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Letras – Português / Inglês
HOMEM-ANIMAL E A METALINGUAGEM
PORTO VELHO
2017
JUSTIFICATIVA
A escolha do tema da presente pesquisa ocorreu em função de que quandrinhos são vistos até
hoje como um tipo de leitura inferior e um passa tempo fútil. Estudiosos arrogantes de arte
podem dizer que um penico é arte, mas quadrinhos não, são só lixo comercial. Sendo assim, a
analise da obra Homem-Animal é importante, pois tal obra demonstra que as vezes quadrinhos
podem ser mais profundos do que certas obras literárias de “verdade”.
OBJETIVOS
Analisar a obra Homem-Animal dando o contexto da época em que foi criada e explorar a
metalinguagem trabalhada nela.
METODOLOGIA
Artigo científico de revisão bibliográfica com base na leitura da obra, em artigos e entrevistas
sobre o tema.
REFERÊNCIAS
MORRISON, Grant. Grant Morrison: Talking with Gods. Sequart Organization. 2010.
SANTIAGO, Luiz. Crítica | Homem Animal: O Evangelho do Coiote (1988 – 1989). Plano
crítico. 2016.
SANTIAGO, Luiz. Crítica | Homem Animal: Deus ex Machina (1989 – 1990). Plano
crítico. 2016.
Orientações Gerais
* Para formatação dos elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais, siga as orientações do tópico “2.1.
Estrutura do Artigo Científico”, Unidade 3, do Caderno de Referência de Conteúdo (CRC).
* Para referenciar corretamente as fontes utilizadas (item “Referências”) siga as orientações do tópico “2.8.
Referências”, Unidade 2, do Caderno de Referência de Conteúdo (CRC).
* Após a constituição do Projeto de Pesquisa, ao fazer a transição para o Artigo Científico, substitua os itens
(“Contextualização/revisão Bibliográfica”, “Justificativa” etc.) pelas seções “Introdução”,
“Desenvolvimento”, “Considerações Finais” e mantenha o item “Referências”, conforme exemplo a partir da
página 3.
HOMEM-ANIMAL E A METALINGUAGEM
Resumo
O trabalho apresenta como Homem-Animal marcou a indústria das histórias em quadrinhos e
faz uma análise das citações e referências expostas na obra.
Este trabalho visa analisar o uso de metalinguagem das edições escritas por Grant Morrison.
1. Grant Morrison
Ter habilidades originais não foram o suficiente para que o Homem-Animal caísse no gosto
dos leitores, muito pelo contrário, ele foi fadado ao ostracismo e a baixa popularidade por mais
de 20 anos, porém o jogo virou quando o Grant Morrison assumiu o cargo de escritor da revista
Homem-Animal. Os quadrinhos americanos dos anos 80 foram marcados pelo que se chama
hoje de “ a invasão britânica ” graças à editora Karen Berger que, em busca de novos talentos,
trouxe artistas ingleses para trabalhar nos quadrinhos americanos da DC Comics. O sucesso que
Alan Moore teve ao reinventar Monstro do Pântano abriu portas para que outros escritores
ingleses criarem novas versão de personagens undergrounds. E coube a Grant Morrison a
missão de dar um novo folego ao pobre Homem-Animal, que parecia estar fadado ao limbo
editorial. Na verdade, a ideia de reinventar o personagem saiu da cabeça do próprio Morrison.
“Eu cheguei sem ideias. Daí falei do Homem-Animal, que eu adorava quando criança,
porque ele era bem obscuro, e só eu o conhecia. Eu tinha uma conexão emocional com
o personagem. Pensei no que podia fazer com ele. O que se encaixaria na revitalização
dos super-heróis da DC?” (Morrison.2010)
A “humanização da figura do herói” não é uma ideia original de Morrison, ela já existia há
muito tempo atrás, o maior exemplo disso é o Homem-Aranha, criado em 1962 por Stan Lee e
Steve Ditko. A ideia do herói humanizado é um dos motivos da editora Marvel Comics ter mais
fãs do que a concorrente DC Comics que apresenta heróis mais icônicos e divinos, maior
exemplo disso é o Super-Homem. O Homem-Animal é um herói da DC, entretanto a ele foi
negada a ideia de perfeição de um Deus. Morrison deu um novo frescor ao personagem, pois
suas histórias o retratavam como alguém bem humano, falho e visto por muitos como um
fracassado, não só por não ter poderes grandiosos, como também por ser um pai desempregado
e sustentado pela esposa.
O gibi se tornou marcante por abordar temas como: ativismo e maus-tratos animal,
vegetarianismo, embora o veganismo já existisse ele ainda não era popular na época, críticas a
exaltação da violência em desenhos animados e a metalinguagem.
2. Conceito de metalinguagem
A palavra metalinguagem tem origem nos estudos do pensador russo Roman Jakobson,
segundo o próprio ela tem um discurso que foca o código lexical do idioma. A metalinguagem
é a função de linguagem usada quando o código linguístico se auto explica, isto é, quando o
objetivo é falar da própria linguagem empregada na comunicação. Tal função é conhecida por
estar presente em obras literárias, dicionários, entretanto seu uso ampliou-se para outras
linguagens, como a música, cinema e até mesmo os quadrinhos.
3. Metalinguagem em Homem-Animal
3.1 O Evangelho Segundo o Coiote
Há muitas referências para se destacar neste arco. Com as 3 páginas iniciais, Morrison
consegue dar uma boa introdução de quem seria o caminhoneiro. Era um homem de meia idade,
tinha um relacionamento homoafetivo, entretanto isso não o fez abandonar sua fé cristã, como
ele diz ao segurar um colar com uma cruz: Billy (seu amado) e o bom Senhor me salvaram.
Entretanto as coisas mudaram desde o dia em que atropelou o monstro que enxergava como um
ser demoníaco. Billy morreu, sua mãe morreu e ele perdeu o emprego. Acreditando estar
amaldiçoado pela Fera, ele começa uma caçada interminável, matando várias vezes o pobre
animal. Em uma das tentativas ele acaba caindo na própria armadilha e se machucando
gravemente, o que é irônico, afinal no desenho o Coiote se machucava com as armadilhas que
fazia, agora neste contexto o Coiote assume o papel de Papa-Léguas e se torna a preza.
A carta do Coiote era uma crítica aos desenhos americanos que glorificam a violência. Ao
mesmo tempo virou uma parodia cheia de referências. Por se rebelar contra “Deus”, Coiote
assume um papel parecido com o de Lúcifer, mas também assume o papel de Cristo por se
sacrificar para que seus amigos se tornassem livres da dor e da violência de seu mundo. Há
também uma imagem do Coiote partido ao meio com um abutre comendo o seu fígado, isso é
uma referência à lenda de Prometeu o filho de Zeus que foi castigado por querer trazer luz à
humanidade. Curiosamente, segundo a Teosofia, Prometeu é comparado à Lúcifer, pois os dois
teriam sido punidos por trazerem luz (conhecimento) à humanidade. Lúcifer trouxe
conhecimento à humanidade quando estava preso a forma de serpente e fez Eva comer do fruto
do proibido, como castigo a serpente se tornou um ser rastejante. Como diria a escritora e co-
fundadora da sociedade teosófica, Helena Blavatsky:
Embora tenha mais de 40 páginas, serão comentadas aqui somente duas delas. Na página 34
aparece o personagem Chapeleiro Louco, não confunda com o de Alice no país das maravilhas,
em um manicômio ele diz para outro personagem:
“Somos todos personagens na página. Creio que deveria saber. Somos somente um
roteiro apressado para cumprir um prazo. Não podemos aspirar a ser mais do que um
melodrama medíocre. Algum cliché barato está escrevendo nossas vidas!”
(MORRISON.1989.34)
“Um e dois e ex e três e quatro e primeiro e... O que você quer? Wolfman te deu meu
nome? Como poderia dormir? Se eu dormir eles podem decidir me apagar da
continuidade e então eu nunca acordarei.” (MORRISON.1989.35)
Antes da revista do Homem-Animal começar houve um evento chamado Crise nas Infinitas
Terras, publicado em 1986. Esse evento apagou personagens daquele universo e fez o universo
renascer abrindo portas para novas interpretações dos personagens da DC Comics. Pirata
Psíquico foi o único personagem que permaneceu com as memórias do universo anterior, por
isso diz que não pode dormir, pois tem medo de ser apagado assim como outros personagens
foram; ser apagado não é simplesmente morrer, é nunca ter existido, além de sumir os outros
personagens não se lembram de quem foi apagado. Ao dizer “ Wolfman te deu meu nome? ”
Pirata Psíquico demonstra saber muito bem que é só um personagem de quadrinhos, pois foi o
escritor Marv Wolfman que escreveu Crise nas Infinitas Terras.
Na edição 19, Buddy e seu colega James Highwater fazem um ritual xamânico em busca de
respostas sobre os poderes de Buddy.
Esta página é uma semente para o final da fase Grant Morrison que será debatido
posteriormente.
Ao ingerir as sementes, Buddy tem delírios com seu passado, sua origem e sua família até que
cai profundamente numa espiral sangrenta, lá ele encontra outro Homem-Animal, um que usa
as roupas que o personagem usava quando fora criado. Ele diz que essa não é a forma que tudo
aconteceu, que ele ganhou os poderes quando tinha 30 anos, diferente do que Buddy lembra
que conseguiu os poderes com 19 anos, diz que não tem filhos pois se tornou estéreo após a
radiação que lhe concedeu poderes. Este outro Homem-Animal sabe a verdade, sabe que foi
substituído, criaram uma nova versão dele, uma que o público da época teria mais apego e
depois desaparece, então Buddy se encontra num vazio, tudo branco ao seu redor e olha para
trás, e diz: “ Eu posso te ver ”. Agora Buddy soube que sua vida não era dele, era apensa um
show para entreter pessoas que o assistem.
Após recobrar a consciência, Buddy tenta convencer James de que eles são meros personagens,
que suas vidas não lhes pertencem, entretanto James o convence o contrário, fazendo com que
Buddy esqueça tal revelação. Ao retornar para casa, algo trágico acontece, Buddy se depara
com os corpos de seus familiares esquartejados.
3.4 Mokey Puzzles. Homem-Animal edição 25
A vigésima sexta edição finaliza a fase do herói escrita por Grant Morrison, tal edição amarra
pontas soltas e é o resultado final do que foi semeado desde o arco “O evangelho do Coiote”.
Tudo começa com Buddy encontrando o próprio Grant no que aparenta ser a casa do escritor,
lá Buddy vê no computador textos sobre sua vida, ao perceber que o massacre de sua família
foi fruto dos caprichos do escritor, Buddy tem um surto e atira Grant pela janela, que logo em
seguida reaparece como se nada tivesse acontecido. Grant o questiona se Buddy seria mesmo
capaz de fazer aquilo, mesmo com a dor do luto e raiva, Buddy sempre foi um pacifista, assim
sendo Buddy não fez isso por ser de sua natureza, ele tomou tal atitude pois o autor assim quis.
Grant explica que a morte da família Baker foi um recurso usado para atrair os leitores, além
disso é reflexo da época em que era moda estórias de heróis sombrias. Grant toma oportunidade
para agradecer a todo o time criativo que cooperou com ele nessa jornada e aos leitores. No fim
Buddy volta para seu mundo com sua família sã e salva, acreditando que tudo que aconteceu
desde o dia do massacre fora um pesadelo.
“Foi uma tentativa inicial aparecer nas páginas e dizer: “Eu sou o cara que escreveu
tua história e matou tua família. Sinto muito, mas precisamos de drama. Tem gente
que lê quadrinhos todo mês e se eu puder ventar mais edições matando tua família,
farei isto. ” E o Homem-Animal dizer: “Não pode trazê-los de volta?” Não era realista,
ninguém acreditaria naquilo. Eu fiz porque descobri que nos quadrinhos era possível.
Só numa ficção podemos quebrar as leis da física, tempo, espaço, vida e morte... e
isso é profundo.” (Morrison.2010)
De origem grega, o termo Deus ex Machina tem como significado “ Deus surgido da máquina”,
é posto em pratica para apontar uma resolução mirabolante para um finalizar uma obra fictícia,
a solução pode vir atrás de um personagem, artefato ou evento inesperado e improvável.
A expressão surgiu no teatro grego clássico, quando uma peça terminava com um deus se
manifestando até o palanque no intuito de amarrar as pontas soltas na trama.
A expressão designa, atualmente, o desenrolar de uma estória que ignora sua lógica interna
que de tão inverossímil permite ao autor termina-la com algum acontecimento improvável.
Apesar de nunca ter alcançado, e possivelmente, nunca alcançar o sucesso de Batman, Homem-
Aranha e Super-homem, Homem-Animal tem o seu lugar no sol no universo de quadrinhos de
super-heróis. Após ser escritor por Grant Morrison, o personagem teve outras fases marcantes,
a última foi escrita por Jeff Lemire publicada em 2012, na qual o autor ousa ao mudar a origem
do personagem, dando-lhe uma revelação bombástica mas sem ignorar o que foi escrito
anteriormente, assim como Alan Moore fez em Monstro do Pântano, já citado anteriormente.
Desde então, nada de novo foi publicado, mas possivelmente ele retornará quando algum editor
tiver uma boa ideia do que fazer com ele. Devido às limitações de tempo e de páginas, o trabalho
termina por aqui, embora haja outros assuntos para se trabalhar com o personagem. Como
sugestões para pesquisas futuras, indica-se obras que foram inspiradas por Homem-Animal, o
impacto que a obra causou na época, as críticas à exploração e maus tratos aos animais.