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ou Da domesticação
Depois, resolve sentar-se em um banco para acompanhar uma apresentação teatral que
está sendo realizada para crianças e, aos poucos, diminui o ritmo das batidas de pé e
aumenta o tempo entre uma olhada e outra no relógio. O banco no qual se sentou está
localizado na lateral do público de modo que a sua visão frontal é a lateral esquerda de
todos que acompanham ao espetáculo. Visivelmente sua atenção não é para as atrizes e
os atores, mas para as reações do público de crianças: uma menina assustada que agarra
com força os braços da mãe, outra menina que gargalha mesmo depois que a piada já
tinha acabado, um menino elétrico que alterna entre ver o espetáculo e correr pela praça
com passos mal equilibrados, outro menino que recusa o chamado para participar da
cena, uma menina que abre a expressão e aceita o chamado, outro menino que dorme no
colo. Aplausos. É o fim do espetáculo. Ainda à espera de algo ou de alguém, o homem
continua sua caminhada a observar as aglomerações das mesas de bar, as rodas de
fumantes nos gramados, o vai-e-vem dos skatistas, os amassos de casais nos cantos
escuros da praça, os vendedores ambulantes, a ronda policial, os barulhos públicos.
Para. Pega o telefone celular e liga para alguém enquanto bate os pés no chão. Desliga.
De longe, nota uma mulher amarrada num poste.
18/06/21
02/07/21
Do assassinato
Uma mulher
Do encarceramento
Da tortura
Do estupro
Da domesticação
Do trabalho escravo
...
Embora uma das faces mais explícitas da colonialidade seja o uso da violência
para atacar os corpos, ela se revela em uma outra dimensão igualmente assombrosa: o
aniquilamento de diversos princípios explicativos de mundo. Desse modo, a
colonialidade não só opera os corpos pela lógica do terror como também restringe as
possibilidades dos viventes de saída de uma situação em que vivenciam a violência.
Basta atentarmos para as imagens de violência que abrem esse trabalho e fazermos um
exercício de imaginação sobre quais características (étnicas, raciais, de gênero, sexuais,
ideológicas, culturais, religiosas e outras possíveis) teriam esses corpos que
estariam/seriam encarcerados, torturados, estuprados, domesticados e forçados ao
trabalho escravo atualmente em nosso país. Evidente que ne
Isso ocorre pois a colonialidade é fundada sob pactos econômicos e culturais que
afirmam a imagem dos colonizadores eurocristãos. Antonio Bispo dos Santos, o nego
bispo, filósofo e quilombola, nesse sentido, aponta para
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Lixo 01/07
A violência, nesse sentido, é uma via pela qual corpos são gerados e gerenciados pela
lógica do medo, do terror, da privação dos sentidos, do abuso e, no limite, da morte.
meio de ataque pelo qual corpos são operados pela lógica do medo, do terror, da
privação, do abuso e, no limite, da morte. Eis aí uma dimensão do que chamaremos aqui
de colonialidade: o ataque aos corpos pela força da violência.
Basta atentarmos para as situações de violência expressas em cada imagem que abre
esse trabalho e refletir sobre
Basta atentarmos para as imagens que abrem esse trabalho e refletir sobre quais
Pactos
Ataque à matéria
28/07/2021
De saída, Nego Bispo chama a atenção para que o fato de que uma das primeiras
ações dos colonizadores foi restringir as várias autodenominações dos povos originários
daqui apenas ao termo “índio” assim como cunharam o termo “negro” para os diferentes
povos originários de África. Essas restrições impõem sobre esses povos uma
denominação generalizada quebrando as suas identidades com o objetivo de coisificá-
los/desumanizá-los. Reduzindo a diversidade dos povos afro-pindorâmicos aos termos
“índio” e “negro”, os colonizadores estavam domesticando para que diferentes
existências coubessem em seu projeto colonial. Para além dos interesses de exploração
econômica do ocidente europeu, o projeto colonial foi fundado com a finalidade de
projetar a cosmovisão daquele povo sobre os demais. Nego Bispo nos mostra que
documentos oficiais da Igreja Católica chamados de Bulas Papais autorizam
expressamente a invasão, perseguição, captura, submissão dos povos pagãos.
Considerados “inimigos de cristo”, a orientação papal é para que as expedições
ultramarinas deveriam tomar para si suas propriedades e reduzi-los à escravidão
perpétua.
Javé deus disse para o homem: “já que você deu ouvidos à sua
mulher e comeu da árvore cujo fruto eu lhe tinha proibido
comer, maldita seja a terra por sua causa. Enquanto você viver,
você dela se alimentará com fadiga. A terra produzirá para você
espinhos e ervas daninhas, e você comerá a erva dos campos.
Você comerá seu pão com o suor do seu rosto até que volte para
terra, pois dela foi tirado, você é pó e ao pó voltará” (GENESIS
3:17-18)
Para castigar o seu povo pela desobediência, o Deus da Bíblia estabelece uma
relação de cansaço entre eles e a terra. A partir de então, só poderiam se alimentar com
os alimentos produzidos de seu próprio suor. Nessa perspectiva, um dos principais
fundamentos da cosmovisão dos colonizadores é compreender o trabalho como
instrumento de castigo. Desterritorializados do Paraíso por seu próprio criador, o povo
do Deus da Bíblia fica aterrorizado com a relação fatigante com a terra, o que Nego
Bispo chama de Cosmofobia.
Expulsos do Paraíso por seu próprio criador, o povo do Deus da Bíblia fica aterrorizado
com