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Vítimas e culpados
Eleitorado sem perspectiva econômica não pode ter consciência de
direitos, ou interesses, que desconhece

FAZ MUITO TEMPO que o anúncio dos resultados de eleições no Brasil é acompanhado da
constatação de que os eleitos, em particular para o Legislativo, formam um contingente de baixa
qualidade.

Não são poucos aqueles que (como este que escreve) julgam que a qualidade esteja decrescendo. A
isso costumam seguir-se considerações a respeito da responsabilidade de quem leva políticos
desclassificados ao Legislativo, a saber, os eleitores.

Daí a se engatarem lamentações a respeito da consciência (ou falta dela) do eleitor é um passo,
acompanhado sempre de um rol de soluções que incluem pelo menos uma providência: a reforma
política.

Dois elementos aparecem quase sempre nas reformas políticas que se costumam propor ultimamente:
a proibição de financiamentos privados a candidatos e a implantação do voto distrital.

Financiar eleições exclusivamente com dinheiro público traz como consequência material a adoção do
voto em listas. O eleitor deixaria de votar em candidatos, passando a fazê-lo em listas definidas pelas
legendas partidárias.

Sem entrar nos vários deméritos dessa proposição, permanece inexplicado qual seria o efeito que a
providência causaria na consciência do eleitorado.

Quanto ao voto distrital, pelo menos há um argumento relacionado à consciência: o de que os eleitos,
tendo sido ungidos pelo voto em distritos delimitados, seriam mais vigiados pelos respectivos
eleitores.

A proposta tem atrativos, mas também tem defeitos, alguns gravíssimos, que tampouco serão
abordados neste momento.

Acontece que, em grande parte do país, o voto já é distritalizado, na forma de redutos eleitorais. Se os
eleitores de bairros ou cidades vota "inconscientemente" nos candidatos que se apresentam ali, qual
seria o motivo pelo qual passariam a exercer esse voto com mais consciência se a distritalização
passasse a ser formal?

O que acontece com as discussões baseadas na consciência do eleitor é que transformam a vítima em
culpado.

O eleitor é vítima por vários lados.

Há o lado da informação. Para votar direito, o sujeito precisa ter informação adequada a respeito da
política e dos políticos. Isso não está presente para a vasta maioria do eleitorado, por responsabilidade
de uma imprensa que é dominada pelos mesmos interesses que controlam a política (não apenas
Collor, Sarney etc. etc., mas políticos locais às centenas).

Outros responsáveis são as ONGs brasileiras, que existem para defender certos pontos de vista ou
interesses, mas que não geram informação necessária para fazer suas posições conhecidas, inteligíveis
e capazes de mobilizar os pretensos beneficiários.

No fundo de tudo, culpadas são a má distribuição de renda e a falta de desenvolvimento econômico


real.

Um eleitorado sem perspectivas econômicas não pode ter consciência de direitos, ou mesmo
interesses, que desconhece.

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