Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Metodologia
do Serviço Social
Teoria e
25/1/2011, 16:25
1
Cap.I.p65
Neila Sperotto
25/1/2011, 16:25
3
Cap.I.p65
ISBN 978-85-7697- 128-3
1ª Edição.
© 2009, ULBRA.
152 p. ; 22 cm.
ISBN 978-85-7697-128-3
CDU 001.8
Coordenação Editorial
Karla Viviane
25/1/2011, 16:25
5
Cap.I.p65
Neila Sperotto
Neila Sperotto
Capítulo I
A construção do conhecimento,11
Capítulo II
A construção da Ciência Social nos séculos XIX e XX,23
Capítulo III
A precursora,41
9
Capítulo IV A construção do conhecimento
O método de caso,57
Capítulo V
O método de grupo e de comunidade,69
Capítulo VI
A teoria do Serviço Social,79
Capítulo VII
Uma concepção teórica da reprodução
das relações sociais,95
Capítulo VIII
A metodologia dos Serviço Social,105
Capítulo X
A construção do conhecimento do Serviço Social na
contemporaneidade,133
Neila Sperotto
10
1 Introdução
O conhecimento pode ser definido, grosso modo, como a
capacidade que o ser humano tem de pensar e compreender a
relação existente entre si e o objeto a ser conhecido. Ninguém 11
inicia o ato de conhecer desprovido de instrumentos, pois
A construção do conhecimento
existem muitas formas de conhecimentos, umas mais elaboradas
e complexas, outras menos.
O ato de conhecer é simultâneo à transmissão da cultura
pela educação social a qual todos somos acolhidos a partir de
nossa aparição no mundo. Nossos pais e familiares vão, pouco
a pouco, nos introduzindo ao mundo dos conceitos e teorias.
Quando nos ensinam, por exemplo, que o fogo queima,
aprendemos algo sobre a temperatura, embora ainda não
conheçamos as Leis da Termodinâmica e não sabemos o porquê
que isso acontece. Da mesma forma quando nos ensinam que
caímos quando pulamos da cadeira, utilizam um conceito físico
conhecido por Lei da Gravidade.
A história tem nos mostrado que, no decorrer dos tempos,
a forma como o ser humano entrou em contato com o mundo
foi modificando-se, isso nos faz acreditar que a capacidade da
razão ou do raciocínio humano se deve às condições de
identificar as semelhanças e diferenças existentes nos objetos
2 A construção do
Conhecimento Teórico
Em qualquer situação do cotidiano de nossas vidas
experimentamos um ato de conhecer que se encontra primeiro
no nível da intuição, da experiência vivida. Aqui a intuição está
sendo entendida como forma de conhecimento imediato, sem
intermediários, e não como popularmente se costuma atribuir o
significado: de algo transcendental, mágico.
3 A Teoria do
Conhecimento
Para compreender a teoria do conhecimento é necessário
que se visite novamente alguns expoentes da filosofia, que é
uma disciplina que investiga os problemas que se originam da
relação do sujeito com o objeto do conhecimento, ou seja, do
homem com o mundo.
Conhecer a trajetória histórica do conhecimento científico
possibilita a você identificar, na sociedade do século XXI, ainda
influências do pensamento e da forma de compreender o mundo
dos filósofos da Antiguidade e da Idade Média. Lembre-se de
que, como faz parte da sociedade, você possivelmente
reproduza ou utiliza bases desse conhecimento no cotidiano.
Estas ideias geralmente estão arraigadas nos nossos hábitos,
15
nos clichês, nos preconceitos, nas ideologias.
Frases como “pau que nasce torto morre torto”, “mulher A construção do conhecimento
deve ficar em casa cuidando dos filhos”, “é um absurdo o
casamento de homossexuais”, “só não trabalha quem não quer”,
“filho de peixe peixinho é”, “se Deus quiser”, “Deus dá o frio
conforme o cobertor”, enfim, estes e muitos outros ditos nos
colocam diante da constatação de que o pensamento e a
compreensão do mundo em que vivemos ainda estão poluídos
pelo pensamento dos séculos passados.
Sugerimos o livro “O Mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder,
pois é uma leitura leve e que retrata com precisão e com
exemplos do cotidiano a história da filosofia, dedicando um
capítulo para cada grande filósofo da antiguidade. Neste livro o
autor inicia discutindo a existência do Jardim do Éden dizendo
“... afinal de contas, algum dia alguma coisa tinha de ter surgido
do nada”1 onde nos convida a responder perguntas como:
1
GAARDNER, 1995, p. 13.
2
Ibid., p. 22.
3
Ibid., p. 24.
4
Devemos considerar os fatos sociais como “coisas”. Para Durkheim, “coisa” é algo
Sui generes, ou seja, é dotado de uma lógica própria. Precisamos limpar toda a
mente de prenoções antes de analisarmos fatos sociais. Essas “noções vulgares”
desfiguram o verdadeiro aspecto das coisas e que nós confundimos com as
verdadeiras coisas. As prenoções são capazes de dominar o espírito e substituir a
realidade. Esquecidas as prenoções devemos analisar os fatos sociais
cientificamente (extraido de http://pt.wikipedia.org/wiki/fato social em 02 de janeiro
de 2009).
pela sociedade.
19
A construção do conhecimento
5
CHAUÍ, 1994, p.15.
»
Perguntas (inesperadas) «» tomar distância de
si mesmo/da vida cotidiana
»
Atitude filosófica
(Indagar, perguntar, investigar para compreender)
O que? Natureza, significação
Como? Estrutura, relações
Por que? Origem, causa
Negativa » Positiva
Atitude crítica
pensamento crítico
Sócrates: sei que nada sei
Platão: admiração
Aristóteles: Espanto
20
»
Reflexão filosófica
»
Eu penso que
(Eu acho que: opinião, crença)
»
Pensamento sistemático
Demonstração, prova racionais
(rigor do pensamento)
4 Conclusão
Neste primeiro capítulo a aproximação com a teoria do
conhecimento pretendeu levar ao entendimento de que, mesmo
existindo teorias e metodologias, essas não devem simplesmente
ser “aplicadas na prática” como comumente se vê dizer. Um
profissional de nível especializado, como o Assistente Social,
tem o compromisso social de também produzir conhecimentos
a partir da sua intervenção na realidade social, que inicia com
o estudo de cada situação que se apresenta no cotidiano do
trabalho social.
Para tanto, há de se ter em mente que existem teorias
nas Ciências Humanas e Sociais que, mesmo tendo sido
construídas nos séculos XIX e XX, são ainda fundamentais 21
para iniciar o processo de compreensão da realidade social na
A construção do conhecimento
qual desenvolve-se o trabalho do Assistente Social, com vistas
à consolidação de um conhecimento sistemático. Basicamente,
no Serviço Social você encontrará muitas referências às teorias
filosóficas e às ciências sociais. Algumas serão destacadas no
capítulo seguinte.
22
1 Introdução
Como já vimos no capítulo anterior, o conhecimento foi
sendo produzido ao longo dos séculos, a partir da inserção do
ser humano no mundo, e se perpetuou por meio das crenças e 23
processos de socialização nos quais todos somos educados
nos séculos XIX e XX
A construção da Ciência Social
até chegar a um nível de maturidade em que a forma de conhecer
transcendeu a experiência e a intuição e elevou-se ao status
de ciência, produzindo o que hoje chamamos conhecimento
científico ao conjunto de enunciados e teorias que embasam
as ações profissionais.
Partindo do princípio de que a ciência se constroi a partir
da observação do real, os referenciais teóricos contribuem de
forma fundamental para a construção das ciências humanas e
sociais que, pela observação do contexto sociohistórico do
século XIX, clamava por explicações que pudessem dar uma
esperança de organização. Este século foi marcado por grandes
rupturas e instauração de novos hábitos resultado do processo
de industrialização. As instituições sociais tradicionais se
encontravam enfraquecidas, havia muitos questionamentos,
valores tradicionais eram rompidos, este cenário era frutífero
para a emergência de novos conhecimentos científicos e a
sociedade estava necessitada destes.
6
HAGETTE, 1995, p. 12.
2 A Concepção Positivista
A concepção positivista de Auguste Comte, propositor da
Sociologia e o fundador do Positivismo (1789–1857), defendia
um modelo único de ciência. O positivismo de Comte propôs
refutar a ciência especulativa, a visão evolucionista e linear da
história. A filosofia positiva de Comte nega que a explicação
dos fenômenos naturais, assim como sociais, provenha de um
só princípio. A visão positiva dos fatos abandona a consideração
das causas dos fenômenos (Deus ou natureza) e torna-se
pesquisa de suas leis, vistas como relações abstratas e
constantes entre fenômenos observáveis. No quadro a seguir
encontra-se um fragmento do texto apresentado em http://
pt.wikipedia.org sobre August Comte. Sugerimos o acesso ao
hipertexto em sua integra.
25
Tendo por método dois critérios, o histórico e o sistemático,
3 O Funcionalismo
O funcionalismo tem interesse em verificar e apreender as
conexões funcionais. Para verificar estas relações é necessário
conhecer o conceito de função e do método de interpretação,
ou seja, a análise funcionalista.
A evolução do pensamento funcionalista passa por três 27
períodos: organizacionista – da constatação dos conceitos,
nos séculos XIX e XX
A construção da Ciência Social
período das orientações interpretativas e o período da visão
crítica e sistematização teórica.
7
FERNANDES, 1972, p. 188.
8
Ibid., p. 189.
9
A anomia é um estado de falta de objetivos e perda de identidade, provocado pelas
10
Ibid., p. 191.
11
Ibid., p. 193.
12
MERTON, 1968, p. 104.
13
Ibid., p. 106.
14
Ibid., p. 119.
15
Ibid., p. 149.
16
LEVI-STRAUSS, 1972, p. 191.
5 Marxismo
36 O Marxismo surgiu com a sociedade moderna, com a grande
indústria e o proletariado fabril. Apresenta-se como a
concepção do mundo que exprime este mundo moderno, as
suas contradições, os seus problemas, e que propõe, para
tais problemas, soluções racionais.17
17
LEFEBVRE, 1974, p. 17.
18
HAGETTE, 1995, p. 15.
6 Conclusão
Neste capítulo, de forma breve você pôde tomar contato
com as principais correntes teóricas de influencia social, cada
uma a seu tempo desvelou aspectos importantes da construção
das relações socias.
As Ciências Sociais estão permanentemente em formulações
e reformulações teóricas em função da dinâmica de seu objeto
de estudo.
Para a compreensão do conhecimento produzido na área
do Serviço Social, estas correntes teóricas representam a
possibilidade de abstração e compreensão racional da realidade
social.
40
1 Introdução
É preciso ter em mente a historicidade e o contexto sócio
político de cada período, para evitar o risco de pensar a
“evolução” deste conhecimento como algo linear e cronológico.
A trajetória percorrida pela profissão em quase um século de 41
sistematização de sua prática profissional é fruto de embates
A precursora
políticos e ideológicos.
Pensar a inserção de uma disciplina profissional no seio da
sociedade pós-industrial revela a complexidade e os reflexos
gerados na sociedade pelas transformações no mundo do
trabalho. Na esfera política as guerras mundiais e os conflitos
étnicos raciais produziram um contingente de pessoas que
necessitavam de assistência.
O berço histórico da profissão revela a dificuldade em tornar
técnica uma ação que, por milênios, vinha sendo realizada pela
ação de benevolência e pela caridade. Aceitar que a providência
divina e a compaixão humana não davam mais conta de assistir
os necessitados era também um pesadelo, já que isso colocava
em questão os valores da caridade difundidos pelo cristianismo.
Esta tarefa foi aceita por Mary Richmond, em 1917, que, com
sua sistematização fez nascer a profissão de Serviço Social,
que estava sendo gerada no inicio do século XX.
Estudar os precursores só tem sentido se nossa perspectiva
A precursora
estudar, neste capítulo, a metodologia do diagnóstico social,
sistematizada por Mary Richmond, a precursora do Serviço
Social.
2 Mary Richmond
Como você já estudou anteriormente, Mary E. Richmond
escreveu o livro intitulado “Diagnóstico Social” que, segundo a
declaração no prefácio, foi resultado da sistematização de 15
anos de anotações e pesquisas feitas com outros trabalhadores
sociais, a fim de “transmitir aos novos que viessem a trabalhar
em instituições de caridade a explicação dos métodos que nós,
os velhos, julgávamos mais úteis”.21
Quando Mary Richmond iniciou as notas ainda não existia
20
NETO, 1989, p. 151.
21
RICHMOND, 1917, p. IV.
Prefácio
A precursora
A obra está imbuída de difundir a necessidade de produzir
conhecimentos e métodos mediados pela ciência. A preocupação
em sistematizar o conhecimento da prática e colocar a ação
do Serviço Social em sintonia com o espírito científico da época
revela com precisão a produção de um conhecimento próprio
da área, mesmo que ancorado nos saberes de outras áreas
como a Medicina e o Direito.
O forte apelo do funcionalismo de Durkheim, visto no
Capítulo 2, aparece na obra, uma vez que o Diagnóstico
destinava-se principalmente para respaldar a eficácia do
tratamento social. Lembre que neste momento não devemos
“julgar” (atribuir um valor) a pertinência do método funcionalista,
mas conhecer, fazer as questões que aprendemos com Marilena
Chauí. Assim podemos compreender como a teoria e a
22
Ibid., p. VII.
23
Ibid., p. 4.
24
Ibid., p. 16.
A precursora
no ensino de certas crianças e para apurar qual a vocação
profissional. Quando os testes que garantirão a sua
segurança estiverem mais bem formulados e aceitos, mais
extensa ainda se tornará a aplicação da investigação das
realidades sociais.
5° – O Serviço Social tem por principal finalidade a
investigação das realidades sociais, mas com respeito, a
avaliação perfeita das noções que a investigação traz tem
muito que aprender com a Medicina, o Direito, a História,
a Lógica e a Psicologia.25
3 O Método
de Diagnóstico
Neila Sperotto
A precursora
em um tempo limitado (podendo contudo ser revisto em
qualquer ocasião e a de que tem em vista sempre uma ação
beneficente).
A palavra fato não é aqui limitada ao que é tangível. Os
pensamentos e acontecimentos também são fatos. A questão
de uma coisa ser ou não um fato está antes em se determinar
se pode ou não ser afirmada com certeza.
As três espécies de realidades são de aplicação geral,
podem distinguem-se pelo sentido das deduções que delas
se possam fazer. Na realidade objetiva não há dedução a
fazer; na testemunhal a base da dedução é uma asserção
humana, e na circunstancial pode ser qualquer a base da
dedução.
Na realidade circunstancial é preciso distinguir
cuidadosamente entre quem viu ou ouviu o fato suposto e
quem afirma o que outros lhe disseram. Esse último caso é
26
Ibid., p. p.60.
27
Ibid., p. 55.
• Aproximação; 51
• Indicações a aproveitar e perguntas a fazer;
A precursora
• Apontamentos a tirar;
• Conselhos e promessas prematuros;
• Condução da entrevista para a intimidade.
4 Conclusão
Mesmo tendo sido escrita há tanto tempo e se sustentado
no funcionalismo, a essência da orientação de como se faz a
apreensão da realidade social a ser estudada a partir das
solicitações do individuo ou da família, quando referem-se ao 53
instrumental utilizado (entrevista, questionário, estudo da
A precursora
documentação e informações de outros profissionais e agências)
são atuais. O que muda radicalmente quando definimos o objeto
da análise para a questão social, por exemplo, são as bases e
os fundamentos de compreensão da realidade e a abstração
possível no processo analítico. Sendo assim, os princípios e a
postura ético política e, consequentemente a construção da
metodologia de intervenção também se alteram radicalmente.
Para planejar uma intervenção é preciso conhecer a fundo
a realidade social em que o indivíduo se encontra. Esta premissa
ainda é utilizada hoje. Basicamente, na atualidade, a diferença
está em nossa concepção e visão de homem e mundo, da
realidade social que vem se alterando, uma vez que hoje
considera-se bem mais importante os determinismos construídos
socialmente pelas estruturas de mercado que geram exclusão
social. Uma compreensão que retira do individuo o centro da
29
Ibid., p. 102.
55
A precursora
56
1 Introdução
A literatura americana influenciou muito o Serviço Social
brasileiro, e teve como uma das principais autoras a Assistente
Social Gordon Hamilton, que escreveu sobre o método de caso.
Encontramos no prefácio do livro escrito por Gordon Hamilton 57
as melhores considerações feitas sobre a obra, uma vez que a
O método de caso
autora se refere ao contexto social e as influências teóricas
que o método sofreu. Assim, destacamos um pequeno trecho
do prefácio:
2 A Metodologia
A autora professa que o Serviço Social baseia-se em alguns
Neila Sperotto
30
HAMILTON, 1987, p. 12.
31
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada pela ONU em 10 de
dezembro de 1948 (A/RES/217). Esboçada principalmente por John Peters
Humphrey, do Canadá, mas também com a ajuda de várias pessoas de todo o mundo
– Estados Unidos, França, China, Líbano entre outros, delineia os direitos humanos
básicos.
32
IBID, p. 17.
33
IBID, p. 19.
34
IBID.p.21
35
IBID, p.24
36
IBID, p. 24-25.
Métodos e processos
38
IBID, p. 29-30.
39
IBID. p. 31
40
IBID. p. 33.
3 Conclusão
Esta concepção de que existe uma interdependência entre
as realidades é que favorece o desenvolvimento do método de
grupo como complementar ao tratamento dos casos individuais.
Em síntese, o processo do Serviço Social de Casos objetiva
um crescimento individual e o consequente melhoramento das
condições sociais. Mary Richmond refere-se ao Serviço Social
como processo pelo qual se desenvolve a personalidade por
meio de ajustamentos realizados conscientemente entre os
indivíduos e o seu meio; ou o Serviço Social de Casos pode
definir-se como a arte de ajudar as pessoas a ajudarem-se a si
mesmas, cooperando com elas a fim de beneficiá-las e, ao
mesmo tempo, à sociedade em geral. Estas nos parecem
conceituações bastante apropriadas para as finalidades do 67
trabalho realizado pelo método de caso.
O método de caso
Mesmo já tendo feito progressos no caminho de
sistematização do conhecimento, é visível a maturidade dos
textos, e o seu caráter teórico-metodológico permeia sua
construção. Ainda é difícil a conceituação pura e simples da
prática do serviço social. Note que ela geralmente vem acrescida
de seu processo de realização e, por essa razão, é que agora
se refere aos métodos utilizados para classificá-los. Existe ainda
uma forte tendência na especialização, característica da época
e resultado do método cartesiano de ciência, que dividia para
classificar, com a crença, de que assim se conheceria melhor o
todo. Esta tendência – da especialização – perdurou por muito
tempo e só foi superada pelo movimento de reconceituação
que você já estudou, chegando a definição de serviço social
genérico.
Ainda é importante salientar que, já neste período,
68
1 Introdução
Seguramente os métodos de grupo e de comunidade
representam um grande salto tanto no processo de concepção
da realidade social, pois passa a reconhecer a interdependência 69
das situações e a influência das diferentes estruturas sociais,
2 Método de grupo
Na perspectiva da solução dos problemas considerados
pelo Serviço Social, na época, acreditava-se que existiam duas
formas para a resolução de problema: por meio de uma
reorganização da estrutura social ou por meio de um trabalho
individualizado, com as pessoas ou grupos, por intermédio de
processos educativos. Nesse sentido que o método de grupo
foi amplamente difundido no Serviço Social, nas décadas de
1940 e 1950.
Gordon Hamilton definiu que:
43
Ibid., p. 43.
3 O Método de
Organização da
Comunidade
74 O trabalho realizado com a comunidade desenvolveu–se
no serviço social a partir da incorporação de técnicas
profissionais aos trabalhos que já eram desenvolvidos por grupos
voluntários de obras particulares.
A necessidade de incorporar técnicas de estudos sociais
nos trabalhos com a comunidade se deve aos programas de
bem estar social destinados à recreação, parques e jardins
para a infância, que passaram a ser administrados por órgãos
do Governo. Estas ações anteriormente eram realizadas somente
por obras sociais ligadas a grupos religiosos.
Com a ampliação dos serviços prestados pelo estado, com
a vigência do estado de bem estar social nos Estados Unidos,
os programas de assistência econômica, de habitação e de
aproveitamento do lazer tiveram grande alcance,
desenvolvendo-se quase que integralmente com os auxílios
governamentais.
A base metodológica do trabalho em comunidade obedece
aos princípios do cooperativismo, onde cooperar é trabalhar
44
Ibid., p. 36.
4 Conclusão
As dinâmicas apresentadas pelo desenvolvimento dos
métodos de caso e comunidade revelam a importância do
trabalho de educação para a mudança social. Embora ainda
revele uma perspectiva de mudanças paulatinas, incorpora a
necessidade do planejamento dessas mudanças ocorrer a partir
do estudo da realidade social e com a participação ativa da
comunidade durante todo o processo.
Esta pode ser considerada a grande contribuição da área
quando devolve para os sujeitos o direito e a possibilidade de
expressar suas necessidades, além das carências com as quais
historicamente vinha trabalhando o Serviço Social de caso.
77
O método de grupo e de comunidade
45
Ibid., p. 40.
78
1 Introdução
Este capítulo está dedicado a percorrer os caminhos
realizados na construção dos saberes do Serviço Social, a fim
de que seja possível compreender como se constituiu o quadro 79
teórico metodológico do Serviço Social.
2 A Construção da Teoria
do Serviço Social
Vamos partir de um artigo de João Bosco Pinto46 intitulado
“A Pesquisa e a Construção da Teoria do Serviço Social”,
Social do CSA/UFPE.
47
PINTO, 1986, p. 47.
48
Ibid., p. 47.
49
Ibid., p. 48.
50
Consultar Bachelard, Gaston. O novo espírito científico. Lisboa: Edições 70,1971.
51
Conselho Nacional de Pesquisas, hoje Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico.
52
Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social hoje; hoje ABEPSS –
Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social.
53
AMMANN, 1984, p. 176.
54
Para compreender melhor (re)consulte o capítulo 2.
55
Ibid., p. 144.
56
Ibid., p. 146.
Libertação Social
A referência ao Movimento de Reconceituação é um divisor
de águas para marcar o “antes” e o “depois” na produção do
conhecimento da área e, seguramente, você vai se deparar
ainda muito com isso.
Estas noções são importantes para que você consiga
identificar a essência do conhecimento novo que é apresentado.
Neste capítulo é a emergência da corrente de libertação social,
anunciada no artigo citado.
Esta corrente buscou construir uma proposta de ação com
uma orientação para o que denominou libertação dos povos
oprimidos. A metodologia buscava capturar na realidade social
concreta as formas de opressão vividas, opondo-se a uma
57
Ibid., p. 148.
58
Paulo Freire, educador brasileiro. Destacou-se por seu trabalho na área da
educação popular, voltada tanto para a escolarização como para a formação da
consciência. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da
pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica.
O Método Paulo Freire consiste numa proposta para a alfabetização de adultos
desenvolvida pelo educador Paulo Freire, que criticava o sistema tradicional que
utilizava a cartilha como ferramenta central da didática para o ensino da leitura e da
escrita. As cartilhas ensinavam pelo método da repetição de palavras soltas ou de
frases criadas de forma forçosa.1. Etapa de Investigação: busca conjunta entre
professor e aluno das palavras e temas mais significativos da vida do aluno, dentro
de seu universo vocabular e da comunidade onde ele vive.
2. Etapa de Tematização: momento da tomada de consciência do mundo, através
da análise dos significados sociais dos temas e palavras.
3. Etapa de Problematização: etapa em que o professor desafia e inspira o aluno a
superar a visão mágica e a crítica do mundo, para uma postura conscientizada.
93
5 Conclusão
Em síntese, estas teorias apreendidas sobre a ótica do A teoria do Serviço Social
Serviço Social constituíram-se na base das formulações
metodológicas do Serviço Social reconceituado.
O salto qualitativo que representam para a acumulação de
saberes deve-se, principalmente, pela incorporação de um
numero maior de elementos a ser considerado pelo profissional,
bem como a introdução da ideia de que é a visão de homem e
mundo do profissional que orienta a escolha teórica que
possibilita a construção da metodologia de ação.
62
Os dois elementos principais do marxismo são o materialismo dialético, para o
qual a natureza, a vida e a consciência se constituem de matéria em movimento e
evolução permanente (interdeterminação das coisas reais, unicidade e
indivisibilidade do real); e o materialismo histórico, para o qual o modo de produção
é a base originária dos fenômenos históricos e sociais, inclusive as instituições
jurídicas e políticas, a moralidade, a religião e as artes. Vários marxólogos
demonstram que o termo materialismo dialético, esboçado por Engels e desenvolvido
por Lênin e Trotski, é uma expressão inexistente na obra de Marx, que, por sua vez,
utilizara apenas o termos dialética e método dialético.
94
1 Introdução
O texto revela as principais problematizações realizadas
no seio da profissão a cerca da metodologia do serviço social.
Para tanto, é necessário compreenda-las de forma não 105
dissociada da teoria, embora para efeitos de didáticos e
• A mediação;
• A concepção de teoria e metodologia;
• A existência de teoria ou teorias no Serviço Social;
• A diferença entre especificidade, identidade e
particularidade do Serviço Social.
70
De acordo com Vasquez (1977) a práxis compreende prática produtiva, prática
política e a prática do conhecimento ou investigativa. Existe no entanto uma
distinção entre essas três práticas. A prática na produção material, ou seja, a
práxis produtiva, é a práxis fundamental, porque nela o homem não só produz o
mundo humano e humanizado, mas transforma a si mesmo. É o trabalho que o
homem realiza sobre a natureza – relação homem/natureza. Trata-se portanto de
um “processo de transformação material da natureza e deve-se entender, também,
que ao final do qual” se produz um resultado que já existia idealmente (cf. Marx,
1980).
71
KAMEYMA, 1989, p. 100.
3 O Método Dialético
As considerações do autor sobre a metodologia referem-
se à distinção que deve ser feita entre a metodologia do
conhecimento e metodologia de ação, necessária a compreensão
de que “a prática do Serviço Social é diferente da práxis, dentro
da concepção marxista”.73 Estas distinções são necessárias, 109
visto que existe um risco de se abordar como se fossem a
72
Ibid., p. 101.
73
Ibid., p. 101.
76
FALEIROS, 1989, p. 132.
77
Ibid., p. 132.
78
Ibid., p. 133.
79
Ibid., p. 133.
80
Ibid., p. 134.
81
Ibid., p. 135.
82
Ibid., p. 135.
87
Ibid., p. 119.
89
Ibid., p. 122.
90
Recorde o capítulo 1 sobre a construção do conhecimento.
91
Ibid., p. 124.
4 Conclusão
A proposta metodológica de Faleiros revela a função do
assistente social como sendo o mediador do processo de
desmistificação. Para tanto, existe a necessidade de identificar,
nas situações do cotidiano, que é objeto da intervenção direta
do assistente social, formas de materializar esta desmistificação.
Logo, é fundamental que o Assistente Social, ao atender uma
situação de violência doméstica, por exemplo, possa ser capaz
de compreender esta situação para além do aparente, do mito
de que é por ciúme que o homem bate, e ainda do mito de que
o ciúme é prova de amor. Se esta compreensão não se fizer
presente no processo e não forem mediados pela necessidade
de enfrentamento político desta violência, à situação será
92
Ibid., p. 126.
124
1 Introdução
Os anos 1990 foram marcados pelo que se chama Crise da
Ciência ou do Paradigma Clássico de Ciência. Esta crise revela-
se pelo reconhecimento da complexidade existente nos 125
fenômenos sociais emergentes e a dificuldade do conhecimento
Ciência e Contemporaneidade
científico cartesiano em dar respostas a estas novas formas
de expressão do real, dadas as suas características binárias.
Existe também outra problematização que diz respeito à
origem dos conhecimentos produzidos nas ciências sociais ser
representativa de um modelo de sociedade do norte, ao passo
que nós nos constituímos como sociedades do sul.93
Alguns autores defendem a ideia de que o embasamento
teórico e científico das ciências sociais alicerçados na produção
do norte seja incapaz de compreender e explicar os fenômenos
sociais emergentes no sul, face às diferenças culturais,
geográfica, e as condições de subjugação da ciência face ao
processo de colonização.
Quanto à questão binária, se problematiza a divisão do
conhecimento e, portanto, o poder, na forma como são
representadas na sociologia e na antropologia, quando se
93
Refere-se aos países de primeiro mundo (norte) e terceiro mundo (sul).
dominantes.
Outra questão para a crise refere-se ao fato do
conhecimento das ciências sociais clássicas ter sido produzido
em períodos em que não existia a globalização. Assim, como
essas perspectivas poderão responder ao desafio da
globalização?
126 Diante destas questões estabeleceu-se um amplo debate
nas ciências sociais, de crítica aos limites da concepção
bachelardiana, como paradigma delimitante da ciência moderna.
O reconhecimento das dificuldades da teoria crítica se
estabelece face à sua vinculação teórica e política à totalidade,
que passou a alimentar a necessidade de uma ruptura
epistemológica e a favorecer a emergência de novas
perspectivas.
A crise das ciências sociais afetou seu status e modificou
a forma de representação social do seu papel. Nas palavras de
Ruben Alves:
94
Claude Lévi-Strauss (Bruxelas, 28 de novembro de 1908) é um antropólogo,
professor e filósofo francês, considerado o fundador da Antropologia Estruturalista,
em meados da década de 1950, e um dos grandes intelectuais do século XX.
95
ALVES, 1986, p. 167
96
MORIN, 1996, p. 10.
97
Ibid., p. 10-11.
98
SANTOS, 1999, p. 213
99
Ibid. p. 197.
100
CATTANI, 2003, p. 272.
101
Paradigma (do grego Parádeigma) literalmente modelo, é a representação de um
padrão a ser seguido. É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma teoria, um
conhecimento que origina o estudo de um campo científico; uma realização científica
com métodos e valores que são concebidos como modelo; uma referência inicial
como base de modelo para estudos e pesquisas.
102
A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do
conhecimento (daí também se designar por filosofia do conhecimento). Ela se
relaciona ainda com a metafísica, a lógica e o empirismo, uma vez que avalia a
consistência lógica da teoria e sua coesão fatual, sendo assim a principal dentre as
vertentes da filosofia (é considerada a “corregedoria” da ciência).
103
Ontologia (<grego ontos+logo = “conhecimento do ser”) é a parte da filosofia que
3 Conclusão
As contribuições que os referenciais teóricos: funcionalismo,
estruturalismo e marxismo trouxeram às ciências sociais e,
especificamente, na produção do Serviço Social, constitui-se
no próprio saber acumulado.
Estas teorias e seus postulados, seus enunciados, as
descobertas e a compreensão que se têm hoje da sociedade e 131
das relações existentes no seu seio são frutos fecundos destes
Ciência e Contemporaneidade
referenciais, que possibilitam aos pesquisadores analisar fatos
sociais sob pontos de vista diversos, utilizando-se das mais
variadas técnicas e instrumentais de pesquisa, com a
possibilidade de conhecer o real a partir do modo como ele se
constitui. Isto possibilita, igualmente, a conceber a crítica a
estas mesmas teorias e os conhecimentos por elas gerados.
A possibilidade de captar a teia de relações sociais, de
estudar suas estruturas e identificar a hierarquia destas, que
possibilitam ao ser social compactuar ou não com a ordem
estabelecida, se deve a esses referenciais.
O papel do pesquisador, seja ele orientado por qualquer
referencial teórico, constitui-se em tarefa árdua, pois analisar,
interpretar e protagonizar as transformações sociais na dinâmica
1 Introdução 133
Social na Contemporaneidade
A construção do conhecimento do Serviço
Diante da crise do paradigma clássico de ciência, observou-
se uma modificação radical na orientação das pesquisas em
Serviço Social. Os esforços da categoria profissional em definir
uma perspectiva teórica metodológica única para o Serviço
Social reconceitualizado cedeu lugar à multiplicidade de saberes.
Na atualidade, a concepção teórico-metodologica está
construída como uma unidade sem necessidade de fazer a
distinção. O mundo está repleto de teorias que são materializadas
nas práticas sociais do cotidiano e também nas práticas
profissionais, que cada vez mais exigem respostas complexas.
A dimensão da prática de pesquisa precisa ser incorporada
como condição para o enfrentamento das demandas postas à
profissão. O desafio de consolidar o projeto ético político da
profissão, igualmente precisa ser compreendido como parte da
concepção teórica da categoria profissional.
É preciso reconhecer que o conhecimento está em
constante construção. Trata-se de um processo dinâmico que
2 Serviço Social
e a Pluralidade
Você vai encontrar em muitos textos produzidos no Serviço
Social expressões e afirmativas sobre a “hegemonia do
pensamento marxista” na produção teórico-metodológica. Esta
é uma questão importante a ser esclarecida, logo, buscamos
um texto de Myrian Veras Baptista, publicado no caderno ABESS
nº 5, intitulado “A produção do Conhecimento Social
Contemporâneo e sua Ênfase no Serviço Social”, que faz
referência a esta afirmativa. No quadro a seguir apresentam-
106
SILVA, 2004, p. 140.
107
Ibid., p.142.
3 Questão Social
e Serviço Social
Segundo José Paulo Netto, o estudo da vasta bibliografia
da área do serviço social evidencia que sua emergência teve
uma íntima relação com a chamada Questão Social108.
Como ficou explicitada nos capítulos anteriores, a gênese
da profissão está representada por duas teses opostas, que
foram formuladas por Iamamoto e Netto, como visão endógena
ou “de dentro” e a tese de que a profissão nasce na divisão
sócio técnica do trabalho. Estas teses defendidas por José
Paulo Netto e Marilda Iamamoto são analisadas por Carlos
108
NETTO, 1992.
109
MONTAÑO, 1998.
110
IAMAMOTO, 2001, P. 27.
111
Ibid., p. 28.
143
Social na Contemporaneidade
A construção do conhecimento do Serviço
112
Ibid., p.21.
113
Ibid., p.29.
145
Social na Contemporaneidade
A construção do conhecimento do Serviço
146
150
25/1/2011, 16:23
151
Cap. X.p65
Neila Sperotto
152