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27/02/2019

(Aulas 4 e 5)

Profª Dra. Luci Praun


BCH - 2019-1

Objetivos Conhecer as contribuições e os


limites da teoria econômica
desenvolvida por Adam Smith
para o entendimento sobre o
funcionamento do capitalismo.

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Organização PARTE I: contextualização.


da aula
PARTE II: origem da riqueza.

PARTE III: debate aberto.

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Parte I: contextualização

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Smith (1723-90) e a ciência econômica


• Escocês, professor de Filosofia Moral, nascido em 1723.

• 1776 – Publica Riqueza das Nações.

• Economia como Ciência.


• Modelo teórico sobre a natureza, estrutura e
funcionamento do capitalismo.
• Concepção de história e sociedade: grande impacto na
cultura ocidental.
• “Pai do Liberalismo”.

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• Qual a origem da riqueza?


• Como estão ligadas as principais classes
existentes na sociedade?
• Como o processo de produção e
comércio estão articulados?
• ...

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Contexto histórico
• Décadas de 1760 e 1770:
desencadeamento da revolução
industrial na Inglaterra.
• Explosão das cidades, do emprego e da
produção industriais.

• 1776: Independência dos EUA.

• 1789: Rev. Francesa.


Over London by Rail, Gustave Doré, 1870.

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• Máquina de fiar

• Tear mecânico (séc. XVII-XVIII)

• Máquinas a vapor (séc. XVIII)


• Base de diversas invenções.
• Uso diverso: tecelagem, usinagem
de carvão, industrialização de
ferro, navegação, locomotivas etc.
• Impacto em diferentes segmentos
da economia.

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Parte II: origem da riqueza

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Smith, as manufaturas e a divisão do trabalho

• Manufaturas (e não a agricultura):


• lugar por excelência da divisão do trabalho.

• Divisão do trabalho:
• maior produtividade;
• barateamento dos preços;
• condições vantajosas de
um país sobre o outro.
• Condições de vida
superiores.

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Fábrica de Alfinetesde alfinetes


A manufatura
• Smith compara a produção de alfinetes por uma única pessoa com a
produção que envolve divisão das diferentes tarefas entre os diversos
trabalhadores:
• Divisão do trabalho - um trabalhador produz, no mesmo tempo, 240 vezes mais.

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“Este grande aumento da quantidade de trabalho que, em


consequência da divisão do trabalho, o mesmo número de pessoas é
capaz de executar, deve-se a três circunstâncias: a primeira, ao
aumento da destreza de cada operário; segunda, à economia de tempo
que é comumente perdido ao passar de uma espécie de trabalho para
outra; finalmente, à invenção de grande número de máquinas, que
facilitam e abreviam o trabalho e permitem ao homem executar o
trabalho de muitos” (SMITH, 2010, p.20).

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Inovações tecnológicas (I)

Saber “Homens tendem sempre a descobrir métodos mais


operário fáceis e imediatos de atingir qualquer objetivo,
quando toda a atenção de suas mentes é dirigida para
aquele único objetivo, e não está dissipada em meio à
grande variedade de atividades [...] invenções de
simples operários que, por estarem ocupados com
alguma operação bem simples, naturalmente voltavam
seus pensamentos para descobrir métodos mais fáceis
e rápidos para executá-la” (SMITH, 2010, p.22).

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Inovações tecnológicas (II)

Outras “Engenhosidade dos fabricantes de máquinas, quando


razões construí-las tornou-se uma indústria à parte.”
(SMITH, 2010, p.22, grifo meu).

Filósofos ou homens espetaculosos


“No progresso da sociedade, a filosofia ou a especulação
torna-se, como qualquer outro emprego, a principal e única
preocupação de uma classe particular de cidadãos”.”
(SMITH, 2010, p.23).

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Natureza

Origem da divisão do trabalho humana?


Divisão Social do
Trabalho...
• Seres humanos: dotados de talentos naturais

• É da natureza humana a propensão pela troca.

• Divisão do Trabalho*

• “ocupando-se de seu próprio interesse”, cada


indivíduo passa a exercer atividades
especializadas, convertidas em sua “principal
ocupação” (SMITH,2010, p. 25)

• Atividades especializadas são


retroalimentadas pela propensão pela troca.

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Limites da divisão do trabalho


“A divisão do trabalho é limitada pela extensão do mercado”
(Smith, 2004, Capítulo 3).

Quanto maior o mercado, maior o estímulo:

Ao trabalho À especialização À troca,


da atividade ao comércio

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“As regiões interioranas de um país podem, por muito tempo, não ter
outro mercado senão o de sua região circunvizinha, que as separa do
litoral e dos grandes rios navegáveis. À extensão de seu mercado,
portanto, deve, por um longo período, ser proporcional às riquezas e à
população daquela região, e, consequentemente, seu aumento deve
sempre ser posterior ao desenvolvimento do país”

“As nações que, de acordo com a melhor história autêntica, parecem


ter sido as primeiras civilizadas, forma aquelas à volta do mar
Mediterrâneo” (SMITH, 2010, p.28).

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Preço das mercadorias


“Todos os homens são ricos ou pobres segundo o grau em que possam
desfrutar das coisas necessárias (...). Contudo, uma vez estabelecida a
divisão do trabalho, somente podemos obter uma pequena parcela
dessas coisas mediante o esforço pessoal. (...) Um indivíduo será rico ou
pobre de acordo com a quantidade de trabalho alheio de que possa dispor
ou que se ache em condições de adquirir ” (SMITH, 2004, p. 33).

Trabalho como fonte de valor


TRABALHO: “Medida real do valor de troca de todas as mercadorias”
(SMITH, 2004, p. 33).

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Teses sobre o Valor-trabalho

• Trabalho: única fonte de valor.


• O pré-requisito de toda mercadoria é ser
produto de trabalho humano.
• Quando trocamos mercadorias, na
verdade, trocamos trabalho.

“O que é comprado com dinheiro ou bens é comprado com o trabalho na mesma


medida do que adquirimos com o esforço do próprio corpo” (SMITH, 2004, p. 33).

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Em Smith não há relação


entre lucro e exploração
Os preços das mercadorias do trabalho...

Salários “Mas, mesmo que o trabalho seja a medida real do valor


de troca de todas as mercadorias, não é por ele que seu
+ valor é usualmente avaliado” (SMITH, 2004, p.34).

Lucros Trabalho e mercadorias: preço real /preço nominal.

Dinheiro: preço nominal das mercadorias.


+
Aluguéis
(custos de produção)

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Divisão do Trabalho
Se o trabalho é fonte de valor e
elemento determinante do preço dos
produtos, então...

– O aumento da produtividade do trabalho é uma condição


fundamental:
– à redução dos preços,
– ao progresso,
– à sobrevivência em uma economia caracterizada pela
concorrência.
• Para Smith o aumento da produtividade do trabalho resulta,
em primeiro lugar, da divisão do trabalho.

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Egoísmo e Mão Invisível


Consequências, para Smith, do
conceito de valor-trabalho:

O aumento da produtividade do
trabalho é condição ao aumento
da riqueza e ao progresso do
homem e esse aumento é maior
em uma economia de mercado e
concorrencial

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Egoísmo e Mão Invisível

• Para Smith, uma


sociedade de agentes
egoístas, cada um deles
voltado unicamente
para seu próprio
interesse, resultará no
maior progresso
possível para o conjunto
de seus membros.

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Egoísmo e Mão Invisível

“Ao preferir fomentar a atividade do país e não de outros


países ele [o capitalista] tem em vista apenas sua própria
segurança; e orientando sua atividade de tal maneira que
sua produção possa ser de maior valor, visa apenas a seu
próprio ganho e, neste, como em muitos outros casos, é
levado como que por mão invisível a promover um
objetivo que não fazia parte de suas intenções. (...) Ao
perseguir seus próprios interesses, o indivíduo muitas vezes
promove o interesse da sociedade muito mais eficazmente
do que quando tenciona realmente promovê-lo”.

(SMITH, A Riqueza das Nações)

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Superação dos limites fisiocráticos

• Trabalho humano: única fonte de valor, esteja ele situado na


indústria, na agricultura ou em qualquer outra atividade.

• Smith restringe a relação direta entre a quantidade de trabalho e


o preço dos produtos a um “estado rude e original da
sociedade”.
• Condições e trabalhos particulares tornam mais complexa a relação
entre quantidade de trabalho e preço do produto.

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De onde vem o lucro do capital?


“Os lucros do capital, talvez se pense, são apenas um nome diferente para
salário de uma espécie particular de trabalho, o trabalho de inspeção e
direção; são entretanto bastante diferentes, são regulados por princípios bem
diversos e não têm proporção com a quantidade, a dificuldade ou a
engenhosidade deste suposto trabalho e direção” (SMITH, 2004, p. 43).

“Neste estado de coisas, todo o produto do trabalho nem sempre pertence ao


trabalhador. Ele deve, na maioria dos casos, dividi-lo com o proprietário do
estoque, que o emprega. Nem a quantidade de trabalho comumente
empregada para adquirir ou produzir qualquer mercadoria, a única
circunstância que pode regular a quantidade que deveria comumente
comprar, ordenar ou trocar. Uma quantidade adicional, é evidente, deve ser
devida para os lucros do estoque que adiantou os salários e forneceu os
materiais do trabalho” (SMITH, 2004, p. 44)

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Filosofia moral de
Smith
Thomas
John
Hobbes
Locke

Linha de
estado natural
pensamento que
Guerra de todos Direitos naturais, já
reage às teses de
contra todos presentes no estado de Hobbes,
natureza. aproximando-se do
Autoconservação /
egoísmo pacto de
O Estado existe para
proteger direitos
consentimento de
Renúncia à liberdade naturais. Locke.
Poder centralizado

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Liberalismo
• Assim, a forma mais adequada de política econômica
seria a liberação da livre iniciativa, a liberdade de
mercado, sem a intervenção do Estado na economia.

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Smith e o Liberalismo
• Entretanto, esse liberalismo econômico, é sustentado
apenas parcialmente por Smith.

• Segundo ele, o Estado tem papel importante na


regulação da economia e no fomento à concorrência.

• Smith, professor de filosofia moral e iluminista,


caracteriza o bem da sociedade e o progresso do
homem, e não o enriquecimento de uma classe,
como fim da atividade econômica.

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Smith e o Liberalismo
• O liberalismo radical e a recusa da ação do Estado, assim
como a defesa apaixonada do mercado e da eficácia da “mão
invisível”, não são facilmente sustentadas pela leitura dos
textos de Smith.

Aos governos caberia


a tarefa de regular a
competição
capitalista.

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Capitalismo
• Possibilidade, conforme Smith, de maior liberdade
e segurança para os produtores, mobilidade social.
“uma pessoa que não pudesse adquirir propriedade
alguma não poderia ter outro interesse que não o de
comer o mais que pudesse e trabalhar o mínimo possível”
(SMITH apud HUNT, 2005, p. 44).

• Capitalismo: forma mais elevada e progressista da


sociedade humana.

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Parte III: debate aberto

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Smith: temas da Economia Política Clássica


“em aberto”
a. Teoria do Valor-Trabalho exige articulação e descrição
mais adequada, o que será feito posteriormente,
principalmente pela crítica de K. Marx.

b. Explicar a remuneração do Capital e a Renda da Terra e as


proporções em que isso ocorre.

c. Apontar de modo mais claro o papel que o Estado


desempenha na economia capitalista.

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Uma história
que move-se
por
Visão liberal: contradições...
“Em tempos muito remotos, havia, por um lado, uma elite laboriosa,
inteligente e sobretudo parcimoniosa, e, por outro, vagabundos
dissipando tudo o que tinham e mais ainda” (O Capital, Livro I, Cap.
XXIV).

“Na história real, como se sabe, a conquista, a subjugação, o


assassínio para roubar, em suma, a violência, desempenham o
principal papel. Na suave Economia Política reinou desde sempre o
idílio. Desde o início, o direito e o “trabalho” têm sido os únicos meios
de enriquecimento, excetuando-se de cada vez, naturalmente, “este
ano”. Na realidade, os métodos da acumulação primitiva são tudo,
menos idílicos” (O Capital, Livro I, Cap. XXIV).

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Referências bibliográficas
MARX, K. O Capital. Livro 1. São Paulo: Boitempo, 2013.
HUNT, E., K. História do Pensamento Econômico: uma perspectiva crítica. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2005.
NAPOLEONI, Claudio. Smith, Ricardo, Marx. São Paulo: Paz e Terra; Rio de
Janeiro: Graal, 2000.
SMITH, Adam. A Riqueza das Nações. Livro 1. Curitiba: Juruá, 2011.

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