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c 2018 Narciso Gomes/Crispiniano Furtado
Este documento é a compilação da teoria referente à Bibliografia apresentado neste presente docu-
mento. Encontra-se no sítio unicvmath.edublogs.org/. É de acesso livre.
3 Funções analíticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.1 Diferenciabilidade e analiticidade 25
3.1.1 Diferenciabilidade de uma função complexa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.1.2 Funções analíticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.1.3 Funções holomorfas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.1.4 Funções inteiras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.2 Equações de Cauchy-Riemann 28
3.2.1 Condição necessária para analiticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.2.2 Condição suficiente para analiticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.2.3 Equações de Cauchy-Riemann - Coordenadas polares . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.3 Funções harmónicas 29
3.3.1 Conjugadas harmónicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.4 Curvas paramétricas no plano complexo 31
3.5 Arcos e contornos 32
3.5.1 Curvas e caminhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
4 Integração complexa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.1 Integração Complexa 37
4.1.1 Integral de uma função complexa de variável real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.1.2 Integral de caminho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
4.1.3 Teoremas e propriedades do integral de caminho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
I
Introdução a Análise
Complexa
3 Funções analíticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.1 Diferenciabilidade e analiticidade
3.2 Equações de Cauchy-Riemann
3.3 Funções harmónicas
3.4 Curvas paramétricas no plano complexo
3.5 Arcos e contornos
4 Integração complexa . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.1 Integração Complexa
1. Números Complexos: Operações
i±2n = (−1)n
i±(2n+1) = ± (−1)n i, para n = 0, 1, 2, . . . .
NB Tem-se que:
• x + iy = a + ib ⇔ x = a e y = b;
• Em geral x + iy 6= y + ix, a igualdade só se verifica se x = y;
• x é a parte real e representa-se por Re (z);
• y é a parte imaginária e representa-se por Im (z).
Definição 1.1.2 Designa-se por conjunto C ao conjunto que contém todos os números comple-
xos.
Proposição 1.1.1 O conjunto C munido das operações da adição e multiplicação conforme a
definição (1.1.1) é um corpo.
Demonstração. (Exercício)
Proposição 1.1.2 O conjunto C com a operação da adição e multiplicação por escalar λ (x, y) =
(λ x, λ y) é um espaço vetorial de dimensão 2.
Demonstração. (Exercício)
Definição 1.1.3 Chama-se corpo dos números complexos ao conjunto C = R × R, munido das
operações usuais de adição e multiplicação.
z1 + z2 = (x1 + x2 ) + i(y1 + y2 ).
z1 z2 = (x1 x2 − y1 y2 ) + i (x1 y2 + x2 y1 ) .
z1
Divisão Para dividir z1 por z2 , multiplicamos o numerador e o denominador de de pelo conju-
z2
gado de z2 , ou seja,
z1 z1 z2
= .
z2 z2 z2
z = −1 + 2i 2.
1.
−1.
√ √
Exemplo 1.3 Seja z = 1 + i 3 então z = 1 − i 3.
10 Capítulo 1. Números Complexos: Operações
NB Ao contrário dos números reais, não há uma relação de ordem entre os números complexos.
Ou seja, não tem significado z1 < z2 (salvo se forem números reais).
3π
NB Note que um argumento poderia ser qualquer θ = − 4 + 2kπ, k = 0, ±1, ±2, . . . , no entanto,
3π
o argumento principal é único, Arg(z) = − 4 .
1.6 Potências (inteiras) e raízes 11
Demonstração. (Exercício)
zn = rn einθ , (1.2)
para qualquer n ∈ Z.
Demonstração. (exercício)
NB Toda a equação polinomial de grau n, cujos coeficientes são reais ou complexos, têm exata-
mente n raízes reais ou complexas.
d :C×C → R
(z1 , z2 ) 7→ d(z1 , z2 ) = |z1 − z2 |
12 Capítulo 1. Números Complexos: Operações
define uma métrica em C uma vez que se verificam algumas propriedades, para quaisquer
z1 , z2 , z3 ∈ C, teremos:
Positividade d (z1 , z2 ) ≥ 0 e d (z1 , z2 ) = 0 ⇔ z1 = z2 ;
Simetria d (z1, z2 ) = d (z2 , z1 ) ;
Desigualdade triangular d (z1 , z3 ) ≤ d (z1 , z2 ) + d (z2 , z3 ) .
NB Diz-se que (C, d) é um espaço métrico e que o número real d (z1, , z2 ) é a distância (euclidiana)
entre z1 e z2 .
1. |z − 1 − i| < 2,
2. |z + 1| ≤ |z + i|,
3. |z|2 > z + z.
2. Introdução ao estudo de funções em C
f : D ⊆ C → C.
NB O facto da função argumento principal ser unívoca implica que outras funções também o
sejam.
z1 z2 z1 z2
NB No geral (e ) 6= e , com z1 , z2 ∈ C.
Desta forma podemos obter as funções cosseno e seno somando e subtraindo as equações (2.1)
e (2.2), respetivamente, onde obtemos
ez + e−z
cosh(z) =
2
e o seno hiperbólico de z é definido por,
ez − e−z
sinh(z) = .
2
2.3 Representação de funções complexas na forma f (z) = u(x, y) + iv(x, y). 15
Exercício 2.1 Verifique que cos (z) = cosh (iz) , sin (z) = 1i sinh (iz) e mostre que
Observação 2.2.2 Quando o argumento for principal, usamos a notação da função logarítmica
principal como
Note ainda que, por definição, eln(z) = z e ln(ez ) = z, sendo que a função logarítmica principal e
função exponencial são funções inversas.
Exemplo 2.1 ln(−1) = ln (1) + i(2k + 1)π, k ∈ Z. Enquanto que Ln(−1) = ln (1) + i π = i π.
1. ln (i) e Ln(i).
2. ln (e) e Ln(e).
3. ln (1 − i) e Ln(1 − i).
Proposição 2.2.3 Sejam z1 , z2 números complexos não nulos e n ∈ N.
1. ln (z
1 z2 ) = ln (z1 ) + ln (z2 ) .
2. ln zz21 = ln (z1 ) − ln (z2 ) .
3. ln (zn1 ) = n ln (z1 ) .
f : D ⊆ C → C,
para cada z ∈ D. Podemos considerar funções que estão apenas definidas no subconjunto do plano
complexo.
Definição 2.3.1 Define-se então as funções reais parte real de f por u(x, y) := Re[ f (x + iy)] e
a parte imaginária de f por v(x, y) := Im[ f (x + iy)] onde f será representado como
Observação 2.3.1 Toda a função complexa de variável complexa pode ser abordada como uma
função de R2 para R2 , sendo a topologia usual de C exatamente que a topologia euclidiana de R2 .
16 Capítulo 2. Introdução ao estudo de funções em C
Exemplo 2.2 Determinemos a parte real e parte imaginária de f (z) = z2 e de g(z) = |z|2 , respeti-
vamente. Sendo z = x + iy, a função f (z) = f (x + iy) = (x + iy)2 = x2 − y2 + i(2xy). Assim a parte
real de f , Re[ f (z)] = x2 − y2 e a parte imaginária, Im[ f (z)] = 2xy. Analogamente para a função g
teremos, g(z) = |z|2 = x2 + y2 . Então Re[g(z)] = x2 + y2 e Im[ f (z)] = 0.
Exercício 2.3 Determine a parte real e parte imaginária da função f (z) = ez . E da função
g(z) = eiz ?
6.
5.
4.
3.
ε
2.
1.
0 1. 2. 3. 4. 5.
n 1 2 3 4 5 6 7 ···
{2 − in } 2-i 3 2+i 1 2-i 3 2+i ···
i2n+1
Exercício 2.4 A sucessão converge?
n
2.5 Séries complexas 17
Proposição 2.4.1 Sejam duas sucessões {zn }n>1 e {wn }n>1 em C tais que lim zn = z e lim wn = w,
então
1. lim(zn ± wn ) = z ± w.
2. lim(zn wn ) = zw.
3. Se w 6= 0, então lim(zn /wn ) = z/w.
4. lim zn = z.
5. lim |zn | = |z|.
Proposição 2.4.2 — Critério de Convergência. Uma sucessão {zn } converge ao número com-
plexo L = a + ib se e somente se Re(zn ) convergir a Re(L) = a e Im(zn ) convergir a Im(L) = b.
2 + ni 2 + ni 2 + ni 2n − 3ni
Exemplo 2.4 Consideremos a sucessão . De zn = = =
2n + 3ni 2n + 3ni 2n + 3ni 2n − 3ni
(2 + ni)(2n − 3ni) 4n + 3n2 + (2n2 − 6n)i 4n + 3n2 2n2 − 6n
= = + i, vemos que
4n2 + 9n2 4n2 + 9n2 13n2 13n2
4n + 3n2 3 3 3 2n2 − 6n 2 6 2
Re(zn ) = 2
= + → e Im(z n ) = 2
= − →
13n 13 13n 13 13n 13 13n 13
3 2
quando n → ∞. Assim, a sucessão dada converge a a + ib = + i.
13 13
n 2
1 2n − 7 2
Exemplo 2.5 Seja zn = 1+ +i 2
. Aqui lim zn = e − i.
n −3n + 5n n→∞ 3
n n n
NB A soma parcial complexa é representada por Sn = ∑ zk = ∑ ak + i ∑ bk . Assim, a série
k=1 k=1 k=1
∞ n n
∑ zk converge se e somente se as somas parciais reais ∑ ak e ∑ bk convergirem simultane-
k=1 k=1 k=1
amente.
lim f (z) = L
z→z0
| f (z) − L| < ε
sempre que
|z − z0 | < δ ,
∀z ∈ D.
Exemplo 2.8 Pretendemos mostrar que o limite lim (2 + i)z = 1 + 3i. Ora, pela definição de
z→1+i
limite em Definição 2.6.1, segue
A prova de que este limite existe requer que determinemos um valor adequado de δ para um dado
valor de ε. Em outras palavras, para um dado valor de ε, devemos determinar um valor positivo
δ tal que se |z − (1 + i)| < 0, |(2 + i)z − (1 + 3i)| < ε. Uma forma de determinar δ consiste em
trabalhar no “sentido inverso”, ou seja, a idéia é iniciar com a desigualdade:
O Teorema 2.6.2 além de várias outras aplicações, permite o cálculo de vários limites complexos a
partir do simples cálculo de um par de limites reais.
20 Capítulo 2. Introdução ao estudo de funções em C
z
Exemplo 2.10 Mostremos que lim não existe. Para mostrar que este limite não existe determi-
z→0 z
naremos dois caminhos diferentes para z se aproximar de 0 e que levam a valores diferentes para
z
lim . Primeiramente consideremos z = x + 0i onde o número real x tende a 0.
z→0 z
z x + 0i x
lim = lim = lim = 1.
z→0 z x→0 x − 0i x→0 x
De seguida, façamos z tender a 0 pelo eixo imaginário, ou seja, z = 0 + iy, onde o número real y
tende a 0. Neste caso, obtemos
z 0 + iy
lim = lim = −1.
z→0 z y→0 0 − iy
z
Logo provamos que lim não existe considerando que o limite quando existe é único.
z→0 z
Observação 2.6.3 Para mostrar que limite de uma função não existe num ponto basta determinar
um limite diferente de pelo menos um percurso diferente para esse ponto. Contudo, para provar
que existe recorreremos sempre à Definição 2.6.1.
1
Exemplo 2.12 Consideremos a função f (z) = 2 . Aqui, por sua vez, a função f é contínua
z +1
no conjunto de todos os números complexos z tais que z 6= ±i.
Exemplo 2.13 Seja agora a função f (z) = z1/2 . Mostremos que a função f é descontínua em
z0 = −1. Comecemos a analisar o limite lim z1/2 . De acordo com o Teorema 1.6.1, a função raiz
p z→−1
quadrada principal z1/2 = |z|eiArg(z)/2 . Consideremos agora que z se aproxima −1 através dos
percursos θ = π ou θ = −π, como mostra a Figura 2.1.
22 Capítulo 2. Introdução ao estudo de funções em C
Através de Fórmula de Euler (2.1) eiθ /2 = cos (θ /2) + i sin (θ /2), obtemos
lim z1/2 = lim eiθ /2 = cos (θ /2) + i sin (θ /2) = cos (π/2) + i sin (π/2) = i. (2.6)
z→−1 θ →π
lim z1/2 = lim eiθ /2 = cos (θ /2) + i sin (θ /2) = cos (−π/2) + i sin (−π/2) = −i. (2.7)
z→−1 θ →−π
Como os valores complexos em (2.6) e em (2.7) são diferentes, concluindo assim que lim z1/2
z→−1
não existe. Por conseguinte, a função raiz quadrada principal f (z) = z1/2 é descontínua no ponto
z0 = −1.
p(z)
NB As funções racionais (funções do tipo f (z) = , quociente entre as funções p q, com
q(z)
q(z0 ) 6= 0) são contínuas em seus domínios.
Teorema 2.7.3 Seja a função f denotada por f (z) = u(x, y) + iv(x, y) e seja z0 = x0 + iy0 . Então
a função complexa f é contínua no ponto z0 se e somente se ambas as funções u e v o forem em
(x0 , y0 ).
f (z + h) − f (z)
lim =: f 0 (z), (3.1)
h→0 h
d f (z)
onde f 0 (z) = , portanto representação da derivada (usual) de f num ponto arbitrário z.
dz
Exemplo 3.1 Usemos a fórmula (3.1) da Definição 3.1.1 para determinar a derivada das funções
seguintes
1. f (z) = z.
f (z + h) − f (z) z+h−z
Aqui, f 0 (z) = lim = lim = 1.
h→0 h h→0 h
2. f (z) = z2 − 3z.
f (z + h) − f (z) (z + h)2 − 3(z + h) − (z2 − 3z)
Analogamente, f 0 (z) = lim = lim
h→0 h h→0 h
z2 + 2zh + h2 − 3z − 3h − z2 + 3z h2 + 2zh − 3h h(h + 2z − 3)
= lim = lim = lim
h→0 h h→0 h h→0 h
= lim (h + 2z − 3) = 2z − 3.
h→0
As familiares regras de diferenciação no cálculo com variáveis reais se aplicam ao cálculo com
variáveis complexas. Se f e g forem diferenciáveis em um ponto z e λ uma constante complexa, a
fórmula (3.1) pode ser usada para mostrar:
26 Capítulo 3. Funções analíticas
Regras de diferenciação
d d
1. λ = 0 e λ f (z) = λ f 0 (z) - Regras envolvendo constantes.
dz dz
d
2. [ f (z) ± g(z)] = f 0 (z) ± g0 (z) - Regra para a Soma.
dz
d
3. [ f (z) · g(z)] = f 0 (z) · g(z) + f (z) · g0 (z) - Regra para o Produto.
dz
f 0 (z) · g(z) − f (z) · g0 (z)
d f (z)
4. = - Regra para o Quociente.
dz g(z) [g(z)]2
d
5. [ f (g(z))] = f 0 (g(z)) · g0 (z) - Regra da Cadeia.
dz
Exercício 3.1 Usando as regras de diferenciação, determine as derivadas das funções seguintes:
1. f (z) = 3z4 − 5z3 + 2z.
z2
2. g(z) = .
4z + 1
5
3. h(z) = iz2 + 3z .
Exercício 3.2 Mostre que a função f (z) = z não é diferenciável, qualquer que seja o ponto z.
Exercício 3.3 Mostre que a função f (z) = x + 4yi não é diferenciável, qualquer que seja o
ponto z.
Observação 3.1.1 Uma função f é analítica num domínio D se for analítica em todo ponto em
D.
propriedade definida em um conjunto aberto. Deixemos como exercício mostrar que a função
f (z) = |z|2 é diferenciável em z = 0, mas não é diferenciável em qualquer outro ponto.
Embora a função f (z) = |z|2 seja diferenciável em z = 0, a função não é analítica nesse ponto,
ou seja, não existe uma vizinhança de z = 0 em toda a qual f é diferenciável. Por sua vez, a
função polinomial quadrática f (z) = z2 é diferenciável em todo o ponto z no plano complexo.
Logo, f (z) = z2 é analítica em todo ponto z ∈ C.
Demonstração. Exercício.
Analiticidade de Soma, Produto e Quociente
Se as funções f e g forem analíticas num domínio D, a soma f (z) + g(z), a diferença
f (z) − g(z), o produto f (z) · g(z) são analíticos em D. O quociente f (z)/g(z) é analítico,
desde que g(z) 6= 0 em D.
A regra de L’Hôpital para o cálculo de forma indeterminada (0/0) também se aplica à teoria de
funções complexas. Assim, como generalização em domínio complexa, relembremos esta regra
através do teorema seguinte.
f (z) f 0 (z0 )
lim = 0 . (3.3)
z→z0 g(z) g (z0 )
Demonstração. Exercício.
z2 − 4z + 5
Exemplo 3.2 Determinemos o lim . De acordo com (3.3), a função f (z) = z2 −
z→2+i z3 − z − 10i
4z + 5 e a função g(z) = z3 − z − 10i. O limite neste caso tem a forma indeterminada (0/0) tendo em
conta, neste caso, f (z0 ) = f (2 + i) = 0, g(z0 ) = g(2 + i) = 0. Estas duas funções, f e g, entretanto,
28 Capítulo 3. Funções analíticas
z2 − 4z + 5 f 0 (2 + i) 2i 3 1
lim = = = + i.
z→2+i z3 − z − 10i g0 (2 + i) 8 + 12i 26 13
z2 − 2z + 4
Exercício 3.4 Determine lim √ .
z→2+i z − 1 − 3i
∂u ∂v ∂u ∂v
(x0 , y0 ) = (x0 , y0 ) e (x0 , y0 ) = − (x0 , y0 ). (3.4)
∂x ∂y ∂y ∂x
∂u ∂v ∂u ∂v
(x, y) = 2x − 1 = (x, y) e (x, y) = −2y = − (x, y).
∂x ∂y ∂y ∂x
Exemplo 3.4 Consideremos agora a função f (z) = 2x2 + y + (y2 − x)i. Neste caso a função f
não é analítica em qualquer ponto. Ora, u(x, y) = 2x2 + y e v(x, y) = y2 − x e para qualquer ponto
arbitrário (x, y) no plano complexo, as equações de Cauchy-Riemann seguem:
∂u ∂v ∂u ∂v
(x, y) = 4x 6= (x, y) = 2y e (x, y) = 1 = − (x, y).
∂x ∂y ∂y ∂x
3.3 Funções harmónicas 29
Verificamos então que ∂ u/∂ y = −∂ v/∂ x, contudo a igualdade ∂ u/∂ x = ∂ v/∂ y, só é satisfeita na
reta y = 2x. No entanto, para qualquer ponto z na reta não existe uma vizinhança em torno de z em
que as equações de Cauchy-Riemann sejam satisfeitas. Logo, a função f não é analítica em todos
os pontos.
Teorema 3.2.2 — Critério para analiticidade. Sejam as funções reais u(x, y) e v(x, y) de pri-
meira ordem contínuas num domínio D. Se u e v satisfazem as equações de Cauchy-Riemann (3.4)
em todos os pontos em D, então a função complexa f (z) = u(x, y) + iv(x, y) é analítica em D.
Demonstração. Exercício.
x y
Exercício 3.5 Estude a diferenciabilidade de f (z) = 2 −i 2 .
x + y2 x + y2
∂u 1 ∂v ∂v 1 ∂u
(r, θ ) = (r, θ ) e (r, θ ) = − (r, θ ).
∂r r ∂θ ∂r r ∂θ
ordem
∂ 2φ ∂ 2φ
+ 2 =0 (3.5)
∂ x2 ∂y
2
NB A equação de2Laplace (3.5) ainda pode ser denotada de forma abreviada por ∇ φ = 0 onde a
quantidade ∇ φ é denominada de laplaciano de φ .
Definição 3.3.2 Uma função real de duas variáveis reais φ , da Definição 3.3.1, que possui
derivadas parciais de primeira e segunda ordem contínuas em um domínio D e satisfaz a equação
de Laplace (3.5) é dita função harmónica em D.
Teorema 3.3.1 Sejam as funções reais u(x, y) e v(x, y) de primeira ordem contínuas num do-
mínio D. Se u e v satisfazem as equações de Cauchy-Riemann (3.4) em todos os pontos em D,
então a função complexa f (z) = u(x, y) + iv(x, y) é analítica em D.
Teorema 3.3.2 Seja uma função complexa f (z) = u(x, y) + iv(x, y) analítica em um domínio D.
Então as funções reais u(x, y) e v(x, y) são harmónicas em D.
z(t) = z0 (1 − t) + z1t, −∞ ≤ t ≤ ∞.
z(t) = z0 (1 − t) + z1t, 0 ≤ t ≤ ∞.
onde z(t) é contínua. Observamos que z(t) é contínua se, e somente se, x(t) e y(t) são contínuas.
Exemplo 3.7 Faça o esboço dos arcos de curva parametrizados por
1. z1 (t) = 1 + it;
2. z2 (t) = t + i;
3. z3 (t) = t + it;
4. z4 (t) = t 2 + it;
5. z5 (t) = t + it 2 ,
todos no intervalo 0 ≤ t ≤ 1.
NB Vamos usar a notação tr (γ) para representar o traço de uma curva γ (i.e, a imagem da curva).
Definição 3.5.2 Uma curva γ : I = [a, b] → C diz-se simples se a ≤ t < s ≤ b implica γ (t) 6=
γ (s) , a menos que t = a e s = b. Ou, equivalente, γ diz-se curva simples sse ∀t1 ,t2 ∈ Int(I),
γ (t1 ) 6= γ (t2 ) .
3.5 Arcos e contornos 33
Definição 3.5.3 Uma curva γ : I = [a, b] → C diz-se fechada sse γ (a) = γ (b) .
Definição 3.5.4 O sentido da curva descrita pode ser entendido, intuitivamente, como sendo
o de A = γ (a) para B = γ (b) . Quando consideramos caminhos fechados, dizemos que o seu
sentido é directo, se for sentido contrário ao dos ponteiros de um relógio (positivo), e indirecto
(negativo) caso contrário.
Seja γ : I = [a, b] → C e γ(t) = x (t) + iy (t) com x (t) , y (t) ∈ R. Dizemos que γ é suave
se as funções de valores reais x, y : [a, b] → R possuem derivadas contínuas. Se γ 0 (t) 6= 0,
∀ a ≤ t ≤ b, dizemos que γ é uma curva regular.
3 2
Exemplo 3.10 A curva γ(t) = t3 + i t2 , −1 ≤ t ≤ 1, é suave (pois γ 0 (t) = t 2 + it ), mas não é
regular (γ 0 (0) = 0).
Reparametrização
34 Capítulo 3. Funções analíticas
Definição 3.5.5 Seja γ : [a, b] → C uma curva suave. Seja φ : [c, d] → [a, b] uma função suave
cuja inversa φ −1 também é suave. A curva γ̃ (t) = γ (φ (t)) é uma reparametrização da curva
γ e φ é uma mudança de parâmetro.
Exemplo 3.11 A curva γ (t) = eit , 0 ≤ t ≤ 2π, e γ̃ (t) = e2it , 0 ≤ t ≤ π, têm exactamente o
mesmo traço mas percorrido de forma diferente.
Definição 3.5.6 Seja γ : [a, b] → C então chama-se curva oposta (ou inversa) de, representa-se
por − γ, à curva
−
γ : [a, b] → C
−
t 7→ γ (t) = γ (a + b − t) .
− − −
NB Note que γ(a) = γ (b) e γ(b) = γ (a) . Além disso tr (γ) = tr ( γ) .
Exemplo 3.13 Seja a curva γ(t) = t + it 2 , 0 ≤ t ≤ 2. Obtenha a curva − γ(t) tal que tr (− γ) = tr (γ)
mas pecorrido no sentido inverso.
1 0
NB Recordemos que x (t) ∈ C (]ti ,ti+1 [) se x (t) for contínua em ]ti ,ti+1 [ .
Caminhos e contornos
Definição 3.5.9 Sejam γ j : [a j , b j ] → C, j = 1, 2, . . . , n, curvas suaves tais que γ1 (t) = γ2 (t) =
· · · = γ (bn−1 ) = γn (an ) . A justaposição das curvas γ1 , γ2 , . . . , γn é chamada de caminho.
1. D1 = {z ∈ C : |z| < 1}
2. D2 = {z ∈ C : 1 < |z| < 2}
3. D3 = {z ∈ C : 0 < |z| < 2}
4. D4 = {z ∈ C : 1 < |z| < 2} ∩ Re (z) < 0.
Teorema 3.5.1 Todo contorno γ divide o plano em duas regiões conexas disjuntas R1 e R2 com
as seguintes propriedades:
1. A fronteira de R1 coincide com a fronteira de R2 e é igual ao tr(γ);
2. R1 é limitada (é o interior da curva γ);
3. R2 é ilimitada.
Demonstração. (Exercício)
Exemplo 3.16 Mostre que o traço do caminho γ (t) = z0 + reit , t ∈ [0, 2π] é uma circunferência
de centro z0 e raio r e obtenha a sua curva oposta(− γ(t)) .
4. Integração complexa
NB Note que o facto de f ser contínua implica que u e v também a sejam e portanto
Rb
dt e ab v (t) dt existem e são finitos. (Toda a função real de variável
R
a u (t)
real contínua num intervalo fechado e limitado é integrável nesse intervalo.)
Exemplo 4.1 Vamos usar a definição (4.1.1) para calcular 0 eit dt. Resolução:
Rπ
Z π Z π Z π
eit dt = cos (t) dt + i sin (t) dt
0 0 0
= 0 + 2i
= 2i
Demonstração. (Exercício)
Exemplo 4.2 Vamos verificar a proposição 4.1.1 (6) para 0 eit dt = 2. Resolução:
Rπ
Z π
|eit |dt = π,
0
Z π Z π
it
|eit |dt.
e dt = 2<π =
0 0
Z Z b
f (z) dz = f (γ (t)) γ 0 (t) dt. (4.3)
γ a
Proposição 4.1.2 Se c for uma constante complexa e f e g forem contínuas em tr (γ) ⊆ D, então
Z Z
c ( f (z)) dz = c f (z) dz,
γ γ
Z Z Z
( f (z) + g (z)) dz = f (z) dz + g (z) dz.
γ γ γ
Exemplo 4.3 Consideremos o caminho γ que descreve o segmento de recta orientado de z0 para
z1 ,
= 1
Exemplo 4.4 Consideremos o caminho γ, com γ (t) = z0 + reit , t ∈ [0, 2π] , o qual descreve a
circunferência de centro z0 e raio r, no sentido directo.
1
1. Seja f (z) = z−z0 ,
Z 2π
1
Z Z
f dz = dz = f (γ (t)) γ 0 (t) dt
γ γ z − z0 0
Z 2π
1
= ireit dt
0 reit
= 2πi.
Exemplo 4.5 Seja f (z) = |z| e γ (t) = ei(π−t) , t ∈ [0, π] , calcule
Z
f dz.
γ
γ : [a, b] → C (4.6)
com M = sup | f (z)| . Para completar a demonstração, como f é continua e tr (γ) é compacto (i.e,
z ∈tr(γ)
fechado e limitado) segue-se que sup | f (z)| = max | f (z)| .
z ∈tr(γ) z ∈tr(γ)
Exemplo 4.6 Seja γ (t) = 2eit , t ∈ 0, π2 e f (z) = z2 1+1 vamos majorar o módulo de γ f dz.
R
Temos que
1
max 2 ≤ max 1 = 1
=
1
. (4.10)
z ∈tr(γ) z + 1
z ∈tr(γ) |z|2 − 1 2
|2 − 1| 3
Z
1 π
γ z2 + 1 dz ≤ 3 .
Z Z a
f dz = f (γ (t)) (γ)0 (t) dt
−γ b
Z b
= − f (γ (t))γ 0 (t) dt
a
Z
= − f dz
γ
Algumas convenções
A propósito da orientação das curvas. Vamos adoptar o seguinte:
Z
f (z) dz (4.14)
|z−z0 |=r
Z
f (z) dz (4.16)
[z0 ,z1 ]
Z
|z| dz = −1
γ
ao longo de γ = γ1 + γ2 , sendo
γ1 (t) = 2t − 1, t ∈ [0, 1] ,
[2] F. Zill & P.D. Shanahan, Curso introdutório à Análise Complexa com aplicações, LTC, 2.a
edição, 2011.