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Resumo
Analiso, neste artigo, a Fundação Leão XIII, durante os anos 1947-1964, no Rio de Janeiro,
enquanto entidade civil desenvolvedora de políticas públicas em 34 favelas1. Proponho,
assim, compreender como a educação promovida pela entidade nos seus cursos
profissionalizantes, alfabetizantes, palestras de orientação moral e formação de quadros locais
contribuíram para a formação de um ideal de cidadania específico para os favelados, de modo
a ser um elemento central na construção de uma hegemonia urbano-industrial restrita. A
hipótese geral é: a FLXIII forjou uma pedagogia da hegemonia, que visava a repactuação
política e cultural da relação capital-trabalho, de acordo com as regras da lógica do
capitalismo urbano-industrial nas favelas do Rio de Janeiro. Apresento as seguintes questões
norteadoras: a) quais os valores ético-políticos contidos no programa pedagógico da FLXIII;
b) por que educar os favelados?
1. Introdução
1 Este trabalho é a síntese da tese de doutorado “A Fundação Leão XIII educando a favela (1947-1964)” que
defendi na Faculdade de Educação da UFRJ, em 2015.
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I JOINGG – JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ANTONIO GRAMSCI
VII JOREGG – JORNADA REGIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ANTONIO GRAMSCI
Práxis, Formação Humana e a Luta por uma Nova Hegemonia
Universidade Federal do Ceará – Faculdade de Educação
23 a 25 de novembro de 2016 – Fortaleza/CE
Anais da Jornada: ISSN 2526-6950
2. Fundamentos teórico-metodológicos
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A partir desse prisma teórico, apresento a análise da ação educadora da FLXIII quando
implementa suas diversas intervenções sociais nas favelas do Rio de Janeiro. Uma ação
educacional formadora de conhecimentos e valores culturais orientados pela visão de mundo
da Igreja Católica e ao pensamento industrialista, num contexto em que se abria a sociedade
civil para o sufrágio universal, ainda que em condições precárias. Haja visto, que no mesmo
ano em que se a FLXIII era criada o PCB era colocado na clandestinidade novamente e se
observava uma onda de criações de associações de moradores nas favelas. A articulação
Igreja Católica, Estado e moradores das favelas, desenvolvida pela FLXIII, enseja um modus
operandi específico do fazer pedagógico voltado para os habitantes das favelas. Apresentava,
portanto, uma modalidade de política pública que se propunha a disputar a sociedade civil sob
então novos marcos, quando os aparelhos privados de hegemonia proliferavam, mas, em
concomitância, formas de restrição à livre associação eram colocadas em andamento.
Proponho tomar como ponto de partida que a FLXIII surgia no contexto de uma
ocidentalização sui generis da sociedade civil, ou seja, em que as formas de representação e
organização das classes e frações de classe, ainda se mantinham contidas pelas forças
oligárquicas tradicionais, temerosas de perder o controle sobre uma massa de possíveis
eleitores-cidadãos favelados.
As fontes utilizadas foram escolhidas de acordo com uma variedade de discursos, que
possibilitasse observar diferentes nuances sobre a FLXIII. O relatório das SAGMACS permite
uma visão aprofundada sobre a favela e FLXIII, contendo estatísticas e levantamento
qualitativos detalhados sobre as suas intervenções, reunindo um balanço analítico de treze
anos. Os documentos da FLXIII, os relatórios de 1947 e o seu estatuto também foram bons
indicadores sobre as suas aspirações pedagógicas, assim como sobre a sua forma de
organização institucional. O uso da Revista Eclesiástica Brasileira visa explicitar a base
teológica da Igreja Católica no período. O trabalho da Maria Luiza Moniz Aragão, a
assistente social, dirigente do setor de Serviço Social da entidade, que apresentou um
detalhado informe sobre os trabalhos da Fundação também foi útil para situar o papel de
assistentes sociais, os relatos mais cotidianos sobre os trabalhos sociais, as aspirações da
entidade e dilemas enfrentados nas favelas.
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Nacional da Indústria (1947) e no, caso da Igreja Católica, seria a Fundação Leão XIIII
(1947). A educação para a favela passou a ter destaque nas intervenções destas entidades,
tendo como orientação geral o ethos industrialista, esboçado nas Leis Orgânicas do Ensino
Industrial (1942), Comercial (1943), Agrícola (1946), Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI-1942), Escolas Técnicas Federais (1942), Lei Orgânica do Ensino
Secundário (1942) (CIAVATTA, 2011).
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Tratando-se da realidade das favelas é possível notar que, a partir de Vargas, ocorre a
sistematização mais complexa das ações destinadas a educar os favelados formal e
informalmente, buscando atingir esta moralidade “fora do trabalho” que se conformasse com
a lógica social urbano-industrial que erigia. Os Parques Proletários são um exemplo, assim
como as Conferências Nacionais de Saúde e Educação (1941), que debatiam alternativas para
os favelados baseadas numa Educação Sanitária (VALLA, 1986). A formalização das relações
trabalhistas, a edificação de um ideal de progresso baseado na industrialização, a moralização
das relações sociais e normas de controle político sobre os trabalhadores tornavam-se
elementos cruciais para o estabelecimento de políticas públicas nas favelas e em moradias
populares em geral.
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2 Notório quadro católico e membro da junta interministerial do Governo Gaspar Dutra, que debatia a questão
das favelas no Rio de Janeiro (VALLA, 1986).
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Como se pode observar, era parte do objetivo da Fundação Leão XIII educar para um
tipo específico de mobilização política local, a partir de uma relação de colaboração com o
CAS. O “bem comum” é visto como um desdobramento natural da união entre moradores e
entidade, em que o seu ativismo, sua agência política, enquanto favelado, seria cooperar com
a entidade. A resolução de problemas sociais seria obra da ação organizativa e educacional da
FLXIII no plano local.
Outro ponto importante da sua pedagogia é compreender a educação como base
fundamental da concertação social pela aquisição de conhecimentos para o mundo do
trabalho, mas também pela moralização de relações sociais que se encontram pervertidas na
favela. A FLXIII apresenta tal questão nos seguintes termos:
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Departamento de Serviço Social da Fundação Leão XIII– Serviço de Educação e Cultura - 1947.
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As crianças, assim, são tidas como o setor social da favela menos pervertido, aquele
que ainda não foi tomado por completo pelos desvios morais da favela, o que poderia assim
garantir que no futuro seus filhos “não nasçam em barracos de favela”. Algo como uma
catequese que busca aqueles que ainda não teriam sido totalmente tomados por hábitos
bárbaros. O que já teria acometido muitos adultos, principalmente os homens, que já haviam
sido tornado “vagabundos”. A Fundação afirmava:
4. Conclusão
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Bibliografia
CHALHOUB, de Sidney. Cidade febril – Cortiços e epidemias na Corte Imperial. São Paulo,
Companhia das Letras, 1996.
CIAVATTA, M. A Cultura do Trabalho e a Educação Plena Negada. Revista Labor n.5, v.1,
2011.
NEVES, Lúcia Maria W. (org). A Nova Pedagogia da Hegemonia: estratégias do capital para
educar o consenso. São Paulo, Editora Xamã, 2005.
Fontes
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ARAGÃO, Maria Luiza Moniz de. Informe sobre as Atividades da Fundação Leão XIII. Teses
Apresentadas ao I Congresso Brasileiro de Serviço Social. São Paulo: Centro de Estudos e Ação
Social, 1947. p. 260-276.
Fundação Leão XIII. Estatutos da Fundação Leão XIII. Rio de Janeiro, 1947.
_____. Como trabalha a Fundação Leão XIII. Notas e relatórios de 1947 e 1954. Rio de Janeiro,
1955.
_____. Morros e favelas: como trabalha a Fundação leão XIII -notas e relatórios de 1949. Rio de
Janeiro: Imprensa Naval, 1950. p. 9.
Fundação leão XIII. “Uma visão sócio-histórica”. Documentos base do XIX Seminário de estagiários
e supervisores da Fundação Leão XIII. Novembro, 1995.
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