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ARTIGO

MODELAGEM PARAMÉTRICA, CRIATIVIDADE E PROJETO: DUAS


EXPERIÊNCIAS COM ESTUDANTES DE ARQUITETURA
Parametric Modeling, Creativity, and Design: two experiences with architecture’
students

Wilson Florioi e-mail | CV Lattes

O objetivo deste artigo é refletir sobre o uso da modelagem paramétrica em duas experiências
didáticas. O primeiro experimento envolveu recursos do programa Paracloud e sua relação com o
programa Rhinoceros, que resultou na produção de modelos físicos produzidos com o auxílio da
cortadora a laser. No segundo experimento, os estudantes produziram algoritmos no Grasshopper,
resultando em famílias de estruturas e coberturas. O objeto de estudo são os algoritmos e modelos
físicos e digitais resultantes desta experimentação. Para a análise e reflexão dos resultados obtidos,
adotamos quatro importantes pressupostos: 1. o valor das atitudes e do ambiente de trabalho; 2. a
Resumo

importância da experimentação e do improviso; 3. entendimento do projeto como um ato situado e


como um problema mal-definido; 4. a inclusão do pensamento criativo e crítico nas disciplinas. Os
resultados obtidos nos permitem afirmar que a modelagem paramétrica estimula a criatividade, pois
permite a combinação de diferentes parâmetros, que resultam em descobertas inesperadas.
Palavras-chave: Ensino-aprendizagem, Modelagem Paramétrica, Cortadora a Laser, Grasshopper,
Processo de Projeto, Criatividade.

The aim of this article is to reflect on the use of the parametric modeling in two didactic experiences.
The first experiment involved resources of the Paracloud program and its relation with the Rhinoceros
program, that resulted in the production of physical models produced with the aid of the laser cutting.
In the second experiment, the students had produced algorithms in the Grasshopper, resulting in
families of structures and coverings. The study objects are both the physical models and digital
algorithms resultants from this experimentation. For the analysis and synthesis of the results, we
adopted four important assumptions: 1. the value of attitudes and environment of work; 2. the
Abstract

importance of experimentation and improvisation; 3. understanding of the design process as a


situated act and as a ill-defined problem; 4. the inclusion of creative and critical thought in the
disciplines. The results allow us to affirm that the parametric modeling stimulates creativity, therefore
allowing combination of different parameters, that result in unexpected discoveries.
Keywords: Teach-Learning, Parametric Modeling, Laser Cutter, Grasshopper, Design Process,
Creativity.

Gestão e Tecnologia de Projetos [ISSN: 19811543]


DOI: 10.4237/gtp.v6i2.211

Volume 6, Número 2 | Dezembro, 2011


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Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura

1. INTRODUÇÃO
A fragmentação do Ensino em disciplinas Neste relato, o enfoque das disciplinas de
estanques, sem conexões umas com as outras, Informática e de Maquete não é operacional e
sempre gerou sérios problemas para a instrumental, como ocorre em muitos Cursos de
integração de conteúdos no currículo. No Arquitetura. O pressuposto é que estas
entanto, nas últimas décadas, a forte pressão em disciplinas práticas podem e devem ser uma
incorporar novas disciplinas e, ao mesmo tempo, continuidade das atividades realizadas no atelier
a exclusão sem critério de disciplinas de projeto. Além das habilidades e
fundamentais, tem causado instabilidades, conhecimentos técnicos, estas disciplinas
prejudiciais para o processo de ensino- incorporam procedimentos reflexivos e críticos
aprendizagem de arquitetura. O ensino de sobre o processo de desenvolvimento e de
qualidade não pode desconsiderar os representação de projetos de arquitetura.
fundamentos básicos de cada profissão, nem Portanto, a ideia central é que conhecimentos
tampouco deixar de incorporar novos novos e antigos estão na base do pensamento
conhecimentos sem reflexão e crítica. criativo e reflexivo.
Neste artigo defendemos a ideia de que é O presente artigo tem como objetivo refletir
possível incluir novos conteúdos e atender ao sobre o uso da modelagem paramétrica em
plano de ensino, com os conhecimentos básicos, projeto de arquitetura. Na primeira parte do
considerados fundamentais em cada disciplina. artigo, introduzimos: conceitos e definições
Além disso, os procedimentos adotados em sala sobre modelagem paramétrica; raciocínio
de aula conciliaram as novas tecnologias com os analógico e criatividade; ensino-aprendizagem e
processos artesanais, sem a eliminação de o processo de projeto. Na segunda parte
experiências sensoriais importantes, uma vez relatamos a experiência didática em que foram
que, do ponto de vista da cognição, este processo utilizadas a modelagem paramétrica e a
enriquece a aquisição de conhecimentos. fabricação digital para produzir diferentes
padrões de coberturas de edifícios.
Na atualidade, o artesanal e o tecnológico estão
fortemente presentes na produção de projetos O objeto de análise do artigo são os algoritmos,
de arquitetura. Os grandes escritórios de os modelos geométricos digitais 3D e as
arquitetura demonstram que maquetes físicas maquetes físicas realizadas pelos estudantes. Os
ainda são fundamentais para a plena resultados obtidos incluem desenhos de
compreensão do espaço. Os antigos diferentes padrões geométricos e sua
conhecimentos de geometria são fundamentais materialização em maquetes físicas. São
para compreender e projetar espaços de grande relatados os procedimentos adotados durante
complexidade. Parece razoável, por este ponto sua realização no atelier e no laboratório de
de vista, que se faça uma re-valorização destes informática. Na parte final realizamos a
conhecimentos diante das facilidades trazidas discussão sobre a experiência didática,
pelas novas tecnologias de representação e de considerações e conclusões finais sobre o
simulação de espaços. raciocínio analógico paramétrico.

2. MODELAGEM PARAMÉTRICA
Nas últimas duas décadas, as máquinas de Normalmente, durante o processo de criação e
controle numérico têm auxiliado a fabricação de desenvolvimento de um projeto de arquitetura,
formas orgânicas e incentivado a criatividade. características específicas de partes desenhadas
Branko Kolarevic (2003) aponta pesquisas e são revisadas e modificadas muitas vezes. Para
edifícios construídos a partir das novas técnicas responder a este problema foi desenvolvida uma
de modelagem geométrica e de fabricação estrutura, embutida em programas gráficos
digital, e alerta sobre a importância dos novos computacionais, baseada em parâmetros e
conhecimentos sobre topologia, geometrias não- hierarquia: as variações paramétricas.
euclidianas, NURBS (Non Uniform Rational Beta
O uso de parâmetros para definir a geometria de
Splines) e parametrização. Além disso, a
elementos construtivos, no âmbito da
arquitetura internacional recente demonstra
construção civil, tem provado ser cada vez mais
claramente que a modelagem paramétrica (MP)
eficaz no processo de projeto. Edifícios são
e a fabricação digital têm amparado os
compostos literalmente de milhares de partes
arquitetos e engenheiros nessa renovação no
individuais, e de um grande número de
modo de construir.
conexões. Uma modelagem desse tipo exige que
essas porções sejam agrupadas em componentes

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constituídos por parâmetros, de modo a facilitar A partir do programa Rhinoceros, que opera com
a manipulação de acordo com a necessidade do recursos NURB, e do Grasshopper, pôde-se
usuário. Assim, a MP torna-se uma poderosa avançar na investigação de formas e superfícies
ferramenta digital para explorar diferentes topologicamente contínuas de terceiro grau ou
configurações geométricas em projetos AEC superior. Não se trata mais de operar apenas
(FLORIO, 2009a). sobre elementos geométricos como linhas e
planos, trata-se de operar sobre parâmetros que
O poder dos computadores está na sua
subjazem à construção geométrica da forma.
capacidade de calcular rapidamente complexas
Assim, a manipulação topológica dos pontos e
fórmulas matemáticas. No âmbito do projeto de
curvas no espaço, que constituem os elementos
edifícios, este fato tem permitido viabilizar
geométricos, é que impulsiona as construções de
geometrias complexas, introduzindo a
grande complexidade formal e espacial na
possibilidade de criar e manipular novas famílias
atualidade.
de formas e de superfícies curvas. Novas
ferramentas computacionais, em ambientes Entretanto, é importante explicar inicialmente a
paramétricos, permitem programar as natureza desta continuidade das superfícies
dependências entre componentes, por meio do topológicas. Segundo David Rogers, “curvas e
uso de variáveis, chamadas parâmetros. Estes superfícies são representadas matematicamente,
permitem construir regras, traçar relações entre ou explicitamente, ou implicitamente, ou ainda
os pontos de uma curva, e definir o parametricamente” (ROGERS, 2001, p.2). Este
relacionamento e dependência entre eles. último se dá quando um dos parâmetros é
Portanto, as curvas derivadas deles capacitam a flexível, ou seja, pode variar. As superfícies
criação de superfícies curvas controladas decorrentes destas variações paramétricas
parametricamente. podem ser contínuas se o polinômio for de
terceiro grau ou superior. Esta qualidade só
Há diferentes modos de estabelecer parâmetros.
pôde ser incorporada, como uso em projetos, a
A MP por scripts é extremamente eficiente para
partir do processamento matemático
programar algoritmos complexos. No entanto,
computacional. Todavia, há duas espécies de
alguns plug-ins, como o Grasshopper e o Paneling
continuidade associada a curvas e superfícies: a
Tools, têm facilitado o trabalho daqueles que não
continuidade geométrica e a continuidade
são programadores, ou mesmo daqueles que não
paramétrica. Segundo Rogers (2001), a primeira
possuem interesse em realizar a verdadeira
é física e a segunda é matemática. Para a
programação.
definição que nos interessa neste artigo, ambas
Nos últimos anos tem-se acompanhado o continuidades são fundamentais, pois o
crescente interesse dos estudantes de interesse é modelar formas contínuas, definindo-
arquitetura por formas e espaços de grande as matematicamente no computador, e depois,
complexidade, em particular edifícios construí-las, fisicamente, a partir de modelos
contemporâneos gerados a partir das novas físicos derivados de desenhos computacionais.
tecnologias digitais. O plug-in Grasshopper, com
Pesquisas publicadas no Congresso Sigradi nos
scripts embutidos nos comandos, é o mais
últimos anos (ALVARADO; TURKIENICZ, 2010;
popular na atualidade. Criado em 2008, este
BRUSCATO; ALVARADO, 2010; BUENO;
plug-in tem fascinado jovens estudantes a operar
BARRERA, 2008; CELANI, 2009; CHIARELLA,
com scripts embutidos nas sequências de
2004; FLORIO; TAGLIARI, 2008; HANNA;
comandos, que os antigos meios de programação
TURNER, 2006; HERNANDEZ, 2004; HERRERA,
não conseguiram. Sua facilidade de operação
2009; TAGLIARI; FLORIO, 2009; VINCENT;
tem incentivado a produção de componentes de
NARDELLI; NARDIN, 2010), revelam a crescente
grande complexidade, com parâmetros
importância da MP e dos sistemas generativos
claramente definidos. Consequentemente, nota-
no processo de projeto em arquitetura. Além
se que tais recursos tecnológicos têm
disso, a intensificação do uso de protótipos
contribuído para avanços significativos sobre o
rápidos e da fabricação digital de elementos
domínio de formas de grande complexidade,
construtivos, no âmbito acadêmico, tem
sobretudo para novos estudos sobre a geometria
renovado o interesse pelo processo construtivo e
topológica.
sua materialização em ambiente físico.

3. RACIOCÍNIO ANALÓGICO E CRIATIVIDADE


Atualmente pode-se afirmar que criatividade é a adaptada ao contexto na qual ela se manifesta,
faculdade humana que excede os processos e ou ainda, criatividade é a combinação original de
rotinas diárias de pensamento e fazer. A ideias conhecidas. Por este entendimento,
criatividade é a capacidade de realizar uma arquitetos são criativos quando produzem
produção que seja ao mesmo tempo nova e combinações e associações incomuns de ideias,

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com resultados não previstos a priori. Nesse internalizar conhecimentos e experiências, de


sentido, a MP permite expandir, de modo ágil, o um modo criativo, o professor deve delimitar
número de combinações entre as variáveis, procedimentos em sala de aula de modo a
proporcionando a obtenção de descobertas estimular a experimentação com liberdade de
inesperadas. escolha, e sem julgamentos prévios. Como
aprender com erros e acertos faz parte do
Entretanto, a obtenção de combinações e de
processo, o professor ajudará a amparar o
variações por meio da MP exige um pensamento
estudante quando necessário, tornando o
lógico, associativo e explícito sobre processos
aprendizado mais significativo para o aluno. É
interativos (HARDY, 2011), o que requer
importante que o aluno sinta prazer e satisfação
disciplina, organização sobre o processo de
com aquilo que está fazendo. Mihaly
projeto e pensamento abstrato. Assim, na
Csikszentmihalyi (1997) defende a importância
presente pesquisa, procurou-se estimular os
de tornar nossas atividades diárias em algo
alunos a realizarem associações entre ideias
agradável e divertido. Experimentar é aprender
contidas entre diferentes projetos conhecidos.
se divertindo com os erros e com os resultados
De um modo explícito, foram incentivadas
obtidos. Desse modo, os conhecimentos e regras
associações entre diferentes ideias tais como,
de uma disciplina podem ser incorporados na
entre corpo humano e edifícios, ou entre
formação do aluno de modo consistente e
edifícios e elementos da natureza.
duradouro.
Do ponto de vista do ensino-aprendizagem, é
importante destacar que para o estudante

4. ENSINO-APRENDIZAGEM E O PROCESSO DE PROJETO


Muitos educadores reclamam que não é possível seleciona e julga. O primeiro envolve
ensinar o conteúdo tradicional básico da pensamento criativo, enquanto que o segundo
disciplina e, ao mesmo tempo, introduzir um envolve pensamento crítico. Esta alternância
pensamento criativo e crítico. De fato se entre geração de novas ideias dentro de um
pensarmos que a carga horária é restrita e que quadro mais abrangente, com liberdade, se
criatividade e reflexão não cabem dentro do contrapõe ao outro momento, onde se reúne a
escopo da graduação, o problema parece informação mais significativa, e se julga com
insolúvel. No entanto, pode-se argumentar que o rigor e discernimento crítico. Estes dois
debate é de outra natureza. Na realidade, a pensamentos se complementam, pois enquanto
verdadeira discussão de muitos educadores um abre possibilidades e analisa, o outro
reside na dúvida de ministrar um curso com condensa, sintetiza e avalia. Ambos dependem
método tradicional, baseado na transmissão de da aquisição e da recuperação de conhecimentos
conteúdos, ou inovador, abalizado pelo armazenados na memória. Portanto, o ensino de
pensamento criativo e crítico. No primeiro projeto, e disciplinas práticas, não podem apenas
método o curso está baseado em conteúdos e privilegiar a repetição de exercícios e de tarefas
matérias sedimentados, enquanto que no que restrinjam a atividade a uma mera solução
segundo está a promoção de novos de um problema conhecido, ao contrário, deve
conhecimentos e da reflexão crítica. A diferença incorporar problemas desconhecidos, que exigem
não é apenas quantitativa é, sobretudo, investigação e reflexão crítica.
qualitativa, uma vez que formar alunos com
Diante deste quadro, pode-se afirmar que o
conhecimentos consolidados pela prática
processo de ensino-aprendizagem requer uma
profissional é muito pouco diante das aceleradas
relação equilibrada entre o ensino, isto é, a
transformações da sociedade atual. Em uma
transmissão de conhecimentos e conteúdos
sociedade competitiva, onde a capacidade de se
consolidados e maduros por parte do professor,
atualizar e renovar conhecimentos se torna cada
assim como a aprendizagem do aluno, por meio
vez mais importante, o método inovador (ou
da construção e da busca de novos
provocador), que envolve um pensamento
conhecimentos e de novas habilidades. Para
crítico e criativo, é cada vez mais necessário.
tanto, esta experiência didática, realizada pelo
Na realidade, a aquisição de conhecimentos deve autor, está alicerçada em quatro pressupostos. O
se dar tanto pela transmissão como pela primeiro é que a qualidade deste processo
reflexão, fazendo com que o pensamento criativo depende fundamentalmente do ambiente de
e o crítico sejam indissociáveis. No caso da trabalho, sobretudo nas atitudes adotadas pelos
arquitetura, o processo de projeto exige professores na relação com os estudantes em
alternâncias constantes entre o pensamento sala de aula. O segundo é que a experimentação e
divergente e o pensamento convergente. No a variabilidade de soluções são essenciais para
primeiro se produz ideias, no segundo se testar diferentes pontos de vista sobre o mesmo

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problema. O terceiro pressuposto é que o saber é como fazer algo de modo diferente, requer
inseparável do pensar, uma vez que parte flexibilidade do aluno na combinação de
significativa do conhecimento advém das elementos contidos no seu repertório, exige a
atividades situadas. O quarto pressuposto é que procura de estratégias que abram possibilidades
o ensino de arquitetura deve incorporar o de exploração de diferentes aspectos do mesmo
pensamento criativo e o pensamento crítico, a problema.
partir do prazer, da reflexão e da satisfação na
Os avanços ocorridos nas décadas de 1970 e
aquisição de conhecimentos, no
1980, particularmente nas pesquisas realizadas
desenvolvimento de habilidades e nas atitudes
na denominada ciência do aprendizado,
aprendidas dentro e fora da sala de aula.
resultaram no entendimento do processo de
O ambiente criado pelo professor em sala de projeto como um ato situado. Nesta concepção,
aula deve ser agradável e a relação espontânea. pensar e fazer são considerados atos
Para que isso ocorra, as atitudes adotadas pelo inseparáveis. Greeno (1998) definiu o
professor têm um papel decisivo. O professor conhecimento “situado” como aquele que não
deve ser flexível, otimista e estimular a está apenas na estrutura mental da cabeça do
motivação intrínseca do aluno, ajudando a aprendiz, ao contrário, este conhecimento
construir a sua auto-estima. Disciplinas que envolve, além da pessoa, os indivíduos ao seu
mesclam discussões teóricas e práticas exigem redor, e, sobretudo, as atividades sobre as quais
uma relação professor-aluno movida pela o conhecimento está sendo aplicado. Na mesma
curiosidade e pelo prazer da descoberta. Nesse linha de raciocínio, Clancey (1997) enfatizou que
sentido, as atitudes mais importantes são: cada pensamento e ação humana é adaptada ao
cultivar o questionamento, encorajar a assumir meio-ambiente, isto é, situada, porque o que as
riscos, promover diferentes pontos de vista, pessoas percebem, como elas concebem suas
agenciar a integração entre diferentes atividades e o que elas fazem fisicamente se
conhecimentos e incentivar a autodisciplina. desenvolvem ao mesmo tempo.
Consequentemente, deve-se combater a ideia de
Por este entendimento, projetar é uma atividade
que há uma única solução correta e que os erros
situada, pois os arquitetos desenvolvem ações a
são ruins, estimulando os estudantes a pensar e
partir da observação e da interpretação de suas
improvisar, sem medo de errar.
próprias ações. Projeto é uma interação de fazer
O mero treinamento e a reprodução de e ver, fazer e descobrir (SCHÖN; WIGGINS, 1992,
conhecimentos vinculados apenas a um p.135). As sucessivas decisões ocorrem de
determinado paradigma produzem alunos acordo com que eles percebem em seus próprios
“domesticados” e subalternos, que não artefatos (desenhos, modelos físicos ou digitais).
constroem a autonomia e a competência do Portanto, no âmbito acadêmico, em vez de
pensar e fazer (FLORIO, 2009b). Durante o apenas armazenar e recuperar conhecimentos, o
ensino de projeto no atelier, o professor- aprendizado é visto a partir da atuação do aluno
orientador deve estimular o questionamento durante suas ações.
reconstrutivo (DEMO, 2007), que implica numa
Nesse sentido, entendemos a cognição como o
visão crítica sobre o pensar e o fazer, tanto do
processo ou faculdade de adquirir conhecimento
professor como do estudante.
durante o contexto da ação, que implica em
A criatividade é decorrente da improvisação que processar informações através da percepção e
ocorre durante a execução do trabalho árduo, do raciocínio.
pois o improviso, no contexto da ação, faz
Projetar é uma atividade durante a qual o
emergir novas possibilidades de realização, de
arquiteto desenvolve ações de acordo com as
modo inesperado e adaptado à situação.
mudanças em seu meio ambiente. Observando e
Aprender a fazer algo envolve disposição para interpretando os resultados de suas ações, ele
enfrentar a incerteza, superar obstáculos, decide sobre novas ações a serem executadas
persistência e trabalho intenso. Para que este sobre o meio. Isto significa que os conceitos dos
aprendizado seja significativo para o aluno, ele arquitetos mudam de acordo com aquilo que
deve ter a liberdade de experimentar, ou seja, eles estão “vendo” (SCHÖN; WIGGINS, 1992) em
deve sentir-se estimulado e apoiado a testar suas próprias representações externas. Esta
diferentes possibilidades durante o processo de interação entre o arquiteto, o meio ambiente e
projeto. Ao experimentar e fazer algo não os registros gráficos determina fortemente o
habitual, ele aprende a lidar com o inesperado, curso do projeto. Esta ideia é chamada de ação
tendo em troca um aumento de confiança em situada, (ou situatedness). O conceito de ação
suas ações. O papel do professor nesse momento situada é usado para descrever como processos
é estimular o uso de diferentes estratégias para projetuais, que conduzem a diferentes
resolver um conjunto de problemas. O conceito resultados, dependem de experiências únicas do
de variabilidade, definido por Stokes (1999)

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arquiteto e das circunstâncias que cercam a sua mal-definido, o problema pode ter múltiplas
realização. soluções. Neste processo estão presentes
incertezas e improvisos, fazendo com que, em
No início, o processo de projeto é incerto e
muitos casos, os arquitetos procedam por
imprevisível, o problema é aberto, há muitas
tentativa e erro. Consequentemente, nota-se a
variáveis sem definição, que podem conduzir a
importância do entendimento do processo, uma
muitos caminhos possíveis, decorrentes das
vez que a maior parte das ações é circunstancial,
prioridades e alternativas escolhidas. Esta
pois dependem do contexto da ação e na
situação é que Walter Reitman definiu como um
interação entre o indivíduo (o arquiteto, ou
problema mal-definido. Segundo Reitman
estudante de arquitetura), o domínio (os
(1965), um problema que evoca um conjunto
conhecimentos armazenados pela área de
grande de respostas variáveis pode ser
atuação) e o campo de atuação (formado por
considerado mal-definido (ill-defined, segundo o
todos aqueles que julgam, criticam e exercem a
autor) ou ambíguo, uma vez que não há muitas
profissão de arquiteto).
restrições, e as questões estão abertas. Em
decorrência deste fato, o processo de projeto em
arquitetura deve ter uma tolerância à
A seguir, serão apresentados os experimentos
ambiguidade, uma vez que há diferentes
realizados pelos estudantes em duas diferentes
soluções para o mesmo problema.
Instituições. Cada um dos trabalhos propostos
Diante do que foi exposto anteriormente, cabe teve como intenção a transmissão e a construção
concluir que o processo de projeto é definido por de conhecimentos, com o firme propósito de
pequenos ciclos, análise-síntese-avaliação, de desenvolver habilidades e enfrentar problemas
modo não linear e imprevisível. Por ser aberto e de projeto de modo criativo, reflexivo e crítico.

5. EXPERIMENTOS REALIZADOS
Nos anos de 2010 e 2011 foram realizadas duas de superfícies. Diferentes elementos
experiências didáticas com alunos de 4º e 10º construtivos, como paredes, painéis, portas e
semestres na Faculdade de Arquitetura e janelas, foram gerados em um edifício
Urbanismo da Universidade Estadual de residencial. Este exercício introdutório permitiu
Campinas e da Universidade Mackenzie, equiparar os conhecimentos que os alunos já
respectivamente. Na primeira, as disciplinas possuíam de outros três semestres de
envolvidas foram Informática IV e Maquete, Informática I, II e III.
enquanto que na segunda foi o TFG - Trabalho
O segundo trabalho foi iniciado na 5ª aula. Esta
Final de Graduação.
experiência didática, motivo desta pesquisa, foi
realizada em cinco etapas. Na primeira etapa, os
5.1 Experiência didática 1: FAU Unicamp alunos desenvolveram diferentes propostas de
coberturas curvilíneas. A fim de criar formas
Na pesquisa realizada no 2º semestre de 2010, a complexas, uma série de exemplos na
proposta para os alunos da Unicamp foi produzir arquitetura contemporânea foi apresentada (Fig.
uma cobertura de dupla curvatura, utilizando os 1), destacando-se como as formas foram obtidas
programas Rhinoceros e Paracloud. Os trinta a partir de modelagem geométrica digital. Os
alunos foram divididos em dez equipes, com o edifícios apresentados (para diferentes
objetivo de propor uma cobertura para atender propósitos e necessidades funcionais) serviram
a diferentes propósitos funcionais. para ampliar o repertório dos estudantes em
Durante o semestre, foram realizados três relação à arquitetura contemporânea. No
trabalhos na disciplina Informática IV. O entanto, os aspectos mais importantes para a
propósito desta disciplina é utilizar modelagem disciplina, nesta etapa, foram relativos aos
avançada de formas simples e complexas de conceitos fundamentais, particularmente a
elementos arquitetônicos. No primeiro mês, geometria baseada em superfícies regradas e
durante as aulas, os alunos receberam dupla curvatura, e análise da curvatura
ensinamentos de como modelar formas gaussiana, subjacentes aos projetos.
regulares pelas técnicas de modelagem sólida e

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Figura. 1 - Fotos de projetos contemporâneos e modernos, com superfícies regradas e de dupla curvatura.
Fonte: Autor: 2003 a 2010.

Esta parte teórica foi necessária porque os analogias, particularmente associações com
estudantes se encantam facilmente com formas projetos similares, ou mesmo entre elementos
inusitadas, mas possuem poucos conhecimentos da natureza, corpo humano e edifícios. A ideia
sobre o que está por trás das decisões não foi reproduzir literalmente formas
arquitetônicas e tectônicas. Assim, esta iniciativa existentes, mas estabelecer analogias entre
teve como objetivo alertar sobre a relação entre partes de formas de elementos conhecidos.
a forma e os materiais empregados (estrutura de Sobre esta etapa (Fig. 2), a equipe 3 declarou no
concreto armado ou metálica), assim como sobre relatório final:
a flexibilidade da fabricação digital de estruturas
“Iniciamos o trabalho com a elaboração
e de placas metálicas que compõem as
de uma superfície que utilizasse os
superfícies das coberturas dos edifícios
comandos aprendidos em aula. Nossa
apresentados.
ideia era moldar uma estrutura que
Assim, após cinco aulas (5ª a 9ª aula), os alunos fizesse algum tipo de menção ao corpo
já tinham conhecimentos de como modelar em feminino ... Inúmeras tentativas foram
três dimensões superfícies curvilíneas regradas feitas até chegarmos à forma final; esta
e de dupla curvatura. Neste exercício as equipes teve sua inspiração nas pernas de uma
foram orientadas a produzir ideias a partir de mulher”

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Figura 2 - . Experimentos realizados pela equipe 3. Fonte: Autor: 2010.

Na 2ª. etapa (10ª e 11ª aula) os estudantes gaussiana (Fig.3). As cores permitem visualizar
receberam outros conhecimentos sobre como quando a curvatura é zero (cor verde) ou
modelar componentes, particularmente placas diferente de zero (cores azul e vermelha). A
metálicas, que pudessem ser repetidos de passagem entre a cor verde para a amarela já
diferentes modos sobre a superfície criada na indicava que havia dupla curvatura, enquanto
etapa anterior. Assim, cada equipe modelou que a cor vermelha e a azul indicavam altas
entre quatro e seis módulos diferentes, dificuldades de operar naquelas áreas por meio
parâmetros para serem distribuídos de placas metálicas. Assim, mesmo sem maiores
aleatoriamente sobre a cobertura. Neste noções sobre estrutura, os estudantes puderam
momento, o professor destacou a importância de visualizar o grau da curvatura e a dificuldade em
superfícies regradas para a solução da geometria materializá-la no modelo físico durante as aulas
das placas da cobertura. Esta análise foi de maquete.
realizada por meio da análise da curvatura

Figura 3 - Análise da curvatura gaussiana de algumas equipes. Fonte: Autor: 2010.

Na 3ª. etapa (12ª e 13ª aula) estas superfícies e foi denominado por uma letra do alfabeto.
os respectivos módulos foram importados no Módulo 1 = letra a, módulo 2 = letra b, e assim
programa Paracloud. Neste programa, pôde-se por diante. Na figura 4 pode-se ver que as letras
combinar aleatoriamente os módulos para a, b, c, d, e foram mescladas, resultando em
serem aplicados sobre a superfície. Cada módulo diferentes combinações de parâmetros.

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Figura 4 - Superfície importada do Rhino e a matriz de células – a, b, c, d, e – no programa Paracloud. Fonte:


Autor: 2010.

Figura 5 - Superfície exportada para o Rhino e a matriz de células – a, b, c, d, e – em diferentes cores, gerada
pelo programa Paracloud. Fonte: Autor: 2010.

O programa Paracloud permitiu combinar e foi escolhida para ser produzida em modelos
aplicar os cinco módulos sobre a superfície físicos.
subdividida e enviar novamente para o
Ainda na mesma etapa, a estrutura, composta
Rhinoceros. Na figura 5 pode-se visualizar a
por vigas longitudinais e transversais, foi gerada
matriz de módulos e os módulos resultantes em
no programa Paracloud de acordo com o número
suas respectivas cores. Entretanto, apenas uma
de subdivisões da superfície, que foi,
das combinações paramétricas de cada equipe

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inicialmente, criada no programa Rhinoceros. técnica unroll (também conhecida como


Além de definir a altura e espessura das vigas, foi unfolding – Figura 7, ao centro, em cores).
possível gerar os encaixes macho e fêmea Consequentemente pôde-se obter toda a
correspondentes à metade da altura das vigas geometria da estrutura nesta interação entre os
em ambas as direções. Entretanto, o recurso programas Rhinoceros-Paracloud. Na figura 6
mais importante nesta fase foi o de gerar as pode-se visualizar as estruturas em 3D geradas
vigas já planificadas e numeradas. O programa pelo Paracloud no programa Rhinoceros, e já na
Paracloud enviou as informações para o Rhino figura 7 pode-se ver as mesmas vigas
sobre as vigas em 3D (Fig.6), e também gerou as desdobradas em 2D no plano e diagramadas
mesmas vigas no plano em 2D (Fig.7). para serem enviadas para a cortadora a laser.
Por outro lado, os módulos enviados pelo Na 4ª. etapa (14ª e 15ª aula) as equipes
Paracloud foram moldados sobre a superfície organizaram as vigas e os módulos gerados em
inicial no Rhino (Fig.5). Como as superfícies folhas com dimensões de 80 x 50 cm, e as
enviadas são de primeiro grau, os módulos enviaram para a máquina de corte a laser
transversais de cada fileira foram unidos no Universal Systems, do LAPAC da Unicamp (Fig.
Rhino (com o comando join) e desdobrados pela 8).

Figura 6 - Estrutura gerada no Rhinoceros a partir das informações enviadas pelo Paracloud. Fonte: Autor:
2010.

Figura 7 - Estrutura desdobrada no Rhinoceros e diagramada em folhas de 80 x 50 cm. Fonte: Autor: 2010.

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Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura

Figura 8 - Módulos desdobrados no Rhino e cortados pela cortadora a laser. Fonte: Autor: 2010.

Figura 9 - Fotos das equipes e dos modelos durante a montagem. Cada letra corresponde a sequência do
processo de diferentes grupos de estudantes. Fonte: Autor: 2010.

Na etapa final, durante as três últimas aulas de encaixe macho e fêmea permitiu a rápida fixação
maquete, a estrutura foi montada. O tipo de entre as vigas longitudinais e transversais. Após

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Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura

a finalização da montagem da estrutura, foram compreensão espacial daquilo que está sendo
sobrepostas as faixas de módulos transversais gerado.
sobre a estrutura. Os vincos entre um módulo e
A segunda constatação é que, durante a
outro, realizado pela cortadora a laser, facilitou o
montagem dos modelos físicos, os estudantes
manuseio das dobras dos módulos sobre a
mostraram-se surpresos com algumas das
superfície. As fotos da montagem (Fig. 9)
características dos modelos obtidos. Em
mostram que as equipes tiveram alguns
primeiro lugar, a escala 1:100 os surpreendeu,
problemas simples durante a montagem.
uma vez que eles achavam que alguns
Algumas vigas, particularmente aquelas mais
componentes eram maiores do que aquilo que
compridas, se romperam durante o manuseio,
viram na tela do monitor de vídeo. Em segundo
devido à fragilidade ocasionada pelas
lugar, os estudantes se conscientizaram da
reentrâncias dos encaixes. As superfícies
importância dos modelos físicos como um meio
curvilíneas mais complexas, com mudanças mais
complementar fundamental para a plena
abruptas de direção, ocasionaram dificuldades
compreensão da materialidade da arquitetura.
durante a sobreposição das faixas de módulos.
A terceira constatação é que os resultados
obtidos proporcionaram a sensação de êxito
Discussão sobre os resultados obtidos no diante do desafio de criar e produzir algo de seu
experimento realizado na FAU Unicamp interesse. A motivação e a autoconfiança
aumentaram de modo significativo, pois eles
perceberam que este exercício possui um
Os exercícios realizados pelos estudantes potencial de aplicação direta em suas atividades
durante as disciplinas de Informática e de projetuais. Parece que os estudantes
Maquete começaram com problemas bem- entenderam que os meios de expressão e de
definidos, com claras restrições e representação estão intimamente relacionados
encaminhamentos de soluções e terminaram com o processo de projeto.
com problemas mal-definidos, exigindo dos
Constatamos que alguns problemas gerados
estudantes uma postura mais crítica e
durante a montagem do modelo físico ocorreram
participativa, desde a definição do problema até
justamente nas equipes que insistiram na
as possíveis soluções. O primeiro exercício de
proposta inicial, mesmo sabendo que a excessiva
Informática e de Maquete tratou de modelos
curvatura gaussiana representaria problemas de
digitais e físicos com formas de geometria
execução. Neste caso, os estudantes assumiram
regular. Na seqüência os alunos representaram
diferentes posições para enfrentar o problema. A
um mesmo projeto de arquitetura, por meio de
equipe 3, por exemplo, refez a superfície e
um modelo físico e um digital. A intenção foi
propôs uma nova curvatura, que foi realizada
apontar a complementaridade na compreensão
com sucesso. No relatório final esta equipe fez o
dos espaços projetados, explorando o que há de
seguinte comentário: “Partimos para a criação de
melhor nas duas técnicas de representação. Já no
uma nova superfície e procedemos da mesma
terceiro exercício explorou-se a complexidade
maneira que a anterior”. Parece que o trabalho
das formas orgânicas.
motivou as equipes, que não pouparam esforços
A experiência na Unicamp integrou as disciplinas para vencer os obstáculos.
de Informática e de Maquete. Foram constatados
Por outro lado, as equipes 2 e 6 insistiram até o
alguns fatos importantes para o ensino de ambas
final, mas não conseguiram completar, de modo
as disciplinas. A primeira constatação é que os
satisfatório, a cobertura com os módulos. Isso
estudantes ainda apresentam dificuldades para
ocorreu porque a espessura do papel utilizado
geometrizar superfícies orgânicas, sem uma
para os módulos não assumia a dupla curvatura,
forma definida. As superfícies curvilíneas
obrigando os alunos a fazerem “adaptações”,
parecem confundir a percepção e localização dos
com dobras e fissuras indesejadas.
componentes no espaço, dificultando a plena

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Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura

Figura 10 - Resultados obtidos durante as etapas do processo. Fonte: Autor: 2010.

É importante destacar que a persistência e o Concluímos que as habilidades desenvolvidas


empenho dos alunos para enfrentar os vários durante o fazer manual permitem expressar
obstáculos, que surgiram durante todo o diferentes ações cognitivas, pois incorporam
processo, só ocorreram porque eles estavam simultaneamente a visão e o tato durante o
motivados intrinsecamente. A primeira pensar-fazer. Durante a produção de modelos
dificuldade foi a de obter resultados diferentes a físicos, essa combinação dos sentidos torna-se
partir de diversos tipos de papéis. Isso ocorreu um modo mais natural de assimilar e apreender
porque a cortadora a laser não foi configurada o espaço que está sendo concebido. Nesse
adequadamente para quatro equipes, pois elas sentido, o modelo físico permite utilizar a mão
não escolheram o papel duplex branco que as em duas direções: em parte para efetuar uma
outras seis equipes utilizaram. Ao escolher tarefa, em parte para investigar possibilidades
outros tipos de papel, como o craft, triplex ou de criativas.
maior espessura, por algum descuido, a máquina
O modelo físico é mais tangível porque envolve
não foi configurada com a potência e velocidade
mais de um sentido, propiciando uma percepção
adequada, obrigando os alunos a enviarem
mais profunda e crível. O modelo físico é mais do
novamente o arquivo ou, pior, a completar o
que um artefato artesanal; é uma forma de
corte à mão, com pequenos reparos.
explorar manualmente possibilidades e
Outra dificuldade foi que as vigas de encaixe descobertas inesperadas. A destreza e a
macho e fêmea variaram de curvatura, oscilando competência de realizar rapidamente algo
de um lado para outro, dificultando a montagem manualmente permitem explorar novas ideias
na aula de maquete. Isso ocorreu em quatro durante sua execução. Por outro lado, as novas
equipes, pois embora as superfícies fossem tecnologias digitais facilitam a execução de ações
adequadas do ponto de vista da curvatura, o repetitivas, processam e combinam grandes
espaçamento das peças da estrutura não foram quantidades de dados complexos, acelerando e
bem planejados, ocasionando curvaturas dinamizando o processo de experimentação, de
indesejadas, que dificultaram a montagem. Neste comparação e de seleção das melhores
caso, os estudantes refizeram a estrutura, com alternativas. No meio digital, pode-se testar
maior espaçamento e montaram novamente mais, pois não há o contato irreversível da
outro modelo físico. matéria. Portanto, essa complementação
manual-digital é primordial na prática de
Os variados recursos utilizados, assim como a
projeto.
exploração de quatro diferentes espaços de
trabalho (Maquetaria, atelier e LAPAC para A compreensão pelo toque é imprescindível para
disciplina de Maquete; e Laboratório de a plena compreensão da posição de objetos no
Informática e LAPAC para disciplina de espaço. Embora o meio digital seja excelente
Informática) estimularam os alunos, uma vez para racionalizar formas de grande
que os ambientes possibilitaram diferentes complexidade, o meio físico é ainda aquele onde
ritmos e formas de interação. percebemos a realidade física com maior
intensidade (FLORIO; TAGLIARI, 2008). Modelos
físicos e protótipos rápidos ajudam estudantes e

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Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura

profissionais a experimentar visual e tatilmente tivéssemos um roteiro para as etapas de


o espaço real reduzido, reconhecer elementos e trabalho, foram surgindo problemas imprevistos
suas características, inter-relações e seqüências durante ações situadas em diferentes contextos,
espaciais. O contato físico através do tato que estimularam a capacidade de procurar
permite sentir, analisar e julgar aspectos que a caminhos alternativos, tanto por parte do
visão, à distância, não permite. orientador, como por parte dos estudantes.
Consequentemente, o senso de orientação Durante a execução foi necessário repensar o
espacial se torna mais fácil porque é possível processo. Desde o início os alunos foram
manipular na realidade aquilo que o alertados que a avaliação seria pelo processo
conhecimento à distância não oferece. como um todo e não pelo resultado final. Assim,
sem a pressão de obter êxito total e sem a
Os experimentos realizados contribuíram para
obrigação de entregar um trabalho final
que os estudantes se conscientizassem sobre
“correto” e “perfeito”, os alunos se empenharam
algumas implicações decorrentes da elaboração
para superar a si próprios, fazendo diferentes
de formas complexas. Atualmente, a facilidade
tentativas até obter uma solução que lhes
de gerar formas inusitadas por meio de recursos
parecia aceitável.
computacionais tem fascinado os estudantes,
particularmente projetos mais ousados. As
experiências didáticas realizadas tiveram o firme 5.2 Experiência didática 2: FAU
propósito de incentivar um aprendizado único e Mackenzie
intransferível a partir da modelagem de formas
complexas. Contudo, para enfrentar este desafio, A proposta de criar um workshop para alunos do
teve-se que alertar sobre a importância do último ano do Curso de Arquitetura surgiu a
conceito, da geometria, das implicações técnicas- partir do pressuposto que eles teriam uma tripla
construtivas e materiais empregados na sua motivação: primeiro porque poderiam aprender
materialização. Nesse sentido, os modelos físicos algo novo, baseado em novas tecnologias;
foram extremamente eficazes nesta segundo porque poderia ter uma aplicação
compreensão, pois permitiram sentir pela visão imediata em seus próprios projetos; terceiro
e pelo tato as relações espaciais entre os porque a participação foi voluntária, sem um
elementos modelados no espaço tridimensional, compromisso de entregar um “produto acabado”
e, sobretudo, entender a complementaridade para ser “julgado” pelo professor. Assim, criou-
entre modelos físicos e digitais na concepção de se um ambiente favorável ao aprendizado, com
formas complexas. Além disso, os conceitos liberdade e livre de pressões.
sobre parametrização, que foram abordados,
permitiram despertar o interesse dos alunos No 1º semestre de 2011, a proposta para os
sobre o processo criativo, com descobertas alunos do Mackenzie foi produzir alternativas
inesperadas advindas da manipulação de para coberturas formadas por dobraduras,
parâmetros. utilizando o programa Rhinoceros e o plug-in
Grasshopper. Dez alunos foram selecionados
O trabalho colaborativo se mostrou produtivo, para participar de um workshop durante uma
pois uns ajudaram os outros, compartilhando semana, com carga horária de 30 horas (seis
conhecimentos e habilidades. A experimentação horas por dia, três horas de manhã, e três à
e a necessidade de improvisação promoveram tarde). Os alunos trabalharam em duplas, de
um aprendizado único e intransferível a cada modo que ao final obtivessem cinco diferentes
participante. Embora os modelos digitais propostas de coberturas paramétricas. Por se
mostrassem uma clara definição geométrica de tratar de alunos do final do Curso de Graduação,
seus elementos constituintes, e os encaixes se a intenção foi fornecer subsídios para encorajá-
mostrassem perfeitos para a montagem, as los a testar a MP como um meio de investigação
superfícies desdobradas, assim como as vigas de propostas arquitetônicas. Assim, sem um
macho-fêmeas possuíam dupla curvatura. Os programa de necessidades para um uso
alunos entenderam que embora a construção do específico, os alunos tiveram oportunidade de se
modelo físico se tornou possível, o mesmo não familiarizar com estes recursos.
ocorreria na situação de construção real, com
materiais não flexíveis (como os papéis No primeiro dia do workshop os alunos tiveram
utilizados), uma vez que determinadas contato com alguns algoritmos simples, de modo
geometrias possuíam dupla curvatura, e não a entender o encadeamento sequencial, lógico e
possuíam flexibilidade de adaptação na explícito entre comandos, funções e parâmetros.
realidade da construção. No segundo dia propuseram, ainda de um modo
O aprendizado decorrente deste trabalho foi não tão sistematizado, uma cobertura a partir da
intenso. O clima de improviso foi estimulante, definição de pontos, linhas e planos no espaço,
pois se tratava de uma experiência nova, tanto nas direções x, y e z. Este processo inicial foi
para o professor como para o estudante. Embora importante, pois os estudantes perceberam o

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Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura

potencial destes recursos, assim como a O conhecimento de precedentes foi muito útil
importância da definição lógica dos dados para servir como uma base do raciocínio
contidos nos parâmetros e a dependência entre analógico, pois algumas características destes
eles. projetos foram mapeadas e transferidas para o
projeto que eles estavam operando. Este
No terceiro dia os estudantes foram orientados
entendimento dos subproblemas presentes no
pelo professor no estudo de algumas
estudo e na conceituação das variáveis da
características de estruturas similares
estrutura permitiu que eles gerassem diferentes
conhecidas (Fig. 11). Este estudo serviu como
famílias de formas por meio da MP.
ponto de partida para pensar a parametrização.

Figura 11 - Referências utilizadas pelo orientador para o raciocínio analógico. Fonte: Engel, 1997.
Como será visto na próxima seção deste artigo, propôs uma estrutura-cobertura composta por
nos últimos dois dias os alunos tiveram que dobraduras, mostrando a flexibilidade do
propor uma solução própria, com os parâmetros algoritmo para obter uma família de formas com
claramente anunciados em um algoritmo. Assim, pelo menos 24 variações a partir da combinação
no final deste breve workshop, cada dupla entre os parâmetros criados (Figuras 12 a 17).

Algoritmo 1: Cobertura por Dobradura


Neste algoritmo a equipe 2 procurou comprimento da cobertura (eixo x) variou entre
parametrizar e gerar uma família de coberturas 6 e 30 metros.
por dobraduras. Os módulos foram gerados a
O parâmetro para a largura variou entre 1 e 3
partir da manipulação de pontos no espaço, de
metros. A largura mínima igual a 1 metro
modo a favorecer diferentes pórticos. Na
permite alinhar a largura do pilar com a
primeira etapa foram estabelecidos os
cobertura central, enquanto que a largura maior
parâmetros para o comprimento, a largura e a
que 1 metro gera espaços entre pilares (Fig.12).
altura do módulo. O comprimento do módulo
derivou de dois parâmetros. No primeiro foi Para a definição da geometria da dobradura da
estabelecido o vão entre os pilares, variando cobertura foram criados quatro parâmetros.
entre 6 e 20 metros. O segundo parâmetro, Dois parâmetros definem a altura do pilar e os
correspondente ao deslocamento do pilar no outros dois definem a altura do módulo no
eixo x, variou entre 0 e 5 metros. Portanto, o centro do vão, com alturas variando entre 2.50 e
10 metros. A combinação entre os quatro pontos

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Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura

(2 ao centro e 2 e cada extremidade) permite com maiores ou menores dimensões (Fig.12). Do


gerar dobraduras com superfícies simples ou ponto de vista estético, certas combinações são
complexas, ou seja, superfícies planas, curvas em atraentes, mas nem sempre compatíveis com
uma direção ou superfícies com dupla curvatura, questões funcionais e técnicas construtivas.
implicando em diferentes técnicas construtivas,

Figura 12 - Definição do algoritmo no Grasshopper realizado pela equipe 2 de estudantes do Mackenzie.


Fonte: Autor, 2011.
Por fim, o número de repetições do pórtico na gerar uma ampla família de coberturas por
direção do eixo y variou entre 3 e 20, resultando dobraduras, que podem atender a diferentes
em coberturas com áreas variando entre 36 e usos e necessidades. A figura 13 demonstra a
1800 metros quadros. Consequentemente, a flexibilidade, adaptabilidade e variabilidade
combinação entre os 8 parâmetros permite proporcionada pelo algoritmo.

Figura 13 - Experimento realizado pela equipe 2 de estudantes do Mackenzie. Fonte: Autor, 2011.

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Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura

Parâmetros do algoritmo 1 Valor mínimo Valor máximo

Comprimento do módulo – eixo x 6.00 20.00

Deslocamento do pilar – eixo x 0.00 5.00

Largura do módulo – eixo y 1.00 3.00

Altura do pilar: pontos laterais – eixo z 2.50 10.00

Altura do pilar: ponto central – eixo z 2.50 10.00

Altura do módulo: pontos laterais – eixo z 2.50 10.00

Altura do módulo: ponto central – eixo z 2.50 10.00

Número de repetições do pórtico – eixo y 3 20

Algoritmo 2: Pilares, arcos e pórticos


Este algoritmo foi definido em três etapas. Na O primeiro e segundo parâmetro estabeleceram
primeira foram criados os parâmetros relativos variações entre 3 e 12 lados do polígono, com
às dimensões e forma do pilar: número de lados raios variando entre 0.30 e 1.20 metros, de
do polígono; raio do polígono; altura do pilar no acordo com o vão a ser vencido e o tipo de
eixo z; deslocamento do pilar no eixo x. A material e técnica empregada na sua construção.
intenção foi criar uma gama de variações A variação para altura do pilar (eixo z) ficou
paramétricas a partir de poucos parâmetros. entre 2.50 a 5 metros, enquanto que o
Mas, ao mesmo tempo, o propósito foi gerar deslocamento de seu eixo na direção do eixo x
propostas plausíveis em termos construtivos, e variou entre 0 e 3 metros, permitindo assim
que também atendessem a uma ampla gama de ajustes em relação à tangente do arco e, ao
usos, desde edificações esportivas e escolares, mesmo tempo, garantindo alturas mínimas para
até galpões e pavilhões para fins variados. diversos usos pretendidos (Fig.14).

Figura 14 - Algoritmo criado pela equipe 3 de estudantes do Mackenzie. Fonte: Autor, 2011.
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Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura

Na segunda etapa de definição do algoritmo Na terceira etapa foram estabelecidos


foram estabelecidos parâmetros para o vão livre. parâmetros para a repetição do pórtico na
Para tanto, foi necessário definir um parâmetro direção do eixo y. O parâmetro para a distância
para a distância entre os eixos dos pilares das entre os pórticos variou entre 3 e 10 metros,
duas extremidades na direção do eixo x, o ângulo enquanto que o parâmetro para o número de
de rotação da extremidade superior do pilar, que repetições variou entre 2 e 15.
se ajustasse de acordo com a direção da tangente Consequentemente, as áreas mínimas e máximas
do arco, e a altura do arco central. O primeiro variam entre 18 e 5600 metros quadrados.
variou entre 6 e 20 metros; o segundo variou
A Figura 15 demonstra a flexibilidade e
entre 0 e 90 graus; o terceiro variou entre 2.50 e
adaptabilidade do algoritmo a partir das
12 metros. Outro parâmetro definido nesta
diferentes combinações entre os valores
etapa foi a escala do polígono na extremidade
estabelecidos para os dez parâmetros criados
superior do pilar, que variou entre 1 (mesma
para a geração das formas. A conceituação desta
escala da base) até 0.2 (1/5 da base). Assim,
família de formas e de espaços gerados pelo
estes quatro parâmetros (distância, inclinação,
algoritmo atende a diferentes propósitos –
escala e altura) definem a forma, o grau de
funcionais, técnicos, estéticos e espaciais.
esbelteza e a tangência do arco central.

Parâmetros do algoritmo 2 Valor mínimo Valor máximo

Número de lados do polígono 3 12

Raio do polígono 0.30 1.20

Altura do pilar 2.50 5.00

Deslocamento do pilar 0.00 3.00

Distância entre os eixos dos pilares na direção do eixo x 6.00 20.00

Ângulo de rotação (em graus) da extremidade superior do pilar 0 90

Escala do polígono na extremidade superior do pilar 0.2 1

Altura do arco central 2.50 12.00

Distância entre os pórticos 3.00 10

Numero de pórticos na direção do eixo y 2 15

Figura 15 - Família de pilares, arcos e pórticos realizado pela equipe 3 de estudantes do Mackenzie. Fonte:
Autor, 2011.

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Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura

Algoritmo 3: Cobertura giratória


O módulo desta cobertura foi definido a partir de entre 10 e 45 graus (em relação ao eixo y). No
um conjunto de pontos no espaço. A forma de terceiro a variação (no eixo z) ficou entre 0.50 e
um losango foi definida a partir de pontos nas 2 metros.
direções dos eixos x, y e z, de modo a permitir
Na segunda etapa foram definidos três
variações no comprimento, largura e altura do
parâmetros: número de repetições em torno de
módulo. A escolha do ângulo de rotação de cada
um eixo central; Distância entre os módulos
módulo define o número de módulos
escalonados na direção do eixo z; e escala do
distribuídos em torno de um eixo central. Neste
módulo nas direções x, y e z. O número de
algoritmo, a equipe 1 introduziu algumas
módulos variou entre 4 (para ângulos de 10
funções matemáticas, de modo a gerar diferentes
graus) e 18 (para ângulos de 45 graus). A
formas para a dobradura que constitui a
distância entre módulos variou entre 0 e 1
cobertura.
metro. Os parâmetros referentes à escala
Inicialmente os parâmetros estabelecidos variaram entre 1 e 2 metros na direção dos eixos
referem-se ao comprimento, largura e altura do x, y e z.
módulo. No primeiro a variação foi entre 2 e 6
metros de raio no eixo x. No segundo, a largura
decorreu do parâmetro de ângulo, que variou

Figura16 - Cobertura giratória: realizado pela equipe 1. Fonte: Autor, 2011.

Na última etapa foram definidos os parâmetros polígono que constitui o pilar variou de acordo
para o pilar central. O raio do pilar ficou entre com o número de módulos. Este parâmetro foi
0.10 e 0.70 metros. O número de lados do estabelecido pela mesma função matemática que

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Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura

determinou o número de módulos. Por fim, a diferentes combinações entre os valores


altura do pilar ficou entre 2.50 e 9 metros. estabelecidos para os nove parâmetros criados
para a geração das formas.
A figura 16 demonstra a flexibilidade e
adaptabilidade do algoritmo a partir das

Parâmetros do algoritmo 3 Valor mínimo Valor máximo

Comprimento do raio do módulo – eixo x 2.00 6.00

Largura do módulo em graus – eixo y 10 45

Altura do módulo – eixo z 0.50 2.00

Número de módulos 4 18

Distância entre os módulos na direção do eixo z 0.00 1.00

Escala dos módulos na direção dos eixos x, y e z 1.00 2.00

Raio do pilar central 0.10 0.70

Número de lados do polígono do pilar 4 18

Altura do pilar 2.50 9.00

Algoritmo 4: Pergolado
Este algoritmo foi criado com a intenção de gerar contra intempéries, mas à necessidade de criar
coberturas com diferentes ritmos de zonas que intercalam luz e sombra. Assim, a
sombreamentos. Os parâmetros para as pérgolas equipe 5 propôs um tipo de pergolado que
móveis permitem ajustes no comprimento, atuasse sobre os sentidos, particularmente sobre
largura, altura, espessura e rotação, gerando a percepção visual durante um determinado
diferentes desenhos. Como um elemento de percurso. Os valores mínimos e máximos para
transição, pergolados não atendem à cada parâmetro estão na tabela abaixo.
necessidade de uma cobertura para proteção

Parâmetros do algoritmo 4 Valor mínimo Valor máximo

Comprimento do módulo – eixo x 4.00 20.00

Largura do módulo – eixo y 4.00 10.00

Altura do módulo – eixo z 2.50 7.00

Espaçamento entre pilares 4.00 12.00

Altura das extremidades 0.00 7.00

Largura das vigas 0.20 0.50

Altura das vigas 0.20 0.60

Deslocamento da extremidade das vigas internas 0.00 0.90

Raio do pilar 0.20 0.8

Número de lados do polígono do pilar 3 12

Número de repetições dos módulos 1 10

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Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura

Figura 17 - Pergolado móvel: realizado pela equipe 5. Fonte: Autor, 2011.

A distância entre as pérgolas, assim como a paramétrica. Ocorreram dificuldades em relação


espessura delas estão vinculadas aos parâmetros à proporção e escala entre elementos criados,
estabelecidos. Por meio de funções matemáticas, pois a manipulação dos “sliders”, sem critério,
as vigas internas possuem a metade da gerou formas indesejadas e, às vezes,
espessura das vigas externas. Este procedimento sobrepostas. Para impedir que isso ocorresse, foi
permitiu compatibilizar questões técnicas com necessário alertar sobre os limites mínimos e
as estéticas e funcionais. Além disso, a rotação máximos para alguns parâmetros.
das pérgolas internas varia de acordo com o
Ocorreram algumas dificuldades com relação às
deslocamento dos módulos, de modo a gerar
funções matemáticas, que permitem estabelecer
diferentes ritmos de sombras, assim como
poderosas relações entre os diversos
diferentes graus de permeabilidade ou de
parâmetros. Funções matemáticas envolvendo
fechamento. Assim estas variáveis permitiram
seno e co-seno, ou ainda, a transformação de
gerar uma família de pergolados.
radianos em graus e o número  (Pi) ou mesmo
a definição de equações matemáticas simples,
tais como x/y ou (x+(2*y))/z, por exemplo,
Discussão sobre os resultados obtidos no
parecem ser abstratas para alguns estudantes,
experimento realizado na FAU Mackenzie
não habituados a pensar com a lógica
matemática.
Na experiência realizada no Mackenzie, os Outras dificuldades operacionais ocorreram na
alunos do final do Curso, com melhores noções definição dos vetores (x, y e z) e planos de
de estrutura, apresentaram questões referência no espaço (xy, xz, yz, etc.), e na
importantes sobre materiais mais apropriados a organização das transformações (mover,
cada proposta. Em decorrência disso, rotacionar, alterar escala) e deslocamentos,
estabeleceram melhor os critérios para os centros de rotação e de espelhamento entre
parâmetros dos componentes da estrutura. objetos, em três dimensões no espaço.
Parece que o tempo maior de estudo favorece a
Por fim, outra constatação é a importância de um
compreensão de múltiplos aspectos do projeto,
repertório de soluções conhecidas, como um
fazendo com que os estudantes consigam pensar
meio de estudar e aprofundar questões de
e resolver problemas de vários domínios ao
projeto. Embora os alunos consigam realizar
mesmo tempo.
suas próprias propostas, quando são
Os resultados obtidos por meio dos algoritmos apresentados estudos de casos similares aos que
criados surpreenderam os estudantes, pois eles eles estão enfrentando, seus projetos alcançam
não conseguiram antever as múltiplas maior consistência, maior profundidade, e
combinações entre os parâmetros que eles enfrentam, com maior consciência, um espectro
próprios criaram. Nas figuras 12 a 17 pode-se mais amplo de problemas.
visualizar algumas combinações entre alturas,
distâncias e escalas, que resultaram em
superfícies e formas singulares.
A maior dificuldade que os alunos enfrentaram
foi organizar o pensamento de um modo lógico e
sequencial, uma vez que o encadeamento dos
comandos deve ser rigoroso em modelagem

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Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Integrar pensamento criativo e crítico no pensamento que norteia a solução de
currículo requer organização, disciplina e grande determinados problemas, desde a modelagem
disposição por parte do professor para orientar paramétrica até a produção de modelos físicos
e debater os variados aspectos do trabalho com por corte a laser. Não há dúvida que o Paneling
os alunos. Ao expor claramente os objetivos no Tools pode acelerar a obtenção de determinados
início de cada Curso, foi possível engajar os resultados, mas parece que o plug-in deveria ser
estudantes na investigação proposta. utilizado após o ensino de algumas técnicas de
modelagem paramétrica, mesmo porque todo
As duas disciplinas e o workshop foram
plug-in possui suas limitações, e não atende a
finalizados com um feedback. Isto teve um
todas as necessidades.
grande significado para os estudantes, pois uma
realimentação positiva, ressaltando a qualidade Por outro lado, as atuais técnicas de modelagem
do processo e dos resultados obtidos, demonstra paramétrica por scripts ainda apresentam
interesse no aprendizado dos alunos, resultando dificuldades para a sua pronta utilização em
no fortalecimento de confiança deles naquilo que Cursos de Graduação, uma vez que exigem um
eles pensaram e descobriram durante o fazer. aprendizado mais complexo de programação,
que a maioria dos estudantes de arquitetura
O trabalho colaborativo foi estimulado em sala
ainda não possui.
de aula, fazendo com que os grupos de
estudantes trocassem informações e O conceito de variabilidade, com a exploração de
conhecimentos, se enriquecendo mutuamente, e diferentes estratégias para resolver os
aprendessem a confiar e a respeitar as ideias uns problemas que surgiam no decorrer do trabalho,
dos outros, aceitando assim diferentes pontos de se mostrou fundamental para a descoberta de
vista. novas possibilidades de solução para o mesmo
problema. Na modelagem paramétrica, os alunos
Constatamos que os estudantes apresentam
perceberam que a concatenação lógica dos
dificuldades para identificar características
comandos é apenas uma parte do problema, uma
conceituais e profundas sobre projetos similares.
vez que a exploração de variações de parâmetros
Consequentemente, a tendência é identificarem
e as combinações entre eles exigem flexibilidade
apenas alguns traços ou características no
de pensamento e tolerância à ambiguidade. As
âmbito formal, sem se deter em outros domínios,
descobertas inesperadas ocorreram, pois vários
como a estrutura e materiais empregados. Neste
alunos revelaram que os resultados obtidos na
momento, a sedução da forma prevalece sobre
modelagem paramétrica não haviam sido
os outros domínios, como o funcional e o
previstos à priori. Assim, para gerar diferentes
técnico-construtivo. Nos primeiros semestres do
famílias de formas e ampliar o repertório de
Curso de Arquitetura essa limitação é ainda
soluções para o mesmo problema, os estudantes
aceitável, mas o mesmo não pode ser dito para
tiveram que estão abertos à experimentação e ao
alunos no final do Curso, que deveriam que ter
improviso, enfrentando riscos e incertezas
uma base mais sólida e conceitual para a atuação
durante o processo.
em projeto.
É importante destacar que os estudantes
Os recentes recursos do plug-in Paneling Tools
entenderam alguns limites no uso da tecnologia
têm facilitado a produção e a distribuição de
envolvida (programas Rhino e Paracloud;
componentes sobre superfícies contínuas de
cortadora a laser; e o plug-in Grasshopper),
terceiro grau. Por se tratar de comandos pré-
assim como a limitação de suas capacidades
programados que, quando instalados localizam-
imaginativas de explorar tais recursos
se no menu superior do programa Rhinoceros, já
tecnológicos. Nessa experiência de interação
condensam uma série de comandos do programa
homem-máquina, foi possível entender que não
Rhinoceros, facilitando a operação de construção
basta ter acesso aos diferentes aparatos
de formas a partir da distribuição e manipulação
tecnológicos. A capacidade de extrair, de modo
de pontos no espaço. Os pontos servem como
criativo, o que há de melhor na competência
referência para a construção de superfícies e
cognitiva humana, durante sua relação com a
sólidos que, por sua vez, podem ser distribuídos
máquina, requer experiência e motivação para
ao longo de isocurvas na direção U e V (isto é, x e
explorar as potencialidades de uso dos recursos
y no espaço). No entanto, os exercícios
tecnológicos.
propostos aos estudantes dos dois Cursos
mencionados tiveram a intenção de não facilitar Criatividade pode advir da subversão de um uso
demasiadamente o processo e alcançar programado, ou mesmo pode ser decorrência de
rapidamente os resultados oferecidos por neste algo mal sucedido, mas que conduziu a um
tipo de plug-in. A intenção foi mostrar o resultado inesperado e útil. O mais importante é

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que os alunos se adaptaram diante de suas conhecimentos de várias disciplinas. A imersão


limitações e as das tecnologias, e exploraram, deles durante a realização dos experimentos
dentro de suas possibilidades, o que eles mostrou que eles estavam motivados
possuíam de melhor: vontade e perseverança. intrinsecamente. Além disso mostraram
autodisciplina na superação dos obstáculos e na
Ao enfrentar os problemas de vários pontos de
concretização do trabalho.
vista, os alunos aprenderam a integrar

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Agradecimentos
O autor agradece o apoio do CNPQ, aos funcionários do LAPAC na Unicamp, à Priscila Azevedo da
Maquetaria do IA e aos estudantes das duas Universidades pela extrema motivação, dedicação e empenho
nos trabalhos realizados.

DADOS DO AUTOR
(i) Professor Adjunto da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP e Professor Adjunto da Universidade Presbiteriana
Mackenzie | Campinas-SP, Brasil | e-mail: wflorio@uol.com.br | CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2268543062941592

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