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[ensaios de literatura etc]
Revisão
Júlia Studart
Ilustrações
Davi Pessoa, da série “desequilíbrio sutil” (nanquim)
Comitê editorial
Carlos Augusto Lima (For, CE)
Davi Pessoa (Fpolis, SC)
Edson Sousa (Porto Alegre, RS)
Eduardo Jorge (BH, MG)
Eduardo Sterzi (Sp, SP)
Fabiana Macchi (Berna, SU)
Franklin Alves Dassie (Niterói, RJ)
Galciani Neves (For, Ce)
Gonçalo M. Tavares (Lisboa, PT)
Júlia Studart (Fpolis, SC)
Leonardo Gandolfi (Rj, RJ)
Maria Lúcia de Barros (Fpolis, SC)
Maurício Santana Dias (Sp, SP)
Tarso de Melo (Sbc, SP)
ISBN 856033267-7
1. Ensaio
A conversa que dança 7
Conversa, um Conversa, um
La Storia de Elsa Morante: o vazio da História 11
Davi Pessoa Carneiro Davi Pessoa Carneiro
Pesados e vazios: corpos em M. Kohan 28
Eleonora Frenkel Barretto Eleonora Frenkel Barret
Macário: a redenção pela morte 42
Francisco R. S. Innocêncio Francisco R. S. Innocên
Conversa, dois Conversa, dois
Um crivo para Claudia: flores e fantasmas na poesia 59
Artur de Vargas Giorgi
Nicolas Behr, uma poesia de passagem 78
Laíse Ribas Bastos Laíse Ribas Bastos
1. Uma versão do texto que se segue fez parte da minha dissertação de mestrado – As máscaras modernistas:
Adalgisa Nery e Maria Martins na vanguarda brasileira – defendida em abril de 2008, na Universidade Federal
de Santa Catarina.
2. “Já foi sugerido que a prosopopéia é a figura que rege a autobiografia. Escrever sobre si mesmo seria essa
tentativa, sempre renovada e sempre fracassada, de dar voz àquilo que não fala, de trazer o que está morto à vida,
dotando-o de uma máscara (textual)” (MOLLOY, 2003, p. 14).
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3. “A esta exemplar fenomenologia da fascinação segue a tomada de consciência – ‘um penoso caminho’,
constata Benjamin – de tudo o que foi necessário destruir para possuir o signo, o saber, o troféu de semelhante
experiência. É o processo de condenação à morte da imago com éter, algodão, alfinetes de cabeça colorida e
pinças.’ [...] Porém, a lógica desse processo é de ordem dialética e não poderia circunscrever-se no simples
contraste entre a fascinação pela beleza e o desencanto diante de toda a destruição posta em marcha para a sua
captura: pois é o conjunto que a memória conserva, é nesse conjunto em que ‘o ar no qual se movimentava então
aquela borboleta está hoje impregnado por uma palavra’, a palavra que surge de repente, que literalmente aparece
e que, diz Benjamin, tremula – como a borboleta na flor – na memória do pensador e logo em sua página escrita”
(DIDI-HUBERMAN, 2007, p. 60-61). Todas as citações em língua estrangeira foram traduzidas por mim. No
caso da citação desta nota, transcrevo entre as aspas simples a tradução brasileira de Benjamin publicada pela
Brasiliense (BENJAMIN, 2000, p. 81).
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4. Para melhor entender essa característica da crítica de Mário Pedrosa, vale conferir Dos murais de Portinari aos
espaços de Brasília (1981), onde foi publicada pela segunda vez a resenha sobre a obra de Maria Martins, Maria:
a escultora, e diversos textos sobre artistas como Volpi, Di Cavalcanti e Portinari.
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5. Maria é acompanhada nesse gesto pela escritora argentina Victoria Ocampo (1890 – 1979) que, de acordo com
Sylvia Molloy, vale-se do recurso aqui atribuído à artista brasileira em Testimonios. Para Molloy, apropriando-
se do relato de vidas alheias, o narrador (auto)biográfico transforma-se em testemunha elevada de um tempo
passado: “Chegar a ver: ao autobiógrafo hispano-americano é como essa menina que se lança para ver um velho
tesouro, do qual é testemunha privilegiada e secreta, para depois passar a contar o que viu, no momento exato
em que ele desaparece” (MOLLOY, 2003, p. 261).
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6. Esse aspecto aparece, principalmente, na forma como Nietzsche se remete a Cósima, esposa do amigo Wagner,
a quem se refere como Ariana: “Ariana é a Terra, a mãe que conhece a felicidade e o sofrimento da fecundação.
É a alegoria mais profunda da aptidão panteísta de participar do júbilo e do padecimento que permite aprovar e
santificar as qualidades mais perfeitas e mais equivocadas da vida, o eterno desejo de procriar e carregar o fruto
ambicionado, de reafirmar o sentimento da ‘união necessária entre a criação e a destruição’” (MARTINS, 1965, p. 92).
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7. Essa é a resposta dada por Maria Martins à pergunta “Onde desejaria viver o restante da vida?”: “Tenho alma
de cigana e ser-me-ia profundamente ingrato ter que fincar os pés na terra, em determinado lugar, até a visita da
morte (aliás, não morremos, são os outros que morrem)...” (A.P.M., 1956). Grifo meu.
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8. “Para Georges Bataille, em Lascaux, ou para Maria Martins, em Dordoña ou ainda em Altamira, ou seja, na
‘origem’ histórica da pintura, se procedia, por tanto, por meio de uma técnica primitiva, próxima ao decalque
ou da impressão, a modelagem. Com ela, a relação indiciária de proximidade e de contigüidade físicas entre o
signo (a mão pintada) e o seu objeto (a sua causa: a mão a ser pintada) é das mais diretas, e, ao mesmo tempo,
das mais aplicadas e diferidas possíveis” (ANTELO, 2006, p. 158).
9. “– O que é cera perdida?
– É um processo muito remoto, do tempo dos egípcios antigos. É cera de abelha misturada com um pouco de
gordura para ficar mais macia. Aí você vai ao infinito porque não tem limites.
– É durável esse material? Desculpe minha ignorância.
– A cera perdida é um modo de se expressar. Porque depois se recobre essa cera com sílico e gesso e põe-se ao
forno para que a cera derreta e deixe o negativo. Aí você vê a coisa mais linda do mundo: o bronze líqüido como
uma chama e que toma a forma que a cera deixou” (MARIA apud CLARICE, 1999, p. 80).
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Referências bibliográficas
10. Eis a epígrafe tal como citada pela artista : “Les œuvres d’art sont d’une infinie solitude, rien n’est pire que
la critique, pour les aborder. Seul l’Amour peut les saisir, les garder, être juste envers elles”.
11. Octávio Paz faz uma leitura semelhante da obra La mariée mise à nu par ses Célibataires, même (ou O grande
vidro) de Marcel Duchamp, amante de Maria Martins, em Apariencia desnuda (1973).
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