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Marcos Napolitano

A música
brasileira
na década
de 1950

MARCOS
NAPOLITANO
é professor do
Departamento de
História da
FFLCH-USP e autor
de, entre outros,
Síncope das Ideias: a
Questão da Tradição
na MPB (Fundação
Perseu Abramo).
RESUMO

Neste artigo, analisaremos a cena musical brasileira dos anos 1950 e seu lugar
na historiografia da música. A década de 1950 costuma ser qualificada como
um período de estagnação criativa e decadência estética, numa dupla chave
interpretativa: para os críticos mais tradicionalistas, como Almirante e Lucio
Rangel, a década de 1950 experimentava perda de referenciais em relação ao
passado idealizado (a década de 1930). Para as correntes de opinião modernas,
que se afirmam após a explosão da bossa nova, a década de 1950 é vista sob
o signo do mau gosto e do arcaísmo musicais. Neste artigo, examinaremos
criticamente essa memória histórica e apontaremos novas possibilidades de
pesquisa para o período.

Palavras-chave: música popular brasileira, história, Brasil, música popular.

ABSTRACT

In this article the Brazilian musical scene of the 1950s and its place in musical
historiography are analyzed. The 1950s are often viewed as a period of creative
stagnation and aesthetic decay, in a twofold interpretation: for the more tradi-
tionalist critics, such as Almirante and Lucio Rangel, that decade experienced a
loss of reference in relation to an idealized past (1930s). For the modern currents
of opinion which arose after the bossa nova boom, the 1950s are seen under the
sign of bad taste and musical archaism. In this article we critically review this
historical memory and point out new research possibilities for that period.

Keywords: Brazilian popular music, history, Brazil, popular music.


A CONSTRUÇÃO DE UMA

A
MEMÓRIA HISTORIOGRÁFICA

década de 1950 ocupa um estatuto

ambíguo na história da música po-

pular brasileira por conta de uma

coincidência problemática, por

vezes forçada, entre historici-

dade e calendário. Por um

lado, fixada na memória so-

cial como os “anos dourados” do glamour

e do romantismo, tema que tem atraído

historiadores para o estudo do período

(Rocha, 2007). Por outro, numa visada

mais crítica, é rejeitada pelas correntes de

opinião mais influentes da nossa crítica e

historiografia musicais. Ruy Castro, no

livro Chega de Saudade, chega a comparar

a vida musical do Brasil pré-bossa nova a

uma grande quermesse, na qual imperavam

baiões e sanfonas (Castro, 1989). Mesmo

o qualitativo colado àquela década, algo

nostálgico e carinhoso, de “a era do rádio”,

em parte é ofuscado pela pujança e quali-

dade desse meio de comunicação nos anos

1930 e 1940, antes de ser popularizado

e ocupado pelas “macacas de auditório”

justamente nos anos 1950, termo em si

mesmo pejorativo e racista1. Enfim, na

querela entre os antigos e modernos no

campo da historiografia e da produção


1 A expressão “macacas de
musical brasileiras, os anos 1950 acabaram auditório” foi criada pelo
apresentador Nestor de
ficando no limbo da história como uma Holanda no final dos anos
1940 para qualificar as
espécie de “idade das trevas musicais”. Se histéricas audiências dos
programas da Rádio Na-
os medievalistas há muito já conseguiram cional.
se desvencilhar dessa adjetivação do seu nova, ou seja, “despojamento, clareza,
período de estudo, a música brasileira da funcionalidade”.
década de 1950 ainda aguarda um novo O historiador Alcir Lenharo, numa das
julgamento historiográfico, para o qual o poucas revisões valorativas da cena musi-
campo da história da cultura teria muito a cal da época, lembra que, ao contrário do
contribuir (Wasserman, 2002). que se pressupunha, o cenário musical era
O “tradicionalista” José Ramos Tinho- variado, ainda que o samba fosse o gênero
rão vê a década de 1950 como o ponto de principal:
virada histórico que determinou o afasta-
mento da produção musical mais valorizada “O começo dos anos 50 era um período de
em relação à tradição popular, subordinando especial criatividade musical no calendá-
a análise musical diretamente à dinâmica so- rio momesco. Haroldo Lobo, Braguinha,
cioeconômica. Portanto, sua crítica central Nássara, Wilson Batista, Klécius Caldas
àquele período é feita, justamente, em cima e Armando Cavalcanti, Zé da Zilda, entre
do que o mainstream musical brasileiro mais outros, sempre estavam na ponta. Predomi-
valoriza: a bossa nova. Conforme Tinhorão navam as marchinhas, mas o frevo aparecia
(1991, p. 231): bastante, através de Severino Araújo e de
outros artistas nordestinos. E havia lugar
“A década de 1950, porém, marcava o ad- para manifestações musicais como o ‘bigor-
vento de uma recente separação social no rilho’, cultivado por Jorge Veiga, para não
Rio de Janeiro – pobres nos morros e na falar da rica variedade de sambas, samba
Zona Norte e ricos e remediados na Zona de morro, samba duro, samba de roda, e
Sul – que não favorecia de modo algum os belíssimos ‘sambas de última hora’,
este contato com as fontes do ritmo popular. que vinham na boca do povo” (Lenharo,
Pelo contrário, propiciava o surgimento 1995, p. 200).
de uma camada de jovens completamente
desligados da tradição musical popular É bom lembrar que a desqualificação
[…]. Esse divórcio iniciado com a fase do daquele período teve sua gênese na própria
samba tipo bebop e abolerado de meados da década de 1950, por conta de um projeto his-
década de 1940 atingiria o auge em 1958, toriográfico que construiu uma determinada
quando um grupo de moços […] rompeu ideia de tradição e “autenticidade” musicais
definitivamente com a herança do samba que incensava a década de 1930, em con-
popular”. traponto com os “decadentes” anos 1950.
Esse projeto teve um dos seus epicentros na
Para o “modernista” Júlio Medaglia, Revista de Música Popular, periódico que
em texto publicado ainda nos anos 1960, circulou entre agosto de 1954 e setembro
o samba herdado do passado continuaria de 1956 (total de 14 edições), editado por
o gênero-matriz para a MPB, constituindo Lúcio Rangel e Pérsio de Moraes, que aglu-
o material base a partir do qual deveria se tinou um determinado pensamento estético
construir a “linha evolutiva” somente à e ideológico fundamental na “invenção da
medida que ele se apropriasse de outras tradição” musical brasileira.
referências musicais (Medaglia, 1991). Com a criação da Revista de Música
Apoiando-se no “gênero” bossa nova como Popular, os “folcloristas urbanos” tinham
ruptura, Medaglia desqualifica o passado um espaço exclusivo na imprensa para de-
imediato à “eclosão” do movimento, fender o passado glorioso, e ameaçado, da
marcado, sobretudo, pelo bolero e pelo música popular brasileira (Paiano, 1991).
samba-canção abolerado, sinônimos de A revista não apenas reiterou uma dada
“passionalidade”, “teatralidade”, “exage- tradição musical carioca como sinônimo de
ro”, características opostas àquelas catego- autêntica música brasileira, como também
rias que definem o projeto de modernidade reforçou um panteão de gênios criadores,
estética endossado pelos cultores da bossa entre eles Pixinguinha e Noel Rosa, numa

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perspectiva folclorista, vale dizer, isolando nacionalista4. Obviamente, a utilização
esses criadores de uma realidade urbana da chave folclorista para lastrear análises
marcada pela gênese do mercado de bens sobre a “velha guarda” e sobre a “época de
simbólicos voltados para um público consu- ouro” do samba não resiste às críticas mais
midor amplo e anônimo. Assim, num certo aprofundadas. Entretanto, o que importa
sentido, a revista tinha uma perspectiva destacar é que a RMP lançou as bases de um
folclorista enviesada, pois jogava para um pensamento histórico-musical que negava
segundo plano a importância do caráter a sua própria contemporaneidade musical,
moderno e dos meios massivos (rádio, contribuindo para a desqualificação da dé-
disco, cinema) na afirmação do samba “au- cada de 1950, a partir de uma perspectiva
têntico”, visão que a historiografia mais re- oposta aos “modernos” da bossa nova e
cente tem questionado (Wasserman, 2002). da MPB.
Lembremos que a década de 1950 viveu o Almirante, Lúcio Rangel e outros jorna-
auge do movimento folclorista brasileiro, listas, pesquisadores e cronistas nacionalis-
fortemente organizado e institucionalizado, tas dos anos 1950 que formavam o núcleo
congregando intelectuais de diversos mati- central da revista retomavam a tradição do
zes reunidos sob a bandeira da busca de um pensamento inaugurado por Orestes Barbosa
nacionalismo essencial como lastro da vida (1933), Alexandre Gonçalves Pinto (1936)
cultural brasileira e da identidade nacional e Francisco Guimarães (1933), no começo
(Vilhena, 1997). Nesse sentido, a Revista dos anos 1930, finalizando o último andar do
de Música Popular foi a faceta folclorista edifício da “tradição” musical popular cal-
no mundo musical, ainda que para muitos cada nos gêneros populares cariocas. Para
folcloristas mais rigorosos o popular urbano tal, recusavam a cena musical pós-1945, em
estivesse, por definição, excluído do “fato nome do passado glorioso e ameaçado pelos
folclórico”2. estrangeirismos e comercialismos fáceis. O
O fato é que a Revista de Música Popular episódio, tão comentado, do “achamento”
(RMP), em que pese a sua breve existência, de Cartola pelo jornalista Sérgio Porto,
contou com a ajuda de diversos articulistas em 1956, vivendo como lavador de carros
(alguns publicados postumamente, como numa garagem da Rua Visconde de Pirajá
Mário de Andrade), tais como: Almirante3, é sintomático desse olhar que buscava o
Ary Barroso, Cláudio Murilo Leal, Clemen- popular “autêntico”, não contaminado pelos
te Neto, Emmanuel Vão Gogo (pseudônimo meios de comunicação ou pelos modismos
de Millôr Fernandes), Fernando Lobo, Flá- estrangeiros, a despeito de Cartola ser (bem)
2 O próprio Mário de An-
vio Porto, Haroldo Barbosa, Jorge Guinle, alfabetizado e influenciado por poetas cultos drade, nomeado à revelia
José Sanz, Manuel Bandeira, Mário Cabral, como Olavo Bilac, Gonçalves Dias e Guerra como patrono dos estudos
folcloristas, não endossava
Mozart Araújo, Nestor de Holanda, Paulo Junqueiro (seu preferido). Reforçando a a visão folclorista sobre o
Mendes Campos, Sérgio Braga, Sérgio imagem do “popular” equivalente à cultura “popular urbano”, embora
Porto, Sílvio Túlio Cardoso. Voltada para comunitária, oral e pré-capitalista, os “fol- reconhecesse certas qua-
lidades musicais em alguns
um público mais elitista, a RMP combatia o cloristas urbanos” podem ser vistos como compositores e peças mu-
que ela julgava como influências deletérias a faceta cultural de uma visão romantizada sicais.

na musicalidade brasileira, como as marchi- das massas populares, muito corrente na 3 Henrique Foréis Domingues
(1908-80), o Almirante, foi
nhas, rumbas, boleros e suingues. Acabou política dita “populista” que predominava cantor, pesquisador e, sobre-
por instituir na crítica musical a ideia de na época. tudo, radialista. Foi um dos
“decadência”, à medida que reafirmou o A febre folclorista que tomava conta
principais nomes do rádio
brasileiro, cuja trajetória de-
panteão criativo e os valores estéticos dos de diversos segmentos intelectuais poten- marca o esforço para dotar
antigos sambas e choros das décadas de cializou a antiga preocupação em separar a música popular brasileira
de um “passado autêntico”
1920 e 1930 (Wasserman, 2002). Assim, a a música popular de “raiz” da música “po- e de uma raiz chancelada
revista formalizou as bases de pensamento pularesca” das rádios, feita sob encomenda pela ótica folclorista, muito
valorizada nos anos 1940 e
de um conceito de “tradição” que influen- para atender ao gosto fácil dos ouvintes. 1950.
ciou uma boa parte da crítica e da crônica Na visão desses críticos, a nova audiência 4 Nesse sentido, ver Sean
musicais, sobretudo aquela de corte mais radiofônica consumia mais a vida dos seus Stroud, 2008.

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ídolos do que a música que eles interpreta- compositor e radialista realizou uma ver-
vam. Aos olhos das elites intelectualizadas dadeira cruzada para reiterar as hierarquias
e dos nacionalistas, o método folclórico estéticas e culturais que estavam na gênese
fornecia um olhar para legitimar a cultura histórica da música popular brasileira, calca-
popular sem os riscos de confundir-se com da sobretudo no samba e no choro, sobretudo
a cultura de massa ou nivelar-se à cultura em dois programas de rádio que ajudaram a
erudita. Em meados dos anos 1950, influen- reinventar o passado do choro e do samba e
ciada por esse olhar, surgiu uma tendência a consagrar o panteão de criadores musicais
crítica importante e pouco lembrada, que, brasileiros: “O Pessoal da Velha Guarda”
praticamente, reinventou a tradição musical (Rádio Tupi, março/1947 a maio/1952) e
brasileira. Esses novos críticos, marcados “No Tempo de Noel Rosa” (Rádio Tupi,
pelo nacionalismo folclorizante, desvalo- 1951). A “velha guarda” em questão eram os
rizavam a cena musical contemporânea, músicos cariocas que haviam aglutinado as
idealizando um tempo instituinte do samba, expressões ancestrais da cidade, “a música
situado entre os anos 1920 e os anos 1930, dispersa nas esquinas”, estruturando o sam-
sinônimo de “época de ouro” da música ba e o choro, capitaneados por Pixinguinha,
popular brasileira. Benedito Lacerda, Raul de Barros, Donga,
O nome mais importante, no meio ra- entre outros, o “legítimo grupo de chorões”,
diofônico da época, identificado com essa conforme anunciado pelo radialista no pri-
tendência, era Almirante. O já consagrado meiro programa da série.

Dorival Caymmi,
Canções
Praieiras,
Odeon, 1954

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O texto lido por Almirante não deixava ortodoxia nacionalista e da qualidade musi-
dúvidas do caráter combativo do programa, cal. Suas palestras sobre Noel consagravam
afinado com a futura Revista de Música os elementos criativos e biográficos que
Popular: “Combatemos, na medida de apontavam para a heroicização do Poeta da
nossas possibilidades, tudo que de ruim Vila, digno inventor do samba moderno, ao
existe nas composições populares, desde lado de Ismael Silva, Pixinguinha, Cartola
a pobreza de inspiração musical, até os e outros. Em outras palavras, consolidava-
versos inexpressivos ou de má linguagem”5. se o panteão de compositores-heróis que
Invariavelmente, as locuções de abertura os anos 1960 consagrariam de uma vez
de quase todos os vinte programas da série por todas, incorporando-os à tradição da
veiculam alguma crítica à cena musical do MPB culta.
final dos anos 1940 e início dos anos 1950, Na década de 1960, na vaga de ruptura
para elogiar a grandeza da música popular estética e sociológica que se implantou na
do passado, leia-se, aquela feita até o final vida musical brasileira após o impacto dos
dos anos 1930. A influência estrangeira no primeiros LPs de João Gilberto, muitas
samba e a presença, considerada excessiva, das concepções arcaístas e folcloristas da
de gêneros internacionais no rádio eram os Revista de Música Popular foram rejeitadas
principais pontos criticados por Almirante. pelos criadores e aficionados da “moderna”
Em relação aos cantores, Almirante criticava MPB (Napolitano, 2001). Apesar disso,
aqueles que queriam imitar Bing Crosby até 1968 o debate sobre o engajamento
ou Frank Sinatra, “que vivem espremendo musical era marcado pela preocupação com
melodias afora, numa forma gemente, a “autenticidade” dos gêneros e canções,
antecipando e atrasando as frases musi- ocasião em que o debate mudou de rumo
cais, fugindo completamente às regras da com o “susto tropicalista”, que exigiu um
música que determinam os tempos fortes e reposicionamento do próprio campo de
os fracos”6. Em outro programa, Almirante MPB e do sentido de brasilidade que esta
chegava a defender a ideia de Ary Barroso, defendia. O fato que nos interessa é que,
então vereador pela UDN carioca, de criar mesmo para a corrente “moderna”, a década
um imposto para a entrada de música es- de 1950 também ficou relegada como um
trangeira no Brasil, pois o “mal [ouvinte] período menor no nosso grande “século da
brasileiro” preferia o suingue e o bolero, canção”. Mesmo a partir das diatribes da
mesmo medíocres, ao bom samba. Mesmo tropicália, que recuperou o passado musical
ao anunciar, em 1948, entusiasticamente, pré-moderno de boleros e sambas-canções
o sucesso dos sambas “Marina” (Dorival em chave paródica, a década de 1950, 5 Transcrição do programa
Caymmi) e “Nervos de Aço” (Lupicínio quando muito, virou sinônimo de kitsch, em: www.daniellathomp-
son.com (acessado em
Rodrigues), Almirante não perdia a chance entendido como redundância e mau gosto 10/7/2006, às 10h).
de ser irônico. Dizia-se “surpreso”, com o musical7.
6 “O Pessoal daVelha Guarda”,
fato de, entre as músicas mais vendidas da Essa imagem se plasmou de tal modo Programa 2, 15/10/1947.
semana não haver “nenhum fox, nenhum que mesmo a nossa historiografia acadêmica 7 A exceção dessa postura
bolero, nenhuma conga”, concluindo: “Che- se dedicou muito pouco a estudar a “década paródica pode ser vista
em Caetano Veloso e Gil-
ga a dar a impressão de que não estamos perdida” da música brasileira. Filha da ins- berto Gil, sobretudo nos
no Brasil!”. tituição-MPB, a literatura acadêmica sobre anos posteriores à tropicália
Mais ou menos na mesma época, Al- a música brasileira tem reproduzido seus como movimento.A obra de
Caetano concentrou-se, em
mirante começou a realizar suas palestras critérios valorativos, estéticos e ideológicos, parte, a recuperar a escuta
sobre Noel Rosa, que recuperavam a figura na escolha e análise dos seus objetos. Há musical da década de 1950,
formativa para o cantor-
do “gênio de Vila Isabel”, o “filósofo do uma inegável predominância de temas con- compositor, filtrada pelos
samba”, morto em 1937, seu parceiro no sagrados seja pelo pensamento da tradição, parâmetros de contenção
e despojamento da bossa
Bando dos Tangarás. Almirante, portanto, como o choro ou o samba (quando muito nova. Já Gilberto Gil foi o
tinha como base o choro e o samba de chegando aos “autênticos” Geraldo Pereira e grande responsável pela
recuperação, atualização e
Estácio-Vila Isabel como gêneros mains- Wilson Batista, atuantes nos anos 1950), seja valorização de Luis Gonzaga
tream, alçados à condição de baluartes da pelo da modernidade, como os festivais da junto ao público jovem.

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canção e compositores engajados dos anos os depoimentos desses jovens compositores,
1960 e 1970 (Napolitano, 2006). a experiência de ouvir João Gilberto pela
Recusada em nome do passado e do primeira vez é apresentada como um marco
futuro, a cena musical da década de 1950 determinante para suas carreiras.
foi relegada a uma espécie de entrelugar na Trabalhos mais recentes, como os de
história da música popular brasileira. Per- Walter Garcia (1999) e Fábio Poletto (2004),
dida no vão da memória, espécie de limbo problematizaram a ideia de um “grau zero”
histórico-cultural entre os gloriosos anos da canção brasileira a partir de 1959, mas
1930 e a mítica década de 1960, os anos reconhecem o adensamento que ocorreu
1950 passaram a ser sinônimo de música de na experiência social e estética da canção a
baixa qualidade, representada por bolerões partir de então. Para Garcia, a performance
exagerados, sambas pré-fabricados e trilhas ao violão de João Gilberto incorporou a
sonoras de quermesse. Mas, afinal, será que irregularidade do jazz, a não-regularidade
a década de 1950 foi realmente uma “idade do samba e a regularidade rítmica do bo-
das trevas” musicais? lero, na invenção da “batida” bossa nova.
Portanto, dado o adensamento dos estu- Portanto, o passado musical imediatamente
dos musicais no Brasil, ocorrido nos últimos anterior ao movimento não foi rejeitado in
vinte anos, é chegada a hora de uma revisão totum, o que reforça as ligações do modo
historiográfica em torno da década de 1950 joão-gilbertiano de cantar e tocar violão com
e do seu significado para o grande “século o passado musical, ao contrário do que os
da canção” brasileiro8. mitos de ruptura em torno da bossa nova
Um primeiro aspecto a ser levado em afirmam, muitas vezes sem a devida análise
conta para uma nova história da música do material musical. Fábio Poletto analisou
brasileira dos anos 1950 é o seu “lugar so- a fase pré-1959 da carreira de Antonio Car-
cial”, bem como a “experiência cognitiva” los Jobim como compositor e arranjador,
a ele associada. Mesmo revisando os “mitos concluindo que, longe de ser um período
de ruptura” que se construíram em torno “precursor” da grande invenção consagrada
da bossa nova, a afirmação do movimento em “Chega de Saudade”, os anos 1950 já
inegavelmente potencializou o reconheci- demarcavam um período de maturidade e
mento da música popular (da canção, mais de diversificação de experiências e projetos
particularmente) como uma experiência musicais na vida do grande maestro da nossa
sociocultural relevante e veículo possível modernidade musical. Muitos dos elemen-
de intervenção cultural e política na vida tos que são vistos como característicos da
brasileira. Portanto, a partir daí, os movi- bossa nova – timbres orquestrais, soluções
mentos e eventos que se seguiram – canção harmônicas, busca da canção camerística –
engajada, festivais da canção e tropicália, já estariam anunciados pela obra de Tom
para citar alguns – constituíram o que po- Jobim dos anos 1950.
deríamos chamar de mainstream da MPB,
8 Tomo emprestado o termo
de Luiz Tatit, aproveitando escrita com maiúsculas a partir de meados
para esclarecer que ele não da década de 1960. É o que chamei de “ins-
toma a “década” de 1950
como um todo, demons-
titucionalização” da canção brasileira sob o A CENA MUSICAL BRASILEIRA
trando como esse período guarda-chuva da sigla, com profundas im-
se divide entre o apogeu
radiofônico do cancionista
plicações socioculturais e mercadológicas DOS ANOS 1950
passional e o ponto de infle- (Napolitano, 2001). O surgimento de uma
xão em direção à moderni- geração brilhante de jovens compositores, Após o final da Segunda Guerra Mundial
dade musical, marcada pelos
novos padrões harmônicos, dotados de capital cultural ampliado e uma assistiu-se à mudança da linguagem e da
pelo despojamento e pela nova visão política acerca da função social audiência padrão da radiodifusão. Nos anos
coloquialidade. Tatit (2004)
define a fatura da bossa da canção, foi o coroamento desse processo 1930, o rádio era voltado para os segmentos
nova como a conquista da de mudança, que só fez aumentar os mitos médios da população urbana, sobretudo
“protocanção” que neutrali-
zava os excessos passionais,
de ruptura em torno da bossa nova. Nesse dos grandes centros, e tinha propostas
temáticos ou enunciativos. sentido, é sintomático que, em quase todos ambiciosas de “levar cultura” e informa-

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ção às massas, sendo polido e empolado eleita (assim como em 1951), iniciando a Abaixo,
(McCann, 2004, p.192). Programas como famosa disputa entre os seus partidários e os No Mundo do
“Curiosidades Musicais” (surgido em 1938, de Emilinha Borba (eleita “rainha” em 1953
Samba vol. 1,
apresentado por Almirante) ou “Um Milhão e 1954). Em 1955, o cetro e a coroa foram
de Melodias” (de 1943, apresentado por transferidos a Ângela Maria, ex-operária. Musidisc, 1955
Radamés Gnatalli) eram os melhores exem- A eleição da Rainha do Rádio galvanizava
plos desse tipo de rádio. Nos anos 1950, o o gosto popular e o culto a personalidades
rádio brasileiro buscava uma comunicação direcionadas para o mundo da comunicação
mais fácil com o ouvinte, tornando-se mais de massa, fazendo mesclar valores privados
sensacionalista, melodramático e apelativo. com imagens públicas, base do star-system
Nas palavras de José Ramos Tinhorão, precário que se formava e que, na sua
houve o “triunfo momentâneo das classes precariedade técnica e estilística, traduzia
baixas no rádio brasileiro” (apud McCann, os limites do meio técnico sobre o qual se
2004, p. 184). Esse “triunfo” tinha sua me- formava a indústria da cultura no Brasil.
lhor expressão nos programas de auditório, O transe tomava conta das fãs, que não
frequentemente gravados ao vivo, com tinham vergonha de expressar, de maneira
plateia numerosa que chegava a comportar exagerada e até histérica em muitos casos,
seiscentas pessoas. O paradigma desse novo o culto aos seus ídolos, fossem homens ou
tipo de rádio, participativo e febril, era o mulheres. O clima melodramático e histé-
“Programa César Alencar”, criado em 1945, rico dos auditórios era considerado exage-
e o “Programa Manoel Barcelos”, ambos da rado e vulgar pelos ouvintes e radialistas
Rádio Nacional. Com esse tipo de programa, tradicionalistas e defensores de um rádio de
crescia o culto da personalidade e da vida caráter educativo e de uma música popular
privada dos artistas, ao mesmo tempo em mais refinada e “autêntica”, como rezava a
que mudava a cultura musical popular, com utopia nacionalista-folclorista.
a circulação de novos gêneros musicais e A cena musical dos anos 1950, como já
performances mais extrovertidas. destacou Lenharo, era mais rica do que as 9 Sobre essa revista, ver Faour,
Ao lado dos programas de auditório, o vozes apocalípticas descreviam. Ao lado 2002.
concurso de Rainha do Rádio era a expres-
são máxima desse novo rádio e da nova
audiência popular, organizada na forma
dos fã-clubes. Aliás, diga-se de passagem,
o tema dos fã-clubes ainda é praticamente
inexplorado pela historiografia, sobretudo
em suas conexões com outros tipos de
sociabilidade e cultura populares urbanas,
bem como com a mídia ligada ao mundo do
rádio, como as populares Revista do Rádio9
e Radiolândia. Bryan McCann (2004, p.
211) chega a sugerir que a cultura popular-
urbana da década de 1950, ao menos no Rio
de Janeiro, era marcada pela confluência de
três espaços de sociabilidade e de “perten-
cimento”: o partido “populista”, a torcida
de futebol e o fã-clube radiofônico.
Nesse clima de “participação popular”,
presente na agenda política e cultural, até as
eleições das Rainhas do Rádio ganhavam
ares de disputa política séria, sobretudo
após 1949, quando, depois de doze anos
de reinado de Linda Batista, Marlene foi

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Música de Ary
Barroso, Canta
Silvio Caldas,
Long Play
Radio, 1953

das marchinhas gritadas, sambas lascados 1954. Curiosamente, o sucesso do “pessoal


e boleros gemidos, muitos eventos musicais da velha guarda” teria sido maior em São
dos anos 1950 apontam para a modernidade Paulo do que no Rio de Janeiro, lugar de
musical, e foram incorporados ao repertório origem de muitos compositores, até porque
mais valorizado da MPB. Consagrou-se um o choro diluía as raízes afro-brasileiras mais
tipo de audiência de música popular que não notórias no samba, o que agradava uma
chegava a romper completamente com os cidade mais elitista e racista, cujo apartheid
paradigmas de música brasileira dos anos sociorracial era mais explícito (McCann,
1930, agregando alguns gêneros musicais 2004, p. 173). O revival do choro durou
nordestinos, sertanejos e estrangeiros10. toda a primeira metade da década de 1950,
O choro foi revitalizado como “música depois de um certo esquecimento durante o
brasileira autêntica”, mais ainda do que o predomínio dos sambas, marchas e baiões
samba, que, conforme a crítica dos puristas, no meio radiofônico, consagrando nomes
10 O p e s q u i s a d o r J o s e andava se abolerando e se jazzificando. Esse como Waldir Azevedo, Antonio Rago,
Henrique Fialho fez um
interessante e rigoroso foi um dos fenômenos mais interessantes Jacob do Bandolim e seu Época de Ouro.
levantamento das paradas dos anos 1950, e deve-se muito à ação Para os nacionalistas, o choro, mais do que
de sucesso radiofônicas
dos anos 1950, cujo re- cultural da Revista de Música Popular, o samba, dada a sua antiguidade e relativa
sultado pode ser visto em: Almirante em particular. Este, por exemplo, independência dos influxos do mercado,
http://decadade50.blogspot.
com/2006/09/parada-de-
organizou o Festival da Velha Guarda em era o verdadeiro representante da tradição
sucessos-1949-1960.html. São Paulo, com apoio da Rádio Record, em musical brasileira, e até hoje tem uma tra-

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dição de intérpretes, cultores e aficionados Pereira. Nesse jogo, aceitavam-se as bases
muito peculiar, constituindo-se como uma simbólicas do samba-exaltação (o morro,
das mais vigorosas “subculturas” musicais o povo “autêntico”), mas invertia-se o seu
brasileiras. sentido político (McCann, 2004).
Outro gênero fundamental, o samba, No samba-canção, desenvolveu-se um
tem nos anos 1950 uma história própria, tipo de tratamento musical moderno, basea-
para além dos sambas-canções abolerados. do nos timbres do cool-jazz (caixa de bateria,
A presença vitalizante do samba de morro piano dedilhado, marcação sutil de contra-
e dos seus compositores míticos acabou baixo). Nessa linha, as performances vocais
por apontar para a renovação do gênero eram mais contidas e as estruturas melódico-
naquela década. Se, desde os anos 1930, harmônicas mais complexas, com ampla
o samba “significava o Brasil”, na década ocorrência de dissonâncias. A obra de Tom
de 1950 afirmou-se uma espécie de “samba Jobim, na fase pré-bossa nova, apontava
crítico” no qual esse símbolo convencional para essas características de “samba-canção
da brasilidade era incorporado pelos com- moderno”, ao menos desde 1954 (Poletto,
positores para demonstrar as fragilidades 2004). Poderíamos situar, nessa linhagem,
e contradições da nação (McCann, 2004), as “canções praieiras” de Caymmi, reunidas
sugerindo uma canção de protesto avant- em LP homônimo de 1954 (Odeon), que,
la-lettre. no plano da performance e da estrutura,
As obras de Geraldo Pereira, Wilson anunciavam o despojamento bossa-novista.
Batista, Zé Kéti mantinham essa presença Sob o rótulo “samba-canção”, tão criticado
renovada do samba de morro no mundo pelos tradicionais e pelos modernos11, foram
dominado pelos boleros do rádio e pelas produzidos clássicos como “Nervos de Aço”
chanchadas do cinema (Mattos, 1982). (Lupicínio Rodrigues), “Vingança” (Lupicí-
Foram lançados, nessa época, clássicos nio Rodrigues), “Canção de Amor” (Helano
como “Antonico” (Ismael Silva, 1950), de Paula e Chocolate), “Alguém como Tu”
“Ministério da Economia” (G. Pereira, (Jose Abreu e Jair Amorim), “Risque” (Ary
1951), “A Voz do Morro” (Zé Kéti, 1954). Barroso), “Castigo” (primeiro sucesso de
Em meados da década, formou-se a par- Dolores Duran, 1958) e “A Noite do Meu
ceria Nelson Cavaquinho-Guilherme de Bem” (também de Dolores Duran), sem
Brito, que produziu outros tantos sambas falar em clássicos do gênero compostos
clássicos, entre eles “A Flor e o Espinho” pelo próprio Jobim, herói da nossa moder-
(1957). Em São Paulo, os Demônios da nidade musical, como “Dindi” (com Aloísio
Garoa consagravam o compositor Adoniran Oliveira), “Eu Sei que Vou te Amar” (com
Barbosa, transformando em grandes suces- Vinicius de Moraes), entre outras.
sos do ano de 1955 as canções “Saudosa O baião teve o seu auge entre o final
Maloca” e “Samba do Arnesto”. Em todas dos anos 1940 e a primeira metade da dé-
essas canções, as tensões entre as práticas cada de 1950, proporcionando clássicos ao
populistas e clientelistas e as demandas cancioneiro popular brasileiro, tais como
populares por melhores condições de vida “Paraíba”, “Vozes da Seca”, “Qui Nem
constituem o seu material poético funda- jiló”, “Xote das Meninas”, imortalizados
mental, mesclando crítica social, confor- por Luiz Gonzaga. Também do Nordeste,
mismo e apelo à conscientização acerca veio Jackson do Pandeiro, estreando no Sul
das contradições e desigualdades sociais do país com o sucesso “Sebastiana” (1952).
acirradas com o processo de urbanização e A música nordestina marcou o rádio carioca
industrialização brasileiro. Além disso, os desde o final dos anos 1940, acompanhan-
sambas “críticos” apontavam para a falência do o dramático fenômeno migratório que
da democracia social do Estado Novo e da inchou as cidades brasileiras. O mesmo
“democracia racial” propagada pelas elites fenômeno ocorria em São Paulo com o in- 11 Sobre as divergências e con-
vergências da crítica musical
intelectuais, retratados em “Preconceito”, de cremento das músicas “caipiras”, presentes tradicionalista e moderna
Wilson Batista, ou “Escurinho”, de Geraldo nas rádios da cidade desde os anos 1930. ver: Araujo, 2001.

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Tanto as velhas mitologias e narrativas do sociedade de consumo. Muitos dos projetos
Norte-Nordeste, sintetizadas por Euclides que marcaram a vida brasileira, ao menos
da Cunha, pelo cordel e pelo romance re- até o final dos anos 1970, tiveram sua
gionalista dos anos 1930, como a cultura gênese nessa década. Além do folclorismo
popular do interior do Centro-Sul ganhavam em alta, que acabou por influenciar muitos
uma formatação apropriada para o rádio, intelectuais, tanto os mais conservadores
adaptando-se à audiência em boa parte quanto os mais progressistas, a vanguarda
formada por migrantes. A visão ora amena, artística foi retomada nas artes plásticas e na
ora trágica da vida no campo compunha literatura, sobretudo. O Partido Comunista,
um quadro sentimentalista que sublimava depois da estreiteza do realismo socialista,
as tensões advindas da urbanização sem abriu-se para novas experiências, deixando
regras em processo nos anos 1950. de dirigir seus artistas militantes e simpati-
Independente de qualquer comparação zantes e limitar sua criação, possibilitando a
com a formidável explosão criativa dos anos gênese da cultura engajada de esquerda de
1930 e 1960, os preconceitos em torno da matriz nacional-popular, que explodiria nos
década de 1950 também devem ser pensados anos 1960, sobretudo na música, no teatro
como resultado de uma “escuta ideológica” e no cinema12. A cena musical brasileira
(Contier, 1991; Napolitano, 2002) e não não passaria incólume por esse contexto de
apenas como produto de uma avaliação transformações e releituras de categorias já
puramente musicológica ou estética, pois a consagradas, como nação e povo. Em suma,
década nos legou muitas canções clássicas a década de 1950 foi um período marcado
e, se devidamente ouvidas, nada inferiores pela encruzilhada de projetos estético-
a outras consideradas canônicas da MPB. ideológicos muito ricos, perpassados por
Essa escuta filtrada acima de tudo por va- dilemas próprios, momento de migração de
lores ideológicos e culturais, sancionada um nacionalismo integrador e ufanista para
até por cronistas e historiadores de ofício, um nacionalismo crítico e politizado. Na-
consagra uma forma de pensar a tradição, quele contexto, o nacionalismo construído à
ora catalisada pela tradição inventada do direita, nos anos 1930, era apropriado pela
samba, pautada na década de 1930, ora esquerda dos anos 1950, fazendo migrar o
filtrada pelos paradigmas da MPB “culta sentido político da cultura nacional-popular.
e despojada”, produzida a partir da década Um dos epicentros desse projeto foi o campo
de 1960. música popular em suas intersecções com
outras linguagens artísticas como o teatro
e o cinema.
Aliás, nessas intersecções, residem
NOVOS TEMAS PARA A AGENDA temas ainda pouco explorados pela histo-
riografia do período. Gostaria de destacar
HISTORIOGRÁFICA dois temas que escondem áreas de ponta
do conhecimento historiográfico, não
O aprofundamento das pesquisas histo- apenas relativo a uma história da música
riográficas e musicológicas sobre a varie- tout court, mas também e principalmente,
dade musical brasileira da década de 1950 à história cultural e política: a experiência
deve ser feito não apenas pela revisão de de Orfeu da Conceição e a tentativa de
temas já consagrados, mas pela construção firmar um tipo de filme musical de cunho
de objetos ainda inéditos ou pouco explo- “social”, alternativo às chanchadas pueris
rados. Essa seria uma chave para apontar da Atlântida e aos melodramas pernósticos
uma nova articulação histórica acerca dos da Vera Cruz.
conceitos de tradição e modernidade. Aliás, A peça Orfeu da Conceição começou a
12 Sobre a política cultural sob o ponto de vista da história cultural, a ser escrita em 1942 por Vinícius de Moraes,
do PCB, ver: Rubim, 1986;
década de 1950 ainda precisa ser descoberta, sendo finalizada por volta de 1953. Reza a
Ridenti, 2008; Napolitano,
2007. para além do glamour e dos primórdios da crônica que Vinicius teve a inspiração para

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escrevê-la ao visitar a favela da Praia do Leo Jussi e protagonizada por atores e por
Pinto junto com o escritor Waldo Frank, ritmistas negros14 em um contexto ainda
por sinal, o responsável pela conversão de explicitamente racista – com canções de
Vinicius à esquerda. Ele teria comentado Tom Jobim e Vinicius de Moraes, cenários
que os negros pareciam “gregos”, “gregos de Oscar Niemeyer e cartazes de Djanira
antes da cultura grega”. Sabe-se lá o que e Carlos Scliar –, a peça estreou no Teatro
Frank quis dizer com isso, mas o fato é Municipal do Rio de Janeiro em 25 de se-
que Vinicius pegou o mote e fez a glosa. tembro de 1956, ficando por seis dias em
Inspirou-se no mito grego do poeta cantor cartaz, seguida pela temporada no Teatro
que desce ao reino dos mortos para resgatar República, na Lapa carioca. A montagem
sua amada da morte, mas, ao descumprir a paulistana foi cancelada, apesar de o texto
promessa de “não olhar para trás” até que da peça ter sido premiado no concurso de
13 No artigo citado, a historia-
os dois estivessem sob o reino da luz, vê Teatro do IV Centenário (1954), grande dora Anais Flechet revisa a
Eurídice desaparecer para sempre. Nesse efeméride da capital paulista. recepção do filme Orfeu
momento, sua música, que era experiência
Negro, sob a luz do conceito
Orfeu da Conceição apontava para as
de transferências culturais.
de distensão e encontro, torna-se sublimação possibilidades de fundir a tradição letrada
14 A peça foi protagonizada
da felicidade perdida. e erudita “universal” com a cultura popular por Abdias Nascimento,
A montagem só foi efetivada após o brasileira, perspectiva sempre presente no Cyro Monteiro, Pérola Ne-
gra, Haroldo Costa,Ademar
produtor Sacha Gordine – o mesmo que projeto moderno brasileiro, mas pouco Ferreira da Silva, Waldir
levaria a obra de Vinicius ao cinema sob o realizada até então. As canções de Jobim e Maia, entre outros. Os rit-
mistas Buci Moreira e Darci
nome de Orfeu Negro – mostrar interesse Vinicius ensaiavam um projeto de “canção da Mangueira participaram
pelo texto (Flechet, 2009)13. Dirigida por de câmara” acalentado pelo poeta desde da peça.

Dalva de
Oliveira, A Voz
Sentimental do
Brasil, Odeon,
1953

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1955, quando chegou a compor em parceria década, uma espécie de demanda cultural
com Claudio Santoro, numa chave mais que dialoga com outras facetas e faturas do
erudita. Ainda um tanto solene e sem o projeto moderno brasileiro: despojamento,
despojamento que a bossa nova traria, as síntese, melancolia, fusão do “local” com
canções de Orfeu da Conceição anuncia- o “universal”. Enfim, uma certa promessa
vam muitos dos entrecruzamentos culturais de felicidade traída pela melancolia perene
que marcarão as décadas posteriores. O LP da nossa condição moderna e periférica que
lançado em 1956, no formato dez polegadas parece paralisar o tempo entre a saudade do
em “alta-fidelidade”, imortalizava as sete que nunca fomos e a ansiedade pelo que
(primeiras) canções da dupla Tom Jobim- ainda seremos16.
Vinicius de Moraes15: “Overture” (orquestra Também o cinema brasileiro viveu, nos
sob a regência de Tom Jobim); “Monólogo anos 1950, uma relação muito peculiar
de Orfeu” (declamação de Vinicius de Mo- com a música popular. Essa conexão, já
raes); “Um Nome de Mulher” (interpretado conhecida e comentada, também exige
por Roberto Paiva); “Se Todos Fossem pesquisas mais aprofundadas, para além
Iguais a Você” (Roberto Paiva); “Mulher, da chave dos estudos realizados em torno
Sempre Mulher” (Roberto Paiva); “Eu e o do ciclo das chanchadas (Catani & Melo e
Meu Amor” (Roberto Paiva); “Lamento no Sousa, 1983; Augusto, 1993; Chaia, 1980).
Morro” (Roberto Paiva). O cinema brasileiro vivia um período de
Assim, Orfeu da Conceição reveste-se atividades criativas e organizativas bastante
de um significado histórico que vai além intensas, com a realização dos congressos
da sua fatura imediata, na medida em que é de cinema (Melo e Sousa, 2005), nos quais
sintoma de um outro projeto nascente, mas se reafirmava a necessidade de nacionalizar
ainda difuso: o de construir uma música os temas dos filmes, focando-os na questão
popular a um só tempo sofisticada e uni- do “homem brasileiro”, conforme o jargão
versal, despojada e popular. A sublimação da época, bem como viabilizá-los mediante
do batuque e do apelo corpóreo do samba apoio estatal contra a concorrência desleal
sempre esteve inscrita em nossa canção hollywoodiana.
moderna (Napolitano, 2007b), e com Orfeu Antes do cinema novo se consagrar como
conheceria um ponto de saturação estética eixo crítico e estético do cinema brasileiro,
e cultural. Portanto, a ruptura da bossa o que ocorreu por volta de 1962, e ser as-
nova, no final da década, seria o resultado sumido pela esquerda nacionalista como o
dessa saturação experimentada ao longo da ideal de intervenção estética e ideológica
década de 1950 e não de uma rejeição do na realidade social, os filmes ditos “enga-
passado musical por si mesmo. A explosão jados” ou “críticos” apontavam para outras
da MPB a partir de 1965 consolidaria essa possibilidades e diálogos estéticos nos quais
linhagem histórica (alguns chamam de a música popular, como tema e material,
“evolutiva”) que fez triunfar a tradição ao tinha um papel central. Dito de maneira
invés de negá-la. mais direta, não havia uma rejeição a priori
Portanto, bem antes da bossa nova, já das chanchadas, devidamente depuradas
se assistia às tentativas de realizar a grande dos clichês e superficialidades inerentes.
15 Seria interessante uma
canção brasileira camerística, sem negar Alinor Azevedo, fundador da Atlântida e
comparação com a trilha so- as experiências de performance e escuta roteirista de filmes importantes como Tudo
nora do filme,recentemente
ligadas ao universo da música popular, do Azul (sucesso de 1952), afirmava que a
lançada em formato CD,
Black Orpheus (Universal morro e das rádios. Quando João Gilberto chanchada não deveria ser integralmente
Music, 2008). adensou esse projeto, ao recolocar o samba recusada, podendo fornecer elementos para
16 Nesse ponto utilizo-me no centro da “canção de câmara”, subli- a construção do “verdadeiro filme musical
da leitura livre da famosa
dialética rarefeita apontada mando a batida numa espécie de “estado de brasileiro”, ou seja, “retratar de forma
por Paulo Emilio Salles espírito” (a remissão à palavra Geist seria realista, ainda que dentro do universo da
Gomes (1996) como marca
provocativa, mas não despropositada), havia comédia, a realidade carioca” (Melo, 2005).
central do impasse cultural
e ideológico no Brasil. um ambiente preparado desde meados da Alex Viany, realizador e crítico ligado à es-

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querda, reiterava essa posição. No seu livro positor inédito e desconhecido (Tudo Azul,
clássico de 1957, afirmava que o compositor Rio, Zona Norte) ou do roubo de sambas
popular é o personagem-chave no cinema por indivíduos inescrupulosos também eram
carioca (ou seja, “brasileiro”), pedindo um recorrentes nesse “cinema musical popular”
reexame da chanchada. O próprio Nelson de colorações realistas.
Pereira dos Santos dirigiu dois clássicos da Portanto, cinema e música popular não
cinematografia brasileira, Rio, 40 Graus apenas dialogaram, mas expressaram pro-
(1955) e Rio, Zona Norte (1957), ambos blemas e soluções diferenciadas dentro do
estruturados em torno da música popular e “projeto moderno brasileiro”17, com realiza-
seu lugar social mitificado, “o morro”. ções e impasses próprios de cada linguagem
Portanto, essas posições, afirmadas e área artística, fornecendo um conjunto de
por homens de esquerda, indicam uma temas e problemas para o historiador da
historicidade própria que foi revisada (e música, do cinema e da cultura.
recusada) radicalmente nos anos 1960, a
partir das reflexões de Glauber Rocha e das
realizações inovadoras do cinema novo.
Nesse sentido, o filme musical crítico dos CONSIDERAÇÕES FINAIS
anos 1950 acabou como um elo perdido
de um projeto abortado, o que não diminui O desafio da historiografia da cultura e
seu interesse e importância para a pesquisa dos estudos musicais é olhar a década de
histórica, pois pode revelar contradições e 1950 em seu regime de historicidade especí-
processos ocultados pela memória institu- fico, sem vê-la como “precursora” ou como
cionalizada. Nessa revisão, tanto o cinema expressão de uma “decadência” cultural em
industrial paulista quanto a chanchada cario- relação a outras épocas históricas. Outra
ca foram recusados e, mais que recusados, perspectiva problemática, alimentada pela
negados como elemento constitutivo de uma memória social, é a imagem da década de
dada tradição de linguagem (à exceção de 1950 como “anos dourados”, perspectiva
algumas obras peculiares). Nesse sentido, que tende a congelar um momento histó-
filmes como Tudo Azul (Moacyr Fenelon, rico sem levar em conta suas contradições
1951), Agulha no Palheiro (Alex Viany, específicas, valorizando-as pelos impasses
1952) e os primeiros dois longas-metragens e desilusões que se seguiram. No caso, a
de Nelson Pereira dos Santos devem ser segunda metade da década de 1950 passou a
recolocados em sua historicidade própria e representar uma breve e fugaz promessa de
em seus diálogos peculiares com a música felicidade para uma nação traumatizada por
popular da época, iluminando questões dois grandes eventos históricos: o suicídio
que podem ampliar tanto a historiografia de Getúlio Vargas e o golpe militar de 1964.
do cinema, quanto a da música popular O medo da dissolução nacional e social
(Napolitano, 2009). momentaneamente superado pela habilida-
Muitos temas caros ao pensamento de política de Juscelino Kubitscheck, bem
musical dos anos 1950 e aos projetos de como suas implicações culturais, não pode
intervenção cultural de esquerda aparecem ser reduzido aos “anos dourados” perdi-
nesses e em outros filmes. Por exemplo, o dos para sempre e seguidos pelos “anos
reconhecimento distanciado da elite cultural de chumbo”. Se esse imaginário cumpre
17 Tomo emprestado essa
com a música popular que a destacava so- uma função necessária e compreensível expressão da arquitetura
bretudo como material bruto a ser lapidado no plano da memória, ele representa um para definir uma experiência
histórica que redefiniu as
pelo artista culto (Rio, Zona Norte), o tema obstáculo ao conhecimento historiográfi- bases culturais a partir das
da indústria cultural nascente, centrada no co mais acurado. Para a música popular, quais a nação era pensada,
e que pode ser notada, a
ambiente das rádios e boates, suas possibili- deixa-se de valorizar a grande pluralidade partir de suas contraditórias
dades e contradições em relação à “autêntica de sons e sentidos que existia à época para variáveis estéticas e ideoló-
música popular” (Agulha no Palheiro, Tudo se afirmar um tipo de musicalidade que gicas, entre os anos 1920 e
os anos 1970, diluindo-se a
Azul, Rio, Zona Norte); os temas do com- “doure” ainda mais a época. partir de então.

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Outra faceta dos anos 1950 é a relação contraditórios de modernização capitalista
com o passado, com a “tradição”. Período da história. Após o golpe militar, a própria
de grandes transformações socioeconômi- função social da música seria outra. Não
cas e demográficas, com a consolidação se tratava mais de alinhavar as tensões
de um Brasil urbano e industrial, ainda entre passado e futuro, mas de sublimar
perpassado pelas heranças patriarcais e os traumas do presente. Os anos dourados
rurais. O Brasil dos anos 1950 parecia tinham virado anos de chumbo.
preso ao dilema de Orfeu: para adentrar Ao final dos anos 1950, o edifício da
num futuro de felicidade, deveria resgatar tradição já estava construído e – parecia –
seu passado idealizado, sob a condição de não seria mais ameaçado pelas “macacas de
não olhar para trás. O resultado foi uma auditório” dos subúrbios, mas pelos jovens
trilha sonora que, mais do que “refletir” a da classe média que apenas queriam olhar o
época, sublimou a experiência diacrônica mar, mas acabaram redescobrindo o morro
de um dos processos mais violentos e e o sertão. Assim nascia a moderna MPB.

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