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1 acas Chara Principios d'O Passo INCLUSAO, Qualquer método de ensino de Misiea deve ter como principio a inclusio em seus processos de ensino-aprendizagem de todo aquele que da Misica queica se apeoximar. ‘Talver, de uma maneira geral, todos, em alyuma medida, se proponham a isso. Dalcroze (1967, p18) disse, com extrema franqueza, que uma crianga que no possuisse boa voz € bom ouvido "(.) deveria ser removida da classe, como nis excluiriamos um homem cego de uma aula de tro, ou um homem sem pernas de uma aula de gi Asties (..)" Dalcroze (1967, p. 24) fala também de uma "eliminagio dos ‘incueiveis”, obviamente propondo apenas uma interdigao, certo que as afirmacdes de Dalcroze sio nitidamente datadas ¢, possivelmente, hoje em dia o proprio Daleroze nto se per ria Fazer tis colocagdes. No preficio de seu liveo cle explica que decidiu manter algumas posigdes, que depois foram abandonadas, para que estas contradigdes pudessem ensinar algo a seus leitores. © fato & que em algum momento cle as fez ¢, ainda quéatualmente a imensa maioria dos educadores musicais também se coloque nitidamente contra esta atirud, minha preocupagio, 'n momento em que inieiava um processo que me levou a elaboracdo de uma metodologia para o ensino- aprendizagem de Miisiea, era com 0 quanto se estava fazendo, nao apenas para impedir emocio dos incuréveis”, mas principalmente para que aqueles alunos que petmanecessem nao se sentissem incuriveis €,com o tempo, desistissem, se“auco-removessem": fave rik nai titans bast gho WEE HE dea lagi GL Gacnpletamente livee, pormelhor que se ulgue, de receberesteinfeliz ebulo, A idéia do farnoso “dom”, de que se nasceuou rio para a miisica, é perigosissima © tem realmente servido apenas como deseulpa tanto para aqueles alunos que ndo tém forgas para entrar ou permanecer num proceso de ensino-aprendizagem musical quanto paraaqueles professores que no sabem como conduzie este processo. ‘Voda a caboragio d’O Passo se iniciou mam momento de profundo questionamento sobre 0 prdptio sentido de minha atuagio como professor. Cercamente eu nao julgava simples os caminhos para Viabilizer a inclusio de todos, e um primeiro procedimento me pareceu central: considerar que nada, nenhuma habilidade ou compreensio, devia ser encazada como narutal. Com o tempo realize’ que uma das _geandes forgas d'O Passo € justamente estar baseado sobre um recurso natural de qualquer ser humane em condigdes normais: o andar. Mas mesmo este recurso deve ser teaprendido. Assim como alguém que vai a uma aula de Tai Chi e precisa reaprender 4 respirar, tomar conscigncia de como se respira pa poder respirar melhor Assim avaneei tentando jamais pressupor que o aluno ji sabia algo que eu percebia como fundamental para o momento que precisivamos viver: Hoje.eu e aqucles que trabalham com O Passo io peng realmente sabe. E encatamos com tranqiilidade a carefa de descobrir formas de ensinar o que for preciso, ramos se 0 aluno sabe ou nao, pedimos que ele rele alo que déa ele ea nds a certeza de que ele ‘Aqui ha uma peande € rica discussiva ser feita sobre o que eada um entende por’ incluso”, Minha visio, consiruida a luz d’O Passo, & a de que s6 estamos de fato includes num determinado fazer wwii anssieranbe 1 suns Cates musical quando somos afetados por ele e. principalmente, quando © afetamos. $6 estamos incluidos quando nossa aga0 interfere, “faz difereng: no resultado musical do grupo. Nossa presenga simplesmente nio garante esta inclusio. E fundamental que aliada a esta presenga haja umaagio © que ela seja significanva para 0 grupo, que cla iterfirs,positiva ou neyativamente, no resultado do peup Mp ideal & que ela seia positiva, pois esta interferéncia sera cada vez mais desejada ¢ nos seatiremos cada vez mais dentro do grupo. Mas mesmo quando ela for negativa, o importante & que seremos notados, «isso pode abrir uma excelente oporcunidade para que scjamos ajudados, revejamos nossa pritica e possamos passar incerferir posirivamente fazer realmente parte daquele grupo. Prevcupava-ne também um fator de exclusio que, especialmente no Brasil, me parece, deve ser tencarado com toda gravidade que ele indica: possuir ou nao os meios. Refiro-me a todo e qualquer recurso material cuja auséncia, em alguns casos, inviabiliza o processo de ensino-aprendizagem. Case condicionasse minha proposta de educagio musical a esse ou aquele meio, ¢ 0 acesso a cle nao fosse possivel, estaria condenando irremediavelmente todo 0 processo. Assim,*me parecia fundamental tabalhar sempre na perspectiva da auséncia quase que toral de meios ~ 0 qui mesmo na fartura, pode representar um exercicio muito importante, Contar apenas com quem quer ensinaraprender, com quem ‘quer aprender-ensinar e com os recursos disponiveis para ambos — algo bem simples de scr feito para quem no tem outra opeio, ‘Trabalho n'O Passo, hoje, cada vez mais, na perspectiva de que 0s tinieos recursos necessirios paca fetivar um processo de educagio musical (todo 6 processo) sejam apertas palmas ¢ voz; ritmo e som nos nicosinstrumentos euja pre 152 de Faro podemos garantit AUTONOMIA Todo © trabalho com O Passo valeria muito pouco se nao procurissemos quase que obstinadamente a autonomia do aluno. Teno dito (¢ me espantado cada vez mais com a realidade desta afirmativa) que € possivel passar a vida inteira num geupo de percussio e nio ter referencias ritmicas precisas; que € possivel eantara vida inteira num coral e desafinar com inerivel freqiiéncia. Qualquer um que {i tocou num grupo de percussio ou cantou num coral sabe do que estou falando. Mas como isso pode acontecer? Como alguém pode estar em esteeito ¢ prolongado contato com uma determinada atividade ¢ iio dominar as habilidades bi eas que esta atividade requer? O eonceiter de posigao pode explicar como isso € possivel, mas basicamente 4 solugio deste mistério, desta aparente impossibilidade, esta: numa palavra que nega todo o objetivo que aqui evoco para © Passo: “dependéncia”. Depender inteiramence do fourro (0 que nto deve ser confundide com “contar com o outro”) é 0 que fazem aqueles que tocam ou ccantam sempre um pouquinho depois daqueles que sabem a hora © a nota certas, € por isso podem dae a impr 10 (inclusivea si mesmos) de que nao erram o titme ou a afinagio, Mas depender tendo ee de sua dependéncia, estar propositalmente “na al Ealgo s6 desejado por quem aaquele momento nic. fem ourra opeao, ou por no ter forgas ou por nao ter meios. Os meios © Passo fornece, a forga normalmente vem da percepeao de queatravés destes meios hi uma possbilidade real de aprendizagem Deans Chanatte No enranto, ainda que presentes os meios © a forga, a construgio desta autonomia estd necessariamente associada a0 rigor de quem avalia, “Rigor” em hipétese alyuma deve ser confundido com rigidez”’. Ser rigido ¢ estar insensivel a diversidade igoroso € no proteger ningugm de sua propria lmmorincia. Proceger alguém de sua propria igmorincia & invaravelmemte condenar est Permanceer na ignorincia em que se encontra, O Passo impede que isso acontega, pois um: ‘aracteristicas mais mareantes é a capacidade de evidenciar claramente as lacunas deixadas por uma detecminada formas musical. B-embora nao seja simples para ninguém t © sua iymorineia revelada ov ‘mesmo revelar a ignorincia de alguém, © Passo, por indicar caminhos claros para a superagio de barreiras antes consideradas ineransponiveis, tem permitido tanto que alunos tranguilamente explicitern suas deficiéncias como musicos ¢ pegam ajuda quanto que professores revelem as deficigncias de sews alunon sem medo de se comprometer como processo de superagio que deve vit em sepuida, soeepasseaconnh

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