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Brasil e Portugal
vistos desde as cidades
Brasil e Portugal
vistos desde as cidades
As cidades vistas desde o seu centro
S764b
Editora afiliada:
Este livro relaciona-se com a obra anterior, organizada por nós e publi-
cada pelo CENTRO DE ESTUDOS DE GEOGRAFIA E ORDENAMENTO DO
TERRITÓRIO (CEGOT), em 2014, intitulada A NOVA VIDA DO VELHO
CENTRO NAS CIDADES PORTUGUESAS E BRASILEIRAS , guardando, em
relação a ela, continuidades e descontinuidades.
As continuidades podem ser observadas em vários planos, entre os
quais destacamos dois: parte dos autores que ofereceram contribuições no
primeiro livro está presente neste, oferecendo novos textos ou reconfigu-
rando os anteriores à luz da proposta atual; e o centro das cidades conti-
nua a ter papel estrutural na organização da obra, visto que as cidades são
tomadas em relação a essas áreas tão importantes para a compreensão dos
processos de conformação e estruturação espaciais dos espaços urbanos,
desde sempre.
Sobre as descontinuidades, queremos frisar três: houve ampliação do
escopo analítico do tema central, uma vez que, neste livro, trabalhamos não
apenas com a escala das cidades, mas buscamos enriquecer o enfoque tra-
tando também da escala da rede urbana; por essa razão e por outras, novos
autores entram em cena, ampliando as vozes segundo as quais podemos
fazer leituras sobre o urbano e a cidade no período contemporâneo; se o pri-
meiro livro foi editado em papel, com capa e encadernação que valorizaram
a obra, este é apresentado ao público digitalmente, sob a forma de e-book,
com acesso totalmente livre, com a nossa expectativa que alcance, assim,
mais leitores, situados nos mais diversos pontos do planeta.
Assim, neste livro, retomamos a perspectiva analítica para o “velho cen-
tro”, na compreensão de percursos recentes, desiguais, mas quase sempre
marcados por alterações significativas, no que se pode configurar como
(mais) uma “nova vida” de uma área essencial à cidade. Além disso, vários
autores refletem a respeito da cidade e dos sistemas urbanos desde a pers-
pectiva de centro de cidade, cidade e espaço metropolitano.
A razão que nos orientou antes e que, agora, continua a dar sentido a
este livro é fortemente apoiada na ideia de pluralidade. Ela se manifesta nos
enfoques analíticos, nos recortes temáticos e territoriais, nas escalas geográ-
ficas de tratamento deles, nos fundamentos teóricos e de método, nas for-
mas de expressão e comunicação dos autores, em suas origens institucionais
e nacionais.
Assim, um pouco parecido com a obra anterior e, ao mesmo tempo, bem
diferente dela, mantém-se o espírito que orientou a organização do livro
anterior; por isso, muito do que se frisou na primeira introdução cabe ser
retomado aqui, com destaque para o convite feito pelo excerto que se segue,
pois, a partir dele, muitas pontes podem ser feitas entre cidades imaginárias
e cidades reais.
Há sempre pelo menos duas formas de se poder ver uma cidade, Des-
pina ou outra, porventura opostas, talvez complementares, porventura
conflitantes. Os locais, as culturas e os anseios que estão por detrás de quem
vê promovem modos diversos de a considerar. Esses olhares, o “nosso” e os
dos “outros”, só podem enriquecer a compreensão do que vemos e vivemos.
Por isso se reúnem aqui vários olhares. Olhares que juntam os dois lados
do Atlântico, num falar português, em que se cruzam e se distinguem signi-
ficativas diferenças, não apenas por uma leitura portuguesa e europeia, ou
brasileira e latino-americana, mas sobretudo pelos desiguais percursos de
cada autor e, sobretudo, como já destacamos, pelas diversas inscrições teó-
ricas e formas várias de abordagem que só podem ser contrárias ao mono-
litismo de uma determinada inserção coletiva em escola, linha restrita de
pensamento ou reverência a um qualquer grupo limitado de autores.
É natural que o olhar pode ser diferente, mesmo que o objeto seja o
mesmo – centro da cidade e cidades na rede urbana. O centro é diferente
em cada cidade, convivendo aspectos comuns (poucos, ainda que impor-
tantes), com muitos mais que conferem singularidade a cada caso. São
tratadas cidades de dimensão desigual, situadas em contextos regionais
diferentes que, podendo refletir aproximações marcadas pelos processos
de internacionalização e globalização (da economia, da sociedade, da cul-
tura, da arquitetura e até do urbanismo) e modos diversos de desigualdade
e diversidade, todavia refletem de forma especial a articulação que estabe-
lecem com outras cidades, a “sua” região e o mundo. Além disso, cada um
expressa também uma mais ou menos longa história, com diferentes ritmos
de transformação e o modo diferenciado como se revestiu – e reveste – a
ação dos agentes de transformação quando procuraram promover os seus
interesses particulares ou grupais, ou dar cumprimento ao que entendem
ser os desejos e expectativas coletivos.
Da mesma forma são diversos os modos como nesses dois países – Bra-
sil e Portugal – as cidades centralizam fluxos e possibilitam interações
espaciais, no âmbito de redes ou sistemas urbanos que, também, estão
se tornando progressivamente mais complexos em face dos processos de
internacionalização e globalização, bem como em decorrência das formas
como se combinam tempos nas constituições deles: diacronia e sincronia,
sucessão e coexistência, compondo múltiplos modos de ver o espaço como
“acumulação desigual dos tempos”, conforme propôs Milton Santos, num
2 Inclusive os estudos comparativos que realizei entre Salvador e Recife (2004), Salvador e São
Paulo (2006) e Salvador e Rio de Janeiro (2014).
3 Belém tinha 61.967 habitantes em 1872, 50.064 em 1890 e 96.560 em 1900. Os dados para
Manaus para as mesmas datas são 29.334, 38.720 e 50.300 habitantes (IBGE, 2010). Deve
ser destacado que todos os dados populacionais referem-se aos territórios municipais.
4 31.804 habitantes em 1872, 29.308 habitantes em 1890 e 36.798 em 1900.
10 Ele foi responsável pela construção da primeira ferrovia do Brasil, que ia de um porto na baía
de Guanabara até a cidade de Petrópolis. Em 1881 foi decretada a falência de Mauá.
11 Segundo Abreu (1987), o Rio de Janeiro foi a quinta cidade no mundo a ter esse serviço.
12 Ver Andreata (2006).
18 Em 1930 não foi realizado o censo federal devido à crise econômica e à Revolução de 1930.
Conclusões
Referências bibliográficas
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Augusto Gerardo Teles Ferreira.
Fonte: Ferreira, Augusto Gerardo Teles (1992, 1.ed. 1892). Edição Comemorativa do 1o Centenário da
Carta Topographica da Cidade do Porto. Porto: Arquivo Histórico, Câmara Municipal do Porto.
menores, esse novo centro é marcado pela importância social do café (um
dos quais muitas vezes dito “central”), pelas lojas e ainda os prédios da
administração pública, dispostos num eixo que passa de simples estrada a
rua principal com grande trânsito e elevada densidade de estabelecimentos,
como em Penafiel e Matosinhos.
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Porto: CEGOT, 2013, p.13-29.
5 Há extensa bibliografia sobre o tema – que não vai ser desenvolvido neste texto –, em que
pese sua importância para se compreender a multiplicação e a redefinição da centralidade.
Para conhecer diferentes perspectivas sobre tais processos, ver o número temático “Urbani-
zação difusa e cidade dispersa” da revista CIDADES, n.21, do Grupo de Estudos urbanos
(GEU), em: <http://revista.fct.unesp.br/index.php/revistacidades/issue/view/285/
showToc>. Para o Norte de Portugal, veja-se Domingues (2009).
A dimensão geométrica
A dimensão funcional
A dimensão simbólica
2. Caminhos do centro
9 Amaral (1968) sugere a aplicação dos lucros do negócio do café de Angola, pelo menos entre
1948 e 1957, na construção urbana de bairros novos de Luanda e mesmo de Lisboa.
11 Adotamos, em várias passagens deste texto, essa expressão genérica – “separação socioespa-
cial” – para fazer referência a múltiplos processos que poderiam ser compreendidos por meio
de conceitos importantes na pesquisa urbana: segregação, fragmentação, estigma territorial
etc. Como não é possível fazer esse debate no âmbito deste texto, optamos pelo uso de termo
amplo que abarca todas as tendências de afastamento e segmentação de natureza socioespa-
cial e política.
12 Num esforço de ampliar a proposta de reestruturação urbana, nos termos propostos por Soja
(1993), bem como de articulá-la ao par Economia Política da Urbanização e Economia Polí-
tica da Cidade, oferecido por Santos (1994), temos trabalhado com a ideia de estruturação
urbana e estruturação da cidade, para distinguir mudanças nos papéis e conteúdos (urbana)
das alterações nos espaços, no que diz respeito às formas de seu uso e articulação entre elas
(da cidade). A adoção do substantivo reestruturação fica reservada para os momentos em
que é profundo e complexo o conjunto de transformações nessas estruturas. Para ampliar a
análise, ver Sposito (1996; 2005; 2007).
13 Os dois exemplos não são casuais. Brasília tem plano e estrutura urbanos muito particulares,
sob forte controle de planejamento urbano e controle de zoning. Curitiba conhece, desde
1970, várias intervenções que, malgrado virem acompanhadas de iniciativas de city marke-
ting, trouxeram avanços em termos de transporte coletivo e valorização do centro principal.
Sobre essa cidade e suas políticas de deslocamento urbano ver, entre outros, Rogers (1998).
14 O “grandes” é adotado, aqui, apenas para distinguir os empreendimentos que promovem
grande impacto nos processos de estruturação urbana; os “pequenos”, que sequer atendem
os parâmetros definidos para reconhecer um espaço comercial e de serviços como shopping
center, adotam essa nomenclatura no intuito de atingirem o prestígio social dos primeiros.
Há vários deles que não passam de pequenos aglomerados de estabelecimentos voltados a
atender demandas imediatas de suas vizinhanças, são semiabertos, como pequenas galerias
ters são capazes de mobilizar consumidores dos quatro cantos dos espaços
urbanos em que se inserem e, mais que isso, atrair outros tantos que se des-
locam em escala interurbana, rompendo com a lógica tradicional de locali-
zação das funções centrais baseada no nível hierárquico e na distância.
Pensamos hoje que a duplicação do centro a que se assiste, nas últimas
décadas, em muitas cidades do mundo, corresponde a uma fase de transi-
ção para a situação de centralidades múltiplas ou de policentralidade. De
fato, sensivelmente ao mesmo tempo que o comércio e os serviços se dis-
persam em vias, tanto as que antes eram residenciais, quanto em novos
eixos resultados da expansão urbana, produzindo novas centralidades, sur-
gem outras, por vezes especializadas, como são os parques de escritórios ou
de empresas, as grandes superfícies comerciais e os parques de diversões
e outros espaços de lazer. Bairros antigos foram apropriados pela econo-
mia cultural ou criativa, que muitas vezes se interliga com a economia da
noite, outros especializaram-se na oferta turística explorando o patrimônio
construído e a nostalgia da autenticidade, sobretudo no caso europeu. Por
isso tornou-se difícil, senão impossível, identificar o centro nas metrópo-
les contemporâneas que ocupam vastos territórios e apresentam estruturas
muito complexas de centralidades múltiplas que polarizam grande volume
de deslocamentos.
Os diversos centros constituem então uma rede de centralidades ligadas
por fluxos de várias ordens. No caso dos centros de comércio, eles oferecem
um leque variado de escolhas aos consumidores que frequentam os vários
centros em diferentes ocasiões e por motivos diversos, tendo-se perdido a
característica de fidelização e de exclusividade de lojas e áreas de mercado
marcadas pela distância e acessibilidade.
De fato, em termos gerais, é possível afirmar que houve a passagem de
uma cidade mono ou multicêntrica para a composição de espaços urbanos
que ocupam uma face de quadra e não contam com efetivas áreas de estacionamento e/ou
sistemas de segurança próprios. “A Abrasce considera shopping center os empreendimentos
com Área Bruta Locável (ABL), normalmente, superior a cinco mil m², formados por
diversas unidades comerciais, com administração única e centralizada, que pratica aluguel
fixo e percentual. Na maioria das vezes, dispõe de lojas âncoras e vagas de estacionamento
compatível com a legislação da região onde está instalado.” (Fonte: <http://www.portal-
doshopping.com.br/sobreosetor.asp?codAreaMae=10&codArea=60&codConteudo=1&
NomArea=>).
que haja essa distinção é importante frisar que, nas cidades, uma tendência
sempre se combina à outra, mesmo que contraditoriamente, fazendo sur-
gir uma multi(poli)centralidade15 que, em cada país, região ou cidade vai se
manifestar segundo uma infinidade de combinações possíveis, que respon-
dem ao resultado da história e às formas como diferentes agentes se arti-
culam ou entram em tensão, com maior presença do papel importante do
poder público, que não tem o mesmo peso e as mesmas formas de atuação
em todas as sociedades.
Lefebvre (1983, p.125-126, grifos do autor), referindo-se ao fenômeno
urbano, faz referência à centralidade e à:
O avanço do centro para novas áreas tem acarretado o declínio das que
são libertadas e abandonadas. Muitos bairros encerrados pelas muralhas
medievais dos castelos, no caso de várias cidades europeias, desapareceram
15 Uma análise mais ampla desse processo pode ser vista em Sposito (1999).
uma elite global de super-ricos e pela atração exercida pelas grandes mar-
cas, associadas às grifes internacionais. Já a vitalidade das ruas comerciais
do centro decorre mais de fenômenos geracionais e culturais do que pro-
priamente econômicos.
Nas avenidas de comércio de luxo (Carreras; Pacheco, 2009; Rosa,
2010) onde se encontram as casas das grandes marcas da moda internacio-
nal (avenida da Liberdade em Lisboa; Paseo de Gracia em Barcelona; rua
Ortega y Gasset, em Madrid; rue Saint Honoré ou Avenue Montaigne, em
Paris; rua Oscar Freire, em São Paulo), os clientes são muitas vezes turistas
estrangeiros, principalmente angolanos, russos e chineses, no caso de Lis-
boa; japoneses e chineses no caso de Paris; ou ainda moradores de outras
cidades, para os quais o comércio de marcas só é acessível na grande metró-
pole, como é o caso de São Paulo.
As ruas comerciais são dominadas por lojas de franquia e cadeias nacio-
nais e estrangeiras. Os magazines podem coexistir com pequenos e médios
centros comerciais e surgem âncoras fortes que tanto podem ser uma livra-
ria, como a FNAC, uma gelateria ou unidades de grandes redes de con-
fecções internacionais, como a estadunidense C&A, a sueca H&M ou a
espanhola Zara.
As áreas de lazer desdobram-se entre novos equipamentos de cultura
(museus, aquários, salas de concertos) com forte conteúdo simbólico, zonas
variadas de diversões, bares e restaurantes, preexistentes, mas renovados
ou criados de novo.
Um caso particular, no qual produção e consumo se combinam, é dado
pelos bairros culturais e criativos com diferentes configurações e localiza-
ções, mas sempre definidos pela concentração de atividades ligadas às artes,
ao design, à moda, à música, ao vídeo e à comunicação, que atraem também
restaurantes, bares e discotecas com ambientes mais ou menos alternativos.
Na Geografia, é provavelmente Scott (1997) quem primeiro estuda bair-
ros emergentes com atividades culturais e criativas. Hall (2000) foi tam-
bém sensível à importância que a cultura começava a assumir na economia
urbana de cidades que achavam que se podiam resolver todos os problemas
de armazéns e fábricas fechados. Noutra perspectiva, Lipovetsky e Serroy
(2008, p.21) ajudam a compreender a ligação entre cultura e consumo ao
teorizarem sobre a “cultura-mundo”, marcada pela grande diversidade das
experiências consumistas e, ao mesmo tempo, um cotidiano particularizado
4. Fatores e Desafios
Fatores de contexto
vez daquele dos bens e serviços que os suportam. Também Bourdin (2005,
p.49-51) sublinha o papel do consumo como instrumento de distinção que,
ao ser central à experiência contemporânea, transforma a relação entre a
cidade e o próprio consumo.
Depois de uma época de generalização do acesso a bens de consumo de
massa relativamente igualitários, assistiu-se a um aumento da complexi-
dade social, com maior diferenciação de pessoas e grupos. Surgiram novas
profissões que não possuíam estatuto social, o qual foi construído por meio
de processos de consumo (Hall, 1998, p.90). Formaram-se novas elites,
novos grupos sociais, ricos em outras formas de capital que não necessa-
riamente o econômico, que recorrem ao consumo cultural como forma de
reconhecimento e de identificação individual e do grupo. Tal como a alta
cultura era apanágio das classes altas, o consumo cultural contribui para um
processo de identificação de grupos entre jovens profissionais, sendo incor-
porado às aspirações que integram os processos de mobilidade ascendente
(Miles; Miles, 2004, p.51).
A nova Geografia Cultural tem sublinhado a estetização da vida coti-
diana e do espaço de vida pelo cultivo do gosto e pelo desenvolvimento da
predisposição estética dos indivíduos – que ganha maior possibilidade de con-
cretização e, portanto, maior visibilidade em sociedades de relativa abun-
dância (Featherstone, 1992; Ley, 2003). Warhol elevou as latas da sopa
mais popular nos EUA a status de objeto digno de ser representado pela
pintura. Na sequência de Bourdieu, Ley (2003, p.2530), evocando a dis-
posição que transforma os materiais ordinários em objetos com valor, sub-
linha que nada é mais distinto do que a capacidade para conferir estatuto
estético a objetos comuns. No entanto, a capacidade para apreciar e reco-
nhecer esse valor requer conhecimento e cultura, pois a apropriação do
objeto serve de sinal de distinção no espaço social da cultura urbana.
O processo de consumo transformou-se num ato social, uma atividade
de produção e reprodução de sentidos e códigos, numa transação simbó-
lica (Baudrillard, 1975; Featherstone, 1991) em que intervêm estratos das
novas classes médias burguesas e indivíduos com elevado capital cultu-
ral. No quadro da sociedade do hiperconsumo há consumidores que já não
estão pressionados pela necessidade de mostrar sinais de estatuto, mas bus-
cam no consumo experiências emocionais, bem-estar, qualidade de vida,
saúde, autenticidade (Lipovetsky, 2006).
As políticas públicas
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Rosa Moura2
As maiores cidades então eram São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto
Alegre, Salvador e Belo Horizonte, todas com mais de 500 mil habitantes.
Em 1872, quando ocorreu o primeiro recenseamento no país, apenas Rio
de Janeiro, Salvador e Recife tinham mais de 100 mil habitantes, enquanto
São Paulo, na décima posição, tinha pouco mais de 30 mil habitantes. San-
tos (1967) sublinha que, até os anos 1930, a urbanização era uma herança
da colonização (exceto poucas cidades criadas), com maior importância das
cidades litorâneas que serviam ao perfil de uma economia de produção e
comercialização voltada ao estrangeiro, com um urbanismo que refletia a
condição de dependência da economia nacional. Limitações nos transpor-
tes e comunicações dificultavam tanto a conformação de uma rede urbana
como a consolidação de uma metrópole nacional. Na década de 1940, já
se pode prenunciar o estabelecimento de uma “rede brasileira de cidades,
com uma hierarquia nacional” (Santos, 1967, p.82), ou seja, uma urbani-
zação que avança de leste para oeste, ligada à industrialização e à confor-
mação de um mercado interno, aos transportes e à elevação geral no nível
de vida do interior do país – mas com resultados distintos em cada região,
em função “das condições históricas e das possibilidades de mudanças que
se criaram” (p.82).
Articulações sul-americanas
Algumas conclusões
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Teresa Sá Marques1
Miguel Saraiva2
1. Introdução
2009; Marques, 2016; Dühr, 2005; Schmitt, 2013). Apesar de não pode-
rem ser consideradas mutuamente exclusivas, não parece haver contudo
uma correlação entre o grau de policentrismo funcional e o grau de interde-
pendência espacial, e por isso devem ser tratados como aspectos distintos
da organização espacial das regiões (Burger et al., 2014; Burger; Meijers,
2012). Mesmo assim, talvez pela dificuldade de recolha, mapeamento e
análise de informação qualitativa respeitante aos fluxos entre centros urba-
nos, ou pela dificuldade de definir limites entre estes (algo mais fácil de
fazer morfológica que funcionalmente) (Hall, 2007; 2009), ou pela sim-
ples relutância em quebrar com as estruturas existentes, a abordagem física
continua a ser privilegiada nos sistemas de planejamento em detrimento
da abordagem funcional (Marques, 2016). Isso, mesmo que aquela prove
estar associada a ligações inter-regionais mais fracas (embora possa estar
positivamente associada à especialização setorial de centros de tamanho
mais pequeno) (Hall, 2009) e mesmo que a sua aplicação no planejamento
territorial seja hoje meramente instrumental, baseada em medidas reducio-
nistas (ex. fluxos casa-trabalho), com o objetivo de subdividir o território
em unidades menores e atribuir funções diferenciadas aos centros urbanos
(Marques, 2016). De acordo com a autora, essa abordagem exclusivamente
morfológica é positivista, de natureza estática, associada a ordenações ter-
ritoriais que não enquadram a realidade dinâmica das interdependências
sociais e territoriais.
Contudo, essa tendência está se invertendo. Descrevendo o exemplo
americano, Ghorra-Gobin (2007) recorda que o policentrismo está enrai-
zado na política institucional e na cultura histórica do país, não necessa-
riamente num padrão espacial coerente. De fato, a literatura europeia tem
defendido que a proximidade não implica necessariamente forte ligação
funcional (Burger et al., 2014), embora obviamente isso possa ocorrer (por
exemplo relativamente a atividades do conhecimento – ver Muñiz; Gar-
cia-López, 2010). Portanto os parceiros territoriais devem ser escolhidos
pela relevância e não pela distância (Groth; Smidt-Jensen, 2007), a fun-
ção e não o tamanho deve hierarquizar os centros (Gløersen, 2007) e deve
mover-se para uma visão que tenha muito mais em atenção as redes do que
os polos urbanos per si (Cattan, 2007). Isso porque os sistemas urbanos já
não devem ser vistos tanto como estruturas físicas ou administrativas (Hall,
2009), mas essencialmente como “espaços de fluxos” (Castells, 2006) de
4. A experiência portuguesa3
3 Teresa Sá Marques foi responsável pelos estudos e a concepção dos Sistemas Urbanos Regio-
nais dos Planos Regionais de Ordenamento do Território (PROT) da Região do Oeste e Vale
do Tejo, da Região do Alentejo, da Região Centro e em coautoria da Região do Norte.
Educação e Formação
Saúde
Figura 4: Montagem nacional dos seis modelos territoriais construídos no âmbito dos seis
Planos Regionais de Ordenamento do Território (PROT).
Fonte: PROT Norte, PROT Centro, PROT OVT, PROT AML, PROT Alentejo, PROT Algarve.
4 Essa reflexão foi construída por Teresa Sá Marques para a elaboração dos PROT da Região
do Oeste e Vale do Tejo, da Região do Alentejo e da Região Centro e adaptada a cada região.
Na Região Norte só foi parcialmente aplicada.
– Subsistemas urbanos
Referências bibliográfias
1 Este artigo foi produzido a partir das pesquisas que estão sendo levadas a cabo a partir do
Projeto temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp) Lógicas econômicas e práticas espaciais contemporâneas: Cidades médias e consumo
(Processo n°201553/2011) (Sposito, 2011b).
2 Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências e Tecnologia, Câmpus Pre-
sidente Prudente. E-mail: e.s.melazzo@gmail.com.
que será explicitada a seguir, toma-se como referência neste texto o período
iniciado no ano de 2003, tendo como referência o primeiro mandato do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, mais especificamente, o Programa
habitacional Minha Casa Minha Vida, a partir do ano de 2009.
Entretanto, não há como desconsiderar que a força das citadas trans-
formações não tem alterado um dos mais constantes e perversos marcado-
res do conjunto das características da produção e do consumo no espaço
urbano no Brasil: as profundas, já seculares e abrangentes desigualdades
socioespaciais. Mais que isso, em suas diversas resultantes espaciais con-
cretas, parecem hoje tendencialmente sinalizar seu aprofundamento, como
será argumentado (Melazzo, 2007; 2010; 2015)
Paradoxamente (ou não?), a recente redução de desigualdades socioeco-
nômicas, captadas por indicadores diversos – dentre eles o índice de Gini
que cai sistematicamente de 0,555 para 0,495 entre 2004 e 2013, de acordo
com o IBGE (Brasil, 2014) –, veio acompanhada de perto de uma notável
ampliação das desigualdades socioespaciais, notadamente em suas cidades,
de acordo com as ideias a serem aqui expostas, repondo em outro terreno,
mais movediço e instável, a urgente necessidade de interpretações abrangen-
tes, rigorosas e renovadas que teoricamente dariam conta de tais processos.
Ou seja, a rodada mais recente de crescimento econômico, situada entre
os anos de 2003-2004 e 2014-2015, com expansão da renda dos segmen-
tos da base da pirâmide social, com aumentos reais (sistematicamente acima
da inflação) do salário mínimo, com expansão dos recursos disponíveis
para investimentos em infraestruturas urbanas básicas (como as de sanea-
mento e mobilidade), forte ênfase na expansão de serviços públicos como
os do ensino superior e a saúde e tendo uma de suas faces mais notáveis
com a mobilização de recursos monetários em volumes inéditos para a polí-
tica habitacional (Mercadante, 2010; Maricato, 2011; Brasil, 2014; dentre
outros), parece não ter abalado com força suficiente os mecanismos reite-
rados que se encontram enraizados nos modos, estratégias e operações pró-
prios de se fazer a cidade, de viver na cidade e de se viver a cidade brasileira.
Assim, a citada conjuntura não deixa de articular os movimentos mais
amplos de diversas temporalidades, seja pelo lento desenrolar das mutações
do capitalismo logo em princípios dos anos 1970, com o início do padrão
dólar como moeda mundial, as sucessivas ondas de reestruturação produ-
tiva-tecnológica, dos mercados de trabalho e de introjeção das ferramentas
3 Todos os dados aqui utilizados foram obtidos junto ao Ministério das Cidades com base em
Pesquisa coordenada pelo autor “Trajetórias do mercado imobiliário nas cidades de Marilia
e Presidente Prudente – SP, 1995-2012. A produção imobiliária do PMCMV, seus agentes
e a diferenciação e desigualdades socioespaciais intraurbana”. Edital MCTI/CNPq/MCI-
DADES N°11/2012, Processo 550240-2012-b (Melazzo, 2012) e referem-se à posição do
Programa em abril de 2015. Desde seu lançamento, várias mudanças e ajustes têm sido feitos
no valor máximo das unidades em cada faixa de renda, nas faixas de renda a que se destinam
as habitações (que são alteradas de salários mínimos para valores correntes e, mais recente-
mente, na lançada mas não efetivada Fase 3, passa a incluir uma nova faixa intermediária entre
a primeira e a segunda), na abrangência em termos dos portes populacionais dos municípios
passíveis de serem atendidos e na distribuição do volume dos recursos entre as faixas. Além
disso, alteram-se rapidamente os números totais de unidades contratadas a cada mês. Sugere-
-se ao leitor a consulta ao site: <http://www.minhacasaminhavida.gov.br/index.html>.
4 Além das modalidades de produção de unidades habitacionais “Urbana” e “Rural”, o
PMCMV conta também com a modalidade “Entidades”, que possibilita a concessão de
financiamentos a famílias organizadas de forma associativa, através de (Associações, Coope-
rativas e outros). Ver Jesus (2015).
5 São já vários os trabalhos acadêmicos (artigos, livros, dissertações, teses, relatórios) pro-
duzidos sobre o Programa em suas diferentes modalidades, arquitetura de financiamento,
dimensão projetual e implantação dos empreendimentos para e em diversas cidades bra-
sileiras, dificultando inclusive balanços mais abrangentes e sistemáticos. Sugere-se, dentre
outros, a leitura de Brasil (2013), Cardoso (2013) e Amore, Shimbo e Rufino (2015).
urbana, na medida em que a demanda por solo urbano passa a outro pata-
mar, pressionada por agentes econômicos (de diferentes portes) que
buscam, inclusive, a formação de bancos de terras a serem utilizadas paula-
tinamente e de maneira estratégica (Melazzo, 2013). O segundo encontra-
-se relacionado à disposição espacial/localização de tais empreendimentos
habitacionais diante dos grandes equipamentos comerciais – shopping cen-
ters e hipermercados –, permitindo deduzir não apenas suas estratégias
econômicas locacionais que redundam cada vez mais em afastamentos, seg-
mentação e diferenciação no acesso ao consumo, conformando cidades ten-
dencialmente cindidas espacialmente.
Também cabe destacar que um dos mais fortes efeitos espaciais encon-
tra-se na necessária problematização dos números específicos da produ-
ção imobiliária residencial da denominada Faixa 1, ou seja, mais de 1,3
milhões de unidades. Dadas suas características e o segmento de renda a
que se destina, o atendimento dessa faixa de renda significou número igual
de famílias que se mudaram e se deslocaram para as novas habitações. Ou
seja, uma mobilidade de número significativo de famílias que, ao acessar
sua nova propriedade ou sua nova moradia, passam a habitar novos seto-
res e áreas da cidade, produzindo intensos movimentos de mudanças nos
padrões de ocupação em cada uma, adensando áreas e setores antes pouco
densos e provocando adequações de diferentes tipos (de ocupação, de com-
posição socioeconômica etc.) nas áreas e setores de origem – questões estas
ainda pouco abordadas na literatura e que não serão aqui analisadas, dados
os limites deste artigo (Melazzo, 2015).
Por fim, advoga-se aqui que o conjunto dessas transformações só pode
ser corretamente avaliado quando tomado a partir de cada cidade, de
maneira a considerar e desvendar padrões que ultrapassam suas singulares
características e permitam alcançar padrões e elementos gerais.
6 A produção recente a respeito de cidades médias, para além de sua caracterização a partir do
porte demográfico e que privilegia suas funções e papéis da divisão territorial do trabalho
em uma rede urbana, tem sido intensamente desenvolvida com base nos trabalhos Rede
de Pesquisadores sobre Cidades Médias – ReCiMe. Ver Sposito, Elias e Soares (2010), por
exemplo.
7 Os mapas foram produzidos pelo bolsista de iniciação científica e graduando em Arquitetura
e Urbanismo Victor C. Stoian com base nos dados e informações coletados/organizados a
partir das pesquisas citadas nas notas 1 e 3.
Tabela 2: Cidades selecionadas. Número de unidades produzidas por faixa de renda (2009–2015) e indicadores
habitacionais (2010)
Déficit
Domicílios Domicí-
Total (a)/(b) habitacio- (a)/(d)
Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 ocupados lios vagos (a)-(c)
(a) % nal %
(b) (c)
(d)
Ribeirão
2.584 8.212 6.841 17.637 195.531 9,0 15.922 1.715 19.197 91,9
Preto
Londrina 5.437 3.322 2.461 11.220 165.057 6,8 11.681 -461 13.938 80,5
São José
Brasil_e_Portugal_vistos_desde_as_cidades__(MIOLO_16x23)__GRAF-v2.indd 164
do Rio 6.555 9.787 5.841 22.183 137.312 16,2 10.777 11.406 12.500 177,5
Preto
Marília 1.914 6.653 81 8.648 68.412 12,6 5.804 2.844 5.834 148,2
Presidente
3.464 1.192 416 5.072 67.885 7,5 4.888 184 5.187 97,8
Prudente
São Carlos 2.936 3.264 2.368 8.568 71.733 11,9 7.625 943 6.095 140,6
Fonte: IBGE (2010) e Ministério das Cidades. Dados obtidos durante a elaboração da Pesquisa “Trajetórias do mercado imobiliário nas cidades de Marilia e Presi-
dente Prudente – SP, 1995-2012. A produção imobiliária do PMCMV, seus agentes e a diferenciação e desigualdades socioespaciais intraurbanas” (Edital MCTI/
CNPq/MCIDADES N°11/2012, Processo 550240-2012-b), IBGE (2010). Elaboração do autor.
MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • JOSÉ ALBERTO RIO FERNANDES (ORGS.)
13/11/2018 14:32:18
BRASIL E PORTUGAL VISTOS DESDE AS CIDADES 165
8 A utilização das informações sobre cada uma das cidades aqui analisadas só é possível pelo
desenvolvimento da citada pesquisa Lógicas econômicas e práticas espaciais contemporâneas:
Cidades médias e consumo, que, coletivamente, tem produzido diversas informações empíri-
cas impossíveis ou difíceis de serem produzidas individualmente. O autor agradece a possi-
bilidade do uso de tais informações.
exerce forte poder de atração sobre o conjunto da cidade, seja pela forte pre-
sença de empregos no setor terciário, seja pela concentração necessária ao
consumo diversificado de bens e serviços.
Os cartogramas apresentam, ainda, a localização de hipermercados e
shopping centers. Ambos são aqui entendidos como objetos destinados à
viabilização contemporânea do consumo, como objetos imobiliários, e tam-
bém como elementos que extrapolam a escala da cidade produzindo efeitos
significativos também na escala interurbana, pois servem a vastas exten-
sões do território, para além da cidade em si – e por si só são capazes de gerar
novas centralidades nessas cidades, representando assim uma “complexifi-
cação das estruturas urbanas” (Sposito, 2012, p.53).
A consideração das áreas centrais enquanto localização organizadora
de atração e dispersão e das centralidades, representadas pelos dois objetos
escolhidos, como fluxos que orientam diversas interações de pessoas, mer-
cadorias, capitais e informações em diferentes escalas9 adicionam novos
elementos à compreensão dos efeitos que o Programa Minha Casa Minha
Vida produz sobre as cidades, também no sentido da sugestão de Barata
Salgueiro (2012, p.13) quando afirma que “[...] a transição da organização
urbana de uma estrutura monocêntrica para o policentrismo acompanha a
consolidação da sociedade de consumo, no quadro da crescente produção
e apropriação simbólica da cidade”. Isto é, a citada “complexificação das
estruturas urbanas” pode ser compreendida também pelas relações de con-
sumo, o acesso a ele e as condições e áreas em que se realizam ou podem se
realizar, que se estabelecem no plano espacial na medida em que a segmen-
tação e a diferenciação das localizações de diferentes segmentos de renda
em seletivas, específicas e cada vez mais homogêneas áreas ou setores da
cidade formam mosaicos cada vez mais complexos.
Em cada uma das cidades é possível constatar, em que pesem as já cita-
das diferenças e particularidades, um padrão que pode ser denominado
como de oposição espacial entre os empreendimentos produzidos pelo Pro-
grama Minha Casa Minha Vida e as áreas centrais, hipermercados e shop-
ping centers. Então, não se trata apenas de alocar a produção habitacional
9 Para uma discussão abrangente e rigorosa a respeito dos centros e centralidades, em suas
transformações em diferentes cidades da rede urbana brasileira, ver Sposito (2012). No
mesmo sentido, Sposito (2011a; 2013) e Sposito e Goes (2013).
10 Em algumas cidades como Ribeirão Preto, Londrina e São José do Rio Preto já se observa a
produção e novos espaços de consumo, particularmente de hipermercados e shopping centers,
especificamente destinados aos segmentos de mais baixa renda, guardando fortes relações de
proximidade com os bairros e áreas de moradia de famílias de mais baixa renda em relação ao
conjunto da cidade. O detalhamento desses casos foge ao escopo deste artigo, mas pode ser
observado em diversos trabalhos resultantes da pesquisa citada em andamento.
Considerações finais
11 Este artigo foi escrito em um momento não apenas de indefinições a respeito da continuidade
desse Programa Habitacional, mas, sobretudo, de claras tendências de reversão e encer-
ramento de um ciclo virtuoso de políticas públicas que, mesmo com várias contradições,
procurou fortalecer a perspectiva de enfrentamento das desigualdades socioeconômicas
marcantes no Brasil. A ampla mobilização de segmentos sociais contrários a tais políticas,
que redundou inclusive no impedimento da presidenta eleita Dilma Rousseff, tem lançado o
país em uma etapa de desconstrução de direitos e de fragilização sem precedentes das regras
democráticas institucionais, com perspectivas de acirramento amplo de disputas e conflitos
em todas as esferas da sociedade.
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MCTI/CNPq/MCIDADES N°11/2012, Processo 550240-2012-b, 2012.
Luís Carvalho2
Catarina Maia3
1. Introdução
1 Os autores agradecem o convite de José Alberto Rio Fernandes para participar deste livro e
as revisões sugeridas ao texto, bem como os seus comentários e os de Mário Vale sobre uma
versão prévia do capítulo. Luís Carvalho agradece ainda o apoio financeiro da FCT – Fun-
dação para a Ciência e Tecnologia (BPD/103707/2014).
2 Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT), Universidade do
Porto.
3 Faculdade de Letras, Universidade do Porto.
2. Quadro conceptual
década e meia (e.g. Silva, 2005; Mateus, 2013). Por outro lado, a AML
apresentava em 2013 níveis absolutos de criação de riqueza significativa-
mente superiores aos da AMP, com um valor acrescentado bruto cerca de
três vezes superior, refletindo a sua marcada especialização em atividades
de terciário superior, intensivas em conhecimento, ainda que não necessa-
riamente transacionáveis (van Winden; Carvalho, 2008). Todavia, quer na
AML quer na AMP, os investimentos das últimas décadas em qualificação
e P&D têm demorado a impactar de modo significativo em termos de capa-
cidade de inovação: ver, e.g., o reduzido número de pedidos de patentes.
Em terceiro lugar, e em sintonia com o contexto europeu no geral (ver a
seção 2.2), é saliente que a capacidade de criação de conhecimento, riqueza
e competitividade nacional não se esgota hoje nas duas áreas metropoli-
tanas. Não estando em causa a centralidade da AML e AML enquanto
“motores” e polos de atração econômica da economia nacional, a diferença
absoluta entre os valores dos indicadores para as duas áreas metropolita-
nas e para o continente não é nunca residual (ver Quadro 1). Por exemplo,
mais de 40% da população com ensino superior reside hoje fora das áreas
metropolitanas, mais de 45% das exportações nacionais provêm de outros
territórios e mais de 45% das empresas nacionais com atividades de P&D
não se localizam na AMP ou na AML. E, espantosamente, apenas 24% dos
pedidos de patente e registro de invenções com participação de instituições
de ensino superior em 2015 tiveram origem nas duas áreas metropolitanas
(conforme administrativamente consideradas), verificando-se que a Uni-
versidade do Minho (Braga e Guimarães) e a Universidade de Coimbra
registraram, respectivamente, 20% e 12% dos totais nacionais. Esses dados
sugerem a existência de significativos recursos de conhecimento e inovação
fora das áreas metropolitanas, o que não pode ser ignorado.
Para além dos pesos estruturais importa olhar para as dinâmicas popu-
lacionais e econômicas recentes das duas áreas metropolitanas durante e
depois de eclodir a crise financeira em 2008. Nesse sentido os dados apon-
tam para a abertura de um diferencial entre o crescimento da população da
AML e AMP (Figura 4). Não obstante uma desaceleração e mesmo um
ligeiro declínio de população entre 2010 e 2014 na AML, as estimativas
demográficas apontam para um crescimento de cerca de 20 mil residentes
entre 2008 e 2015 nesse território, ao passo que a AMP tem consistente-
mente perdido população desde 2008, ainda que a taxas reduzidas. Entre
2008 e 2015, apenas alguns territórios a Norte de Lisboa (região do Oeste),
Norte do Porto (Cávado) e Algarve tiveram taxas de crescimento positi-
vas da população residente (ainda que modestas), com a generalidade dos
outros territórios em perda populacional significativa (Figura 4).
5 A região do Algarve é a que revela taxas de crescimento real mais acentuadas no período pré-
-crise, ainda que essa dinâmica deva ser interpretada à luz das especificidades da sua sobre-
-especialização em atividades turísticas.
Figura 5: Variação do Produto interno Bruto (PIB) a preços constantes de 2000, NUTS III,
base 100.
Fonte: Elaboração própria, com dados do Instituto Nacional de Estatística.
Figura 6: Evolução do Valor Acrescentado Bruto (VAB) a preços de mercado, 105 euros,
Área Metropolitana de Lisboa.
Fonte: Elaboração própria, com dados do Instituto Nacional de Estatística.
Figura 7: Evolução do Valor Acrescentado Bruto (VAB) a preços de mercado, 105 euros,
Área Metropolitana do Porto.
Fonte: Elaboração própria, com dados do Instituto Nacional de Estatística.
Figura 8: População com ensino superior completo no total da população residente, NUTS
III, percentagem.
Fonte: Elaboração própria, com dados do Instituto Nacional de Estatística.
Figura 9: Contributo relativo de cada NUTS III no total de população residente com ensino
superior completo em Portugal Continental, percentagem.
Fonte: Elaboração própria, com dados do Instituto Nacional de Estatística.
6 Pelas relações funcionais que estabelecem entre si, a aglomeração metropolitana do Porto
juntamente com os territórios do Ave, Cávado e parte da Região de Aveiro têm sido ana-
lisados como um único sistema urbano e econômico, geralmente designado de “Noroeste
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3 Pioneiros não apenas por caracterizarem a área, como por iniciarem no Brasil o debate que
ocorria ao mesmo tempo na França. Vale lembrar que o curso de Geografia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo foi fortemente influenciado pela
geografia francesa. Nesse momento, Milton Santos desenvolvia sua tese sobre o centro de
Salvador sob a orientação do professor Jean Tricart, em Estrasburgo, na França.
4 Adotamos aqui os dados disponibilizados pelo Seade (em <http://produtos.seade.gov.br/
produtos/msp/emp/emp4_011.htm>) para a subprefeitura da Sé. Pode-se inferir, a partir
daí, que a região concentra 17,35% dos empregos formais numa área equivalente a 2% da área
total do município, na qual residem apenas 3% da população de São Paulo (consulta em 20 de
maio de 2016).
as cifras são ainda mais expressivas. Em 2009, ela supera a marca dos 3/4
do valor adicionado total no município de São Paulo, sendo responsável
por 79,27%. A partir desse quadro, de acordo com Sandra Lencioni (2011,
p.145), “sem dúvida, essa cidade é, por excelência, o centro da gestão do
capital”. Fica mais claro o novo poder de comando exercido em São Paulo:
6 O BNH foi criado durante o regime militar no Brasil sob a justificativa da expansão da oferta
de habitações e com o intuito de dinamizar o segmento da construção, funcionando a partir
dos depósitos compulsórios do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e dos
depósitos espontâneos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos (SBPS). Em sua
época foi um dos maiores programas habitacionais do mundo.
de muitas sedes bancárias que se deslocaram do centro para lá, passa a ser
uma representação do espaço da cidade (Lefebvre, 1986), isto é, enten-
dido como o espaço articulado para ser oficialmente o símbolo da cidade,
mas da cidade racional, moderna e voltada ao desenvolvimento econômico,
incluído aí o turístico.
Entretanto, o que surge para desqualificar a centralidade tradicional, o
centro da cidade, aos poucos é incorporado no cotidiano dos habitantes e dos
movimentos sociais de luta. Principalmente a partir do final da década de
1990 e início do século XXI, a avenida Paulista passa a ser tomada também
como lugar das reivindicações, da visibilidade da luta e da comemoração: o
vão livre do MASP8 passa a ser referência para a concentração dos movimen-
tos sociais de lutas trabalhistas, de luta por moradia, entre outros movimentos,
bem como lugar de comemorações, principalmente das torcidas de futebol em
finais de campeonatos.
Essa tomada, ainda que esporádica, da avenida Paulista para esse tipo de
uso e apropriação passa a ser entendida como um risco. Organizações como
o “Viva Paulista” surgem visando controlar e disciplinar o uso e a apropria-
ção desse espaço. Não se pode negar, no entanto, que a avenida Paulista se
tornou o grande espaço de referência de luta. Ainda que haja a tentativa de
impedimento de concentrações e manifestações sociais nesse espaço, elas
continuaram a ocorrer.
Hoje, graças a uma decisão do poder municipal, a avenida Paulista é uma
rua de lazer aos domingos, isto é, boa parte dela é fechada aos veículos auto-
motores e a população da cidade a toma como espaço de lazer. Nela encontra-
mos tanto os moradores que vivem na região como os de outras localidades,
inclusive da periferia, que reconhecem ali um dos espaços da elite e que aí
vão para também usá-lo, numa tentativa de afronta e disputa pelo local.9
Mas se a avenida Paulista se torna um espaço de referência da cidade,
para além do econômico, como fica o centro da cidade, que até a década de 1980
8 Museu de Arte de São Paulo. O prédio atual do MASP foi inaugurado em 1968, com projeto
de Lina Bo Bardi, e construído com base em vidro e concreto. A esplanada existente sob o
edifício, conhecida como “vão livre do MASP”, é utilizada aos domingos para uma feira de
antiguidades.
9 De acordo com relatos de pessoas dos movimentos culturais da periferia, essa estratégia de
tomada das centralidades busca dar visibilidade à cultura produzida na periferia, de modo
que esta não fique restrita aos espaços periféricos e possa também fazer parte do conjunto
reconhecido da riqueza cultural da sociedade.
tinha esse papel? O centro, embora ainda seja referência de busca de traba-
lho e serviços, bem como de passagem, graças à multiplicidade de possi-
bilidades de acesso público (ônibus, metrô e trem), tem sua representação
simbólica enfraquecida, principalmente para as gerações mais novas.
Em 2016, diante das disputas pelo poder do Estado em nível federal,
uma série de manifestações pró e contra a permanência de Dilma Rousseff
na presidência do Brasil colocou as ruas como espaço de expressão e luta.
Em 13 de março, mais especificamente, num domingo, a Avenida Paulista
foi tomada por milhares de manifestantes10 que exigiam a saída da presi-
denta. Nessa mesma semana (numa sexta-feira), o mesmo lugar foi tomado
por também milhares de manifestantes11 que lutavam pela permanência de
Dilma. Na imprensa contabilizavam-se os números dos manifestantes em
cada uma das manifestações para criar argumentos e consensos para justifi-
car a saída da presidenta.
Duas semanas depois, é marcado um novo ato contra o processo de
impeachment de Dilma na Praça da Sé. Novamente milhares de manifes-
tantes presentes que, entretanto, questionavam a escolha do lugar: “Por
que ali e não na Paulista, que daria mais visibilidade?”. Essa era a pergunta
dos jovens manifestantes. A nova geração de estudantes já não adotava mais
o centro como referência de luta e comemoração, pois não tinha as referên-
cias históricas de luta e a imagem do que aquele espaço simbolizava para
as centrais sindicais e outros movimentos sociais (por moradia, transporte,
saúde, educação, entre outros), que escolheram esse espaço para sua mani-
festação. Quando da votação do impeachment pela Câmara dos Deputados
em Brasília, esta foi acompanhada por milhares de manifestantes contrários
ao afastamento da presidenta no Vale do Anhangabaú, centro antigo de São
Paulo, e pelos favoráveis, na Avenida Paulista.
Talvez a retomada do centro como espaço de luta permita a recuperação
e entendimento dos processos econômicos, sociais e políticos que colocam
em confronto o uso e apropriação de duas centralidades, no caso o centro e
10 De acordo com levantamentos realizados, o perfil dos manifestantes era de alta renda e alta
escolaridade. Fonte: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/03/1749640-protesto-
-cresce-mas-manifestante-mantem-perfil-de-alta-renda.shtml>. Acesso em: 15 mar. 2016.
11 O perfil dos manifestantes era de pessoas ligadas a movimentos sociais, trabalhistas e ativis-
tas políticos. A maior parte dos manifestantes era da região metropolitana, mas não necessa-
riamente da cidade de São Paulo.
Considerações finais
12 Numa única etapa da execução da Operação Urbana Águas Espraiadas (OUAE) foram
desalojadas 7 mil famílias. No espaço destinado à construção da Avenida Nova Faria Lima,
da Operação Urbana Faria Lima, contígua à OUAE, mais de seiscentas casas foram des-
truídas e muitas outras famílias expulsas por força da lei, da valorização imobiliária ou do
aumento no custo de vida em geral.
Referências bibliográficas
David Vale1
1. Introdução
a qual não só encarece a ida ao cinema para todos, como traz consequências
negativas para o centro da cidade, uma vez que este perde competitividade
relativa nas suas condições de acessibilidade.
900.000 500.000
Residentes
800.000 Famílias Clássicas 450.000
Alojamentos Clássicos
700.000
400.000
600.000
Famílias | Alojamentos
350.000
Residentes
500.000
300.000
400.000
250.000
300.000
200.000
200.000
100.000 150.000
0 100.000
1981 1991 2001 2011
Fonte: INE, Censos 1981, 1991, 2001 e 2011
Figura 2: Evolução do número de famílias nas freguesias do concelho de Lisboa, 1991 a 2011.
Fonte: INE.
5k
0
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Figura 3: Evolução do número de unidades de alojamento local em Lisboa, registradas no
site airbnb.com, 2009 a 2016.
Fonte: Diário de Notícias, 27 mar. 1991. Fonte: Diário de Notícias, 27 mar. 2001.
40.000 400
Salas
25.000 250
Cinemas | Salas
Habitantes
20.000 200
15.000 150
10.000 100
5.000 50
0 0
1991 2001 2011
Figura 6: Evolução do número de cinemas e salas, e sua relação com o número de habitantes
da AML, 1991 a 2011.
500000
16%
14%
400000
12%
300000 10%
08%
200000
06%
04%
100000
02%
0 00%
1991 2001 2011
4. Conclusão
Referências bibliográficas
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Rogério Haesbaert1
(Foucault, 2008; Deleuze, 1992) e sob uma urbanização cada vez mais mar-
cada por aquilo que Graham (2016) denomina “urbanismo militar”.
Na cidade do Rio de Janeiro, esses “centros” (a terminologia é sugestiva)
encontram-se estrategicamente localizados junto ao núcleo administrativo
ou de gestão urbana configurado em torno da Prefeitura Municipal (Centro
Administrativo São Sebastião) na chamada Cidade Nova. Reconhecida ofi-
cialmente como bairro contíguo ao centro da cidade, a oeste, a Cidade Nova
pode ser tratada, na verdade, desde sua origem enquanto polo administra-
tivo, nos anos 1980, como um subnúcleo ou, se considerarmos o eixo repre-
sentado pela avenida Presidente Vargas, um importante vértice de expansão
da extensa e complexa área central ou “Grande Centro” da cidade do Rio
de Janeiro. É importante, assim, que comecemos nosso artigo por uma con-
textualização e caracterização, em conjunto, da múltipla e segmentada área
central do Rio de Janeiro.
3 Soares (1987 [1960], p.143) identifica na área central ou “centro de atividades”, seu núcleo
principal, a “cidade” e uma área periférica da “cidade” (a que se seguem: área de obsolescên-
cia, bairros e subúrbios).
4 Um indicador bem evidente dessa articulação é o tráfego da ponte aérea entre as duas
cidades, considerada em 2012 a segunda rota aérea mais movimentada do mundo (fonte:
<http://www.economist.com/blogs/graphicdetail/2012/05/daily-chart-8>).
8 Esse projeto surgiu como uma das transformações urbanas mais importantes relacionadas
à escolha do Rio de Janeiro para sediar os megaeventos da Copa do Mundo (2014) e dos
Jogos Olímpicos (2016). Ele envolve uma vasta área de bairros antigos e pobres como Saúde,
Gamboa e Santo Cristo, e favelas como a da Providência (que passou a ser ligada por
um teleférico com a estação Central do Brasil e a Cidade do Samba), tendo promovido a
remoção de moradores e uma grande valorização/especulação imobiliária. Para maiores
detalhes sobre o histórico e as contradições deste projeto, ver, entre diversos trabalhos, a
tese de Gianella (2015).
Figura 1: Vista aérea da área principal da Cidade Nova. Da esquerda para a direita: prédio
dos Correios e Telégrafos, Teleporto, Prefeitura Municipal e Centro de Convenções. Em
primeiro plano, a avenida Presidente Vargas e a estação de metrô Cidade Nova. Foto: Rogé-
rio Haesbaert, 2012.
11 Cf. Após jogos, centro de mídia deixa como legado escombros, O Globo, 19 nov. 2016.
Disponível em: <http://oglobo.globo.com/rio/apos-jogos-centro-de-midia-deixa-como
-legado-escombros-20497301>.
12 No caso do Rio de Janeiro destacam-se, depois da Eco92 nos anos 1990, os Jogos Pan-ame-
ricanos (2007), os Jogos Militares Mundiais (2011), a Conferência das Nações Unidas sobre
o Desenvolvimento Sustentável Rio+20 (2012), o Encontro Nacional da Juventude Católica
(2013), a Copa das Confederações (2013), a Copa do Mundo (2014) e os Jogos Olímpicos e
Paralímpicos (2016).
Mais que uma disposição, o status de cidade global se impõe como uma con-
dição à sobrevivência e ao crescimento econômico no mundo globalizado e, nesse
sentido, os megaeventos vêm desempenhando um importante papel catalisador:
alavancando transformações urbanísticas express, atropelando o planejamento
urbano oficial, instituindo a cidade de exceção, legitimando o ilegítimo.
sustentando tipos de saber e sendo sustentadas por ele. Mas [...] é algo muito
mais geral que [...] a épistémé [...], é discursivo e não discursivo, seus elementos
sendo muito mais heterogêneos. (Foucault, 1985 , p.244)
13 Sobre a concepção “biopolítica” de população, ver Foucault (2008) e nossa análise em Haes-
baert (2014).
enfatiza a sua diferença relativa frente aos demais através da marca e de edi-
ção limitada – fisicamente, o que manifesta a lógica da segregação correlata
da exclusividade. [...] Até o momento o Teleporto foi concretizado através da
contaminação dos limites de um bairro antigo com novas demolições e proje-
tos em megaescala, dirigidos exclusivamente aos integrados à economia global.
Ou seja, reeditam-se velhos fenômenos: modernização sem integração social.
(Fridman; Siqueira, 2003, p.32-34)
18 Para uma análise mais detalhada da constituição e dos objetivos do COR, ver Haesbaert,
2014 (cap. 9) e 2015 (onde também são analisados os efeitos da televigilância).
Considerações finais
Referências bibliográficas
1. Introdução
Mesmo que tudo mude sempre e não seja fácil avaliar historicamente a
intensidade e amplitude das mudanças, parece do senso comum que as últi-
mas décadas têm sido especialmente marcadas – pelo menos em Portugal
e designadamente no Porto – por grandes e rápidas alterações, num pro-
cesso em que podemos destacar a complexificação, a fragmentação social
e territorial e a maior importância do turismo na vida urbana. Esse pro-
cesso e um aumento das desigualdades em diversos âmbitos (econômico,
social e ambiental) vieram colocar novos desafios ao planejamento e à ges-
tão urbana.
A complexidade e a fragmentação territorial que conhecem novos mati-
zes em escala mundial, designadamente com a consolidação da China, a
crise financeira de 2008, a afirmação (cada vez mais em rede) de algumas
1 O presente texto é uma revisão e atualização do texto: Fernandes, José Rio; Chamusca,
Pedro. Dinâmicas recentes e urbanismo na área central do Porto. Morte, resistência, resi-
liência e elitização no centro histórico e na Baixa. In: Fernandes, José Rio; Sposito, Maria
Encarnação (Orgs.), A nova vida do velho centro nas cidades portuguesas e brasileiras. FLUP/
CEGOT, 2013, p.83-96.
2 FLUP/CEGOT. E-mail: jariofernandes@gmail.com.
3 CEGOT. E-mail: pedrochamusca@hotmail.com.
Brasil_e_Portugal_vistos_desde_as_cidades__(MIOLO_16x23)__GRAF-v2.indd 272
Figura 3: Imagem da cidade comercial de centro único (em azul), com vias de preenchimento varejista (em vermelho) e pequenos polos de comércio
de proximidade (em amarelo).
MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • JOSÉ ALBERTO RIO FERNANDES (ORGS.)
Fonte: O Espaço Urbano do Porto, de J. M. Pereira de Oliveira, editado em 1973 pelo Instituto de Alta Cultura.
13/11/2018 14:32:37
BRASIL E PORTUGAL VISTOS DESDE AS CIDADES 273
5 No início do século XXI estava instalada a convicção de que o Comissariado para a Reno-
vação Urbana da Área de Ribeira-Barredo e a Fundação para o Desenvolvimento da Zona
Histórica do Porto não detinham os recursos, financeiros e regulamentares, para resolver
a crescente defasagem entre as necessidades (alargamento da degradação do edificado, do
despovoamento e da desvitalização do tecido econômico) e as expectativas cada vez mais
altas de proteção e valorização de um espaço que era visto como essencial. Essa ideia, aliada
à percepção de uma cidade antiga muito valorizada mas decadente, leva a que o novo exe-
cutivo camarário, eleito em 2001, opte pela extinção das duas instituições e pela criação, em
2004, da Sociedade de Reabilitação Urbana Porto Vivo, aproveitando as potencialidades do
Decreto-Lei 104/2004, aprovado pelo governo após pressões de entidades municipais (com
a Câmara Municipal do Porto em mente), consagrando as sociedades de reabilitação urbana
(SRU) e um novo modelo de abordagem política, orientada pela cooperação entre o setor
público e o setor privado e pela aposta em práticas empresariais (Chamusca, 2014; Fernan-
des, 2011a; Fernandes; Chamusca, 2013)
os dados existentes sugerem que é naif esperar uma “preocupação moral” por
parte do setor privado na revitalização de áreas desvalorizadas. As decisões de
investimento do setor privado são fundamentadas em grande medida no inte-
resse próprio e não na filantropia. A privatização do desenvolvimento urbano
significa aceitar uma política de triagem e a concentração nas áreas de maior
potencial econômico. (Pacione, 2009, p.10)
4.2. Turismo
Carneiro e o aumento das companhias, das ligações e dos voos low-cost, que
permitiram aumentar o fluxo de passageiros que chegam diretamente ao
Porto, provenientes de destinos vários. Os dados disponíveis evidenciam
um crescimento de 140,07% do número de passageiros desembarcados
entre 2008 e 2017, com o volume de chegada de passageiros a ultrapassar,
pela primeira vez, os 5 milhões9 em 2017. Ao mesmo tempo, aumenta tam-
bém a oferta de alojamento no concelho do Porto, registrando-se entre 2007
e 2016 um crescimento de 88,42% do número de estabelecimentos hotelei-
ros e de 69,20% da capacidade de alojamento.10
Apesar de a estada média se manter em valores próximos das duas
noites por hóspede, há um aumento significativo do número de hóspe-
des (111,87%) e do número de pernoites (125,97%) entre 2007 e 2016. O
número total de hóspedes registrado em 2016 foi de 1.638.128, com uma
preponderância cada vez maior de estrangeiros, que correspondiam a 71,8%
em 2016. Esse boom turístico está associado a um processo de dinamização
econômica, com efeitos diversos mas bem evidentes nos indicadores de pro-
veito das unidades turísticas que registraram um crescimento de 135,52%
entre 2009 e 2017 e que ultrapassaram os 174 milhões de euros em 2017.
Se o contexto global da cidade (e município) do Porto é marcado por
uma clara tendência de crescimento da importância do turismo, as dinâ-
micas registradas na Baixa são muito interessantes. Nesse espaço obser-
vamos um crescimento de 81,8% das unidades de alojamento entre 2012
e 2016,11 processo acompanhado por um aumento de 21,8% do número de
cafés e restaurantes em funcionamento. Contudo, tão ou mais importante
que o crescimento do número de estabelecimentos hoteleiros na Baixa do
Porto parecem ser a sua diversificação, as taxas de ocupação e a qualidade
do serviço. Ainda que a mensuração desses elementos seja complicada –
pela ausência de indicadores nessa escala –, o trabalho de campo identifica
de forma clara a diversidade de unidades hoteleiras, com crescimento do
4.4. Temporalidades
As alterações recentes, que fazem emergir uma “nova vida” (mais uma!)
do “velho centro” (dual, entre tecido antigo e o novo espaço dos séculos
XVIII e XIX), seja no domínio urbanístico, na oferta de bens e serviços e no
tipo e expressão relativa dos utilizadores (com crescimento dos visitantes),
fazem-se sentir também nos tempos de uso da cidade, com complexifica-
ção espaçotemporal e formas diversas de coexistência de tempos rápidos e
lentos. Com efeito, a área central do Porto apresenta-se atualmente como
um conjunto de espaços produzidos e apropriados por diferentes grupos
que o vivem e nele interagem, atribuindo aos mesmos lugares usos, funções
e tempos diferenciados, colocando em crise o funcionamento da “cidade
industrial” ainda real há menos de uma década: fins de semana sem gente,
dias úteis com início da manhã e fim de tarde de forte intensidade no trá-
fego de pedestres e automóveis, e abandono a partir das 18 horas.
A individualização dos horários ao longo do dia, semana e mês, moti-
vada pela individualização das carreiras e flexibilidade/precariedade
do trabalho, pelo aumento da mobilidade e do tempo de vida durante a
reforma, permite uma maior variação na procura ao comércio e a outras ati-
vidades, em oposição/complemento aos ainda prevalecentes horários “nor-
mais de trabalho”, prolongando-se e complexificando-se o uso da cidade. A
crescente dessincronização, se permite uma maior utilização de um mesmo
espaço, em especial as ruas e praças do centro, vivas 24 horas, favorece tam-
bém a emergência de conflitos – por exemplo, entre o desejo de sossego de
quem pretende dormir para se levantar às 7h e o desejo dos que pretendem
beber e conversar na rua, antes de um descanso que começa à hora a que os
residentes se levantam.
Destaca-se nesse contexto o papel dos estudantes, da noite e dos acon-
tecimentos de natureza cultural. Para todos, o centro do Porto é o local de
encontro dos muitos estudantes de ensino superior, que se apropriam dele e
ajudam na criação e na manutenção de muitas das suas dinâmicas, dos visi-
tantes de vários tipos, e tempo de estada também diverso, e de residentes da
cidade alargada. Em vista dessa procura, aumenta a oferta à noite, com uma
“movida” que tem se afirmado progressivamente ao longo da última década,
traduzindo não apenas algo de novo, como um deslocamento geográfico do
“fora de horas” desde a Ribeira, a Zona Industrial de Ramalde e a Foz.
Não apenas o aumento da procura explicará a importância da noite na
Baixa, parecendo resultar da conjunção de outros vários fatores – mui-
tos deles de difícil avaliação – entre os quais se destacará a melhoria do
espaço público promovida pelas políticas públicas (desde a Sociedade
PORTO2001 quando da celebração da Capital Europeia da Cultura), e
uma maior propensão para a utilização do espaço público (por exemplo
para fumar, mas também para conviver), numa separação cada vez mais
complicada entre os limites da propriedade privada e do espaço público
(Fernandes et al., 2013). Nesse processo da noite, é ainda importante lem-
brar o papel e a visão de alguns pioneiros, como o “Maus Hábitos” e o
5. Conclusão
6. Referências bibliográficas
Introdução
amazônico não apenas por sua grandiosidade, mas também por seus fla-
grantes problemas urbanos.
Estudos recentes de iniciativa do Observatório das Metrópoles (2016)
indicam que os municípios constituintes da Grande Belém conformam
uma das mais pobres regiões metropolitanas do Brasil. Sua principal
cidade, Belém, a capital do estado do Pará, figura como a terceira mais
pobre do país, estando à frente apenas de Porto Velho (capital de Rondô-
nia) e Macapá (capital do Amapá), todas situadas na Amazônia brasileira.3
Essa performance de Belém se insere em uma realidade cheia de contras-
tes socioespaciais que nos remetem à sua dinâmica urbano-metropolitana
recente; daí não ser mais possível falar dessa cidade sem considerar a totali-
dade metropolitana da qual faz parte.
4 A noção de centralidade aqui considerada está apoiada nas contribuições de Sposito (2001).
Para essa autora, se o centro remete àquilo que se localiza em um dado ponto do espaço, a
centralidade, por sua vez, remete àquilo que se movimenta no território em direção a esse
ponto: “enquanto a localização, sob a forma de concentração de atividades comerciais e de
serviços revela o que se considera como central, o que se movimenta institui o que se mostra
como centralidade” (Sposito, 2001, p.239). Sustenta, ainda, que ambos se definem por meio
de dinâmicas decorrentes de determinantes objetivas, como as possibilidades de mercado
dadas pelas localizações no espaço, mas também são resultantes de determinantes subjetivas,
definidas através de conteúdos simbólicos produzidos historicamente ou por signos forjados
pelas lógicas de mercado.
poderia falar de quantos degraus são feitas as ruas em forma de escada, da cir-
cunferência dos arcos dos pórticos, de quais lâminas de zinco são recobertos os
tetos; mas sei que seria o mesmo que não dizer nada. A cidade não é feita disso,
mas das relações entre as medidas de seu espaço e os acontecimentos do pas-
sado. (Calvino, 1990, p.14)
5 Nesse processo, municípios até então não conurbados à estrutura continua da metrópole
foram reconhecidos oficialmente como metropolitanos, como é o caso de Santa Izabel do
Pará e de Castanhal. Há outros, entretanto, que, não obstante os fluxos e a inserção à dinâ-
mica da metrópole, ainda não se configuram oficialmente como metropolitanos, como é o
caso de Barcarena, conforme mencionamos.
6 Acervo formado pelo Forte do Castelo (símbolo da fundação da cidade) e por um conjunto
arquitetônico do entorno, que foram requalificados e refuncionalizados.
7 Edificação que já fora convento, olaria, hospital e, por último, cadeia pública, hoje desativada
e transformada em centro turístico e cultural.
8 Grande vazio urbano na área central transformado em parque à beira-rio com elementos da
flora e da fauna amazônica.
9 Antigos galpões da área portuária, frutos da época áurea da borracha, transformados em um
espaço waterfront, voltado para o turismo e o lazer.
10 O eixo de expansão Belém-Icoaraci, que tem a avenida Augusto Montenegro como via
principal, passou a ser conhecido como sendo a “Nova Belém”. Tal denominação surgiu de
um slogan produzido por uma empresa de capital aberto com atuação recente na cidade e
que, após estudos com vistas a investimentos imobiliários, elegeu esse vetor como propício
aos seus negócios, divulgando-o, a partir de então, em forma de publicidade como sendo um
“novo centro” e um “novo espaço de crescimento” de Belém (Mendes, 2014).
11 Uma grande extensão de terrenos (cerca de 4.000 ha), que contornam o limite da chamada
“Primeira Légua” – patrimônio inicial da municipalidade doado pela Coroa portuguesa nos
primórdios de Belém – e que formam uma espécie de semicírculo desde a Baía do Guajará até
o Rio Guamá, às margens dos quais Belém se encontra localizada. Esses terrenos foram doados
pela municipalidade a partir da década de 1940 a instituições públicas civis e militares diversas.
Considerações finais
[...] centenas de edifícios são plantados no centro, cujas sombras, agora domi-
nantes, espalham-se sobre esta cidade do Trópico. Elevam-se como barreira
física e social. A construção dessa muralha rompe abruptamente o horizonte
visual de quem a observa desde as ilhas [...]. Os edifícios projetam sombras
sobre o rio, mas a cidade não mais “tem os rios nas suas margens”, que apenas
pode ser olhado furtivamente a partir de fendas mascaradas. Vive-se de cos-
tas para o rio, rejeitando totalmente o vínculo aquático. Traçado “iluminista”,
oposto a toda ligação com a floresta, com as águas, símbolos demasiado mági-
cos. (Marin; Chaves, 1997, p.412)
Referências bibliográficas
Norberto Santos2
Claudete Oliveira Moreira3
1 Este texto resulta, numa parte significativa, da releitura do capítulo “Coimbra: a organiza-
ção da cidade e o centro histórico urbano” do livro A nova vida do velho centro nas cidades
portuguesas e brasileiras (p.189-210), editado pelo Centro de Estudos de Geografia e Orde-
namento do Território e organizado por José Alberto V. Rio Fernandes e Maria Encarnação
Beltrão Sposito.
2 CEGOT – Departamento de Geografia e Turismo FLUC. E-mail: norgeo@ci.uc.pt.
3 CEGOT – Departamento de Geografia e Turismo FLUC. E-mail: claudete@fl.uc.pt.
cidade dual por mercê de condições topográficas diversas – Alta e Baixa – [...]
cindia a aglomeração urbana [e] implicava a tradicional rivalidade entre estu-
dantes e futricas. [...] Há no conjunto urbano uma suave sedução, que lhe vem
do movimento topográfico, da pitoresca junção de velhos núcleos arrabaldinos
à traça moderna dos bairros novos, dos muitos jardins intercalados na massa do
casario, do prestígio das pedras lavradas, das flores que há por todos os recan-
tos. (Martins, 1983, p.67-68, 76)
Figura 1: Intervenções propostas para a Via Central, de ligação entre a Rua da Sofia e a Ave-
nida Fernão de Magalhães.
Fonte: CMC, 2016.
4 Toda a estratégia de reabilitação proposta para o Centro Histórico foi motivo de análise apro-
fundada pela Parque Expo, já no ano de 2012, com o documento de trabalho A Estratégia
de Reabilitação Urbana, que na sua Parte I apresenta a visão (Parque Expo, Parte I, 2012).
Assim utilizar-se-ão as ideias fortes deste documento sempre que a interpretação for coinci-
dente com a linha de orientação deste texto.
Das três, a área junto ao rio Mondego é aquela onde está previsto um
maior investimento municipal e na qual se encontra uma maior percenta-
gem de edifícios em mau estado/ruína (34%), o que traduz bem o fato de
essa área da cidade ter sido, durante as duas últimas décadas, marginal em
termos de intervenções de reabilitação (Quadro 1). Nessa margem direita
aguarda-se pelos investimentos na área ao redor da nova Estação Central
de Coimbra que, para além de melhorarem em muito as acessibilidades,
qualificarão significativamente a frente ribeirinha. A Baixa é a maior das
ARU, nesta se localizando cerca de 63% dos edifícios abrangidos e 72%
dos edifícios que estão em mau estado/ruína, valores que evidenciam bem
o estado de abandono a que a Baixa da cidade de Coimbra foi submetida
nos últimos 25 anos e justificam a premência de uma ampla intervenção
de reabilitação.
Figura 5: Universidade de Coimbra, Alta e Sofia, área do bem inscrito na Lista Represen-
tativa do Patrimônio Mundial da Humanidade da UNESCO e área de proteção do bem.
Fonte: Associação Recriar a Universidade, Alta e Sofia, adaptado, 2016.
Considerações finais
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3 Cabe aqui lembrar Vilaça (1998, p.18), que esclarece que “a expressão espaço urbano [...] só
pode se referir ao intraurbano. Tal expressão deveria ser, pois, desnecessária, em face de sua
redundância, porém, espaço urbano – e todas aquelas afins – está hoje de tal forma compro-
metida com o componente urbano do espaço regional que houve necessidade de criar outra
expressão para designar o espaço urbano: daí o surgimento e uso de intraurbano”.
6 De acordo com o estudo Regiões de influência das cidades, as cidades brasileiras foram divi-
didas em cinco grandes níveis (por sua vez, subdivididos em subníveis), a saber, Metrópole,
Capital Regional, Centro sub-regional, Centro de zona e Centro local (IBGE, 2007, p.11).
7 A Aglomeração Urbana do Sul, criada pelo estado do Rio Grande do Sul, originalmente cha-
mada de Aglomeração Urbana de Pelotas, era formada pelos municípios de Pelotas e Capão
do Leão (Lei Complementar n. 9.184 de 26/12/1990). Posteriormente, passou a contar com
os municípios de Arroio do Padre, Rio Grande e São José do Norte e recebeu a denominação
atual (Lei Complementar n. 11.876, de 26/12/2002).
Brasil_e_Portugal_vistos_desde_as_cidades__(MIOLO_16x23)__GRAF-v2.indd 352
Herval 8,55 0,69 6,21 2,78 2,37 7,30 14,57 49,66 0,24 7,64
Jaguarão 15,10 1,22 4,64 3,93 8,00 5,95 18,36 34,10 2,55 6,15
Morro Redondo 7,76 0,64 9,94 4,67 0,00 7,79 10,61 47,07 3,45 8,07
Pedras Altas 3,88 0,33 8,69 1,55 0,00 10,43 10,90 53,12 0,15 10,95
Pedro Osório 8,03 0,64 4,05 4,22 9,63 5,88 18,76 40,10 2,57 6,12
Pelotas 20,33 1,63 4,07 5,69 7,51 4,56 16,13 26,13 9,23 4,72
Pinheiro Machado 8,76 0,71 6,85 2,67 8,14 7,06 14,14 42,65 2,07 6,94
Piratini 12,82 1,04 4,61 2,88 7,17 6,31 12,14 43,12 3,30 6,60
MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • JOSÉ ALBERTO RIO FERNANDES (ORGS.)
Rio Grande 21,24 1,70 19,18 3,46 4,97 6,72 11,72 19,97 4,00 7,02
Santa Vitória do Palmar 10,26 0,82 6,44 3,57 8,14 7,76 14,62 37,91 2,56 7,91
13/11/2018 14:32:50
Trans- Ativi- Saúde
Aloja- Interme- Serviços
portes, Serviços dades e edu-
Comér- mento e diação presta- Adm. Demais
Municípios armaze- de infor- imobi- cação
cio alimen- finan- dos às pública serviços
nagem e mação liárias e mercan-
tação ceira empresas
correio aluguel til
Santana da Boa Vista 10,34 0,83 4,89 2,18 2,04 6,98 15,98 47,91 1,52 7,32
São José do Norte 9,71 0,78 4,23 3,33 4,78 6,24 16,79 45,35 2,27 6,51
São Lourenço do Sul 19,91 1,61 5,31 3,00 8,09 6,33 11,15 34,44 3,56 6,59
Tavares 13,28 1,08 5,40 2,90 2,53 7,02 14,02 46,34 0,18 7,25
Turuçu 12,14 0,99 5,99 3,31 0,00 8,15 9,56 51,43 0,13 8,30
COREDE 18,66 1,50 9,35 4,26 6,46 5,82 14,67 27,61 5,61 6,05
Estado 25,53 2,06 8,09 4,55 9,13 5,64 11,82 21,46 5,86 5,85
Brasil_e_Portugal_vistos_desde_as_cidades__(MIOLO_16x23)__GRAF-v2.indd 353
Fonte: SEPLAG, 2011.
BRASIL E PORTUGAL VISTOS DESDE AS CIDADES
353
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354 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • JOSÉ ALBERTO RIO FERNANDES (ORGS.)
ganhará destaque a partir dos anos 1950. Antes disso, a rua Félix da Cunha
era conhecida como a “rua do comércio”, título que passou para a rua
Quinze de Novembro, até que se transferisse para a atual rua Andrade
Neves. O comércio responde hoje por 77,8% do Produto Interno Bruto
(PIB) do município (IBGE, 2010).
Historicamente, o comércio tem sido o principal vetor de desenvolvi-
mento do espaço urbano na cidade de Pelotas. No período compreendido
entre os anos de 1960 e 2014, existiam 28.901 alvarás comerciais8 cadas-
trados na área urbana. Destes, 1.285 estabelecimentos correspondiam ao
comércio atacadista e 27.616 estabelecimentos ao comércio varejista.
Os equipamentos comerciais predominantes eram do gênero alimentí-
cio em ambos os setores. No que tange à diversidade tipológica, destaca-se
o setor de construção no comércio atacadista, e de lazer e cultura no vare-
jista. Nos níveis posteriores, ambas as atividades apresentam os setores
de artigos pessoais e de prestação de serviços como os mais numerosos e
diversificados.
8 Documento legal que habilita a pessoa singular ou coletiva com capacidade financeira e civil
ao exercício da atividade comercial e de prestação de serviços mercantis.
Figura 6: Atividades comerciais varejistas na cidade de Pelotas, RS, entre os anos de 1960 e 1999.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2014.
5. Considerações finais
Referências bibliográficas
Herculano Cachinho
ponto, não poderíamos estar mais de acordo com Larry L. Ford (2003),
quando afirma que a informação estatística e os modelos nem sempre nos
mostram o que gostaríamos, e muita informação recolhida sobre o centro
da cidade dificilmente conseguiria ser passada para tabelas estatísticas e
mapas, sem que perdesse parte do seu significado.
Figura 2: Praça Rodrigues Lobo, anos 50 do século XX, em dia de mercado dos cereais.
Fonte: <http://coresdeleiria.blogspot.pt/2010_02_01_archive.html>.
O trânsito pelos passeios nas ruas de Leiria, onde os há, deveria obedecer
às mesmas regras das grandes cidades: para os peões que não conduzem volu-
mes incómodos pelas dimensões ou conteúdo. Vai um fabiano de fato limpo
ou uma sicrana de vestido desenxovalhado e quando menos se precata tem a
andaina rasgada pela aresta de uma lata de lavadura ou maculada pelos pin-
gos da mesma, não falando das nódoas negras que ficam a esmaltar a pele [...].
(Região de Leiria, nº 35, 4.6.1936, p.5)
[…] A Praça Rodrigues Lobo, agora em declínio, foi durante muito tempo
o equivalente ao Rossio de Lisboa. Nela se implantaram as primeiras lojas
de material elétrico, de artigos de ourivesaria, as casas de ferragens, como o
Repolho, hoje desaparecida, onde inclusive trabalhei alguns anos, de bicicle-
tas e motorizadas. Até à abertura do mercado de Sant’Ana, em 1931, aqui se
realizavam dois mercados, o da terça e o de domingo. Os agricultores vinham
dos arrabaldes vender os produtos agrícolas e ao mesmo tempo aproveita-
vam para comprar os artigos de mercearia nas lojas que permaneciam abertas
mesmo ao domingo. Depois aqui se instalaram também os primeiros carros
de aluguel.
Não nos podemos esquecer dos cafés, como o do Sr. Matos, que além de
vender as bicicletas, as grafonolas de campânula e depois as motos e os automó-
veis, tinha também encostado um pequeno café. Mas além deste havia aqui nas
redondezas outros, como o Encarnado, por baixo do hotel Liz, o Colonial, onde
hoje se localiza a Caixa Geral de Depósitos, o Abadia, frequentado pela fidal-
guia, ou melhor, os senhores de chapéu de coco, as figuras da cidade, que servia
ceias até altas horas da noite. Para o povo havia as tabernas e as mercearias com
a secção do copo. Pelo que acabo de descrever é fácil imaginar que no centro, e
nesta praça em particular, se concentrava por excelência a vida da cidade e, por
isso, era um ponto de passagem obrigatório para todas as pessoas, independen-
temente da sua posição social.
Fonte: Entrevista realizada no dia 25.5.1998, na Praça Rodrigues Lobo.
Não há dúvidas que até cinquenta anos atrás o centro histórico de Lei-
ria gozava de plena saúde, sendo a multiplicidade de funções que con-
gregava o principal motivo para que assim fosse. Razões não faltavam
para que a população o frequentasse. Dada a concentração de serviços
Nos dias de hoje, dar uma volta pelo centro histórico da cidade, num
sábado à tarde, tornou-se uma experiência relativamente solitária. Natu-
ralmente, de vez em quando, passam por nós algumas pessoas. Se as inter-
pelarmos vemos que se encontram ali por várias razões. Algumas, cada vez
em menor número, apesar das intervenções de requalificação, estão ali por-
que residem no bairro. Outras, com um andar apressado, simplesmente
estão de passagem para outro lado da cidade. Há também uns poucos que
passeiam e vão às compras, não tanto nas lojas tradicionais, que pratica-
mente desapareceram, mas nas lojas alternativas, nas franquias de algu-
mas marcas internacionais ou nas megastores da Zara e da Bershka; estas
últimas recentemente implantadas em edifícios emblemáticos da cidade,
devidamente reabilitados para o efeito. Naturalmente, dados os nichos de
mercado explorados por essas insígnias, os nossos transeuntes são de modo
geral jovens e jovens-adultos, de ambos os sexos. Dependendo do tempo,
junto à porta sul do centro, entre o jardim Luís de Camões e o edifício da
Caixa Geral de Depósitos, é provável que um pequeno bando de adolescen-
tes anime esse espaço. Estes, na maioria rapazes, estão ali porque a última
intervenção de reabilitação urbana dotou o local de estruturas favoráveis à
prática de skate. E, por último, há ainda aqueles que matam o tempo numa
das esplanadas da praça Rodrigues Lobo e estão ali sobretudo porque tra-
balham numa das lojas próximas e necessitam fazer uma pausa, porque são
continuam animados, seja pela população local que os usa com frequência
enquanto espaços de lazer e sociabilidade, seja por alguns turistas, de pas-
sagem pela cidade, que precisam retomar as energias numa ou outra para-
gem, acompanhados de uma longa bebida. Quanto ao tempo, ainda que
marcado por outros ritmos, a vivacidade da noite contrasta claramente
com a pacatez do dia. Essa animação noturna, gerada essencialmente pelos
cafés e pelos bares, de modo geral povoa todo o centro histórico, mas tem
no Largo Cândido dos Reis, também conhecido pelo Terreiro, o seu espaço
de eleição. A boêmia no centro histórico, embora não sendo uma novidade
dos tempos que correm, tampouco do século XX (Coelho, 1999), conquis-
tou, no entanto, outros espaços e conheceu outro dinamismo com a instala-
ção na cidade, ainda nos anos 1980, do Instituto Politécnico. Não fossem os
estudantes e o declínio do centro histórico seria bem mais profundo. Estes
não só são os clientes mais assíduos dos bares, que apenas abandonam noite
dentro, como também representam uma importante fonte de receitas para
algumas famílias, através dos quartos que alugam na área.
Todavia, subscrevendo a moral da história de Dickens, Um conto de
Natal, acreditamos que é possível traçar para 2030 um cenário alternativo
para o centro da cidade de Leiria, bem menos sombrio do que aquele que
acabamos de esboçar, que decorre da simples projeção no futuro das ten-
dências herdadas do passado. A concretização na vida real da nossa utopia
para a área central depende de um conjunto de fatores e mudança de com-
portamentos que envolvem os diferentes stakeholders da cidade; os poderes
públicos, naturalmente, através da sua ação de governança, mas também
os empresários, responsáveis pelos investimentos que se fazem na urbe, e
ainda, como não poderia deixar de ser, os cidadãos-consumidores, que com
suas escolhas constroem o cotidiano da cidade; seja dos espaços que fre-
quentam, contribuindo para a sua vitalidade, seja dos que colocam à mar-
gem das suas práticas, precipitando por essa via o seu declínio.
O nosso cenário do futuro alternativo para o centro de Leiria amarra-
-se em quatro elementos fundamentais, dos quais dependem sua materia-
lização e sua sustentabilidade a longo prazo. Em primeiro lugar, colhendo
frutos das sinergias geradas pelas operações de requalificação do espaço
público, desenvolvidas pela autarquia nas duas primeiras décadas do
século XXI, o centro da cidade apresentar-se-á em 2030 bem mais atrativo
que hoje. O bom estado de preservação da generalidade das fachadas dos
que se tinha perdido com o tempo. Essa é a principal razão pela qual o
ambiente no centro nesta viagem ao futuro é tão agradável e convidativo,
e que as oportunidades para os encontros de rotina, a partilha de experiên-
cias e os momentos de socialização, convívio e entretenimento, como os que
pudemos observar e experienciar na tarde de sábado de 24 de agosto de 2013
(Figura 6), possam ser em 2030 tão frequentes na cidade. Satisfeitos com as
instalações ambientais, culturais e comerciais que lhes são proporcionadas,
os leirienses parecem hoje estar bem mais disponíveis para colocar o centro
da cidade na rede de lugares significativos da sua vida cotidiana, alimen-
tando por essa via a sua regeneração, resiliência e sustentabilidade.
3. Nota final
a sua “morte”, mais cedo ou mais tarde, está garantida. No entanto, como
salientaram vários autores, as cidades e as áreas que lhe dão forma tanto
podem morrer como “voltar a nascer” ou reinventar-se, deixando claro
que o renascimento é uma alternativa à morte (Roberts, 1991). O processo
de gentrificação que vem sendo experienciado por vários bairros tradicio-
nais nas cidades europeias e norte-americanas, frequentemente alimen-
tado por políticas públicas e programas de reabilitação, é um bom exemplo
desse renascimento. Isso serve para dizer que o futuro do centro da cidade
de Leiria, como o de qualquer outro aglomerado urbano, não está predefi-
nido. Este está se construindo diariamente e será sempre um produto das
utopias que se desenharem para ele e da capacidade de os diferentes atores
da cidade tornarem essas utopias reais.
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Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 27,5 x 49 paicas
Tipologia: Horley Old Style 11/15
1a edição: 2018
EQUIPE DE REALIZAÇÃO
Capa
Megaarte Design
Edição de texto
Marcelo Porto (Copidesque)
Carmen T. S. Costa (Revisão)
Editoração eletrônica
Sergio Gzeschnik
Assistência editorial
Alberto Bononi
Richard Sanches