências que instalados na faixa marginal dos rios (área de
recorrentes no país. Nesses casos, a produção fauna e flora residentes em diversas partes fomentam a pesquisa no país ainda preservação permanente), que pode ser
e a comercialização de alevinos são iniciadas do planeta (McKAYE; RYAN; STAUFFER, Jr.; LOPEZ apresentam certa predileção pelo alagada em anos de cheias excepcionais. Em
sem que qualquer pesquisa sobre a PEREZ; VEGA; BERGHE,1995; HALL; MILLS, 2000; financiamento de pesquisas que visam o geral, os locais de cultivo são portas de
adequação da espécie às condições regionais PÉREZ; SALAZAR; ALFONSI; RUIZ, 2003; PÉREZ; aprimoramento de técnicas de cultivo com entrada para espécies não-nativas. Os já
tenha sido feita, ignorando potenciais ALFONSI; NIRCHIO; MUÑOZ; GÓMEZ, 2003; PÉREZ; espécies exóticas. mencionados escapes de um milhão de
impactos à fauna nativa, e mesmo MUÑOZ; HUAQUÍN; NIRCHIO, 2004). peixes (11 espécies, sendo 10 não-nativas) na
desconhecendo sua viabilidade econômica. Uma tendência recente na aqüicultura bacia do rio Paranapanema não se
Fracassos na atividade levam os piscicultores A mesma tendência é observada em termos brasileira é a criação de híbridos, como os de constituem em fenômeno isolado, mas, sim,
a desistir do cultivo da espécie, eliminando de esforço aplicado em pesquisas. Parte tambacu ou paqui (pacu x tambaqui), ponto- em um dos raros casos estudados no país
indivíduos no ambiente natural. Essa considerável de recursos financeiros e-vírgula (pintado x cachara), pirabim (ORSI; AGOSTINHO, 1999).
seqüência de fatos tem resultado em lucros nacionais destinados à pesquisa é ainda (cachara x pirarara), entre outros. O escape de
para o produtor de alevinos e prejuízos para consumida por estudos envolvendo o peixes híbridos ou geneticamente Nos barramentos construídos no leito de
os piscicultores e à fauna nativa. aprimoramento do cultivo de espécies modificados (OGM) dos tanques de pequenos rios, para fim de produção semi-
Lamentavelmente, muitos piscicultores exóticas. Para exemplificar isso, fizemos um piscicultura se constitui em ameaça relevante intensiva de peixes ou pesque-pagues, a
orgulham-se de contar com uma nova levantamento dos trabalhos científicos à fauna nativa. A possibilidade de alguns situação é ainda mais caótica, já que
espécie no plantel, principalmente quando publicados nos periódicos indexados pela desses indivíduos reproduzirem com seus transbordamento e ruptura de diques são
oriunda de regiões distantes, propalada base de dados Scielo (www.scielo.org), que análogos nativos é um risco real para a episódios comuns durante cheias intensas.
como “salvadora da piscicultura brasileira” indexa diversos periódicos sul-americanos. A integridade genética das populações destes Além disso, em alguns casos, as espécies não-
(ver, por exemplo, PUPIM, 2005). Espécies pesquisa foi realizada em junho de 2005, últimos. Além da grande fascinação que o nativas podem alcançar livremente regiões a
como o bagre africano, o bagre-de-canal utilizando a palavra-chave “aqüicultura or aqüicultor tem pelas “novidades”, a boa montante, ou atingir áreas a jusante,
(americano) e alguns tipos de carpa e tilápia piscicultura”, que retornou 140 artigos, performance de alguns híbridos em cultivo transpondo a barreira pelos vertedouros ou
chegaram aos rios brasileiros dessa maneira. sendo 57 relacionados à aqüicultura com motiva o emprego dessas aberrações na monjes.
peixes de água doce no Brasil. Destes, 36 aqüicultura brasileira. A presença de alguns
Ironicamente, apesar de a introdução de trabalhos (63%) consideraram espécies desses híbridos já é registrada em cursos Outro vetor de introduções está no manejo
espécies ser legalmente proibida no país, o neotropicais, avaliando principalmente sua d’água da bacia do rio Paraná e no rio do cultivo por ocasião da seleção de
que deveria restringir sobremaneira as viabilidade econômica e aspectos Cuiabá (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
298 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aqüicultura 299

tamanho. Nestas ocasiões, os exemplares tanques-rede são os mais vulneráveis a recursos pesqueiros selvagens e nas formas na implantação de grandes sistemas de
rejeitados no processo são liberados a jusante escapes, sendo tais acidentes considerados de seu aproveitamento. Na verdade, ela pode tanques-rede e convertendo pescadores
Além disso, os peixes remanescentes ao final inerentes a essa modalidade de cultivo se somar a outras atividades econômicas locais em aqüicultores. Como exemplo, o
do cultivo, especialmente alevinos (NAVA, 1989). Os tanques-rede são altamente impactantes, agravando a situação. projeto de criação de parques aqüícolas no
resultantes de reproduções indesejadas, são susceptíveis a danos provocados em suas reservatório de Ilha Solteira, bacia do rio
“descartados” durante o esvaziamento do malhas por vendavais, predadores, objetos A modificação ou destruição de hábitats se Paraná, prevê a ocupação da região de
sistema. Esse é um procedimento de rotina flutuantes e vandalismo. constitui no efeito mais agressivo e imediato desembocadura de todos os grandes
em muitas pisciculturas com tilápia, (NAYLOR; GOLDBURG; PRIMAVERA; KAUTSKY; tributários que deságuam no reservatório, o
incluindo aquelas que asseguram estarem Embora o decreto que regula o uso de águas BEVERIDGE; CLAY; FOLKE; LUBCHENCO; MOONEY; que, certamente, promoverá alterações na
usando plantéis com um único sexo públicas pela aqüicultura vede a criação de TROELL, 2000). A instalação de estações de conformação de seus hábitats marginais.
(FERNANDES; GOMES; AGOSTINHO, 2003). espécies não-nativas em tanques-rede piscicultura em hábitats críticos ao ciclo de Vale lembrar que a ictiofauna de
instalados em ambientes em que elas não vida de espécies nativas, como áreas de reservatórios ocupa especialmente hábitats
Os pesque-pagues, que proliferaram na estejam estabelecidas (Decreto 4.895 de 25/ várzea, terá implicações diretas no litorâneos, visto que estes apresentam maior
metade final da década de 1990, representam 11/2003, artigo 8), essa é uma prática comum recrutamento dessas espécies. A drenagem grau de estruturação física (ver Capítulo 3). A
também relevante ameaça. Eles têm sido nas áreas em que eles foram instalados. desses ambientes ou a re-conformação de disposição dos tanques poderá, inclusive,
responsabilizados pela profusão de espécies Grande parte das transgressões ao decreto seus atributos físico-químicos podem influenciar a rota migratória das espécies
não-nativas em pequenos cursos d’água do decorre da falta de especificidade do termo inviabilizar etapas da reprodução e interferir que porventura ascendam esses tributários,
Sul e Sudeste, visto que é prática comum o “espécie estabelecida”, que, apesar de ser um na taxa de sobrevivência de juvenis. Nesse já que pode obstruir seções de rios de menor
esvaziamento dos tanques e o lançamento de conceito-chave na tomada de decisões e claro caso, é esperada alguma diminuição no largura.
grande quantidade de juvenis de espécies na literatura especializada, é interpretado de recrutamento de indivíduos para a pesca
que se reproduzem em confinamento ou modo oportunista. extrativista. Além disso, devido ao fato de a Além disso, apesar de as áreas desses
formas adultas de outras, nos corpos d’água construção de reservatórios modificar ou parques serem definidas com base em
contíguos. Uma avaliação conduzida por O uso de espécies não-nativas nos países em mesmo eliminar áreas de importância crítica avaliações prévias e comporem um plano de
Fernandes, Gomes e Agostinho (2003) na desenvolvimento foi, historicamente, à sobrevivência de diversas espécies de uso, a ausência do poder público em
região de Maringá/PR revelou grande fomentado por organizações internacionais peixes, a preparação e instalação de tanques momentos subseqüentes pode levar a uma
quantidade de alevinos e juvenis de espécies como a FAO, o Banco Mundial e o Banco de de aqüicultura pode adquirir importância ocupação generalizada e desordenada da
não-nativas, tanto nos tanques onde se Desenvolvimento Internacional (ver, por decisiva por comprometer áreas zona litorânea de reservatórios e seus
praticava a pesca, quanto nos riachos exemplo, as recomendações de Sugunan, remanescentes. tributários, criando oportunidades para a
próximos. Acredita-se que a recente 1997, e a discussão de Pérez, Alfonsi, ocorrência de conflitos sociais e desastres
proliferação de tilápias no reservatório de Nirchio, Muñoz e Gómez, 2003). Apenas Com isso, os planos da Secretaria Especial da ambientais. O Governo Federal tem projetos
Barra Bonita tenha principalmente essa recentemente a FAO estabeleceu um código Aqüicultura e Pesca do Governo Federal, que para a implantação desses parques em seis
origem. de conduta para essas atividades, alertando visionam a implantação de parques aqüícolas reservatórios, além de Ilha Solteira, sendo
para os riscos de uma aqüicultura para a instalação de tanques-rede em eles Itaipu, Furnas (bacia do rio Paraná),
Recentemente, com a criação da Secretaria irresponsável. reservatórios, têm grande potencial em Tucuruí, Serra da Mesa (Tocantins), Três
Especial da Aqüicultura e Pesca pelo afetar remanescentes de hábitats aquáticos, Marias e Sobradinho (São Francisco)
Governo Federal, o fomento ao cultivo em Modificações nos recursos pesqueiros: a com efeitos diretos sobre os recursos (www.planalto.gov.br).
tanques-rede em águas públicas tende a prática da aqüicultura, como já discutida, tem explorados pela pesca extrativista. Esses
elevar os riscos de contaminação biológica grande potencial de modificar parques estão em planejamento e pretendem Diversos outros impactos decorrentes da
por espécies introduzidas. Entre os tipos de negativamente sistemas de pesca estabelecer centros de produção de pescado aqüicultura podem contribuir para a
instalação para a criação de peixes, os tradicionais, pela alteração na dinâmica dos em alguns reservatórios do país, investindo modificação da pesca, como a degradação da
300 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aqüicultura 301

qualidade da água, a disseminação de momento, e armado, posteriormente, que preconizava a instalação de 417 milhões esteja ainda em fase de implantação, os
doenças e, principalmente, a introdução de evitando problemas sociais mais graves em de gaiolas de 1 m2 cada e que ocupariam um primeiros resultados demonstram que a
espécies não-nativas (NAYLOR; GOLDBURG; razão de quedas no rendimento (OKADA; terço da superfície total dos reservatórios de atividade, da maneira em que foi concebida,
PRIMAVERA; KAUTSKY; BEVERIDGE; CLAY; FOLKE; AGOSTINHO; GOMES, 2005). Além disso, as Sobradinho, Furnas, Ilha Solteira e Três deve resultar em frustração.
LUBCHENCO; MOONEY; TROELL, 2000). Esses variações sazonais nas capturas de uma Marias (MÜLLER, c1996). Nessa proposta
fatores se somam aos decorrentes de outras espécie são compensadas por outras, estava prevista a produção de quatro O primeiro obstáculo está na privatização
atividades econômicas presentes na bacia e, reduzindo as oscilações nos desembarques milhões de toneladas de bagre-de-canal, de um recurso antes público. A privatização
em maior ou menor grau, podem em níveis aceitáveis. Finalmente, a bagre-africano e tilápias. do bem coletivo, associada à necessidade de
desestruturar severamente as populações diversidade de espécies capturadas faculta espaço para a instalação do sistema, facilita
naturais exploradas pela pesca. Exemplo uma variedade de espécies ofertadas e a Entretanto, o fascínio por essa modalidade a ocorrência de mais conflitos numa classe
típico pode ser observado nos reservatórios possibilidade de preços diferenciados, de de cultivo foi impulsionado pela ampla social já marcada por intensas disputas com
da bacia do rio Tietê, onde a histórica maneira a contemplar diferentes segmentos divulgação na mídia dos bons resultados outros segmentos.
poluição, a destruição de ambientes lóticos da população. obtidos com espécies nativas em
e a liberação de inúmeras espécies não- experimentos na Itaipu Binacional (CANZI; A falta de experiência com cultivo aliada à
nativas contribuíram para a rarefação das BORGHETTI; FERNANDEZ , 1992; BORGHETTI; precariedade da assistência técnica provida
espécies que tradicionalmente mantinham a
Pescador x Aqüicultor CANZI, 1993). O marco relevante para a pelo Estado ou pelas concessionárias é outra
pesca comercial (migradoras), diminuindo difusão dos tanques-rede foi estabelecido, fonte de insucesso. Apesar de muitos
também a diversidade nas capturas. Em A extensa lâmina d’água formada pelos por outro lado, com o Decreto 2869 de 09/
12/98, que regulamentou o uso das águas
pescadores exercerem atividades alheias à
pesca, como a agricultura e ocupações
razão disso, os desembarques pesqueiros reservatórios na maioria das bacias
são compostos majoritariamente por hidrográficas brasileiras tem, já há algumas públicas pela aqüicultura, e com a criação temporárias, no caso da piscicultura, por se
espécies não-nativas, como a corvina e a décadas, motivado propostas e iniciativas da Secretaria Especial de Aqüicultura e tratar de sistema intensivo, seria necessário
tilápia, que têm menor valor comercial para de seu uso para o cultivo de peixes, Pesca (SEAP), em 1 de Janeiro de 2003.
o um programa específico de capacitação dos
a pesca. Aliás, na pesca extrativista, a especialmente em tanques-rede. Uma das pescadores para executar a atividade.
substituição de uma rica fauna nativa por primeiras iniciativas no Sul do Brasil coube Como parte das ações de fomento da SEAP
está a tentativa de direcionar as atividades As questões culturais também são
algumas espécies não-nativas à Companhia Paranaense de Energia
(especialmente tilápias, corvina e tucunaré) extrativistas dos pescadores artesanais para relevantes. Um dos aspectos alegados pelos
(COPEL), que no ano de 1974/75
o cultivo de peixes. Com o apoio de pescadores artesanais para o ingresso
tem sido fenômeno comum em desenvolveu um projeto experimental no
reservatórios de diversas bacias do Sul e algumas concessionárias do setor elétrico, (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ.NUPELIA/
reservatório de Capivari, na bacia Atlântica
essa Secretaria se propõe a transformar o FURNAS, 2005) ou para se manterem na
Sudeste, conforme discutido no Capítulo 5. Sul, utilizando inicialmente o peixe-rei
pescador tradicional ribeirinho em atividade de pesca (UNIVERSIDADE ESTADUAL
Odonthestes bonariensis, e posteriormente a
A redução da diversidade ictiofaunística tem pescador-aqüicultor, visando provê-lo de DE MARINGÁ.NUPELIA/ITAIPU BINACIONAL, 2005)
carpa e a tilápia do Nilo (FREITAS, L.C.,
implicação em um importante serviço do uma fonte de renda adicional e reduzir as foi a autonomia de trabalho, “sem receber
informação verbal; GODOY, 1985). Problemas
ecossistema, que é o de fornecer pressões de pesca sobre os estoques ordem de patrão” e sem horários fixos. A
com as estruturas dos tanques e com
alternativas à pesca quando o estoque de naturais. aqüicultura, por outro lado, é uma atividade
mortalidades indicaram as dificuldades com
uma dada espécie, por motivo variado, se que requer mais tempo de dedicação do que
esse tipo de cultivo naquele reservatório.
depleciona. A importância desse serviço da Para a consecução de seus objetivos, a a pesca extrativista e demanda atividades
biodiversidade foi bem evidente no Propostas audaciosas do uso de águas Secretaria tem-se esforçado para eliminar diárias obrigatórias, modificando o
reservatório de Itaipu, onde a depleção dos públicas para a criação de peixes em barreiras legais ao cultivo de espécies não- cotidiano das pessoas envolvidas, que
estoques de curimba foi amplamente tanques-rede são também antigas. Destaca- nativas, tendo sido bem-sucedida em várias receberiam uma carga de obrigação e
compensada pelos do mapará no primeiro se, por exemplo, a de Morais Filho (1976) oportunidades. Embora esse programa responsabilidade incompatível com a sua
302 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aqüicultura 303

cultura. Além do mais, o pescado é A prioridade dada pelas políticas públicas aumento da ocorrência de vandalismo, R$ 2,90), segundo declaração destes, e de
desembarcado e comercializado diária ou nos programas de desenvolvimento da diminuição da qualidade da água, pelo menos R$ 496,00 se consideradas as
semanalmente, assegurando um intenso piscicultura em tanques rede, contrastante esgotamento de recursos locais (e.g. lenha médias das capturas diárias e os preços de
fluxo de dinheiro, que, embora de pequena com aquelas de apoio à pesca, cria também para o preparo da ração), perda de recursos venda do pescado, bem como um esforço
monta, é adequado para as necessidades de distorsões na ocupação do espaço. A solução pesqueiros, e agravamento de conflitos. O mensal de 21 dias de pesca. Na piscicultura
manutenção familiar de curto prazo. Sem da implantação de parques aqüícolas, a Box 6.3.2 ilustra alguns desses problemas e paranaense, dados publicados em Ostrensky
capacidade de investimentos e de se manter despeito de ainda incipiente, não tem sido também outros de ordem técnica, registrados e Viana (2004) estimam esse valor em R$
por tempo prolongado sem essas entradas satisfatória, dado que sob a aparência de na região do reservatório de Itaipu, bacia do 208,30, considerando a safra de 2003-2004
de capital, durante a espera das primeiras ordenação de uso elas são destinadas a rio Paraná. Tais acontecimentos já foram (cotação média no período: US$ 1,00 = R$
safras, o cultivo de peixes torna-se limitar o espaço dos usos correntes. Além registrados em outras partes do mundo, 2,90). Esses autores ressaltam que os
incompatível com suas necessidades. O disso, não tem sido respeitadas. Já a como nas Filipinas e na Indonésia produtores somam cerca de 23.000 pessoas,
tempo de retorno financeiro, que para efetivação das áreas aquícolas estão distante (BEVERIDGE, 1984). Nestes últimos, o sucesso a maioria de micro e pequeno porte.
algumas categorias sociais é meramente do idealizado no Anexo VI da IN 06 de 31/ do cultivo levou a uma proliferação de Embora essas atividades apresentem
uma questão de planejamento, para a 05/2004. Além disso, as instalações tanques dispostos em áreas muito distintas variações relevantes de renda dentro de
maioria dos pescadores artesanais torna-se irregulares são comuns em vários do planejado. No caso de reservatórios do cada categoria, sendo a média, portanto,
questão de sobrevivência. Isso mantém reservatórios. Este quadro abre portas para sul e mesmo sudeste, a baixa rentabilidade e pouco representativa, é relevante o fato de
muitos pescadores à margem dos a ocorrência de conflitos entre os usuários os problemas com o manejo deve restringir a ela ser consideravelmente maior na pesca.
programas de cultivo, não porque desejam, dos recursos (produtores x pescadores x expansão da atividade. Ressalta-se que a piscicultura não se
mas por restrições culturais. agricultores). Acesso e instalação de constitui na única fonte de renda para a
estruturas de apoio nas margens requer que A lucratividade dos cultivos em tanques- maioria dos aqüicultores, nem a pesca para
A questão do investimento demandado para o produtor seja proprietário da área rede, quando realizados em pequena escala, os pescadores.
a aqüicultura em tanques-rede, embora adjascente (e, portanto, não pescador) ou é outro fator polêmico. Essa modalidade de
inicialmente menor que nos cultivos tenha a anuência destes. O fato de vários cultivo, embora com baixo custo de As metas de governo que visam
convencionais (CARNEIRO; CYRINO; reservatórios terem suas áreas divididas instalação, só é rentável quando envolve transformar o pescador artesanal em
CASTAGNOLLI, 1999), é também crítica. A entre os pescadores para pesca ou rotas de grandes áreas, dados os custos operacionais. aqüicultor, embora bem-intencionadas,
necessidade constante de insumos para navegação para os desembarques Isso é incompatível com a capacidade de padecem de um equívoco de base: fomentar
manter a produção, uma característica pesqueiros pressupõe concessões e investimento dos pescadores artesanais. uma atividade econômica sem o adequado
marcante nesta atividade, faz com que os entendimento com aqueles envolvidos com Estudos acerca dessa restrição devem ser estudo de viabilidade técnica, econômica,
pescadores se tornem dependentes de um o cultivo. Além disso, sem uma constante realizados antes que os programas de social, cultural e ambiental. A criação de
constante aporte financeiro por parte de fiscalização é grande a possibilidade de que fomento sejam difundidos como metas de peixes em tanques-rede nos reservatórios
órgãos oficiais ou das concessionárias sejam instalados mais tanques que o políticas públicas. brasileiros, em pequena escala, é uma tarefa
hidrelétricas. Com isso fica evidente que o planejado, engajando um número maior de complexa. Ignorar os problemas levantados
simples fornecimento da infra-estrutura produtores numa área incapaz de comportar Nesse contexto, é conveniente comparar o acima aumenta a possibilidade de insucesso
básica (tanques e alevinos), como tem sido a tal contingente. O planejamento de parques rendimento financeiro da pesca artesanal desses programas, desacreditando a
prática atual, é insuficiente. É recorrente o e áreas aquícolas transformam-se em com o da aqüicultura. Estudos conduzidos no atividade e resultando em prejuízos, tanto
relato de pescadores que investiram na simples instrumento de retórica se não reservatório de Itaipu no ano de 2004 aos cofres públicos quanto aos próprios
produção de ração os recursos de salário acompanhado de fiscalização rigorosa.O (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ.NUPELIA/ pescadores. O caráter disperso da atividade
desemprego (período de defeso) e parte do resultado esperado seria a intensificação de ITAIPU BINACIONAL, 2005) revelaram uma e a baixa produção trazem problemas para a
pescado que antes consumiam, sem obter o impactos socioambientais na área, como a receita média mensal de R$ 408,00 por organização do sistema produtivo, para a
retorno final esperado. ocupação massiva de áreas lindeiras, pescador (cotação média em 2004: US$ 1,00 = comercialização e para a assistência técnica.
304 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Aqüicultura 305

Bo
Boxx 6.3.2 Considerações Finais localização dos empreendimentos e nas
práticas inadequadas de manejo, representam
Episódios de ocorrência comum em programas que fomentam o cultivo de peixes em grandes ameaças de poluição de mananciais,
tanques-rede em reservatórios, destinados aos pescadores artesanais ou pequenos produtores,
conduzidos sem a adoção de um manejo técnico adequado.
E m águas interiores brasileiras, a produção disseminação de doenças, introdução de
pesqueira realizada pela aqüicultura vem espécies não-nativas e liberação de indivíduos
(Fotos: E. K. Okada) aumentando ao longo dos anos, enquanto que com baixa variabilidade genética, com a
Cena 1. A estrutura dos a extrativista tem-se estagnado. Espera-se, conseqüente perda de recursos pesqueiros.
a b
tanques-rede pode ser
avariada por intempéries, portanto, que essa atividade adquira cada vez Nos tanques escavados os problemas mais
troncos flutuantes, grandes mais relevância econômica no cenário recorrentes se relacionam à localização nas
vertebrados ou vândalos (a),
levando ao escape dos peixes
nacional, como já preconizado pelas proximidades de rios e ribeirões (muitas
em cultivo, o que requer expectativas da Revolução Azul. Entretanto, vezes na faixa de preservação permanente) e à
providências como vigília ao mesmo tempo, é certa a intensificação dos falta de infra-estrutura básica, como
constante (iluminação
elétrica, por exemplo) (b). problemas econômicos, ambientais e sociais mecanismos de segurança no confinamento e
que acompanham essa atividade. tratamento de efluentes.

Cena 2. Na produção do
alimento para os peixes em a b A análise da situação atual da aqüicultura no Em relação aos tanques-rede, os problemas se
cultivo pode haver grande Brasil demonstra que, da forma com que ela agravam com a expansão desordenada da
demanda por lenha (a), que
está sendo fomentada, será muito difícil a atividade nas águas públicas, sendo
pode ser eventualmente
retirada de áreas de consecução das metas conservacionistas e freqüentes instalações fora das áreas previstas
preservação permanente (b). sociais propaladas nas políticas no planejamento (parques aqüícolas ou áreas
governamentais para o setor, ou seja, aliviar a aqüícolas). Ressalta-se, também, a
pressão pesqueira sobre os estoques naturais, complexidade das variáveis envolvidas com a
erradicar a fome ou garantir alternativas capacidade de suporte e a fragilidade dos
Cena 3. O grande aporte de econômicas para setores excluídos da critérios para se estabelecer os parques
a b
nutrientes (ração não ingerida, sociedade. As ações de fomento dos órgãos aqüícolas nos reservatórios, destacando-se o
fezes, excretas) nas áreas de
oficiais para o desenvolvimento dessa conflito entre as demandas por locais
cultivo pode propiciar
grandes proliferações de atividade em águas públicas, por exemplo, apropriados (sede dos potenciais interessados,
macrófitas aquáticas (a) ou vêm sendo caracterizadas pelo oportunismo e requisitos necessários para o
florações de cianobactérias o descuido com regras básicas, tanto desenvolvimento dessa modalidade de
(b), às vezes tóxicas.
ambientais quanto econômicas, cultivo) e a importância da área para a
transformando a atividade em um importante conservação dos recursos pesqueiros,
vetor de impactos. A falta de clareza nos preservação ambiental e demais usos. Além
Cena 4. Intempéries podem objetivos não permite sequer identificar o disso, o estabelecimento da capacidade de
a b
destruir flutuantes (a), o que
foco dessas políticas, como por exemplo, os suporte desses parques é também uma tarefa
obriga o piscicultor a
improvisar, usando, por verdadeiros beneficiários (pequeno produtor, difícil, em face das variações temporais e
exemplo, recipiente vazios de grandes corporações, pescadores ou os espaciais das condições limnológicas de uma
biocidas (b), que têm recursos pesqueiros). dada área do reservatório.
propriedades químicas
extremamente nocivas ao
Negligências em relação ao controle da O elevado risco de escapes de espécies não-
meio ambiente.
atividade de cultivo, especialmente na nativas, especialmente de tanques redes, tem
306 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

sido motivo de grandes embates entre necessário para a ordenação da atividade de


produtores de alevinos, aqüicultores, aqüicultura como um todo.
órgãos ambientais, ambientalistas e
cientistas. Posições antagônicas em relação
ao tema, motivada predominantemente por
razões econômicas, políticas ou de pura
Por fim, destaca-se a dificuldade vivenciada
pelas agências de fomento da aquicultura na
transformação do pescador tradicional em
Capítulo 6.4
Mortandades de Peixes em Barragens:
intransigência, tem prejudicado o aqüicultor. Essa conversão implica em
entendimento popular sobre os reais modificações culturais, requer assistência
prejuízos socioambientais destes escapes. técnica contínuada e um sistema de
Somente um esforço conjunto entre a comercialização de pescado adequado, causas e mitigação
comunidade científica, os órgãos de sendo estes dois últimos quesitos
imprensa e o governo permitirá o dificultados pelo caráter disperso da
esclarecimento público dos problemas atividade. É também necessário comprovar
também que o cultivo em tanques-rede,
relacionados a estas atividades, inibindo
Introdução Além disso, as condições hidrodinâmicas
iniciativas eleitoreiras e posturas numa escala reduzida, seja rentável e tenha nos trechos imediatamente a jusante da
negligentes do problema pelos tomadores sustentabilidade sem os fartos subsídios barragem durante a parada e partida das
de decisão. Aliás, esforço semelhante é atualmente oferecidos. E ntre os efeitos ambientais negativos unidades geradoras podem promover a
promovidos pelo represamento de rios atração de cardumes, seguida do
estão aqueles ligados ao livre trânsito dos confinamento no canal de fuga (tubo de
peixes migradores entre seus sítios de sucção) e morte por asfixia ou pela
desova, desenvolvimento inicial e turbulência excessiva.
alimentação. Assim, a opção pela produção
de energia através de hidrelétricas, embora Injúrias ou mesmo grandes mortalidades
evite uma série de impactos comuns a de peixes decorrem tanto do contato destes
outras modalidades de produção, afeta com a estrutura física dos componentes da
adversamente os movimentos dos peixes. barragem (vertedouro e turbinas) quanto
das condições hidrodinâmicas criadas
Os movimentos ascendentes, na ausência durante a operação da usina.
de facilidades para transposição, podem ser
bloqueados. Mesmo quando essas Entre os fatores que afetam a intensidade
facilidades estão presentes, esses com que esses impactos ocorrem destacam-
deslocamentos podem ser retardados, se (i) o desenho dos componentes da
alterando a quantidade, a qualidade e a barragem, (ii) os procedimentos
acessibilidade dos peixes a habitats operacionais, (iii) a natureza da ictiofauna
biologicamente fundamentais. Já naqueles regional, e (iv) a abundância de peixes nas
descendentes, os peixes são submetidos a imediações, esta relacionada à época do
injúrias ou morte ao passar pelo ano.
vertedouro ou turbinas, sendo estas
últimas a única via aos trechos a jusante Os raros inventários de mortalidade de
quando o primeiro não está em operação. peixes em barragens têm computado
308 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Mortandades de Peixes em Barragens: causas e mitigação 309

apenas os indivíduos efetivamente mortos brasileiras mostram valores extremamente salmonídeos, principal espécie afetada por aceitas em relação às barreiras
ou próximos à morte. Entretanto, a variados, seriando de alguns peixes mortos essas perdas, é tida como prioritária, as comportamentais, que não são efetivas
mortalidade de peixes induzida pelas a toneladas deles. Essa variação é esperada informações sobre as causas, a tecnologia para a proteção de grande variedade de
estruturas e operações de barragens deve em razão da grande variedade de desenhos disponível para atenuação e as ações peixes sob condições tão variáveis.
considerar também o fato de que esta pode de turbinas e procedimentos operacionais, mitigadoras recomendadas são muitas vezes
ocorrer posteriormente. Embora de difícil além das peculiaridades de cada rio e controversas. No Brasil, técnicos do setor hidrelétrico têm
estimativa, peixes submetidos a fortes ictiofauna. Padrões gerais nesses eventos são, relatado suas percepções sobre o problema e
estresses ou pequenas injúrias podem portanto, pouco prováveis de serem obtidos, Em um documento publicado pela Seção de recomendado medidas operacionais em
derivar a jusante, morrendo mais tarde pela dada sua natureza local-específica. Bioengenharia da American Fisheries Society várias usinas, sendo os resultados
ação de predadores, fungos e parasitas. (TAFT; BATES; BRUSH; HARN; SOLONSKY; WHITMAN; considerados positivos. Entretanto, essas
Desorientação, remoção de escamas ou Entretanto, o fato de essas mortalidades ZAPEL, 2000) a relutância das agências medidas são baseadas em observações
muco, perdas da capacidade sensitiva ou serem tratadas como temas sigilosos (às ambientais em aceitar a maioria das empíricas e não foram testadas. Além disso,
locomotora são alguns dos aspectos que vezes, nem mesmo o departamento de meio tecnologias e procedimentos propostos para embora as perdas de peixes sejam antigas e
tornam peixes estressados susceptíveis à ambiente da empresa tem acesso a todas as a mitigação do problema é atribuída aos presentes em quase todas as grandes
predação ou infecção. Dado o seu caráter informações) tem prejudicado o seguintes fatores: barragens, temos ainda dúvidas básicas
pouco conspícuo, também a mortalidade de entendimento e a mitigação do problema. Os sobre o assunto, destacando-se, entre elas,
(i) a inconsistência dos resultados da
larvas e juvenis não é considerada nesses impactos negativos de tais eventos na mídia uma fundamental: a origem dos peixes
avaliação dessas técnicas em relação à
inventários. e o receio de multas vultosas que injuriados ou mortos, ou seja, são indivíduos
sua efetividade, com conclusões distintas
eventualmente são aplicadas pelos órgãos de oriundos do reservatório que passaram pelas
entre locais, ou anos em um mesmo
Outro aspecto equivocado em relação à controle ambiental dificultam a discussão estruturas da barragem ou são cardumes que
local;
avaliação de mortalidades é considerar o aberta e a troca de informações entre as se concentram próximo à barragem,
impacto destas sobre os estoques naturais concessionárias, e destas com as instituições (ii) a maioria dos resultados obtidos no provenientes de trechos a jusante? Essa
proporcional à quantidade de peixe morto. de pesquisa. Assim, embora as mortalidades passado estão contidos em relatórios e dúvida demonstra a carência de estudos
Embora uma mortalidade elevada tenha em barragens ocorram há décadas, pouco anais de encontros que são considerados sistematizados sobre o problema.
impacto visual extraordinário e seja uma aprendemos sobre o processo. como grey literature (literatura cinzenta),
fatalidade ao nível de indivíduo, ela pode ter e muitos profissionais relutam em Dado que qualquer medida mitigadora a ser
um significado menor ao nível de população. aceitar testes que não são submetidos a aplicada pressupõe um adequado
Causas das Injúrias e Mortes revisões pelos pares; entendimento da fonte de estresse, o
A severidade de um evento de mortalidade de Peixes entendimento do processo que leva a injúrias
(iii) inventores, fabricantes e/ou
depende dos atributos populacionais, ou seja, ou morte precede a tomada de medidas
tamanho da população, estrutura em A perda de peixes em projetos
vendedores têm conflitos de interesses
ao apresentarem os resultados de testes
atenuadoras, sob pena de alto risco de
comprimento, peso e idade, taxas de hidrelétricos, a exemplo daquelas de fracasso, com desperdício de esforços,
de efetividade de seus produtos ou
mortalidade natural e por pesca, capacidade derivação para termo-elétricas, irrigação e recursos e oportunidades.
técnicas, generalizando resultados
reprodutiva, etc. Entretanto, minimizar o abastecimentos urbanos ou industriais,
positivos obtidos em testes localizados;
evento sem qualquer informação confiável embora algumas vezes considerada Os relatos de autopsias e necropsias de
sobre esses atributos, como é freqüente relevante, não tem sido investigada na (iv) devido à crescente demanda pela peixes em eventos de grandes mortalidades
nesses casos, é, também, uma atitude errônea. América do Sul. Mesmo na América do efetividade biológica de tais dispositivos revelam desde descamações e pequenos
Norte, onde a hidroeletricidade também tem ou técnicas nas últimas décadas, aquelas ferimentos até macerações, decepamentos,
Os escassos dados existentes sobre importante participação na matriz energética de natureza estrutural que excluem embolias gasosas e hemorragias
mortalidades de peixes em barragens e a busca da conservação dos estoques de fisicamente os peixes têm sido mais generalizadas. Sabidamente, essas injúrias
310 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Mortandades de Peixes em Barragens: causas e mitigação 311

são decorrentes de mais de uma fonte de habitats. Podem diferir também em relação à Mortalidades em vertedouro podem ser sob condições de elevada pressão
estresse (colisões, descompressões, altura da tomada d’água. Em geral, aqueles decorrentes do ingresso de peixes na tomada hidrostática, o ar, em forma de bolhas, é
turbulências, cisalhamento, saturação gasosa, que vertem águas superficiais têm menor d’água ou do efeito combinado de sua levado à dissolução. Esses gases, por difusão,
etc.). Os peixes que se concentram possibilidade de promover distúrbios na operação e da morfologia do canal a jusante. alcançam locais de nucleação microscópica
imediatamente abaixo ou acima das qualidade da água a jusante. Ao verter as O arraste de peixes de montante para jusante ou cavidades do corpo do animal e formam
barragens são submetidos a uma gama tão camadas oxigenadas superficiais, estes não se constitui na fonte mais relevante de bolhas. Estas podem alcançar todos os
variada de estresse que torna difícil podem, entretanto, agravar eventuais impacto biológico. Mortalidade decorrente órgãos, provocando disfunções neurológicas,
identificar aquela mais importante. problemas com a qualidade da água no desse fato, embora seja constatada, é muito vasculares, respiratórias ou dos processos de
reservatório. menor que aquelas da passagem pelas osmorregulação. Além disso, as bolhas
Como salientado anteriormente, a perda de turbinas. Desenhos e procedimentos podem formar embolismos sob a pele,
peixes em usinas hidrelétricas depende de Nos casos em que a vazão afluente excede a operacionais adequados podem permitir a levando a ulcerações pela ação de
fatores inerentes ao desenho dos capacidade da estação e a capacidade de passagem de peixes para jusante com baixas microorganismos e fungos. Adicionalmente,
componentes da barragem (vertedouro e armazenagem do reservatório esteja taxas de mortalidade. De qualquer maneira, essas bolhas podem promover injúrias e
turbinas) e à sua operação, ou a fatores esgotada, paradas de máquinas para as taxas de sobrevivência na passagem pelo mortalidades de animais aquáticos pela
relacionados aos peixes, como a natureza da manutenção ou por problemas no sistema vertedouro têm sido estimadas em valores elevação da flutuabilidade.
ictiofauna e sua abundância nas imediações. levarão ao vertimento. O operador não terá, superiores a 90%, geralmente entre 97% a
nesses casos, qualquer controle sobre o 100%, fato que tem levado biólogos O limite superior preconizado pela Agência
início, duração e magnitude desse processo. pesqueiros do hemisfério Norte a optar por de Proteção Ambiental dos Estados Unidos
Vertedouro Entretanto, um planejamento adequado na favorecer a passagem de juvenis de salmão (EPA) é de 110% de saturação de oxigênio
operação da barragem dará maior por essas estruturas. (Diferença de Pressão DP = 76mmHg ao nível
O vertedouro é um componente presente flexibilidade ao operador, permitindo que do mar). Esse valor tem sido considerado
em todas as barragens hidrelétricas, manipule a vazão vertida de forma racional. Uma das principais fontes de injúria e elevado por alguns pesquisadores, visto que,
necessário ao vertimento do excesso de água, Para esse planejamento, fatores como um mortalidade de peixes e de outros nesse patamar, uma exposição prolongada
protegendo as estruturas da estação geradora preciso conhecimento da capacidade do organismos aquáticos, relacionada ao pode levar à morte, especialmente em
das enchentes. A vazão e a freqüência de sua sistema, as predições de eventos de cheias e a vertedouro, é a supersaturação de gases na ambientes restritos de águas rasas (BOUCK,
operação dependem da capacidade da usina e programação adequada de manutenções das água, que pode levar a traumas conhecidos 1980). Argumentos opostos também têm sido
do fluxo do rio. Assim, numa grande usina, unidades geradoras são essenciais e podem como embolia gasosa. Esse fenômeno não é, registrados, visto que os peixes podem, na
especialmente naquela envolvida no compatibilizar os interesses na geração de entretanto, privativo dessas estruturas. maioria das vezes, evitar as condições
atendimento de picos de demanda, na qual a energia com os ambientais. Níveis críticos de gases nos corpos d’água adversas (SCHISLER; BERGERSEN, 1999). De
capacidade da turbina excede a vazão podem ter origens naturais (ex.: grandes qualquer maneira, mortalidades podem ser
afluente, o funcionamento do vertedouro Por outro lado, quando a vazão afluente cai quedas d’água, produção primária por algas verificadas em concentrações superiores a
pode ser esporádico. para valores inferiores aos dos limites de ou vegetação submersa) ou artificiais 125% (FIDLER; MILLER, 1994) e sua intensidade
segurança de operação das turbinas, não (hidrelétricas, termelétricas ou injeção depende das características do peixe e do
Os vertedouros são variados em relação à haverá vertimento. Nesse caso, o trecho a intencional de ar). Nas barragens tempo de exposição a essas condições,
localização, desenho, número e forma de jusante pode secar (exceto se um fluxo hidrelétricas esse fenômeno é mais conspícuo temperatura e a condição geral do peixe.
controle. Geralmente se localizam junto à mínimo acordado para a proteção dos e pode ocorrer no vertedouro e nas turbinas. Baixas profundidades do trecho a jusante
casa de força, são numerosos e controlados peixes ou manutenção de outros usos podem impossibilitar a fuga dos peixes das
remotamente, e, portanto, de operação mais estiver estabelecido), promovendo No vertedouro, o ar atmosférico é áreas mais afetadas e essas condições podem
flexível, sendo possível operá-los de modo a mortalidade e alterações no habitat do canal incorporado à água que cai e mergulha ser mantidas por dezenas de quilômetros
reduzir os impactos sobre os peixes e seus a jusante. profundamente na bacia receptora. Nesta, (Box 6.4.1).
312 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Mortandades de Peixes em Barragens: causas e mitigação 313

A supersaturação gasosa ocorre, portanto, energia, elevação na bacia receptora, Ao descer pelo vertedouro as injúrias e entretanto, relaciona-se negativamente com
quando a pressão total dos gases (PTG) em alteração na forma, submersão das mortalidades podem ser atribuídas à fricção as estruturas de dissipação de energia.
um corpo d’água excede a pressão de comportas e passagens auxiliares. Dentre ou abrasão do peixe com as estruturas que o
compensação (PC). PTG é definida como a estes, os defletores de fluxo têm sido mais compõem, incluindo defletores ou As injúrias que ocorrem no verterdouro ou
soma das pressões dos gases presentes, empregados. dissipadores de energia (flip lips, flip buckets). em sua bacia receptora podem não ser
incluindo a pressão de vapor da água e a PC evidentes e passíveis de detecção senão
é igual à pressão barométrica (dependente da Os peixes e seus habitats a jusante podem, A turbulência pode também levar a colisões tardiamente. Peixes em processo de
altitude e condições do tempo) mais a entretanto, ser drasticamente afetados por com objetos imersos, com a superfície da migração, atraídos pela corrente do
hidrostática (dependente da profundidade; outros fatores, dependendo da operação do água e mesmo com rochas. São igualmente vertedouro, podem se desorientar, não
cerca de 76 mmHg/m). A diferença de vertedouro, extensão do canal, gradiente do relevantes os processos de desaceleração achando a entrada de mecanismos de
pressão (DP = PTG - PC) torna-se leito, escoamento e formação de poças. abrupta, diferenças localizadas de pressão e transposição. Aqueles submetidos ao estresse
determinante de supersaturação apenas Trechos de canal com altos gradientes e com as forças de cisalhamento, especialmente na da passagem pelo vertedouro, submetidos à
quando maior que zero (SCHISLER; BERGERSEN, fluxos de água irregulares podem atrair transição para a bacia receptora. Nesta, a abrasão e perda de escamas, são mais
1999). peixes durante o funcionamento (ou receber existência de zonas de cisalhamento (shear susceptíveis a doenças. Podem também
peixes que descem o vertedouro) e, com a zone), determinada pela alta velocidade da mudar o comportamento e ser predados, por
A duração, intensidade e extensão desse interrupção do fluxo, aglomerar em poças água na saída do vertedouro e podendo ser outros peixes, ou mais comumente, por aves
fenômeno são determinadas principalmente levando a alta mortalidade por predação e/ acentuada pela presença de defletores, e mamíferos que se concentram a jusante das
pela vazão e pela profundidade de mergulho ou asfixia. resulta, em geral, em injúrias físicas aos barragens, incluindo a pesca ilegal.
da água que cai, podendo alcançar valores de peixes. Essas injúrias ocorrem quando o
DP até 400 mmHg (FIDLER; MILLER, 1994). As injúrias e mortalidades podem também peixe é deslocado de uma massa d’água de A supersaturação pode se estender por uma
Algumas alternativas têm sido aplicadas aos ocorrer durante a passagem do peixe pelo alta velocidade do vertedouro para aquela distância variável, porém seu efeito deletério
vertedouros com vistas a reduzir os efeitos vertedouro, enquanto está na bacia receptora menos veloz da bacia coletora, ou quando é, geralmente, restrito e combinado com
da supersaturação gasosa, destacando-se a da água vertida, ou se manifestar migra de camadas mais profundas e calmas turbulência. A embolia gasosa é considerada
instalação de defletores ou dissipadores de tardiamente em trechos mais a jusante. para a zona de cisalhamento superficial, com o principal fator de mortalidades massivas
jatos de alta velocidade emanados dos que ocorreram a jusante do reservatório de
defletores. Yacyretá, na Argentina (DOMITROVIC; BECHARA;
Bo
Boxx 6.4.1 JACOBO; FLORES QUINTANA; ROUX, 1993/94;

Identificação de fontes de supersaturação de gases no alto rio Colorado, EUA Estudos prévios têm demonstrado que jatos DOMITROVIC; BECHARA; FLORES QUINTANA; ROUX;
cuja velocidade exceda 15 m/s são danosos GAVILÁN, 2000), podendo ser diagnosticada a
SCHISLER, G. J.; BERGERSEN, E. P. Identification of gas
supersaturation sources in the Upper Colorado River, USA. aos peixes e que a 25 m/s são altamente nível macroscópico pelas lesões
Regulated River: Research & Management, Chichester, v. 15, no. 4, p. danosos (GROVES, 1972; BELL; DELACY, 1972). hemorrágicas, êmbolos gasosos nas
301-310, July-Aug. 1999.
Entretanto, comparações realizadas entre brânquias, olho, fígado e pele (Figura 6.4.1).
“Os níveis de saturação de gases atmosféricos foram monitorados através de um trecho de 40 km do alto rio vertedouros com e sem defletores mostram A mortandade por supersaturação gasosa
Colorado durante o verão e o outono de 1995 visando identificar possíveis fontes de supersaturação no rio. que, pelo menos para larvas, eles parecem atinge diversas espécies de peixes, porém as
Dados de saturação gasosa de sete pontos de amostragem fixos e 40 pontos casualizados foram examinados reduzir a mortalidade (LONG; OSSIANDER; mais afetadas são aquelas que habitam o
usando métodos de análise de variância e regressão múltipla. Os menores valores de saturação total de gases
RUELE; MATHEWS , 1975). Assim, as injúrias fundo do rio, como raias e Siluriformes
(DP = -27) foram encontrados nas liberações de fundo do reservatório Williams Fork e na confluência do
riacho Willow e rio Colorado. Os níveis de saturação foram afetados pelas variáveis espaciais e temporais. A sofridas pelos peixes na bacia receptora da (armados P. granulosus, Oxydoras kneri e
supersaturação gasosa na área de estudos teve origem em ações humanas e em processos naturais. A água vertida serão proporcionalmente Rhinodoras d’orbignyi, além de diversas
descarga de água do reservatório Windy Gap foi a principal fonte de saturação artificial, enquanto a maiores quanto mais extensas forem as áreas espécies de cascudos) (DOMITROVIC; BECHARA;
atividade fotossintética de plantas aquáticas foi a natural.” afetadas pela alta turbulência. Esta última, JACOBO; FLORES QUINTANA; ROUX, 1993/94).
314 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Mortandades de Peixes em Barragens: causas e mitigação 315

Apesar de a ocorrência de
supersaturação gasosa estar mais a
associada a turbulência da barragem,
ela pode se estender por distâncias
consideráveis. Em Yacyretá, condições
de supersaturação foram detectadas
em regiões distantes, localizadas a 91
km a jusante da barragem. Alguns
peixes capturados nesses locais
também apresentaram lesões micro e
macroscópicas (DOMITROVIC; BECHARA;
FLORES QUINTANA; ROUX; GAVILÁN, 2000).
b

A intensidade e a duração dos


1
problemas com supersaturação gasosa
5
podem variar de um ano para outro 4
6
4
em uma mesma usina hidrelétrica, 2 3
dependendo das vazões. Assim, a
severidade e as conseqüências da
embolia gasosa podem ser
exacerbadas em anos de altas vazões e
1 Incremento de pressão
elevado vertimento. Medidas que 7 2 Decéscimo rápido de pressão
Figura 6.4.1 - Quadro de injúrias impostas aos peixes
diminuam a vazão pelos vertedouros, ao serem submetidos a supersaturação gasosa e 3 Cavitação
ou mesmo alterações no desenho de diferenças de pressão. a = brânquias; b = olho 4 Choques mecânicos
(Modificado de ABERNETHY; AMIDAN; CADA, 2001). 5 Abrasão
suas estruturas, podem minimizar a
6 Força de cisalhamento
ocorrência de supersaturação nas 7 Turbulência
imediações das barragens (BECHARA;
DOMITROVIC; FLORES QUINTANA; ROUX; JACOBO;
A passagem de peixes através de Figura 6.4.2 - Condições adversas a que são submetidos os peixes ao passar por uma unidade

GAVILÁN, 1996; MIRANDA, 2001).


turbinas geradora (Modificado de CADA; COUTANT; WHITNEY, 1997).

Turbinas
Ao passar através da unidade geradora, os As variações de pressão que se verificam valores de pressão são bem suportados por
peixes são submetidos a uma variedade de desde a tomada d’água, e especialmente ao um grande número de espécies de peixes,
condições adversas relacionadas ao fluxo da nível das palhetas da turbina, levam a desde que a mudança seja gradual e com
A mortalidade de peixes na casa de força água, que podem atuar isoladamente ou em grandes mortalidades de peixes, não tanto tempo de resposta (alteração no volume da
pode envolver (i) indivíduos oriundos do conjunto. Entre as condições adversas, pelos valores positivos que alcançam, mas bexiga natatória, por exemplo).
reservatório que entram pela tomada d’água enumeram-se as mudanças bruscas e por serem abruptas. Numa turbina tipo
e são forçados a passar pela turbina, e (ii) extremas na pressão, a cavitação, forças de Francis, os peixes são submetidos a variações Em geral, espécies com bexiga natatória
cardumes que são atraídos pelo canal de fuga cisalhamento, turbulência, e choques na pressão que, em frações de segundo, vão ligada por ducto ao esôfago (fisóstomas) têm
e submetidos ao estresse da operação/ mecânicos (CADA; COUTANT; WHITNEY, 1997 – de 5-10 atmosferas a uma pressão “negativa” maior resistência às mudanças de pressão
manutenção da turbina. Figura 6.4.2). (PAVLOV; LUPANDIN; KOSTIN, 2002). Esses por poderem expelir ou tomar ar e, portanto,
316 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Mortandades de Peixes em Barragens: causas e mitigação 317

alterar o volume e controlar a pressão da exposição durante a passagem e a de entre essas duas fontes de estresse não é peixes ou vertebrados (aves e mamíferos).
bexiga. Aquelas sem ducto (fisóclistas), ou aclimatação, inferiores a 0,3 (30%) podem significativo e teve impacto distinto entre as Entre os aspectos comportamentais
seja, cujo volume da bexiga natatória deve promover mortalidades. Para os peixes espécies. Mortes ou injúrias severas foram anormais, destaca-se a falta de reação visual,
ser regulado pela secreção ou absorção do fisóclistos, o limiar dessa razão deve ser constatadas na espécie fisóclista quando a acústica ou a estímulos hidráulicos e, em
ar por mecanismos de contracorrente ainda maior (CADA; COUTANT; WHITNEY, 1997) pressão foi reduzida para 50 kPa, sendo que casos mais drásticos, a ausência de orientação
sanguínea, são mais susceptíveis a injúrias, – Figura 6.4.3. esse valor afetou apenas levemente os peixes dorso-ventral natural do corpo (PAVLOV;
dada a lentidão do processo. As variações fisóclitos quando provenientes da superfície. LUPANDIN; KOSTIN, 2002).
bruscas na pressão podem fazer com que os Abernethy, Amidan e Cada (2002), Entretanto, para aqueles com altas pressões
gases presentes na bexiga apareçam na simulando a passagem de peixes fisóstomos de aclimatação (de fundo), Outro fator de incremento da mortalidade de
circulação sanguínea, provocando embolia (salmão) e fisóclistos (Lepomis) através de independentemente de sua categoria, peixes, ligado à variação da pressão no
gasosa. Porém mesmo as fisóstomas podem turbina tipo Kaplan, avaliaram o efeito do mostraram distensões de parede ou rupturas interior da turbina, é a cavitação.
não suportar a rapidez com a qual a pressão regime de pressão e supersaturação gasosa. da bexiga já nesses valores. Tal fenômeno resulta da formação de bolhas
da água varia entre o conduto forçado e o Esses autores relatam que o sinergismo na água causada por uma redução localizada
canal de fuga. Tsvetkov, O efeito direto de variações bruscas na e extrema na pressão (igual ou inferior à
Pavlov e Nezdoliy (1972) pressão são hemorragias generalizadas, pressão de vapor). No interior da turbina,
demonstraram eversão do estômago pela boca e/ou sua isso pode ocorrer nas áreas de baixa pressão
Aclimação Passagem pela turbina Jusante
experimentalmente que (16-24 hr) (-60-90 sec) (-60 sec) ruptura, dilatação do globo ocular, além do (ex.: imediatamente abaixo das palhetas) e
450
a taxa de sobrevivência 400 Superfície quadro de embolia gasosa (Figura 6.4.4). em pontos com velocidades locais crescentes
de peixes fisóstomos foi 350 Fundo ou mudanças bruscas de direção do fluxo. O
Pressão (kPa)

maior que a dos


300 Entretanto, podem ocorrer mortalidades fluxo sobre superfícies irregulares ou mesmo
250
fisóclistos a uma mesma 200 decorrentes apenas indiretamente das certas condições de temperatura da água e de
taxa de variação de 150 variações bruscas na pressão. Estas conteúdo de ar podem também dar origem
100
pressão. Entretanto, 50
geralmente relacionam-
mesmo os peixes 0 se a mudanças
Tempo
fisóstomos são mortos a comportamentais Lacerações
partir de uma taxa de impostas por esse Eversão do
Superfície Montante (101 kPa) estômago
descompressão de 91 0
processo. Assim, alguns
kPa/s (13,2 PSI/s). 30
30n (191 kPa) estudos demonstram que
Profundidade (m)

Superfície Jusante (101 kPa) algumas espécies ou


Estudos realizados com condições são suficientes
peixes fisóstomos apenas para estontear o Fratura no crânio
100 Turbina (400 kPa)
revelam que a pressão animal temporariamente
de aclimatação, e que este, quando Escoriações

dependente da posição capturado e mantido em


na coluna d’água em que aquário, se recupera após
o peixe se posiciona algumas horas ou dias.
antes de entrar na Sua derivação a jusante Figura 6.4.4 - Peixes de couro mostrando diferentes modalidades de
Figura 6.4.3 - Variações de pressão a que podem estar submetidos os
tomada d’água, afeta a peixes em sua passagem por turbinas a partir de montante poderia, entretanto, injúrias decorrentes de mudanças na pressão e choques com os
componentes da turbina ou tubo de sucção. Acima = jaú Zungaro
mortalidade e que (superfície = 101 kPa e a nove metros = 191 kPa) para jusante submetê-lo a intensa zungaro; abaixo = sorubim Pseudoplatystoma fasciatus (Fotos:
(modificado de ABERNETHY; AMIDAN; CADA, 2001).
razões entre a pressão de predação por outros C. S. Agostinho).
318 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Mortandades de Peixes em Barragens: causas e mitigação 319

às bolhas de gás (CADA; COUTANT; WHITNEY, O estresse produzido pelas forças de A turbulência, por outro lado, é definida As injúrias de natureza mecânica a que são
1997). As bolhas de vapor são levadas pelo cisalhamento é também uma modalidade de como movimentos caóticos das partículas de submetidos os peixes ao passar pela turbina
fluxo para áreas de alta pressão, onde estresse por pressão. Ao contrário desta um fluido, mesmo quando este estiver se decorrem do contato direto destes com a
colapsam violentamente (condensação; última, que atua perpendicularmente, as deslocando em única direção. No interior de maquinaria da unidade geradora, através de
“bolhas de cavitação”), gerando ondas de forças de cisalhamento agem paralelamente uma turbina, como em um rio, a turbulência colisões com os componentes fixos e móveis
choque que podem ultrapassar 100 kgf.cm-2 à superfície do corpo, sendo o estresse ocorre em escala variada, podendo atingir da turbina, ou a compressão ao passar
(PAVLOV; LUPANDIN; KOSTIN, 2002; 9.800 kPa). resultante da incidência de duas massas os peixes tanto com correntes opostas através de espaços estreitos entre a parte
d’água com velocidades distintas (CADA; quanto de mesma direção, porém com móvel e a fixa (Figuras 6.4.4 e 6.4.6). Em
A influência da cavitação sobre os peixes é COUTANT; WHITNEY, 1997). Os maiores valores velocidades distintas. Embora possam ser ambos os casos a intensidade e a freqüência
aceita pela maioria dos autores. Poucos de força de cisalhamento são encontrados na verificadas já a partir do conduto forçado, das injúrias dependem das características do
experimentos têm, entretanto, sido interface entre fluxos de alta velocidade e são, em geral, mais pronunciadas no tubo peixe (ex.: espécie, idade, peso, condição) e
conduzidos, sendo o fato atribuído às objetos sólidos, como as margens principais de sucção (canal de fuga), que pode criar da turbina (número de pás do rotor e de
dificuldades de modelar a cavitação em das palhetas da turbina. grandes turbilhões ou rodamoinhos. palhetas do distribuidor, tamanho e forma
escala de laboratório (PAVLOV; LUPANDIN; das aberturas, rotação e ângulo das pás do
KOSTIN, 2002). Além disso, alguns autores não As freqüências de injúrias e morte Nos sistemas hidráulicos das barragens os rotor, velocidade da água, nível da
conseguiram mostrar essa relação em produzidas pelas forças de cisalhamento estresses da turbulência e do cisalhamento turbulência), bem como das relações entre a
condições de laboratório (TURNPENNY; DAVIS; dependem do tamanho do peixe e da região são, na maioria das vezes, inseparáveis e turbina e o peixe (posição, rota, orientação)
FLEMING; DAVIES, 1992). Esses autores do corpo onde incide a força do jato. Em dependentes um do outro. Assim, a - Cada, Coutant e Whitney (1997).
acreditam, entretanto, que se a cavitação geral, peixes menores e jatos incidindo sobre turbulência induz as forças de Reynold que
pode danificar os componentes das turbinas, a cabeça são mais letais (CADA; COUTANT; afetam a magnitude da viscosidade aparente Em geral, turbinas do tipo Francis causam
peixes que passam próximos a cavidades de WHITNEY, 1997). Peixes submetidos a essas e, portanto, o estresse de cisalhamento. A maior mortalidade por danos mecânicos
vapor têm grande probabilidade de sofrer condições mostram deformações no corpo avaliação dos efeitos de cada um é possível que as do tipo Kaplan, que têm maior
injúrias. (alongamento, compressão, torção), perda de apenas experimentalmente. A força das espaço entre as palhetas e são operadas em
muco e escamas, danos nos olhos correntes de turbulência pode atingir menor velocidade. As últimas, entretanto,
A cavitação é, entretanto, uma preocupação (hemorragias, ruptura da córnea e diferentes partes do corpo do peixe, têm maiores problemas com os demais
dos gerentes de usinas, que procuram extirpação), e esmagamento e hemorragias causando injúrias e
minimizá-la através de procedimentos em órgãos internos (Figura 6.4.5). mortes por inversão das
operacionais que são rotina nas barragens brânquias e
ou, na sua inevitabilidade, pela injeção de ar, decepamento da cabeça.
que reduz o impacto do colapso sobre os Rompimento dos
componentes e os peixes. Por outro lado, a opérculos e danos nas
crescente demanda energética tem levado brânquias são efeitos
muitas usinas instaladas a operar próximo menores. Conforme o
aos seus limites máximos, aumentando a peixe é capturado por
ocorrência de cavitação. Calainho, Horta, uma situação em que
Gonçalves e Lomônaco (1999) estimam que existem forças que
cerca de 75% das companhias geradoras de Figura 6.4.5 - Juvenil de salmão mostrando
tracionam a cabeça, os
injurias decorrentes de entrada em zona Figura 6.4.6 - Injúrias apresentadas por um cuiú-cuiú Oxydoras
energia no Brasil estavam operando com de cisalhamento em experimento (Fonte: opérculos abrem-se, niger, capturado a jusante da barragem, provavelmente
PACIFIC NORTHWEST NATIONAL
algum tipo de problema de cavitação em LABORATORY, c2005).
tornando a força mais decorrente de colisões com a maquinaria das unidades
geradoras (Foto: C. S. Agostinho).
seus equipamentos. efetiva na decapitação.
320 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Mortandades de Peixes em Barragens: causas e mitigação 321

tipos de danos. Ambas podem promover mortalidades de peixes abaixo das barragens Nas paradas para manutenções programadas canal de fuga, resultando em mortalidades
todos os tipos de danos se operadas com é atribuída a esse tipo de mecanismo. ou emergenciais, as comportas de montante massivas. Isso tem sido agravado pelo fato
eficiência menor que a máxima. Entre as Entretanto, esses acidentes foram pouco (ou palhetas dos distribuidores) e de jusante de as demandas dos sistema elétrico,
injúrias sofridas pelos peixes em decorrência estudados e é possível que a maioria deles (comporta de manutenção) são fechadas. comandadas pelo Operador Nacional do
de colisões e compressões, destacam-se decorra de peixes que passam pela turbina Entretanto, antes que o fechamento esteja Sistema (ONS), requererem respostas
hematomas, cortes profundos ou lacerações, vindo de montante. Sabe-se, no entanto, que concluído, ocorre o ingresso de cardumes imediatas.
perdas de escamas e de partes do corpo, a atração e aprisionamento de peixes durante das imediações para o canal de fuga e tubo
fraturas da coluna, maceração, etc. (Figuras as paradas das unidades geradoras podem de sucção, possivelmente atraídos pela Mortalidades podem ocorrer também nas
6.4.4 e 6.4.6). levar a mortalidades massivas, podendo redução da descarga e/ou pelas correntes unidades geradoras em funcionamento,
alcançar proporções alarmantes durante o geradas pelas unidades vizinhas. Com a especialmente quando, para atender a uma
Na maioria dos casos, é extremamente difícil período de migração ascendente (piracema) – interrupção do fluxo d’água, ocorre o demanda do sistema elétrico, ocorre uma
identificar a origem específica de um tipo de Figura 6.4.7. deplecionamento gradual do oxigênio rápida abertura das palhetas do
dano causado pelas turbinas, isso porque os dissolvido no interior do tubo de sucção, distribuidor, incrementando subitamente a
vários fatores de injúria mencionados podem Assim, mesmo com insuficiência de dados, a podendo ocasionar a morte dos peixes vazão, com implicações na pressão e na
afetar o peixe de modo isolado ou concomitância de mortalidades massivas de retidos por asfixia. A gravidade dessa turbulência do tubo de sucção. Esse
combinado. Além disso, há uma grande peixes com alguns dos procedimentos situação depende, diretamente, da atendimento é, em muitas usinas,
sobreposição entre os tipos de injúrias operacionais de rotina nas barragens permite abundância de peixes aprisionados e do automatizado.
produzidas por diferentes fatores. algumas inferências, como segue. tempo necessário para a realização dos
trabalhos de manutenção. O setor Entre os procedimentos operacionais com
Paradas nas unidades geradoras das usinas hidrelétrico tem incorporado à rotina de maiores riscos potenciais para os peixes,
A Atração e Mortalidade de hidrelétricas são previstas com a finalidade destacam-se os testes de performance das
manutenção das turbinas o que chamam
Peixes no Tubo de Sucção de (i) manutenções programadas, “operação salvamento de peixes”, que turbinas, que são parte integrante do
preventivas ou corretivas, que têm compreende o bombeamento de oxigênio e comissionamento e aceitação dos
O desenho da barragem e os ocorrência periódica, (ii) emergenciais, a retirada dos peixes, com resultados equipamentos eletro-hidráulicos.
Realizados durante o período de garantia,
procedimentos de rotina na sua operação, necessárias para a correção de problemas satisfatórios.
que podem determinar maiores ou menores hidroeletromecânicos, e (iii) redução na esses testes envolvem condições
injúrias sobre os peixes que passam pelas demanda energética ou economia de água. No caso das paradas motivadas por operacionais extremas (reguladas por
turbinas, podem também insuficiente demanda energética, a protocolos internacionais) durante as quais
promover a atração de comporta de jusante é mantida aberta, dado os peixes são submetidos a forte estresse de
cardumes de jusante para o que pode ser necessária sua entrada pressão, cavitação e turbulência.
interior do canal de fuga repentina em operação para atender uma
(tubo de sucção) e, demanda emergencial. Isso permite o Outro procedimento na operação das usinas,
posteriormente, submetê- acúmulo de peixes no tubo de sucção ou com impacto sobre os peixes, e que vem se
los a forte estresse, canal de fuga. tornando gradativamente mais empregado, é
culminando com injúrias e, o de transferência da operação compensador-
freqüentemente, mortes. Em ambos os casos, a partida da unidade síncrono para gerador. Nesse caso, a unidade
geradora, com liberação repentina do fluxo, conectada ao sistema elétrico passa a
No Brasil, a quase pode promover grandes variações na funcionar como um motor, não gerando
totalidade dos acidentes Figura 6.4.7 - Acúmulo de peixes no canal de fuga durante o pressão, produzir elevada turbulência e energia. Esse procedimento destina-se a
período de piracema (Foto: H. São Thiago).
envolvendo grandes levar à colisão dos peixes com as paredes do proporcionar maior estabilidade ao sistema
322 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

elétrico através do controle da tensão, Em razão de muitas espécies apresentarem


economizando água do reservatório sem comportamento reofílico e, portanto, serem
que a máquina pare. É, portanto, um recurso
de interesse tanto do gerenciador do
sistema elétrico quanto do concessionário
da usina.
atraídas por locais com maior fluxo de água, é
comum que ocorram adensamentos de peixes
a jusante da barragem, e atração daqueles
situados a montante, nas imediações das
Capítulo 6.5
Remoção Prévia da Vegetação:
tomadas de água. No primeiro caso, a
Entretanto, para possibilitar essa operação operação das turbinas pode criar zonas de
como compensador-síncrono, é injetado ar grande turbulência, e no segundo caso os
na região da câmara do rotor para rebaixar peixes são capturados pela tomada d’água e a qualidade da água x disponibilidade de abrigo
o nível da água no tubo de sucção, forçados a atravessar as estruturas das
impedindo seu contato com a turbina. turbinas ou dos vertedouros, acarretando
Numa demanda emergencial de energia injúrias. Estas podem ser ocasionadas por
pelo sistema, a unidade em operação como abrasão, diferenças de pressão, embolia e
matéria orgânica, nutrientes e diversidade
compensador-síncrono retorna automática e colisões, sendo provável que parte
imediatamente ao modo gerador. Durante
Introdução estrutural, (v) atenuar os impactos com a
considerável dos peixes injuriados não morra
erosão marginal pela ação das ondas e
esse processo, são abertas as palhetas do de imediato, porém podem perecer mais
distribuidor, ocasionando a expulsão
violenta do ar comprimido desde a câmara
tarde em decorrência do impacto ou pela U m dos grandes desafios com que se
variação de nível, e (vi) reduzir os elevados
custos com a remoção.
fragilidade ante a predação e doenças. defrontam o setor elétrico e os órgãos de
do rotor até o tubo de sucção, gerando controle ambiental relaciona-se à falta de Entretanto, o excesso de vegetação alagada
variações de pressão, turbulência, Então, a despeito dos esforços de muitas informações sobre o efeito da remoção ou pode resultar em uma série de problemas
supersaturação e arremessando os peixes de concessionárias de energia hidrelétrica na não da vegetação antes do enchimento de que podem neutralizar, em alguma exten-
uma condição de pressão de águas solução do problema de mortalidades nas reservatórios. Isso tem gerado muita são, as vantagens. Entre estas se destaca a
profundas para a superfície em fração de barragens, o conhecimento disponível sobre controvérsia a cada vez que um novo anoxia em regiões mais profundas, resulta-
segundo. os mecanismos dessas mortes ainda é reservatório é construído. do da decomposição da matéria orgânica, a
precário. Sequer sabemos a origem dos peixes
qual pode levar a mortandades de peixes ou
que morrem (montante, jusante ou ambas), O fato de a remoção ter vantagens e desvan-
Considerações Finais exceto quando a morte ocorre no tubo de tagens sobre a manutenção da fauna
limitar sua distribuição no novo ambiente.
Além disso, troncos submersos podem
sucção durante as paradas de máquinas. A aquática é o principal foco da controvérsia.
A ocorrência de injúrias e mortes, determinação exata da causa das injúrias e
A manutenção da vegetação terrestre
interferir na navegação, recreação, redes de
pesca, e servir como suporte para bancos de
provocadas pela passagem de peixes por mortes de peixes na barragem é tarefa
macrófitas (PLOSKEY, 1985).
estruturas da barragem, é um fenômeno complexa, devido ao elevado número de submersa tem sido vista como fator favorá-
recorrente nos grandes reservatórios fatores envolvidos, às interações entre eles e à vel por (i) fornecer substrato para o
brasileiros. Porém sua magnitude falta de especificidade na resposta biológica perifiton e bentos, que são importantes Importância da Estruturação
raramente tem sido avaliada, inexistindo (danos em tecidos e mortes), o que dependerá recursos alimentares para peixes, (ii)
dos Hábitats
estimativas reais sobre as perdas de de mais estudos para sua elucidação e prevenir a sobrepesca, (iii) disponibilizar
estoques. mitigação. locais de reprodução e refúgio,
incrementando a sobrevivência e o recruta-
mento, (iv) aumentar a produtividade
A base teórica deste tópico pode ser
buscada no conhecimento já estabelecido
biológica em áreas litorâneas por fornecer sobre a estrutura de hábitats, entendida
324 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Remoção Prévia da Vegetação: a qualidade da água x disponibilidade de abrigo 325

como as estruturas físicas no espaço (troncos, alimento resultantes do aumento na


galhos, macrófitas, locas, etc.) que sustentam disponibilidade de substrato (LILLIE; BUDD,
a
comunidades animais e vegetais. 1992); e elevada produtividade decorrente de
seu efeito positivo sobre a penetração da luz
A heterogeneidade estrutural dos hábitats (TREBITZ; NIBBELINK, 1996).
tem importante papel na diversidade
biológica dos ambientes aquáticos, nas A importância da estruturação para a
relações interespecíficas e na produtividade diversidade específica pode ser evidenciada
do sistema. A importância dessa estruturação por um paralelo entre uma floresta tropical
pode ser evidenciada pela abundância e luxuriante e uma árida paisagem de dunas
diversidade de espécies suportadas por áreas (SCHEFFER, 1998). Embora não passível de
b
bem-estruturadas, muitas vezes maiores que amplas comparações, isso dá uma dimensão
aquelas de áreas sem estrutura. das diferenças nas estruturas de hábitats
entre um corpo d’água com e outro sem
A adição de complexidade estrutural ao vegetação (Figura 6.5.1).
ambiente aquático, promovido pelos
troncos, macrófitas ou outros objetos Embora a efetividade da predação dependa
submersos, eleva a disponibilidade de do comportamento do predador e da presa, a
abrigos para as espécies de peixes presença de múltiplos predadores, com
forrageiros e formas jovens daquelas de múltiplas estratégias, como ocorre na Figura 6.5.1 - Representação esquemática do nível de estruturação de habitats em cenários de
grande porte, reduzindo a taxa de maioria dos reservatórios brasileiros, reservatórios sem (a) e com (b) a remoção da vegetação.
mortalidade e influenciando as interações conduz à exacerbação na pressão predatória.
interespecíficas (SAVINO; STEIN, 1982). Essas Nesse caso, é consumido um número maior
Quando em excesso, entretanto, os efeitos da KLUSSMANN; BETSILL; NOBLE, 1991; OLSON;
estruturas, a exemplo das macrófitas de presas que aquele esperado pelo
estruturação sobre a eficiência de CARPENTER; CUNNINGHAM; GAFNY; HERWIG;
aquáticas, fornecem ainda o substrato para o somatório da capacidade de cada espécie,
forrageamento dos predadores podem ser NIBBELINK; PELLET; STORLIE; TREBITZ; WILSON,
desenvolvimento de organismos utilizados devido à tendência de um predador
adversos, levando à redução na biomassa 1998; AGOSTINHO; GOMES; JÚLIO JÚNIOR, 2003).
na alimentação da maioria das espécies de aumentar a vulnerabilidade da presa a outro,
destes. Assim, uma interação negativa
peixes, pelo menos durante as fases iniciais geralmente com estratégia de predação Dessa maneira, a estruturação dos hábitats
decorrente da redução no risco de predação
de desenvolvimento, além de servirem diferente. influencia não apenas a relação predador-
entre os predadores (SIH; ENGLUND; WOOSTER,
como locais de desova de espécies fitófilas presa, mas também as interações predador-
1998) poderia levar a fortes competições
(DIBBLE; KILLGORE; HARREL, 1996). Num ambiente com pouco abrigo, um
entre estes e incrementar a predação predador e, portanto, o impacto combinado
predador, além de apresentar maior
intraguilda, na qual um predador é parte da de múltiplos predadores (WARFE; BARMUTA,
Os benefícios das estruturas submersas eficiência na captura, pode afugentar as
dieta de outro, inclusive da mesma espécie 2004). Swisher, Soluk e Whal (1998) mostram
sobre as assembléias têm sido associados, presas para outra área na qual seus
(canibalismo). que o impacto combinado de peixe-sol
segundo Miranda e Hodges (2000), ao mecanismos de fuga não sejam tão eficientes,
(Lepomis macrochirus) e larvas de odonata
balanceamento entre a eficiência de sendo predados por outros (SOLUK, 1993). O
Concomitantemente, a redução na sobre presas foi menor quanto maior o nível
forrageamento dos predadores e as incremento na disponibilidade de abrigo
mortalidade das presas aumentaria sua de estruturação do hábitat. Em hábitats
necessidades de refúgio da presa (HECK; levaria à redução na eficiência da predação e
abundância e biomassa, fortalecendo as estruturados, o impacto de ambos os
THOMAN , 1981; DIONNE; FOLT , 1991); a elevada a um controle no tamanho populacional do
interações competitivas, podendo resultar predadores tornou-se apenas aditivo
capacidade de suporte pelas fontes de predador.
em baixo crescimento (MACEINA; BETTOLI; (somatório dos impactos individuais).
326 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Remoção Prévia da Vegetação: a qualidade da água x disponibilidade de abrigo 327

O saber popular acerca dos benefícios da (iii) o incremento no potencial reprodutivo Processo de Decomposição O processo de decomposição é altamente
estruturação do hábitat sobre a de diversas espécies que desovam nas diferenciado conforme o grupo taxonômico
produtividade do ecossistema é e a natureza da parte vegetal considerada.
demonstrado pelo seu uso em sistemas de
superfícies imersas das estruturas
artificiais; A vegetação terrestre total ou Plantas herbáceas, folhas e serrapilheira são
cultivo em diferentes partes do mundo (ver parcialmente alagada durante o enchimento componentes ambientais com decomposição
(iv) o aumento da sobrevivência de larvas, do reservatório, mesmo em regiões onde o rápida, geralmente em menos de um ano
Box 6.5.1).
alevinos e juvenis, devido à maior regime de cheias envolve amplos (WEBSTER; SIMMONS, 1978), mesmo em regiões
A importância da estruturação do hábitat oferta de refúgios contra predadores; alagamentos sazonais, como na Amazônia, temperadas (NURSALL, 1952).
sobre as interações ecológicas tem morre após um período que depende da
(v) o equilíbrio entre as populações, pela
motivado gerentes de reservatórios a natureza dessa vegetação. As plantas Troncos lenhosos (árvores e arbustos)
redução dos efeitos de predação e
recorrer aos substratos artificiais para herbáceas sucumbem, geralmente, em podem, por outro lado, levar mais de 100
competição;
favorecer as assembléias de peixes (BENNETT, poucos dias. As lenhosas, por outro lado, anos para que sejam decompostos,
c1970; JOHNSON; LYNCH, Jr., 1992; SUMMERFELT, (vi) a atração e concentração de peixes maiores podem requerer até um ano (PLOSKEY, 1985), especialmente se não expostos à atmosfera
1993; AGOSTINHO; GOMES, 1997; FREITAS; nas proximidades das estruturas, mas, em geral, morrem em menos de seis (JENKINS, 1970). Isso se deve ao fato de estes
PETRERE JUNIOR , 2001). Entre as vantagens melhorando a produtividade pesqueira; meses. apresentarem maiores proporções de
desses hábitats artificiais, são enumeradas: material não-digerível (celulose, resina,
(vii) a redução do efeito da pesca predatória
A mortandade envolve não apenas a lignina). Também, a menor área superficial
com artefatos proibidos;
(i) a diversificação dos elos da cadeia trófica, vegetação imersa, mas também aquelas de (em relação ao volume) exposta à ação
incrementando a capacidade biogênica; (viii) a estabilização do ambiente a longo solo não-higromórfico, cujas raízes foram degradadora é uma explicação desse fato
prazo. submetidas ao encharcamento permanente (PLOSKEY, 1985) (Figura 6.5.2).
(ii) o favorecimento do crescimento da ou duradouro.
comunidade perifítica, alimento de (ix) o aumento da biodiversidade local e entre
larvas, juvenis e de espécies herbívoras; hábitats. O tempo envolvido na
decomposição depende,
entretanto, de fatores
Bo
Boxx 6.5.1 como temperatura,
Interações entre peixes e macrófitas aquáticas em águas interiores: uma revisão. oxigênio dissolvido e
distúrbios físicos, como a
PETR, T. Interactions between fish and aquatic macrophytes in
inland waters: a review. FAO Fisheries Technical Paper, Rome, no.
ação de ondas e a
396, 2000. 185 p., ill. exposição a intempéries
nos períodos de depleção
“Mesmo antes de entender o significado da presença de árvores mortas em reservatórios para a produção
do reservatório.
de peixes via cadeia alimentar, em algumas partes da África, a produção de peixes em lagos é artificialmente
Temperatura e oxigênio
incrementada pela inserção de galhos cortados nas matas circundantes. Estes galhos, quando submersos
fornecem superfície para o perifiton e a fauna de invertebrados associados, atraindo peixes. O método, afetam a taxa de
primeiro descrito em Benin, Oeste da África, com o nome de acadja é hoje amplamente difundido. O decomposição biológica,
rendimento anual da pesca varia de 2 a 17 ton.ha -1, conforme o intervalo de pesca. A demanda por e os distúrbios físicos
madeiras para a acadja está em torno de 10 ton.ano-1 e isto deve ser prejudicial para a vegetação marginal. levam a um incremento
Como o uso da acadja se difunde e leva a um rápido desmatamento em torno dos corpos de água, estudos na taxa de remoção
têm sido feitos na busca de espécies alternativas, com uma resistência razoável, que poderiam ser cultivadas. superficial ou quebra Figura 6.5.2 - Reservatório de Mourão (bacia do rio Paraná), fechado
O uso deste método é agora comum no rio Niger, alguns países da Ásia, como a Indonésia, no rio Mekong física do material morto em 1964, mostrando área em que vegetação arbórea não foi
e no Equador.” previamente removida (Foto: Arquivo do Nupélia).
(PLOSKEY, 1985).
328 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Remoção Prévia da Vegetação: a qualidade da água x disponibilidade de abrigo 329

Erosão O tempo de residência da água e as Bo


Boxx 6.5.2
flutuações de níveis têm notável impacto na
Desmatamento e limpeza do reservatório Peixe Angical.
A manutenção da vegetação terrestre na
duração do período heterotrófico.
Reservatórios com baixo tempo de retenção LIMNOBIOS Consultoria em Ambientes Aquáticos. Desmatamento
área a ser alagada, especialmente a arbórea, exportam mais nutrientes e outros
e limpeza do reservatório do AHE Peixe Angical: parecer técnico sobre
a relevância das áreas mantidas como suporte à ictiofauna (áreas
tem um papel favorável no controle da materiais lixiviados e aqueles com grandes de preservação e de desmatamento facultativo). Maringá, 2004.
erosão, com reflexos positivos sobre a oscilações de nível aceleram o tempo de 73 f. + anexos. Parecer técnico.
turbidez da água. decomposição pela exposição da matéria “Um acompanhamento detalhado do processo de enchimento foi realizado no reservatório de Corumbá
orgânica à atmosfera e às intempéries. (GO), formado em uma região coberta por cerrado, contendo aproximadamente 25 toneladas/ha (27% de
Assim, os chamados “paliteiros” atenuam a
folhas, galhos finos e médios). O enchimento se completou em 72 dias e as concentrações de oxigênio
ação das ondas sobre a margem e o Os problemas mais graves de qualidade da dissolvido responderam rapidamente e de maneira drástica ao alagamento. Redução dos valores do oxigênio
aumento do material particulado em água em reservatórios surgem durante o começou a ser constatada a partir do 3o dia nas camadas mais profundas e anoxia passou a ser observada a
suspensão. Além disso, reduzem a partir do 12o dia de alagamento. A camada anóxica migrou na direção da superfície e no 28o dia somente os
enchimento, especialmente naqueles cujas
movimentação da água por ação de ventos e 10 metros superficiais estavam oxigenados, assim permanecendo até o final da fase de enchimento. A
dimensões em relação à vazão afluente são
manutenção da camada superficial oxigenada pode ser atribuída diretamente à atividade fotossintética do
possibilitam a deposição de colóides. Isso elevadas. Durante o enchimento, quase tudo fitoplâncton, que se manteve em elevadas densidades nessa camada da coluna de água. No entanto, uma
tem um reflexo positivo sobre a capacidade o que é liberado pela vegetação permanece grande transformação foi verificada com a liberação de água pelo vertedouro, que levou à perda da camada
biogênica do ambiente. no reservatório. A vazão efluente é total ou superficial de água rica em oxigênio. Como resultado, no 80o dia de enchimento, somente os 3 metros
drasticamente reduzida. É nessa fase que, superficiais do reservatório ainda continham oxigênio, mesmo assim em baixas concentrações (< 3 mg/l).
Mesmo as plantas herbáceas alagadas, Neste período constataram-se mortandades de peixes nas imediações da barragem. Em decorrência da
em geral, ocorrem as quedas mais críticas na
enquanto não se degradam, ajudam na elevada renovação de água logo após o vertimento, quando a vazão do rio Corumbá se elevou de 100 para
concentração de oxigênio, envolvendo a
agregação do solo inundado, evitando, aproximadamente 500 m3/s, a oxigenação da coluna de água foi rapidamente restabelecida e, em dezembro,
oxidação das frações lábeis dissolvidas e menos de um mês após o vertimento, concentrações de até 5 mg O2/l passaram a ser registradas até 20
durante o enchimento, os desmoronamentos
particuladas (BIANCHINI JUNIOR, 2003), metros de profundidade. Este fato demonstra que a liberação de água deve ser realizada em consonância com
que elevam a turbidez da água nesse
resultantes da lixiviação da matéria as necessidades de conservação da ictiofauna, pois a rápida “lavagem” da camada superficial pode acarretar
período crítico para a fauna aquática. condições desfavoráveis para essa comunidade. Os resultados apontam para algumas importantes lições: (i)
orgânica presente na área alagada,
nem sempre a remoção da biomassa vegetal é eficiente para reduzir a formação de camadas anóxicas durante
especialmente na serrapilheira. O fato de
o processo de enchimento; (ii) anoxia usualmente ocorre nas camadas mais profundas, havendo a manutenção
Qualidade da água essas frações serem rapidamente
de uma camada superficial que se constitui em refúgio para peixes; (iii) a coluna de água pode ficar anóxica,
decompostas e demandarem maior mas este evento está relacionado às misturas da coluna de água ou liberação de água pela superfície; (iv) as
consumo de oxigênio é agravado por serem condições vigentes durante o enchimento são temporárias, voltando às condições favoráveis em curto
E m regiões de clima temperado, a processadas num período em que o tempo período de tempo e (v) quanto maiores forem as vazões afluentes durante o enchimento do reservatório,
menores serão as chances de se instalarem condições desfavoráveis no reservatório e menor será o tempo de
duração da influência da vegetação de renovação da água é praticamente nulo
recuperação das condições favoráveis.”
terrestre submersa na qualidade da água e (fase de enchimento) e o processo de
nutrientes usualmente varia de 1 a 10 anos, estratificação, com a formação de camada
com pico nos dois ou três primeiros anos anóxica, acentuado. Segue-se a esta a Embora em uma mata a vegetação arbórea Experimentos indicam claramente que os
de enchimento (trophic upsurge period; decomposição das plantas herbáceas e da apresente biomassa maior que a da compostos resultantes da lavagem da
PLOSKEY ,1985). Essa informação não se serrapilheira, principais responsáveis pelos serrapilheira ou de gramíneas, árvores e serrapilheira, folhas, gramíneas e ramos,
encontra disponível para reservatórios picos de nutrientes, depleção de oxigênio e arbustos, como visto anteriormente, têm nessa ordem, apresentam uma demanda
tropicais ou subtropicais. Espera-se, no deterioração na qualidade da água após o decomposição mais lenta (CRAWFORD; bioquímica de oxigênio (DBO)
entanto, que o processo seja mais represamento (BALL; WELDON; CROCKER, 1975; ROSENBERG, 1984) e, portanto, uma taxa de significativamente maior que os troncos.
intenso e menos duradouro nestas CAMPBELL; BOBEE; CAILLE; DEMALSY, M.J.; DEMALSY, consumo de oxigênio e de liberação de Altos valores de DBO refletem elevada
latitudes. P.; SASSEVILLE; VISSER, 1975) - ver Box 6.5.2. nutrientes muito menor. produtividade secundária, incluindo aquela
330 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Remoção Prévia da Vegetação: a qualidade da água x disponibilidade de abrigo 331

de microorganismos – bactérias, fungos e no que concerne à eutrofização se medidas potencial para favorecer o desenvolvimento quantidades de peixes, principalmente o
algas cianofíceas –, a qual, ao longo dos que dificultem o estabelecimento de plantas do fitoplâncton. Altas densidades de troncos curimba P. lineatus, que se alimenta desse
processos metabólicos, produz substâncias de rápido crescimento não forem adotadas. podem, entretanto, restringir a penetração de recurso (GOMES; AGOSTINHO, 1997).
que conferem mau gosto ou odor à água, luz. Além disso, o tempo de renovação da
A vegetação alagada não é fator determinante
especialmente sob condições anóxicas
Produtores primários água (tempo de residência) pode reduzir a
para o desenvolvimento de macrófitas
(PLOSKEY, 1985). produção fitoplanctônica (PLOSKEY, 1985).
aquáticas (PLOSKEY, 1985). O reservatório de
Os troncos inundados, quando em excesso, O s efeitos da inundação da vegetação O perifiton (algas e microorganismos que se Rosana, no rio Paranapanema, teve a
podem afetar diretamente a qualidade da terrestre sobre a produtividade primária, desenvolvem sobre substratos subaquáticos) vegetação arbórea e arbustiva de sua área
água, pela liberação de substâncias que lhe evidenciadosa pela intensa proliferação de também pode ser afetado por nutrientes, alagada totalmente removida. Entretanto, é
conferem gosto, odor ou coloração fitoplâncton, perifiton e macrófitas aquáticas, microelementos, luz e predação. Embora não esse reservatório que apresenta a maior
indesejáveis. Entre essas substâncias, decorrem primariamente da eutrofização do sujeito às restrições no tempo de renovação densidade e riqueza de macrófitas aquáticas
geralmente mais concentradas na casca das ambiente pelos pulsos de liberação de da água, dado que se prende ao substrato, é ao longo da cadeia de oito reservatórios nessa
árvores, destacam-se os fenóis e o tanino. nutrientes. Esse efeito é essencialmente afetado pelas variações de nível dos bacia (THOMAZ; PAGIORO; BINI; ROBERTO, 2005). Os
Essas alterações são, entretanto, indireto, podendo entretanto se manifestar a reservatórios e pelas ações das ondas. Em fatores mais importantes para o
extremamente transitórias, desaparecendo poucos dias do início do enchimento geral se desenvolve numa faixa de desenvolvimento de macrófitas incluem
em poucos dias (CUNHA-SANTINO; BIANCHINI (THOMAZ; PAGIORO; ROBERTO; PIERINI; PEREIRA, profundidade cujo limite inferior é o da profundidade, velocidade da água, ação de
JUNIOR; SERRANO, 2002). 2001). penetração da luz e o superior, o da ação das ondas, temperatura, transparência, qualidade
ondas. Nele se desenvolve uma rica fauna de da água, e interações competitivas entre
Acentuada liberação de nutrientes da Os fatores determinantes da proliferação do invertebrados, importante fonte de alimento plantas (BOYD,c 1971). Níveis de água estáveis
vegetação alagada pode ser observada fitoplâncton são a disponibilidade de de peixes jovens ou mesmo adultos de também propiciam o desenvolvimento de
mesmo em reservatórios já formados, nutrientes, luz e elementos traço, além da muitas espécies. Em áreas com zonas macrófitas. Entretanto, pelo fato de reduzirem
durante fases de deplecionamento dos níveis temperatura da água, padrão de circulação e litorâneas desenvolvidas, sua produção a ação das ondas, proverem condições
de água, quando estes permanecem por predação. Destes, a disponibilidade de primária é o principal suporte da cadeia adequadas de sedimentação de sólidos
curtos períodos de tempo com as margens nutrientes, a penetração da luz e os padrões alimentar (WETZEL, 1981). Os paliteiros suspensos e, conseqüentemente,
expostas. de circulação da água podem ser afetados incrementam notavelmente essa produção, incrementarem a transparência da água, os
pelo alagamento da vegetação. O primeiro, visto que disponibilizam substratos troncos alagados podem atuar
Como exemplo, no reservatório de Itaipu , de natureza química, pode ocorrer adequados para sua instalação e favoravelmente sobre o desenvolvimento
um período de 4 meses em que as margens independentemente dos demais. Assim, desenvolvimento. O fato de esses substratos daquelas submersas. Em relação às macrófitas
permaneceram expostas foi suficiente para o mesmo nos casos de remoção da vegetação serem predominantemente verticais flutuantes, os “paliteiros” fornecem, além da
estabelecimento de uma densa comunidade arbórea, a liberação de nutrientes da possibilita seu uso pelas comunidades proteção contra a ação das ondas, um
de gramíneas. Com o restabelecimento dos serrapilheira, das plantas herbáceas e do solo perifíticas sob condições de variações do ancoradouro para os bancos dessas plantas.
níveis de água normais, a decomposição pode levar a notáveis incrementos na nível da água. As plantas herbáceas, embora Porém períodos de rápida liberação de
dessa vegetação elevou consideravelmente produtividade primária do fitoplâncton. Os possam servir de substrato ao perifiton, têm, nutrientes, associados à decomposição da
as concentrações de fósforo da água, chamados “paliteiros” têm um papel ao contrário dos troncos das árvores, serapilheira ou de gramíneas que se
acarretando desenvolvimento maciço de predominantemente de natureza física, presença efêmera. Os “paliteiros” em desenvolvem em áreas desmatadas, podem
plantas aquáticas flutuantes (THOMAZ; podendo reduzir a ação de ondas e a reservatórios do rio Paraná têm sido propiciar o profícuo desenvolvimento de
PAGIORO; BINI; MURPHY, 2002). Esse fato circulação horizontal, aumentando, por associados com um elevado potencial para o espécies livre-flutuantes, como o aguapé
demonstra claramente que mesmo a conseqüência, a transparência da água e a desenvolvimento de comunidades Eichhornia crassipes e a alface-d’água Pistia
remoção da vegetação pode não ser efetiva penetração da luz, tendo portanto grande perifiticas, e sustentando elevadas stratiotes, dentre outras.
332 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Remoção Prévia da Vegetação: a qualidade da água x disponibilidade de abrigo 333

Invertebrados do Plâncton transparência da água, penetração da luz e paliteiro, a vegetação herbácea e a A vegetação inundada pode favorecer a

e Bentos produção fitoplanctônica. Entretanto, a serapilheira podem levar a drásticas reduções sobrevivência dos ovos por diminuir a ação
vegetação herbácea que se desenvolve na na concentração de oxigênio, restringindo a de ondas, erosão e cargas de sedimento,
área de depleção dos reservatórios pode ter produção do fito-zooplâncton e afetando a reduzindo, portanto, a mortalidade por
O zooplâncton é um componente do um reflexo positivo sobre essa comunidade. distribuição dos organismos bentônicos. processos físicos. Esse fato é relevante se
sistema ecológico fundamental como elo considerarmos que as desovas de espécies
entre os produtores primários e os demais Os invertebrados bênticos são elos O fato de as camadas anóxicas se em reservatórios ocorrerem principalmente
componentes da cadeia alimentar fundamentais na cadeia alimentar desenvolverem, predominantemente, a partir em suas áreas litorâneas. Além disso, a
fitoplanctônica, especialmente as formas detritívora, esta considerada de grande do fundo, torna essas comunidades mais estruturação do ambiente, proporcionada
jovens de peixes. relevância em ambientes aquáticos susceptíveis de impacto. Destaca-se, pela vegetação inundada, contribui para a
neotropicais. Assim, áreas recentemente igualmente, que os mosquitos, inclusive redução da mortalidade de larvas e juvenis
A disponibilidade desses elementos na inundadas com vegetação terrestre herbácea vetores de doenças, são componentes dessa pela predação.
cadeia está relacionada à disponibilidade de e litter são rapidamente colonizadas por comunidade na fase larval, e que estes podem
recursos (geralmente bactérias e algas) e à espécies oportunistas dessa comunidade, que se beneficiar das águas estagnadas e da A ictiofauna neotropical, especialmente seus
qualidade da água, incluindo seu tempo de atuam no seu processamento e compõem a proliferação de macrófitas flutuantes nas representantes migradores, são fortemente
renovação. dieta de grande parte das espécies de peixes. áreas mais rasas e marginais, entre os dependentes de cheias e do alagamento
paliteiros. Em Tucuruí, por exemplo, ocorreu sazonal de áreas terrestres de planície
Embora a manutenção da vegetação arbórea Destacam-se, em ambientes tropicais, os uma grande explosão demográfica de (várzeas) para o recrutamento de novos
na área alagada possa prolongar o período chironomídeos, cuja densidade em geral se mosquitos hematófagos nos anos que indivíduos aos estoques (GOMES; AGOSTINHO,
de produção secundária, a densidade de eleva logo após o represamento, o que pode sucederam o represamento, o que provocou 1997; AGOSTINHO; GOMES; SUZUKI; JÚLIO JÚNIOR,
zooplâncton relaciona-se mais com a estar associado ao aumento da graves transtornos sociais pela elevada c2003; AGOSTINHO; GOMES; VERÍSSIMO; OKADA,
liberação de nutrientes e matéria orgânica disponibilidade de matéria orgânica que se incidência de picadas (média de 500 picadas 2004). Reservatórios fechados durante as
particulada resultante da lixiviação da encontrava no ambiente terrestre alagado pessoa-1 hora -1; PETRERE JUNIOR, 1996). cheias (Itaipu, Corumbá, Manso, entre
serrapilheira e decomposição de compostos (BRANDIMARTE; ANAYA; SHIMIZU, 1999). A outros) apresentaram uma explosão
mais rapidamente degradados (herbáceas, colonização dos troncos pelo perifiton populacional de espécies migradoras no
folhas, etc.). aumenta a disponibilidade de hábitat para Peixes primeiro ano após o enchimento, sendo o
organismos bentônicos que exploram esse fato atribuído por Agostinho, Miranda, Bini,
Assim, após os primeiros anos do
represamento, a produção zooplanctônica
recurso na alimentação. Entretanto, o papel
dos troncos alagados sobre a abundância de
E mbora os estudos sobre a importância da Gomes, Thomaz e Suzuki (1999) à
vegetação alagada sobre a reprodução de semelhança desse processo com uma grande
será mais dependente do influxo de organismos bentônicos é secundário, visto peixes sejam escassos, especialmente na cheia, provendo os jovens de alimento e
nutrientes e detritos alóctones e, que estes são mais dependentes da matéria América do Sul, é sabido que, em outros abrigo suficientes para o desenvolvimento
subseqüentemente, da produção primária orgânica terrestre mais facilmente continentes, diversas espécies utilizam a inicial.
autóctone (PLOSKEY, 1985). Decorrido esse processada, como partículas orgânicas em vegetação terrestre submersa como substrato
período, a vegetação alagada terá baixa suspensão, serrapilheira e herbáceas. de desova e proteção de seus ovos e larvas Embora com riscos para a qualidade da água,
relevância sobre a abundância do contra a predação. Para algumas espécies, a a vegetação terrestre, a serrapilheira e os
zooplâncton, restringindo-se a Além de disponibilizar o perifiton, os presença desses hábitats é indispensável para invertebrados terrestres afogados fornecem
disponibilização de abrigos e à redução nos troncos submersos reduzem a turbidez e a o sucesso reprodutivo (PLOSKEY, 1985). Outras importantes suprimentos alimentares diretos
arrastes dos organismos, pelo efeito físico erosão marginal, com reflexos na espécies, com a denominação geral de para algumas espécies, embora com curta
localizado sobre a circulação da água. estabilização das comunidades bentônicas. fitófilas, desovam sobre esses substratos duração (PLOSKEY, 1985). Num estágio
Indiretamente, a vegetação pode interferir na Ressalta-se, porém, que, ao contrário do (SAZIMA; ZAMPROGNO, 1985). subseqüente, os organismos invertebrados
334 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Remoção Prévia da Vegetação: a qualidade da água x disponibilidade de abrigo 335

bentônicos assumem esse papel. Esse demonstram que hábitats de complexidade ambientes estruturados, como, por exemplo, levantamentos iniciais, realizados no verão
suprimento é responsável pelo rápido estrutural intermediária são mais eficientes os emboscadores. No reservatório de Itaipu, de 1987, foi identificada, entre as
crescimento exibido por muitas espécies nos na otimização trófica, permitindo um embora com alta densidade de espécies profundidades de 1,5 a 6,0 m, uma camada de
primeiros anos e pelo sucesso de insetívoros convívio sustentável entre predadores e forrageiras, a participação da traíra H. plantas submersas, composta essencialmente
na colonização inicial. O perifiton e sua presas, com reflexos positivos sobre a malabaricus em algumas regiões passou a ser por Chara, ao longo de todo o balneário.
fauna de invertebrados associada fornecem diversidade e equitabilidade. relevante nos desembarques pesqueiros Associadas a essa vegetação foram registradas
um suprimento alimentar permanente para somente após a proliferação de macrófitas 25 espécies de peixes, entre as quais S.
peixes, especialmente para jovens, O excesso de estrutura pode tornar as presas flutuantes, que promoveram estruturação aos marginatus, que, embora em baixa abundância
insetívoros, detritívoros e iliófagos pouco disponíveis e levar a explosões hábitats. (2,4%), cuidavam de seus jovens (muitos
(ver Box 6.5.3). demográficas, que podem predar os ovos e alevinos da espécie foram capturados), o que
larvas do predador, que, por sua vez, pode As razões pelas quais os peixes buscam os explicava sua agressividade (AGOSTINHO;
Embora os ramos e talos alagados forneçam incrementar as taxas de canibalismo. A hábitats são, portanto, variadas. Abrigo, GOMES; JÚLIO JÚNIOR, 2003). A recomendação de
melhores hábitats para a fauna aquática que escassez de estrutura, por outro lado, alimentação, reprodução parecem os mais remoções periódicas e manuais das macrófitas
os troncos das árvores, devido ao fato de aumenta a eficiência da predação, reduz a relevantes. Entretanto, a busca de um local foi adotada e em amostragem no verão
conferirem maior complexidade estrutural disponibilidade de presas maiores e mais para repouso (menor luminosidade) ou de um subseqüente constatou-se notável alteração na
ao ambiente, os troncos são estruturas mais rentáveis, com reflexos negativos também referencial para a orientação tem também estrutura da assembléia de peixes na área
duradouras. Por outro lado, os estudos no crescimento do predador (PLOSKEY, 1985). sido relatado (RYDER, 1977). (Figura 6.5.3).
realizados em reservatórios de zonas
temperadas (CROWDER; COOPER, 1982) e mesmo É relevante, igualmente, que várias espécies As remoções de macrófitas
lagoas de várzeas em áreas tropicais (OKADA; desenvolveram ao longo do tempo aquáticas constituem-se Steidachnerina insculpta
Roeboides paranensis
AGOSTINHO; PETRERE JUNIOR; PENCZAK, 2003) estratégias de predação que requerem em oportunidades para Acestrorhynchus lacustris
avaliar o efeito da Plagioscion squamosissimus
Serrasalmus marginatus
estruturação de hábitat Loricariichthys sp.
Bo
Boxx 6.5.3 sobre a composição das
Crenicichla nierdeleini
Auchenipterus osteomystax
Astyanax altiparanae
Interações entre peixes e macrófitas aquáticas em águas interiores: uma revisão. assembléias de peixes, Galeocharax knerii
Iheringichthys labrosus
visto que são raras as Satanoperca pappaterra
PETR, T. Interactions between fish and aquatic macrophytes in Loricaria sp.
inland waters: a review. FAO Fisheries Technical Paper, Rome, no. espécies que as incluem Leporellus vittatus
396, 2000. 185 p., ill. diretamente em sua dieta Pimelodus maculatus
Leporinus friderici
(AGOSTINHO; GOMES; JÚLIO Hypophthalmus edentatus
“O reservatório Volta em Gana, oeste da África, com mais de 8.480 km2 de área inundada, foi fechado sem Leporinus obtusidens
JÚNIOR, 2003). Parauchenipterus galeatus
que a coberta vegetal fosse removida. Depois do alagamento, as árvores foram colonizadas rapidamente Pimelodella sp.
por ninfas do efemeróptera Povilla adusta, nas áreas litorâneas. Estas ninfas cavam a casca e os troncos Pimelodus ornatus
Cichla monoculus
mais moles. O enchimento do reservatório demandou quatro anos e conforme o nível da água se elevava, Em um balneário do Hypostomus sp.
as ninfas passavam a atacar as árvores recentemente submersas. Das plantas submersas que apareceram Pterodoras granulosus
reservatório de Itaipu
Salminus brasiliensis
mais tarde, as ninfas preferiam os talos ocos do Polygonum senegalensis, que fornecem prontamente uma (município de Santa Apareiodon affinis
Astyanax fasciatus
cavidade protetora. Como consumidor primário, a Povilla tornou-se um importante elo na cadeia entre as Helena), foi realizado um Bryconamericus sp.
Sem remoção das Após remoção das
algas e os peixes, sendo que sua biomassa é a responsável pela manutenção de muitos estoques da ictiofauna, Crenicichla sp.
macrófitas macrófitas
estudo para subsidiar o Hoplias malabaricus
especialmente os insetívoros Alestes, Eutropius e Schilbe, que em 1967 constituíram 81% de todo o
desembarque da pesca artesanal. Os estômagos de Brycinus leuciscus também continham altas proporções controle da população da 720 40 30 20 10 0 10 20 30 40
Número de indivíduos
de Povilla. Os mormorídeos Mormyrus macrophthalmus e Mormyrops deliciosus preferiram as ninfas de piranha S. marginatus, em
Figura 6.5.3 - Composição da assembléia de peixes no balneário de
Povilla e odonatas aos quironomídeos. Ao todo, 14 espécies de peixes basearam suas dietas nesta ninfa e razão dos freqüentes Santa Helena, reservatório de Itaipu, no ano de 1987 (sem
não se constatou indicação de qualquer competição inter-específica ou inter-genérica entre elas.” ataques a banhistas. Nos remoção das macrófitas submersas) e 1988 (após a remoção).
336 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Remoção Prévia da Vegetação: a qualidade da água x disponibilidade de abrigo 337

Após a remoção da faixa de macrófitas, (a pesca é proibida na margem direita), reservatórios com baixo tempo de residência Cunha-Santino (2004) predizem
além de uma drástica redução na prisão e perda do material de trabalho, a da água. Espera-se que o período mais crítico adequadamente o que deverá ocorrer e as
abundância da piranha, constatou-se a fazê-la nas áreas com menor densidade de seja o do enchimento e a área mais afetada pequenas chances de minimizar o problema
presença de apenas 10 espécies. Alterações peixes. seja a lacustre. com o desmatamento. As recomendações
relevantes foram também registradas na feitas em relação à época e forma de
dominância, visto que a equitabilidade na Áreas com vegetação arbórea alagada, pelo A modelagem matemática e as simulações da enchimento do futuro reservatório devem
distribuição, numa escala de 0 a 1, elevou-se impacto positivo que têm sobre o sucesso qualidade da água apresentadas no ser as alternativas mais eficientes de
de 0,38 para 0,81 entre os períodos. reprodutivo, crescimento, sobrevivência de documento produzido por Bianchini Junior e minimização desse impacto.
juvenis e recrutamento de novos indivíduos
aos estoques pesqueiros, são, em geral, mais
Pesca Bo
Boxx 6.5.4
produtivas e as pescarias nelas realizadas
Influência dos troncos submersos na abundância de peixes do reservatório de Mourão (bacia
têm um rendimento maior (ver Box 6.5.4).
A vegetação terrestre submersa pode criar
do Ivaí-Paraná) após 40 anos do enchimento.
ANTÔNIO, R. R.; LATINI, A. O.; AGOSTINHO, A. A.; GOMES, L.
dificuldades para a pesca, especialmente Levantamentos da pesca esportiva C. In: ENCONTRO BRASILEIRO DE ICTIOLOGIA, 16., João Pessoa,
para o uso de redes de arrasto. Isso, embora realizados no reservatório de Bussy Brake, PB, 2005. Resumos... João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba,
ofereça restrições ao pleno uso dos recursos na Louisiana, revelam que cerca de 90% da 2005. p. 100-101.

pesqueiros, é positivo sob a perspectiva pesca ocorre em áreas de “paliteiro” (DAVIS; “O reservatório de Mourão, destinado prioritariamente à produção hidrelétrica (Companhia Paranaense de
conservacionista, visto que as áreas HUGHES, c1971). Tendência similar é Energia), com uma área de 1.050ha e tempo de residência de 70 dias, foi fechado em 1964. Sua vegetação
alagadas com vegetação arbórea atuariam verificada em outros reservatórios arbórea foi parcialmente removida, sendo que, decorridos 40 anos, nas áreas não submetidas à limpeza, os
como refúgio das espécies à pesca não- americanos, mesmo em alguns onde essas troncos parcialmente emersos ainda dominam a paisagem. Com o objetivo de demonstrar a influência dos
troncos submersos (paliteiros) sobre a abundância e biomassa das espécies, os dados obtidos em dois pontos
seletiva. áreas localizam-se distantes das marinas e
deste reservatório (com e sem paliteiro), com o uso de redes de espera, foram analisados. As capturas totais,
cujo acesso é difícil e perigoso (PLOSKEY,
tanto em número de indivíduos quanto em peso, foram significativamente maiores nas áreas de paliteiros.
A literatura menciona exemplos de áreas 1985). A tendência de maiores densidades em zonas mais estruturadas, envolvendo a biota aquática e os
em que a vegetação foi removida para invertebrados, é amplamente registrada na literatura especializada, particularmente em zonas temperadas.
facilitação da pesca, procedimento que não é As diferenças mais acentuadas na abundância que no peso total indicam que estes hábitats são ocupados
muito adotado (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR;
Considerações Finais predominantemente por indivíduos menores. Tendências similares foram registradas para as principais
BORGHETTI, 1992), visto que os pescadores espécies. Assim, em relação às diferenças na abundância para as oito principais espécies (97% do número
preferem correr o risco de danificar seus
aparelhos de pesca utilizando-os entre as
A maioria das recomendações em relação
total de indivíduos capturados; Oligosarcus paranensis, Astyanax altiparanae, Astyanax sp L,
Geophagus brasiliensis, Hypostomus commersonni, Hoplias malabaricus, Rhamdia quelen,
à limpeza da vegetação em áreas a serem Prochilodus lineatus), a única exceção a esta tendência foi a do cascudo H. commersonni, igualmente
árvores submersas, local onde os peixes se inundadas relaciona-se mais à necessidade abundante em ambos os locais de amostragem. Das espécies analisadas, as duas do gênero Astyanax
concentram (PETR, 2000). No reservatório de das pessoas que aquelas da biota aquática mostraram diferenças mais acentuadas na distribuição. Em relação à biomassa, uma das oito espécies
Itaipu, a pesca artesanal é praticada (PLOSKEY, 1985). Ou seja, os usos múltiplos dominantes na assembléia mostrou maiores valores de capturas nas áreas desprovidas de paliteiro (o
principalmente nos braços dos antigos de reservatórios certamente acarretarão cascudo H. commersonni) e outra ocorreu indistintamente em ambas as áreas (o curimba P. lineatus).
leitos de rios contribuintes, ou na margem Neste último caso, entretanto, o fato de serem numericamente mais abundantes nas áreas com paliteiro
conflitos quanto a execução dessa prática.
revela que pelo menos os indivíduos menores se concentraram em áreas estruturadas. Embora ambas as
direita (Paraguai), onde os paliteiros são
espécies sejam detritívoras, a última tem adaptações para tomar seu alimento no perifiton que se desenvolve
mais abundantes (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR; É evidente que o desenvolvimento de sobre os troncos. As demais espécies apresentaram maior biomassa capturada nas áreas com troncos
PETRERE JUNIOR ,1994). A atratividade da camadas anóxicas no reservatório é um submersos (paliteiros). Dada a escassez de estudos sobre o papel da vegetação inundada sobre a ictiofauna
pesca nos paliteiros do lado paraguaio desse fenômeno adverso aos usos múltiplos da neotropical, os resultados preliminares obtidos para o reservatório de Mourão fornecem fortes indicações de
reservatório é tal, que os pescadores água e à biota aquática. Entretanto, esses que a estruturação fornecida pelos troncos submersos é altamente relevante para várias espécies de nossa
preferem correr o risco de uma pesca ilegal problemas costumam ser efêmeros em fauna aquática.”
338 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

Os eventos descritos no presente documento É importante considerar também que a


para o reservatório de Corumbá dão manutenção da vegetação na zona de
indicações sobre a correção das predições
desses autores. Durante o período de maior
depleção de oxigênio e nos locais em que a
camada anóxica foi mais espessa, os peixes
alagamento tem efeitos positivos na
capacidade biogênica do sistema e na
biodiversidade, em especial de peixes. Além
de aumentar a produtividade biológica,
Capítulo 6.6
ocuparam as camadas superficiais, proporciona estrutura física adequada à
especialmente nas margens e desembocadura instalação e proteção de diversos organismos. Introdução de Espécies
de rios, evitando assim as condições O efeito positivo mais evidente pode ser
adversas. aferido na produção pesqueira, que tende a
ser superior nos hábitats de “paliteiro”.

Introdução alterações ambientais promovidas pelos


represamentos durante a formação e as
oscilações decorrentes dos procedimentos
O s capítulos e seções precedentes já operacionais na barragem nos períodos
vieram, de certa forma, denotando a subseqüentes desestabilizam as
existência de um longo histórico de comunidades presentes, diminuindo a
introdução de organismos aquáticos nas população de algumas e extinguindo
bacias hidrográficas brasileiras. Dentre as outras, o que cria oportunidades para que
espécies liberadas, o maior número foi de novas espécies se estabeleçam (AGOSTINHO;
peixes, provenientes de outras bacias sul- MIRANDA; BINI; GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999;
americanas ou até mesmo de outros SHEA; CHESSON, 2002). Outro fator que
continentes. Muitas das espécies contribuiu na colonização de reservatórios
introduzidas se misturaram à fauna brasileiros por espécies não-nativas foi um
original nativa, sendo raros os ambientes constante aporte de indivíduos e espécies
em território brasileiro nos quais elas não ao longo dos anos, a partir de programas
estejam presentes. Na verdade, podemos de estocagem e escapes de sistemas de
descrever as comunidades de peixes que cultivo, como discutido nos Capítulos 6.2 e
hoje observamos em ambientes naturais 6.3. Assim, a ictiofauna presente em
como um misto de espécies nativas e reservatórios é o resultado da seleção
introduzidas. Algumas espécies obtiveram inicial promovida pelos impactos do
tamanho sucesso no seu estabelecimento represamento sobre a ictiofauna original,
que atualmente já fazem parte do cotidiano mais as espécies que foram introduzidas e
de ribeirinhos e de outras pessoas conseguiram se estabelecer.
dependentes dos recursos aquáticos
(AGOSTINHO; PELICICE; JÚLIO JÚNIOR, 2005). Dessa forma, além das introduções
deliberadas através de programas de
Em reservatórios, a presença de espécies estocagem, destaca-se também a
não-nativas é ainda mais evidente. As considerável contribuição de escapes a
340 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução de Espécies 341

partir de áreas adjacentes, especialmente de particulares. A exigência nessas avaliações de uma época em que assistiremos a mais próprio corpo do reservatório ganharam
tanques de piscicultura, que se constitui deveria pautar-se não apenas na dimensão um grandioso evento de extinção em massa relevância nos últimos anos, com a
atualmente na principal fonte de introduções do empreendimento, mas também na espécie (WARD, 1997; ELDREDGE, c2001). Porém essa complacência e, eventualmente, apoio do
de espécies. É possível afirmar que, com as a ser cultivada. extinção contemporânea, a qual seria a sexta setor público. Para isso contribuem
atuais práticas de manejo na piscicultura, grande extinção na história do planeta, está interpretações propositadamente enganosas
basta a presença de um sistema de cultivo de Apesar de estar demasiadamente entrelaçada sendo provocada por uma trama causal de terminologias e conceituações presentes
peixes não-nativos em alguma área da bacia com o assunto abordado em tópicos diferente das que ocorreram milhões de anos nos dispositivos legais. O uso de espécies
para que toda ela esteja sob risco potencial. anteriores, entendemos que a presente seção atrás, visto que tem origem biótica (ex.: não-nativas em projetos de piscicultura em
Isso se explica pelo fato de que, apesar de é fundamental para esclarecer aspectos impactos causados pela ação humana). A esse tanques localizados em áreas de preservação
naturalmente fragmentados (geologicamente específicos relacionados à problemática da propósito, a problemática da introdução de permanente, em pesque-pagues ou em
e ecologicamente, em diferentes graus), os introdução de espécies não-nativas. A ênfase espécies tem posição de destaque: os vários tanques-rede são atividades fomentadas pelo
sistemas hídricos estão virtualmente pretendida nesta discussão é justificada pelo efeitos negativos decorrentes das Estado e que têm promovido massivas
conectados com todas as suas partes e longo histórico de introduções em introduções, associados à dificuldade de sua introduções, em geral classificadas como
subsistemas, o que facilita a dispersão de reservatórios brasileiros e pela banalização predição, fizeram com que a introdução de “acidentais” (ORSI; AGOSTINHO, 1999).
organismos invasores. Por isso, a introdução dessas ações, em geral endossada por espécies fosse considerada, atualmente, como Igualmente, diversos aspectos teóricos do
de uma espécie em um determinado local políticas públicas, e que se tornou problema a segunda maior causa promotora da perda tema, como processos e conseqüências das
cria a oportunidade de livre dispersão para em praticamente todos os corpos d’água do de biodiversidade (COURTENAY, Jr.; WILLIAMS, introduções – que explicitamente delatam os
regiões a montante e, especialmente, a território nacional. Além da óbvia c1992; FULLER; NICO; WILLIAMS, 1999; MACK; riscos e a complexidade da prática – não têm
jusante, tornando difícil o controle apenas importância ecológica do tema, soma-se o SIMBERLOFF; LONSDALE; EVANS; CLOUT; BAZZAZ, sido atentamente apreciados pelas
com ações isoladas, em pequenas escalas fato de o Brasil ser signatário da Convenção 2000), ficando atrás somente da destruição de autoridades na elaboração de planos de
espaciais. Um exemplo emblemático disso é da Biodiversidade, promulgada como lei hábitats naturais. Assim, essas informações manejo que incluem o uso de espécies não-
dado pela corvina (P. squamosissimus), que, pela Presidência da República, e pela qual reforçam ainda mais a relevância, e o nativas.
por escapes em um pequeno afluente de um temos a obrigação de desenvolver esforços, presente capítulo se restringirá à
tributário do rio Paraná (rio Pardo, bacia do não apenas para evitar essas ações, mas para apresentação de aspectos conceituais e
Termos e Conceitos
rio Grande), dispersou-se e estabeleceu-se o controle e erradicação daquelas já teóricos, além de esboçar um panorama do
em toda a bacia. presentes nos corpos d’águas públicos. status das espécies introduzidas nos
reservatórios brasileiros. Embora a preocupação com a introdução de
É comum, então, que ações antropogênicas Por fim, ao longo de sua história geológica, espécies tenha sido expressa na legislação
nas áreas adjacentes sejam responsáveis pelo o planeta Terra já testemunhou diversos brasileira há bastante tempo (Lei N.º 5.197,
aparecimento de espécies indesejadas nos episódios em que praticamente toda a vida Aspectos Conceituais, de 3 de Janeiro de 1967, Artigo 4o: “Nenhuma
reservatórios, mesmo que da biosfera foi extirpada. Segundo Eldredge Teóricos e Operacionais espécie poderá ser introduzida no País, sem
involuntariamente. A única forma de se (c2001), essas extinções de espécies tiveram parecer técnico oficial favorável e licença expedida
evitar tal acontecimento é a elaboração de como principal causa as mudanças naturais na forma de lei”), sua efetiva consideração
políticas que demandem avaliações que ocorreram na dinâmica do planeta, E mbora a introdução de espécies realizada como ação impactante surgiu apenas depois
minuciosas de segurança no confinamento sendo predominantemente de origem física de maneira deliberada, como no caso das que a conservação da biodiversidade foi
antes da implementação de qualquer projeto (ex.: mudanças climáticas). Com base nos estocagens em reservatórios, seja colocada em pauta. A Convenção da
com risco potencial de introdução. É óbvio, inúmeros impactos negativos que a espécie flagrantemente ilegal, ela ainda ocorre de Diversidade Biológica, assinada em 05 de
então, que tal tarefa é de complexa execução, humana vem causando na dinâmica e forma esporádica, clandestina ou junho de 1992 e incorporada à legislação
necessitando um enorme esforço conjunto, funcionamento dos ecossistemas naturais, equivocada. Além disso, atividades brasileira pelo Decreto Federal N.º 2.519, de
vontade política e sacrifício de interesses alguns pesquisadores anunciam o prelúdio econômicas desenvolvidas no entorno ou no 16 de março de 1998, prescreve, em seu
342 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução de Espécies 343

Artigo 8º, que o Estado brasileiro deve introduzida” tem recebido as mais variadas Nessa definição não há distinção entre de Itaipu (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR, 2002;
“impedir que se introduzam, controlar ou denominações, como exótica, alóctone, espécies exóticas e alóctones, eliminando a AGOSTINHO; HAHN; MARQUES, 2003). Da mesma
erradicar espécies exóticas que ameacem os alienígena, não-nativa, importada, falsa impressão de que espécies oriundas de forma, as introduções de várias espécies de
ecossistemas, hábitats ou espécies”. transferida, translocada, transportada, outros continentes ou zonas zoogeográficas peixes do rio Paraná na bacia do rio Iguaçu
estabelecida, naturalizada, invasora, (exóticas) sejam mais impactantes que são, presumivelmente, fontes importantes de
Mais recentemente, o Decreto N.º 4.339 (22 de detectada, etc., que na verdade deveriam aquelas provenientes de outras bacias ou impacto, dado o elevado endemismo nesta
agosto de 2002), que instituiu princípios e refletir uma conceituação precisa. sub-bacias de um mesmo continente última (> 70% das espécies). Um fator
diretrizes para a implantação da Política (alóctones). Por exemplo, diversas espécies preocupante é que as transferências de
Nacional da Biodiversidade, estabeleceu que A confusão nessa terminologia, derivada do de carpas foram introduzidas em águas espécies podem, com maior probabilidade,
o Estado deve “promover a prevenção, a uso de critérios distintos (geográfico, brasileiras, mas não existe documentação de gerar hibridizações deletérias às populações
erradicação e o controle de espécies exóticas taxonômico, operacional ou emocional), não impactos relevantes, nem de que tenham nativas.
invasoras que possam afetar a biodiversidade.” é uma questão de semântica, visto que formado grandes contingentes populacionais
permite oportunismos econômicos e em reservatórios brasileiros. Por outro lado, c. Espécie Estabelecida: espécie introduzida
Acima de toda essa legislação, encontra-se eleitoreiros na escolha de termos a serem a proliferação da corvina e do tucunaré na com uma ou mais populações auto-
obviamente a Constituição Federal, que incluídos nos regulamentos da atividade bacia do rio Paraná, a partir de bacias do sustentáveis, aptas a completar o seu ciclo de
prescreve: pelos órgãos de fomento ou na elaboração de Norte do país, tem-se mostrado vida no novo ambiente (reprodução e
pareceres técnicos específicos, optando por extremamente deletéria para espécies nativas recrutamento).
“Artigo 225: Todos têm direito ao meio ambiente
aquele mais conveniente, conforme a de pequeno porte (SANTOS; MAIA-BARBOSA;
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum Essa definição, obtida de Williamson e Fitter
circunstância e o interesse. Um exemplo VIEIRA; LÓPEZ, 1994).
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, (1996) e Vermeij (1996), é extremamente
dessa confusão foi verificado recentemente
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o b. Espécie Transplantada: qualquer espécie oportuna pelas suas implicações
na permissão do cultivo de espécies não-
dever de defendê-lo e preservá-lo para as ou raça, intencional ou acidentalmente operacionais nos processos relacionados à
nativas em águas públicas brasileiras. Nesse
presentes e futuras gerações.” transportada e liberada pelo homem em um liberação de espécies para a estocagem e
caso, considerou-se propositadamente que
havia diferenças marcantes entre espécies ambiente onde não ocorria naturalmente, aqüicultura. Nela está implícito que o
§ 1º.Para assegurar a efetividade deste
exóticas e alóctones, mas nenhuma entre porém dentro de sua bacia geográfica. registro de indivíduos em atividade de
direito incumbe ao Poder Público:
espécies estabelecidas e detectadas. desova (atestado em lâminas histológicas
VII – Proteger a fauna e a flora, vedadas, na Da mesma forma, é conveniente considerar com folículos vazios nas gônadas) não é
forma da lei, as práticas que coloquem em risco Utilizando-se critérios ecológicos e que as espécies transplantadas (transferidas) suficiente para que uma espécie introduzida
sua função ecológica, provoquem a extinção da geográficos, associados aos operacionais, também podem gerar impactos similares aos seja considerada estabelecida. Da mesma
espécie (...)” essas diferentes interpretações podem ser das introduzidas, caso sejam liberadas em forma, a presença de ninhos ou alevinos não
evitadas. Algumas definições já existentes na comunidades historicamente isoladas do implica nas suas viabilidades. Seria
Portarias e Instruções Normativas literatura, e transcritas a seguir, contemplam restante de uma bacia. Esse foi o caso da necessário discernir entre alevinos e juvenis
produzidas a partir desses documentos legais esses critérios. substituição, quase que completa, de uma oriundos de escapes continuados de cultivos
permitem, no entanto, que interpretações espécie nativa de piranha (S. maculatus) do artificiais existentes no entorno, daqueles
equivocadas e pareceres controversos sejam a. Espécie Introduzida: qualquer espécie ou alto rio Paraná (Parque Estadual do produzidos pelo estoque preexistente.
elaborados, onde o princípio da precaução é raça, intencional ou acidentalmente Ivinheima, MS), por outra (S. marginatus) que Assim, é necessária uma constatação séria e
negligenciado. Nesse sentido, a profusão de transportada e liberada pelo homem em um ocorria no médio Paraná, e que dispersou meticulosa do ingresso de novos indivíduos
terminologias tem criado subterfúgios que ambiente fora de sua área de distribuição para o trecho a montante após a eliminação ao contingente populacional, a partir
amparam decisões equivocadas de original (VERMEIJ, 1996; WILLIAMSON; FITTER, da barreira representada pelos Saltos das daqueles presentes no corpo d’água
licenciamento. Assim, o termo “espécie 1996). Sete Quedas, com a formação do reservatório (recrutamento).
344 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução de Espécies 345

d. Espécie Localmente Estabelecida: espécie Aliás, mesmo a constatação de um chave para o melhor entendimento das velocidade), a estrutura dos hábitats (ex:
introduzida com uma ou mais populações estabelecimento local ou mais amplo em definições conceituais relacionadas ao tema. abrigos, natureza do substrato) e a
reproduzindo naturalmente, porém com uma bacia, não significa que solturas Dessa forma, a liberação da espécie ou seu disponibilidade de recursos (para desova e
distribuição muito restrita e sem evidência adicionais, deliberadas ou acidentais, possam escape é apenas uma das etapas do desenvolvimento inicial). Já as restrições
de expansão natural. ocorrer sem maiores preocupações. A complexo mecanismo pelo qual passaram bióticas estão relacionadas às pressões de
introdução de espécies é uma modalidade de todas as espécies já integradas numa nova predação, competição, doenças, parasitas e
Essa definição, fornecida por Fuller, Nico e poluição – poluição biológica – e como tal comunidade. Pelo menos quatro etapas disponibilidade de presas. As restrições
Williams (1999), tem também uma deve ser considerada. Liberações para o fundamentais estão envolvidas, ou seja, (i) demográficas ao estabelecimento são, por
importante implicação operacional, dado cultivo de tilápias em tanques-rede, que vêm transporte, (ii) chegada, (iii) outro lado, representadas pelo número de
que faz distinção entre populações se propagando em diferentes pontos da bacia estabelecimento e (iv) integração (MOYLE; indivíduos que chegam ao novo ambiente, e
amplamente disseminadas na bacia. do rio Paraná, enquadram-se nesse contexto. LIGHT,1996; VERMEIJ, 1996). O sucesso no a habilidade da espécie em aumentar a
Espera-se que bacias hidrográficas O fato de que o grau de impacto de uma dada processo de colonização depende da população a partir de um reduzido tamanho
comportem espacialmente distintas espécie introduzida sobre a fauna local está superação progressiva de cada um desses populacional. A forma como a espécie
populações ou comunidades, e que uma das intimamente relacionado a aspectos de sua estágios. responderá a todas essas restrições
espécies estabelecidas esteja interagindo demografia é sistematicamente determinará seu sucesso na invasão e
apenas com uma ou algumas delas. desconsiderado nessas instâncias. A partir de um pool de espécies de uma dada estabelecimento (SHEA; CHESSON, 2002).
Barreiras naturais ou artificiais devem ser região, uma ou mais espécies são
consideradas antes de classificar uma dada Antes de consumar uma introdução, devem selecionadas, capturadas e transportadas Introduções envolvendo espécies
espécie como estabelecida na bacia. ser avaliados os possíveis impactos, para uma bacia hidrográfica diferente, mas importadas de outros continentes têm,
buscando alternativas para o intento. Nos raramente liberadas diretamente nos cursos então, grande probabilidade de insucesso,
Nesse contexto, a lista de espécies detectadas casos em que informações de impacto sejam naturais. Os programas oficiais geralmente pois cada espécie tem uma história
publicadas pelo IBAMA (Portaria 145- escassas ou inconsistentes, é mais prudente contemplam a passagem dos indivíduos por evolutiva particular, geralmente com forte
anexos) deve ser considerada estritamente decidir pela não-introdução, em vista da um estágio em tanques, onde são associação às condições ambientais de seu
como tal, ou seja, espécies registradas em impossibilidade de erradicação posterior submetidos à reprodução artificial. A prole local de origem, podendo ser insuperáveis
ambientes fora de sua área de distribuição (vide bagre africano). Como discute é posteriormente distribuída pela bacia para as restrições ambientais exercidas pelo
natural, que podem ou não se estabelecer e Simberloff (2003), a filosofia de “inocente, introduções diretas nos cursos d’água hábitat receptor.
se integrar à biota local. Embora essas até que provem a culpa”, que norteia as (estocagem), para ser utilizada na
listas sejam importantes do ponto de vista políticas públicas a respeito do tema, precisa piscicultura, ou para fins ornamentais em Nas ocasiões em que as espécies
acadêmico, elas têm importância ser urgentemente substituída pela de aquários, de onde alcançam os mananciais introduzidas superam todas as barreiras e
operacional extremamente limitada. “culpada, até que provem a inocência”, dado por escape ou solturas deliberadas. conseguem estabelecimento efetivo, as
Assim, é crucial que se esclareça que a o caráter irreversível das introduções. conseqüências sobre a fauna nativa são
simples presença de uma espécie não- Uma vez em águas abertas, a espécie deverá diversas, de difícil mensuração e, na
nativa em um sistema é uma informação superar as resistências ambientais locais maioria das vezes, imprevisíveis (MACK;
insuficiente para que futuras introduções se
Processos Envolvidos nas para que tenha sucesso no estabelecimento SIMBERLOFF; LONSDALE; EVANS; CLOUT; BAZZAZ,

justifiquem ou que medidas menos Introduções como população auto-sustentável. Essas 2000; RODRÍGUEZ, 2001). O resultado varia do
prudentes sejam tomadas, como a resistências são de natureza abiótica, biótica simples estabelecimento da população
liberação dessas espécies para a O conhecimento dos processos e etapas e demográfica (SHEA; CHESSON, 2002). Como
restrições abióticas, destacam-se as
introduzida à completa dominância da
comunidade, podendo incluir, entre os
aqüicultura (especialmente em que acompanham cada introdução, desde o
tanques-rede, de onde os escapes são local de origem do peixe até a sua características físicas e químicas da água (ex: diversos efeitos, a redução populacional de
inevitáveis). integração na comunidade receptora, é a temperatura, oxigênio, transparência e espécies nativas e mesmo extinções nas
346 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução de Espécies 347

comunidades receptoras. Contudo, mesmo Um modelo conceitual mais detalhado do e abundante em diferentes pontos da bacia. naturais, decorre de fatores distintos, não
que uma dada espécie ultrapasse esses processo pelo qual uma espécie introduzida De acordo com esse modelo, termos como tendo um objetivo ou meta a ser alcançado.
obstáculos, ela deverá vencer também o se integra a um novo ambiente é dado por espécie alienígena, alóctone, exótica, importada, Esta envolve principalmente adeptos da
desafio de se integrar à comunidade nativa. Colautti e MacIsaac (2004) e representado na introduzida, não-indígena, não-nativa, aquariofilia, que por motivos diversos,
Nessa etapa, a espécie deve interagir com a Figura 6.6.1. No estágio 0, a espécie transferida, translocada, transplantada e querem se desfazer de seus peixes
comunidade local através de mudanças encontra-se no hábitat doador; no estágio I, transportada referem-se, indistintamente, a ornamentais e, para não sacrificar esses
comportamentais e de seu nicho, de a espécie está sendo transportada; no II, ela qualquer das fases de I a V. Já os termos animais, se dirigirem ao curso d’água mais
maneira a assegurar sua existência a longo está presente no hábitat receptor; no III, ela espécie estabelecida ou naturalizada referem- próximo e os liberam.
prazo – em escala evolutiva, o que também é considerada estabelecida; no IVa, ela está se às fases de III a V. O termo espécie
pode promover mais alterações na espacialmente disseminada; no IVb, é invasora deve ser atribuído àquelas das fases A aquariofilia tem sido responsabilizada
comunidade e no ambiente. localmente dominante; e no V, disseminada IVa, IVb e V. Com isso, fica claro que a por intensa introdução de espécies, sendo
tomada de decisões, quanto à utilização e inquietante a facilidade de se conseguir
manejo de recursos aquáticos envolvendo espécies de qualquer parte do mundo nas
espécies introduzidas, poderia ser menos lojas especializadas em aquarismo
ESTÁGIO deletéria com a utilização apropriada da (PELICICE, 2003). Além dessa facilidade, vale
0 informação contida nesses conceitos. destacar que em muitas feiras de exposição
A+ CAPTURA e eventos comerciais realizados no Brasil, é
comum a distribuição de peixes
ESTÁGIO Razões para Introduções ornamentais como brindes, principalmente
I
de espécies não-nativas, como o peixe-de-
A+
B± TRANSPORTE E LIBERAÇÃO
A chegada de uma espécie nova em um briga Betta splendes, platis Xiphophorus e
Lebistes, além do peixe-dourado Carassius
ESTÁGIO curso d’água, por meio da atividade
II humana, decorre de solturas deliberadas auratus. Programas de educação para
A+ SOBREVIVÊNCIA NO AMBIENTE ou escapes de ambientes confinados, consumidores de peixes ornamentais são


E REPRODUÇÃO
devido à ineficiência do confinamento ou raros, o nível de esclarecimento de
ESTÁGIO acidentes. criadores e comerciantes é precário e a
SOBREVIVÊNCIA NO AMBIENTE III ADEQUACIDADE DO AMBIENTE venda de juvenis de espécies de grande
E REPRODUÇÃO

B± B± E DA COMUNIDADE Dentre as introduções intencionais, as porte, que sabidamente terão de ser soltos

razões mais freqüentes são (i) programas ou sacrificados após o seu
A+
de estocagem, realizados com o objetivo de desenvolvimento, é permitida. A soltura
ESTÁGIO ESTÁGIO melhorias na pesca comercial ou esportiva; desses peixes é vista, muitas vezes, como
IV a IV b
(ii) programas de controle biológico de uma atitude de compaixão e um
B± A+ pragas, e (iii) motivações sentimentais. Os procedimento francamente “aliado à

ADEQUACIDADE DO AMBIENTE DISPERSÃO programas de estocagem de peixes e os preservação da natureza”, mas foi
E DA COMUNIDADE ESTÁGIO
programas de controle biológico, que são possivelmente a responsável pela
V
fundamentados nos princípios de introdução do apaiari Astronotus ocelatus,
biomanipulação, já foram discutidos no de diversas espécies de poecilídeos da
Figura 6.6.1 - Modelo conceitual do processo envolvido na introdução de espécies. A, B e C
representam os efeitos da pressão de propágulos, requerimentos físicos e químicos do invasor Capítulo 6.2. Diferentemente, a motivação América Central, de acarás (como Laetacara)
e interações com as comunidades, respectivamente, sendo a natureza do efeito simbolizada sentimental, que leva as pessoas à soltura de e do peixe-dourado C. auratus em águas do
por sinal positivo ou negativo (Fonte: COLAUTTI; MACISAAC, 2004).
espécies não-nativas em ambientes Sul, Sudeste e Nordeste do país.
348 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução de Espécies 349

Outra via de introduções com caráter de introdução estão sendo conduzidas de Impactos das Introduções Atualmente, uma elevada quantidade de
emocional é a liberação de iscas vivas ao forma ilegal, sem o aval dos órgãos organismos é liberada fora de sua área de
final das pescarias. Essa prática é ambientais, já que em diversas ocasiões distribuição natural, num processo que
generalizada na pesca amadora ou espécies não-nativas têm sido capturadas C omo mencionado anteriormente, após envolve vários grupos taxonômicos, muitos
esportiva e provavelmente foi o sem que existam registros oficiais chegar a um novo ambiente, a espécie pode tipos de ambientes e em diferentes partes do
mecanismo de introdução de algumas autorizando as solturas. O aparecimento ser eliminada, se estabelecer, impactar as mundo. Dadas as atuais facilidades de
espécies na bacia do rio Iguaçu (ex.: recente de tucunaré em reservatórios do residentes e até eliminá-las, se tornando, ao transporte, inúmeras introduções podem ser
caborja, tuvira e muçum), em outras bacias baixo rio Paranapanema é emblemático, longo do tempo, elemento constituinte da realizadas em um curto espaço de tempo.
nas regiões Sul-Sudeste, e constitui-se em dada a inexistência de cultivos nas fauna. Em tese, não há possibilidade de uma Quanto maior o volume e a constância das
perigo iminente para as pescarias imediações. espécie se integrar a uma comunidade sem introduções, maior é a probabilidade que um
realizadas no Pantanal. Por exemplo, existe que promova modificações sobre algum dos invasor tem em se estabelecer (KOLAR; LODGE,
a hipótese de que espécies de jeju Outro aspecto que em nada contribui com o seus elementos originais. A gradação desse 2001; SHEA; CHESSON, 2002). Então, é possível
Hoplerythinus unitaeniatus e Erythrinus país para o cumprimento do que prescreve impacto é, entretanto, variável, dependendo que, mesmo em locais onde uma dada espécie
erythrinus alcançaram a região do alto rio a Política Nacional de Biodiversidade em muito da história de vida da espécie não-nativa tenha falhado em se instalar, a
Paraná após serem liberadas como restos (Decreto 4.339; 22/08/2002) em relação à invasora e da forma com que ela utiliza os continuidade no processo de estocagem ou
de isca, e que atualmente estejam erradicação e controle de espécies exóticas recursos. Vale destacar, contudo, que a escape, com incrementos no número de
competindo com a traíra nativa H. é a negativa manifestada por algumas integração pode ser um evento dramático, propágulos que alcançam o ambiente, podem
malabaricus. Ainda, é comum a venda de associações de pesca esportiva em resultando em profundas alterações na levar ao seu estabelecimento (RUESINK, 2005).
espécies de tuvira Gymnotus (na verdade colaborar com a redução dos estoques de estrutura e organização das comunidades Uma importante agravante é que outros
um complexo de espécies, muitas ainda não não-nativas, como tucunaré e black bass nos (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR; TORLONI, 2000; distúrbios ambientais geralmente ocorrem
classificadas pela ciência) em diversas reservatórios em que estas figuram como SANDERS; GOTELLI; HELLER; GORDON, 2003; concomitantemente às introduções
partes do país, as quais são transportadas introduzidas. Negam-se, essas associações, AGOSTINHO; PELICICE; JÚLIO JÚNIOR, 2005). (represamentos, pesca, poluição, alterações de
para pescarias em regiões distantes do a reter os indivíduos capturados dessas hábitat), aumentando as chances de
local de origem, incluindo o Pantanal e a espécies, insistindo na prática do “pesque e Ao longo da história geológica do planeta, as colonização da invasora e potencializando
Amazônia. Igualmente, motivo de grande solte”, o que poderia se configurar em re- introduções de espécies sempre aconteceram, seus efeitos negativos, inclusive com a
preocupação tem sido o crescente uso de introdução e, por conseguinte, crime porém numa escala de tempo muito distinta promoção de extinções (GUREVITCH; PADILLA,
tilápias vivas nas pescarias conduzidas no ambiental. Ver, por exemplo, o manifesto e de caráter natural, num fenômeno 2004).
reservatório de Itaipu (Edson K. Okada, da Liga Paranaense de Pesca Esportiva conhecido como dispersão (KREBS, c1994). Os
informação verbal), favorecido pela (MANIFESTO..., 2004). organismos invadiram, por inúmeras vezes, Entre as modificações que as espécies
rusticidade da espécie e seu baixo custo. ambientes alheios à distribuição original da introduzidas podem impor sobre a fauna
Atualmente, entretanto, a principal via de espécie, fatos que contribuíram nativa, destacam-se (i) a competição por
Ainda com relação à pesca esportiva, liberação de espécies não-nativas no sobremaneira para os padrões de recursos, (ii) a predação exacerbada, (iii) a
presentemente existe uma intensa pressão ambiente natural é a dos escapes distribuição e diversidade da flora e fauna modificação do hábitat e do funcionamento
exercida por associações de pesca amadora acidentais, visto que a prática das que testemunhamos hoje (DIAMOND; CASE, do sistema, (iv) a introdução de patógenos e
para a realização de importações e introduções deliberadas está dificultada c1986; VERMEIJ, 1991). Entretanto, as parasitas e (v) as alterações genéticas. Esses
transferências de espécies carnívoras e pela legislação. Assim, o cultivo de introduções promovidas pelo homem são impactos serão detalhados a seguir.
piscívoras para reservatórios do Sul- espécies não-nativas na aqüicultura e artificiais, no sentido de que apresentam duas
Sudeste. Esse fato, indubitavelmente, se piscicultura é considerado o principal vetor características elementares que podemos Competição: a competição por recursos,
configura como uma das maiores ameaças das introduções, no Brasil e no mundo, distinguir das introduções naturais: a apesar de difícil mensuração e com múltiplas
à conservação da fauna nativa. Tentativas como já discutido no Capítulo 6.3. intensidade e a freqüência com que ocorrem. conseqüências, parece ser uma das formas
350 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução de Espécies 351

mais conspícuas de como as espécies não- atrativas ao cultivo e à estocagem. ilustra as mudanças
nativas conseguem deslocar as nativas. A Geralmente são espécies com hábito ocorridas no lago 100
competição ocorre em diferentes níveis, alimentar onívoro, alto potencial reprodutivo Nicarágua, América S.marginatus
podendo ser por recursos alimentares ou de (cuidado parental e múltiplas desovas ao Central, após a S.maculatus
80
espaço, como locais para a desova e longo do ano) e de elevada rusticidade ante as introdução da tilápia, um
construção de ninhos. O resultado mais condições ambientais. Diversas espécies episódio que se tornou

Proporção (%)
imediato da competição é uma diminuição no africanas de tilápia se enquadram famoso e obteve 60

recrutamento das espécies nativas, perfeitamente nessas características, em repercussão mundial.


diminuindo o contingente populacional ao especial as do gênero Oreochromis, muito 40
longo do tempo. A elevada freqüência desse apreciadas pelo setor aqüicola nacional e Um bom exemplo dos
impacto é um fenômeno esperado, dado que mundial e já introduzidas em muitos efeitos da competição
20
espécies com alta capacidade competitiva são ecossistemas ao redor do mundo. O Box 6.6.1 vem da formação do Eliminação da barreira

reservatório de Itaipu,
0
que alagou Sete Quedas,
Bo
Boxx 6.6.1 1982 1986-87 1987-88 1992-93 1993-94
uma barreira natural à Período
A tilápia africana no lago Nicarágua: ecossistema em transição. dispersão dos peixes
Figura 6.6.2 - Variações na proporção entre as espécies de piranhas
McKAYE, K. R.; RYAN, J. D.; STAUFFER, Jr., J. R.; LOPEZ PEREZ, entre os trechos do alto e Serrasalmus maculatus (nativa) e S.marginatus (invasora) na
L. J.; VEGA, G. I.; BERGHE, E. P. van den. African tilapia in Lake médio rio Paraná. Com o planície de inundação do alto rio Paraná, após o afogamento de
Nicaragua: ecosystem in transition. BioScience, Washington, DC, Sete Quedas pelo reservatório de Itaipu (modificado de
v. 45, no. 6, p. 406-411, June 1995.
alagamento, cerca de 17 AGOSTINHO; HAHN; MARQUES, 2003).
espécies de peixes
O lago Nicarágua, localizado no país homônimo, América Central, é o maior lago natural tropical fora do
subiram o rio e
continente africano, somando mais de 8.200 km2 de área. A região é famosa por disputas ocorridas nos séculos
XIX e XX, que pleiteavam a hegemonia comercial da área e a construção de um canal interoceânico, o qual invadiram a planície de inundação existente piranha invasora S. marginatus. Esta, então,
nunca foi concretizado. Além de diversas espécies de peixes marinhas, este lago contém mais de 40 espécies de a montante desse reservatório (AGOSTINHO; aparenta ser competitivamente superior,
água doce, sendo que 16 são ciclídeos nativos, os quais têm mantido historicamente a atividade pesqueira local VAZZOLER; THOMAZ, 1995). Hoje, quatro delas devido à sua elevada agressividade e uma
(os ciclídeos representam 58% da biomassa do lago). Na tentativa de elevar o rendimento pesqueiro do lago e
(a piranha S. marginatus, o cascudo-chinelo eficiente ocupação de territórios para
assim atingir o mercado exterior, entre 1983 e 1984 iniciou-se um extensivo programa de estocagem de tilápias
não-nativas (gênero Oreochromis), incluindo seu cultivo em tanques-rede. Entre 1987 e 1988 pescadores Loricariichthys platymetopon, o cangati alimentação e reprodução.
locais começaram a relatar a captura de tilápias nas pescarias, correlacionando, inclusive, o aparecimento Parauchenipterus galeatus e o armado P.
destes peixes com o declínio nas capturas de ciclídeos nativos. Inicialmente, os pescadores locais evitaram a granulosus) estão entre as mais abundantes Predação: a liberação de espécies piscívoras
pesca da tilápia, em razão do gosto de lodo presente na carne. A fim de atestar tais relatos, pescarias experimentais
nas comunidades de peixes nos diversos tem produzido alterações ainda mais
foram então realizadas no lago. De fato, nas localidades do lago onde a tilápia se encontra ausente ou ainda inicia
sua colonização, a captura de ciclídeos nativos nas pescas experimentais se equiparou aos períodos que ambientes da planície (GASPAR DA LUZ; drásticas aos ecossistemas. Quando
antecederam as introduções. Além disso, estes locais apresentaram capturas 1,8 vezes maiores do que locais OLIVEIRA; PETRY; JÚLIO JÚNIOR; PAVANELLI; GOMES, predadores vorazes são introduzidos em um
onde a tilápia se estabeleceu (onde a tilápia soma mais de 50% da biomassa total), e as capturas de diversas 2004). Existem hipóteses de que essas novo ambiente, estes são capazes de dizimar
espécies de ciclídeos nativos correlacionaram-se negativamente com as capturas de tilápias. Assim, estas
informações corroboram com as queixas e observações feitas pelos pescadores locais. É muito provável que a espécies não-nativas têm atributos que lhes populações inteiras de presas.
tilápia esteja deslocando competitivamente as espécies de ciclídeos nativas, visto que as espécies de tilápia confiram alguma vantagem competitiva Mundialmente, dois casos clássicos ilustram
capturadas apresentam diversas características que lhes favorecem a colonização de novos ambientes, como sobre as nativas. De fato, com relação à esse acontecimento, a introdução do tucunaré
plasticidade morfológica, variabilidade genética, tolerância a stress, rápida taxa de crescimento, rápida Cichla ocellaris no lago Gatún, canal do
piranha, Agostinho, Hahn e Marques (2003)
maturação, ampla dieta, comportamento de agregação e cuidado à prole, além de serem maiores que as espécies
nativas, fato importante na determinação de disputas territoriais. Assim, existe um grande potencial para que verificaram que a abundância da nativa S. Panamá (ZARET; PAINE, 1973) e a introdução da
ocorra um desastre ambiental no lago Nicarágua, principalmente devido à possibilidade de ocorrerem alterações maculatus vem diminuindo perca do Nilo Lates niloticus no lago Vitória,
na dinâmica do ecossistema. Como a tilápia está em expansão e ainda não atingiu todas as regiões do lago, progressivamente (Figura 6.6.2), fato que os África (OGUTO-OHWAYO, 1990; KAUFMAN, 1992).
medidas urgentes são necessárias para conter seu avanço e erradicá-la das regiões em que já se estabeleceu.
autores atribuem à competição exercida pela Em ambos os casos houve perda de
352 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução de Espécies 353

biodiversidade e alterações severas no sobre as espécies de pequeno porte (SANTOS; Bo


Boxx 6.6.3
ecossistema e no sistema de pesca (ver Box MAIA-BARBOSA; VIEIRA; LÓPEZ, 1994), que, após
Alteração catastrófica em ecossistemas ricos em espécies: as lições do lago Vitória.
6.6.2 e Box 6.6.3 respectivamente). terem suas populações deplecionadas,
levaram esses invasores a se alimentar dos KAUFMAN, L. Catastrophic change in species-rich freshwater
ecosystems: the lessons of Lake Victoria. BioScience, Washington,
No Brasil, muitas espécies piscívoras foram seus próprios jovens (canibalismo). Da DC, v. 42, no. 11, p. 846-858, Dec. 1992.
transferidas entre bacias, como o apaiari A. mesma forma, existe a suspeita de que na
O lago Vitória é um dos grandes lagos naturais africanos, localizado entre a Uganda, Quênia e Tanzânia.
ocelatus, o tucunaré Cichla spp. e a corvina P. bacia do rio Paraná a corvina tenha exercido Assim como nos outros grandes lagos, o Vitória apresenta uma fauna de peixes notavelmente endêmica,
squamosissimus. Entretanto, as duas últimas intensa predação sobre os estoques do fruto de uma rápida especiação. Em destaque estão espécies da família Cichlidae, as quais 90% são endêmicas
despertam maior preocupação, pela grande mapará H. edentatus, especialmente no ao lago, em especial o grupo dos haplocromíneos. A história recente do lago Vitória é marcada por dramáticas
disseminação em reservatórios do Sudeste e alterações nas condições limnológicas e nos estoques de peixes nativos, como resultado de diversos impactos
reservatório de Itaipu (HAHN; AGOSTINHO;
antrópicos. Em especial, a introdução de espécies não-nativas desempenhou papel determinante para o
Nordeste. Em reservatórios do rio Grande, GOITEIN,1997), onde o mapará tem grande colapso do ecossistema original. Durante a primeira metade do século XX, a intensa sobrepesca deplecionou
por exemplo, o tucunaré e a corvina parecem importância para a pesca artesanal os estoques de espécies nativas (devido à mecanização dos sistemas de pesca), estimulando a decisão de se
ter promovido grande pressão de predação (AMBRÓSIO; AGOSTINHO; GOMES; OKADA, 2001). introduzir espécies não-nativas e melhorar o rendimento pesqueiro. Assim, em 1950 diversas espécies de
tilápia foram introduzidas, e em 1954 foi liberada a perca do Nilo Lates niloticus, um voraz predador de
grande porte. Por volta de 1980 começaram a ocorrer explosões demográficas da perca, o que coincidiu com
o desaparecimento de muitas espécies nativas, especialmente haplocromíneos, que anteriormente contribuíam
Bo
Boxx 6.6.2 com 80% da biomassa de peixes do lago. Este desaparecimento foi rápido e ocorreu entre 1975 e 1982. Na
Introdução de espécie em um lago tropical. primeira metade da década de 1980 a comunidade de peixes do lago estava virtualmente destruída, e o que
antes era formado por mais de 400 espécies de peixes foi reduzido a uma comunidade de 3 espécies co-
ZARET, T. M.; PAINE, R. T. Species introduction in a tropical dominantes: a perca somava 80% das capturas nos desembarques pesqueiros, sendo o restante quase todo
lake. Science, New Series, Washington, DC, v. 182, no. 4111, p. composto pela tilápia do Nilo e a espécie nativa omena. Inicialmente, os pescadores locais reclamavam
449-455, Nov. 1973. amargamente a presença da perca, que destruía seus apetrechos de pesca, era muito gordurosa e rapidamente
deteriorava na ausência de refrigeração. Como forma de preservação do pescado, os pescadores comumente
Provavelmente no começo de 1967, um peixe piscívoro da América do Sul, o tucunaré Cichla ocellaris, foi defumavam seus produtos expondo-os ao sol, procedimento muito difícil com a perca, que por possuir carne
introduzido no lago Gatún, que apresenta 423,15 km2 de área superficial e está localizado na zona do Canal muito oleosa, necessitava de madeira para completar o processo. Como os estoques de madeira na região já
do Panamá. A primeira introdução foi acidental, a partir de escapes de um pequeno reservatório que estavam baixos, acredita-se que o processo de defumação da perca tenha contribuído ainda mais em acelerar
continha espécimes trazidos da Colômbia, importados por um empresário com o apoio do governo local. A o consumo e exaurir os suprimentos de madeira natural. Posteriormente, com a ajuda do capital internacional,
espécie foi casualmente introduzida em momentos posteriores, visto que possui atratividade para a pesca, a pesca da perca foi desenvolvida com a compra de caminhões e refrigeradores, o que popularizou sua carne
especialmente a esportiva. Apesar de ter sido estimado pelos pescadores, em virtude do entretenimento na região e permitiu sua exportação, resultando, inclusive, num alto rendimento pesqueiro e grande lucro
proporcionado e pelo valor de sua carne, profundas alterações na comunidade do lago têm sido documentadas, para as corporações envolvidas. Contudo, os pescadores locais, que nunca antes haviam passado fome e
com sérias repercussões no funcionamento e dinâmica de todo o ecossistema. Assim que a população do muito bem viviam com a grande diversidade na pesca, agora estão desaparecendo. Continuam a reclamar a
predador se disseminou pelo lago (que ocorreu como uma onda devastadora), o efeito inicial foi a dramática ausência da rica pesca de tempos passados, principalmente porque estão excluídos deste novo tipo de pesca,
redução das populações de quase todos os consumidores secundários do lago, incluindo o desaparecimento sofisticada, em larga escala, tecnológica e mais custosa. Ironicamente, em um lugar que exporta 200.000 t
de seis das oito espécies de peixes antes muito comuns. Esta redução de espécies produziu, conseqüentemente, de peixes anualmente, a má nutrição tornou-se um problema presente nas comunidades tradicionais.
mudanças de segunda e terceira ordem em outros níveis tróficos do ecossistema, as quais são mais bem Igualmente graves têm sido as alterações ecossistêmicas que coincidiram com a irrupção da perca, como
apreciadas quando examinamos a teia trófica do ambiente. A diminuição em número de um importante peixe diversas modificações em outras comunidades de plantas e animais, a ocorrência de floração de algas, o
planctívoro (Melaniris) resultou em mudanças dentro da comunidade de zooplâncton, com o possível desenvolvimento de extensas camadas anóxicas e alterações no padrão de circulação de água. Estas alterações
desaparecimento de um morfotipo de Ceriodaphnia. As populações de consumidores terciários, como limnológicas e de produtividade primária estão ligadas ao antigo histórico de eutrofização do lago, antes
algumas espécies de peixes e aves piscívoros, antes dependentes de pequenos peixes para sua alimentação, atenuado pelas grandes populações de haplocromíneos detritívoros, que transformavam poluição orgânica
aparecem menos freqüentemente nas áreas do lago onde o tucunaré está presente. Tem ocorrido também, em biomassa de peixes. Na verdade, a perca rompeu o sistema de reciclagem do lago: com o desaparecimento
dos peixes detritívoros, uma grande carga de detritos começou a se acumular, alterando os padrões de
possivelmente, uma explosão de população de mosquitos (vetores de malária), causada pela redução na
circulação de água e promovendo a eutrofização do sistema. A pesca da perca mostra sinais de exaustão, e
população de peixes insetívoros. Mesmo os produtores primários podem ser afetados por esta introdução, em
questões importantes se referem à manutenção das populações de perca, que estão ameaçadas pelo seu
razão de alterações na comunidade zooplanctônica. Embora atualmente o ecossistema do lago Gatun esteja
próprio efeito de transformar toda biomassa do ecossistema em biomassa de perca. Como o canibalismo se
passando por rápidas mudanças, os autores antecipam um eventual retorno para alguma forma de equilíbrio.
intensificou dramaticamente, não é possível saber se as populações de camarão serão capazes de processar
Contudo, isto ocorrerá somente após algum tempo, antes que seja possível avaliar a permanência das muitas os detritos acumulados e assim, serem assimilados pela perca. Apesar da irreversibilidade das extinções de
mudanças provocadas nos níveis tróficos do ecossistema, ocasionadas pela introdução de um único predador espécies ocorridas no passado, ações de manejo mostram-se urgentes ao lago Vitória, seja para a restauração
de topo. do ecossistema, seja para a manutenção da pesca da perca em longo prazo.
354 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução de Espécies 355

Assim, apesar de muito apreciados pelo Cyprinus carpio) podem participar patogênico, principalmente quando a nativas. Apesar de raramente avaliada, essa
segmento da pesca esportiva, o controle de diretamente do processo de turbação, ao imunidade do animal diminui. O ataque letal redução no tamanho da população deve
piscívoros introduzidos é uma medida que revirarem o sedimento de ambientes rasos. de patógenos é bem exemplificado quando a contribuir na diminuição da variabilidade
deveria ser objeto de grande esforço, já que Por exemplo, em canais de irrigação na liberação de um único peixe doente num genética inicial, o que pode culminar em
pode produzir depleções populacionais Argentina, um estudo verificou uma forte tanque de cultivo ou aquário leva à degeneração e, por fim, na inviabilidade
drásticas, em curto período de tempo, e de correlação positiva entre a turbidez da água infestação massiva de todos os peixes. populacional. Outra possibilidade, mais rara,
difícil reversibilidade no ecossistema. e a biomassa de C. carpio, atestando ainda a porém de caráter inquietante, é a
ausência de plantas aquáticas submersas Os peixes introduzidos em ambientes hibridização com espécies nativas
Modificação de hábitats: a introdução de nessas condições (FERNANDÉZ; MURPHY; LÓPEZ naturais geralmente não passam por aparentadas (EPIFANIO; NIELSEN, 2001). No
certas espécies pode também promover CAZORLA; SABBATINI; LAZZARI; DOMANIEWSKI; quarentena nem por processos de cruzamento entre espécies existe a
alterações físico-químicas e estruturais nos IRIGOYEN, 1998). A turbação da água pelo desinfestação, e, mesmo se passassem, a possibilidade da produção de proles estéreis,
hábitats, com reflexos inclusive na dinâmica revolvimento do fundo é um importante existência de patógenos desconhecidos contribuindo para a diminuição, ao longo
do ambiente. Por exemplo, espécies mecanismo que pode alterar a dinâmica do dificultaria o processo de esterilização. Para das gerações, da parcela reprodutora da
herbívoras, como a carpa-capim sistema, devido à liberação de nutrientes na piorar, os estoques de peixes a serem população. No caso da geração de indivíduos
Ctenopharyngodon idella, têm sido coluna d’água, que estimula a proliferação de introduzidos costumam ser criados em reprodutivamente viáveis, a manutenção do
historicamente utilizadas no controle de algas (eutrofização; JANA; SAHU, 1993). tanques de cultivo monoespecíficos, patrimônio genético da espécie pode ser
infestações de plantas aquáticas em lagos e usualmente com elevada densidade comprometida.
reservatórios. Entretanto, a eliminação da No Brasil, carpas provenientes da Ásia foram populacional, o que facilita a proliferação de
vegetação pode ser bastante impactante para liberadas em muitos reservatórios, mas não patógenos e epidemias. Não por acaso, dois Como discutido no Capítulo 6.2, o
espécies de peixes de pequeno porte, jovens existe registro de que tenham eliminado crustáceos parasitas (Lernaea cyprinacea e repovoamento com plantéis empobrecidos
daquelas de grande porte e invertebrados, grandes quantidades de vegetação aquática Argulus foliaceus) tornaram-se cosmopolitas, geneticamente pode promover a degradação
que utilizam esse substrato como refúgio e ou que tenham diminuído a transparência da graças às introduções promovidas pela genética dos estoques selvagens. Em um dos
sítio de alimentação (CASATTI; MENDES; água. Aliás, essas carpas estabeleceram aqüicultura (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR, 1996; raros exemplos, embora envolva uma
FERREIRA, 2003; PELICICE; AGOSTINHO; THOMAZ, populações, mas nunca atingiram elevadas para mais informações ver Capítulo 6.3). espécie não-nativa para a região,
2005). densidades, talvez pelas elevadas dimensões Calcagnotto e Toledo-Filho (2000)
dos reservatórios brasileiros. Vale ressaltar Degradação genética: com relação à registraram a perda de variabilidade
Além disso, a eliminação exagerada da que as carpas foram as primeiras espécies degradação genética, tal fenômeno tem genética (perda de alelos) nos tambaquis
vegetação submersa pode levar a uma não-nativas trazidas para território recebido menos atenção, a despeito de ser cultivados em uma das mais antigas estações
profunda alteração na dinâmica de um brasileiro, ainda no século XIX, para a uma das conseqüências mais agressivas à de piscicultura nordestinas. Esses tambaquis
sistema, passando de um estado de águas utilização na aqüicultura. conservação da biodiversidade (DELARIVA; são utilizados no repovoamento de açudes
claras, dominadas por macrófitas, para um AGOSTINHO, 1999). A degradação pode suceder da região, e os autores discutem como
estado de maior turbidez, dominado por Introdução de patógenos: a transmissão de tanto pela (i) introdução de espécies não- conseqüências da perda de alelos a
fitoplâncton (DONK; BUND, 2002). De maneira patógenos e a introdução de novos parasitas nativas ao sistema, quanto pelo (ii) diminuição da resistência a doenças e até
semelhante, a tilápia do Nilo é conhecida por são fenômenos que acompanham as repovoamento de espécies nativas, com a mesmo, a longo prazo, a inviabilidade
se alimentar do zooplâncton herbívoro e, introduções de peixes, sendo detectadas soltura inadvertida de indivíduos populacional desses estoques. Esse exemplo
assim, promover a proliferação massiva de apenas tardiamente, devido à invisibilidade provenientes de criadouros artificiais. sugere que, sem o cuidado com a
algas, com impactos negativos sobre a do patógeno. Os peixes são normalmente manutenção da variabilidade genética
qualidade da água, tornando-a imprópria ou hospedeiros de uma gama de organismos, Com a introdução de espécies, os impactos natural da espécie em cultivo, a degradação
de difícil tratamento para o consumo como vírus, bactérias, fungos e diversos citados anteriormente podem reduzir o pode, igualmente, suceder em estoques
humano. Algumas espécies de carpa (ex.: invertebrados, que adquirem caráter contingente populacional de certas espécies nativos cultivados para fins de re-povoamento.
356 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução de Espécies 357

Espécies Não-Nativas em A distribuição das espécies não-nativas de programas de estocagens, com o objetivo Dessa forma, T. rendalli foi registrada em

Reservatórios oriundas de outros continentes e de outras de aumentar o rendimento pesqueiro. Os mais de 40% dos 77 reservatórios
bacias sul-americanas é analisada neste programas de estocagem, amplamente analisados, enquanto que O. niloticus esteve
tópico, considerando, dentre outras difundidos até a década de 1990 e presente em mais de 20% (Figura 6.6.3). Os
A banalização das introduções de espécies informações, os 77 reservatórios brasileiros atualmente restritos ao Nordeste brasileiro, registros ocorreram principalmente em
de peixes em reservatórios brasileiros, analisados no Capítulo 3.2. promoveram a proliferação dessas espécies reservatórios localizados na região Sudeste
aliada às condições favoráveis de em um grande número de pequenas do país.
colonização para algumas dessas após o represas, açudes e reservatórios (ver
represamento, contribuiu sobremaneira na Espécies Oriundas de Outros Capítulo 5.2). Apesar da elevada ocorrência, pouco se sabe
determinação da composição e estrutura das Continentes a respeito do real estabelecimento de
comunidades ícticas que habitam esses Entre as características intrínsecas que populações viáveis em alguns desses
ambientes. permitiram o sucesso das tilápias na reservatórios, visto que os exemplares
Dentre as introduções realizadas com ocupação de reservatórios, destacam-se sua capturados podem ser provenientes de
É oportuno repetir que os programas de espécies de outros continentes (Tabela flexibilidade alimentar e alta aptidão de escapes de tanques de cultivo. Destaque
soltura conduzidos durante décadas em 6.6.1), as mais bem-sucedidas em encontrar alimento sob condições de baixa para alguns reservatórios localizados no rio
várias bacias hidrográficas brasileiras, reservatórios foram as tilápias Oreochromis disponibilidade, suas desovas múltiplas e Tietê, os quais vêm apresentando, em
como a maioria das ações de manejo niloticus e Tilapia rendalli, ciclídeos cuidado parental, além da elevada períodos recentes, elevado rendimento
realizadas no país, careceram de provenientes da África. Essas espécies foram rusticidade e tolerância a condições pesqueiro de tilápias. Mesmo assim, vale
monitoramento das alterações induzidas trazidas para o Brasil após 1950, por ambientais adversas a outras espécies destacar que, considerando os 77
nas comunidades ou mesmo da sua eficácia agências oficiais ligadas ao governo, sendo (OGUTU-OHWAYO, 1990; MCKAYE; RYAN; reservatórios investigados, T. rendalli esteve
conforme os objetivos originais. Espécies destinadas ao cultivo em instalações de STAUFFER, Jr.; LOPEZ PEREZ; VEGA; BERGHE, 1995; entre as espécies dominantes em apenas um
não-nativas foram estocadas em vários aqüicultura. Posteriormente, foram PÉREZ; ALFONSI; NIRCHIO; MUÑOZ; GÓMEZ, 2003; , enquanto que O. niloticus esteve nessa
reservatórios brasileiros sem que se tenha liberadas em muitos corpos d’água, a partir PÉREZ; MUÑOZ; HUAQUÍN; NIRCHIO, 2004). condição somente na região Nordeste.
aprendido nada com esse Adicionalmente, as
processo. Atualmente, tilápias formam extensos
sabemos que o investimento Tabela 6.6.1 - Algumas espécies de peixes não-nativas cardumes quando 60
introduzidas em reservatórios brasileiros, importadas
realizado foi um equívoco e de outros continentes juvenis, comportamento 50
há indicações claras de que pode diminuir a
Espécies Nome Comum

Reservatórios (%)
prejuízos à diversidade África pressão de predação e, 40

biológica e à pesca (SANTOS; Oreochromis niloticus Tilápia do Nilo por conseguinte, a taxa 30
Oreochromis (Sarotherodon) hornorum Tilápia de Zanzibar
MAIA-BARBOSA; VIEIRA; LÓPEZ , Oreochromis (Sarotherodon) mossambicus Tilápia mossambica de mortalidade nas fases
Tilapia rendalli Tilápia-comum
1994; AGOSTINHO; GOMES; Clarias gariepinus Bagre-africano iniciais de 20

LATINI, 2004; AGOSTINHO; América do Norte desenvolvimento (UIEDA, 10


PELICICE; JÚLIO JÚNIOR, 2005). Micropterus salmoides Black bass
V.S.; UIEDA, W.; FROEHLICH;
Lepomis spp. Bluegill
0
Da mesma forma, os Ictalurus punctatus Bagre-de-canal AMARAL, 1989). alli
s pio s us s lla ilis
ticu car ide pin atu ide b
Salmo salar Salmão
end nilo C. mo rie nct C. H.
no
responsáveis pelas Salmo irideus Truta-arco-íris T. r O. . sal . ga I. pu
M C
introduções acidentais Ásia O elevado potencial de Espécies
Cyprinus carpio Carpa-comum
jamais foram penalizados Ctenopharyngodon idella Carpa-capim colonização de Figura 6.6.3 - Ocorrência de espécies de peixes não-nativas
Hypophthalmichthys nobilis Carpa-cabeçuda
pelos crimes que Hypophthalmichthys molitrix Carpa-prateada
reservatórios foi oriundas de outros continentes nos 77 reservatórios analisados
(detalhes do inventário estão discriminados no Capítulo 3.2).
cometeram. constatado nessa revisão.
358 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução de Espécies 359

Outras espécies introduzidas, com e a carpa-cabeçuda tiveram ocorrência mais Algumas espécies norte-americanas também Ocorreram, ainda, algumas introduções
considerável esforço de estocagem, incluem restrita, presentes em menos de 2% desses fazem parte da fauna de peixes de localizadas, como é o caso de algumas
as carpas asiáticas Cyprinus carpio (carpa- reservatórios. reservatórios brasileiros, mas, no geral, espécies de bluegill, gênero Lepomis, oriundas
comum), Ctenopharingodon idella (carpa- apresentam baixas abundâncias em da América do Norte, que foram liberadas
capim) e Hypophthalmichthys nobilis (carpa- Introduzido no Brasil no ano de 1986, o reservatórios. Destaque para os piscívoros no reservatório Paranoá, DF (RIBEIRO;
cabeçuda). Com exceção da carpa-capim, bagre-africano Clarias gariepinus é black bass Micropterus salmoides e o bagre-de- STARLING; WALTER; FARAH, 2001). Uma série de
introduzida com o objetivo de controlar a atualmente encontrado em quase todas as canal (ou americano) Ictalurus punctatus, outras espécies foi importada da América do
expansão de macrófitas aquáticas em bacias hidrográficas brasileiras (ALVES; VONO; presentes em reservatórios localizados em Norte e África, como o salmão Salmo salar, a
reservatórios, as outras duas o foram com o VIEIRA, 1999; AGOSTINHO; THOMAZ; GOMES , diferentes bacias dos Estados do Paraná e São truta-arco-íris Salmo irideus e outras espécies
intuito de aumentar o rendimento 2005), sendo, entretanto, esporádico em Paulo. Considerando os reservatórios de tilápia Oreochromis (Tabela 6.6.1), sendo
pesqueiro, todas idealizadas por órgãos reservatórios. Sua presença foi registrada analisados, o black bass foi observado em liberadas em reservatórios e outros corpos
oficiais do governo. nos reservatórios de Passaúna, Caxias e apenas 5%, enquanto que o bagre-de-canal d’água, porém com grande incerteza acerca
Itaipu. Essa espécie apresenta grande em cerca de 3% (Figura 6.6.3). de seu estabelecimento.
Entretanto, o alcance dos objetivos das tolerância a baixos teores de oxigênio na
estocagens com essas espécies não parece ter água, com adaptações respiratórias que lhe É importante destacar que, recentemente, o Do exposto, fica evidente que a maioria das
ocorrido, a despeito do grande esforço e garante longa sobrevida fora d’água. Graças cultivo do bagre-de-canal, que também introduções de espécies não-nativas nos
recursos empregados. Em geral, essas a essa habilidade, pode se deslocar por terra figura entre as proibidas na bacia do rio reservatórios brasileiros foi direta ou
espécies ocorrem em baixas densidades nos entre lagoas remanescentes das várzeas (ou Paraguai e Amazonas, assim como de indiretamente realizada com o apoio ou
reservatórios em que foram liberadas, tanques), o que lhe valeu o nome de “bagre- tilápias, foi autorizado pela Secretaria omissão de órgãos públicos. Preocupação
quase todos de área reduzida e em latitudes andador”. Tem hábito alimentar onívoro, Estadual do Meio Ambiente do Rio Grande especial a esse respeito tem sido com a
maiores (LUIZ, 2000). Como exemplo, nos 77 com tendência à piscivoria, sendo seu do Sul para instalações de aqüicultura expansão dos programas de governo para o
reservatórios avaliados, as carpas não cultivo ou manutenção proibidos em vários localizadas na bacia do rio Uruguai (BECKER; cultivo em tanques-rede, onde os indivíduos
estiveram entre as espécies que países, onde é considerada espécie-peste. No GROSSER, 2003; RAMOS; ROSÁRIO; MARCHESAN, em cultivo estão mais vulneráveis a escapes.
compuseram mais de 80% das capturas. Brasil, a Portaria 142-IBAMA, de 22/12/ 2004). Novamente, a pressão do setor O fato de todas as espécies mencionadas não
Diferentemente das tilápias, as carpas têm 1994, proíbe sua introdução, transferência, aqüícola tem preponderado e guiado a estarem entre as dominantes nos
ciclo de vida mais longo e maior exigência cultivo e comercialização na forma viva nas tomada de decisões na gestão de recursos reservatórios analisados (excetuando-se
de substrato para a reprodução, dificultando áreas de abrangência das bacias do Paraguai naturais, aparentemente motivadas por alguns casos isolados com tilápias) levanta
a formação de grandes contingentes e Amazonas (ver http:// pretensões unilaterais, visto que sérias dúvidas quanto ao estabelecimento de
populacionais. Embora a carpa-comum www.institutohorus.org.br). Seu cultivo foi desconsideram os possíveis custos populações auto-sustentáveis, e deve ser
tenha sido registrada em quase 20% dos muito difundido na década de 1990, sendo ambientais e sociais decorrentes das motivo suficiente para o uso da prudência no
reservatórios analisados, acredita-se que sua produção ainda elevada no ano 2000 introduções. Para uma
tenha estabelecido populações apenas em (Tabela 6.6.2) e sua comercialização idéia da difusão do
alguns, como indicam, por um lado, o fato realizada principalmente nos pesque- cultivo do bagre-de- Tabela 6.6.2 - Cultivo do bagre-africano Clarias gariepinus pela
piscicultura em alguns estados brasileiros, no ano de 2000
de sua estocagem deliberada ter-se pagues. Como não há notícia de canal, destaca-se que essa (Fonte: IBAMA, 2002)
interrompido há mais de 10 anos e, por peixamentos com essa espécie, acredita-se espécie representou, no
Estados Produção (t) % do Total
outro, o elevado número de sistemas de que a sua presença em ambientes naturais ano de 2000, cerca de 4%
Espírito Santo 90 6,00
cultivo onde ainda está presente. Contudo, decorra de escapes de tanques de cultivo, (859,5 t) da produção da
somente estudos específicos poderão atestar pesque-pagues ou mesmo de alagamento de piscicultura no Paraná e Rio de Janeiro 11 0,66

a existência de populações auto- tanques de piscicultura durante o 6% (1.008 t) em Santa Santa Catarina 377,5 2,21
sustentáveis. Diferentemente, a carpa-capim enchimento de reservatórios. Catarina.
360 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução de Espécies 361

manuseio dessas espécies. Vale destacar que, Triportheus angulatus em muitos brasileiros. Assim como o tucunaré, de não ter obtido o mesmo sucesso que o
além de todos os impactos potenciais, uma reservatórios. Essas transferências, seguidas também se tornou espécie desejada em tucunaré e a corvina, mantém populações em
eventual introdução, nessas condições, de estocagem, apesar de oficiais, não pescarias comerciais e recreativas. Contudo, diversos reservatórios. Um importante
caracterizaria crime ambiental. surtiram efeitos significativos na pesca essa espécie tem grande potencial para exemplo do impacto exercido pela predação
extrativista. Elas conseguiram elevar o afetar a fauna de peixes nativa, visto que é de espécies não-nativas vem de lagoas
rendimento do pescado, de fato, em locais também um voraz predador (SANTOS; MAIA- localizadas na bacia do rio Doce, onde o
Espécies Transferidas
onde são mantidas em situação próxima ao BARBOSA; VIEIRA; LÓPEZ , 1994; SANTOS; tucunaré foi introduzido, em associação com
de cultivo artificial, com intensa estocagem e FORMAGIO , 2000). O desaparecimento da o apaiari e uma espécie de piranha (GODINHO;
Um número bem maior de introduções certa alimentação, como é o caso de alguns ictiofauna de pequeno porte em FONSECA; ARAÚJO, 1994; LATINI; PETRERE JUNIOR,
aconteceu com espécies transferidas entre açudes nordestinos (GURGEL; FERNANDO, 1994). reservatórios das bacias dos rios Grande, 2004). Essas espécies exóticas reduziram
bacias e sub-bacias sul-americanas. Porém Tietê e, mais recentemente no dramaticamente a riqueza da fauna de peixes
muitas delas não tiveram caráter oficial, o As principais espécies amazônicas Paranapanema, tem sido atribuído à nativos e esse exemplo, registrado em águas
que dificulta o mapeamento adequado de transferidas, cujo sucesso na colonização de predação exercida pela corvina, em conjunto brasileiras, deveria servir de alerta sobre o
suas ocorrências e espécies envolvidas. Além reservatórios foi relevante, foram o tucunaré com o tucunaré e o apaiari A. ocellatus. grande risco de danos ambientais que
disso, a virtual ausência de inventários Cichla spp. e a corvina P. squamosissimus. Aliás, o apaiari também é uma espécie acompanha a introdução de espécies
ictiofaunísticos antes da construção dos Essas espécies foram levadas para diversas transferida da bacia Amazônica que, apesar carnívoras (ver Box 6.6.4).
reservatórios mais antigos dificulta muito a bacias do país, em especial a dos rios Paraná,
tarefa de construir um quadro biogeográfico Paraíba do Sul, São Francisco, além de
preciso. Sabe-se, entretanto, que, nesse caso, diversas outras localizadas no Nordeste. Bo
Boxx 6.6.4
a maioria das introduções decorreu, direta Mais de uma espécie de tucunaré foi A redução da fauna de peixes nativa por espécies exóticas: um exemplo de lagos tropicais de
ou indiretamente, de programas de introduzida, mas a posição taxonômica e a água doce brasileiros.
estocagem, em especial pelo setor elétrico, origem precisa dos indivíduos são incertas.
LATINI, A. O.; PETRERE JUNIOR, M. Reduction of a native fish
até o início da década de 1990. Essas espécies de tucunaré estabeleceram-se fauna by alien species: an example from Brazilian freshwater
muito bem na região litorânea dos tropical lakes. Fisheries Management and Ecology, Oxford, v. 11,
Das introduções oficiais, muitas não represamentos em que foram introduzidas, no. 2, p. 71-79, Apr. 2004.

obtiveram os resultados esperados, estando presentes entre as dominantes em “Foram investigadas as conseqüências da introdução do tucunaré Cichla cf. monoculus, do apaiari
possivelmente devido aos procedimentos 10% dos 71 reservatórios inventariados fora Astronotus ocellatus e da piranha Pygocentrus nattereri em lagos da bacia do rio Doce, Brasil, sobre a
utilizados e ao baixo esforço de estocagem da região amazônica. Vale ressaltar ainda a riqueza e diversidade de peixes nativos, além de testar a eficiência de refúgio promovido por macrófitas
empregado (ver Capítulo 6.2). grande probabilidade de esse percentual aquáticas. Para isso, amostras foram coletadas em lagos com e sem a presença das espécies exóticas, em áreas
com macrófitas aquáticas e áreas sem estas plantas. A presença dos exóticos reduziu a riqueza e diversidade
estar subestimado, visto que tal espécie é
da comunidade de peixes nativos, visto que as três espécies exóticas são vorazes predadoras, com grande
Muitas espécies foram trazidas da bacia capaz de evitar redes de espera e, assim, não propensão à piscivoria. Nas lagoas onde os exóticos estiveram presentes a riqueza nativa foi sempre menor,
Amazônica e introduzidas em reservatórios ser amostrada de forma adequada. Hoje, e o maior valor de riqueza nativa observado nestes lagos não ultrapassou três espécies. Aproximadamente,
localizados por todo o país, em especial nas como visto anteriormente, o tucunaré se a riqueza média estimada (Jacknife) em lagoas sem os exóticos variou de 8 a 10 espécies nativas, enquanto
regiões Nordeste e Sudeste. Programas de constitui em real ameaça à fauna original de que nas lagoas com a presença dos exóticos esta riqueza ficou entre 1 e 5 espécies nativas. A única espécie
estocagem realizaram as transferências, diversas bacias, devido ao seu hábito nativa propensa a permanecer nos hábitats invadidos é a traíra Hoplias malabaricus, espécie carnívora
e territorial. A função de refúgio, a qual poderia ter sido atribuída ao adensamento de macrófitas aquáticas,
alocando os peixes em estações de predatório intenso.
não existe nestes lagos provavelmente porque os peixes exóticos exploram estes hábitats para reprodução.
piscicultura antes das solturas. Tais
Assim, após a ocorrência de introduções, características bionômicas e comportamentais das espécies nativas
programas garantiram a introdução do A corvina, como já mencionado, é uma das e exóticas possuem relevante papel determinando as modificações na dinâmica da comunidade. Devido às
trairão Hoplias lacerdae, do tambaqui principais espécies introduzidas e bem- introduções ameaçarem a diversidade de peixes nativos da região, são necessários estudos sobre a dispersão
Colossoma macropomum e da sardinha sucedidas em muitos reservatórios regional das espécies exóticas e os fatores que minimizam sua propagação.”
362 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução de Espécies 363

Para ilustrar o grau de disseminação de O tucunaré está presente em praticamente vem se ampliando rapidamente O pacu do Pantanal Piaractus mesopotamicus é
tucunaré e corvina nos reservatórios todos os reservatórios localizados na calha (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ.NUPELIA, considerado também uma importante
brasileiros, a Figura 6.6.4 apresenta a dos rios Grande, Tietê e Paraná. Nos dados não publicados). Nas sub-bacias espécie que foi levada para outras bacias. A
ocorrência dessas espécies nos reservatórios represamentos do rio Paranapanema, o menores, geralmente com pequenos relevância da introdução desse pacu reside
inventariados no Capítulo 3.2, excluindo percentual de ocorrência foi menor (25%), reservatórios, a ocorrência dessa espécie é no fato de que, em conjunto com tambaquis e
aqueles onde elas são nativas (região Norte). embora amostragens realizadas em 2005 mais restrita. seus híbridos (paqui e tambacu), estão entre
O tucunaré é registrado em pelo menos 35% revelem que sua distribuição nessa bacia as espécies neotropicais mais cultivadas em
dos 71 reservatórios A corvina, mais antiga na bacia, está também tanques de piscicultura e pesque-pagues.
analisados, enquanto a presente em quase toda a série de Conseqüentemente, o aporte para ambientes
corvina o é em 32%. Cerca de 50 reservatórios dos rios Tietê, Paranapanema e naturais através de escapes deve ser grande,
44% desses reservatórios têm Paraná, e em cerca da metade daqueles do rio mas não se tem registro de que tenham
Reservatórios (%)

40
pelo menos uma das duas Grande. Nos reservatórios localizados em formado grandes contingentes populacionais
espécies. É importante 30 sub-bacias menores, sua ocorrência é mais em reservatórios, e seus possíveis impactos
destacar que essas espécies esporádica. ainda não são conhecidos.
20
estão presentes nesses
reservatórios por décadas, e 10 Os dados obtidos na pesca experimental Importantes introduções ocorreram a partir
ali estabeleceram populações mostram que essas duas espécies não estão de transferências de espécies da bacia do alto
0
viáveis e, em alguns, Ausente Apaiari Tucunaré Corvina Tucunaré ou Outras presentes em reservatórios da bacia do rio rio Paraná para a bacia do rio Paraíba do Sul.
Corvina
dominam as assembléias, Espécies não-nativas Iguaçu (Figura 6.6.5), fato
tanto em número quanto em Figura 6.6.4 - Ocorrência de apaiari, tucunaré, corvina e outras que é positivo em face do
espécies não-nativas em 71 reservatórios brasileiros, alto grau de endemismo
biomassa. A Figura 6.6.4 excetuando-se aqueles localizados na região amazônica e América do
revela ainda que o apaiari Nordeste (ver Capítulo 3.2 para detalhes). A categoria da ictiofauna dessa bacia. Norte
Tucunaré
Ásia
Corvina
“ausente” representa os reservatórios que não possuem Uma extinção local nessa
tem registro em 18% dos registro de espécies não-nativas.
Apaiari
Pirarucu
reservatórios, e que apenas bacia poderia se configurar Tambaqui Carpas
Black bass
10% deles não contêm em extinção global. Bagre-de-canal

registro de espécies não- Entretanto, espécies como 1 3


nativas. Por fim, cerca de 45% o black bass, também um
2 Corvina
dos reservatórios têm outras 100 Tucunaré
carnívoro voraz, foi objeto Tucunaré
espécies não-nativas, Corvina de estocagem em alguns
Tucunaré 4
Corvina
Reservatórios (%)

80 Apaiari
excetuando o tucunaré, a de seus reservatórios, Tambaqui
corvina e o apaiari. 60 sendo registrado na pesca Sardinha 5 África
6
experimental. Contudo, a
40 Tilápias
Considerando a distribuição resistência à forte pressão Dourado Bagre-africano

do tucunaré e da corvina em 20
de associações de pesca por 7 Pintado
Curimba
Peixe-rei
reservatórios da bacia do rio 0 todo o Brasil, que desejam Mandi
Bacias Grande Tietê Paranapanema Paraná Iguaçu
Paraná, região onde elas Menores introduzir essas e outras
Sub-Bacias
foram mais intensamente espécies em diversas Figura 6.6.6 - Principais introduções e transferências de espécies
Figura 6.6.5 - Ocorrência de tucunaré e corvina em reservatórios de peixes em reservatórios nas bacias hidrográficas brasileiras.
liberadas, sua elevada bacias, deve ser Códigos das bacias: 1 - Amazônica; 2 - Araguaia/Tocantins; 3 -
de sub-bacias da bacia hidrográfica do rio Paraná. Sub-
disseminação fica ainda bacias menores (n=21), rios Grande (n=8), Tietê (n=6), especialmente concentrada Nordeste; 4 - São Francisco e Doce; 5 - Paraíba do Sul; 6 -
Paranapanema (n=8), Paraná (n=4) e Iguaçu (n=13). Paraná; 7 - Uruguai.
mais evidente (Figura 6.6.5). na bacia do rio Iguaçu.
364 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução de Espécies 365

Embora existam dúvidas sobre as espécies transferências foi realizado, porém sem que desconhecidas. Para a maioria dos particularidades que lhes conferem
envolvidas, é provável que as introduções tenha havido qualquer documentação ou reservatórios, desconhece-se, inclusive, há vantagens na colonização de diferentes
incluíram espécies de curimba Prochilodus, registro. Assim, excetuando-se os quanto tempo as espécies introduzidas estão ambientes. Por enquanto, como se verá, as
pintado P. corruscans, dourado S. brasiliensis, represamentos amazônicos, mais de 90% dos presentes. Por exemplo, suspeita-se que o informações reunidas aqui podem revelar
mandi P. maculatus, dentre outras. A maioria reservatórios analisados tiveram registro de, bivalve Corbicula fluminea precedeu em pelo alguns indícios.
foi introduzida por programas de estocagem, pelo menos, uma espécie não-nativa em sua menos uma década a dispersão do mexilhão
na tentativa de melhorar o rendimento e as ictiofauna. Essas espécies incluem dourado Limnoperna fortunae nas águas do Por exemplo, dessas seis espécies, quatro são
opções de pesca no Paraíba do Sul, uma bacia representantes exóticos ou transferidos, alto rio Paraná, a partir da foz do rio da ciclídeos, têm o comportamento de formar
também com fauna endêmica e naturalmente destacando-se as tilápias, carpas, black bass, Prata. Caso os mecanismos de dispersão da cardumes e dispensam algum cuidado
carente de espécies de maior porte (HILSDORF; tambaqui, tucunaré, corvina, apaiari e peixe- primeira tivessem sido elucidados antes, o parental à prole, incluindo a construção de
PETRERE JUNIOR, 2002). Contudo, essas espécies rei. A Figura 6.6.6 sintetiza as principais controle da disseminação da segunda seria ninhos. A formação de cardumes é uma
não têm sido registradas em número movimentações de peixes realizadas por mais provável. estratégia capaz de diminuir a pressão de
considerável (ARAÚJO, 1996). O tucunaré atividades humanas nas bacias hidrográficas predação, além de facilitar a ocorrência de
também foi introduzido na bacia, há mais de brasileiras. A Tabela 6.6.3 apresenta, de forma eventos reprodutivos pela agregação de
50 anos, com intuito de aumentar o preliminar, informações biológicas, indivíduos. Já o cuidado parental eleva a
comportamentais e de estratégia de vida de sobrevivência dos jovens. Além disso, essas
rendimento pesqueiro e controlar
Predição da Colonização e de algumas espécies não-nativas encontradas
populações de tilápias. Hoje o tucunaré espécies têm dieta predominantemente
sustenta uma intensa pesca recreativa no Impactos nos reservatórios brasileiros. As informações onívora e carnívora (incluindo a piscívora),
reservatório de Lajes. foram reunidas de Araújo-Lima, Agostinho e atingem a maturidade sexual num curto

O peixe-rei Odonthestes bonariensis, um


A dificuldade em se predizer o sucesso das Fabré (1995), Vazzoler (1996), Fuller, Nico e
Williams (1999), Nakatani, Agostinho,
período de tempo (até 1 ano) e desovam
preferencialmente em hábitats protegidos da
introduções e seus impactos sobre as espécies
aterinídeo originário do rio da Prata, do locais ainda é um dos aspectos mais Baumgartner; Bialetzki, Sanches, Makrakis e região litorânea.
baixo rio Uruguai e de outras bacias da preocupantes (MACK; SIMBERLOFF; LONSDALE; Pavanelli (2001) e da página eletrônica Fish
Argentina, foi introduzido com sucesso em EVANS; CLOUT; BAZZAZ, 2000). Em águas Base (FROESE; PAULY, 2006). As espécies Outras características reprodutivas parecem
reservatórios da bacia do rio Paraná, em brasileiras, esse quadro é ainda pior. Não apresentadas são aquelas que se destacaram desempenhar relevante papel, determinando
especial aqueles localizados no rio Iguaçu. houve, até agora, nenhum estudo com o em freqüência de ocorrência nos o sucesso do invasor. Assim, as espécies mais
Essa espécie foi bem-sucedida na colonização objetivo de identificar as características que reservatórios avaliados no Capítulo 3.2. disseminadas tenderam a apresentar diversas
de diversos reservatórios, tornando-se permitem uma espécie obter sucesso na desovas durante o ano, com um período
abundante em alguns. Cassemiro, Hahn e colonização de áreas que não sejam aquelas Analisando tais informações, é possível reprodutivo bem extenso (algumas o ano
Rangel (2003) atribuíram tal fato ao hábito de sua distribuição natural ou de promover observar alguns padrões interessantes. Das todo) e foram classificadas na categoria de
predominantemente zooplanctívoro da maior ou menor grau de impacto. Essas seis espécies mais disseminadas nos Equilíbrio, de acordo com a classificação de
espécie, que tem adaptações ao consumo informações, se disponíveis, permitiriam o reservatórios brasileiros (tilápia comum, Winemiller (1989) – para detalhes dessa
desse recurso, um hábito pouco comum na entendimento dos processos, o embasamento tucunaré, corvina, tilápia do Nilo, carpa classificação, ver Capítulo 2. Essas
ictiofauna neotropical. de instrumentos legais e a conscientização comum e apaiari), cinco delas pertencem à peculiaridades denotam que tais espécies são
popular. ordem Perciformes, um grupo filogenético prolíficas, produzem diversas proles num
Como salientado inicialmente, a composição de origem marinha e considerado mais ano e, o mais importante, tendem a
da ictiofauna dos reservatórios brasileiros Mesmo as rotas que conduziram a maioria recente na escala evolutiva, quando apresentar pouca dependência entre o
encontra-se modificada pela presença e, em das espécies a chegar em diferentes comparado com os Otophysi (LOWE- sucesso reprodutivo e as dinâmicas sazonais
alguns casos, dominância de espécies não- reservatórios, que permitiriam medidas de McCONNELL, 1999). Estudos futuros poderão do ciclo hidrológico. Isso quer dizer que a
nativas. Um grande número de prevenção de novos ingressos, são verificar se as espécies desse grupo têm ausência de pulsos hidrométricos sazonais,
366 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução de Espécies 367

condição característica de ambientes de propícios para o desenvolvimento dos jovens. Com essas informações, a princípio, espécie não-nativa mais bem-sucedida na
reservatório, não se configura em fator Apesar dessas espécies serem prejudicadas em levantamos a hipótese de que a presença de colonização de reservatórios, a corvina,
limitante para que o ciclo de vida dessas reservatórios com freqüente variação de nível certos atributos reprodutivos facilita o apresentou exceções com relação a algumas
espécies se complete. Adicionalmente, o fato hidrométrico, devido a exposição das sucesso da invasão, como o cuidado parental, das características citadas anteriormente. Por
de a maioria desovar em locais espacialmente margens em momentos de seca, no geral, a construção de ninhos (importante na exemplo, essa espécie não apresenta cuidado
estruturados (região litorânea), com ovos todas as características mencionadas devem colonização de reservatórios antigos), a parental nem constrói ninhos, desovando
adesivos ou demersais, pode diminuir a contribuir para elevar o fitness dos indivíduos desova em ambientes abrigados, múltiplas geralmente na coluna d’água. Além disso,
mortalidade de jovens, além de essas espécies (capacidade de deixar descendentes desovas no ano e extensos períodos reproduz uma única vez a cada ano, embora
colocarem os ovos diretamente em hábitats reprodutivamente viáveis). reprodutivos. É provável que tais a desova seja parcelada e o período
características aumentem a probabilidade de reprodutivo seja relativamente longo. Esses
a espécie não-nativa em estabelecer aspectos são intrigantes, visto que, na
Tabela 6.6.3 - Caracterização das principais espécies não-nativas presentes em
reservatórios brasileiros. A tabela apresenta a ordem taxonômica das espécies, a dieta, populações auto-sustentáveis, maioria dos reservatórios em que a corvina
o percentual de reservatórios com registro da espécie (%T; com base na avaliação do principalmente em reservatórios mais esteve presente, ela pertenceu ao grupo das
Capítulo 3.2, excluindo os reservatórios onde elas são nativas), o percentual de
reservatórios em que a espécie esteve entre as dominantes (%D), além de informações a antigos. Além disso, com base nessas espécies numericamente dominantes (~ 30%).
respeito do comportamento e estratégia de vida evidências, parece que tais espécies não Outras características devem contribuir para
Espécies Ordem Dieta %T % D Cardume CP Idade Ninho Habitat Desovas Período Seleção Ovos enfrentam dificuldades na localização de o espetacular sucesso dessa espécie na
PM Desova /ano
hábitats adequados para o cumprimento das colonização de reservatórios, destacando-se a
T. rendalli A Oni 44 1,4 + + 0,5-1 + Veg >4 12 E Dem
etapas da dinâmica populacional, aspecto produção de ovos pelágicos (raros entre as
Cichla spp. A Pis 35 11 + + 1-2 + Sub 3a4 12 E Dem/Ad
que, segundo Williamson e Fitter (1996), é espécies presentes em águas interiores
P. squamosissimus A Car/Pis 32 30 + - 1 - Ab/Sub 1 5 E Pel
fundamental e garante vantagens ao invasor. brasileiras), muito pequenos (<0,5 mm;
O. niloticus A Oni/Alg 23 3 + + 0,5-1 + Sub >4 12 E Dem
SUZUKI,1992) e de rápido desenvolvimento, a
C. carpio B Oni 19,5 0 - - 0,5-1 - Veg >1 12 E Ad
Contudo, é importante salientar que, apesar formação de grandes cardumes de indivíduos
A. ocelatus A Car/Pis 18 1,4 - + + Veg/Sub >1 5 E Dem/Ad
da elevada freqüencia de registros nos jovens, o amplo espectro alimentar
M. salmoides A Car/Pis 5,2 0 - + 3-4 + Sub 1 4a5 E Dem
reservatórios, essas espécies não (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR, 1996) e a exploração
H. lacerdae D Pis <5 1,4 - + + Sub >4 12 E
desenvolveram grandes contingentes de hábitats subexplorados em reservatórios
T. angulatus D Oni <5 1,4 + - - Ab/Sub 1 5 S Pel/Dem
populacionais e raramente estiveram entre (zonas abertas; AGOSTINHO; MIRANDA; BINI;
H. nobilis B Zoo <5 0 - - 3-5 - Ab/Sub 1 3 E
as espécies dominantes, com exceção do GOMES; THOMAZ; SUZUKI, 1999).
C. idella B Her <5 0 - 1-2 - Rio 1 4 E Dem
tucunaré e das tilápias (em poucos casos;
H. molitrix B Plan <5 0 - - 2-4 - Ab/Sub 1 3 E
Tabela 6.6.3). Por isso, independentemente É preciso enfatizar que consideramos
C. gariepinus C Car/Pis <5 0 - + 2 - Sub 1 4 E Ad
dos padrões bio-ecológicos observados, é somente características da biologia dos
I. punctatus C Car/Pis <5 0 + - Sub 1 E Dem
fundamental a realizaçãode estudos que invasores, mas existem muitas situações em
H. unitaeniatus D Car/Pis <5 0 - + - Sub E
determinem se a elevada ocorrência que os atributos da comunidade, do hábitat e
L. macrocephalus D Oni <5 0 + - - Ab/Sub 1 S Pel
constatada resulta de recrutamento a partir do ecossistema receptor podem influenciar,
C. macropomum D Fru <5 0 - - - Ab/Sub 1 5 S Pel
de populações estabelecidas, ou se tais impedindo ou facilitando, o sucesso das
O. bonariensis E Zoo <5 0 + - - Ab/Sub 2 E
Ordem: A = Perciformes; B = Cypriniformes; C = Siluriformes; D = Characiformes; E = Atheriniformes indivíduos são provenientes de escapes espécies não-nativas (MOYLE; LIGHT, 1996;
Dieta: Oni = onívora; Car = carnívora; Pis = piscívora; Alg = algívora; Her = herbívora; Zoo = zooplanctívora; Fru = frugívora acidentais ou introduções clandestinas. VERMEIJ, 1996; DAVIS; THOMPSON; GRIME, 2005;
CP: cuidado parental
PM: primeira maturação, em anos RUESINK, 2005). Como exemplo, podemos
Período: reprodutivo, em meses
Seleção: E = equilíbrio; S = sazonal (baseado em WINEMILLER, 1989) A necessidade de refinar e reunir outras citar a riqueza de espécies da comunidade, a
Habitat Desova: Veg = vegetação; Sub = substrato; Ab = águas abertas; Rio = leito do rio informações sobre essas espécies também ausência de certos grupos tróficos, a presença
Ovos: Dem = demersal; Ad = adesivo; Pel = pelágico
reside no fato de que, curiosamente, a de parasitas, oportunidades de nicho, a
368 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução de Espécies 369

presença de distúrbios, as condições tendência se reverte. Nesse caso, a proporcionam a perda de recursos aquáticos A ocorrência de competição com espécies
abióticas, a produtividade do sistema e diminuição da diversidade de espécies para nativos e, portanto, os serviços prestados nativas talvez seja o mecanismo de maior
aspectos comportamentais do invasor a pesca, em conjunto com a dominância das pelos ecossistemas. Esse grupo de espécies dificuldade na predição, visto que sua
(MOYLE; CECH, Jr., 1996; HOLWAY; SUAREZ, 1999; invasoras, diminuirá o rendimento e a é, portanto, merecedor de maiores cuidados, ocorrência é de difícil mensuração, o
LEVINE , 2000; SHEA; CHESSON, 2002; DAVIS; qualidade do pescado, ou seja, alguns tanto na prevenção de sua introdução resultado depende de diversas outras
THOMPSON; GRIME, 2005). Assim, a inclusão de serviços prestados pela biodiversidade quanto nos programas de erradicação. variáveis (disponibilidade de recursos,
outras perspectivas também auxiliará no deixarão de existir (ex.: maiores opções para eficiência do competidor, partição de
entendimento do processo de invasão e a pesca e mercado, ou a compensação de A introdução de parasitas associados à hábitats) e sua intensidade varia
estabelecimento. Contudo, vale destacar estoques deplecionados pela possibilidade espécie introduzida ou ao meio no qual ela consideravelmente no tempo e no espaço
que a história de vida da espécie de se pescar outras espécies-alvo). Como é transportada constitui-se fenômeno (REYNOLDS, 1998; HARRIS, 1999). Contudo, se
introduzida, por si só, parece desempenhar resultado final, espera-se então uma recorrente, porém passível de ser constatada a ocorrência de competição
um importante papel (RUESINK, 2005). simplificação do sistema de pesca e piora na controlado com um maior rigor na envolvendo espécies não-nativas, sua gama
qualidade e quantidade do pescado. fiscalização sanitária junto às estações de de impactos pode resultar em alterações
Com relação à predição de impactos produção de alevinos, pisciculturas e profundas nas comunidades receptoras e, a
ambientais decorrentes das introduções, Os impactos de introduções têm maior pesque-pagues. É importante ter em mente longo prazo, modificar a dinâmica do
tema muito discutido, porém sem soluções probabilidade de serem deletérios quando a que, dependendo da natureza e ecossistema e as pressões evolutivas locais.
convincentes (MOYLE; CECH, Jr., 1996; MACK; espécie introduzida é carnívora ou piscívora agressividade do parasita, a longo prazo ele
SIMBERLOFF; LONSDALE; EVANS; CLOUT; BAZZAZ, (MOYLE; CECH, Jr., 1996). Pela sua elevada pode promover a diminuição no Da mesma forma, a predição de quais
2000), a Tabela 6.6.4 foi elaborada na agressividade, essas espécies são de recrutamento das espécies nativas, espécies intercruzarão com espécies nativas é
tentativa de expor as conseqüências gerais instalação mais provável, e seus efeitos são determinando a inviabilidade populacional muito difícil. A ocorrência desse fenômeno
esperadas após a introdução de algumas das reconhecidos como um dos mecanismos de algumas espécies e alterando a estrutura dependerá de predisposições filogenéticas,
espécies não-nativas presentes nos biológicos de maior poder de das comunidades nativas. comportamentais, fisiológicas e genéticas, de
reservatórios brasileiros. Apesar de alguns transformação nas comunidades nativas. ambas as espécies, para que seu cruzamento
dos impactos serem postulações, a maior Assim, além da virtual impossibilidade de A modificação de hábitats imposta por se torne viável. Contudo, diversos efeitos
parte provém de observações empíricas de se eliminar seletivamente um peixe algumas espécies não-nativas é, também, deletérios seguidos da hibridização podem
trabalhos realizados ao redor do mundo, introduzido no sistema, seus efeitos são possível. Como comentado anteriormente, ser preditos, com a preocupante
citados anteriormente ao longo de toda esta extremos no ambiente e, na eventualidade algumas espécies de carpas têm essa possibilidade de degeneração genética,
seção. de um processo de extinção de espécies, este capacidade, removendo bancos de macrófitas inviabilidade populacional e, por fim, perda
é irreversível (KAUFMAN, 1992; SIMBERLOFF, aquáticas ou elevando diretamente a de patrimônio genético.
É interessante observar que, de todas as 2003). turbidez do corpo d’água. Felizmente algum
introduções citadas, algum tipo de impacto fator ainda a ser elucidado impede a Os mecanismos pelos quais varias espécies
é teoricamente esperado. Alterações na Em geral, as espécies carnívoras têm a proliferação dessas espécies nos grandes introduzidas oriundas de outras bacias do
estrutura da comunidade de peixes são um predileção nos programas de estocagem sob reservatórios. Mesmo assim, a preocupação país podem afetar elementos das
dos resultados mais prováveis, com reflexos o argumento de sua adequação à pesca com essa possibilidade é legitima, pois a comunidades receptoras, bem como os seus
diretos nos processos do ecossistema e, por esportiva e no aproveitamento de biomassa turbação da água deteriora sua qualidade impactos, são ainda desconhecidos
fim, no sistema de pesca. Em algumas em ambientes dominados por espécies de para o consumo humano, contribui na perda (assinalados como “incertos” na Tabela
situações é provável um aumento no menor porte. Porém, a longo prazo, as de outros recursos naturais, inclusive os 6.6.4). Mesmo para aquelas espécies em que
rendimento pesqueiro a curto prazo, como é inúmeras conseqüências negativas sobre a relacionados à pesca, conflitando com as mecanismos e impactos são conhecidos, há
o caso da corvina, do tucunaré e da tilápia, comunidade residente terminam por possibilidades de usos múltiplos do ainda a necessidade de mais estudos para
mas que em escala temporal maior, a empobrecer o sistema de pesca, já que reservatório. elucidá-los e quantificá-los ou mesmo
370 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Introdução de Espécies 371

Tabela 6.6.4 - Impactos prováveis derivados da introdução, estabelecimento e integração avaliar interações e concomitâncias com pesqueiros. Dessa forma, é muito provável
de algumas espécies não-nativas presentes em reservatórios brasileiros, baseando-se outros impactos. A ausência de estudos que a homogeneização da fauna, fenômeno
em aspectos da história de vida. A tabela também apresenta exemplos das espécies
mais propensas a causar tais impactos específicos ou de monitoramentos caracterizado em outras regiões do planeta
sistemáticos da ictiofauna de reservatórios é (RADOMSKI; GOEMAN, 1995; McKINNEY;
Impactos Prováveis
Mecanismo Exemplos a razão básica desse quadro. Entretanto, é LOCKWOOD, 1999; RAHEL, 2002), também
Curto Prazo Longo Prazo
oportuno ressaltar que, para a maioria das esteja acontecendo com a ictiofauna de
Predação P.squamosissimus Alterações na demografia de Alteração na estrutura das comunidades
Cichla sp. peixes nativos Extinção de espécies espécies citadas na Tabela 6.6.4, para as águas interiores da América do Sul, se
M. salmoides Recrutamento das espécies de Diversidade regional
I. punctatus peixes nativas Alteração na estrutura trófica
quais foi possível construir o quadro de considerarmos as graves alterações de
A. ocelatus Estrutura das populações de Pesca menos diversificada predições de seus impactos, pouco se sabia a hábitats e as inúmeras introduções de
H. lacerdae peixes nativos Rendimento da pesca
C. gariepinus Rendimento da pesca respeito das conseqüências econômicas, espécies não-nativas.
H. unitaeniatus ambientais e sociais de suas introduções na
Parasitismo Todas Introdução de parasitas Alteração na estrutura das comunidades época em que estas foram realizadas. O Atualmente, em muitos reservatórios do
Recrutamento das espécies de Extinção de espécies
peixes nativas Alteração na estrutura trófica desconhecimento e as incertezas que Sul, Sudeste e Nordeste do país, espécies
Alteração na estrutura Qualidade do recurso pesqueiro acompanham a introdução de determinada não-nativas dominam as assembléias de
populacional (peixes nativos) Modificação nas pressões evolutivas
espécie devem motivar, entretanto, o uso do peixes e os desembarques pesqueiros. A
“princípio da precaução”, manifesto no situação é muito grave, e é ilustrada pelo
Herbivoria C. idella Remoção de habitats Alteração na estrutura das comunidades código de ética de quase todas as profissões fato de que quase todos os reservatórios
Substituição dos produtores Extinção de espécies
primários Diversidade regional relacionadas ao tema. analisados neste capítulo contêm alguma
Turbação Alteração na estrutura trófica espécie não-nativa, oriunda de bacias
Eutrofização Diversidade na pesca
Recrutamento de invertebrados Rendimento da pesca adjacentes ou de outros continentes. Em
Recrutamento de peixes de
pequeno porte
Qualidade da água
Usos múltiplos do reservatório Considerações Finais especial, a corvina e o tucunaré já foram
Rendimento da pesca introduzidas em quase todos os principais
reservatórios da bacia do Paraná,
Bio-Turbação C. carpio Turbação
Alteração de habitats
Eutrofização
Alteração na estrutura das comunidades
Extinção de espécies
Diversidade regional
C omo amplamente discutida em diversos excetuando os do rio Iguaçu.
Rendimento da pesca Alteração na estrutura trófica capítulos anteriores, a introdução de
Diversidade na pesca
Rendimento da pesca
espécies não-nativas constitui-se em grave Apesar da carência de estudos detalhados, é
Qualidade da água ameaça à integridade ambiental dos certo que as espécies com hábitos
Usos múltiplos do reservatório
ecossistemas naturais. Em reservatórios, alimentares carnívoros e piscívoros, que
Competição T. rendalli Recrutamento das espécies de Alteração na estrutura das comunidades essas espécies adquirem grande relevância, incluem o tucunaré e a corvina, têm um
O. niloticus peixes nativas Extinção de espécies
Incertas Estrutura das populações de Diversidade regional visto que programas de estocagem enorme potencial em desestruturar a fauna
peixes nativos Alteração na estrutura trófica
Rendimento da pesca Diversidade na pesca liberaram várias espécies ao longo de nativa, como tem sido documentado em
Rendimento da pesca décadas nesses ambientes, e a atividade de alguns trabalhos. Esse quadro é agravado
Modificação nas pressões evolutivas
aqüicultura tem favorecido escapes pelo fato de essas espécies continuarem
Hibridização Incertas Alteração da freqüência gênica Diversidade genética
Degeneração
acidentais, em especial a modalidade de sendo introduzidas clandestinamente por
Inviabilidade populacional tanques-rede. Além disso, as modificações pescadores, especialmente os esportivos, ou
Extinção de espécies
ambientais decorrentes dos represamentos mesmo por agências oficiais. O próprio
Incerto Incertos
T. angulatus Incertos podem facilitar a colonização dessas empenho de órgãos de fomento à
C. macropomum
L. macrocephalus espécies, maximizando os impactos, com aqüicultura em legitimar o cultivo de
O. bonariensis
implicações diretas na conservação da espécies não-nativas em tanques-rede nas
= Tendências de decréscimo; = Tendências de acréscimo
biodiversidade aquática e dos recursos águas públicas contribui para isso.
372 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

Então, enquanto não ocorrer um engajamento dificultando essas ações. Não parece suficiente
conjunto entre a mídia, órgãos do governo e a o fato de o Brasil ser signatário da Convenção
comunidade científica, dificilmente os
problemas com as espécies introduzidas
alcançarão fóruns de discussão populares,
suscitando movimentos organizados e
da Biodiversidade, tendo-a promulgado no
país, e, portanto, com compromissos de
combater novas introduções e as espécies já
introduzidas, visto que alguns órgãos oficiais
Capítulo 6.7
posturas adequadas em relação ao tema, estão envolvidos nas introduções ou na
impedindo engodos eleitoreiros e facilitação desse processo. O Controle da Pesca

Introdução Porém essa restrição de consumo é de


difícil aceitação por parte de políticos,
administradores, técnicos, cientistas e do
E studos recentes têm demonstrado que a público em geral, pois no mundo
maioria das pescarias conduzidas em água tecnológico em que vivemos existe uma
doce sobre estoques naturais está sob efeito forte crença de que tecnologias futuras,
de sobrepesca ou próximo de seu limite cedo ou tarde, serão capazes de solucionar
biológico (FAO, 1999; ALLAN; ABELL; HOGAN; esse problema. Contudo, aparentemente,
REVENGA; TAYLOR; WELCOMME; WINEMILLER, não existe solução técnica para o problema
2005). Essa intensificação no uso dos da superpopulação humana e o consumo
recursos naturais de água doce coloca do planeta. A essa sombria perspectiva,
novos desafios para sua perpetuação a Hardin (1968) denominou a “Tragédia dos
longo prazo, fazendo-se necessária a Comuns”, em alusão à exaustão de bens e
criação de regulamentações e formas de recursos até então de uso irrestrito (comum
controle que imponham regras no a todos). O quadro final vislumbrado seria
aproveitamento, como aquelas feitas para a perda irreversível dos recursos e a
o ambiente marinho (HILBORN; BRANCH; instalação de severos conflitos, que só
ERNST; MAGNUSSON; MINTE-VERA; SCHEUERELL; poderiam ser revertidos com uma radical
VALERO, 2003; KURA; REVENGA; HOSHINO; mudança ética/moral entre os usuários dos
MOCK, c2004). Esta demanda exagerada é “comuns”, ou com a criação de forças
fruto do abusivo crescimento populacional coercivas, como regulamentos, leis e
humano registrado nos últimos séculos, penalidades.
aliado ao desenvolvimento de tecnologias
que maximizam o aproveitamento desses A criação de regulamentações de uso deve
recursos. Essa união incompatibiliza ter como objetivo primordial a
relações entre oferta e demanda, visto que manutenção do recurso explorado,
os recursos naturais são, por excelência, principalmente a longo prazo, e promover
finitos (FRICKER, 2002). melhor distribuição dos recursos entre
374 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL O Controle da Pesca 375

todos os usuários (NOBLE; JONES, 1999). Em usuários devem ser confrontados e os próprios pescadores desenvolvam Entretanto, o período de desova pode ser
reservatórios brasileiros, com a constante balanceados com os problemas no sistemas que estabeleçam o direito a locais algo flexível, com antecipações ou atrasos,
rarefação dos recursos pesqueiros, o aproveitamento do recurso e as reais de pesca, criando padrões de territorialidade dependentes dos fatores ambientais. Tal fato
vertiginoso aumento na demanda e a possibilidades existentes. Por exemplo, se (BEGOSSI, 1998). É comum também que os tem prejudicado a eficiência dessas medidas.
diversificação de usuários (ver Capítulo 5), a estudos constatarem desestruturação etária pescadores criem códigos de conduta ao não Na prática, esse período deveria ser
criação de formas de controle assume aspecto em populações de peixes, fato comum aceitar o uso de certos tipos de aparelho, com determinado pelo monitoramento contínuo
imprescindível, devendo anteceder ou ser devido à intensa pressão de pesca sobre os base em informação tradicional familiar, do ciclo gonadal das espécies.
concomitante a programas educativos. A maiores espécimes, algum tipo de controle pela mídia, ou orientação técnica. Sob
criação de sistemas que controlem o mostra-se urgente e a preferência dos responsabilidade federal e estadual, existem Essas restrições têm, provavelmente, maior
aproveitamento desses recursos é um pescadores deverá ser postergada. diversas formas de controle em andamento significado na redução do esforço de pesca e
importante instrumento de manejo, que nos corpos d’água interiores do país, e serão na conscientização da população sobre a
procura impedir que estoques sejam Agostinho e Gomes (2005) lembram que o apresentadas a seguir. importância de manter o recurso, que
exauridos e garante a divisão do recurso controle da pesca é considerado uma opção propriamente na conservação dos estoques.
(AGOSTINHO; GOMES, 2005). barata de manejo, pois é entendida apenas Não há, no entanto, informações sobre a
como regulamentação, e muitas vezes é Formas de Controle da Pesca efetividade dessas medidas para o objetivo a
A iniciativa do controle pode ter natureza escolhido em substituição a outros, o que que se propõe, a despeito do elevado
diversa. Quem deve determinar a finalidade
do controle é, fundamentalmente, o usuário
representa uma forma equivocada de
gerenciamento de recursos pesqueiros (deve
A atividade pesqueira pode ser controlada
investimento na sua realização. Dado o
grande dispêndio de recursos com
de diversas maneiras, diferindo os
interessado no recurso, o que reflete, dessa ter caráter complementar). Este, então, indenizações decorrentes da proibição do
componentes nos quais as ações de controle
forma, os anseios das classes envolvidas. requer um grande investimento se exercício profissional da pesca, é oportuno
são direcionadas. Dessa forma, o controle
Nesse caso, a comunidade científica tem conduzido de forma adequada, ou seja, que os reflexos do período de defeso na
pode incluir a interdição temporal da pesca,
papel central, por prover os usuários com ordenamento da pesca, regulamentação e dinâmica dos estoques sejam avaliados.
interdição espacial, interdição de aparelhos
informações confiáveis a respeito do estado fiscalização baseadas em informações do
de pesca, controle do tamanho do pescado e
de conservação dos recursos explorados, sistema, com consulta aos atores envolvidos,
controle do esforço de pesca. A Tabela 6.7.1
orientando, assim, as medidas necessárias. É além de divulgação adequada e o necessário Interdição Espacial
sumariza as formas de controle utilizadas em
importante enfatizar que o controle da pesca monitoramento dos resultados. Assim,
águas interiores do país, as quais serão
é um instrumento de manejo, e, como tal, historicamente, a efetividade das
descritas a seguir. C onsiste na interdição da pesca em locais
por natureza tem elevada complexidade, regulamentações oficiais é dúbia, em razão, onde a população é vulnerável à sobrepesca
requer uma clara definição dos problemas principalmente, da falta de clareza nos (ex.: abaixo de barragens, obstáculos
em questão e, para seu sucesso, necessita de objetivos (o que se pretende fiscalizar), das Interdição Temporal naturais, mecanismos de transposição), à alta
informações provindas de uma robusta base dificuldades de fiscalização, do baixo captura de imaturos (ex.: criadouros naturais,
científica (NOBLE; JONES, 1999). Isso é valido contingente de recursos humanos C onsiste na proibição da atividade lagoas marginais) ou em áreas de
especialmente em sistemas nos quais as envolvidos, e das pressões provenientes de pesqueira em épocas críticas do ciclo de vida reprodução coletiva (áreas de desova)
pescarias são multiespecificas (com variações segmentos muito heterogêneos, que das espécies, geralmente durante o período (Tabela 6.7.1).
espaciais e temporais na abundância das constantemente burlam as regras impostas de desova (período de defeso). Essa proibição
espécies) e diversos equipamentos são (AGOSTINHO; GOMES, 1997). procura assegurar reprodução suficiente que Algumas vezes a proibição visa a proteção
utilizados, cujas características e uso também sustente a população e evitar que os estoques do próprio pescador, como em áreas
variam em escala espacial e temporal (ALLAN; No Brasil, em nível não-governamental e sejam explorados nos períodos em que são imediatamente abaixo das barragens, onde a
ABELL; HOGAN; REVENGA; TAYLOR; WELCOMME; não-institucional, com o aparecimento de mais vulneráveis à pesca, devido à formação probabilidade de acidentes, devido à
WINEMILLER, 2005). Com isso, os anseios dos conflitos por pescado e espaço, é comum que de cardumes (Tabela 6.7.1). turbulência e às súbitas liberações de água, é
376 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL O Controle da Pesca 377

elevada. É comum, também, a proibição da As restrições legais ao exercício da pesca em formação dos reservatórios, visto que nessas As proibições de aparelhos de pesca em
pesca em áreas onde, por questão de sigilo locais onde as espécies se concentram situações os peixes são mais vulneráveis à reservatórios, embora contribuam para a
ou de segurança física da obra, a circulação durante uma fase do ciclo de vida ou do ciclo captura. redução na mortalidade, servem
de pessoas é restrita. Outras vezes, a reprodutivo têm, em geral, um impacto prioritariamente à compatibilização no uso
proibição da pesca envolve áreas de proteção positivo sobre o uso compartilhado dos Embora sem um significado relevante na do recurso, como entre os pescadores
de espécies ameaçadas, não necessariamente estoques, envolvendo um número maior de conservação dos estoques, a proibição de esportivos e profissionais (NOBLE; JONES,
objeto da pesca. A pesca pode também ser pessoas beneficiadas. Ela pode também ser uma determinada modalidade de pesca pode, 1999). Restrições são, entretanto, importantes
proibida de forma transitória ou necessária nos locais em que são realizadas algumas vezes, evitar conflitos de uso, como, em relação à conservação de espécies
permanente, em casos de acidentes ou liberações de peixes pelos programas de por exemplo, entre a pesca profissional e a ameaçadas.
contaminação crônica da área. estocagem, ou nos primeiros anos após a amadora.
A estratégia de pesca, incluindo a forma e
É necessário, no entanto, que essas restrições posição dos aparelhos no corpo d’água, é
Tabela 6.7.1 - Modalidades de manejo considerando o controle da pesca que, geralmente, sejam adequadamente justificadas, discutidas também objeto de controle, e visa
estão associadas à proteção dos estoques desovantes, formas jovens e intensidade da
exploração e tornadas públicas e que haja um trabalho igualmente a redução nas capturas.
eficiente de comunicação social. A
Situações
Tipo Características apropriadas
Considerações participação dos usuários dos recursos na Em nível nacional, uma série de aparelhos e
Prática que deve ser
definição das restrições é fundamental para procedimentos são proibidos pela Instrução
implementada quando o que as decisões sejam entendidas e cumpridas. Normativa No 43 do IBAMA, de 23 de Julho
monitoramento da atividade
Proibição da atividade Depleção dos pesqueira e do estoque de 2004. A Tabela 6.7.2 lista os aparelhos
Interdição durante períodos estoques recomendar e com clareza
críticos (época de relacionados ao acerca do recurso que se proibidos. Contudo, é interessante lembrar
Interdição de Aparelhos
temporal
desova, sobrepesca, recrutamento ou
migração, etc). crescimento.
quer proteger. que as disposições dessa instrução normativa
Conhecimento acerca do ciclo
reprodutivo das espécies são validas somente para aqueles Estados
(época de desova) são
imprescindíveis. C onsiste na proibição de uso de aparelhos onde não existe legislação específica. Entre os
ou métodos de pesca que resultem em Estados, podem ocorrer variação nos
A jusante de
Proibição da pesca em barragens, obstáculos capturas massivas ou não-seletivas às formas tamanhos mínimos de malha de rede
locais onde os naturais, canais de Requer conhecimento preciso
Interdição
estoques são migração, em da distribuição e ciclo de jovens ou a espécies de interesse permitidos para a pesca, além da proibição
espacial vida do(s) estoque(s) a
vulneráveis a criadouros naturais ou
sobrepesca. áreas de desova proteger. predominantemente preservacionista de certos aparelhos. A existência de normas
coletiva. (espécies raras, ameaçadas). Assim, essas específicas para cada região é um aspecto
Depleção dos Requer o monitoramento da restrições têm, essencialmente, a finalidade positivo, pois é uma maneira de
Interdição de Proibição do uso de
pesca e do estoque, bem compatibilizar a conservação e o
aparelhos de aparelhos ou métodos estoques pela
como conhecimentos da
de controlar as capturas, tornando-as mais
pesca de pesca não seletivos. pesca.
seletividade dos aparelhos. ineficientes ou seletivas (Tabela 6.7.1). aproveitamento dos recursos com as
Requer informações do ciclo de necessidades da comunidade de pescadores,
Controle do tamanho
vida das espécies, No caso de reservatórios, as redes de espera preservando, inclusive, sua diversidade de
Controle do Prevenir depleção principalmente da fase
tamanho do do pescado da pesca e jovem a maturidade. têm maior eficiência de pesca, e sua métodos de pesca.
pescado desembarcado. sobrepesca. Eficiente para os estoques em
que a pesca é intensa e o proibição, como ocorre em alguns Estados
recrutamento é baixo. brasileiros, inviabiliza a pesca profissional Embora não seja praticado em águas
nesses ambientes. Quando permitidas, o interiores no Brasil, o controle de iscas, com
Controle do Restrições ao número Requer o monitoramento dos
esforço de de pescadores e ou Depleção da pesca. estoques e da atividade controle é geralmente realizado sobre o a proibição do uso de espécies não-nativas, é
pesca aparelhos de pesca. pesqueira.
tamanho das malhas, visando a proteção do difundido em outros países (NOBLE; JONES,
estrato juvenil dos estoques. 1999), visto que esse é um eficiente meio de
378 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL O Controle da Pesca 379

realizar introduções, proíbe-se a pesca de indivíduos com indivíduos maiores são biologicamente
Tabela 6.7.2 - Aparelhos e procedimentos de pesca proibidos em
com elevados riscos território nacional, conforme a Instrução Normativa No 43 comprimento inferior ao estipulado (que capazes de produzir mais descendentes
para o sistema de pesca do IBAMA, expedida em 23 de julho de 2004, sendo ainda não reproduziram), o que garante a (BIRKELAND; DAYTON, 2005). Resumindo, com
invalidas nos Estados com legislação específica
e fauna local (AGOSTINHO; oportunidade de reprodução, no futuro, da a retirada desses indivíduos, a recuperação
Aparelhos e Procedimentos de Pesca Proibidos
JÚLIO JÚNIOR, 1996). parcela jovem da população. O tamanho de um estoque exaurido torna-se algo muito
1 - Rede de arrasto ou lance mínimo permitido para a pesca varia entre demorado e difícil, como tem sido
O uso de tilápias vivas 2 - Redes de espera com malha inferior a 70 mm entre nós opostos, colocadas as espécies de peixes e entre regiões do país, constatado na pesca oceânica, sendo isso já
a menos de 200 m de distância da zona de confluência de rios, lagos e
como iscas é uma pratica corredeiras regulamentado por portarias expedidas demonstrado por Walsh, Munch, Chiba e
que vem se tornando pelo IBAMA. Conover (2006). Além disso, a pesca de
3 - Tarrafas com malha inferior a 50 mm entre nós opostos
freqüente na pesca indivíduos maiores, tanto em água doce
4 - Covos com malha inferior a 50 mm entre nós opostos, colocados a distância
esportiva do reservatório inferior a 200 m de cachoeiras, corredeiras, confluências de rios e lagos Apesar de esse tipo de controle proteger a quanto em ambiente marinho, pode levar
de Itaipu (Edson K. 5 - Fisga e garatéia pelo processo de lambada
parcela jovem da população, ele permite ao fenômeno “pescando em direção à base
Okada, informação que as classes de tamanho adultas sejam da teia trófica” (Fishing down the food web).
6 - Espinhel, cujo comprimento ultrapasse 1/3 da largura do ambiente aquático
verbal). A rusticidade pescadas sem restrições. Vale destacar que, Este seria resultado da remoção sucessiva
7 - Redes eletrônicas
desse peixe, aliada à nas pescarias brasileiras, os maiores dos maiores elementos de uma assembléia
facilidade de obtenção, 8 - Explosivos e substâncias semelhantes indivíduos são os mais cobiçados pela pesca de peixes, que seriam substituídos por
são os atrativos. Além 9 - Substâncias tóxicas e seu desaparecimento pode ter outros menores, os quais, tipicamente, são
dos escapes, é comum o 10 - Aparelho de mergulho com respirador artificial para a pesca subaquática conseqüências drásticas, promovendo de níveis tróficos inferiores (PAULY;
pescador liberar as iscas 11 - Aparelho sonoro
múltiplos efeitos negativos, tanto nos CHRISTENSEN; DALSGAARD; FROESE; TORRES, Jr.,
não utilizadas no estoques da própria espécie quanto em 1998) - ver Capítulo 5.1.
12. Aparelho luminoso
ambiente ao final da outros aspectos da dinâmica do ecossistema
jornada de pesca. (BIRKELAND; DAYTON, 2005). Conforme foi Considerando esses aspectos, é oportuno
amplamente discutido no Capítulo 5.1, os lembrar que a pesca seletiva dos maiores
O tipo de isca é também um fator que deve recrutamento baixo. Pode ser dispensável resultados dos trabalhos de Conover e indivíduos foi historicamente praticada nos
ser controlado caso o interesse seja a naqueles em que a mortalidade natural nas Munch (2002) e Berkeley, Chapman e corpos d’água interiores do país, amparada
proteção de juvenis, visto que a isca pode fases jovens é muito alta (Tabela 6.7.1). Sogard (2004) iluminam a problemática, e constrangida pela legislação. Não existem
modificar o tamanho virtual do anzol. demonstrando que as estratégias que estudos específicos, mas tal pesca (em
A determinação do comprimento mínimo consideram somente tamanho mínimo de conjunto com outros impactos ambientais,
permitido para a pesca é realizada com o captura podem ser muito complexas e como a construção de reservatórios) pode
Controle do Tamanho do Pescado conhecimento de aspectos de crescimento e produzir efeitos inesperados. As ter diminuído progressivamente a
reprodução da espécie, além da seletividade implicações da remoção seletiva das variabilidade genética das populações, com
Consiste no controle do tamanho do pescado dos aparelhos de pesca. Geralmente calcula- maiores classes de comprimento devem-se efeitos negativos diretos na dinâmica dos
no ponto de desembarque ou nas diferentes se o comprimento dos indivíduos em que ao fato de que, pelo demonstrado, os recursos pesqueiros, como vemos hoje na
etapas da comercialização, visando assegurar ocorre a primeira maturação sexual. Para maiores indivíduos são diferentes aparente depleção dos estoques das espécies
que os juvenis alcancem a maturidade antes isso, o critério mais utilizado é o L50, ou seja, geneticamente, sendo capazes de produzir migradoras. Dessa forma, o uso de
que sejam capturados. A redução no esforço o comprimento em que 50% dos indivíduos descendentes com maior probabilidade de tamanhos mínimos como forma de controle
de pesca, embora não declarada como da população já reproduziram pelo menos sobrevivência, como o crescimento mais na pesca é uma ferramenta importante, mas
objetivo dessas medidas, é uma de suas uma vez. Também pode ser utilizado o L100, acelerado. Além do aspecto genético, existe demonstra não ser capaz de resolver o
decorrências. Essa medida é recomendada no qual 100% dos indivíduos já uma correlação positiva entre tamanho problema da sobrepesca, requerendo o
para os estoques em que a pesca é intensa e o reproduziram. Após determinar o tamanho, corporal e fecundidade, quer dizer, desenvolvimento de novas medidas.
380 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL O Controle da Pesca 381

Uma estratégia alternativa e mais complexa como mencionado por Allan, Abell, Hogan, comprovação da atividade pesqueira como Grosso do Sul é um exemplo típico, visto
é a proibição da pesca de indivíduos em Revenga, Taylor, Welcomme e Winemiller profissão, ou que seja comprovada a que existe uma cota preestabelecida por
intervalos intermediários de comprimento (2005), que em certas regiões do planeta, dependência da pessoa pelo recurso pescador (kg), com a adição de um exemplar
(slot limit; NOBLE; JONES, 1999; BIRKELAND; como a América Latina, uma diminuição no pesqueiro. Essa licença é emitida pela de grande porte (troféu). No reservatório de
DAYTON, 2005). Essa estratégia tem como tamanho dos peixes capturados parece ser Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca Balbina (SANTOS; OLIVEIRA JUNIOR, 1999) e em
objetivo maximizar o crescimento dos inaceitável pelos pescadores. (SEAP), e pode ser cancelada quando o alguns trechos do alto rio Paraná foram
indivíduos com tamanho intermediário e, pescador deixa de ter a pesca como meio de implantadas cotas semelhantes.
para isso, permite a retirada do excedente vida, ou quando infringe o Decreto-Lei 221/
de indivíduos jovens, diminuindo a Controle do Esforço 67. Somente a pesca de subsistência não
competição por recursos. Esse procedimento requer a emissão de licença.
Considerações Finais
disponibiliza energia para as classes de E ssa forma de controle tem como objetivo
comprimento intermediárias protegidas, o geral diminuir o esforço de pesca sobre o O controle da quantidade de aparelho de N o Brasil, mesmo com a existência de um
que permite um crescimento mais rápido estoque (Tabela 6.7.1). Abrange diversas pesca pode ser feito via cadastramento e elaborado conjunto de leis, que, como visto,
até tamanhos desejáveis pela pesca. Essa opções, que podem ser (i) emissão de colocação de lacre identificador, fornecido abrange diferentes tipos de regulamentação,
estratégia é aplicada em lagos da América licenças para pesca; (ii) emissão de lacres por órgão competente. Essa opção facilita, o controle da pesca em águas interiores
do Norte e, para ser efetiva, a espécie em para controle de equipamentos; (iii) licenças também, a fiscalização, uma vez que redes mostra-se cheio de lacunas. Todas as
questão precisa produzir naturalmente um para embarcações e, (iv) estabelecimento de não identificadas podem ser recolhidas. modalidades de controle apresentadas têm
grande contingente de jovens, e um grande quota (quantidade de peixe) a ser pescada. sido objeto de regulamentação em
esforço precisa ser destinado à remoção Paralelamente, o controle sobre os diferentes Estados brasileiros. Os objetivos
desse excedente. Assim, apesar de não Com relação aos pescadores, o nível mais pescadores pode ser feito através de são, entretanto, difusos e os critérios
proteger explicitamente as classes de maior básico de controle é exercido pela restrições direcionadas às embarcações desconhecidos, tendo apenas características
comprimento, que são permitidas na pesca, requisição de uma licença, que limita e envolvidas na pesca. Em território de entraves burocráticos para o exercício da
essa estratégia cria a oportunidade de que controla o número de pessoas executando a brasileiro, o Decreto-Lei 221/67 prescreve atividade, levando, portanto, a falhas.
sempre existam indivíduos com tamanho atividade (esforço). Em território brasileiro, que toda embarcação deve estar inscrita no
próximo ao desejável. Ainda, pode ser o IBAMA exige a obtenção de licenças para Cadastro Nacional de Embarcações Como em outras modalidades de manejo, o
combinada com outras regulamentações, o exercício da atividade pesqueira em Pesqueiras, da SEAP, com pagamento de conhecimento do problema e a elaboração
como, por exemplo, a de impor limites de corpos d’água interiores, incluindo uma taxa que depende das dimensões da de objetivos claros são cruciais para a
quantidade para as classes de menor e reservatórios, tanto para o pescador amador embarcação. As embarcações poderão ser efetividade da medida. No caso, existe
maior tamanho, protegendo assim os jovens quanto para o profissional, seguindo as interditadas quando estiverem em situação carência de informações técnicas que
e adultos. Contudo, a efetivação dessa instruções do Decreto-Lei 221/67. Para o irregular junto à Marinha do Brasil, quando determinem, de fato, “porque” e “o que” se
estratégia é mais complexa, visto que pescador amador, com exceção da pesca de não estiverem cadastradas na SEAP, ou deve controlar. Vale destacar também a
depende de instrução aos pescadores, e barranco utilizando caniço, é requisitada quando a taxa de cadastro não for paga. ausência de estudos e monitoramentos após
intensa fiscalização pelos órgãos licença para as categorias “embarcado” e o emprego das medidas, o que impede a
responsáveis. Vale destacar também que “desembarcado”, que tem validade anual O estabelecimento de quotas também é uma avaliação de sua efetividade ou dos
estudos prévios devem guiar a sua para todo o território. Essa licença pode e outra forma de controle, muito praticada na impactos negativos provocados por ela.
implementação, como, por exemplo, a deve ser obtida por qualquer pessoa, com a América do Norte. No Brasil, essa estratégia
constatação de excedentes na classe de finalidade de praticar a pesca amadora, não tem sido muito adotada, salvo algumas Adicionalmente, as falhas no controle da
jovens, e verificação da capacidade de mediante pagamento de uma taxa. regiões onde foram criadas pesca também se devem, em grande parte, à
crescimento das classes intermediárias. Diferentemente, a licença para o exercício regulamentações específicas. A pesca insuficiência de recursos humanos e
Existe, também, um problema cultural, da pesca profissional só é emitida mediante amadora executada no Pantanal de Mato financeiros para a fiscalização, além da
382 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

desconsideração de pressupostos básicos, jusante e montante. Além disso, a

7
como aqueles relacionados à determinação do período de defeso também
fundamentação, objetivos claros, abrange as regiões de influência de

Capítulo
monitoramento e participação da reservatórios. Porém a pesca de espécies
comunidade (AGOSTINHO; GOMES; LATINI, 2004; não-nativas nos reservatórios do Sul e
AGOSTINHO; GOMES, 2005). Também devem ser Sudeste, como a corvina (P. squamosissimus),
considerados, tanto na regulamentação o tucunaré (Cichla spp.), o apaiari (A.
quanto na fiscalização, os aspectos físicos, ocellatus) e a sardinha (Triportheus spp.), tem
químicos, biológicos, as percepções dos
pescadores, os impactos sociais e
sido liberada mesmo durante os períodos de
defeso, medida considerada como um
Ações Ambientais em Andamento
econômicos e um eficiente sistema de
comunicação. As medidas de controle da
avanço na área de gestão de recursos
aquáticos, visto que esforços de conservação no Setor Hidrelétrico Brasileiro:
pesca baseadas apenas em informações não devem ser direcionados às espécies não-
biológicas podem ser inócuas, se, por razões nativas.
econômicas ou políticas, a pesca não for
levantamento
controlada (AGOSTINHO; GOMES, 2005). Apesar de serem pouco eficientes, as
medidas tomadas para controle da pesca no
Nos reservatórios, em particular, algumas
portarias e instruções normativas possuem
referências ao ordenamento pesqueiro, que
Brasil são, em parte, efetivas e, portanto,
devem ter continuidade. Isso é resultado,
aparentemente, do efeito moral que a
V isando avaliar o esforço atual do setor hidrelétrico nas ações

variam de acordo com a região e a bacia interdição da pesca (principalmente) tem ambientais afetas aos recursos pesqueiros (estudos, levantamentos,
hidrográfica. Os tipos de controle mais sobre os pescadores, que apesar da pouca manejo e monitoramento) nos reservatórios brasileiros, realizou-se
empregados incluem restrições no tamanho fiscalização, promove uma diminuição do
de malhas de rede, limite mínimo de esforço de pesca em alguns locais ou uma ampla consulta junto às principais concessionárias, buscando
tamanho de captura (que, como mostrado, períodos do ano. Com a aquisição de novos
pode causar mais impactos), proibição de conhecimentos ou o surgimento de novos
informações acerca de recursos humanos e infra-estrutura
aparelhos e locais, sendo que uma das conflitos, adequações regionais e específicas disponível, prioridades nos esforços aplicados nas diferentes
principais observações é a proibição da na legislação devem ser alvo de intenso
pesca nas proximidades de barragens, a debate. ações, outros usos dos reservatórios, natureza dos monitoramentos
e disponibilidade de dados sobre ações de manejo e
monitoramento.
Embora a consulta tenha sido mais ampla, apenas nove grandes
companhias do setor elétrico, que operam juntas 100 reservatórios
em diferentes bacias brasileiras, forneceram as informações
solicitadas.
384 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Ações Ambientais em Andamento no Setor Hidrelétrico Brasileiro: levantamento 385

Introdução avaliação dos impactos de represamentos e Ressalta-se, no entanto, Tabela 7.1 - Companhias hidrelétricas entrevistadas e número
das ações de manejo até então tomadas. que as informações dadas de reservatórios declarados sob administração

A té meados da década de 1980, as ações do


No intuito de acessar a capacidade e as
pelas companhias nem
sempre envolveram
Companhias
CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais
Reservatórios
41
setor elétrico na área ambiental foram
percepções e atividades atuais do setor todos os reservatórios CESP Companhia Energética de São Paulo 6
marcadas pela construção de escadas e
hidrelétrico brasileiro, em relação ao manejo, por elas operados. As CHESF Companhia Hidrelétrica do São Francisco 11
estações de piscicultura e pelos programas de
pesquisas e monitoramento dos recursos análises realizadas neste COPEL Companhia Paranaense de Energia 17
estocagem de peixes, nativos e exóticos. A DUKE Duke Energy International 8
aquáticos, foram colhidas informações junto capítulo tiveram como
maioria dessas ações era resultante de ELETRONORTE Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. 3
aos técnicos responsáveis pela área ambiental base cada reservatório,
constrangimento legal, imposto pelos órgãos FURNAS Furnas Centrais Elétricas S.A. 10
das principais companhias hidrelétricas do independentemente do
ambientais e de fomento. Até então, ITAIPU Itaipu Binacional 1
país. As companhias que forneceram as nome da operadora. TRACTEBEL Tractebel Energia S.A. 3
levantamentos e estudos que embasassem
informações que fundamentam este capítulo Total 100
essas ações e o monitoramento que poderia
foram CEMIG, CESP, CHESF, COPEL, DUKE Neste tópico busca-se ter
demonstrar sua eficácia foram
ENERGY INTERNATIONAL, ELETRONORTE, uma idéia da grandeza
negligenciados. Alguns estudos realizados
FURNAS, ITAIPU-BINACIONAL e dos recursos humanos e da infra-estrutura significa uma média de 23 tanques/
nesse período foram resultantes da livre
TRACTEBEL. No conjunto, essas companhias disponível no setor elétrico relacionadas às reservatório. O número de tanques externos
iniciativa de algumas concessionárias.
hidrelétricas operam 100 reservatórios ações ambientais. A Tabela 7.2 sumariza é muito superior, alcançando quase 700
(Tabela 7.1). Embora estes constituam apenas esses resultados. unidades em 12 dos 100 reservatórios. Nesse
Constituiu-se em marco importante para as
15% dos 660 reservatórios levantados, entre caso, a média é de aproximadamente 58
ações ambientais em reservatórios a
eles estão os mais importantes do país. De um universo de 100 reservatórios, 27% tanques/reservatório. Uma expressiva
promulgação da Lei 6938/81 (Política
Ressalta-se, por outro lado, que as tendências têm alguma infra-estrutura relacionada com maioria dessas estruturas localiza-se nas
Nacional de Meio Ambiente) e,
constatadas aqui não representam o conjunto a prática de pesquisa e monitoramento na imediações de hidrelétricas sob concessão da
especialmente, das Resoluções do Conselho
dos reservatórios brasileiros, dado que área de ictiologia e limnologia. Apenas 30% CESP, CEMIG, DUKE, FURNAS e CHESF,
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) 001/
algumas companhias hidrelétricas que não dos reservatórios têm equipe própria para o também atendendo às demandas de mais que
86 (avaliação de impactos ambientais) e 237/
responderam aos questionamentos não o desenvolvimento dessas atividades, um reservatório.
97 (licenciamentos), que tornaram
fizeram por não realizar qualquer ação envolvendo, no conjunto, cerca de 152
obrigatórios os inventários e estudos visando,
ambiental relacionada a estudos, pessoas, o que significa uma média Embarcações e motores disponibilizados
além de dimensionar os impactos, subsidiar
monitoramento e manejo. Essas tendências aproximada de 5 pessoas por reservatórios. para a área de ictiologia e limnologia foram
medidas atenuadoras (manejo) e monitorar as
refletem apenas a situação naquelas com Vinte e seis laboratórios relacionados à área constatados em 26 dos 100 reservatórios,
alterações decorrentes do represamento.
programas consolidados. estão distribuídos em 16 dos 100 totalizando um número de 52 e 54 unidades,
Embora ainda com algumas distorções (ver
reservatórios considerados. Muitos desses respectivamente. Por outro lado, foram
Capítulo 8), as ações desenvolvidas pelo setor
laboratórios, entretanto, atendem às contados 10 veículos adaptados para
elétrico nos últimos 20 anos foram
Recursos Humanos e demandas de mais de um reservatório. transporte de peixes entre as concessionárias
responsáveis pela maior parte do
conhecimento de que dispomos atualmente
Instalações consultadas, sendo estes utilizados
Um grande número de tanques foi declarado principalmente nas atividades de estocagem
sobre a ictiofauna de águas continentais
brasileiras. Nesse ínterim, inúmeras espécies O número de reservatórios operado por
no inventário. São utilizados tanto no cultivo
de espécimes para repovoamento e fomento,
de peixes, atendendo vários reservatórios.
novas foram descritas, assembléias de peixes cada uma das companhias hidrelétricas que
quanto em pesquisas básicas. Com relação a Esses resultados demonstram que, embora os
das principais bacias hidrográficas puderam subsidiaram este capítulo é mostrado na
tanques internos, existe um total de 230, recursos humanos e a infra-estrutura
ser conhecidas e o ciclo de vida de muitas Tabela 7.1. Constata-se que 69 deles
instalados em 10 reservatórios, o que disponível sejam insuficientes para as
espécies elucidado, contribuindo para a pertenciam a apenas três concessionárias.
386 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Ações Ambientais em Andamento no Setor Hidrelétrico Brasileiro: levantamento 387

Ações desenvolvidas focando diretamente a para a conservação dos recursos aquáticos


Tabela 7.2 - Recursos humanos e infraestrutura disponíveis nas usinas hidrelétricas para
pesquisa e monitoramento nas áreas de limnologia e ictiologia. O número de ictiofauna, envolvendo espécies selecionadas seja desenvolvida em tão poucos
reservatórios analisados foi de 100, sendo apresentados o número de facilidades e/ou toda a fauna, foram registradas em reservatórios.
existente (N), o número de reservatórios contendo as facilidades (N reservatórios) e o
seu percentual aproximadamente metade dos reservatórios
(Figura 7.1). O esforço alocado nessas ações Já as ações ligadas à exploração dos recursos
N N reservatórios % reservatórios
foi também considerado alto pelo setor, pesqueiros, seja através da pesca comercial,
Reservatórios com alguma infraestrutura -- 27 27
atingindo uma média de 4, na escala de 0 a 5. amadora ou de subsistência, receberam
Pessoal em atividade 152 30 30
Laboratórios 26 16 16 Nesse caso, além do monitoramento, menor atenção do setor (Figura 7.1),
Tanques internos 230 10 10 registraram-se também medidas de manejo. alcançando menos de 30% dos reservatórios.
Tanques externos 698 13 13 Devido aos diversos e múltiplos efeitos Também o esforço dado a essas modalidades
Embarcações 52 26 26 adversos promovidos pelos reservatórios de manejo foi menor (<3). Embora o
Motores 54 26 26
sobre a ictiofauna original,
Veículo transporte de peixes 10 12 12
as companhias procuram
alocar esforços 100
1 - Conservação de algumas espécies
compensatórios na tentativa n = 100 a
atividades relacionadas aos estudos, do empreendimento, aumentando a 2 - Conservação de todas espécies
3 - Rendimento pesca comercial
de conservar a comunidade 80
monitoramento e manejo dos recursos qualidade dos recursos aquáticos presentes e 4 - Rendimento pesca amadora
5 - Rendimento pesca subsistência
existente, restabelecer

% Reservatórios
pesqueiros, há uma base logística razoável garantindo a sua conservação e integridade a 60 6 - Qualidade da água
7 - Vegetação ripária
populações (espécies
para execução de projetos dessa natureza. O curto ou longo prazo.
migradoras) ou até mesmo 40
problema mais grave no setor é a
Os sete tipos de ações especificados nos introduzir novas espécies.
distribuição heterogênea desses recursos, 20
com muitos reservatórios sem estrutura questionários submetidos às companhias do
Uma das ações indiretas de
alguma. setor elétrico são especificados na Figura 7.1. 0 1 2 3 4 5 6 7
conservação dos recursos
A ação mais empregada relacionou-se à Ações Ambientais
aquáticos, dirigida à
manutenção da qualidade da água, sendo que
Ações Ambientais em aproximadamente 80% dos reservatórios
preservação ou 5

estabelecimento de uma b
foi declarada a alocação de esforços para essa
T
4
endo como base as declarações dadas por vegetação marginal (ripária),
finalidade. No geral, essas ações consistiram

Esforço alocado
técnicos responsáveis pela área ambiental no monitoramento físico e químico da água. embora envolvendo um 3

das companhias hidrelétricas, foram Além disso, de acordo com a percepção dos menor percentual de
2
levantadas as ações ambientais mais técnicos das companhias, o esforço médio reservatórios (38%), foi
freqüentes relacionadas aos recursos alocado nessa atividade foi relevante, declarada como de elevado 1

pesqueiros. Adicionalmente, pesquisou-se a alcançando aproximadamente 4, numa escala esforço pelo setor elétrico,
0
intensidade do esforço proporcional alocado até 5. Com isso, fica evidente a preocupação com um escore médio de 4 1 2 3 4 5 6 7

a cada uma dessas ações, de acordo com a das companhias hidrelétricas com a (Figura 7.1). Esse fato indica Ações Ambientais

percepção dos próprios técnicos, com base deterioração da qualidade da água nos uma grande heterogeneidade
Figura 7.1 - Ações ambientais empregadas nas hidrelétricas
em uma escala que variou de 0 (nenhum reservatórios, visto que em vários casos a em relação à prioridade dada analisadas, apresentando o percentual de reservatórios
esforço) a 5 (esforço máximo). Embora tenha água armazenada tem múltiplos usos e as ao tema pelas diferentes que realizou cada ação (a) e a magnitude do esforço
empregado (b). A escala de magnitude do esforço alocado
sido constatada uma profusão de objetivos condições ambientais criadas pelo companhias. De qualquer varia de 0 (nenhum esforço) a 5 (esforço máximo). A figura
específicos, as ações ambientais, em geral, barramento podem favorecer a perda de sua maneira, é curioso que uma apresenta o esforço médio aplicado nos reservatórios que
empregaram a atividade.
visaram melhorias nas condições ambientais qualidade (TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI, 2003). ação de elevado significado
388 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Ações Ambientais em Andamento no Setor Hidrelétrico Brasileiro: levantamento 389

ordenamento da atividade pesqueira e seu O instrumento de manejo mais empregado melhorias no ambiente dos
fomento não sejam de responsabilidade das nesses reservatórios foi a estocagem de peixes, não são atividades 100
n = 100 1 - Estocagem nativas a
companhias hidrelétricas, é importante peixes nativos (peixamento), realizada em muito freqüentes em 2 - Estocagem não-nativas
80 3 - Controle da pesca (logística)
ressaltar que a pesca tem sido uma atividade 56% dos reservatórios analisados (Figura reservatórios brasileiros 4 - Controle da pesca (operação)

% Reservatórios
5 - Manipulação de abrigos
que abriga excluídos do setor produtivo 7.2a). Esse percentual comprova a predileção (Figura 7.2a). 60 6 - Controle de peixes invasores
7 - Proteção criadouros naturais
formal e tem importante papel social na das companhias hidrelétricas por essa técnica 8 - Manipulação do nível
9 - Melhorias no ambiente do peixe
manutenção de milhares de famílias (ver de manejo ambiental, apesar de sua execução Com relação ao esforço 40
10 - Transposição
Capítulo 5). Além disso, os represamentos requerer extensa análise, conforme discutido empregado, apesar da baixa 11 - Piscicultura (tanques-rede)
12 - Piscicultura (tanques escavados)
20
alteram a composição dos estoques e no Capítulo 6.2. Em seguida esteve a diversidade dos
impõem a necessidade de novas estratégias transposição de peixes (escadas e instrumentos de manejo 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
de captura. elevadores), realizada em 38% dos utilizados nos reservatórios, Estratégias e Instrumentos de Manejo
reservatórios, instrumento de manejo que ele mostrou escores altos em
Os resultados demonstrados em relação às também requer uma série de considerações e todas as técnicas 5 Esforço b
ações em curso e o esforço nelas aplicado estudos antes de sua implementação. A empregadas, com média Resultado

permitem inferir que a prioridade no setor piscicultura em tanques-rede aparece como superior a 3 (Figura 7.2b), o 4

hidrelétrico tem sido o monitoramento da que denota também ênfases

Magnitude
terceiro instrumento de manejo mais 3
qualidade da água e a conservação dos empregado, presente em 17% dos distintas entre as
2
recursos aquáticos (pescado). reservatórios. É válido destacar que esse companhias. Entretanto, os
instrumento tem, geralmente, apelo para a maiores escores médios 1
produção em aqüicultura e pode não se foram obtidos na estocagem
Instrumentos de Manejo de peixes nativos, na
0
relacionar diretamente com a conservação 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
da Pesca dos recursos pesqueiros, apresentando, transposição e na piscicultura Esratégias e Instrumentos de Manejo

inclusive, grande potencial para promover convencional. Figura 7.2 - Percentual de reservatórios que utilizam diferentes
O questionário elaborado indagou sobre a danos ao meio ambiente (ver Capítulo 6.3).
A prevalência da atividades
estratégias e instrumentos de manejo ambiental (a) e
esforço médio alocado e o resultado obtido em cada
existência de atividades relacionadas a 12 As outras modalidades de manejo tiveram estratégia (b), na percepção dos responsáveis pelas usinas.
alternativas de manejo com potencial de menor prevalência e ocorreram em menos de estocagem de peixes sobre A escala de magnitude varia de 0 (nenhum esforço
empregado; nenhum êxito obtido) a 5 (esforço máximo;
influenciar a comunidade de peixes, o de 13% dos reservatórios. as demais técnicas denota a êxito pleno).
rendimento pesqueiro e outros aspectos da persistência de uma
atividade pesqueira. A Figura 7.2a apresenta Algumas modalidades de manejo tiveram abordagem menos integrada
as opções de manejo indagadas e seu ocorrências muito baixas, como a estocagem nos programas de manejo em andamento, Os melhores resultados declarados foram
emprego nos reservatórios. Novamente, a de espécies não-nativas (nesse caso, ainda sendo os esforços direcionados a obtidos com a transposição de peixes,
intensidade de alocação de esforços foi alta se considerado que há restrições legais a determinadas espécies, não considerando o seguida pela piscicultura convencional.
aferida através de uma escala de 0 (ausência) essa atividade) e a manipulação de abrigos e reservatório como um sistema de
do nível hidrométrico, estas últimas com comunidades com inter-relações dinâmicas. Resultados insatisfatórios foram obtidos com
a 5 (intensa), de acordo com a percepção dos
grande potencial para a melhoria dos a manipulação de abrigos, o controle de
técnicos responsáveis. Adicionalmente, o
estoques pesqueiros (ver Capítulo 8). De acordo com os técnicos responsáveis, os peixes invasores e com a ordenação da pesca,
questionário procurou avaliar o sucesso
Também importantes instrumentos de resultados obtidos com essas ações têm sido que, de qualquer maneira, foram técnicas de
dessas medidas. Igualmente, de acordo com
manejo, que têm relação direta com a satisfatórios, com média geral de 2,5 (Figura manejo de emprego esporádico. Ressalta-se
sua própria percepção, os técnicos indicaram
conservação da ictiofauna, como a proteção 7.2b). Em alguns casos, o esforço aplicado é de que, na percepção dos técnicos do setor, o
o sucesso do manejo empregado em uma
de áreas de reprodução, ordenação da pesca e magnitude semelhante ao resultado obtido. emprego de espécies não-nativas nos
escala de 0 (nenhum êxito) a 5 (pleno êxito).
390 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Ações Ambientais em Andamento no Setor Hidrelétrico Brasileiro: levantamento 391

peixamentos, também esporádico (5%), foi reservatórios. Poucos foram destinados à pesca amadora, de subsistência e mesmo o recursos pesqueiros. A natureza desses
proporcionalmente mais bem-sucedido que navegação e ao controle de cheias (<15%). abastecimento de água, que sabidamente monitoramentos, sua história recente (1999-
com espécies nativas. ocorre de forma difusa em quase todos os 2003), periodicidade, abrangências espaciais
Há muito tempo tem-se clamado por reservatórios do país. Algumas vezes, por e variáveis monitoradas foram objeto de
Nesse ponto é conveniente considerar que a estratégias que envolvam o múltiplo exemplo, a pesca comercial é assumida como questionário para cada um dos 100
eficiência das diferentes técnicas de manejo aproveitamento dos corpos d’água oriundos inexistente em dado reservatório, tendo reservatórios analisados.
está mais relacionada à percepção dos de grandes represamentos (OLIVEIRA FILHO, como base a proibição de seu exercício ou
técnicos da área de meio ambiente do setor 1976; TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI, 2003), uma suposta baixa densidade dos estoques.
elétrico que propriamente a resultados de inclusive com o intuito de compensar os Uma busca mais profunda revelará dados Limnologia
monitoramento. Isso se deve tanto às efeitos adversos e a perda de recursos surpreendentes. É fato, porém, que a escassez
dificuldades de monitorar as alterações naturais que inevitavelmente acompanham de programas que inventariem, incentivem A atividade de monitoramento da
induzidas pela ação de manejo (estocagem os barramentos. ou apóiem usos diferenciados, como a pesca qualidade da água nos últimos anos
com espécies nativas, por exemplo), quanto à e o turismo, não permite que essas envolveu entre 36% (1999) e 53% (2002) do
ausência do próprio monitoramento ou sua Porém, conforme as informações obtidas nas atividades sejam proeminentes ou total de reservatórios que disponibilizaram
precariedade metodológica. companhias hidrelétricas, conclui-se que, organizadas, ou até mesmo conhecidas em informações (Figura 7.4a). Considerando-se
além da produção de hidroeletricidade, toda a sua extensão. os dois últimos anos para os quais as
outros usos têm ocorrência bem modesta.
Usos Múltiplos informações estão disponíveis (2002-2003), 61
reservatórios tiveram algum monitoramento
Contudo, é provável que essas e outras Monitoramento Ambiental limnológico. Nestes, a freqüência do
O s técnicos das companhias hidrelétricas atividades ocorram em muitos reservatórios, monitoramento foi principalmente
consideradas na análise indicaram os usos
vigentes nos seus reservatórios, de acordo
com o desconhecimento das autoridades e
dos gerentes da área ambiental das
C omo será apresentado no Capítulo 8, o trimestral (60%) e, em menor proporção,
monitoramento é uma ferramenta bimestral (22%) e semestral (13%) (Figura
com a lista apresentada na Figura 7.3. companhias hidrelétricas, como é o caso da imprescindível a objetivos tão diversos como 7.4b). Assim, cerca de 73% dos reservatórios
Como esperado, à exceção de avaliar uma medida de manejo (estocagem, com monitoramento limnológico realizaram
um reservatório operado transposição, etc.), identificar situações de essa tarefa de duas a quatro vezes ao ano.
pela CHESF, os demais têm uso incorreto dos recursos ou da bacia, Monitoramento mensal esteve restrito a
100
como uso prioritário a n = 100
1 - Geração de energia
2 - Navegação detectar alterações resultantes de processos apenas 3% dos reservatórios. Considerando a
3 - Controle de cheias
produção de energia elétrica. 4 - Pesca esportiva complexos ou de natureza estocástica no natureza dos monitoramentos, ou seja,
80 5 - Pesca comercial
As pescarias de subsistência e 6 - Pesca subsistência ambiente. Idealmente, ele pressupõe o acompanhamento de processos físicos e
% Reservatórios

7 - Turismo
amadora, além das 60
8 - Tanques-rede conhecimento de um modelo ou padrão de químicos da água, a tomada de dados com
9 - Irrigação
atividades de turismo, foram 10 - Abastecimento
variação que se constitui na base para se tais intervalos de tempo (e.g. sazonal,
destinações suplementares 40 avaliar as flutuações. semestral) pode prejudicar a qualidade da
mencionadas para, informação, visto que dinâmicas que
aproximadamente, 35% dos 20 Como visto anteriormente, a maioria das ocorrem em curta escala de tempo não são
reservatórios. O uso da água ações ambientais desenvolvidas nos avaliadas.
0
armazenada para irrigação, 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 reservatórios brasileiros está mais
cultivo em tanques-rede, Utilização relacionada ao monitoramento em seu Entre os 61 reservatórios com
pesca comercial e Figura 7.3 - Usos múltiplos destinados aos reservatórios sentido amplo, ou seja, para o monitoramento limnológico em 2002 e 2003,
abastecimento urbano foi analisados, de acordo com os técnicos responsáveis pelas acompanhamento das alterações temporais a abrangência espacial dessa atividade
usinas.
relatado para 20 a 28% dos nas variáveis limnológicas, ictiológicas e mostrou variações relevantes (Figura 7.5a).
392 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Ações Ambientais em Andamento no Setor Hidrelétrico Brasileiro: levantamento 393

Na dimensão vertical, todos os A comunidade bentônica é a


reservatórios tiveram 100 menos monitorada, sendo Reservatório
n = 100 a a n = 61
monitoramento na superfície, objeto de acompanhamento 1 - Superficie
2 - Fundo
80
sendo que grande parte em apenas 26% dos 100
3 - Barragem

% Reservatórios
4 - Intermediário
também teve nas camadas 60 reservatórios (Figura 7.5b). 80
5 - Remanso

% Reservatórios
Adjacência
profundas (77%). No eixo Esse fato também é 6 - Jusante
7 - Montante
60
espacial longitudinal, o 40 paradoxal, já que essa 8 - Tributários
40
monitoramento de suas águas comunidade tem potencial
20
20
mais internas e imediatamente para ser utilizada como
abaixo da barragem é 0 indicadora da qualidade 0
1 2 3 4 5 6 7 8
1999 2000 2001 2002 2003
extensivo a quase todos esses Anos ambiental (HIGUTI; Abrangência Espacial
reservatórios (zona lacustre: ZVIEJKOVSKI; TAKAHASHI; DIAS,
97% jusante: 98%). Fato similar n = 61 b 2005), além de ser um dos b n = 61
1 - TºC
2 - Oxigênio
100 3 - Transparência
foi registrado para suas áreas componentes bióticos de 4 - pH
mensal 5 - Condutividade
de remanso (fluvial, 85%) e ecossistemas aquáticos 80
6 - Nutrientes
7 - Fitoplâncton

% Reservatórios
8 - Zooplâncton
mesmo nos trechos bimestral menos conhecidos e, 9 - Bentos
60 10 - Macrófitas
intermediários (transição; trimestral possivelmente, mais
69%). Já os trechos a montante impactados pela construção 40
semestral
e dos tributários laterais de reservatórios. 20
receberam menos atenção (49%
% Reservatórios 0
e 40%, respectivamente). 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Ictiologia Variáveis
Figura 7.4 - Percentual de reservatórios com monitoramento
Entre as variáveis limnológico entre 1999 e 2003 (a), e periodicidade com Figura 7.5 - Abrangência espacial dos monitoramentos
limnológicas contempladas que foi realizado naqueles que apresentaram este
acompanhamento em 2002 e 2003 (b), segundo
O monitoramento das limnológicos realizados em 61 reservatórios brasileiros no
período de 2002-2003 (a) e variáveis monitoradas (b),
nesses monitoramentos, informações das concessionárias. assembléias de peixes ocorre segundo informações das concessionárias.
destacam-se a temperatura, o num número
oxigênio dissolvido, a proporcionalmente baixo de
transparência da água e o pH, objeto de monitoradas as comunidades fito- reservatórios brasileiros. Dos 100 a respeito do uso dos recursos, sua
acompanhamento nos 61 reservatórios zooplanctônicas (66%), sendo menor o reservatórios cujas informações foram conservação e medidas de manejo,
considerados. Além disso, quase todos percentual daqueles que monitoram disponibilizadas, o monitoramento suplantando a antiga e incerta técnica da
monitoram a condutividade elétrica e a macrófitas aquáticas (41%). ictiofaunístico envolveu entre 22 e 41 tentativa e erro (AGOSTINHO; GOMES; LATINI,
concentração de nutrientes na água (97%). Essa menor atenção conferida às macrófitas é empreendimentos, no período de 1999 a 2003 2004).
Todas essas informações são de grande intrigante, em razão de as macrófitas terem- (Figura 7.6a). De qualquer maneira,
interesse para as companhias, visto que se se tornado motivo de grande preocupação constatou-se nesse período um incremento Dos reservatórios monitorados em 2002 e
relacionam com a qualidade da água, das hidrelétricas do país, uma vez que acentuado no número deles, o que denota 2003 (42 reservatórios), a maior parte o foi de
proteção de equipamentos e com a produção desenvolvem, ocasionalmente, grandes uma atenção crescente das companhias forma sazonal (66%), seguida pelo
biológica do sistema. infestações em reservatórios e prejudicam a hidrelétricas com a obtenção de informação a monitoramento bimestral (29%) (Figura
geração de energia elétrica e outros usos respeito da comunidade de peixes em seus 7.6b). Monitoramentos mensais foram
Com relação aos componentes bióticos, em (THOMAZ; BINI, 1999; MARCONDES; MUSTAFÁ; reservatórios. Seria interessante que essas registrados em apenas 5% deles, ou seja, em
um grande percentual de reservatórios são TANAKA, 2003). informações guiassem as tomadas de decisão apenas 2 reservatórios.
394 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Ações Ambientais em Andamento no Setor Hidrelétrico Brasileiro: levantamento 395

Com relação à abrangência pouco mais da metade dos 42


espacial dos monitoramentos 100 reservatórios com essa Reservatório Adjacência a
n = 100 a n = 42 4 - Intermediário 6 - Jusante
1 - Superficie
ictiofaunísticos nos atividade (59%). Já o fator de 100 2 - Fundo 5 - Remanso 7 - Montante
80
reservatórios onde essa condição, é uma informação

% Reservatórios
3 - Barragem 8 - Tributários
80

% Reservatórios
atividade é realizada, a 60 comumente obtida, até
maior parte tem 40 porque pode ser acessada a 60
monitoramento de superfície partir de outras variáveis 40
20
e de fundo (> 75%) (Figura (peso e comprimento).
20
7.7a). Igualmente, mais de 0
1999 2000 2001 2002 2003
80% dos reservatórios têm Anos
Atividade de Pesca 0
1 2 3 4 5 6 7 8
seu eixo longitudinal Abrangência Espacial
monitorado (jusante,
barragem, remanso e
n = 42 b
A atividade de pesca foi n = 42 1 - Composição
2 - CPUE n
4 - Tamanho
5 - Alimentação
b

montante), sendo exceção os monitorada em um número 100 3 - CPUE b 6 - Reprodução


7 - Recrutamento
trechos intermediários (~
mensal reduzido de reservatórios no 8 - Fator de condição
80
65%). O menor interesse na período de 1999 a 2003,

% Reservatórios
bimestral

região intermediária é envolvendo entre 6 e 19 dos 60


trimestral
interessante, visto que essa 100 que disponibilizaram as 40
região costuma ser a mais informações (Figura 7.8a).
20
produtiva biologicamente e % Reservatórios Entretanto, o incremento
em termos de rendimento observado durante esse 0
1 2 3 4 5 6 7 8
Figura 7.6 - Percentual de reservatórios com monitoramento período é um fator altamente
pesqueiro (THORNTON; ictiofaunístico no período de 1999-2003 (a), e periodicidade
Variáveis

KIMMEL; PAYNE, c1990; OKADA; com que foi realizado naqueles que apresentaram este positivo. É importante Figura 7.7 - Abrangência espacial dos monitoramentos
acompanhamento em 2002 e 2003 (b), segundo salientar que, apesar de a ictiológicos realizados em 42 reservatórios brasileiros no
AGOSTINHO; GOMES, 2005). Por informações das concessionárias. período de 2002-2003 (a) e variáveis monitoradas (b),
outro lado, os tributários, atividade pesqueira ser um segundo informações das concessionárias.
que em geral têm papel acontecimento inevitável em
relevante como hábitat de desova de grande É importante destacar a atenção dada, em diferentes ambientes de
parte das espécies que vivem nos praticamente todos os reservatórios águas interiores, nem todos os reservatórios envolveram 11 reservatórios (58%),
reservatórios (SUZUKI; AGOSTINHO, 1997), sejam monitorados (97%), aos aspectos a têm bem desenvolvida, tanto por melhores enquanto dados diários, geralmente obtidos
migradoras ou não, têm sido monitorados reprodutivos dos peixes, informação oportunidades de lazer e renda na região, com anotações do próprio pescador,
em apenas 14 reservatórios (33%). importante na determinação da atividade quanto por restrições legais à atividade. Isso, estiveram restritos a 7 deles (37%; Figura
reprodutiva que, por conseguinte, é um dos em geral, desestimula o seu inventário e 7.8b). Um pequeno percentual registra
As informações colhidas nos determinantes da estrutura populacional e monitoramentos por parte das companhias levantamentos ocasionais.
monitoramentos são essencialmente sua abundância. Lamentavelmente, os dados hidrelétricas. Algumas delas atribuem a não-
relacionadas à ictiologia básica, como a obtidos em capturas sazonais e sem abranger realização de ações ligadas à pesca à Algumas variáveis da pesca são comumente
composição de espécies e a captura por os tributários são pouco consistentes para proibição de seu exercício na região. monitoradas, como peso do pescado e o
unidade de esforço (CPUE) (Figura 7.7b). avaliações reprodutivas. Informações diretas esforço de pesca empregado, sendo esses
Além disso, informações relativas à estrutura de intensidade de recrutamento, essenciais Dos reservatórios monitorados em 2002 e dados obtidos em cerca de 70% dos 19
em comprimento, reprodução e alimentação por embutir aspectos de demografia 2003 (19 reservatórios), a maior parte reservatórios que acompanham a atividade
são também freqüentes nos monitoramentos. (natalidade e mortalidade), são obtidas em consistiu de tomadas mensais de dados, que (Figura 7.9a).
396 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Ações Ambientais em Andamento no Setor Hidrelétrico Brasileiro: levantamento 397

O tipo do esforço mais concessionárias foram


freqüentemente anotado é 100 consultadas sobre a
n = 100 a 1 - Peso a
n = 19
“dias de pesca”, seguido pelo disponibilidade de dados. 2 - Esforço
3 - Esforço pescador
80 100
4 - Esforço equipamento
“número de pescadores”. A Partiu-se do pressuposto de

% Reservatórios
5 - Esforço embarcação

% Reservatórios
6 - Esforço dias de pesca
quantidade de equipamentos 60 que a existência de dados 80 7 - Estratégia de pesca
8 - Comercialização
ou o número de embarcações relativos às atividades de 60
9 - Infraestrutura
40
são medidas de esforço de manejo e de monitoramento
40
pesca menos utilizadas, 20
forneceria indicações sobre a
sendo registradas apenas em forma com que essas ações 20
sete reservatórios. 0
1999 2000 2001 2002 2003
vêm sendo conduzidas.
0
Anos Imprescindível para a 1 2 3 4 5 6 7 8 9
O monitoramento das Variáveis da Pesca
avaliação das práticas do
variações na estratégia de n = 19 b
manejo, a disponibilidade
pesca e na infra-estrutura dessas informações permite n = 19 1 - Censo total b
2 - Dedicação
envolvida com essa ocasional correções e ajustes de 100 3 - Estrutura familiar
4 - Instrução
atividade foi objeto de programas, auxiliando a

% Reservatórios
80 5 - Renda média
mensais 6 - Moradia
registro em 62% deles. O tomada de decisão futura e a 7 - Saneamento
8 - Saúde
diários 60
fluxo na comercialização é escolha dos instrumentos 9 - Educação
10 - Percepções pesca
objeto de acompanhamento mais adequados. O 40
11 - Percepção instituições

em apenas oito dos 19 % Reservatórios percentual de reservatórios


20
reservatórios onde o com uma dada categoria de
monitoramento da pesca é Figura 7.8 - Percentual de reservatórios com monitoramento da informação disponível foi 0
pesca no período de 1999-2003 (a), e periodicidade com que 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
realizado. Nesse ponto, é foi realizado naqueles que apresentaram este calculado para o universo de Variáveis de Pescadores
importante ressaltar que a acompanhamento em 2002 e 2003 (b), segundo reservatórios submetido a
informações das concessionárias. Figura 7.9 - Natureza e freqüência das informações obtidas no
comercialização é um dos cada estratégia de manejo. monitoramento da atividade de pesca (a) e da situação
principais problemas da socioeconômica dos pescadores em 19 reservatórios, no
período de 2002-2003 (b), conforme informação das
pesca em reservatórios, visto que os monitoramentos estão a percepção dos Dos 56 reservatórios que concessionárias.
pescadores têm baixa capacidade de pescadores quanto à pesca e às utilizaram a estocagem de
armazenamento do pescado, ficando à mercê instituições. As demais informações, peixes nativos como técnica
de flutuações de preços conforme aumenta relacionadas diretamente com a questão de manejo, nem todos têm informações procedência geográfica da espécie e, por
ou diminui sazonalmente a oferta. social e econômica da atividade, foram disponíveis a respeito da prática realizada conseguinte, de seu status nativo. Além
avaliadas em menos de 30% dos (Figura 7.10a). Cerca de 75% desses disso, a ausência de detalhes sobre a
Os aspectos socioeconômicos da pesca e dos reservatórios. reservatórios declaram ter informação a quantidade de peixes liberados, em conjunto
pescadores não têm recebido a atenção respeito das espécies utilizadas na com o grande percentual de reservatórios
esperada no monitoramento da atividade estocagem, da quantidade liberada, do que não têm informação sobre data e local de
pesqueira (Figura 7.9b). Um baixo percentual Disponibilidade da Informação tamanho dos alevinos e da proveniência das soltura, revela que as estocagens foram
de reservatórios (10%; 2 reservatórios) matrizes. Tal quadro é inusitado, visto que realizadas sem o cuidado e o planejamento
apresenta um censo completo sobre a C om o objetivo de avaliar a forma e o nível quase 25% desses reservatórios não dispõem que a atividade requer. Significa igualmente
atividade. Entre as informações mais de controle com que as ações de manejo vêm de informação acerca sequer das espécies que, se houve equívocos, estes não poderão
freqüentemente colhidas nesses sendo praticadas pelo setor elétrico, as liberadas, o que gera dúvidas sobre a ser considerados em futuras decisões.
398 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Ações Ambientais em Andamento no Setor Hidrelétrico Brasileiro: levantamento 399

Dos reservatórios que estruturas remanescentes do


contam com mecanismos de 1 - Espécies período anterior ao n = 18 a
a 1 - Plano de gestão
n = 56 2 - Quantidade
transposição de peixes (38 100 3 - Tamanho dos peixes represamento na área do 100 2 - Localização e proprietário
3 - Número e área
4 - Data

% Reservatórios
reservatórios), o percentual reservatório (Figura 7.11b). 4 - Espécies

% Reservatórios
5 - Local de soltura
80 6 - Origem das matrizes 80 5 - Rentabilidade
daqueles com informação Dessa forma, o percentual 6 - Comercialização
7 - Impactos
60 60
disponível é muito baixo. apresentado aqui se refere ao
40
Informações básicas e 40 universo de declarantes
fundamentais, como a taxa acerca da disponibilidade de 20
20
de peixes transpostos informação (15 0
0 1 2 3 4 5 6 7
(número/tempo), a 1 2 3 4 5 6 reservatórios). Informações Tanques-Rede
Estocagem
seletividade específica do sobre a remoção prévia da
mecanismo e a quantidade de vegetação estão disponíveis n = 15 b
peixes transpostos por 100
n = 38 1 - Total transposto/tempo b para aproximadamente a 100 1 - Remoção prévia da vegetação
2 - Remoção de construções

% Reservatórios
2 - Seletividade
espécie (Figura 7.10b), estão 3 - Quantidade metade dos reservatórios, 80 3 - Remoção de paliteiros
% Reservatórios

80 4 - Velocidade 4 - Adição de abrigos


disponíveis em um baixo 5 - Variações diárias sendo que para cinco deles 60
5 - Controle de macrófitas
6 - Variações sazonais
percentual de reservatórios 60 7 - Efetividade para conservação há também dados de 40
(< 10%). Além disso, menos 40 edificações remanescentes
20
de 15% têm informação sob as águas. Informação
20 0
acerca da efetividade da acerca da remoção de 1 2 3 4 5
0
atividade como ferramenta 1 2 3 4 5 6 7 paliteiros após o Manipulação de Abrigos

de manejo. Transposição represamento está disponível Figura 7.11 - Percentual de reservatórios com informação
apenas para um. Apesar de a disponível a respeito das práticas de cultivo em tanque-
Figura 7.10 - Percentual de reservatórios com informação rede (a) e manipulação de abrigos (b), realizadas com o
Com relação à prática de disponível a respeito da prática de estocagem (a) e infestação de macrófitas ser objetivo de conservação da ictiofauna e dos recursos
cultivo em tanques-rede, dos transposição (b), realizadas com o objetivo de conservação um problema permanente pesqueiros. O percentual foi calculado sobre o universo de
da ictiofauna e dos recursos pesqueiros, segundo reservatórios que declarou utilizar cada modalidade de
17 reservatórios que informações das concessionárias. em muitos reservatórios, e a manejo.
declararam empregar a execução de planos de
atividade, quase 90% não controle ser igualmente
têm planos de gestão ou controle da atividade complica o planejamento da instalação de comum em alguns, poucos têm informação essa atividade (Figura 7.12a). Em cinco
(Figura 7.11a). O conhecimento a respeito da novos empreendimentos de cultivo e torna disponível sobre tal controle (20%; 3 deles há controle sobre os programas
localização dos empreendimentos e de seus temerário o fomento dessa atividade. reservatórios). institucionais de estocagem e em apenas dois
proprietários, bem como do número e área de Informações sobre os impactos ambientais há o controle de cultivo de espécies não-
tanques, além das espécies utilizadas no promovidos pelos tanques-rede foram O controle das populações de espécies nativas nas áreas de preservação
cultivo, está disponível para mais de 75% dos declaradas existentes em 65% dos invasoras e de introdução de espécies não- permanente. Informações sobre a
reservatórios. O fluxo de comercialização do reservatórios, o que é considerado um bom nativas, um compromisso brasileiro junto manipulação de hábitats visando o controle
pescado é conhecido apenas para 41% deles. percentual, dada a forma desorganizada com à Convenção da Biodiversidade, é de exóticas e a vigilância em relação a
Por outro lado, informações sobre a que esses cultivos estão se disseminando. praticado em 11 dos 100 reservatórios estocagens não-institucionais são também
rentabilidade dos cultivos em tanques-rede considerados. Esse controle é feito existentes em dois deles.
foram constatadas em apenas 2 reservatórios Nenhum reservatório emprega a técnica de essencialmente através do estímulo à pesca
dos 17 em que a atividade é praticada. A adição de abrigos (~4%), porém 15 seletiva, envolvendo sete (73%) dos 11 Informações sobre hábitats críticos e de ações
ausência dessas informações é um fator que declararam dispor de informação sobre reservatórios em que há preocupação com apropriadas à proteção da biodiversidade
400 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Ações Ambientais em Andamento no Setor Hidrelétrico Brasileiro: levantamento 401

são, em tese, dados (Figura 7.13a). Por outro lado,


imprescindíveis à apenas em um havia
n = 11 1 - Cotas diárias a
100
conservação da ictiofauna e n = 11
1 - Estímulo à pesca
a informações sobre a relação 2 - Capacidadesuporte
100 3 - Disponibilidade de Abrigos
manutenção dos estoques 2 - Controle do cultivo nas APPs entre a manipulação de nível e

% Reservatórios
80 4 - Viabilidade de desova

% Reservatórios
3 - Manipulação de habitats 5 - Sobrevivência de juvenis
80
pesqueiros para qualquer 4 - Controle de estocagem institucional
5 - Controle de estocagem não-institucional
a capacidade biogênica do 60
6 - Proteção a jusante

reservatório, o que explica, 60 reservatório. Além disso,


40
portanto, o uso do universo 40 inexistem informações quanto
total de reservatórios para o 20
à influência da variação do 20
cálculo dos percentuais de nível sobre a viabilidade de 0
0 1 2 3 4 5 6
disponibilidade das 1 2 3 4 5 desovas e a sobrevivência de Manipulação do Nível
Controle de Invasoras
informações dessa natureza juvenis.
(100; Figura 7.12b). Apesar da n = 16 1 - Número de fiscais
2 - Periodicidade deincursões
b
enorme relevância desses n = 100 b A atuação direta ou indireta 100 3 - Emissão de licença
4 - Restrição de equipamentos

% Reservatórios
hábitats para a conservação 100 1 - Áreas de desova
2 - Áreas de desenvolvimento
das concessionárias no 80
5 - Defeso
6 - Restrição de locais
% Reservatórios

da fauna e dos recursos 80 3 - Unidade de conservação


4 - Recuperações
controle da pesca foi declarada 60
7 - Restrição de quantidade

aquáticos a médio e longo 60


5 - Amplificações
6 - Adequações
para 16 reservatórios (ver
40
prazo, poucos reservatórios tópico Instrumentos de
40
têm informação disponível Manejo, neste capítulo). Essa é 20
20
sobre esses hábitats. Assim, uma das ações mais freqüentes 0
0 1 2 3 4 5 6 7
apenas cerca de 10% têm 1 2 3 4 5 6 em reservatórios brasileiros,
Controle da Pesca
informações disponíveis Habitats Críticos porém executada pelos órgão
estaduais e/ou federais. Figura 7.13 - Percentual de reservatórios com informação
acerca dos locais de desova e Figura 7.12 - Percentual de reservatórios com informação disponível a respeito das práticas de manipulação do nível
desenvolvimento inicial das disponível a respeito das práticas de controle de espécies Entretanto, dados que do reservatório(a) e controle da pesca (b). O percentual foi
invasoras (a) e localização de habitats críticos para a calculado sobre o universo de reservatórios que declarou
principais espécies. ictiofauna (b). Para o controle de invasoras o percentual foi subsidiem ou avaliem esse
utilizar cada modalidade de manejo.
Percentual semelhante de calculado sobre o universo de reservatórios que utilizou o controle são escassos no setor
instrumento de manejo, enquanto que para os habitats
reservatórios tem críticos utilizou-se o universo total de reservatórios (100). hidrelétrico (Figura 7.13b). As
informações que permitem informações para subsidiar o Essas constatações demonstram a reduzida
subsidiar uma eventual estabelecimento do período de defeso são as atenção que a atividade pesqueira tem
criação de Unidades de Conservação. Já Informações sobre a manipulação de nível mais disseminadas, estando disponíveis para recebido, tanto dos órgãos de ordenamento
dados necessários à ações de melhorias estão disponíveis para quase todos os 63% desses reservatórios. Já informações como do setor elétrico. Porém é em nome
nesses hábitats, como recuperação, reservatórios. Entretanto, informações de sobre o esforço de fiscalização (número de dela que muitas ações de manejo, corretas ou
ampliação ou adequações, restringem-se a como operá-los com vistas à conservação da fiscais, periodicidade das incursões de equivocadas, são conduzidas.
menos de 5% deles. Essa carência de ictiofauna foram declaradas para apenas 11 fiscalização) ou mesmo de ações de controle
informação é extremamente preocupante, deles. Destes, 10 dispõem de dados mais da pesca, como emissão de licenças, Em síntese, este levantamento demonstra a
visto que as tendências atuais na ecologia da detalhados acerca do efeito da operação restrições de equipamentos, locais de pesca e clara predileção do setor hidrelétrico para as
conservação privilegiam essencialmente a sobre a ictiofauna, e oito, das conseqüências quantidade de pescado, etc., estiveram ações de manejo mais voltadas à estocagem
proteção de hábitats críticos, como solução a jusante. A existência de dados sobre a disponíveis em apenas dois reservatórios. de peixes e transposição, em relação às
mais recomendada para a conservação da manipulação de nível visando incrementos Nenhuma informação acerca da eficácia das medidas de manipulação de hábitat. Mostra
biodiversidade aquática (AGOSTINHO; THOMAZ; na disponibilidade de abrigos foi, entretanto, restrições à pesca (ex.: defeso, tamanho também que é baixa a disponibilidade de
GOMES, 2005). baixa, envolvendo apenas dois reservatórios mínimo) é conhecida. informações que subsidiem o planejamento
402 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL

8
de ações de manejo ou que permitam uma subsistência, tem recebido atenção menor.
avaliação técnica daquelas já implementadas. Essa situação é paradoxal, dado que as

Capítulo
atividades extrativistas podem afetar os
Contudo, é promissor o crescente estoques, e que a pesca comercial e a de
investimento em estudos e monitoramento subsistência têm destacado papel no
constatado nos últimos anos. Espera-se que sustento de segmentos sociais excluídos dos
essa tendência se mantenha, visto que o demais sistemas produtivos ou afetados
número de reservatórios onde estes são
realizados ainda é baixo. Espera-se,
pela formação dos reservatórios.
Perspectivas Para a Pesca e os
Recursos Pesqueiros em Reservatórios
igualmente, que a informação gerada por Entretanto, é promissora a tendência de
essas atividades seja empregada na intensificação das ações de monitoramento
identificação dos reais problemas nos últimos anos, tanto da qualidade da
socioambientais presentes nos reservatórios água quanto da ictiofauna. Contudo, uma

A
brasileiros, guiando subseqüentemente a maior abrangência nesse monitoramento é
elaboração de melhores estratégias para sua necessária, tanto nas variáveis consideradas, o longo deste documento, pode ser constatado que as
mitigação. Somente assim as companhias quanto no espaço e no tempo. Em relação
hidrelétricas poderão se desvencilhar de seus aos temas, estes devem ser intensificados ações atenuadoras de impactos e de manejo dos recursos
antigos métodos de abordagem desses para a atividade pesqueira e outros
problemas, algumas vezes contribuindo para componentes bióticos do ambiente, além do
pesqueiros em reservatórios foram, em geral, marcadas por
agravá-los. peixe. Maior abrangência espacial é também algum sucesso e muitos insucessos, tanto para os objetivos de
requerida, envolvendo, por exemplo,
tributários e segmentos a montante, onde conservação dos recursos ictiofaunísticos quanto para a
Considerações Finais várias espécies que sustentam a pesca se
sustentabilidade da pesca. Entre os principais fatores que podem
reproduzem ou têm seu desenvolvimento
O s levantamentos realizados junto às inicial. Os trechos intermediários do explicar o freqüente insucesso, destacam-se a falta de clareza de
concessionárias hidrelétricas revelam que os reservatório, algumas vezes os mais
esforços de manejo dos recursos pesqueiros produtivos por não terem limitações objetivos, a insuficiência de conhecimento dos sistemas
no setor são direcionados principalmente à relevantes de luminosidade, como os manejados, o uso de protocolos de manejo equivocados, a falta
estocagem e à transposição de peixes, sendo trechos superiores, nem de nutrientes, como
que, na percepção dos técnicos, os resultados os mais internos, merecem maior atenção de monitoramento e a complexidade inerente aos processos
desta última são considerados mais bem- do monitoramento. Em relação ao tempo, é
sucedidos que os da primeira. É oportuno necessário considerar que as condições
bióticos em sistemas naturais. Neste capítulo são apresentadas
ressaltar, entretanto, que o sucesso dos limnológicas alteram em períodos de 24h e algumas recomendações sobre futuras ações do setor
mecanismos de transposição é geralmente entre as estações do ano.
inferido com base na quantidade de peixes hidrelétrico, incluindo as diretrizes estabelecidas durante os
que ultrapassam esses dispositivos, como Finalmente, melhorias substanciais nas
seminários do Comitê Coordenador das Atividades de Meio
discutido no Capítulo 6.1. técnicas de monitoramento e nas ações de
manejo poderiam ser obtidas com a análise Ambiente do Setor Elétrico (COMASE), realizados em 1993-94
A exploração dos recursos, tanto pela pesca e discussão dos dados acumulados no setor
profissional quanto pela esportiva ou de durante as últimas décadas. (SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA..., 1994).
404 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 405

Introdução da questão dos recursos aquáticos em tais decisões; (v) a elevada demanda de âmbito do COMASE (SEMINÁRIO SOBRE FAUNA
reservatórios, diagnosticando a situação recursos para implementação das ações AQUÁTICA..., 1994) que se referem aos temas

A questão ambiental é um tema cada vez


vigente, sistematizando o conhecimento e
propondo soluções.
ambientais e o monitoramento dos
resultados, e o orçamento pífio que muitas
aqui abordados, são feitas algumas
proposições acerca de ações ambientais em
mais recorrente nas discussões sobre os vezes é reservado à área de meio ambiente; reservatórios e sugeridos protocolos de
represamentos, recebendo crescente atenção Decorridos mais de 10 anos desde a realização (vi) o caráter imperativo do monitoramento investigações, monitoramento e manejo,
no Setor Elétrico. No conjunto dessas do “Seminário Sobre Fauna Aquática e o Setor para o processo de aprendizagem com as tendo como base a leitura das experiências
discussões, sobressaem aquelas relacionadas Elétrico Brasileiro”, verificaram-se avanços ações de manejo, e a baixa relevância dada a anteriores e discussões com técnicos do Setor
aos recursos aquáticos e, em especial, aos relevantes na atuação das concessionárias de essa complementação; (vii) a exigência de Elétrico, ao longo de mais de 20 anos.
peixes. Embora esse grupo de animais tenha, ações espacial e temporalmente amplas e
hidroeletricidade na área ambiental, como a
num sentido amplo, importância ecológica articuladas de manejo, e o caráter restrito com
sensível redução nas estocagens com espécies
similar à de outros grupos bióticos, recebe que geralmente é executado; (viii) a
Pressupostos Para Ações
exóticas, nos protocolos de estocagem, no
merecido destaque nas discussões pela
monitoramento e no esforço de entendimento necessidade de estratégias de manejo Bem Sucedidas
peculiaridade de envolver aspectos sociais, específicas para cada bacia ou
do sistema a ser manejado (ver Capítulo 7).
econômicos e culturais, além do puramente
ecológico.
Entretanto, muitas recomendações ainda são empreendimento, e a generalização dos O primeiro aspecto a ser considerado é que
ignoradas e erros continuam a ser cometidos. protocolos para um país de dimensão em reservatórios hidrelétricos, onde impactos
continental. negativos sobre a diversidade biológica são
A busca de alternativas para atenuar os
As contradições que cercam esses temas não resultados inevitáveis de sua formação, as
impactos dos represamentos sobre a
mudaram muito nos últimos 50 anos, e Além disso, o uso das águas represadas para o ações, por uma questão ética, não devem ser
ictiofauna tem idade similar à dos
decorrem essencialmente das diferentes cultivo de peixes, que na época das reuniões calcadas apenas no incremento da produção
reservatórios hidrelétricos, tendo sido
percepções que diferentes profissionais e do COMASE ocorria de forma incipiente, é pesqueira. Sua administração deve ter
iniciada com a construção da escada de peixes
usuários têm do ambiente e dos recursos. uma realidade nova nos usos múltiplos dos compromissos com a recomposição e
do reservatório de Itaipava, no rio Pardo
Essas contradições são de naturezas diversas e reservatórios e que tem sido objeto de manutenção da biodiversidade e do
(bacia do alto Paraná), concluída em 1911.
algumas vezes irreconciliáveis, destacando-se embates entre os órgãos de fomento dos funcionamento do ecossistema (AADLAND,
(i) a demanda crescente de energia, de um governos federal e estaduais, de um lado, e os 1993; ver Box 8.1). Vale destacar que, nas
Nos anos de 1993 e 1994, por iniciativa da
lado, e os impactos ambientais inevitáveis de controle ambiental e ambientalistas, do reuniões do COMASE, algumas
Eletrobrás, através do Comitê Coordenador
para o seu atendimento, de outro; (ii) a outro. recomendações foram elaboradas, na
das Atividades de Meio Ambiente do Setor
escassez de informações sobre os ecossistemas orientação especifica de direcionar esforços
Elétrico (COMASE), foram realizadas séries
alvo das ações e o tempo demandado para Neste capítulo, além de reapresentar as para a conservação ambiental e da
de Reuniões Temáticas Preparatórias e um
obtê-las, em contraposição à urgência recomendações feitas durante os debates no biodiversidade (ver Box 8.2).
Seminário Nacional que congregou, nas
diferentes etapas, técnicos do setor elétrico, requerida nas intervenções; (iii) os anseios
pesquisadores, comunidade acadêmica e ilimitados de rendimento, inerentes à Bo
Boxx 8.1
representantes das comunidades de exploração de qualquer recurso natural, em Recomendações do COMASE
pescadores, visando fornecer ao Setor oposição às limitações bióticas impostas pelo SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉTRI-
elementos para subsidiar diretrizes nacionais ambiente; (iv) a natureza eminentemente CO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARATÓRIAS,
técnica que deve caracterizar os processos 1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE, 1994. 4 cadernos.
para a conservação da fauna aquática em
reservatórios. decisórios e a implementação das ações de “Diretrizes para as ações de mitigação de impactos e manejo dos recursos:
conservação, conflitantes com o interesse I. as diretrizes, definidas de maneira concisa e conforme as peculiaridades de cada bacia, devem ter
Os documentos gerados durante esses eventos eleitoreiro de alguns tomadores de decisão e compromisso permanente com a manutenção da biodiversidade, mesmo quando as peculiaridades da
representaram avanços consideráveis no trato a influência menor dos técnicos do setor em bacia permitirem que ações voltadas aos interesses da produção pesqueira sejam implementadas.”
406 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 407

Outro aspecto digno de destaque inicial é a resultar em fracasso, caso limitações biológicas
Bo
Boxx 8.2
Recomendações do COMASE gama de conhecimento que deve subsidiar as sejam ignoradas.
ações, especialmente as de manejo. Assim, o
SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉTRI-
CO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARATÓRIAS, manejo de recursos pesqueiros deve ser Para a eficiência das ações, são necessários o
1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE, 1994. 4 cadernos. baseado em um amplo conhecimento de todos estabelecimento de metas claras e objetivos
Responsabilidade na utilização dos recursos hídricos os componentes do sistema, que nesse caso precisos e quantificáveis. De outra forma, a
compreende os peixes, outros organismos, o avaliação é impossível e os esforços, dispersos.
I. reforçar as iniciativas para o estabelecimento de órgãos colegiados deliberativos por bacia hidrográfica
ambiente e as pessoas envolvidas na pesca. A Por exemplo, metas como “fornecer o máximo
para efetuar seu gerenciamento;
forte interação entre esses componentes e suas benefício à sociedade”, “racionalizar o uso e
II. estimular o estabelecimento de normas para a utilização dos recursos hídricos definindo, na medida
oscilações no tempo confere complexidade ao conservação”, “melhorar a pesca” ou
do possível, critérios, competências e responsabilidades dos diversos usuários.
sistema e aumenta os riscos de frustração nas “incrementar o rendimento pesqueiro” são
Conservação ambiental ações isoladas. As decisões acerca das medidas generalizações inerentes à própria definição do
I. incluir a fauna aquática como uma das variáveis a ser considerada na definição das áreas indicadas a serem tomadas serão tão mais apropriadas manejo que, embora úteis na comunicação
para conservação ambiental; quanto mais profundas e abrangentes forem as pública e na divulgação política, têm pouca
II. na definição dessas áreas, considerar a presença de: informações dos componentes do sistema que utilidade operacional (BARBER; TAYLOR, 1990).
. sítios de alimentação; as embasem (ver Box 8.3). Assim, o manejo de
. área de desova; recursos pesqueiros, além de seus Metas são proposições de longo prazo e mais
. criadouro natural das formas jovens; amplas, onde são antevistos estados de
componentes biológicos, físicos e químicos,
Responsabilidades do Setor Elétrico tem também uma dimensão socioeconômica melhoria do estoque, população ou da
que deve ser considerada. atividade pesqueira, para cuja consecução os
I. que seja estabelecido como responsabilidade do Setor Elétrico:
manejadores planejam e desenvolvem
- realizar atividades que visem a mitigação dos impactos ocasionados à fauna aquática e aos pescadores As medidas de manejo baseadas apenas na estratégias e que, em contrapartida, regem suas
pela implantação e operação dos empreendimentos;
informação biológica podem, por exemplo, ser atividades de organização. Seu enunciado deve
- gerar os dados adequados à tomada de decisão, à implantação e à operacionalização das atividades, inócuas se, por razões políticas ou econômicas, ser, no entanto, amplo e apresentar forte apelo
quando existentes;
a pesca não for controlada. Por outro lado, socioeconômico e/ou conservacionista, para
- realizar o monitoramento do ambiente e das atividades implantadas, de modo a avaliar a efetividade programas de manejo dirigidos conforme que sirva também às finalidades políticas e de
das ações e a necessidade de retificá-las;
interesses econômicos ou políticos podem comunicação social.
- divulgar os resultados do monitoramento e das demais ações realizadas;
II. que as atividades garantam a implantação da política setorial proposta: “As empresas do Setor
Elétrico, ao planejar, construir e operar seus empreendimentos devem priorizar ações que visem a Bo
Boxx 8.3
manutenção e recomposição da diversidade da fauna aquática e da produção pesqueira sustentável Recomendações do COMASE
nas bacias hidrográficas, bem como procurar equacionar a situação dos pescadores afetados pela SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉTRI-
implantação e operação dos seus empreendimentos”. CO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARATÓRIAS,
1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE, 1994. 4 cadernos.
Estímulos para a conservação da fauna aquática (continua)

I. sugerir ao DNAEE: Suficiência do conhecimento sobre a fauna aquática para subsidiar a política nacional
- o estudo de viabilidade da adoção de medidas de compensação aos municípios que reservem trechos I. propor aos órgãos competentes a realização de estudos para aprofundar o conhecimento sobre a fauna
das principais bacias hidrográficas que os atravessem; aquática nas regiões que apresentam maior carência de informações;
- a avaliação da experiência obtida no Estado do Paraná com a Lei de “Royalties Ecológicos” como II. participar, juntamente com outros usuários dos recursos hídricos, da definição e realização dos
subsídio ao estabelecimento de instrumentos para compensação aos municípios que preservam estudos complementares sobre a fauna aquática, através de um processo coordenado. Sugere-se que
trechos de bacias hidrográficas. estes estudos sejam precedidos por um programa que estabeleça metas, prioridades e prazos;
408 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 409

Os objetivos, por outro lado, são proposições uso é o da produção de energia. As normas
Bo
Boxx 8.3
(conclusão)
específicas e mensuráveis que compõem as operacionais das barragens são, geralmente,
III. propor a implantação de um sistema de informações sobre fauna aquática centralizando os dados tarefas intermediárias na consecução das conflitantes com os objetivos do manejo dos
que se encontram dispersos; metas: eles dão sustentação às metas (BARBER; recursos biológicos e devem ser
TAYLOR,1990) e fornecem uma definição consideradas no seu planejamento. Nesse
Estudos e levantamentos básicos
mensurável do sucesso do manejo. Espera-se caso, o responsável pelo manejo da pesca
I. que sejam desenvolvidos estudos coordenados que considerem as experiências das diversas
que nos objetivos sejam contempladas deverá conhecer em profundidade esses
concessionárias. Para o desenvolvimento destes estudos deve-se procurar envolver, além do Setor
Elétrico, instituições de pesquisa, o IBAMA e outros usuários responsáveis pelos recursos hídricos. mensurações como (i) captura por unidade procedimentos operacionais, identificar o
Prioritariamente, propõe-se o desenvolvimento dos seguintes estudos: de esforço; (ii) número de peixes capturados; grau de flexibilidade na operação e esforçar-
- elaboração de manuais de identificação de larvas e de peixes, com vistas a subsidiar, respectivamente, (iii) grau de satisfação dos pescadores; (iv) se para participar nas decisões de operação,
os levantamentos larvais e ictiofaunísticos; rendimento da pesca profissional; (v) compatibilizando seus objetivos de manejo
- determinação, nas bacias hidrográficas, do trecho livre mínimo necessário para o desenvolvimento rendimento máximo sustentável; (vi) índice às restrições impostas por esse uso
de uma população viável de peixes; de abundância do estoque desovante; (vii) competitivo. O COMASE indicou algumas
índice de recrutamento; (viii) índice de recomendaçõe Box 8.4).
- reflexos das ações de desmatamento da vegetação da área do reservatório sobre a fauna aquática;
heterogeneidade genética, etc.
- interferências do desvio do rio para construção da barragem nos processos migratórios da fauna A articulação deve, obviamente, abranger as
aquática;
A articulação das ações de manejo da pesca demais ações ambientais desenvolvidas na
- reflexos da redução da vazão de jusante sobre a fauna aquática, em função do início do enchimento com outras ações desenvolvidas, como bacia (reflorestamento, fiscalização, controle
dos reservatórios ou de desvios de rio nos casos onde a casa de força é distante do barramento.
decorrência de outros usos da bacia, é de poluição, programas de microbacias, etc.),
Estudos e levantamentos prévios sobre fauna aquática realizados pelo Setor Elétrico também fundamental ao sucesso dessas sendo ideal que os objetivos do manejo da
I. deve ser priorizada a utilização de equipes com experiência e credibilidade reconhecidas no tratamento ações. Essa articulação ganha relevância nos pesca estejam contidos em um plano de
das questões associadas à fauna aquática e investimentos devem ser realizados no sentido de formar reservatórios hidrelétricos, onde o principal desenvolvimento regional (ver Box 8.5).
novas equipes;
II. deve ser garantida a inclusão no orçamento dos empreendimentos do montante de recursos
necessários ao pleno desenvolvimento dos estudos de fauna aquática das etapas iniciais do ciclo de Bo
Boxx 8.4
planejamento (Inventário e Viabilidade). Nessas etapas são realizados os levantamentos básicos Recomendações do COMASE
para as etapas seguintes, os quais devem contemplar um número adequado de campanhas de campo
SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉTRI-
evitando assim, a necessidade da sua complementação e o conseqüente dispêndio de recursos
CO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARATÓRIAS,
adicionais;
1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE, 1994. 4 cadernos.
III. os prazos estabelecidos para o desenvolvimento dos estudos e levantamentos de fauna aquática não
devem ser inferiores aos requeridos pelas áreas de engenharia, nas etapas do ciclo de planejamento, Incorporação da variável fauna aquática nos projetos e regras operativas das usinas
contemplando, no mínimo, um ciclo hidrológico completo; I. avaliar a interferência das regras operativas das usinas sobre a fauna aquática e a possibilidade de
IV. devem ser desenvolvidos métodos, técnicas e modelos apropriados para os estudos sobre fauna alterá-las, visando a atenuação dos impactos e a melhoria das condições ambientais, quanto a:
aquática para cada uma das etapas do ciclo de planejamento dos empreendimentos hidrelétricos; - mortalidade de peixes por ocasião da parada das turbinas para manutenção;
V. os estudos e levantamentos devem ser associados a parâmetros limnológicos e climatológicos básicos - condições dos locais de desova e criadouros naturais;
tomados durante as amostragens da fauna aquática;
- qualidade de água do reservatório e do rio a jusante;
VI. os estudos e levantamentos devem ser compatíveis com o grau de profundidade, detalhamento e
abrangência requeridos na etapa em que se encontre o planejamento; II. realizar estudos para avaliar a interferência das variáveis de projeto (altura da tomada d’água,
arranjo da barragem, tipo de vertedouro, tipo de equipamentos etc.) sobre a fauna aquática;
VII. os estudos e levantamentos devem ser precedidos por um plano de trabalho que explicite
minimamente os objetivos; a metodologia; cronograma; produtos esperados e equipe técnica III. analisar a viabilidade de introduzir alterações nos projetos e nas regras operativas das usinas
responsável. Essas informações devem ser incluídas no Relatório Final, com os resultados e conclusões; hidrelétricas, sob a ótica energética.
410 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 411

Bo
Boxx 8.5 Bo
Boxx 8.5
Recomendações do COMASE (conclusão)

SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉTRI-


A fauna aquática e o gerenciamento de bacias hidrográficas
CO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARATÓRIAS, I. apoiar o IBAMA na implementação de seu Programa de Administração Pesqueira para Águas
1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE, 1994. 4 cadernos. Continentais (Ordenamento Pesqueiro) que apresenta as seguintes linhas de ação:
(continua)
- adequação da regulamentação vigente em cada bacia hidrográfica, de modo a se obter medidas
Abrangência geográfica das ações para mitigação dos impactos e manejo dos recursos compatíveis com as necessidades técnicas de ordenamento e coerentes com as diferentes realidades
I. A bacia hidrográfica deve ser considerada como unidade de estudo, planejamento e ação, gerenciada regionais;
por uma comissão formada pelos usuários e representantes da comunidade científica e órgãos do - apoio a linhas de pesquisa prioritárias para subsidiar o processo de ordenamento;
governo, nos diversos níveis, responsáveis pela questão ambiental, que definiria seu uso vocacional
e promoveria a partilha de responsabilidade na mitigação de impactos e nas ações de monitoramento - desenvolvimento de instrumentos de administração que possibilitem estabelecer o zoneamento
e manejo; da atividade pesqueira;

II. Sugere-se maior integração dos agentes que atuam na mesma bacia, no sentido de iniciar este - participação nos vários fóruns, visando integrar a atividade pesqueira às outras atividades
processo; realizadas na bacia hidrográfica, notadamente a florestal, a agropecuária e a mineração.

III. A delimitação espacial das responsabilidades na mitigação de impactos deve ser definida a partir de I. sugerir ao Ministério do Meio Ambiente/IBAMA o estabelecimento de um programa de conservação
levantamentos da abrangência geográfica destes e, as ações, coordenadas pela comissão. da ictiofauna, de âmbito nacional e com enfoque por bacia hidrográfica;
II. estabelecer uma política ampla de conservação da fauna aquática para o Setor Elétrico;
Gerenciamento de bacias hidrográficas
III. apoiar programas de levantamentos de dados e pesquisa científica sobre fauna aquática e pesca nas
I. apoiar a implantação das conclusões do Seminário Internacional sobre Gestão de Recursos Hídricos, diversas bacias hidrográficas;
realizado em 1983, que estão resumidas a seguir:
IV. estabelecer programas de cooperação entre as empresas de energia elétrica que atuam em uma
- o aumento da eficácia e a eficiência das entidades e normas jurídicas existentes, antes de se mesma bacia hidrográfica e entre o Setor Elétrico e o IBAMA, visando o monitoramento e a
criarem novos órgãos ou encargos; conservação da fauna aquática e da pesca;
- a desregulamentação e descentralização dos procedimentos relacionados com a gestão das águas V. ampliar a interação entre o Setor Elétrico, órgãos gestores das bacias hidrográficas (DNAEE,
públicas; órgãos estaduais e comitês), órgãos estaduais e federais do meio ambiente e instituições de pesquisa,
- a administração das águas por bacia ou regiões hidrográficas; visando a efetiva incorporação dos aspectos relacionados à conservação da fauna aquática e da pesca
no gerenciamento de bacias hidrográficas.
- a criação de um colegiado nacional, a nível ministerial, para coordenar a política de gestão das
águas;
O fato de os reservatórios constituírem incorporar os novos conhecimentos
- a presença de órgão central e normativo do sistema nacional de planejamento e controle de
recursos hídricos; pontos de convergência das ações do gerados pela ciência, as mudanças na
homem em seu entorno, principalmente no estratégia de pesca, as alterações na
- a cobrança pela utilização da água, quer na derivação, quer no lançamento de afluentes.
segmento da bacia a montante, faz com que estrutura das populações ou na
II. apoiar a realização da administração dos recursos hídricos regionalmente, tomando-se a bacia os conhecimentos necessários para um bom comunidade de peixes, resultantes tanto
hidrográfica como unidade de planejamento e a existência de um único colegiado para o gerenciamento
manejo extrapolem os limites do ambiente dos distúrbios naturais quanto de novas
de cada bacia que, forçosamente, terá como “poder tutelar” (ou poder de recorrência) o órgão gestor
estadual ou federal, conforme o domínio sobre as águas; represado. As ações de manejo são, muitas diretrizes políticas e sociais ligadas ao
vezes, mais eficientes se dirigidas a áreas modelo de desenvolvimento. Deve,
III. apoiar a participação da sociedade na administração dos recursos hídricos, através dos diversos
críticas situadas em pontos externos ao sobretudo, ser flexível a ponto de poder
níveis de usuários;
reservatório. sofrer correções de rumo, recomendadas
IV. ampliar a interação entre o Setor Elétrico e os órgãos gestores das bacias hidrográficas;
pela avaliação constante da efetividade
V. participar das discussões com o Congresso Nacional para o estabelecimento dos instrumentos O manejo dos recursos naturais deve ser das ações implementadas
normativos para o gerenciamento de bacias hidrográficas. dotado de flexibilidade suficiente para (monitoramento).
412 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 413

A avaliação é etapa indissociável do manejo. O COMASE propôs algumas recomendações Finalmente, cabe destacar que a Levantamentos
Sua eficácia é aumentada se for realizada para este tópico (ver Box 8.6) oportunidade da medida de manejo, a
como parte de um programa de
A avaliação do programa de manejo é,
capacidade técnico-científica da equipe que a Os levantamentos são atividades mais
monitoramento abrangente e duradouro dos executa, e a sensibilidade da administração relacionadas ao diagnóstico e aos inventários
estoques e do ambiente, uma vez que poderão portanto, decisiva para as ações futuras. Falha do reservatório na alocação dos recursos dos componentes do sistema de pesca.
ser obtidas informações não apenas do grau na consecução dos objetivos, embora necessários para a implementação das ações Consistem na coleta de informações quali-
de sucesso do empreendimento, mas também encarada, geralmente, como motivo de são fatores determinantes do sucesso das quantitativas, através de procedimentos
dos fatores intervenientes no processo. O desalento, é, provavelmente, o resultado mais ações ambientais, tanto para a conservação padronizados de observação e/ou
processo de avaliação deve contemplar etapas informativo para as diretrizes futuras do da ictiofauna quanto na produção pesqueira. amostragem, durante um período definido e
discretas (KRUEGER; DECKER, 1999) como (i) manejo (KRUEGER; DECKER, 1999). Em geral,
sem qualquer pré-concepção do que será
medição da resposta conforme previsto nos aprende-se mais com os erros do que com o
objetivos; (ii) comparações com os valores sucesso. Deve-se, entretanto, aprofundar na
Natureza das Ações descoberto. O entendimento preliminar dos
componentes do sistema, as relações entre
estabelecidos nos objetivos; (iii) avaliação dos análise das causas das falhas, desenvolvendo- Ambientais
eles e as mudanças induzidas pela eventual
resultados; (iv) revisão, continuidade ou se estudos específicos, caso necessário (ver
intervenção no ambiente são as principais
conclusão do programa de manejo. Figura 8.1).
A s ações ambientais podem ser metas dessa abordagem. É uma fase que deve
categorizadas em levantamentos, estudos, anteceder a elaboração do plano de manejo e
Bo
Boxx 8.6 manejo e monitoramento. O significado de deve ir muito além de uma simples listagem
Recomendações do COMASE cada um desses termos tem
SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉTRI- sido confuso nos documentos
CO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARATÓRIAS, emanados do setor elétrico,
1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE, 1994. 4 cadernos.
sendo eles, algumas vezes, Levantamento
Quais os componentes do sistema ?
Efetividade das ações implantadas utilizados indistintamente. Quais as interrelações entre eles ?
Quais as mudanças induzidas pelo empreendimento ?
I. tendo em vista a efetividade das ações já implantadas ou projetadas, propõe-se que cada empresa do Setor Dado o caráter seqüencial
Elétrico adote os seguintes procedimentos: dessas ações e as relações de
- desenvolver estudos voltados para identificação dos impactos que serão causados pelos pré-requisitos existentes Definição dos Objetivos
empreendimentos; entre algumas delas (Figura O que fazer ?

- avaliar a necessidade e a viabilidade de implantar ações, visando reduzir os impactos identificados; 8.1), a confusão existente
Estudos
realizar um planejamento para implementação das ações; deixa de ser mera questão de Planejamento do Manejo Específicos
Como fazer?
- realizar programas de monitoramento do ambiente e de ações implantadas, de modo a avaliar a semântica e assume Que respostas são esperadas?
efetividade das ações e a necessidade de retificá-las; importância fundamental no Como avaliá-las?

- divulgar os resultados do monitoramento e da avaliação das ações realizadas, visando subsidiar as planejamento e nas
decisões para outros empreendimentos; estratégias empregadas para Medidas de Manejo
Interferências no sistema?
II. propõe-se também que as empresas do Setor Elétrico em conjunto, através do COMASE, adotem os a atenuação de impactos e
seguintes procedimentos: conservação dos recursos
- realizar, periodicamente, reuniões para análise das ações já implantadas e das planejadas pelas pesqueiros. Monitoramento
Avaliação do manejo e
empresas. Elas deverão contar com a participação de pescadores, órgãos ambientais e especialistas fatores intervenientes?
externos ao Setor Elétrico; Neste tópico buscamos
- realizar estudos que permitam avaliar a eficiência de cada tipo de ação implantada pelo Setor Elétrico; conceituar cada uma dessas Figura 8.1 - Organização das ações ambientais de
ações e estabelecer as levantamentos, estudos, manejo e monitoramento (Fonte:
- instituir mecanismos de captação de recursos financeiros extra-setoriais e estabelecer parcerias AGOSTINHO; GOMES, 1997).
para o desenvolvimento de estudos e ações; relações de pré-requisitos.
414 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 415

de espécies, como é, geralmente, entendido COMASE, algumas recomendações foram metas o conhecimento de aspectos como de aspectos econômicos, sociais e políticos
nos estudos e relatórios de impactos apontadas (ver Box 8.7 e Box 8.3). distribuição, abundância, ciclo de vida (KING, 1995), sendo conveniente um correto
ambientais. (incluindo alimentação, reprodução e entendimento das percepções dos usuários
Em relação ao ambiente as buscas de crescimento), requerimentos de espaço vital sobre as instituições envolvidas, os recursos
Numa situação ideal, o levantamento deve informações devem ter como alvo suas (home range), movimentos migratórios, explorados, sua conservação e problemas no
contemplar informações do ambiente, dos características hidrológicas, morfométricas, relações interespecíficas (teia alimentar), sistema de pesca.
recursos, das pessoas que deles se utilizam limnológicas e inserção na bacia limiares de tolerância a fatores ambientais
e/ou os afetam, e dos processos envolvidos hidrográfica. Já os levantamentos e, especialmente, localização e delimitação Para um estoque que já vem sendo
na pesca e seu estado. Nas reuniões do relacionados aos recursos, devem ter como de áreas críticas ao ciclo de vida. explorado, o levantamento deveria
contemplar o estado atual da exploração e
Das pessoas que exploram os recursos do recurso. Caso haja dados históricos de
Bo
Boxx 8.7 aquáticos é necessário um bom acompanhamento de desembarques
Recomendações do COMASE
entendimento do grau de dependência e de (monitoramento da pesca) e informações
SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉTRI- aspectos socioeconômicos e culturais sobre os parâmetros de crescimento ou
CO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARATÓRIAS,
1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE, 1994. 4 cadernos.
ligados a essa exploração, além de suas populacionais, os níveis de sustentabilidade
percepções em relação à atividade e ao da explotação podem ser inferidos a partir
Estudos prévios à implantação de empreendimentos
ambiente. Com base nos primeiros, podem- de vários métodos disponíveis na literatura
I. devem ser desenvolvidos métodos, técnicas e modelos apropriados à investigação de fatores se avaliar a importância da exploração e os (KING, 1995; RICKER, 1975; HILBORN; WALTERS,
relevantes para a avaliação de impactos e sua mitigação (ex.: indicadores de áreas de desova, criadouros
riscos e potenciais das medidas. Já o 1992; PAULY, 1998).
naturais, espécies indicadoras)
entendimento das percepções, permitirá
II. os estudos prévios devem contemplar, em relação aos peixes, pelo menos, (1) informações quantitativas Os procedimentos para avaliação dos
compreender as diferentes visões sobre os
(captura por unidade de esforço) além das qualitativas, (2) dados dos aparelhos de pesca e esforço, (3)
mesmos objetos/ações e facilitar a recursos e da pesca, para situações em que a
localização e, se possível, delimitação das áreas de desova e criadouros naturais, (4) gradiente de
distribuição das espécies e (5) estudos das redes tróficas. comunicação na busca da sustentabilidade atividade seja incipiente ou ausente, devem
na exploração. basear-se em dados de pesca exploratória e
Estudos sobre fauna aquática na etapa de inventário experimental, preferencialmente delineadas
I. os estudos e levantamentos desenvolvidos nesta etapa devem objetivar a apresentação de resultados Outros usos da bacia que possam interferir na e executadas de forma complementar por
qualitativos que propiciem a avaliação do impacto das alternativas de partição de queda e contribuam atividade ou na conservação dos recursos cientista da pesca e pescador profissional.
para a escolha da alternativa que minimize os impactos sobre a diversidade da fauna aquática e sobre
devem ser também adequadamente Este é o caso da exploração pesqueira em
a pesca;
dimensionados. O reconhecimento dessas reservatórios onde a pesca proibida passa a
II. estes estudos e levantamentos devem considerar, principalmente: intervenções é fundamental na gestão de ser liberada.
- as políticas de utilização múltipla da bacia hidrográfica emanadas pelos órgão competentes; conflitos e no correto dimensionamento de
responsabilidades. Esse levantamento deve contemplar pelo
- a composição específica da ictiofauna e sua distribuição na bacia, obtida a partir de amostragens
em diferentes biótopos, utilizando-se distintos equipamentos de pesca; menos cinco fases, sendo a viabilidade da
Já os levantamentos do estado e processos pesca avaliada após cada uma delas. Na fase
- a necessidade de classificação dos cursos d´água que compõem a bacia em estudo por sua importância
como áreas de desova de espécies migratórias. Essa classificação deve ser baseada na distribuição de envolvidos na exploração, visam identificar I, o levantamento deve contemplar o
ovos e larvas; o estado do recurso, determinar os níveis de diagnóstico do potencial dos recursos e das
- o levantamento das áreas relevantes como criadouros naturais de espécies migradoras, através exploração e sua sustentabilidade, bem formas de exploração; na fase II, os custos
dos dados de distribuição de juvenis obtidos em amostragens realizadas em canais e lagoas marginais; como as estratégias de pesca empregadas e com a atividade devem ser estimados,
estruturas disponíveis. Incluem-se neste considerando-se os investimentos
- o levantamento preliminar da atividade pesqueira, baseado em entrevistas, contemplando a
listagem das espécies capturadas em ordem de grandeza e os aspectos socioeconômicos da pesca. tópico a estimativa do estoque e avaliações necessários (aparelhos de pesca,
416 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 417

embarcações, motores), o pressupõem a formulação prévia de alterações incipientes resultantes de


consumo (combustível, hipóteses e a obtenção de dados interações complexas ou de natureza
Fase I
energia elétrica, gelo, Potencial do recurso e formas de exploração estatisticamente testáveis. estocástica no ecossistema (ver Box 8.8).
água, iscas) e a Quais as espécies disponíveis?
depreciação dos Qual é a captura por unidade de esforço? Para que produzam os resultados esperados, O monitoramento é uma atividade que
Qual a variação sazonal na CPUE?
equipamentos; na fase III, Que estratégia de pesca é mais adequada? é importante que esses estudos sejam objeto necessariamente deve seguir-se às ações de
Qual o impacto dos aparelhos de pesca sobre a fauna acompanhante ?
as facilidades de mercado + -
de um delineamento adequado, sendo sua manejo, pela sua importância ecológica
Pesca inviável
são avaliadas, sob necessidade indicada nas fases de (toda ação de manejo, inclusive sua
Fase II
condições de Custos
elaboração do plano de manejo ou de sua ausência, tem impacto sobre o
disponibilidade variável; execução (Figura 8.1). Entretanto, no manejo funcionamento de sistemas regulados),
Quais os custos com a operação de pesca?
na fase IV, em posse das Quais os custos com o processamento ou a conservação do pescado? experimental ou adaptativo proposto por econômica (avaliação de custo-benefício) e
Quais os custos com o transporte?
informações anteriores, + - Walters e Hilborn (1976), os estudos mesmo ética, quando de iniciativa do poder
Pesca inviável
avaliam-se a lucratividade constituem a essência do método. público (critério na aplicação de recursos
Fase III
da pesca e sua Mercado públicos). Durante a elaboração de um
atratividade para os programa de monitoramento é essencial
pescadores. Finalmente,
Qual a aceitação do pescado?
Qual o valor do pescado no mercado? Monitoramento que se tenham claros o seu propósito (qual
Quais as facilidades de escoamento do pescado?
definida a viabilidade da + - Pesca inviável o objetivo do monitoramento?),
pesca, avalia-se, com base Fase IV O monitoramento consiste em procedimentos (como pode ser alcançado o
em informações Lucratividade e atratividade levantamentos conduzidos para avaliar o objetivo?) e método de análise (como serão
adicionais de natureza Qual a rentabilidade da pesca? grau de variabilidade de fatores bióticos ou analisadas as informações?).
social, econômica e
Quais os riscos com a atividade?
+
abióticos em relação a um modelo ou
- Pesca inviável
cultural, a probabilidade padrão conhecido ou esperado. Serve a No caso de reservatórios, onde as condições
Fase V
de que esta seja Sustentabilidade objetivos tão diversos como o de avaliar a ambientais são extremamente variáveis,
sustentável (Fase V). eficácia de uma medida de manejo, como decorrência de sua operação e dos
Qual o potencial de sustentabilidade do rendimento?
Nesse ponto é importante Qual é o nível adequado de esforço de pesca para assegurar a sustentabilidade? identificar situações incorretas de uso da usos da bacia, o monitoramento deve ser
já ter sido considerado
Quais são as estratégias de manejo adequadas? bacia ou dos recursos naturais, detectar periódico e permanente.
que o rendimento
sustentável implicará Pesca Viável
Bo
Boxx 8.8
menos da metade do
rendimento de uma
Figura 8.2 - Protocolo mínimo de avaliação da viabilidade da pesca Recomendações do COMASE
em reservatórios (Modificado de KING, 1995).
exploração inicial, dado SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉ-
que este se situa em torno TRICO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARA-
TÓRIAS, 1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE,
da metade da capacidade de suporte do 1994. 4 cadernos.
ambiente sem pescarias (Figura 8.2).
Estudos
Monitoramento dos recursos aquáticos
Embora a inexistência de todas essas Os estudos compreendem investigações e I. o monitoramento deve ser realizado em toda a área de influência do empreendimento, de modo
informações não seja fator impeditivo para experimentações delineadas com o objetivo contínuo, com objetivos bem definidos e precedido de levantamentos detalhados;
a implementação de outras ações, ressalta-se de gerar informações específicas que ajudem II. o monitoramento dos recursos deve ser entendido como uma atividade destinada a avaliar o grau de
que a qualidade delas é determinante dos na solução de problemas concretos. Ao variabilidade apresentado pelo recurso, em relação a um modelo ou padrão conhecido, através de
acertos nas ações de manejo. contrário dos levantamentos, os estudos levantamentos detalhados.
418 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 419

Em relação à pesca, o monitoramento deve tempo permitirá inferências sobre o estado de Por outro lado, o monitoramento dos Nesses monitoramentos, além do
também ser continuado, visto que os exploração. A CPUE é o melhor índice para desembarques, por produzir grandes desembarque da pesca, monitoram-se
estoques apresentam grandes flutuações, avaliar alterações na abundância dos estoques amostras das espécies de interesse, merece também os tamanhos e os estádios de
naturais ou não, e as estratégias e esforços (padroniza o esforço) e a composição em especial atenção. Um bom sistema de reprodução do pescado capturado, as
aplicados são também variáveis. Nesse caso, tamanho do pescado pode indicar sobrepesca. monitoramento depende ainda de um contato estratégias de pesca e a estrutura física
o monitoramento seria uma ferramenta regular e pessoal com o pescador (KING, 1995), envolvida na atividade, além dos
indispensável para acompanhar a condição O monitoramento realizado através de quando os problemas da pesca e da investimentos realizados no sistema.
dos estoques e de sua exploração, bem como pescarias experimentais é, em geral, caro, comunidade com ela envolvida podem ser
avaliar as ações de manejo e subsidiar produzindo amostras pequenas e, muitas sentidos, suas reivindicações registradas e Em relação aos aspectos sociais e econômicos,
mudanças de estratégia. O COMASE vezes, insuficientes para inferir sobre a suas percepções melhor aferidas. acompanham-se as flutuações nos preços do
apresentou recomendações para o pesca. Esse monitoramento, entretanto, deve pescado, nos custos envolvidos com a pesca,
monitoramento da ictiofauna e pesca ser realizado de maneira espaçada para Dados de rendimento, se não acompanhados na lucratividade, na estrutura familiar, na
(ver Box 8.9) detectar alterações na bionomia das espécies pelos do esforço, não têm como serem qualidade de vida, nas atividades associativas
exploradas, tais como, dieta, ciclo comparados, perdendo o significado para os e nas percepções em relação aos recursos
As informações mínimas necessárias a um reprodutivo, crescimento, etc. Além disso, o efeitos do monitoramento. Pescarias explorados e às instituições envolvidas.
programa de monitoramento da pesca são as monitoramento baseado na pesca multiespecíficas, como é o caso daquelas de
de captura por unidade de esforço (CPUE), experimental é a única forma de avaliar a reservatórios neotropicais, onde o Os resultados desse monitoramento vêm
que fornecerão indicações sobre a abundância de espécies forrageiras que não desembarque é geralmente composto por sendo utilizados na tomada de decisões de
abundância, e a freqüência de comprimento aparecem nos desembarques, mas que mais de 20 espécies capturadas com manejo e aferição de resultados, no
dos peixes desembarcados, cuja mudança no muitas vezes sustentam o rendimento. estratégias e equipamentos diversos (ver estabelecimento de políticas públicas, na
Capitulo 5.2), tornam a quantificação do organização das entidades associativas, na
esforço uma tarefa mais complicada, porém ordenação da pesca, na comprovação de
Bo
Boxx 8.9 possível de ser realizada (pescador/dia, horas exercício da atividade para fins de
Recomendações do COMASE de pesca, quantidade de aparelhos de pesca, requerimento de direitos e resolução de
SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉTRI- etc.). conflitos, nas decisões judiciais, na
CO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARATÓRIAS, identificação de atividades com impactos
1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE, 1994. 4 cadernos.
Adicionalmente, alterações de natureza social positivos e negativos sobre o rendimento,
Monitoramento da ictiofauna e da pesca e econômica, considerando-se aqui as entre outros.
I. realizar o monitoramento em toda a área de influência do empreendimento (montante, corpo do modificações na qualidade de vida e na
reservatório, jusante e tributários), de modo contínuo e com objetivos bem definidos; lucratividade da pesca, devem também ser
objeto de monitoramento, dado que variam Manejo
II. ajustar a periodicidade do monitoramento de acordo com seu objetivo e com as fases do ciclo
estacional. Antes do enchimento do reservatório, o programa deve ser iniciado no rio principal e espacial e temporalmente. Esses dados são
tributários. Nas fases de enchimento e pós-enchimento, o programa deve ser contínuo; imprescindíveis à eficácia do manejo, que é Finalmente, o manejo consiste na
regulada pelas restrições biológicas, implementação de medidas sobre um sistema
III. realizar um programa de acompanhamento das condições limnológicas e da qualidade da água,
compreendendo a coleta de dados físicos, químicos e biológicos em diferentes locais (montante e econômicas, sociais, políticas e culturais. visando otimizá-lo conforme um dado
jusante) e profundidades, associado ao monitoramento da ictiofauna; objetivo. Sua interpretação, no que concerne
Exemplos bem-sucedidos de monitoramento aos recursos pesqueiros, tem sido motivo de
IV. realizar o monitoramento da pesca, por meio da pesca experimental e do controle do desembarque de
pescado nos postos de comercialização. A metodologia para o monitoramento deve ser padronizada do sistema de pesca vêm sendo conduzidos nos discussões na literatura especializada. As
de forma a permitir comparações entre diversos empreendimentos. Essa atividade deve ser realizada reservatórios de Itaipu e Manso, sendo que no reuniões do COMASE adotaram uma
em parceria com o IBAMA e pescadores. primeiro ele vem sendo realizado há 20 anos. definição para essa atividade (ver Box 8.10).
420 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 421

Entendido, inicialmente, no contexto do aos temas sociais e econômicos (BARBER; Pescarias multiespecíficas ou métodos menos Embora mais racional que a primeira, cuja
controle da pesca, e originado como TAYLOR, 1990). Além disso, a fiscalização tem seletivos de pesca podem capturar espécies formulação e controle baseiam-se apenas no
contraposição à crença difundida no final do sido incapaz de controlar o montante, a suscetíveis aos equipamentos, de rendimento aferido nos desembarques
século XIX de que os recursos pesqueiros distribuição e técnica de esforço da pesca, importância econômica secundária ou nula e pesqueiros, a abordagem do rendimento
eram inexauríveis (HUXLEY, 1883, apud KING, embora esse controle seja requisito do com menor estoque inicial, fato que pode ótimo sustentável deve ser ampliada nas
1995), o termo teve seu significado rendimento sustentável (LARKIN, 1977). levar os estoques destas últimas à extinção. situações em que o interesse
ampliado nas últimas décadas. Carlander Assim, a busca de aparelhos mais seletivos, conservacionista predomina sobre o da
(1969) definiu manejo como tudo que é feito Para Ludwig (1993), o manejo de um recurso que excluam as espécies secundárias das produção.
para manter ou melhorar os recursos e sua que preconiza o máximo rendimento capturas, é um objetivo de muitas políticas
utilização, e Lackey (1978), como análises de sustentável, na prática, coloca em segundo de manejo (KING, 1995). Numa perspectiva ecológica, todas as formas
decisões alternativas e implementação plano a conservação do estoque. Assim, de pesca, incluindo as altamente seletivas
dessas decisões, em consonância com as estimativas realizadas em períodos O rendimento ótimo sustentável (ROS) foi o (monoespecífica), promovem alterações no
aspirações da sociedade em relação à altamente favoráveis ao estoque podem sucedâneo natural do RMS no manejo da ecossistema (KING, 1995). A redução na
utilização de recursos aquáticos. Krueger e gerar expectativas de excedentes que elevam pesca em países do hemisfério Norte, a partir abundância de uma espécie particular pode
Decker (1999), por outro lado, definem seus valores, e as tentativas de aumentar o dos anos 1970. Esse rendimento tem como elevar o estoque das espécies presas ou
manejo pesqueiro como a integração de rendimento podem implicar um risco vantagem a inclusão explicita dos aspectos reduzir a dos predadores, em graus que
informações ecológicas, econômicas, adicional, muitas vezes irreversível. Um sociais, políticos, econômicos, biológicos e variam com o nível de interação trófica entre
políticas e socioculturais em decisões que recurso natural deveria, portanto, ter sua ecológicos. elas.
resultem na implementação de ações para exploração reduzida a níveis suficientemente
alcançar metas estabelecidas para o recurso abaixo do rendimento máximo, para Isso, como é óbvio, tornou a atividade de Nesses casos, o manejo da pesca deve ser
pesqueiro. contemplar as variações que ocorrem na manejo consideravelmente mais complexa e realizado no contexto do desenvolvimento
abundância. Outro aspecto relevante na de definição mais difícil, porém mais ecologicamente sustentável, que inclui o uso
O manejo dos recursos pesqueiros realizado abordagem do rendimento máximo realista, à medida que reconhece a sustentável da(s) espécie(s) e do ecossistema,
conforme a abordagem do rendimento sustentável, ou rendimento econômico diversidade dos ecossistemas aquáticos e as com a manutenção dos processos ecológicos
máximo sustentável (RMS) tem sido criticado máximo, é o fato de as ações de controle da demandas do homem em relação a eles essenciais e preservação da diversidade
por contemplar apenas os aspectos físicos da pesca incidirem sobre uma ou algumas (NIELSEN, 1993). Para essa abordagem, biológica, desde o nível de ecossistema até o
atividade pesqueira, com reflexos restritos espécies de interesse econômico. considerada mais como objetivo que modelo genético (KING, 1995).
de manejo, é necessária uma organização dos
segmentos sociais envolvidos direta ou Assim, nos grandes corpos d’água a prática
Bo
Boxx 8.10 indiretamente com os recursos, além de uma do manejo pode ser direcionada no sentido
forte base de conhecimentos específicos do de preservar a diversidade biológica e/ou
Recomendações do COMASE
sistema. sustentar a explotação pesqueira, comercial
SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉTRI- ou esportiva. É uma atividade que lida
CO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARATÓRIAS,
1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE, 1994. 4 cadernos. Esta última abordagem de manejo visa essencialmente com os processos de escassez
também, em geral, a conservação dos recursos e abundância de indivíduos nos diferentes
Manejo dos recursos aquáticos
para a exploração sustentada. Regulam-se, níveis de organização do sistema ecológico.
I. o manejo deve ser precedido pelo planejamento e embasado no conhecimento dos componentes essencialmente, as saídas (mortalidade por
ecológicos e socioeconômicos e culturais do sistema; pesca) conforme os anseios socioeconômicos e O manejo exercido com finalidades
II. deve-se entender como manejo a implementação de ações sobre o sistema visando otimizá-lo conforme culturais das pessoas envolvidas, respeitando- conservacionistas tem suas atividades
um dado objetivo. se as restrições bióticas e abióticas vigentes. dirigidas para manter as populações acima
422 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 423

de limiares demográficos e genéticos que são pelo nível de conhecimento de que se Tabela 8.1 - Algumas situações constatadas no sistema de pesca que requerem ações de
críticos à reprodução e aos processos disponha do sistema a ser manejado, pela manejo (modificada de SUMMERFELT, 1993)
evolutivos necessários à sua existência a clareza de objetivos e pela formação e O Recurso O Ambiente A Pesca
longo prazo. Nesse contexto, a destruição, experiência do manejador. Assim, para sua · Perda de classe etária · Qualidade e disponibilidade · Baixo esforço de pesca
contaminação ou fragmentação do hábitat, a efetividade, essas ações devem ser dos locais de desova
· Conflitos de usos dos recursos
· Crescimento inadequado
explotação excessiva, o endocruzamento e a precedidas pelas ações de levantamento e · Qualidade e disponibilidade · Declínio nas taxas de capturas
hibridação são aspectos de maior relevância. estudos propostas e complementadas pelo · Exploração excessiva
dos locais de desenvolvimento
· Baixa qualidade nas capturas
inicial
monitoramento. A modalidade de manejo a · Redução no valor socioeconômico
· Espécies indesejáveis ·
A despeito de o manejo conservacionista ser aplicada depende, portanto, de um amplo Poluição
· Insatisfação com a pesca
enfocar população ou populações de uma ou e detalhado conhecimento prévio do sistema. · Estrutura em tamanho · Anoxia do hipolimnio · Escoamento inadequado
mais espécies em vias de extinção, a visão de ·
· Mortandades de peixes · Macrófitas aquáticas
Distorções na composição do
uma comunidade integrada é essencial, O manejo da pesca em reservatórios exige preço do pescado

particularmente em seus aspectos dos gerentes a solução de problemas · Recrutamento insuficiente · Sedimentação e siltação · Dificuldades de acesso ao recurso

relacionados às interações entre as espécies e diversos, incluindo, além da pesca, · Problemas na conservação e/ou
· Predação excessiva · Ausência de abrigos processamento do pescado
à perda de outros elementos faunísticos. Os limnologia, economia, sociologia,
modelos de viabilidade de populações não hidrologia e engenharia, visto que o sistema
devem considerar meramente o tamanho de pesca envolve os peixes, o ambiente e as Em bacias com reservatórios artificiais, promover uma melhor distribuição dos
populacional e a variabilidade genética, mas pessoas que usam os recursos. Assim, a destacam-se as técnicas de transposição de recursos entre os usuários (NOBLE; JONES,
também as interações específicas e as necessidade e a oportunidade das ações de peixes pelas barragens (melhoria genética 1999). É efetivado, em geral, através de
respostas da comunidade ante as manejo podem estar manifestas em uma dos estoques), estocagem ou peixamentos e licenças ou restrições à atividade (apetrechos,
perturbações ambientais. grande variedade de situações relacionadas redução de espécies indesejáveis. época, local e quantidade e tamanho
ao recurso, ao ambiente ou aos pescadores, capturado).
O manejo para a explotação, por outro lado, sendo algumas delas listadas na Tabela 8.1. A manipulação de hábitats, por sua vez, consiste
visa permitir um alto rendimento em intervenções em hábitats críticos ao ciclo Essas modalidades de manejo dos recursos
sustentável da atividade exploratória. Pode As técnicas de manejo para a solução desses de vida de determinadas espécies ou na pesqueiros são detalhadas nos tópicos
ser efetivado por medidas que incrementem problemas, que são complexas e devem ser capacidade biogênica do ambiente, com o seguintes, onde se discutem suas adequações
a taxa de recrutamento (melhoria das estabelecidas conforme o conhecimento objetivo de proteger ou controlar suas ao manejo em reservatórios.
condições de reprodução e de sobrevivência disponível sobre o sistema particular (cada populações. Para o primeiro objetivo, essas
das formas jovens), elevação na capacidade reservatório), podem ser agrupadas em três técnicas envolvem a proteção, implantação,
biogênica do ambiente, redução na categorias principais: (i) manejo de população, ampliação ou restauração desses hábitats
Manejo de Populações
mortalidade natural e controle da pesca. (ii) manipulação do hábitats e (iii) controle da críticos. No caso de se pretender controlar a

No caso dos recursos pesqueiros de


pesca. abundância de populações indesejáveis, O manejo de populações de peixes, ao
geralmente invasoras, seus hábitats críticos contrário das demais modalidades, atua
reservatórios, entretanto, ambas as O manejo de populações consiste num grupo de
são alterados deliberadamente para diretamente nos recursos pesqueiros
abordagens devem ser compatibilizadas, técnicas de natureza demográfica que visam a
prejudicar a reprodução ou o visando seu incremento, redução ou
como mencionado anteriormente. alteração diretamente da abundância (redução
desenvolvimento. melhoria genética. Nesse grupo estão as
ou aumento populacional) e/ou genética, que
duas principais técnicas de manejo
Como também já mencionado, as ações de busca incrementos na heterogeneidade O controle da pesca é uma modalidade de praticadas no Brasil, ou seja, a transposição
manejo ambiental e dos recursos pesqueiros genética das populações, ambas com manejo realizada com o objetivo de proteger de peixes (ver Capítulo 6.1) e a estocagem
em reservatórios têm seu sucesso regulado implicações na estrutura das comunidades. as populações de peixes da sobrepesca e (Capítulo 6.2). As iniciativas brasileiras de
424 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 425

redução no estoque de espécies indesejáveis 1 − Os mecanismos de transposição são


Bo
Boxx 8.11
foram esporádicas e escassamente justificáveis apenas como maneira de
Recomendações do COMASE
documentadas. permitir o fluxo gênico de populações
de espécies com amplo home range SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉTRI-
CO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARATÓRIAS,
Transposição de Peixes (migradoras); 1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE, 1994. 4 cadernos.

Obras de transposição, estações de piscicultura, tanques-rede e canais de desova.


Embora a maioria dos mecanismos de 2 − Transposições são recomendadas
transposição tenha sido concebida com o apenas sob condições controladas e I. embora obras de transposição, estações de piscicultura, tanques-rede e canais de desova sejam
quando o trecho a montante ações potencialmente válidas, estas devem ser implantadas quando o planejamento assim exigir;
intento de restabelecer o livre trânsito das
espécies migradoras entre os trechos a comportar áreas de desova, de II. estudos quanto à eficiência das obras de transposição já implantadas devem ser realizados, visando
montante dos reservatórios e a jusante da desenvolvimento inicial e de subsidiar decisões em futuros empreendimentos;
barragem, interrompido com sua construção, alimentação, visto que as III. a implantação das obras de transposição deve considerar as condições vigentes nos segmentos a
os resultados até agora publicados não transposições são essencialmente montante, quanto à efetividade da reprodução e desenvolvimento inicial de formas jovens. Quando
unidirecionais; as condições não as recomendarem, a viabilidade de canal de desova e outros procedimentos deve
demonstram ser isso possível (ver Capítulo
ser considerada;
6.1). Esses mecanismos são altamente
seletivos no sentido jusante-montante e 3 − Transposições com escada são de IV. a difusão da técnica de tanques-rede, também realizada como parte de um planejamento global, deve
difícil controle e podem se constituir contemplar o monitoramento da qualidade da água, controle parasitológico e restrições a espécies
muito mais no sentido oposto, sendo os
alóctones e exóticas;
deslocamentos essencialmente em importante fonte de impacto
negativo quando as possibilidades de V. Outras modalidades de manejo, especialmente as ligadas à manipulação de hábitats de reprodução
unidirecionais. O COMASE apresentou
sucesso reprodutivo no trecho a e desenvolvimento inicial dos peixes (recomposição da vegetação, recuperação e ampliação dos
recomendações especificas a esse tema (ver ambientes de desova e criadouros naturais) ou abrigo, devem ser consideradas.
Box 8.11). montante são baixas, e as do trecho de
rio ou tributários a jusante são Mecanismos para transposição de barragem
Assim, nos reservatórios com grandes favoráveis. Nesses casos, os
I. as empresas que operam mecanismos de transposição de barragem devem promover estudos para
trechos livres a montante e dotados de elevadores devem ser considerados
avaliar sua eficiência;
amplas áreas naturais de várzeas, a como fonte de impacto negativo;
II. o Setor Elétrico deve realizar estudos mais abrangentes que permitam avaliar a eficiência do
transposição pode ser um instrumento útil
conjunto de mecanismos de transposição de barragem existentes no país;
para a manutenção da heterogeneidade 4 − Mecanismos alternativos de
transposição de peixes devem ter seus III. na definição de mecanismos de transposição de barragem, considerar as condições vigentes nos
genética, desde que o número de exemplares
segmentos a montante e a jusante, principalmente quanto a:
transpostos não comprometa os estoques do estudos incrementados, especialmente
trecho abaixo. Essas limitações, ligadas à aqueles que permitam o controle e - necessidade de preservar espécies autóctones do rio;
estratégia dos peixes migradores, tornam as interrupção das transposições, como o - presença de locais para reprodução e desenvolvimento de formas jovens (tributários, lagoas
facilidades de transposição, da maneira como sistema de transposição do tipo marginais etc.);
são atualmente concebidas, um instrumento captura e transporte por caminhões
- características biológicas das espécies (ciclo reprodutivo, tipo de migração, hábito na locomoção
inadequado para o manejo com fins (trapping and hauling). Esses sistemas etc.);
preservacionistas. devem ser priorizados,
- aspectos de engenharia (localização do mecanismo, vazão do rio, características dos degraus,
particularmente naquelas unidades altura a ser transposta etc.);
Na maioria dos casos, os mecanismos de cuja casa de força esteja distante da
- relação custo/benefício do mecanismo recomendado;
transposição não se constituem em barragem, com grandes extensões de
instrumentos válidos para a preservação dos trechos de rio com vazão reduzida e IV. o mecanismo somente deverá ser implantado se os estudos específicos assim o indicarem e após a
com água de baixa qualidade. aprovação do órgão ambiental competente.
estoques, pelas seguintes razões:
426 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 427

Estocagem suporte do sistema. Todas essas razões responsáveis também deverão destinar No planejamento das ações de
pressupõem a disponibilidade de investimentos para a construção de estações repovoamento, alguns aspectos-chave devem
É a prática de manejo mais antiga e mais informações locais sobre as espécies de de piscicultura que se dediquem ser considerados, com destaque para o
utilizada nos reservatórios brasileiros. É, interesse e dos dados da estrutura e exclusivamente à produção de alevinos com tamanho do indivíduo, o local e período de
também, uma das mais controversas devido funcionamento das assembléias de peixes elevada diversidade genética, devendo o soltura (SIROL; BRITTO, 2005). Em relação ao
a inúmeros casos de insucessos e, quando presentes na área. Entretanto, apenas as plantel ser avaliado por especialistas. É tamanho, indivíduos de maior porte podem
bem-sucedida, às possibilidades concretas de quantro primeiras fazem sentido no contexto importante que o plantel seja constituído por assegurar maior sucesso na empreitada.
levar a rupturas nas comunidades de peixes da sustentabilidade. Eventualmente, outros matrizes obtidas aleatoriamente de Entretanto, a soltura de indivíduos adultos,
locais e promover reduções marcantes na motivos poderiam justificar considerações diferentes populações da região ou sub-bacia sem que suas fases de desenvolvimento
diversidade genética (SCHRAMM, Jr.; PIPER, 1995; sobre a adoção da estocagem, mas é em questão, com substituições periódicas de inicial tenham passado pelo filtro da seleção
MIRANDA , 2001; ver Capítulo 6.2). importante que eles sejam sempre reprodutores. O COMASE referiu-se a esse imposta pelo ambiente receptor, pode
claramente explicitados. Sem uma definição ponto (ver Box 8.12). implicar a transmissão de características
A estocagem consiste na adição de peixes na clara do problema, não é possível um fenotípicas inadequadas à sobrevivência dos
área objeto do manejo, e, nos reservatórios enunciado válido de metas e objetivos, e, em Ressalta-se ainda a necessidade de um juvenis à população receptora, colocando em
brasileiros, tem sido realizada com espécies decorrência, definir resultados esperados e a controle absoluto da qualidade sanitária dos risco sua existência. Além do mais, é
nativas da região (repovoamento) ou com avaliação da eficácia da ação. alevinos (SIROL; BRITTO, 2005), da água e esperado que indivíduos mantidos em
espécies oriundas de outras bacias recipientes utilizados para o transporte. cativeiro durante um tempo prolongado
(introdução). Outro ponto extremamente relevante nas Deve-se considerar que raramente uma apresentem problemas no ambiente natural,
estocagens com espécies nativas é a origem espécie ocorre sozinha e que, dado o caráter tanto com a predação quanto com a obtenção
A primeira recomendação para o dos alevinos. Deve-se considerar que universal desse fato, certificar-se de que a de alimento. Por outro lado, indivíduos
repovoamento de reservatórios seria, sem estações produtoras de alevinos destinados fauna e flora acompanhantes não comportem estocados precocemente apresentam taxas
dúvida, a de se verificar a necessidade ao cultivo são fundamentalmente diferentes patógenos ou parasitas. elevadas de mortalidade. Espera-se que fases
inconteste de estocagem, para que depois de sistemas destinados à produção de
esta seja planejada e implementada (COWX, alevinos para o repovoamento. O cultivo
para consumo requer um plantel de Bo
Boxx 8.12
1994). Isso depende, entretanto, de um
Recomendações do COMASE
conhecimento suficientemente profundo do reprodutores selecionados para algumas
características zootécnicas (crescimento SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉTRI-
status dos estoques naturais, suas limitações, CO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARATÓRIAS,
formas de exploração e autoecologia das rápido; boa taxa de conversão, etc.), o que 1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE, 1994. 4 cadernos.
espécies. Sem tais informações, essa técnica implica uma seleção artificial desses peixes,
Estações de hidrobiologia e piscicultura
de manejo deve ser evitada. com prejuízo na sua variabilidade genética.
Já na produção de alevinos para o I. quando houver a necessidade, comprovada pelos estudos, de implantar estações de piscultura devem
ser considerados os seguintes aspectos:
Dentre as razões específicas que poderiam repovoamento, a preocupação deve ser
- priorizar a utilização de espécies autóctones da própria bacia hidrográfica;
justificar investimentos em estocagem, prioritáriamente com a heterogeneidade
destacam-se: (i) a depleção dos estoques genética, que contemple características - desenvolver estudos que possibilitem o conhecimento da biologia das espécies utilizadas;
pesqueiros, decorrente de sobrepesca; (ii) fenotípicas distintas para o enfrentamento - desenvolver técnicas para reprodução em cativeiro das espécies autóctones;
falhas no recrutamento por fatores das adversidades do ambiente natural. - privilegiar a aqüicultura experimental ao invés de atividades de produção de pescado;
extraordinários; (iii) a degradação genética Assim, alevinos de produtores convencionais - produzir alevinos em apoio aos programas de manejo idealizados para a área de influência do
de populações naturais; (iv) a perda de não são apropriados para a estocagem em empreendimento, especialmente, os voltados para a conservação da biodiversidade ou manutenção
ambientes naturais. Se o manejo utilizando a da pesca;
hábitats de reprodução e desenvolvimento
inicial; e (v) o aumento na capacidade de técnica de estocagem for necessário, os - fornecer apoio aos programas de ictiofauna, limnologia, acompanhamento da pesca etc.
428 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 429

ontogenéticas transitórias em relação à dieta capacidade de suporte do ambiente e o A despeito do número de introduções já extremamente discutível. Além de essa
sejam mais apropriadas. Isso, entretanto, tamanho do estoque de peixes que se quer realizadas em reservatórios brasileiros, as conclusão ser obtida, geralmente, de maneira
varia com a espécie e exige estudos mais melhorar são valores de difícil mensuração, informações disponíveis acerca dos impactos empírica, existem problemas de conceituação.
aprofundados. além de ambas variarem amplamente no causados são reduzidas. Situações nas quais o O nicho é uma característica que depende de
espaço e no tempo. Uma boa aproximação da estudo do impacto da introdução é iniciado interações entre o organismo e o ambiente, e
O local de soltura não pode ser condicionado a necessidade de estocagem é a constatação de após sua efetivação ou aquelas em que outros inclui uma vasta gama de interações bióticas e
facilidades de acesso e muito menos de sobrepesca, visto que, se ela existe, a impactos estão agindo concomitantemente abióticas. Diferentemente do que muitos
exposição massiva ao público como forma de probabilidade do corpo d’água suportar uma (represamento, poluição, destruição de entendem, em ecologia o conceito de nicho
propaganda, mas, logicamente, deve maior biomassa de peixes será também criadouros naturais e áreas de desova, etc.) não se refere às características do ambiente,
considerar as exigências da espécie, maior. obscurecem o efeito real dessas introduções mas, sim, à maneira como as espécies se
conforme o tamanho ou a idade do peixe. No (AGOSTINHO; JÚLIO JÚNIOR, 1996) (ver Box 8.14). relacionam com o ambiente.
caso de alevinos, para minimizar a Após a realização da estocagem é
mortalidade, a liberação deverá ocorrer em fundamental que projetos de É sabido, no entanto, que os mecanismos O nicho potencial, que depende das
hábitats utilizados como criadouros naturais acompanhamento sejam iniciados. O pelos quais uma espécie introduzida se características fisiológicas e comportamentais
da espécie. Nas fases subseqüentes, a escolha resultado pode ser avaliado tanto em termos tornará bem-sucedida implicam geralmente do indivíduo, tem sua dimensão real limitada
do local deve considerar eventuais de pesca experimental quanto a partir do impactos sobre espécies locais e são exercidos pelas pressões da comunidade biótica e
estratificações por tamanho entre os hábitats monitoramento dos desembarques da pesca pela competição, predação, inibição da ambiente (KREBS, c1994). Assim, a dimensão
ocupados pela espécie. Quanto ao período de artesanal e comercial. A ausência de reprodução, modificação do ambiente, do nicho a ser ocupado pela espécie
soltura, o ideal é que a soltura ocorra em monitoramento foi um dos pilares da transferência de parasitas ou doenças, introduzida num dado sistema é de difícil
fases de menores restrições ambientais, falência da estocagem no Brasil, pois nunca hibridação, entre outros. A aparente ausência obtenção. Introduções de espécies tidas como
quando o suprimento alimentar é mais se soube, com certa margem de segurança, o de impactos negativos de introduções parece pelágicas e essencialmente planctívoras no
abundante e as condições físico-químicas da que estava acontecendo com os peixes e nada ser, portanto, fruto da falta de estudos. ambiente de origem e realizadas na bacia do
água menos estressantes. A constatação dos se aprendeu com a atividade. Qualquer rio Paraná (Ex.: Triportheus angulatus, da
melhores períodos dependerá da espécie e da investimento de grande monta, como o dos A alegação de disponibilidade de nicho em Amazônia) falharam, com a espécie mudando
região, sendo que um levantamento prévio é repovoamentos, sem a respectiva avaliação reservatórios foi, algumas vezes, utilizada o hábito alimentar após a estocagem
de grande valia. dos resultados, se configura como para justificar a introdução, porém (insetívora).
incompetência administrativa no setor
A quantidade de indivíduos a ser liberada é privado e como irresponsabilidade na
amplamente dependente da capacidade de administração pública. O COMASE redigiu Bo
Boxx 8.13
Recomendações do COMASE
suporte do reservatório, fato completamente algumas recomendações especificas à
negligenciado até hoje (COWX, 1994). Quando estocagem (ver Box 8.13). SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉTRI-
CO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARATÓRIAS,
a população estiver próxima da capacidade
1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE, 1994. 4 cadernos.
máxima, a liberação de mais indivíduos As estocagens realizadas com espécies não-
Repovoamento ictiofaunístico
dificilmente surtirá efeitos, devido ao nativas (introduções e reintroduções), por
aumento na taxa de mortalidade, sendo outro lado, são medidas que além de ilegais, I. avaliar em profundidade a eficiência dos repovoamentos ictiofaunísticos realizados pelo Setor Elétrico;
necessário o incremento dessa capacidade. O têm maior complexidade que os II. embasar a decisão de realizar repovoamentos no conhecimento das condições ambientais, da
aumento na capacidade de suporte, com a repovoamentos e que, em razão das capacidade de suporte do meio; da estrutura trófica, da biologia e do comportamento das espécies a
fertilização ou alimentos fornecidos, além de implicações que podem ter sobre a fauna serem utilizadas;
impraticável em grandes reservatórios, pode local, não admitem empirismos ou III. monitorar todas as ações implementadas, de forma a avaliar as medidas adotadas e fornecer subsídios
ter severas restrições de outros usos. A experimentações não controladas. e programas futuros.
430 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 431

Entre as espécies mais bem-sucedidas nas de hábitats (recomposição, ampliação ou pode ser decorrente também de erupções caso, é curiosa a constatação de que a espécie
introduções realizadas a nível mundial, mesmo implantação de hábitats críticos, populacionais de espécies nativas. Em ganhou as páginas dos jornais apenas a partir
destacam-se as tilápias. Elas têm sido como os de desova e criadouros naturais, reservatórios, tais ocorrências são mais do momento em que, utilizando os bancos
responsáveis por parte relevante nas manipulação de nível do reservatório e da comuns pelas alterações ambientais de macrófitas submersas nas proximidades
capturas mundiais de pescado, especialmente área de depleção, bem como a restauração da inerentes a esses empreendimentos. dos balneários para reprodução, passou a
em cultivos confinados. Seu sucesso na vegetação ciliar). A melhoria nos hábitats atacar os banhistas que se aproximavam do
ocupação de reservatórios tem sido relatado críticos certamente contribuirá para o Os critérios para considerar uma espécie ou abrigo. Outro exemplo axiomático é o das
em zonas tropicais de todos os continentes recrutamento, ajustando-os à capacidade população indesejável são, em geral, raias Potamotrygon spp., que se dispersaram
(MIRANDA, 2001). Entretanto, os reservatórios biogênica do reservatório. Esses dois altamente subjetivos e dependem para o trecho acima dos Saltos de Sete
em que elas foram bem-sucedidas têm, aspectos são críticos aos problemas que a estritamente das metas em questão. Wydoski Quedas, após a formação do reservatório de
tipicamente, elevado tempo de residência da estocagem pretende solucionar, e, se e Wiley (1999) enumeram alguns desses Itaipu, e que dificultam a pesca de praia e a
água e pequenas dimensões, geralmente complementados com um eficiente critérios, entre eles (i) espécies prejudiciais recreação nesses ambientes (AGOSTINHO; JÚLIO
localizados em pontos altos da bacia. Além ordenamento da pesca, tais problemas ao balanço de um ecossistema aquático; (ii) JÚNIOR, 1999).
disso, os impactos do estabelecimento das estariam resolvidos. espécies que interferem com outras práticas
tilápias sobre a fauna local têm sido de manejo da vida silvestre; (iii) espécies que Entre as estratégias já utilizadas com o
registrados em diferentes pontos do planeta afetam peixes ameaçados ou em perigo de propósito de controlar diretamente as
Reduções de Populações
(MOYLE, 1976; McKAYE; RYAN; STAUFFER, Jr.; LOPEZ extinção; (iv) espécies que não contribuem populações de espécies indesejáveis,
PEREZ; VEGA; BERGHE, 1995; MIRANDA, 2001;
Indesejáveis ou prejudicam aquelas de interesse na pesca destacam-se as de natureza química (ex.:
PÉREZ; MUÑOZ; HUAQUÍN; NIRCHIO, 2004). Este comercial ou esportiva. ictiocidas específicos), biológica (ex: estímulo
tema é ainda objeto de discussões no tópico Proliferações massivas de algumas a predadores, inibição à reprodução,
Aqüicultura, apresentado adiante. espécies podem promover desequilíbrios Os problemas relacionados a uma espécie fomento à pesca seletiva) e físicas (ex.:
nos sistemas ecológicos e/ou interferir indesejável são muito variados (MIRANDA, dessecamento do ambiente, explosivos, pesca
Finalmente, recomenda-se fortemente que se negativamente no funcionamento dos 2001), destacando-se aqueles relacionados à com redes, armadilhas, eletricidade), além de
considerem outras modalidades de manejo sistemas de pesca e de outros usos dos predação, competição, balneabilidade, alterações de hábitat, objeto do próximo
com maior probabilidade de sucesso e recursos aquáticos, sendo estas nanismo, veiculação de doenças, tópico.
menor risco à biodiversidade e à pesca. Entre consideradas indesejáveis, invasoras ou interferência na qualidade do ambiente ou
estas se destacam aquelas expostas no “pragas”. Embora esse fenômeno seja mais nas operações de pesca. Todas as técnicas de redução direta têm,
próximo tópico, relacionadas à manipulação freqüente entre espécies introduzidas, ele entretanto, aplicação complexa e, em geral,
Um exemplo típico de espécie indesejável no eficiência transitória, visto que as forças que
sistema de pesca de reservatórios determinam a proliferação destas são pouco
Bo
Boxx 8.14 neotropicais é o das piranhas, que, no conhecidas e de difícil atenuação. As
Recomendações do COMASE
reservatório de Itaipu, têm sido responsáveis tentativas para erradicar as piranhas de
SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉTRI- por danos nas iscas, nos aparelhos de pesca e reservatórios do Nordeste, Sudeste e Sul do
CO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARATÓRIAS,
1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE, 1994. 4 cadernos. no pescado neles retido (AGOSTINHO, C.S.; Brasil ilustram bem as dificuldades em se
AGOSTINHO, A.A.; MARQUES; BINI, 1997). Além obter resultados satisfatórios e de longo
Introdução de espécies de peixes nas bacias hidrográficas
disso, esses peixes têm, em algumas ocasiões, prazo. No reservatório de Itaipu, as
I. as ações de estocagem não devem envolver espécies alóctones ou exóticas; interferido negativamente na prática de estratégias para o controle das piranhas nos
II. na estocagem com espécies autóctones, devem ser consideradas as possibilidades de problemas com esportes aquáticos em alguns balneários balneários envolveram remoções periódicas
endocruzamento, hibridação e disseminação de doenças e parasitas; implantados nas margens deste reservatório de macrófitas submersas, hábitat que elas
III. a estocagem, quando realizada, deve ser monitorada. (AGOSTINHO; GOMES; JÚLIO JÚNIOR, 2003). Nesse ocupam na fase mais agressiva do ciclo de
432 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 433

vida (cuidado com a prole). Isso não controla sintomas; (iii) a busca primeiro da A manipulação de hábitats pode resultar em Dessa forma, além do papel que as
a população, mas as afasta de áreas de uso estabilidade do ecossistema e, depois, da benefício pelas implicações que tem no (i) macrófitas desempenham na ciclagem de
crítico (AGOSTINHO; GOMES; JÚLIO JÚNIOR, 2003). implementação das ações; (iv) a integração balanço das relações competitivas, (ii) nutrientes, elas contribuem para o aumento
das ações de controle e de outras medidas de aumento na capacidade biogênica do corpo na heterogeneidade estrutural dos hábitats,
A decisão acerca da conveniência e do tipo de manejo; (v) a utilização dessas medidas de d’água, (iii) incremento do potencial afetando a diversidade biológica, as relações
técnica a ser aplicada nesses casos deve, no manejo apenas quando os riscos de impactos reprodutivo e (iv) elevação da taxa de interespecíficas e a produtividade do sistema
entanto, considerar os “efeitos colaterais”. negativos sobre as espécies nativas, sobrevivência (SUMMERFELT, 1993). (AGOSTINHO; GOMES; JÚLIO JÚNIOR, 2003; PELICICE;
Assim, embora o controle deva considerar a ameaçadas ou em perigo de extinções, forem AGOSTINHO; THOMAZ, 2005; PELICICE; AGOSTINHO,
época e o local em que a espécie é mais seguramente mínimos; (vi) a discussão Algumas alternativas de manipulação de 2006; AGOSTINHO; THOMAZ; GOMES; BALTAR, no
vulnerável, a estratégia utilizada para a ampla com a sociedade acerca das alternativas hábitat, visando ao manejo da fauna aquática prelo). A manipulação em sua densidade tem
redução das espécies indesejáveis deve ser de manejo, incluindo o nada fazer. em reservatórios, são apresentadas a seguir reflexos diretos sobre a abundância de
implementada quando e nos locais em que (NOBLE, 1980; SUMMERFELT, 1993). grande número de espécies no reservatório,
os riscos de impactos negativos sobre outros tanto afetando o ciclo de vida de cada uma
organismos sejam mínimos.
Manipulação de Hábitats quanto influenciando as relações
Controle de Macrófitas interespecíficas.
Dados os riscos e incertezas que envolvem as A s ações de manejo realizadas através de
ações visando o controle (redução ou interferências no hábitat dos peixes, a E sse tipo de controle baseia-se no fato de Um exemplo da relação positiva entre a
remoção) de espécies indesejáveis, alguns despeito de seu grande potencial, não têm que as macrófitas têm papel destacado na diversidade de macrófitas e a de peixes é
cuidados devem ser tomados antes da recebido atenção no Brasil. Isso é manutenção de muitas espécies, quer por dada por Agostinho, Gomes e Júlio Júnior
decisão sobre sua execução (WYDOSKI; WILEY, surpreendente, visto que os impactos fornecer abrigo às forrageiras e às formas (2003), com base em amostragens nas áreas
1999). Destacam-se, entre eles, (i) o emprego oriundos dos represamentos são efetivados, jovens, quer por servir de substrato a litorâneas de nove reservatórios da bacia do
de uma abordagem ecossistêmica no principalmente, através da alteração na sua organismos utilizados em sua alimentação rio Paranapanema (Figura 8.3).
planejamento e na implementação das qualidade e quantidade. O COMASE (ESTEVES, 1988; ARAÚJO-LIMA;
medidas de controle; (ii) o foco das apresentou algumas recomendações, em AGOSTINHO; FABRÉ, 1995;
prioridades sobre as causas e não nos âmbito geral (ver Box 8.15). AGOSTINHO; VAZZOLER; THOMAZ, 28
(R=0,66; p<0,05)
1995; ALVES, 1995; AGOSTINHO;
24 Canoas 1 Taquaruçu Canoas 2
GOMES; JÚLIO JÚNIOR, 2003). Sua
Bo
Boxx 8.15
Rosana
abundância relaciona-se, 20

Riqueza de peixes
Recomendações do COMASE
portanto, à razão predador- Salto Grande
16 Chavantes
SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉTRI- presa, à pressão de competição,
CO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARATÓRIAS, à capacidade biogênica do 12
Apucaraninha
1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE, 1994. 4 cadernos.
ambiente e à taxa de Alagados
8
Manejo de ambientes nos locais de desova e criadouro naturais sobrevivência inicial de diversas Harmonia

I. desenvolver as seguintes atividades em parceira com o IBAMA e prefeituras, quando for caso: espécies de peixes (SAVINO; STEIN, 4

- estudos nas diversas bacias hidrográficas que permitam a identificação dos locais onde ocorrem 1982; BETTOLI; MACEINA; NOBLE; 0
0 2 4 6 8 10 12 14
importantes processos relacionados à fauna aquática, como sítios de reprodução, de alimentação BETSILL, 1992; DIBBLE; KILLGORE;
Riqueza de macrófitas
e criadouros de formas jovens; HARREL , 1996). Alia-se a isso o
Figura 8.3 - Relação entre a riqueza de espécies de
- medidas de manejo dos locais de reprodução, de alimentação e criadouros de formas jovens, como fato de que algumas espécies macrófitas e de peixes em nove reservatórios da bacia do
a proteção integral, a ampliação das áreas, a recuperação da vegetação marginal, o controle do tropicais fazem posturas de ovos rio Paranapanema (Modificado de AGOSTINHO; GOMES;
assoreamento e do uso do solo, a restrição à pesca etc. JÚLIO JÚNIOR, 2003).
em suas partes submersas.
434 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 435

Embora a participação de macrófitas na dieta modernos equipamentos tenham tornado Já o controle biológico, geralmente usando de peixes indesejáveis devem ser
de peixes tropicais esteja restrita a poucas esse método mais eficiente, ele continua caro espécies herbívoras, tem sido efetivo em observados nas ações de controle de
espécies (HAHN; FUGI; ANDRIAN, 2004), sua e trabalhoso. Por outro lado, não apresenta o alguns pequenos cursos d’água e canais de macrófitas. Nesse caso, entretanto,
abundância parece ser relevante, mesmo que inconveniente do uso de agentes químicos e irrigação. Mesmo nesses ambientes, o considerações devem ser feitas em relação
indiretamente, no aumento da densidade e biológicos, além do fato de a remoção da emprego de controle biológico tem sido ao papel das macrófitas como substrato de
na biomassa de peixes. Resultados vegetação se constituir em ferramenta útil controverso, visto que, em geral, envolve organismos-alimento, como abrigo para as
preliminares de estudos desenvolvidos em para a remoção de nutrientes e melhoria na espécies exóticas. O emprego de híbridos, formas jovens e de pequeno porte e,
quatro braços do reservatório de Itaipu qualidade da água em ambientes especialmente da carpa-capim eventualmente, como substrato para os
demonstram que a abundância e o peso dos hipereutróficos (AGOSTINHO; GOMES; JÚLIO Ctenopharingodon idella, tem sido tentado, ovos de peixes. Vale destacar que as
peixes nas amostras, expressos em captura JÚNIOR, 2003). visando reduzir a probabilidade de macrófitas podem representar, para diversas
por unidade de esforço, são maiores estabelecimento da espécie no ambiente. espécies, o hábitat mais importante em
naqueles com alta densidade de macrófitas O controle químico envolve o uso de Por outro lado, a eficácia desse controle em reservatórios, em razão de sua elevada
(Figura 8.4). herbicidas em meio aquático e tem como grandes corpos d’água tem sido baixa, tanto complexidade estrutural e da perda de
inconveniente o elevado custo para grandes pela intensidade de estocagem necessária gradientes ambientais e outros tipos de
Quando em excesso, entretanto, as macrófitas corpos d’água e, obviamente, as restrições quanto pela mudança de dieta ante uma hábitats que existiam antes do represamento.
interferem na produtividade planctônica, na ambientais e de outros usos da água espécie disponível e mais palatável. Nesse
qualidade da água (CANFIELD, Jr.; SHIREMAN; (abastecimento, recreação, irrigação, pesca). caso, a espécie “controladora” pode reduzir
COLLE; HALLER; WATKINS; MACEINA, 1984), na Experimentos com herbicidas têm sido a pressão de competição e favorecer uma
Controle do Nível da Água
atividade de pesca e outros usos, sendo, realizados pela Companhia Energética de proliferação ainda maior da espécie que se
portanto, necessária alguma forma de São Paulo (CESP), no reservatório de Jupiá, quer controlar. Experimentos com insetos, Embora possa ser considerado
controle. onde a proliferação de espécies submersas de fungos e peixes têm sido realizados pela potencialmente a melhor técnica (NOBLE,
macrófitas tem gerado problemas CESP, porém ainda sem resultados 1981), o controle de nível do reservatório
O controle pode ser efetivado através de operacionais na usina (MARCONDES; MUSTAFÁ; conclusivos (MARCONDES; MUSTAFÁ; TANAKA, para finalidades de manejo da fauna
métodos mecânicos, químicos e biológicos TANAKA, 2003). 2003). aquática é muitas vezes conflitante com os
(NOBLE, 1980; BETTOLI; demais usos que dele se fazem. Assim, cabe
MACEINA; NOBLE; BETSILL , 1993; Embora não alcançando os níveis de ao administrador do recurso aproveitar as
SUMMERFELT ,
1993). Todos os 600 100 problemas de operação de turbinas como oportunidades de manipulação do nível do
m2 rede/24h)

600 100
m2 rede/24h)

Abundância Biomassa os verificados em Jupiá, alguns reservatório e reivindicar procedimentos


métodos têm eficiência 500
Densidade Biomassa
500 8080
limitada, visto que atuam reservatórios brasileiros têm apresentado operacionais adequados ao seu programa,
Abundância

400
Biomassa

sobre resultantes e não sobre 6060 intensa proliferação de macrófitas procurando compatibilizar seus usos.
Densidade (Ind./1000

Biomassa (kg/1000

300
300
a origem do problema submersas, especialmente Egeria densa
4040
(eutrofização, transparência 200 (Jupiá, Rosana, Paulo Afonso). Esses O controle do nível de água nos
2020 reservatórios, por afetar as condições da
da água), ocorrendo, em 100
100 reservatórios se caracterizam pelas
geral, um retorno à situação 0 00 localizações inferiores na cadeia de zona litorânea, interfere nas condições de
Alta Moderada Baixa Baixa
de início quando a ação de Alta Moderada Baixa
Densidade de macrófitas
Baixa reservatórios do rio, onde a transparência abrigo, alimentação e desova das espécies.
Densidade de macrófitas
controle é interrompida. Figura 8.4 - Abundância (indivíduos/1000 m2 rede/24h) e biomassa de da água e, portanto, a penetração da luz, Diferenças temporais e espaciais na
colocação dos ovos, exibidas por diferentes
2
peixes (kg/1000
Figura 8.4. Abundância m rede/24h ) nas
relativa zonas de
(densidade) remanso de
e biomassa do são maiores (THOMAZ; BINI, 1999).
reservatório de Itaipu
peixes nas zonas com diferentes
de remanso densidades
do reservatório de relativas
Itaipu comde
O controle mecânico envolve macrófitas, no ano de 1995 de(Alta=rio São noFrancisco espécies, permitem, por exemplo, que essas
diferentes densidades relativas macrófitas, ano de
o corte e a remoção das Verdadeiro;
1995 (Alta=rioModerada=Arroio Guaçu; Moderada=Arroio
São Francisco Verdadeiro; Baixa=rios São Com base no exposto, os mesmos cuidados áreas sejam ampliadas ou reduzidas,
Francisco Falso e Ocoi).
Guaçu; Baixa=rios São Francisco Falso e Ocoi).
macrófitas. Embora os recomendados para o controle de espécies favorecendo ou prejudicando seletivamente
436 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 437

as espécies, conforme um dado objetivo. controladas realizadas a intervalos de 3 a 4 Essa ação pode ser requerida em poderiam fornecer abrigos aos peixes não
Entretanto, flutuações amplas e aleatórias de anos (SUMMERFELT, 1993). Assim, alguns anos reservatórios onde ocorram desvios na fazem sentido numa perspectiva
nível são relacionadas ao caráter menos de baixos níveis, que permitam o proporção entre presas e predadores, com conservacionista e devem ser evitadas.
estável das comunidades de muitos desenvolvimento da vegetação na zona de reflexos no rendimento. Esse tipo de
reservatórios, podendo levar a depleção, seguidos de um período de águas problema é mais freqüente em reservatórios A localização e o excesso de vegetação ou
desequilíbrios que permitem a proliferação em níveis normais, resultam em elevação na que alagam áreas desprovidas de vegetação estruturas submersas podem, por outro lado,
de espécies oportunistas, algumas vezes produtividade e no surgimento de classes arbórea ou onde esta tenha sido previamente promover desequilíbrios relacionados à
indesejáveis, ou mesmo à extinção local de etárias vigorosas. Agostinho (1998) sugere removida antes do represamento. A ausência abundância de espécies forrageiras e redução
espécies. que a reversão constatada no rendimento de macrófitas aquáticas, também relacionada daqueles posicionados mais próximos ao
pesqueiro do reservatório de Sobradinho no à disponibilidade de abrigo, é determinante topo da cadeia, geralmente com maior
Níveis elevados durante o período ano de 1998/99 possa ser decorrente de um desses desequilíbrios. Situações opostas, com interesse à pesca. Além disso, esse excesso
reprodutivo e nos meses que se seguem têm período prolongado de deplecionamento do elevada disponibilidade de abrigo, podem, pode ter implicações negativas sobre outros
sido relacionados a aumentos significativos reservatório, durante 40 meses, com também, levar a desequilíbrios na relação usos que se façam do corpo d’água, como a
no recrutamento de várias espécies (BENNETT, posterior elevação de nível. predador-presa e demandar essa modalidade prática de esportes náuticos, a manutenção
c1971; NOBLE, 1980; MARTIN; MENGEL; NOVOTNY; de manejo. de turbinas e mesmo a operação de alguns
WALBURG, 1981; MITZNER, 1981; RAINWATER; Semeaduras de vegetação na zona de aparelhos de pesca (ver Box 8.16).
HOUSER, 1982; BEAM, 1983; MIRANDA; SHELTON; depleção, realizadas nos meses de cotas A instalação de recifes e medidas que
BRYCE, 1984; PLOSKEY, 1985; SUMMERFELT, 1993; mínimas, e a posterior elevação do nível contribuam para o desenvolvimento de Assim, nos casos em que haja probabilidade
HAYES; TAYLOR; MILLS, 1993). d’água, podem elevar a capacidade biogênica macrófitas aquáticas são alguns dos de problemas sérios na qualidade da água
de reservatórios oligotróficos. procedimentos recomendados para ampliar a (cor, odor, gosto), a remoção da vegetação é
Para a ação efetiva dessa técnica, há disponibilidade de abrigos. desejável. Entretanto, é conveniente não
necessidade do conhecimento da quadra Entretanto, nas variações de nível, a perder de vista que os maiores problemas
reprodutiva das espécies e da época com abordagem sistêmica é também A necessidade de abrigos deve, entretanto, dessa natureza guardam relação com a
maior abundância das larvas de peixes. imprescindível, dados os riscos que ser considerada na fase do planejamento do decomposição da serapilheira, do carbono
Obviamente, a manipulação de nível em representa para espécies nativas, reservatório, quando a manutenção da orgânico presente no solo e de plantas
reservatórios hidrelétricos, visando aos especialmente as endêmicas ou ameaçadas de vegetação arbórea e das edificações herbáceas ou gramíneas. Nos casos em que
interesses da pesca e conservação, encontra extinção, que tenham como estratégia existentes é decidida. Decisões de remoção apenas a vegetação arbórea e arbustiva é
forte restrição ao seu uso para o atendimento reprodutiva o cuidado da prole em ninhos da total da vegetação e eventuais estruturas que retirada, os problemas com a qualidade da
das demandas energéticas e controle de zona litorânea, ou ovos fitófilos (que
cheias. Entretanto, dentro do grau de desenvolvem aderidos à vegetação). Com
flexibilidade permitido pela operação da isso, fica evidente que o conhecimento da Bo
Boxx 8.16
barragem, existe espaço para a busca desse composição e biologia das espécies torna-se Recomendações do COMASE
padrão de flutuações de nível que beneficie elementar para o sucesso da prática.
SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉTRI-
as assembléias de peixes. CO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARATÓRIAS,
1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE, 1994. 4 cadernos.
A tendência de depleção trófica, que Manipulação de Abrigos
Remoção da vegetação da área do reservatório
caracteriza a maioria dos reservatórios após
os primeiros anos da formação (RIBEIRO; Consiste em aumentar ou reduzir a I. a extensão do desmatamento deve ser compatível com níveis adequados dos parâmetros de qualidade
PETRERE JUNIOR; JURAS, 1995; ver Capítulo 4), disponibilidade de abrigos às espécies-presa da água, recomendando-se a manutenção de segmentos de floresta, edificações e outras estruturas
pode ser revertida por manipulações e formas jovens daquelas de maior porte. que possam atuar como abrigo para as formas jovens e forrageiras de peixes.
438 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 439

água persistem, pois o tempo de Diversos estudos têm demonstrado que a das espécies dos reservatórios, sul- naturais; (vii) recifes artificiais. Medidas de
decomposição desse material é muito maior eficiência de predação pelos piscívoros americanos, particularmente as de maior manejo dessa natureza devem, entretanto,
que o das herbáceas que inevitavelmente depende da estratégia de captura destes, porte e migradoras, têm suas áreas de ser planejadas conforme o conhecimento que
ocuparão a área, dado o tempo demandado podendo ser mais elevada para algumas em reprodução e desenvolvimento inicial fora se disponha das espécies-alvo e das restrições
para a remoção (ver Capítulo 6.5). níveis intermediários de complexidade de do ambiente represado, e algumas vezes impostas pelo ambiente.
hábitat, enquanto, para outras, na ausência distantes deste (AGOSTINHO; GOMES; SUZUKI;
Ainda no contexto das atividades recreativas,
a remoção da vegetação arbórea é necessária
de abrigos (WILEY; GORDEN; WAITE; POWLESS, JÚLIO JÚNIOR, c2003).
Controle da pesca
1984; DUROCHER; PROVINE; KRAAI, 1984; DIBBLE;
em áreas destinadas a balneários e esportes
náuticos, visto que os chamados paliteiros
KILLGORE; HARREL, 1996). Assim, o
conhecimento das proporções das diferentes
Então, a identificação desses locais e sua
manipulação adequada podem ser
O controle da pesca é realizado com o
afetam a qualidade cênica e o objetivo de proteger as populações de peixes
estratégias apresentadas pelos predadores imprescindíveis para a manutenção dos
desenvolvimento de atividades, como da sobrepesca e promover uma melhor
presentes na bacia e a relação de abundância estoques pesqueiros nos reservatórios,
natação, acampamento, navegação, etc. Além distribuição dos recursos entre os usuários
entre predadores e suas presas são mesmo estando distantes.
(NOBLE; JONES, 1999). É uma modalidade de
disso, a elevação da diversidade e importantes para a constatação do problema
manejo que deve ser realizada em
produtividade biológica envolve algumas e na implementação do manejo. Para as espécies que têm suas áreas de
concomitância com outras formas de manejo
espécies que incomodam as atividades desova e de desenvolvimento inicial no
(hábitat, populações), não as substituindo.
recreativas, como os mosquitos. Embora a corpo do reservatório, os hábitats críticos
proliferação de mosquitos não seja Manipulação de Locais de Desova e para sua viabilidade localizam-se nas zonas
Essa modalidade de manejo é muitas vezes
decorrente apenas da vegetação arbórea Criadouros Naturais litorâneas. Infelizmente, essas zonas,
considerada uma opção fácil e barata, com
alagada, esta reduz a circulação de água dependendo do grau de flutuação de nível e
fornecendo condições ambientais lênticas Essa prática apresenta-se promissora no da intensidade das ondas, podem se tornar
forte apelo ao senso comum. Entretanto, o
que é pouco oneroso nesse controle é a
mais propícias ao seu desenvolvimento. manejo de reservatórios, visto que uma das impróprias para a desova ou à sobrevivência
regulamentação. Os demais custos, como
principais razões da depleção de muitas das formas jovens. Nesse caso, a presença de
consultas, publicidade, fiscalização e o
Em relação à pesca, amadora ou profissional, populações após o represamento decorre da paliteiros ou vegetação aquática pode ter um
monitoramento dos resultados devem, no
a eventual dificuldade de deslocamentos é redução, eliminação ou degradação de seus impacto positivo na atenuação dos efeitos de
entanto, ser também orçados, visto que são
amplamente compensada pelo maior sucesso locais de desova e criadouros naturais ondas, na disponibilidade de alimento e fases indispensáveis.
na atividade. Embora alguns pescadores (SUMMERFELT, 1993). Ela consiste em proteger, abrigo, além de poder se constituir em
julguem que os paliteiros sejam obstáculos recompor ou ampliar os ambientes de substrato para a desova e reduzir os efeitos É freqüente no senso comum, alimentado
para uma boa navegação, em geral eles desova e criadouros, com reflexos diretos no da erosão (siltação dos ovos). por regulamentação no esforço de pesca e no
buscam as áreas com altas densidades de aumento da taxa reprodutiva e redução da uso de aparelhos, responsabilizar os
troncos submersos para a pesca. Os anseios mortalidade de formas jovens, promovendo Entre os diversos tipos de manipulação de pescadores pela depleção dos estoques de
de boas pescarias e conforto na atividade são incrementos no recrutamento de novos hábitats, destacam-se (i) a recomposição da peixes, atribuindo à pesca uma importância
conflitantes, devido às limitações impostas indivíduos à população (ver Box 8.15). vegetação ciliar; (ii) o controle adequado do exagerada, mesmo na ausência de estudos
pelo ambiente. A manutenção de algumas nível da água; (iii) a redução das cargas de específicos. Embora o controle racional da
árvores maiores pode ajudar o pescador a A implantação de áreas artificiais de desova poluição e seu controle permanente; (iii) a pesca (baseado em informações do sistema)
reconhecer os limites do canal. Na pode ser necessária também como medida participação nos programas de conservação seja necessário, a fiscalização deve se
eventualidade de uma atividade pesqueira complementar à estocagem com espécie do solo (siltação); (iv) a adequação do estender à outras atividades antropogênicas,
mais intensa, a instalação de bóias nativa, cuja população foi reduzida em razão substrato de desova; (v) a implantação de como a manipulação do nível do rio pelos
sinalizadoras em algumas áreas do da eliminação desses hábitats. É oportuno lagoas marginais artificiais; (vi) reservatórios a montante, a deterioração dos
reservatório pode ser requerida. salientar, entretanto, que parte considerável represamentos de braços como criadouros locais de desova e criadouros naturais por
440 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 441

práticas agrícolas inadequadas, a esforço ou na eficiência da pesca pode levar Por outro lado, a proteção dos maiores espera e os espinhéis, por exemplo, não
contaminação dos cursos d’água, etc. (NOBLE; os estoques, incluindo reprodutores, a níveis tamanhos é considerada útil em situações em permitem determinar a seleção antes de tirar
JONES,1999). Assim, regulamentações que populacionais tão baixos que inviabilizem a que o estoque adulto é pequeno ou onde o os peixes e, então, o pescado solto é
envolvam os usos da água e os efluentes de atividade como opção de renda. Proibições número de peixes menores é grande e a machucado e, muitas vezes, fatalmente.
usinas, indústrias, atividades agropastoris e de época ou locais de desova, por outro lado, intenção é aumentar a taxa de crescimento Considerando isso, Berkeley, Hixon, Larson e
centros urbanos, além da proteção de visam proteger o estoque quando ele é mais (NOBLE; JONES, 1999). A proteção de séries de Love (2004) concluem que a preservação dos
hábitats, são, muitas vezes, mais apropriadas vulnerável. O COMASE apresentou tamanhos intermediários, uma alternativa de peixes maiores (mais velhos e fundamentais
que a regulamentação da pesca. recomendações ao tema (ver Box 8.17). controle mais complexo na pesca comercial, para a sustentabilidade de um estoque) de
visa favorecer uma faixa de comprimento na espécies com ciclo de vida longo, só poderá
Para uma correta aplicação do controle da Além disso, algumas das principais qual a mortalidade natural é mais baixa e a ser feita com o estabelecimento de reservas
pesca é necessário que se considerem, além regulamentações da pesca no Brasil, como os taxa de crescimento mais elevada (NOBLE; aquáticas. As reservas pesqueiras e zonas de
dos aspectos bio-ecológicos, a opinião dos limites de tamanho mínimo para as espécies JONES, 1999). Nesse caso, busca-se proteger não-captura, estratégias com potencial de
pescadores, a capacidade de fiscalização, o nos desembarques e o uso de equipamentos uma classe de tamanho em que as taxas de trazer benefícios além da pesca, têm sido
sistema judicial e os impactos econômicos e com especificações que assegurem a captura crescimento são maiores e, portanto, resultam usadas no manejo em ambientes marinhos
sociais envolvidos nessa modalidade de de indivíduos de tamanhos maiores, parecem em maiores taxas de rendimento no estoque (HILBORN; STOKES; MAGUIRE; SMITH; BOTSFORD;
manejo (NOBLE; JONES, 1999). Os aspectos bio- promover impactos irreversíveis aos de indivíduos maiores (slot limit). MANGEL; ORENSANZ; PARMA; RICE; BELL; COCHRANE;
ecológicos e socioeconômicos do controle estoques pesqueiros e, portanto, deveriam GARCIA; HALL; KIRKWOOD; SAINSBURY; STEFANSSON;
referem-se à percepção de que a elevação no ser reconsideradas (ver Capítulos 5.1 e 6.7). No Brasil, o controle da pesca incide WALTERS, 2004) e deveriam ser consideradas
essencialmente sobre o pescador profissional no manejo de águas interiores, incluindo
e envolve apenas as restrições aos tamanhos áreas adjacentes a reservatórios.
Bo
Boxx 8.17 mínimos, geralmente associados à
Recomendações do COMASE
maturidade sexual. Estudos recentes têm Por outro lado, mais recentemente, as
SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉTRI- demonstrado que esse tipo de controle tem comunidades tradicionais de países em
CO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARATÓRIAS,
1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE, 1994. 4 cadernos. eficiência dúbia, podendo inclusive se desenvolvimento estão começando a observar
Controle da pesca constituir em fonte de impactos negativos a necessidade de capturas sustentáveis, ao
sobre os estoques explorados, pelos seus invés do progressivo aumento na produção
I. Sugerir ao órgão ambiental competente a adoção dos seguintes procedimentos:
reflexos na heterogeneidade genética (ver pesqueira (WORLD BANK, c2003). Porém, em
- definição clara do que se pretende proteger na bacia hidrográfica; Capítulos 5.1 e 6.7). Além disso, para que essa alguns países desse grupo, entre os quais o
- uniformização dos instrumentos legais por bacia hidrográfica, regulamentando os petrechos de medida resulte em controle efetivo nas Brasil, essas percepções ainda não têm sido
captura e definindo áreas de proteção próximas às barragens; capturas, a fiscalização deveria atuar sobre o vislumbradas, possivelmente como
- intensificação de um programa de fiscalização e restrição da pesca, priorizando os locais de processo de comercialização, evitando decorrência da falta de discussão pública
comercialização do pescado; punições com conseqüências socioeconômicas sobre a sustentabilidade da pesca ou mesmo
- intensificação da divulgação da restrição da pesca na área estabelecida pelo órgão competente; drásticas sobre o pescador e sua família (perda pela relação de desconfiança que predomina
II. desenvolver, juntamente com o órgão ambiental competente, estudos para definição da época e da dos equipamentos de trabalho, por exemplo). nas relações entre os órgãos que fiscalizam a
extensão das áreas a ser recomendadas para proibição da pesca e onde deverá ser intensificada a Restrições na comercialização regulam de pesca e os pescadores.
fiscalização; modo mais eficiente as características do
III. notificar ao órgão competente, para as providências cabíveis, a ocorrência de pesca predatória e pescado desembarcado. Muitas propostas de sistemas de manejo
outros atos lesivos à fauna aquática; conjunto (co-management) têm sido feitas para
IV. informar aos pescadores da área do reservatório e do rio a jusante sobre o andamento dos programas Problema adicional são os tipos de pesca em rios e reservatórios, que deverão
de conservação da fauna aquática. equipamentos de pesca utilizados. As redes de substituir as abordagens atuais mais
442 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 443

centralizadas (CHRISTENSEN; SOARES; SILVA; pesqueiros de reservatórios, ela vem sendo escala para estimular ou disseminar a prática A carência de pesquisas acerca da
BARROS, 1995; AMARASINGHE; DE SILVA, 1999; preconizada nas políticas governamentais em escalas reduzidas, ou fazer apologia de viabilidade econômica e ambiental desses
NATHANAEL; EDIRISINGHE, 2002; HARTMANN; como uma alternativa para reduzir a pressão grandes empreendimentos de cultivo, cuja empreendimentos em diferentes escalas,
DUGAN; FUNGE-SMITH; HORTLE; KUEMLANGAN; de pesca sobre os estoques naturais e, produção é exportada, utilizando como considerando diferentes práticas, é também
LORENZEN; MARMULLA; MATTSON; WELCOMME, portanto, com uma ação ligada à conservação mote o combate à fome. As experiências já urgente. Pesquisas sobre alternativas às
2004). No Brasil, experiências promissoras desses recursos. obtidas com os cultivos em tanques-rede em espécies exóticas para o cultivo em águas
têm sido relatadas, destacando-se aquelas da reservatórios demonstram que a atividade públicas estão nesse contexto. Seria
pesca na bacia do rio São Francisco (Projeto: Entretanto, apesar de o sistema de pode ser economicamente viável em esperado, por exemplo, que o esforço
Peixes, Pessoas e Água, liderado pela aqüicultura adotado no Brasil ter se grandes fazendas aqüícolas, enquanto que destinado ao desenvolvimento de
Universidade Federal de São Carlos e apresentado como alternativa econômica em escala reduzida a rentabilidade tem sido protocolos de cultivo de espécies nativas
Federação de Pesca Artesanal de Minas promissora (KUBITZA; ONO; LOPES, 2001; pífia, com alguns fracassos retumbantes (ver fosse maior que o empregado por algumas
Gerais, em conjunto com Canadian CASEIRO; KUBTIZA,
2003), seu papel na Capítulo 6.3). agências oficiais nas movimentações e
International Development Agency (CIDA) e conservação dos recursos pesqueiros precisa pressões sobre os órgãos de controle para
World Fisheries Trust, ambos do Canadá) e na ser ainda demonstrado. Além das demandas O ordenamento das atividades de cultivo flexibilizar as restrições ao cultivo de
do Amazonas (RUFFINO, 1997). Esses sistemas de insumos da pesca para a produção de em reservatórios é também necessário. espécies exóticas. Embora os problemas
mais descentralizados irão, por definição, ração (ver Capítulo 6.3), a aqüicultura, Atualmente, a maioria dos pequenos com o cultivo de peixes em águas públicas
permitir que o processo decisório seja especialmente aquela praticada em águas empreendimentos de cultivos em não sejam resolvidos com o
partilhado com segmentos sociais locais, públicas, tem notável conflito com a reservatórios situa-se fora das áreas desenvolvimento de pacotes tecnológicos
assegurando mais flexibilidade, menos qualidade da água, introdução de espécies e recomendadas (parques aqüícolas), que permitam o uso de espécies nativas,
atrito, melhor legitimidade e facilidades na doenças nos ambientes naturais. tornando o planejamento da ocupação do parte relevante deles o seria.
fiscalização. Vale destacar que a efetividade ambiente mera figura de retórica. O
desses sistemas é complexa, visto que é Num momento em que tanto se discute a respeito aos demais usos deve ser Entretanto, enquanto não surge uma opção
dependente do nível de responsabilidade compatibilização dos usos múltiplos dos priorizado e fiscalizado, não podendo ser nativa para esses cultivos, a preocupação
individual de cada participante. recursos disponíveis em reservatórios alvo da complacência dos órgãos de com a introdução de espécies não-nativas
(TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI, 2003), é fomento (ver Box 8.18). deve ser manifesta e imperativa. Uma das
Todas essas modalidades de controle têm pertinente que essas políticas de governo
sido objeto de regulamentação em diferentes sejam questionadas, em especial a maneira
estados brasileiros. Os objetivos são, pela qual vêm sendo conduzidas. Um aspecto Bo
Boxx 8.18
entretanto, difusos e os critérios prioritário nessas discussões é o da clareza Recomendações do COMASE
desconhecidos, sendo apenas características dos objetivos da aqüicultura em SEMINÁRIO SOBRE FAUNA AQUÁTICA E O SETOR ELÉTRI-
de entraves burocráticos para o exercício da reservatórios. É necessário que se estabeleça, CO BRASILEIRO: REUNIÕES TEMÁTICAS PREPARATÓRIAS,
1993. Rio de Janeiro: ELETROBRÁS: COMASE, 1994. 4 cadernos.
atividade. por exemplo, se o fomento da atividade
almeja o desenvolvimento econômico do Utilização de tanques-rede para a criação de peixes
país, através da produção em larga escala, I. a contribuição do Setor Elétrico deve se restringir à implantação de tanques-rede em caráter
Outras Ações por grandes corporações e destinada à experimental, visando o desenvolvimento da tecnologia;
Aqüicultura e Espécies Introduzidas exportação, ou se prioriza a atenuação de II. sugere-se aos órgão competentes que a difusão da técnica de tanques-rede somente ocorra após a
problemas sociais que afligem o Brasil, como comprovação de sua eficiência e a avaliação de suas conseqüência ambientais;
Embora a aqüicultura não possa ser a fome e a desigualdade na distribuição de III. a eventual adoção da técnica de tanques-rede deve contemplar, através de um planejamento global,
considerada, em seu sentido estrito, como renda. Não parece adequado utilizar alguns o zoneamento do reservatório, o monitoramento da qualidade da água, o controle parasitológico e a
uma atividade atrelada aos recursos resultados obtidos em cultivos em grande restrição ao emprego de espécies alóctones ou exóticas.
444 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 445

questões proeminentes é a das “espécies não- adequada e que possa, de fato, suplementar a A eliminação ou controle populacional de influenciou na escolha da espécie e a
nativas estabelecidas”. Para a identificação pesca extrativista a longo prazo (NAYLOR; peixes invasores – assim como em qualquer demanda efetiva por ela. Algumas espécies
desse status, não basta o registro de GOLDBURG; PRIMAVERA; KAUTSKY; BEVERIDGE; outro grupo de organismos – é, como visto foram trazidas do exterior ou de outras
indivíduos maduros (a desova pode falhar), CLAY; FOLKE; LUBCHENCO; MOONEY; TROELL, anteriormente, atrefa difícil e considerada bacias pela percepção de leigos em visitas a
larvas e juvenis (podem ser frutos de escape 2000). logisticamente impraticável, em vista dos centros de piscicultura, ou pelos momentos
ou não completarem o desenvolvimento) e elevados custos e esforços necessários, além agradáveis de pescarias nos locais de origem.
muito menos a simples presença. Espécie Em relação à aqüicultura em geral, incluindo de possíveis impactos adicionais. Além disso, dentro do país, as facilidades
estabelecida pressupõe uma população auto- aquela tradicionalmente realizada em criadas pela mídia impressa ou eletrônica nas
sustentável. Além disso, em tese, mesmo a tanques escavados, os desafios são também Tais aspectos devem reforçar, como transferências são ainda mais preocupantes.
comprovação do estabelecimento de uma consideráveis. Tanto no controle dos recomendação geral, o emprego de um É comum cadernos semanais de jornais e
espécie não justificaria a negligência na efluentes quanto nas ações destinadas à maior rigor, cautela e bom senso nas revistas especializadas com ampla circulação
entrada de novos indivíduos, dado que a redução dos riscos de novas introduções de decisões acerca da liberação de espécies não- oferecerem alevinos de várias espécies com
introdução de espécies pode ser considerada espécies em ambientes aquáticos nativas para o cultivo. entregas em todo o território nacional, o
como uma forma de poluição biológica, continentais, deve-se considerar um que, fatidicamente, é o primeiro passo para o
portanto com gravidade proporcional à sua complexo cenário, visto que é necessário o Algumas diretrizes deveriam ser crime ambiental. A indústria da alevinagem
abundância no ambiente. A esse respeito é envolvimento de diferentes segmentos da consideradas na liberação de novas espécies vem por décadas estimulando a expansão da
relevante lembrar que o Brasil é signatário sociedade e de uma intensa vontade política ou variedades para o cultivo na aqüicultura. piscicultura, mas com o único intuito de
da Convenção da Biodiversidade, para sua efetividade. É também Um protocolo para o processo decisório garantir o escoamento de sua própria
promulgada como lei pela Presidência da indispensável uma efetiva integração entre acerca de introduções, baseado em produção.
República, portanto com compromissos de os órgãos públicos de fomento à produção e Rosenfield e Mann (c1992), é apresentado
não apenas coibir e fiscalizar as introduções os de controle ambiental, tanto nos níveis abaixo. Ressalta-se que ele é apresentado em Etapa 2 - Segurança no confinamento: a
de espécies, mas também buscar meios de federais e estaduais quanto nos municipais. ordem de pré-requisitos, sendo, portanto, questão da segurança no confinamento
removê-las dos ecossistemas aquáticos. necessário que a análise de um novo item deveria ser condicionante à liberação oficial
Para os reservatórios, corpos receptores das seja considerada se, e apenas se, a avaliação do uso de espécies não-nativas. Entretanto,
Uma política que efetivamente controle o ações que se desenrolam na região de do anterior for positiva. não apenas a localização e a adequação das
ritmo das implantações dos cultivos ou os entorno, é natural que o controle das instalações são imprescindíveis, visto que
disciplinem também é extremamente introduções seja consideravelmente difícil. Etapa 1 - Validade da introdução: para que as inadequações nas práticas de manejo são
necessária, visto que muito do caos Em especial porque a construção desses discussões acerca da introdução ou importantes fontes de introdução.
socioambiental promovido pela atividade empreendimentos estimula o transferência de uma dada espécie sejam Treinamentos, educação ambiental,
deve-se ao estabelecimento indiscriminado desenvolvimento econômico da área e a iniciadas, o ponto de partida deve ser a campanhas de esclarecimento na grande
de estações de aqüicultura. Assim, os ocupação de suas encostas por atividades de validade da iniciativa. Os objetivos devem mídia, compromissos formais com técnicas
problemas com escapes de peixes e liberação cultivo. Introduções deliberadas de peixes ser claros e precisos, a viabilidade social e adequadas e monitoramento da água
de efluentes poluidores serão, sem sombra em reservatórios e áreas contíguas são econômica deve ser indubitável e o grupo efluente são necessários. Na presença de
de dúvidas, os maiores desafios ao atualmente esporádicas e, na maioria das beneficiado adequadamente identificado. alternativas, as espécies não-nativas devem
prosseguimento da aqüicultura nacional a vezes, praticadas de forma clandestina. Dessa ser evitadas.
longo prazo. Sem o reconhecimento de que a maneira, o ingresso de espécies não-nativas é Como já extensivamente discutido, a maioria
atividade de aqüicultura depende feito, principalmente, a partir de escapes de das introduções de peixes no Brasil foi Etapa 3 - Controle sanitário: a disseminação
necessariamente dos ecossistemas naturais tanques ou açudes onde se pratica a justificada de forma vaga (ex: alternativas de doenças e parasitas para os cursos d’água
em que ela se insere, é improvável que a aqüicultura, ou pelo alagamento destes para o cultivo, produção de proteína, pesca), é um fenômeno recorrente no Brasil.
aqüicultura se desenvolva de forma durante a formação de novos reservatórios. não sendo possível entender que fator Quarentenas e controle sanitário rigoroso
446 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 447

das instalações produtoras de alevinos, bem Tomando o amparo da prudência, qualquer princípio deve constar nos códigos de ética Ações emergenciais
como o monitoramento periódico da espécie que tenha histórico de impactos em de todos os profissionais que lidam com a
qualidade sanitária dos efluentes e dos outras localidades deve ser automaticamente produção e com o meio ambiente. Algumas ações emergenciais desenvolvidas
tanques de cultivo, são procedimentos desconsiderada. pelo setor, embora baseadas em dados
necessários e devem estar explicitados em Mortandades de Peixes na Barragem empíricos e, portanto, ainda carentes de
projetos de piscicultura. A ocorrência de Etapa 7 - Pesquisas complementares e explicações, têm-se mostrado promissoras
monitoramento: antes que a espécie seja
moléstias nos peixes dos cursos d’água
próximos ao sistema de cultivo também distribuída na bacia hidrográfica, é
O conhecimento disponível acerca dos na redução da mortalidade de peixes.

mecanismos que levam à mortalidade de


deve ser eventualmente monitorada. necessário que pontos não esclarecidos pela Entre aquelas relacionadas à operação das
peixes em barragens é precário, o que tem
revisão sejam complementados por unidades geradoras e vertedouro destacam-se,
dificultado a tomada de medidas preventivas
Etapa 4 - Potencial de aclimatação e investigações locais específicas. O (i) o retardo no tempo de partida das
pelos técnicos do setor hidrelétrico. Cada
reprodução no ambiente natural: a monitoramento ambiental deve ser parte unidades geradoras; (ii) o retardo no tempo
usina hidrelétrica tem um protocolo de
possibilidade da espécie se aclimatar e integrante do projeto, antes e após a de tomada de carga, mesmo aquelas
operações, elaborado empiricamente, que
reproduzir nos corpos d’água naturais da manipulação das espécies não-nativas, sendo decorrentes de distúrbios de freqüência; (iii)
busca reduzir esse problema. Entretanto,
bacia receptora deve ser motivo suficiente desenvolvido de forma continuada, pelo a abertura gradual e combinada dos
surpresas são freqüentes, tornando falhos
para o veto de uma transferência. Essas são menos na sub-bacia onde os vertedouros e vertimento sempre que as
protocolos que pareciam infalíveis. Cada
características imprescindíveis para que uma empreendimentos de aqüicultura serão condições de oxigenação da água
manobra excepcional, programada ou não, é
espécie se estabeleça de forma irreversível. instalados, ou onde as espécies serão alcançarem valores críticos (abaixo de 4
motivo de grande apreensão.
Ignorar esse fato se constitui em uma ruptura diretamente introduzidas. mg/l). Esses procedimentos são requeridos
relevante com o princípio da precaução e da A precariedade do conhecimento sobre esses especialmente quando grandes cardumes se
ética. Os custos com o monitoramento e a concentrarem nas proximidades da
mecanismos é de tal ordem que sequer
responsabilidade dos impactos com a barragem, o que pressupõe monitoramento
sabemos a origem dos peixes que morrem
Etapa 5 - Avaliação do custo-benefício: caso a manipulação de espécies não-nativas devem, permanente de sua presença e abundância.
(montante, jusante ou ambas), exceto quando
espécie passe pelo crivo das etapas por uma questão ética, ser imputados, na
as mortes ocorrem no tubo de sucção durante
anteriores, passa-se à análise do custo- integra, ao empreendedor do projeto. No Já para a operação de resgate de peixes no tubo
as paradas de máquinas. A determinação da
benefício, ponderando, de forma isenta e caso da aqüicultura, por exemplo, é justo que de sucção e caixa espiral, um procedimento de
causa das injúrias e mortes de peixes na
imparcial, os riscos e os benefícios a opção pelo cultivo de espécies exóticas, rotina na maioria das usinas, é
barragem é uma tarefa complexa, devido ao
ambientais, sociais e econômicos advindos buscando maior lucratividade, seja custeada recomendável (i) treinamento da equipe de
elevado número de fatores envolvidos, às
da introdução. Espera-se que nessa etapa pelo empreendedor, não podendo os custos resgate; (ii) monitoramento, por técnico
interações entre eles e à falta de
ocorra o rompimento com os objetivos ambientais serem cobertos pela sociedade treinado, da quantidade de peixes
especificidade na resposta biológica (ver
puramente econômicos e unilaterais. como um todo. aprisionados (com ecossonda) e níveis de
Capítulo 6.4). Essa complexidade é, no
entanto, motivada pela escassez de estudos oxigênio dissolvido durante as atividades;
Etapa 6 - Revisão detalhada da literatura: A severidade dos impactos causados por uma
sistematizados sobre os processos de (iii) fechamento dos stop-logs imediatamente
embora essa etapa esteja subentendida nas espécie estabelecida sobre a fauna aquática e
mortandade, a despeito da freqüência com após a parada da máquina; (iv) articulação
etapas anteriores, nesse ponto a literatura a impossibilidade de sua remoção, devem
que essas ocorrências são constatadas. precisa das etapas de drenagem com o
deve ser exaustivamente consultada, visando ser motivos suficientes para a aplicação do
progresso dos trabalhos de resgate; (v)
obter informações de problemas registrados princípio da precaução nos processos
Neste tópico são apresentadas algumas ampliação das facilidades (número de
em outras regiões e a tomada de possíveis decisórios sobre introduções e na elaboração
recomendações de procedimentos e estudos pessoas, capturas e transportes) que tornem
medidas preventivas (doenças, de projetos de cultivo confinado de
que devem contribuir para a atenuação do o tempo de resgate e transporte dos peixes o
comportamento, características especiais). organismos aquáticos não-nativos. Este
problema e ampliar seu conhecimento. mais curto possível.
448 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 449

Ações complementares de curto de eventos de mortalidade. Esse 3 - Estudos de deslocamentos locais da áreas de menor risco durante manobras
prazo monitoramento deve compreender: ictiofauna visam identificar rotas de de operação excepcionais (paradas,
aproximação dos peixes e locais de partidas, tomadas de carga) em uma das
Na impossibilidade de decidir acerca das • o monitoramento ictiológico de rotina, concentração, além de indicações sobre a unidades geradoras. Esses dados devem
medidas que evitem o acesso dos peixes ao realizado em estações fixas através origem de eventuais peixes mortos ou também permitir a identificação da
canal de fuga ou tomada d’água, algumas de pescarias experimentais, com machucados. O trabalho deve ser época do ano, do horário do dia e do
ações de curto prazo são recomendadas: cronograma pré-definido e duração realizado preferencialmente com tipo de manobra operacional de maior
determinada pelo completo técnicas de biotelemetria, além de risco.
1 - Criação de uma Comissão Permanente de entendimento do processo. marcações convencionais, envolvendo
Monitoramento da Ictiofauna e trechos a montante, jusante e, se for o Assim, a natureza das manobras na
Operação, composta minimamente pelo • o monitoramento por demanda, levado a caso, escadas de transposição. Implica operação deve ser detalhada pelos
engenheiro responsável pela operação cabo a cada vez que manobras também o mapeamento da circulação da estudos e monitoramento, discutidas
da usina, o biólogo responsável pela extraordinárias, previstas ou não, água nas imediações da barragem, a exaustivamente pela Comissão
gerência de ictiofauna e pesquisadores forem realizadas. Implica registros montante e a jusante. Esses estudos Permanente de Monitoramento da
envolvidos com o tema. O caráter detalhados dos procedimentos devem ser conduzidos antes da decisão Ictiofauna e Operação, considerando-se
multidisciplinar envolvido no operacionais, do número de peixes acerca de instalação de dispositivos que suas implicações ambientais e
entendimento e na solução do problema afetados na unidade de tempo, dos impeçam o acesso dos peixes à tomada financeiras. Além disso, as propostas de
requer interação entre especialistas, e a dados detalhados de necropsias dos d’água ou canal de fuga. operação devem ser negociadas com o
sua complexidade exige uma abordagem indivíduos injuriados. Deve ter a Sistema Interligado Nacional (SIN/
baseada em metodologia científica, visto duração determinada pela duração Ações de médio prazo ONS), visto que, em geral, implicam
que o empirismo baseado em do processo. restrições na utilização dos recursos da
observações pessoais não tem produzido Os resultados obtidos no monitoramento e usina para a estabilidade e atendimento
resultados satisfatórios na maioria dos • o monitoramento do tubo de sucção e estudos devem indicar a melhor opção para às demandas do sistema.
casos. Essa Comissão teria como conduto forçado (caixa espiral) durante atenuar problemas com mortalidade de
atribuição discutir cenários de operação a parada das máquinas deve fornecer peixes na área da barragem. Essas ações Entre as alternativas operacionais a
das usinas e propor procedimentos indicações importantes para a poderão ser de natureza distinta, ou seja, (i) serem consideradas, destacam-se o
alternativos acompanhados de otimização do resgate de peixes. envolver manobras na operacão da controle na abertura de vertedouros, o
avaliações sobre suas implicações na Implica o registro detalhado de barragem, especialmente em determinadas tempo de partida das máquinas, o tempo
geração e no ambiente. Detalharia as todos os procedimentos épocas do ano, e (ii) instalação de barreiras. de abertura das palhetas do distribuidor
estratégias e táticas de monitoramento operacionais, incluindo o tempo (tomada de carga), o estabelecimento de
de paradas programadas ou não, das decorrido desde a parada da 1 - Manobras na operação vazões máximas e mínimas a serem
tomadas de carga, além de avaliar os unidade, fechamento dos stop-logs, turbinadas e/ou vertidas, etc.
dados desse monitoramento. início da operação resgate, além do Os dados do monitoramento e o
número de peixes salvos e conhecimento das rotas de aproximação 2 - Instalações de barreiras
2 - Monitoramento realizado de forma remanescentes por espécie, porte dos peixes nas tomadas d’água, no canal
sistematizada, e sob diferentes condições dos peixes, temperatura e teores de de fuga ou no canal de escoamento dos A instalação de barreiras no canal de
de distúrbios, pode indicar os oxigênio, especificações técnicas dos vertedouros devem subsidiar ações de fuga ou nas imediações da tomada
procedimentos operacionais e seus procedimentos de partida da manipulação da vazão. Em tese, essa d’água, dado seu alto custo e
efeitos sobre os peixes, permitindo a unidade, registros de mortes antes, manipulação das condições hidráulicas a probabilidade de não serem efetivas,
elaboração de modelos úteis na predição durante e após a partida. jusante pode atrair os cardumes para requer estudos prévios. Os dados de
450 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 451

monitoramento e os estudos de Thiago, Furnas Centrais Elétricas, fato de diferentes espécies terem apresentarem boa acuidade visual e
biotelemetria fornecem as bases para informação verbal). respostas distintas. No hemisfério por não sofrer influências do ruído
decisões. Entretanto, aspectos Norte, as guias estruturais produzido na barragem. Entretanto,
específicos da modalidade de barreira • Guias estruturais: são variantes das geralmente apresentam uma apresentam restrições devido às
requererão estudos complementares. grades já existentes em várias distância entre barras de duas variações diárias na luminosidade
usinas, nas quais as barras são polegadas e a velocidade máxima de subaquática, turbidez da água,
As barreiras são alternativas dispostas inclinadas em relação ao aproximação da água é de 60 cm/s, atenuação variável entre os diferen-
tecnológicas utilizadas para impedir fluxo (Figura 8.6), criando condições com as barras dispostas em ângulo de tes comprimentos de ondas e,
(telas), atrair ou repelir (luz, som, hidráulicas específicas para guiar o 45º. principalmente, a variação intra-
corrente elétrica) os peixes através de peixe até um local de menor risco específica na resposta dos peixes ao
estímulos diversos. Podem ser ou que contenham mecanismos Os principais problemas dessas estímulo luminoso (alguns são
classificadas como (i) barreiras físicas, seguros de transposição para o estruturas são os detritos suspensos repelidos, uns atraídos e outros
(ii) guias estruturais, e (iii) guias trecho a jusante. Nesse caso, o peixe na água, que podem obstruir total ou indiferentes). Entre os tipos mais
comportamentais. não é impedido de entrar na parcialmente, requerendo limpezas utilizados de fontes de luz estão a de
tomada d’água, mas responde às freqüentes e manutenção. O acúmulo mercúrio e a estroboscópica
• Barreiras físicas (telas): são condições hidráulicas criadas em de detritos pode alterar de modo (pulsátil), sendo esta última a mais
utilizadas para prevenir a entrada frente das estruturas, movendo-se relevante as condições hidráulicas bem- sucedida na mudança de
de peixes nas tomadas d’água ou a ao longo da turbulência em direção locais e produzir injúrias nos peixes. movimento dos peixes.
sua aproximação em áreas de risco a ao local desejado. O sucesso desse
jusante. Amplamente utilizadas, sua tipo de dispositivo depende da • Guias comportamentais: nessa Som: os estudos realizados com
efetividade depende das condições resposta do peixe às condições modalidade está incluída uma grande barreiras sonoras têm mostrado
hidráulicas locais, do tamanho dos criadas. Isso significa que condições variedade de dispositivos que resultados muito variáveis e,
peixes, do tamanho e tipo da malha hidráulicas variáveis podem tornar empregam estímulos sensoriais para algumas vezes, contraditórios. Essas
utilizada e da presença de detritos e o dispositivo ineficiente, além do obter respostas
troncos em suspensão. comportamentais dos peixes
Existe um grande número que os desviem de áreas de
de variantes das telas risco, e/ou sejam conduzidos
(chapas perfuradas, barras para uma direção desejada.
metálicas, e telas Os peixes podem detectar
propriamente ditas). estímulos luminosos,
Resíduos e troncos são os sonoros, químicos, térmicos
principais problemas destes e de pressão, em limiares, na
dispositivos, que envolvem maioria das vezes, fora da
um alto custo na limpeza e capacidade de detecção do
na manutenção. No Brasil, homem (ESTADOS UNIDOS,
os resultados preliminares 1995).
de uma tela instalada a
jusante do canal de fuga de Luz: barreiras luminosas têm
Figura 8.5 - Barreira física (tela) instalada, em caráter
Manso (Figura 8.5) foram provisório, a jusante do canal de fuga da UHE Manso sido consideradas adequadas Figura 8.6 - Estruturas-guia para peixes tipo cortina
(Fotos: H. São Thiago). pelo fato de muitos peixes (Modificado de SMITH-ROOT, INC., c2000-2005).
promissores (Helena São
452 ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS DO BRASIL Perspectivas Para a Pesca e os Recursos Pesqueiros em Reservatórios 453

barreiras não têm sua eficiência efetivo para trechos largos de rios; Barreiras híbridas: a combinação de para que as respostas possam ser entendidas e
dependente da turbidez e, pelo fato (iii) a susceptibilidade ao campo diferentes tipos de barreiras parece manipuladas, os dados de campo devem ser
do som se propagar rapidamente e elétrico depende da espécie e do ser mais adequada (ESTADOS UNIDOS, corroborados por experimentação controlada
por longas distâncias na água, pode tamanho do peixe (peixes maiores 1995). em laboratório. De outra forma, os resultados
induzir respostas à distância. Além são mais sensíveis); (iv) a corrosão obtidos ficam no âmbito das especulações.
disso, ela é fortemente direcional. dos eletrodos implica Embora amplamente utilizadas no hemisfério
Como aspecto negativo, destaca-se o monitoramento contínuo e Norte, as barreiras comportamentais foram Recomenda-se, portanto, a implantação de
fato de que o excesso de ruídos nas substituição freqüente. pouco testadas, e a maioria dos trabalhos laboratórios especializados,
imediações da barragem foram publicados na literatura não-científica preferencialmente em cada bacia (devido à
(funcionamento das turbinas) pode Cortina de bolhas: ao contrário das e, portanto, não referendada por outros especificidade da ictiofauna). Esses
impedir que o som da barreira seja barreiras elétricas, essa tecnologia é pesquisadores (grey literature), sendo as laboratórios devem realizar testes específicos
ouvido pelos peixes. Elevações em mais aplicada para repelir os peixes conclusões encaradas com sérias reservas. Por acerca das respostas dadas por espécies de
sua intensidade podem afetar os da tomada d’água. Não é aplicável a ser uma alternativa que minimiza gastos e peixes da bacia às diferentes condições
peixes. De qualquer maneira, muitas jusante, em razão da movimentação que concorre com os interesses de lucro das hidráulicas e hidrológicas a que são
espécies de peixes também produzem da água. Entretanto, os resultados indústrias do setor, pouco recurso tem sido submetidos durante a operação da usina
som, embora estes tenham, em geral, obtidos em experimentos revelam investido para seu desenvolvimento (pressão, cisalhamento, supersaturação,
baixa freqüência (até 500Hz). que sua efetividade depende da tecnológico e, portanto, os estudos têm sido turbulência, etc.), bem como sobre a natureza
espécie considerada. O mecanismo realizados em situações metodológicas de suas respostas comportamentais a
Campo elétrico: os testes com pelo qual barreiras desse tipo precárias. estímulos variados.
barreiras elétricas também têm repelem os peixes não é bem
apresentado resultados entendido. Alguns pesquisadores Ações de longo prazo Dado o custo com um laboratório que tenha
contraditórios. Estes demonstram atribuem o fato ao ruído produzido essa missão e considerando que os protocolos
que são pouco eficientes para evitar o pelas bolhas, outros pela Há um consenso entre cientistas e agências de gerados terão interesse para outras
acesso dos peixes à tomada d’água. luminosidade da luz por elas controle ambiental de que o desenvolvimento concessionárias da bacia, é recomendável que
Resultados melhores têm sido refletida. da pesquisa, tanto em relação à manipulação os custos decorrentes de sua implantação e
registrados nos esforços de hidráulica quanto sobre a eficiência das manutenção sejam compartilhados pelas
impedir o acesso dos peixes barreiras, requer uma combinação de estudos companhias hidrelétricas que têm interesse
ao canal de fuga ou canal de laboratório e de campo. Isso decorre da pelo uso do recurso.
do vertedouro (Figura 8.7). atuação de muitas variáveis em trabalhos
Fluxo

Entretanto, alguns aspectos envolvendo organismos vivos em ambientes Como resultado desses estudos e do
não controlados. Por exemplo, vários são os monitoramento proposto, espera-se que ao
o

negativos têm sido citados


ux
Fl

na literatura, ou seja, (i) o casos em que respostas claras a estímulos em final sejam elaborados protocolos de
perigo para outras espécies condições de laboratório não são constatadas operação para uso em situações de rotina e
(aves, mamíferos) que em campo (ESTADOS UNIDOS, 1995). Entretanto, emergenciais em cada usina.
passam pelo campo
elétrico, especialmente a
partir das margens; (ii) o
campo elétrico é restrito Figura 8.7 - Barreira elétrica utilizada para repelir peixes.
entre os dois eletrodos e, Observar que os indivíduos maiores são mais sensíveis
(Modificado de SMITH-ROOT, INC., c2000-2005).
portanto, pode ser pouco
Capítulo 9
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