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Este artigo é resultad o da pesq uisa de Pós-D o utorad o i n titulada “ O í n tim o e
o p úblico n a obra de L ara de L emos”, realizada n a U n iversidade F ederal do Rio
de Ja n eiro, em 2008 / 2009, sob a su pervisão da Professora. D ra. L uiza L obo.
V i n cula-se tam bém ao p rojeto de pesq uisa dese nvolvid o n a U n iversidade de
C axias d o Sul, i n titulad o “ L iteratu ra e gê n ero n o Rio G ra n de d o Sul”.
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D o utora em L etras e d oce n te d o Programa de M estrad o em L etras, C ultu ra e
Regio n alidade, da U n iversidade de C axias d o Sul.
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L ara C ibelli de L em os n asceu em 22 de jul h o de 1925, em Porto A legre / RS,
m u da n d o-se em 1964 para o Rio de Ja n eiro, o n de ai n da reside.
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C o n for me e n trevista co n cedida n o Rio de Ja n eiro, em 14 de ja n eiro de 2009.
De súbito é o susto
estampado no rosto
refletido no espelho
parado na garganta.
Invasores transitam
pelo quarto
desrespeitam o sono
em furor incontido.
Colocam algemas
em pulsos inocentes.
Contra palavras – há muros
contra lamentos, murros.
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Conforme depoimento de Lara de Lemos, em “ O s ângulos da Legalidade por quem
est ava l á. ” D isp o n íve l e m : h t t p : / / www. c l i c r bs. c o m . b r / es p e c i a is / d ive rsos /
popup_legalidade_middle_depoimentos.htm
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Nesse ato, também foram limitados drasticamente os poderes do Congresso Nacional;
ampliadas, significativamente, as atribuições do Poder Executivo que passou a poder
cassar man datos de parlame ntares e realizar ex p urgos na burocracia estatal;
estabeleceram-se fortes controles sobre o Poder Judiciário.
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Às perguntas repetidas,
hipóteses formuladas,
o acusado deve sempre
responder com clareza.
onde aguardará
sentença.
O p o e m a d e l at a a a r b i t r a r i e d a d e d as i n vest igaç õ es q u e
constrangem o interrogado a assumir a culpa por crimes não cometidos,
restando-lhe apenas aguardar a sentença. Com a privação do direito ao
protesto, a culpa passa a ser a única alternativa possível, como se observa
em “Privação de direitos”:
A partir da culpa
(falsa ou verdadeira)
o homem muda o destino
perde direito ao protesto
fica sem beira nem eira
é apenas: o culpado. (p. 19)
Se m p ossibili d a d e d e se d efe n d e r, o h o m e m p e r d e su as
referências, limitando-se a assumir a culpa, seja ela verdadeira ou não.
N esse processo, o ser “fica sem beira nem eira”, ou seja, perde sua
autonomia como sujeito. O poema “Da tortura” remete aos mecanismos
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A partir da culpa
(falsa ou verdadeira)
tortura-se o acusado.
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Destruidora foice
presente nos desastres,
nas pestes, nas grades
de um escuro catre.
Aqui e agora
ela está sempre
à espera. (p. 29)
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T ropeço à toa
no coração
sem asas.
A hora dos
capuzes negros
é a hora mais negra
dos prisioneiros.
Descer às cegas
pelas escadas
apalpando paredes
adivinhando fissuras
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pisando superfícies
escorregadias
de sangue
e urina.
O nde existimos
não há nomes
nem seres.
H á vultos
em portas
entreabertas.
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Somos minados
por discursos
liquefeitos.
H oras infindáveis
nos aguardam
a cada dia.
Donos da incongruência
querem reduzir nossas mentes
à demência. (p. 45)
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Bolsa povoada
de lenços, moedas,
inúteis estojos.
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T iempo sumidero.
El poema chispea
breve relámpago
en las tinieblas.
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Árduo intento
de retener por milenios
el pájaro en su último
vuelo. (p. 55)
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A n ne Frank (1929-1945) foi uma escritora adolescente judia-alemã, que deixou um
diário em que registrou a perseguição nazista que sofreu ao lado de sua família,
durante a Segunda G uerra Mundial, entre outros contos de inspiração pacifista.
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Bergen-Belsen
foi sua sepultura. (p. 57)
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Mario de; G U IMARAE NS, Rafael. Trem de volta: teatro de equipe.
Porto Alegre: Libretos, 2003.
BA U ER, Caroline Silveira. Avenida João Pessoa, 2050 – 3o andar: o D O PS
e a repressão n o Rio G ran de do Sul. I n: W ASSE RM A N , C lau dia;
G U A Z Z E L L I, Cesar Augusto Barcellos. Ditaduras m ilitares na A mérica
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Resumo:
Este artigo analisa Inventário do medo (1997), de Lara
de Lemos, a partir de estudos sobre o regime militar
no Brasil e na América Latina. N essa obra, a escritora
representa esteticamente sua experiência na prisão nos
anos da ditadura militar brasileira, relacionando-a à
experiência de seus contemporâneos, o que confere à
sua poesia um caráter social e universal.
Palavras-chave: poesia brasileira; ditadura militar;
memória.
Abstract:
T his article analyses “Inventário do medo” (1997), by
L a r a d e L e m os, f r o m st u d i es o n t h e m i l i t a ry
dictatorship in Brazil and Latin America. In this work,
the writer represents aesthetically the experience in
prison in the years of Brazilian military dictatorship,
expressing the relation with the experience of her
contemporaries, which gives her poetry a social and
universal character.
Keywords: B razilian poetry; military dictatorsh ip;
memory.
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