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Por Bernardo Ricupero . 14.09.10 - 18h23
Duzentos anos de independência
No dia 15 de setembro, o presidente do México, Felipe Calderón, irá até o balcão
do Palácio Nacional e gritará três vezes para a multidão reunida na gigantesca
praça do Zócalo: “Viva México!”. Recordará, assim, o que teria feito o padre
Miguel Hidalgo há duzentos anos no povoado nortista de Dolores, marco do início
do processo de independência do país.
Na verdade, o “grito de Dolores” não foi dado no dia 15 de setembro, mas na
madrugada do dia 16 – nem o padre Hidalgo exclamou “Viva México!”, mas “Muera el
mal gobierno!”. O “Viva México!” é uma fórmula posterior, elaborada para dotar
de legitimidade o esforço de criar, no território do antigo Vice Reinado da Nova
Espanha, uma nova nação que foi chamada de México.
O caso do México não é mesmo muito original. Ao contrário, é bastante revelador
de como os processos de independência das ex-colônias da Espanha e de Portugal
na América seguiram basicamente o mesmo caminho. Ironicamente, foram
principalmente fatores externos a elas, em especial a Revolução Industrial e a
invasão da Península Ibérica por tropas napoleônicas, que conduziram à separação
das antigas metrópoles europeias.
Em outras palavras, é possível afirmar que o fim do Antigo Regime se deu dos
dois lados do Atlântico, o que pode ser chamado de Revolução Atlântica, tendo
inclusive se iniciado, em 1776, na América. Mais especificamente, nas possessões
espanholas e portuguesas da América, a abertura dos portos, a criação de juntas
de governo fiéis ao rei espanhol Fernando VII, preso na França, e a
transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro levaram quase
irreversivelmente à independência.
Até porque essas iniciativas encontraram no Novo Mundo um terreno preparado por
três séculos de colonização, em que já se tinham desenvolvido interesses e todo
um modo de vida americano. Em outras palavras, depois de garantida autonomia
para os colonos americanos era difícil voltar atrás, como desejaram fazer
Espanha e Portugal.
Em contrapartida, as diversas identidades nacionais latino-americanas não
surgiram automaticamente com a independência. Ao contrário, as identidades que
prevalecem na colônia foram as de espanhol, português, espanhol-americano,
português-americano, americano, rioplatense, baienenses etc. Não por acaso, o
poder que emerge com a independência não contava com grande legitimidade, sendo
então comum predominar não a lealdade à nação, mas o espírito local de cada
vila, cidade e província. Num quadro como esse, a nação foi estabelecida a duras
penas.
Particularmente complicado foi o processo de formação da nação argentina. Sinal
disso é que a primeira Junta de Governo, que ocupou, em 1810, o espaço deixado
vago pela metrópole espanhola, convocou as aldeias e cidades do Rio da Prata e
não um suposto povo argentino. Sintomaticamente, o termo usado para se referir a
essas antigas colônias foi Províncias Unidas do Rio da Prata, o que sugere, a
exemplo dos Estados Unidos da América, não mais que um arranjo institucional.
Até o início do século 19, “argentina” era somente uma alusão à hinterlândia do
porto de Buenos Aires. Só em 1827, quando foi sancionada uma Constituição que
nunca entrou em vigor, é que surge a combinação que perdura até hoje: República
Argentina.
Mesmo no Brasil, apesar da sensação disseminada que nossa unidade é um dado da
realidade, a identidade nacional teve que ser criada a muito custo. Durante a
colônia, a palavra“Brasil”, muitas vezes no plural, era utilizada simplesmente
como um termo genérico para fazer referência ao conjunto das colônias
portuguesas na América. Mesmo um pouco antes da independência, o futuro regente
do Império, o padre Diogo Feijó, afirmou nas Cortes de Lisboa: “não somos
deputados do Brasil (…) porque cada província se governa hoje
independentemente.”
Só em meados do século 19, foi assegurado o domínio do poder central, instalado
no Rio de Janeiro e herdeiro da metrópole portuguesa. Para tanto, se contou com
o café, que de terras fluminenses se tornava então nosso principal item de
exportação, e com o Partido Conservador, que da mesma província dava a direção
política ao Segundo Reinado. De maneira complementar, se mobilizou uma certa
historiografia e uma certa literatura românticas para se difundir a imagem da
unidade e mestiçagem brasileiras.
Voltando ao México, é significativo como diferentes presidentes acrescentaram ao
“Viva México!” suas proclamações preferidas: Luiz Echeverria tendo gritado, nos
anos 1970, “Vivan los pueblos del Tercer Mundo!”, e, mais recentemente, Vicente
Fox tendo preferido bradar: “Viva la democracia!” Ou seja, assim como o “Viva
México!” foi uma fórmula criada para servir a certos propósitos políticos,
outras proclamações continuam a ser mobilizadas de acordo com as necessidades
políticas que surgem.
Em termos ainda mais fortes, os presidentes da Venezuela, Bolívia e Equador –
respectivamente, Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa – proclamam buscar a
refundação de suas nações. Isto é, sugerem como que voltar ao momento da
independência para corrigir um curso nacional que teria se perdido ao longo da
história. Chávez afirma desejar voltar quase literalmente à trilha indicada por
Simón Bolívar. Já Morales e Correa parecem desejar dar uma orientação oposta à
da fundação de suas nações, que deixou de fora as maiorias das populações,
indígenasou mestiças.
Mesmo em casos em que o apelo à “refundação” não aparece diretamente, como no
Brasil de Lula, pode-se associar muito da força do governo à sua identificação
com as maiorias da população. Ou melhor, em países onde a nação esteve quase
sempre dissociada do povo, o apelo às massas populares parece quase
irresistível.
VEJA MAIS SOBRE ESTE COLUNISTA Avalie: 2 Votos Comente (1) Envie por
e-mail Compartilhe: Comentárioscarlos augusto castro 14.09.2010
e muito bomCaro leitor, seja educado em seu comentário. O Yahoo! reserva-se o
direito de não publicar comentários de conteúdo difamatório e ofensivo. Todas as
informações aqui veiculadas são de responsabilidade de seus autores e não
expressam a opinião do Yahoo! em relação aos temas em debate.

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