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Deponho contra ti com um fino fio de silêncio a derramar lento e ininterrupto sobre seus

sentidos. Chamado incômodo, agudo lancinante. Eco revoando ao redor de ouvidos, par de
pesadas asas enegrecendo olhos, tornando ruína, arenosa e dissoluta, toda lembrança.
Deponho contra ti com o retorno a um passado em que os sinais são pontuais e as palavras
significam, e o silêncio escorre sobre as abas dos chapéus dos homens. E assim é para que você
compreenda com que peso os delicados laços caem e desfazem-se, e saiba ainda com que
força lenta e rangente os caminhos levantam-se sob leve tremor de terra e empoeirados
sacodem suas ancas e desmisturam-se, e com que agilidade os muros de hera levantam-se e as
grandes florestas se fecham, e com que exatidão as áridas chapadas esculpem abismos de
pedra onde, lá embaixo, depondo contra ti, corre um fino fio de silêncio, translúcido sobre
opacas pedras.

The hanged man

A ponta dos pés arranhando no espaço

Um pedaço grave de chão

(a impossibilidade de tocar o real)

Enquanto mãos cegas se debatem à caça

(as coisas simples intocáveis)

do fio que suspende o corpo

(a existência e a distância).

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