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Revisão Tópicos em Micro – Prova 1

1- Comente sobre o debate teórico e empírico atual acerca do papel da indústria na economia.
A indústria é o setor da economia que produz e difunde progresso técnico e emprego mais
qualificados. O papel da indústria é evidenciado pelas leis de Kaldor: a primeira Lei refere-se à
relação causal existente entre o crescimento do PIB e o crescimento da produção industrial; a
segunda diz que também há uma relação causal entre crescimento da produção industrial e
crescimento da produtividade na indústria, ou seja, há retornos crescentes de escala; a terceira
mostra uma relação causal e positiva entre crescimento da indústria e o crescimento da
produtividade em outros setores.
Dessa forma, fica evidente que a indústria é o principal setor para impulsionar o crescimento de
longo prazo.
A literatura discute ainda o papel desse setor no mundo atual, analisando especialmente os países
desenvolvidos, onde teoricamente a indústria teria perdido relevância. Rowthorn é um autor que
reafirma a importância da indústria, apontando fatores que explicam a redução relativa dos
empregos na indústria de transformação que vão além da perda de relevância. São eles: ilusão
estatística, uma dificuldade cada vez maior de definir as fronteiras entre serviços e indústria, o que
pode atribuir dados da indústria ao setor de serviços; demanda, que se refere ao deslocamento da
demanda (de produtos manufaturados para serviços) conforme as sociedades enriquecem, o que
evidencia uma estagnação dos primeiros e um aumento dos segundos, diminuindo a participação
relativa da indústria; aumento de produtividade, dado que a indústria é mais produtiva que os
outros setores e gera diminuição do emprego mesmo quando o produto está em expansão; divisão
internacional do trabalho, uma vez que há uma tendência de migração da indústria para países em
desenvolvimento em busca de redução de custos, especialmente em setores intensivos em mão
de obra, o que pouco explica a perda de relevância da indústria, uma vez que os setores mais
relevantes tendem a permanecer nos países e a importância desse setor nos países emergentes
aumenta. (o autor não fala sobre indústria sem emprego). Dessa forma, não é possível utilizar
apenas o indicador de emprego para discutir desindustrialização.
Em outra análise (Banco Mundial, sintetizada pelo IEDI), as economias hoje desenvolvidas foram
aquelas que passaram pelo desenvolvimento de sua indústria. Esse setor é mais relevante que os
demais uma vez que tem a capacidade de absorver mão de obra menos qualificada, empregar um
grande contingente, extrair mais produtividade do trabalho (limites naturais para a agricultura),
difundir tecnologias por outros setores, além de ser de suma importância no mercado
internacional. É a indústria o setor que investe em pesquisa e desenvolvimento. Para ser bem
sucedida, no entanto, a indústria deve ser orientada às exportações, atentando-se aos subsetores
industriais, que produzem diferentes impactos no desenvolvimento, uma vez que há diferenças na
maneira de produzir diferentes produtos.
Setores de confecção e calçados são low-skill labor-intensive tradables, isto é, emprega muito e é
bem inserido internacionalmente, porém não investem em P&D. Equipamentos mecânicos,
elétricos e de transporte são médium-skill global innovators, empregam menos, porém são bem
inseridos no mercado internacional e são intensivos em P&D. Os high-skill global innovators
referem-se ao setor eletrônico, de computação e farmacêutico, ainda menos empregador, que
porém contrata muita mão de obra qualificada e possuem melhor inserção internacional e mais
investimentos em P&D. Commodity-based regional processing são aqueles que não se inserem no
mercado internacional devido aos custos de transporte e à perecibilidade, são produtos
alimentícios, madeira e papel, por exemplo. Por fim, os produtos químicos e derivados do petróleo
são melhor inseridos internacionalmente, porém não absorvem muita mão de obra de baixa
qualificação, configurando assim o capital-intensive regional processing.
Historicamente, a industrialização dos países do leste asiático foi mais bem sucedida do que a dos
latino-americanos, dado que os primeiros sempre participaram ativamente do comércio
internacional, com uma indústria sujeita à competição, não protegida. É a indústria o setor capaz
de combinar emprego e exportações, por exemplo, uma vez que o setor agrícola tem preços muito
voláteis e aumenta sua produtividade com tecnologias que poupam mão de obra. No longo prazo
também é mais relevante uma vez que um aumento da renda per capita diminui a demanda por
bens primários e aumenta a demanda de bens manufaturados, ou seja, países produtores de
commodities ganham menos com o crescimento econômico global. O setor de serviços até pouco
tempo não era transacionável e seus segmentos cuja mão de obra é menos qualificada não é capaz
de gerar crescimento de produtividade, apesar de serem cada vez mais relevantes, por sua
integração com o processo produtivo.
Empiricamente, há evidencias positivas, especialmente em países em desenvolvimento, para o
crescimento de longo prazo de uma maior participação no PIB e no emprego pelo setor industrial,
uma vez que esse setor se beneficia de uma maior incorporação de avanços tecnológicos, ganhos
de produtividade, maior remuneração do capital e do trabalho, além da capacidade de difundir a
produtividade e a tecnologia por outros setores.
Destaques:
Taxa de crescimento econômico: países do leste e do sul asiático se destacam, latino-americanos
ficam acima da média, EUA fica abaixo e europeus ficam próximo à média mundial.
Valor adicionado da indústria (inclui extrativa, de transformação, construção, energia, água e gás):
destaque para China e Chile e destaque negativo para a Índia. América Latina está próxima da
média mundial, sul asiático está abaixo, leste asiático acima.
Valor adicionado pela indústria manufatureira: destaque para China, Coreia do Sul e Argentina.
Chile e Índia destacam-se negativamente. Nas regiões: apenas leste asiático ficou acima da média
mundial.
Emprego industrial: destaque para Coreia do Sul e Latinos, exceção do Brasil. Índia destaca-se
negativamente e China não se destaca aqui. UE tem maior participação, justificativa histórica.

2- Comente sobre os elementos histórico-concentuais da PI, segundo neoschumpterianos.


Existem diversas formas de enxergar a PI. Seguindo o referencial neoliberal radical, a PI deve ser
feita quando há graves falhas de mercado, sempre de forma horizontal. A agente neoliberal
reformista também justifica a PI pelas falhas de mercado, devendo sempre atuar de forma
horizontal, de forma temporária. A neo-desenvolvimentista destaca a importância das instituições
e do papel histórico que gera diferentes trajetórias de desenvolvimento econômico. Não existe
equilíbrio, portanto não existe falhas de mercado. O processo é dinâmico e evolucionista e as
empresas se orientam pelas instituições. A PI se justifica para alcançar níveis mais altos de
desenvolvimento e um maior bem-estar social, além de dar suporte a indústrias nascentes, que
não seriam possíveis pelos mecanismos de mercado. A PI, no entanto, é limitada, não sendo capaz
de reproduzir estratégias bem-sucedidas em outros países, por conta do contexto. Pela agenda
socialdemocrata, muito comum na Europa, a PI deve solucionar problemas sociais (emprego) com
grande importância de governos regionais. Por último, a PI pela competência de inovar é aquela
cujas estratégias principais evolvem a geração de emprego e o desenvolvimento das indústrias do
futuro, condicionada às características dos países. Ela infere uma institucionalidade e uma política
tecnológica que dê incentivos financeiros para as atividades de P&D. A economia deve ser aberta
para incentivar a competitividade e garantir escala.
Assim, não há uma PI ideal, importando o patrimônio genético das firmas (ativos, capacitações e
rotina), que influenciará em suas respostas aos incentivos. A PI deve sempre buscar aumentar
competitividade, sendo sempre ligada a uma política tecnológica, que gera crescimento. Deve
garantir incentivos de apropriabilidade e garantir variedade técnica comportamental, atuando na
ciência e tecnologia, na organização dos mercados, promovendo cooperação e competição, além
de integrar indústria e mercado financeiro, premiando as estratégias mais bem-sucedidas na lógica
schumpeteriana.
Dessa forma, a PI deve atuar na redução de incertezas, sinalizando indústrias importantes no
futuro e minimizando riscos, por meio de crédito e compras públicas. Deve incentivar aprendizado
e cooperação, dado que o conhecimento é tácito, por meio de joint ventures, por exemplo. Por
último deve objetivar reconfiguração da estrutura produtiva, visando internalizar elos das cadeias
produtivas considerados mais relevantes.
A intensidade da PI depende da distância tecnológica e deve ser setorial, uma vez que os mercados
possuem diferentes capacidade de inovação. Deve considerar a presença de quase-firmas,
especialmente na análise de barreiras à entrada.

3- Comente sobre a perspectiva histórica da PI.


A maior parte dos países desenvolvidos utilizaram estratégias de PI para se desenvolver, utilizando
principalmente o argumento da indústria nascente. A principal estratégia adotada foi a de
barreiras tarifárias, apesar de ter havido uso de subsídios, parcerias público-privadas, aquisição de
tecnologias estrangeiras, fábricas modelo e incentivos à exportação e à infraestrutura.
EUA e Reino Unido recorriam a proteções tarifárias para proteger indústrias nascentes, mais até
do que a França. A Alemanha não usava tarifas, mas concedia subsídios e parcerias público-
privadas. Suécia: proteção tarifária. Japão só pode ser ativo após 1911. Os países, no entanto,
passaram a defender políticas diferentes depois que alcançaram determinado estágio de
desenvolvimento.

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