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owns ‘vida em cena | Ciberlegends Estagdo Transmidia__ Contato CIBERLEGENDA ARevista Editorial Chamadas Submissao de ‘Artigos Modelo de Formatagao Equipe Editorial Indexadores Edigoes Anteriores Relatérios de Transparéncia Estacdo Transmidia POPP hn Unversiade Revista do Programa de Pés-Graduagdio em Comunicasiio Avida em cena: vida-produto, vida-tazer, vida-trabalho, vida-performance Por lana Feldman ‘iafetsman@uol.com.br Subjetividade SIA ‘A Ana tem que performa'”, diz Al8, mardo ® administrador da vide-produto da apresentadora da Record, Ana Hiolrann.~ “Sempre me considerel um produto, Parece cruel, mas & veréade, “Apalavta porder nfo est om nosso dcensrio, A Ana ton que acordar todos os das com sangue nos olhos. Se no odlar 0 concorrente, voce & um fou. Com mao mole, nfo machuca ninguém.Fere, mas nao tit a pessoa do combate’, continua Al, var management de um faturamento de R 290 milhGes por ana (provenientes dos 14 produtos da marca “Ana Hickman’), dos quais 10% fcam como casal, mais RS 300 mi por més, ene salrio da apresentadora e merchandising, segundo apurou a coluna de Monica Bergamo (Folha de Sto Paulo Iustrade, 30, ‘de mao de 2010). [Ana Hickmann, protétipo de uma “subjeividace SA efutura Oprah Winfray do Bras, segunda a meta da dupla, Toi 6 de olhos azuis em um pals de gente parda’, nao sal de casa por menos de RS 40 mil, sou caché por duas horas de presenga de vida-produto em uma festa, Viagem de um amador Em Viajo porque preciso, vlto porque te amo (2008), Ico read movie em primeira pessoa diigido por Karim ‘Ainouz 6 Marcolo Gomes , uma prostuta diz ao geblogo e protagonista José Renato, do qual 6 conhecemos a fembargeda voz que deseja ter ura vide-azer, aquela vida em que “voc mora numa casa, com seu fiho e com seu homem. ~ “Queria ter uma vide-lazer. Queia ter um amor reservado 86 para mim Costurado a part do imagons dacumantais 0 “amadoras’ capladas ao longo de daz anos om cversos suportes © lem diversas vagens ao sertdo nordestino feltas pela dupla de diretores, Vigo porque preciso, voto porque te amo wan proppriiberlegendalida-em-cona wa owns Cwikter be Teslslee) 4 AAvida er cena: | Citerlegenda ‘organza ficionalmente esse material ao construr uma narragao em primeira pessoa, stuada na voz corporiicada {do personagem José Renate. Geslogo, José Renata atravessa, sozinho, um pals-serlao de gente parda, enquanto ‘emi as saudades da mulher deizada, Mas quem debou quem? Quem esta a visjar? Quem au 0 que & passage? “Viajarespanta os devres”, da Giles Deleuze, tlve2 porque, a0 contrario do que a radicao dramatirgica do 108d move nos faz acreitar, nao & 0 deslocamento fisico © geografice que nos faz sir, subjelivamente, do lugar. Movil, em Moby Dick, claéo por Joan Claude Bemardel om seu blog (tto:tjebornardo.blog.uol.com.r),o8 vordadoiros lugares nao estéo no mape. Come esc Navio-auditério e classe média “espontanes Em Pace (2009), desconcertante filme de Marcelo Pedraso, 0 dretor arganiza natrativamente, por mo da ‘montagom, imagons domésicas captadas por passagolros do cruziro Pact, cuj tajoto, de Reco tha do Fernando de Noronha, promste realzaros sonhos de consumo, entrstenimenta e exctagso parmanentes de uma classe média & vantade, “espontanea” © emargente. Performando-se para as suas préprias cémeras, construindo- ‘se para as suas propras imagens, 0s passageios de Pacific, como qualsquer turislas,coleconam e acumulam experiéncias, sonsagses © magens-sintese de uma passagelra vida-azer, adquda a suadas prestagoes do cartio de ero, ‘Que nossos queridas passageiros tenham todos mis um ‘excelente espeticul!” diz. para a platsia de passageiros com fimadoras em punho, o apresentador do navio-aueitrio, onde 80 pode haver tempo morto nom pausa, obsorvagso distanciada hom contamplagio passiva, Na vida-Iazor do navio-austoro que o fime Pacifonos apresenta (de ours ardem daquela desejada Pela prosttuta de Viaia porque preciso, vat porque te amo), 6 preciso ser permanentemente iterative, participative @ eolaboratvo. Poi a videlazer aqul, seja encenada para si, Jencenada para o outro au encenada para nés —ainda que & eee cosucarons docsas agers, qve dobar do nabiaro Ambito da privacade para tomarer-se publelade -, om realdade, 6 uma vda-rabaino. wan proppriiberlegendalida-em-cona ane owns AAvida er cena: | Citerlegenda © show do eu ‘Quando a privacidade torna-se publcitade, quando o lazer torna-se trabalho e quando a via toma-se performance, estamos diante de um investimento biopolio na via, em sua forga plistca, modulivel inesgotivel, ontinuamente destinada 2 ser capturada e escapar, a se adequar e resist, a ser otiizada © {racassar, Se as outora estalais biopollcas, fais com defindas por Michel Foucault em fis dos anos 70, nascem como uma modalidade de poder sobra a vida e de governo da vida, hoje, privatizadae hiper indhidualzada, a bipotia pode ser compreendida como ums forma de gest8o, Instrumentalzagao © modulagdo dos indviduos em meio @ tberdade @ autonoma, Passamos dos disposiivos repressivos aos dispostvos produtvos, da disipina as novas formas de controle, das Vigllncias ds visibiidades, do “Yaga vocb mesmo" ao “mostre-se com for, do “saber fazer" a0 “saber ser’ nas palavras de Deleuze © Gusttan, e, cada vez mais, 20 “saber parecer’. Como verbos hoje inexinncavels, ser @ parecer, isto &, praduzir-se como sueita visivel, nunca fora antes um trabalho to incessante,t8o inesgotdvel para a maria dos mortals, to mal romuncrado esse pernéiuo trabalho voluntarie eja maeda de roca s8o 08 valores agregados & vsiblidade, come vemos na berdade-confinada do navio-aucltério Pacific, espécie de Big Brother em ato mar flmado pelos proprios patlicpantes (e, @ principio, para consumo prépro) fica evidente de que modo a experiéncia de sina conlemporaneidade tem passado por radicais deslocamentos, Segundo Paula Sibia, aulora de O show do eu: @ Jntimidodo como ospetsculo, no ugar daquelas subjetvidades tipicamento modornas, elaboradas no siéncio na solidao do espago privado (um tipo de carater introdigdo), hoje proiferariam de maneira crescente as personaldades aterdirigidas, voltadas no mais para dentro de si, mas para fora, visando a caplacSo dos olhares atelos om um mundo salurado de estimulos vieuais™ Se as subjetivdades conterporaneas parecem entao se ancorar na extariordede, tanto dos eorpes quanto das imagens, isso refletiria, ainda segundo a autora, corto esvaziamento de uma inteiordade psicldgica que, no decorrer da Moderidade,“consitulra o sin em torno do qual as subjetvidades eram defnides, slosarente alcorgadas © laboriosamente ediicadas” Soja por melo de intospectvas ténicas hermensulcas,seja por meio de carlas, dros Intinos @ relatos, tos © sertos no sénco @ na soliédo de quartos privadas, 0 contato com o mundo exterior dava-se pela metafora da Janela —© sua rlagto camo fora de quad -, mals tarde incorperada pelo enema clissico-narratvo Se tante Vajo porque preciso, vlto porque fe ame quanto Pacific iam-se a formas diversas e atuais de relatos de Viagem, Sendo construgbes fcconals amalgamadas a parr de materials documentais (0 prime'ro explctamonte or meio da utilzagao da narragao em off come instdnciaorganizadora das imagens; o segundo implitamente por meio da montagem narrativa do material, desprovida de uma enunciagdo explicit), é porque ambos os fires dlalogam,crtca 9 estoicamente, com um momante histérico em que, segundo André Bras no artgo “Formas do vida na imagen, vve-se 0 real como artic eo artfcio como rea Ejustamente nessa indeterminago entre fegao e documentaio, pessoa e personagem, autenticidade & lencenacto, vda e trabalho, experiénciae representacao, que operam uma série de dispostives comunicacionais © auciovisuais contemporéneos, empennadas tanto em performar certas formas de vide quanto em eviar 0 enfrentamente das contradigbes, ao pretender abol toda distancia, Para esses dspostivos ~ dos reaity shows 208 jphones, dos games 8 TV em 30 -, ndo haveria mas janela, néo haveria mais fra. wan proppriiberlegendalida-em-cona ane

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