Ruas esburacadas Mesmo com praias de boas-vindas E algumas coisas lindas.
Moro em uma cidade de pianos desafinados
Desigualdade por todos os lados Os esforçados pianos públicos desafinam em um Mi de agonia E até os arrumados pianos da burguesia Desafinam em um Lá de realidade em desarmonia
Moro em uma cidade de pianos desafinados
E até, em certo dia, toquei em um hospital Mesmo alegre pelo som dos aplausos O piano eclodia uma rebeldia quase brutal: Além da desafinação em quase toda a sua extensão, era impossível tirar som do dó central. O Dó lembrava do grito silencioso da dor Daqueles aos quais, sem dó, Não foram concedidas condições para se tratar ali mesmo que a dor seja tão universal quanto a condição humana em Si.
Por fim, percebi,
que moro em um piano, que uns teimam em chamar de mundo, cujas cordas foram desafinadamente afinadas em pressões desiguais e que, por vezes, se recusam a rimar. Um piano com algumas esburacadas teclas quebradas em uma bela cidade desafinada.