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nddiiccee
ÍNDICE................................................................................................................2
A - FÍSICA DE NÊUTRONS................................................................................................................7
Disciplina TNR5764
2004
P
Prreeffáácciio
oà P
Prriimeiirraa E
Eddiiçãão
o
B - ASPECTOS TERMODINÂMICOS DE USINAS NUCLEOELÉTRICAS.................................78
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O retorno ao sistema lab. requer a adição da velocidade a todos os vetores
velocidade do sistema c. m. (ver figura 1c)). Efetuada esta adição, todas as relações
referentes a velocidades e ângulos podem ser obtidas imediatamente a partir da
própria figura. Portanto, a energia cinética do nêutron no sistema lab. após a interação
é dada pela expressão
1 2 1 2
1 v
1 1 1 1 v02 2 1v 0 (13)
2 2
que apresenta valores máximo e mínimo respectivamente quando = 00 e = 1800,
dados por
2
1 1 v 1 v 1
(14)
2
1 2 1 2 1 2
1 1 1 v0 1 v1 2v0 1
2 2 1 2
2
na direção de . Se o vetor é subtraído de todos os vetores velocidade, o centro 1
de massa permanece em repouso, definindo-se portanto o sistema c. m. a partir deste (17)
1
procedimento (ver figura 1b)). Utilizando-se a lei de conservação da quantidade de
movimento e a equação (10), resulta que neste sistema tanto o nêutron quanto o
núcleo-alvo têm vetores momento iguais e opostos, antes e após a interação. Por sua que, conforme mostra a expressão (14), é uma medida da energia cinética máxima
vez, a conservação da energia cinética total só é possível se cada partícula mantiver que pode ser perdida pelo nêutron em uma única colisão. A expressão (16) assume
sua velocidade após a interação. Assim pois, se V1 e V2 são respectivamente as então a forma
velocidades do nêutron e do núcleo-alvo no sistema c. m. antes da interação, resulta
1 1 1
(18)
M1V1 = M2V2 (11) 2 2
1
1
2 10 6 0 025 18 2
(20) (27)
1
Portanto, o valor de pode ser calculado da seguinte maneira Apesar da quantidade ser um indicador da adequação de uma dada
substância para diminuir a energia cinética de nêutrons que nela incidem, outras
1 1 características devem ser levadas em conta antes de decidir pelo uso da mesma como
1 1 moderador. O número de átomos por unidade de volume que a substância apresenta,
(21)
1 1 assim como a probabilidade de ocorrência do fenômeno de espalhamento elástico
1 1
(expressa no valor da seção de choque correspondente), também devem ser
considerados. Finalmente, para um bom moderador, as seções de choque para os
Se x é igualado à razão entre energias cinéticas, a expressão (21) pode ser escrita fenômenos de captura, captura radiativa e fissão devem ser muito pequenas, pois
novamente como caso contrário um grande número de nêutrons seria perdido por absorção. Como
resultado destas considerações, são usadas duas outras quantidades para expressar
1 as propriedades de um moderador de nêutrons.
(22) A primeira destas é o poder de moderação, definido por
1 1
(23)
onde N é o número de átomos por cm3, é a massa específica, N0 é o número de
Avogadro (igual a 6,023.1023) e ee é a seção de choque para o fenômeno de
ou ainda espalhamento elástico. O poder de moderação tem a dimensão de cm 1 e deve
apresentar um valor relativamente grande para um bom moderador.
A segunda quantidade é a razão de moderação, definida por
(24)
Razao de moderacao (29)
sendo independente da energia cinética do nêutron, conforme mencionado
anteriormente. Por sua vez, a expressão (24) pode ser escrita na forma
onde a é a seção de choque para absorção (resultante da soma das seções de
choque para os fenômenos de captura, captura radiativa e fissão). A razão de
12 1 moderação é a medida do poder de moderação relativo e habilidade de absorção de
1 (25)
2 1 uma dada substância.
As propriedades de alguns bons moderadores de nêutrons são mostradas na
Uma outra grandeza útil é a energia cinética média de um nêutron após uma tabela 1. No cálculo dos valores da razão de moderação, usaram-se as seções de
colisão, dada por choque para absorção de nêutrons térmicos. Estes valores são maiores do que
aqueles encontrados para nêutrons com energias cinéticas mais elevadas, de maneira
que os valores das razões de moderação mostrados na tabela 1 são limites inferiores,
1
1 1 e não valores precisos, mas mesmo assim são úteis para fins de comparação.
1 (26)
1
2
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Moderador Poder de moderação (cm 1) Razão de moderação
(32)
H2O 1,53 72
D2O 0,370 12000
Be 0,176 159 Para que a equação (32) seja satisfeita para algum valor de velocidade , é
Grafite 0,064 170
necessário que
Tabela 1 - Valores do poder de moderação e da razão de moderação para alguns
bons moderadores de nêutrons.
(33)
De acordo com estes resultados, água pesada (D2O) é o melhor dos
moderadores listados e água (H2O) o menos efetivo. A razão de moderação
relativamente fraca da água é causada pela seção de choque para captura radiativa para cada valor da temperatura absoluta . Como alcança seu valor máximo
razoavelmente alta (igual a 0,332 b, para nêutrons térmicos) do hidrogênio. Na prática,
água pesada é uma substância muito cara e só pode ser usada para aplicações quando , esta velocidade é a mais provável. A energia cinética correspondente
especiais nas quais o custo não é a consideração primária. O berílio também é caro, à velocidade mais provável é designada por e resulta
sendo raramente utilizado. Grafite (uma das formas alotrópicas do carbono) e água
são os moderadores usados mais freqüentemente, pelo fato de oferecerem uma
relação satisfatória entre poder de moderação e custo. (34)
A.5 - Nêutrons térmicos O valor numérico da velocidade mais provável v0 para a temperatura ambiente igual a
200 C (ou seja, = 293 graus Kelvin) é igual a 2198 m/s, correspondendo a uma
energia cinética do nêutron igual a 0,0252 eV.
Como resultado do processo de moderação, os nêutrons podem alcançar o
estado em que suas energias estejam em equilíbrio com aquela dos átomos ou Outra propriedade importante da distribuição maxwelliana é a velocidade
média, dada por
moléculas do moderador no qual eles se movem. Numa colisão particular com um
núcleo atômico, um nêutron pode então ganhar ou perder uma pequena quantidade de
energia cinética. Em um grande número de colisões entre nêutrons e núcleos (35)
atômicos, os ganhos de energia cinética são tão prováveis como as perdas de energia
cinética. Diz-se então que os nêutrons estão em equilíbrio térmico com os átomos ou
moléculas do moderador. O comportamento destes nêutrons é similar àquele dos sendo cerca de 13% maior do que a velocidade mais provável. A distribuição de
átomos de um gás e pode ser descrito razoavelmente bem pela teoria cinética dos energia dos nêutrons é dada por
gases.
Quando as condições para o equilíbrio térmico são satisfeitas, os nêutrons têm
a bem conhecida distribuição maxwelliana de velocidades, dada por (36)
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os nêutrons térmicos em termos da velocidade mais provável e da energia cinética Para isótopos pesados, a variação segundo 1/v é observada em baixas energias até
correspondente. Estes nêutrons são em geral denominados “nêutrons ” e as seções cerca de 10 eV. Na faixa de energias intermediárias, compreendida entre 10 eV e 1
de choque indicadas para nêutrons térmicos são usualmente aquelas para a keV, a seção de choque para absorção apresenta um comportamento bastante
velocidade de 2200 m/s ou para uma energia cinética de 0,025 eV. irregular caracterizado pela presença de picos conhecidos como ressonâncias. Nestas
ressonâncias, o valor da seção de choque para absorção pode alcançar valores muito
elevados. Para energias acima de 1 keV, não há resolução para distinguir as
A.6 - Variação da seção de choque com a energia cinética do nêutron diferentes ressonâncias e a seção de choque para absorção assume um valor
aproximadamente constante que perfaz alguns barns. Por sua vez, a seção de choque
para absorção de nêutrons por isótopos intermediários apresenta comportamento
Conforme mencionado anteriormente, as seções de choque para interações
típico que pode ser descrito em linhas gerais pela seguinte seqüência:
com nêutrons em geral não são constantes, mas variam como função da energia
proporcionalidade a 1/v em baixas energias, presença de algumas ressonâncias em
cinética do nêutron incidente. Uma descrição completa da variação destas seções de
energias intermediárias e oscilação suave em torno de um valor relativamente baixo
choque está além dos propósitos deste curso, cuja abordagem ficará restrita a um
em energias elevadas.
resumo geral do tema, dedicando-se especial atenção a alguns exemplos de maior
A figura 2 mostra esquematicamente o comportamento típico das seções de
interesse para a Física dos Reatores Nucleares.
choque para incidência de nêutrons em núcleos intermediários.
Em geral, a variação da seção de choque em função da energia cinética do
nêutron incidente depende do tipo de fenômeno considerado, do número de massa do
núcleo-alvo e da temperatura do meio no qual o nêutron incide. Serão consideradas
seções de choque para nêutrons cuja energia cinética se encontra na faixa
compreendida entre 0,01 eV e 10 MeV.
Seções de choque para espalhamento elástico em núcleos leves são
razoavelmente independentes da energia cinética do nêutron incidente até energias de
aproximadamente 1 MeV. Para núcleos intermediários e pesados a seção de choque
para espalhamento elástico é constante para energias baixas e exibe alguma variação
em energias mais elevadas. Entretanto, como em Física dos Reatores o interesse
maior é na ocorrência de espalhamento elástico em núcleos leves, considera-se como
válida a generalização de que a seção de choque para espalhamento elástico é
constante para todas as energias e elementos de interesse. Convém destacar também
que não há uma variação muito grande de um elemento para outro, sendo que
praticamente todos os elementos possuem seções de choque para espalhamento
elástico que variam entre 2 b e 20 b. As exceções importantes a esta regra geral são
constituídas pela incidência de nêutrons com energia cinética inferior a 1 eV em água
ou água pesada, nas quais, apesar das seções de choque dos átomos constituintes se
manterem constantes, a estrutura molecular faz com que o valor da seção de choque
para espalhamento elástico aumente muito com a diminuição da energia cinética do
nêutron.
O fenômeno de espalhamento inelástico ocorre principalmente entre nêutrons
com energia cinética elevada e núcleos intermediários e pesados, sendo importante
em Física dos Reatores porque estes nêutrons podem perder grande parte da energia
inicial como resultado de espalhamento inelástico em núcleos pesados como urânio. O
espalhamento inelástico de nêutrons por núcleos leves não apresenta muito interesse
prático, pois a energia a partir da qual este fenômeno passa a ocorrer, denominada
energia de limiar, é muito alta. As energias de limiar para espalhamento inelástico de
nêutrons em oxigênio, sódio e urânio são respectivamente cerca de 6,5 MeV, 0,4 MeV
e 0,05 MeV, e acima destes valores a seção de choque de espalhamento inelástico
aumenta até atingir um valor pequeno e aproximadamente constante que em geral
perfaz alguns barns. Figura 2 - Esquema ilustrativo das seções de choque para incidência de nêutrons com
As seções de choque para absorção exibem uma variação bem mais energia cinética E em núcleos intermediários: (a) seção de choque total; (b) seção de
acentuada que as seções de choque para espalhamento elástico, não apenas em choque para espalhamento elástico; (c) seção de choque para espalhamento
função da energia cinética do nêutron incidente, mas também de um isótopo para inelástico; (d) seção de choque típica para captura; (e) seção de choque para captura
outro. A seção de choque para absorção de nêutrons por muitos isótopos leves é radiativa.
inversamente proporcional à velocidade dos nêutrons em uma ampla faixa de
energias, ou seja As seções de choque para fissão nos núcleos 235U, 233U e 239Pu variam de
maneira semelhante à seção de choque para absorção de nêutrons por isótopos
pesados, cujo comportamento foi descrito anteriormente em linhas gerais:
(40) proporcionalidade a 1/v em baixas energias, ocorrência de ressonâncias em energias
intermediárias e oscilação suave em torno de um valor constante na faixa de energias
elevadas.
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É possível explicar qualitativamente alguns dos motivos pelos quais as seções
de choque apresentam as variações características gerais apresentadas
anteriormente. Em energias abaixo da região de ressonância, a probabilidade de
B - FISSÃO NUCLEAR
interação é governada pelo tempo durante o qual o nêutron se encontra na vizinhança
do núcleo. Este tempo varia de maneira inversamente proporcional à velocidade do
nêutron, fato que resulta na proporcionalidade a 1/v. B.1 - Teoria do processo de fissão
A explicação dos picos de ressonância provém dos mecanismos de formação
do núcleo composto. O núcleo composto é formado com uma energia de excitação Após a descoberta do nêutron, foram efetuados experimentos detalhados com
dada por B+Ec, onde B é a energia de ligação de um nêutron em um núcleo composto o objetivo de estudar o efeito causado pela incidência deste tipo de partícula nos mais
e Ec é a energia cinética do nêutron multiplicada por A/(A+1). Se a energia cinética do diversos elementos. Em meio ao grande número de elementos estudados, atenção
nêutron é tal que o núcleo composto resulta formado em um de seus estados especial foi dedicada ao elemento natural com maior número atômico, o urânio. A
excitados ou muito próximo deles, a probabilidade de que ocorra a interação entre o descoberta do processo de fissão nuclear ocorreu em 1939, no âmbito destes
nêutron incidente e o núcleo-alvo aumenta e, como conseqüência, a seção de choque experimentos. Após bombardear átomos de urânio com nêutrons lentos, isolou-se um
assume valores elevados, dando origem aos picos de ressonância. Se, caso contrário, produto radioativo que inicialmente foi considerado como sendo constituído por um
a energia cinética do nêutron incidente é tal que o núcleo composto resulta formado isótopo do urânio. Entretanto, evidências posteriores mostraram que o produto
com uma energia cujo valor está entre dois estados excitados, a probabilidade de que radioativo isolado continha na verdade átomos de bário, ao invés de urânio. Este
a interação venha a ocorrer é muito menor e, como conseqüência, a seção de choque resultado foi assumido com relutância, em razão da natureza revolucionária da
assume valores consideravelmente mais baixos. Os núcleos compostos pesados conclusão de que o bombardeamento de um núcleo de urânio (com Z = 92) fosse
como o 239U possuem vários estados excitados muito próximos, o que explica o grande capaz de produzir um núcleo com cerca da metade da massa do núcleo original (o
número de ressonâncias presentes na seção de choque para absorção de nêutrons bário possui Z = 56).
pelo núcleo 238U. Em vista das notáveis propriedades do processo de fissão, uma soma de
Por fim, é importante destacar que o comportamento geral da seção de choque esforços foi direcionada em estudos teóricos do processo. O primeiro tratamento
para fissão em núcleos pesados também varia muito conforme o isótopo considerado. completo teve como base o modelo da gota líquida do núcleo. Este modelo pode ser
Por exemplo, nos núcleos 232Th e 238U, de interesse para a Física de Reatores usado para descrever o processo de fissão com algum detalhe e fazer previsões bem
Nucleares, as seções de choque para fissão apresentam energia de limiar em torno de sucedidas sobre a ocorrência de fissão espontânea e sobre a capacidade de vários
1,4 MeV e de 1 MeV, respectivamente. núcleos pesados sofrerem fissão ao serem bombardeados com nêutrons lentos ou
rápidos.
No modelo da gota líquida, o núcleo é considerado como sendo uma gota
inicialmente esférica, mas cuja forma depende em cada instante do balanço
envolvendo as forças de tensão superficial e as forças repulsivas de origem
eletrostática. Se energia for adicionada à gota, como na forma de energia de excitação
resultante da captura de um nêutron lento, estabelecem-se oscilações dentro da gota.
Estas oscilações tendem a distorcer a forma esférica, de maneira que a gota pode
assumir uma forma elipsoidal. As forças de tensão superficial tendem a fazer a gota
retornar à sua forma original, enquanto que a energia de excitação tende a distorcer
ainda mais a forma. Se a energia de excitação é suficientemente grande, a gota pode
atingir a forma de um haltere. As forças de repulsão eletrostática podem então forçar
os dois extremos para fora até que o haltere se rompa em duas gotas similares, cada
uma das quais com forma esférica. A seqüência das etapas que levam à fissão está
mostrada na figura 3. Se a energia de excitação não é suficientemente grande, a gota
elipsoidal pode retornar à forma esférica, com a energia de excitação sendo liberada
na forma de raios-gama. Neste caso, o fenômeno é de captura radiativa ao invés de
fissão.
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A energia potencial da gota nos diferentes estágios pode ser calculada em fissões espontâneas ocorrem por grama por hora em uma amostra de 238U, sendo a
função do grau de deformação da gota. A figura 4 mostra como varia a energia meia-vida para este processo igual a 8,0.1015 anos.
potencial E da gota em função de um parâmetro r que é uma medida do grau de A energia de ativação Ec - E0 necessária para induzir fissão em núcleos do tipo
deformação. Em r = 0, que representa a gota esférica inicial, há uma quantidade de II foi calculada a partir da teoria da gota líquida, podendo ser comparada com a
energia disponível E0, dada por energia de excitação resultante da captura de um nêutron, da interação com outra
partícula ou da incidência de um raio-gama. A energia de excitação de um núcleo
E0 = [M(A,Z) - M(A1,Z1) - M(A2,Z2)].c2 (41) composto pode ser calculada a partir das massas dos núcleos envolvidos, caso estes
sejam conhecidos. Quando o núcleo composto é formado pela captura de um nêutron
onde (A,Z) representa o núcleo que pode sofrer fissão e os índices 1 e 2 denotam os lento, a energia de excitação difere por uma quantia desprezível da energia de ligação
possíveis produtos finais. O valor de E0 corresponde ao estado fundamental do núcleo do último nêutron. No caso do núcleo composto 236U, a energia de ligação é calculada
composto formado quando o núcleo-alvo captura um nêutron, mas não inclui a energia como segue :
de excitação resultante da captura deste nêutron.
Massa do 235U (235,11704 u.m.a.) + Massa do nêutron (1,00898 u.m.a.) = 236,12602 u.m.a.
236
Massa do núcleo composto U = 236,11912 u.m.a.
A seção de choque para fissão nestes materiais varia com a energia de uma
maneira bastante complicada, como mostra a figura 5 para o 235U. Na região térmica f B.3 - Efeitos de temperatura
varia aproximadamente com 1/v. Começando em 0,28 eV, há muitas ressonâncias
próximas, com pelo menos 20 ressonâncias diferentes abaixo de 20 eV. Em energias Na interação de nêutrons com o núcleo atômico, assume-se em geral que o
altas, a seção de choque para fissão é relativamente pequena, perfazendo somente núcleo está em repouso no sistema de referência do laboratório (sistema lab.), e que o
cerca de um barn na vizinhança de 1 MeV. Conforme mostra a figura 6, nêutron incide no mesmo com uma dada energia cinética. Para nêutrons rápidos, esta
comportamento análogo é exibido pela seção de choque para fissão do 239Pu por hipótese é adequada, pois a energia cinética dos nêutrons é muito maior que a energia
nêutrons. térmica associada ao movimento dos núcleos.
Entretanto, para nêutrons lentos (da ordem de eV), a energia cinética passa a
ser comparável com a energia que os núcleos possuem em razão da agitação térmica
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do meio material no qual estão inseridos, de maneira que a seção de choque deve Na figura 7, ilustra-se o comportamento da seção de choque média para
levar em consideração o movimento relativo entre o nêutron e o núcleo-alvo. captura radiativa no 238U, próximo da ressonância de 6,67 eV. Observa-se que embora
Para tanto, a seção de choque média para fenômenos causados pela haja um alargamento da ressonância com uma diminuição do pico, a área sob as
incidência de nêutrons térmicos em um meio material deve ser escrita como função da curvas (para qualquer temperatura) se mantém constante e, portanto, seria de se
temperatura, de acordo com a expressão supor que os efeitos de temperatura não teriam influência sobre a taxa de absorções.
Entretanto, devido ao alargamento da ressonância, o nêutron incidente necessita
atravessar um intervalo de energia maior antes de atingir as regiões térmicas, fato que
(43) aumenta a probabilidade deste nêutron ser absorvido na ressonância. Desta maneira,
com o aumento da temperatura, ocorre um aumento na taxa de absorção. Esta
particularidade é de fundamental importância no controle de um reator nuclear,
onde é a energia cinética dos nêutrons incidentes medida no sistema lab., é a fazendo com que este seja inerentemente seguro em relação a aumentos de potência
temperatura absoluta do meio no qual os nêutrons incidem, é o número de núcleos- ocorridos como conseqüência de um eventual acidente. O aumento de potência
alvo por unidade de volume do meio, é a velocidade dos nêutrons incidentes medida produz um aumento de temperatura no combustível nuclear (constituído por uma
no sistema lab., é a velocidade relativa entre o nêutron e o núcleo-alvo, éa mistura de 235U e 238U), causando um maior número de absorções de nêutrons lentos
seção de choque em função da energia cinética medida no sistema do centro de pelo 238U devido aos efeitos de temperatura. Este aumento do número de absorções
massa (sistema c. m.) e é o número de núcleos-alvo por unidade de volume faz com que diminua o número de fissões no combustível nuclear e portanto a
do meio que se move com velocidades entre e +d . potência liberada pelo reator. Este fenômeno é conhecido como efeito Doppler.
A energia cinética no sistema c. m. é dada por:
(44)
(45)
Uma vez que e consequentemente dependem apenas da componente z da Figura 7 - Efeitos de temperatura no alargamento da seção de choque para captura
velocidade , a integral em e pode ser efetuada diretamente, resultando radiativa de nêutrons pelo 238U na vizinhança da ressonância de 6,67 eV (efeito
Doppler).
(46)
B.4 - Produtos de fissão
onde é o número de núcleos-alvo por unidade de volume que se move no
meio material com velocidades entre e . A expressão (43) assume então a A investigação dos produtos de fissão do 235U mostrou que a faixa de números
forma de massa vai de 66, correspondendo a um isótopo de crômio (Cr, Z = 24), até 172,
correspondendo a um isótopo de gadolínio (Gd, Z = 64). Como resultado da incidência
de nêutrons térmicos, cerca de 97% dos núcleos de 235U que sofrem fissão fornecem
(47) produtos que podem ser classificados em dois grupos: um “leve” com números de
massa entre 85 e 104 e um “pesado” com números de massa entre 130 e 149. O tipo
de fissão mais provável, que ocorre em cerca de 7% do total, fornece produtos com
onde
números de massa próximos a 95 e 139. Há 106 números de massa possíveis entre
66 e 172, que representam o número total de núcleos diferentes formados como
(48) fragmentos de fissão diretos. Portanto, o núcleo de 235U é capaz de se dividir de 53
maneiras diferentes, sendo formado um par diferente de núcleos em cada modo.
Comportamento muito semelhante é observado em relação à fissão dos núcleos de
233
é uma distribuição maxwelliana de velocidades. U e 239Pu.
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Na grande maioria dos casos, os fragmentos de fissão têm nêutrons demais no A fissão induzida por nêutrons lentos é um processo altamente assimétrico,
núcleo atômico para serem estáveis, geralmente apresentando decaimento beta sendo que a divisão em dois fragmentos iguais ocorre em apenas 0,01% dos casos.
negativo (emissão de elétrons). Cada um destes fragmentos radioativos inicia uma As curvas de produtos de fissão para o 235U ilustram o efeito do aumento da energia
curta série radioativa, envolvendo sucessivos decaimentos beta negativos. Estas cinética do nêutron na distribuição de massa dos produtos de fissão. A mudança mais
séries são denominadas cadeias de decaimento dos produtos de fissão e cada cadeia notável é no aumento da probabilidade de fissão simétrica, que para nêutrons de 14
possui em geral seis ou sete membros, apesar de freqüentemente ocorrerem cadeias MeV aumenta em cerca de 100 vezes. Este aumento é interpretado como indicando
mais longas e mais curtas. Um exemplo típico de cadeia de decaimento é uma maior probabilidade de fissão simétrica quando a energia cinética do nêutron é
alta. Quando a energia cinética dos nêutrons incidentes perfaz 45 MeV, há ainda dois
picos, mas o vale entre eles é pequeno e a probabilidade de fissão simétrica aumenta
muito. Com nêutrons de 90 MeV observa-se somente um pico, correspondendo à
Esta cadeia é particularmente interessante, pois contém dois dos nuclídeos (140Ba e divisão em dois fragmentos iguais. Apenas nestas energias extremamente altas a
140
La) cuja identificação levou à descoberta da fissão. fissão simétrica se torna o modo mais provável.
Por fim, é importante destacar que dois elementos químicos foram pela Medidas efetuadas utilizando métodos calorimétricos forneceram como
primeira vez identificados de maneira indubitável ao se estudar os produtos de fissão. resultado o valor de (167,1 1,6) MeV para a energia cinética média total dos
Estes elementos são o promécio (Pm, Z = 61) e o tecnécio (Tc, Z = 43), cujos isótopos fragmentos de fissão do 235U.
foram identificados em meio aos produtos de fissão.
(45)
Por sua vez, o número de nêutrons de fissão emitidos para cada nêutron absorvido por
Figura 8 - Curvas de produtos de fissão para os núcleos 235U, 233U e 239Pu: a) fissão do um núcleo físsil é dado por
235
U por nêutrons térmicos e por nêutrons de 14 MeV; b) fissão do 233U e do 239Pu por
nêutrons térmicos.
(46)
A produção de um nuclídeo particular pela fissão é a probabilidade, expressa 1
como porcentagem, de formar aquele nuclídeo ou a cadeia da qual ele é um membro.
Ela também pode ser vista como a porcentagem de fissões que produzem o nuclídeo Os valores de e obtidos para incidência de nêutrons térmicos nos principais
ou a respectiva cadeia. Como dois núcleos resultam de cada fissão, a produção total materiais físseis são mostrados respectivamente na sétima e oitava linhas da tabela 3.
soma 200%. A produção mostrada varia de cerca de 10 5% até cerca de 7%, de O número médio de nêutrons emitidos por fissão espontânea foi determinado
maneira que para cobrir variação tão grande é utilizada uma escala logarítmica na para vários núcleos pesados, mediante a utilização de técnicas experimentais
ordenada da curva de produção. Cada curva contém dois picos, correspondendo aos sofisticadas. Os resultados obtidos forneceram: para o 232Th, = 2,13 0,14; para o
grupos de produtos “leves” e “pesados”. No caso do 235U, o máximo fica perto dos 238
U, = 1,99 0,07; para o 240Pu, = 2,150 0,015; para o 244Cm, = 2,691 0,032
números de massa 95 e 139.
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e para o 252Cf, = 3,756 0,010. Cabe acrescentar que o 252Cf, cuja meia-vida perfaz B.7 - Distribuição de energia cinética dos nêutrons emitidos na fissão
T1/2 = 2,65 anos, é usado na fabricação de fontes de nêutrons.
Os nêutrons emitidos como resultado do processo de fissão podem ser Os valores da energia cinética dos nêutrons prontos emitidos na fissão variam
classificados em dois tipos: nêutrons prontos e nêutrons atrasados. Os nêutrons entre menos que 0,05 MeV até mais que 17 MeV. A determinação de energias
prontos, que constituem cerca de 99% do total de nêutrons da fissão, são emitidos cinéticas dos nêutrons em uma faixa tão ampla não é problema fácil, requerendo a
dentro de um intervalo de tempo extremamente curto decorrido após a fissão, da utilização de diversas técnicas experimentais.
ordem de 10 14 segundos. Os resultados obtidos em diversos experimentos indicam que a distribuição de
Os nêutrons atrasados, que constituem cerca de 0,64% do total de nêutrons da energia cinética entre 0,075 MeV e 17 MeV pode ser descrita pela seguinte fórmula
fissão do 235U, são emitidos com intensidade gradualmente decrescente durante vários empírica:
minutos após o processo de fissão. Estudando-se a taxa de decaimento da
intensidade de nêutrons, observaram-se seis grupos bem definidos de nêutrons
(47)
atrasados. A taxa de decaimento de cada grupo é exponencial, justamente como para
outras formas de decaimento radioativo, sendo possível, portanto, associar uma meia-
vida específica a cada grupo. As propriedades principais dos nêutrons atrasados são onde representa o número relativo de nêutrons por unidade de faixa de energia
listadas na tabela 4. Além dos grupos listados, foram descobertos ainda três grupos de cinética do nêutron. A boa concordância entre a função descrita pela expressão (47)
nêutrons adicionais, de baixa intensidade, com meias-vidas de 3, 12 e 125 minutos e e os dados experimentais pode ser observada na figura 9.
produção por fissão que perfazem 5,8.10 8, 5,6.10 10 e 2,9.10 10, respectivamente. A
fração total de nêutrons atrasados é representada por , enquanto a fração
correspondente ao i-ésimo grupo de nêutrons atrasados é representada por i.
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O primeiro tipo é constituído por raios-gama de decaimento, assim A energia total da fissão determinada desta maneira totaliza 200 MeV, com
denominados porque acompanham o decaimento beta negativo da maioria dos uma incerteza entre 5 MeV e 10 MeV, em boa concordância com os valores
produtos de fissão radioativos e, portanto, são emitidos ao longo de um determinado calculados.
período de tempo. O espectro de energia correspondente aos raios-gama de
decaimento é discreto. Energia total liberada na fissão de um núcleo de 235U por nêutrons térmicos
O segundo tipo abrange os chamados raios-gama prontos, os quais são Energia cinética dos fragmentos de fissão 167 MeV
emitidos pelos fragmentos de fissão diretos durante as respectivas transições para o Energia cinética dos nêutrons da fissão 5 MeV
estado fundamental. Energia dos raios-gama prontos 7 MeV
Medidas mostraram que, em média, aproximadamente 7 MeV de energia são Energia do decaimento beta 5 MeV
liberados sob a forma de raios-gama prontos em cada fissão, sendo que a ocorrência Energia do decaimento gama 5 MeV
mais comum consiste na emissão de cerca de 8 fótons com energia média em torno
Energia dos anti-neutrinos 11 MeV
de 1 MeV cada.
ENERGIA TOTAL DA FISSÃO 200 MeV
No caso dos raios-gama prontos, o espectro da radiação emitida é contínuo e
apresenta intensidade decrescente com o aumento da energia do fóton, cujo valor Tabela 5 - Energia total liberada na fissão de um núcleo de 235U por nêutrons térmicos.
máximo perfaz aproximadamente 7 MeV. Uma estimativa do tempo de emissão dos 233 239
raios-gama prontos indicou que, para a maioria deles, o mesmo não excede alguns Resultados obtidos com outros núcleos físseis, como Ue Pu, são bastante
poucos nanosegundos após a fissão. semelhantes aos encontrados para o 235U.
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c) captura de nêutrons por outros materiais, sem que ocorra fissão
d) escape de nêutrons do núcleo do reator
C - FISSÃO NUCLEAR COMO FONTE DE Se a perda de nêutrons como conseqüência dos três últimos processos é menor ou
ENERGIA igual ao excesso produzido pelo primeiro, a reação em cadeia auto-sustentada ocorre.
Caso contrário, não ocorre.
A necessidade de um balanço de nêutrons favorável estabelece certas
C.1 - Introdução condições sobre qualquer sistema no qual se deseja estabelecer uma reação em
cadeia auto-sustentada. Uma destas condições diz respeito ao tamanho do sistema.
Se o urânio está distribuído de uma maneira regular através do conjunto, a produção
A grande quantidade de energia liberada na fissão nuclear, acompanhada da de nêutrons depende do volume do sistema, enquanto que a probabilidade de escape
emissão de mais de um nêutron, tornou possível a utilização deste fenômeno como depende da área superficial do mesmo.
fonte de energia. A emissão de 2,5 nêutrons na fissão de um núcleo de 235U, em Existe um certo tamanho do sistema, denominado tamanho crítico, para o qual
média, permite dar início a uma reação em cadeia na qual estes nêutrons produzem a produção de nêutrons pela fissão é exatamente igual à sua perda por captura sem
mais fissões e mais nêutrons, e assim sucessivamente. fissão e escape, tornando possível uma reação em cadeia auto-sustentada. Se o
Sob certas condições, o número de fissões e nêutrons cresce tamanho do sistema é menor que o tamanho crítico, uma reação em cadeia não pode
exponencialmente com o tempo, porque cada fissão produz mais nêutrons do que ser sustentada. A existência de um tamanho crítico abaixo do qual uma reação em
aquele absorvido, de maneira que a quantidade de energia liberada torna-se enorme. cadeia não se estabelece contrasta fortemente com sistemas baseados em reações
O intervalo de tempo entre duas gerações sucessivas de fissões pode ser uma fração químicas, nos quais a possibilidade de ocorrência de uma reação independe do
muito pequena de um segundo e, neste caso, a energia liberada na reação em cadeia tamanho do sistema.
toma a forma de uma explosão. É o que ocorre em um artefato nuclear de fissão, Uma vez conhecido este princípio, torna-se necessário investigar a
vulgarmente conhecido como “bomba atômica”. possibilidade de que uma reação de fissão nuclear em cadeia auto-sustentada possa
Sob outras condições, a reação em cadeia pode ser controlada e atingir um se estabelecer em um sistema constituído por um material físsil. Inicialmente, esta
estado estável no qual o número de nêutrons produzidos por unidade de tempo é possibilidade será investigada para uma massa de urânio natural suficientemente
justamente aquele que foi consumido. A taxa com que as fissões ocorrem e a taxa grande, tal que a perda de nêutrons por escape possa ser desprezada. Algumas
segundo a qual a energia é liberada são mantidas constantes e o resultado é um fissões espontâneas ocorrerão no sistema, liberando cerca de 2,5 nêutrons rápidos
reator nuclear, que pode ser usado como uma fonte de nêutrons ou de potência. por fissão, com uma energia cinética média de aproximadamente 2 MeV. O urânio
Estes fatos podem ser ilustrados por alguns cálculos simples. A fissão de um natural consiste em uma mistura contendo 238U com uma abundância isotópica de
único núcleo de 235U libera 200 MeV x 1,6.10 13 J = 3,2.10 11 J. Quando se multiplica 99,28% e 235U com uma abundância isotópica de 0,72%. As seções de choque para
esta quantidade de energia pelo número de Avogadro, o produto expressa a energia fissão dos dois isótopos, na faixa de energia cinética média dos nêutrons que são
liberada na fissão de todos os núcleos contidos em um Mol (235,04 g) de 235U, que emitidos na fissão, não diferem muito. Entretanto, se os nêutrons emitidos na fissão
totaliza 1,93.1013 J. A energia liberada na fissão completa de 1 kg de 235U seria causam novas fissões, estas ocorrerão principalmente no 238U, com um número
8,21.1013 J, o que equivale a cerca de 2.1010 kcal. Esta quantidade espantosa de desprezivelmente pequeno de fissões rápidas ocorrendo no 235U. Nestas
energia equivale àquela liberada na explosão de 20000 toneladas do explosivo circunstâncias, é necessário considerar somente a interação dos nêutrons de fissão
convencional trinitrotolueno (TNT). Ainda que somente uma pequena fração desta iniciais com o 238U. Para estes nêutrons, a fissão é mais provável que a captura
energia pudesse ser liberada explosivamente, o resultado seria uma arma poderosa. radiativa, porém menos provável que o espalhamento elástico ou inelástico. Os
A liberação de energia na fissão também pode ser expressa em termos de nêutrons que sofrem captura radiativa são perdidos. O espalhamento elástico pelo
unidades de potência com resultados interessantes. Como 1 MeV = 1,60.10 13 J = núcleo de urânio tem um efeito muito pequeno sobre a energia cinética do nêutron
1,60.10 13 W.s, a fissão de um núcleo de 235U libera 3,2.10 11 W.s de energia, de emitido na fissão e, após tal interação, o nêutron está livre para colidir outra vez, como
maneira que 3,1.1010 fissões por segundo fornecem um W de potência. A fissão se nada tivesse acontecido. Entretanto, o espalhamento inelástico tem um efeito
completa de 1 kg de 235U liberaria 8,2.1013 W.s de energia, ou 2,3.107 kW.hora, ou bastante importante, pois uma única interação deste tipo pode reduzir a energia
cerca de 1,0.103 MW.dia. Se a liberação de energia ocorresse ao longo do período de cinética do nêutron a cerca de 0,3 MeV em média, valor abaixo do limiar de fissão no
um dia inteiro, a fissão completa de 1 kg de 235U produziria energia na forma de calor a 238
U. Consequentemente, os nêutrons de fissão originais só aumentam levemente em
uma potência constante de 1000 MW. Se este calor pudesse ser transformado em número como decorrência da fissão rápida no 238U e quase todos os nêutrons são
energia elétrica com uma eficiência de 30%, seriam gerados 300 MW elétricos. Esta deixados com energias abaixo do limiar de fissão. O espalhamento inelástico também
produção é equivalente a uma usina termoelétrica que consome cerca de 2500 é uma reação limiar e não ocorre para nêutrons com energia cinética abaixo de 1 MeV.
toneladas de carvão mineral por dia. O fato de 1 kg de material físsil como o 235U ser Os nêutrons que tiveram sua energia diminuída abaixo dos limiares para fissão e
equivalente a 2500 toneladas de carvão como fonte de energia é responsável pela espalhamento inelástico podem sofrer captura radiativa ou espalhamento elástico.
pesquisa e desenvolvimento da tecnologia nuclear para geração de eletricidade. Aqueles que sofrem captura radiativa são perdidos. Os que são espalhados
elasticamente perdem energia muito lentamente, sendo necessárias muitas colisões
para reduzir a energia cinética de aproximadamente 105 eV até 1 eV. Nesta faixa de
C.2 - Reator nuclear energia, a probabilidade de captura radiativa no 238U é muito maior que a probabilidade
de fissão no 235U. Como os nêutrons perdem energia muito lentamente, a
A realização de uma reação em cadeia auto-sustentada com urânio depende probabilidade de que eles alcancem energias cinéticas térmicas sem serem
de um balanço favorável entre quatro processos competitivos: capturados é muito pequena. Apesar da seção de choque para fissão do urânio natural
a) fissão de núcleos de urânio, com o número de nêutrons emitidos sendo em energias térmicas ser maior que a seção de choque para captura radiativa, muito
maior que o número de nêutrons capturados poucos nêutrons podem alcançar estas energias cinéticas baixas e causar fissão.
b) captura de nêutrons pelo urânio sem ocorrência de fissão
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Como resultado, o estabelecimento de uma reação em cadeia auto-sustentada não é
1 - A energia dos nêutrons em que ocorre a maior parte das fissões
possível somente com urânio natural.
Uma reação em cadeia pode ser conseguida se o 238U for removido, deixando a) energias altas
apenas o 235U, ou então no 239Pu. Nêutrons de qualquer energia podem causar a b) energias intermediárias
fissão no 235U, de modo que o espalhamento inelástico dos nêutrons emitidos na fissão
não reduz a probabilidade de que novas fissões venham a ocorrer. De fato, mesmo c) energias baixas
nêutrons que possam alcançar energias de ressonância contribuiriam para a reação
em cadeia, porque a ressonância de fissão do 235U é muito mais provável que a
captura radiativa. Argumentos análogos valem para o 239Pu. Assim, tanto 235U quanto
239
Pu são materiais adequados para uso em armas nucleares de fissão ou como 2 - O material físsil presente no combustível nuclear
combustível nuclear em reatores nos quais as fissões são induzidas principalmente
por nêutrons rápidos. Num reator rápido deste tipo, existe muito pouca moderação de a) urânio natural
nêutrons e a presença de materiais que possam causar moderação é evitada tanto b) urânio enriquecido em 235U
quanto possível.
Uma reação em cadeia pode ser alcançada com urânio natural e um c) 239Pu
moderador adequado num arranjo apropriado. A seção de choque para fissão do 235U d) 233U
é tão grande que, apesar da pequena abundância, a fissão por nêutrons térmicos
compete favoravelmente com a captura radiativa. Então, a condição a ser obtida é que
nêutrons suficientes alcancem energias térmicas. Este resultado pode ser conseguido
usando-se um moderador. Um nêutron pode perder energia suficiente em uma única
colisão com um núcleo moderador e assim saltar sobre muitas ressonâncias, com o 3 - A configuração do conjunto combustível / moderador
resultado de que a absorção de nêutrons na ressonância diminui. Água pesada (D2O) a) homogêneo
e grafite têm sido usadas com sucesso como moderadores junto com urânio natural.
Quando D2O é moderador, o urânio pode estar na forma de uma solução de um sal b) heterogêneo
como sulfato de uranila (UO2SO4), ou partículas muito pequenas de óxido de urânio
podem estar suspensas uniformemente na D2O. Este tipo de reator é dito homogêneo.
Quando o moderador é grafite, o urânio deve estar na forma de grandes blocos e
podem ser distribuídas barras de urânio de uma maneira regular através da grafite, 4 - O moderador
formando uma rede. Este tipo de conjunto é chamado heterogêneo por causa da
a) grafite
separação do combustível e do moderador. O urânio natural e a água comum não
podem sustentar uma reação em cadeia, tanto em um sistema homogêneo quanto em b) água
um sistema heterogêneo, porque a seção de choque do hidrogênio para captura c) água pesada
radiativa de nêutrons térmicos é relativamente elevada (0,332 b).
O enriquecimento do urânio no isótopo 235U em usinas de difusão gasosa ou d) berílio ou óxido de berílio
em instalações de ultracentrifugação e a produção de 239Pu em reatores nucleares têm
fornecido combustíveis nucleares altamente purificados e estendido grandemente a
faixa dos possíveis sistemas de reação em cadeia. Por exemplo, uma solução aquosa
de um sal contendo urânio enriquecido pode formar um reator homogêneo pequeno. O 5 - O refrigerante
urânio enriquecido e plutônio também podem ser usados em conjuntos moderados
parcialmente, nos quais as fissões são causadas principalmente por nêutrons de a) gás (ar, CO2 ou He)
energia intermediária. Nestes reatores “intermediários” existe moderador suficiente b) água
somente para moderar os nêutrons em parte, mas não de todo, até alcançar energias
térmicas. O nuclídeo 233U, obtido a partir do 232Th, também pode ser usado em c) água pesada
reatores térmicos, intermediários ou rápidos. d) metal líquido
A taxa com que as fissões ocorrem num reator determina o número de
nêutrons produzidos por unidade de tempo e também a taxa com que o calor é
produzido, relacionada com o nível de potência. Para que um reator opere num nível
de potência constante, a energia liberada na fissão deve ser removida do conjunto. A
energia da fissão, originalmente na forma de energia cinética dos fragmentos de 6 - Finalidade a que se destina
fissão, nêutrons, raios-beta e raios-gama, é convertida em calor quando estas a) pesquisa científica
partículas são barradas nos materiais do reator. O calor é removido fazendo circular
um refrigerante através do reator. Podem ser usados como refrigerante a água, um b) produção de radioisótopos
gás ou um metal líquido. A escolha do refrigerante depende da finalidade a que se c) produção de material físsil
destina o reator, sendo limitada por considerações nucleares e de engenharia.
d) geração de energia elétrica
Os reatores nucleares podem ser classificados de acordo com as
características do sistema de reação em cadeia que os constitui. A classificação pode
ser efetuada de acordo com os seguintes critérios:
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pode ser igual ou maior que a unidade. A grandeza é chamada de fator de fissão
C.3 - Ciclo do nêutron em um reator nuclear térmico rápida , sendo muito próxima da unidade em um reator homogêneo, mas pode ser tão
grande quanto 1,1 em certos reatores heterogêneos.
O balanço de nêutrons em um reator nuclear térmico pode ser descrito em Os nêutrons difundem-se através do reator. A maior parte deles é
termos de um ciclo que mostra o que acontece com os nêutrons. Este ciclo é mostrado moderada, mas uma fração l escapa antes de ser moderada a energias térmicas, de
na figura 10. maneira que l nêutrons são perdidos. Os restantes l nêutrons são
moderados por meio de colisões com núcleos do moderador, mas durante o processo
de moderação alguns deles podem ser capturados pelo 238U para formar o núcleo
composto 239U, que decai para o 239Np e depois para o 239Pu. Dos l nêutrons
que iniciam o processo de moderação, uma fração contendo (1-lf)p nêutrons escapa
da captura, enquanto que l nêutrons são capturados e vão formar o 239Pu.
A grandeza é chamada de probabilidade de escape da ressonância. Apesar dos
nêutrons absorvidos não poderem mais causar fissões no 235U, e neste sentido
estarem perdidos, eles são importantes porque contribuem para a fabricação do 239Pu.
Os nêutrons que escapam das ressonâncias de absorção são moderados a
energias cinéticas térmicas, onde tanto a fissão quanto a captura radiativa ocorrem.
Alguns dos nêutrons se difundem sem serem capturados e eventualmente escapam
do sistema. Se a fração que escapa do sistema é indicada por l , o número de
nêutrons térmicos por fissão do 235U que escapa é igual a l l . Os nêutrons
térmicos restantes perfazem l l , dos quais uma fração é absorvida pelo
urânio e uma fração é absorvida por outros materiais, tais como o moderador ou
materiais estruturais, sendo então perdidos. O número de nêutrons ainda disponível
para levar adiante a reação em cadeia é então l l . A grandeza é
chamada de utilização térmica. Nem todos os nêutrons absorvidos pelo urânio causam
fissão em núcleos de 235U. Alguns dos nêutrons são absorvidos pelo 238U para formar o
núcleo composto 239U e, na seqüência, 239Pu, enquanto que outros são absorvidos
pelo 235U para formar o núcleo composto 236U. A fração dos nêutrons térmicos
absorvidos pelo urânio e que causa fissão é exatamente a razão entre a seção de
choque de fissão e a seção de choque de absorção (que resulta da soma das seções
de choque de fissão e captura radiativa) para o urânio, ou seja, f(U)/ a(U).
O número de fissões de segunda geração no 235U, por fissão do 235U causada
por um nêutron de primeira geração, é denominado fator de multiplicação, sendo
indicado por k. Portanto
k l l (48)
O produto [ f(U)/ a(U)] representa o número de nêutrons produzidos por fissão por
nêutron térmico absorvido no urânio, sendo designado por . O fator de multiplicação
pode então ser escrito novamente como
Figura 10 - Representação esquemática de uma reação em cadeia auto-sustentada
baseada na fissão de núcleos de urânio por nêutrons térmicos. k l l (49)
O ciclo é iniciado com a fissão de um núcleo de 235U por um nêutron térmico. A grandeza k, dada pela expressão (49), é em geral denominada fator de multiplicação
Neste processo de fissão, nêutrons rápidos são emitidos. Estes nêutrons possuem efetivo e corresponde a um conjunto de tamanho finito. A expressão (49) é conhecida
uma energia cinética média acima do limiar de fissão do 238U, e alguns deles podem como fórmula dos seis fatores para o valor de k. Para constituir um sistema de reação
causar a fissão dos núcleos de 238U. A probabilidade de ocorrência para tais fissões em cadeia operando em um estado auto-sustentado, é necessário que k seja igual à
adicionais depende de como os nêutrons da fissão possam colidir com os núcleos de unidade. Se k é menor que a unidade, não pode haver reação em cadeia. Se k é
238
U, antes de colidir com os núcleos do moderador. Uma pequena fração dos maior que a unidade, o número de nêutrons e fissões aumenta a cada ciclo, e a
nêutrons que colidem com os núcleos de 238U pode causar fissões, e assim para um reação em cadeia é chamada divergente. O tamanho crítico para um sistema de
dado número de nêutrons obtidos a partir da fissão térmica do 235U, alguns nêutrons reação em cadeia é o tamanho para o qual k é igual à unidade. Para k < 1, o sistema é
adicionais resultam da fissão rápida de núcleos de 238U. O número total de nêutrons denominado subcrítico. Para k > 1, o sistema é denominado supercrítico.
rápidos obtidos a partir da fissão passa de para , onde é uma grandeza que
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O valor de k para um sistema infinitamente grande é útil na teoria e projeto de
(54)
reatores nucleares. Não há escape de nêutrons de tal sistema e as grandezas l e l 1 235 235 238 235
são ambas iguais a zero. O fator de multiplicação é então indicado por k , sendo dado
por O valor de cr (235U) / f(235U) é 0,180 e o valor de 238 235
a( U) / f( U) é 0,00470, de tal
maneira que a equação (54) pode ser escrita como
k (50)
2 44
A expressão (50) é denominada fórmula dos quatro fatores e o cálculo de k é um dos (55)
principais problemas no projeto de reatores nucleares.
1180 0 00470
No caso especial de um reator em que o combustível contém apenas 235U e
nenhum 238U, tanto o fator de fissão rápida quanto a probabilidade de escape da A razão é obtida a partir de valores experimentais da concentração de 235U
ressonância p são praticamente iguais à unidade. A fórmula para k fica reduzida a no urânio que está sendo utilizado como combustível nuclear, sendo em geral
expressa em termos de porcentagem em peso. Para o urânio natural, esta
k (51) concentração é 0,00715, logo = 137,8. Portanto, para o urânio natural =
1,335. Quando a razão aumenta, como no urânio enriquecido, a razão
Dos quatro fatores que compõem k , depende somente das propriedades diminui, aumenta e são produzidos mais nêutrons para cada nêutron térmico
nucleares do combustível, enquanto depende não só das propriedades nucleares do absorvido no urânio.
combustível, mas também do seu tamanho e forma. As grandezas restantes, e , Nos sistemas homogêneos a serem considerados, o combustível está na forma
dependem das propriedades nucleares do combustível, moderador e quaisquer outros de partículas muito pequenas, da ordem de m de diâmetro. É quase certo que os
materiais presentes no reator, assim como da configuração segundo a qual todos nêutrons da fissão escapem do urânio antes de colidir com um núcleo de 238U. Os
estes materiais estão arranjados. Um dos problemas básicos de projeto é encontrar as nêutrons entrarão no moderador e serão moderados antes de poder causar fissão no
238
quantidades relativas de todos os materiais e a maneira pela qual eles podem ser U, sendo o valor de portanto igual a unidade. Esta perda de nêutrons adicionais
arranjados para fornecer o maior valor possível do produto . Para um determinado provenientes de fissões rápidas é uma das desvantagens de um sistema homogêneo.
A condição para que uma reação em cadeia seja possível em um sistema
combustível nuclear, este arranjo fornece o maior valor de k .
homogêneo de tamanho finito pode ser escrita como k > 1 ou >1 ou ainda >
= 0,75. Esta condição expressa um difícil problema de projeto. A probabilidade
C.4 - Fator de multiplicação de um reator nuclear térmico homogêneo de escape da ressonância e a utilização térmica devem estar ambas na vizinhança de
0,85. Em outras palavras, não mais do que cerca de 15% dos nêutrons devem ser
perdidos devido à ressonância de absorção durante o processo de moderação, e não
Ao longo desta parte, o fator de multiplicação será calculado para três sistemas
mais do que 15% dos nêutrons térmicos devem ser absorvidos em outros materiais
homogêneos, constituídos por: urânio natural moderado com grafite, urânio natural
que não o combustível nuclear. Quando o combustível é urânio natural, a condição
moderado com água comum e urânio natural moderado com água pesada.
> 0,75 pode ser muito difícil de ser atingida.
No primeiro destes, supõe-se que partículas muito pequenas de urânio estejam
dispersas uniformemente em meio a um grande bloco de grafite. Quando H2O ou D2O A utilização térmica é definida pela expressão:
é o moderador, supõe-se que o urânio esteja na forma de uma suspensão de UO2 no
fluido. (56)
O valor de para o urânio natural e nêutrons térmicos é obtido a partir da
expressão
Considerando um conjunto que consiste somente em combustível e moderador, a
utilização térmica pode ser escrita como
= (52)
1
(57)
O valor de muda quando o urânio é enriquecido no isótopo 235U, sendo útil escrever 1
este parâmetro numa forma que mostre sua dependência em relação à concentração
deste nuclídeo. Sendo e respectivamente o número de átomos de 238U e 235U onde e representam respectivamente o número de átomos do combustível
por cm3 de urânio, a equação (52) pode ser escrita, em maior detalhe, como nuclear e do moderador por cm3, enquanto os índices 0 e 1 denotam respectivamente
grandezas relativas ao combustível nuclear e ao moderador. Quando a absorção em
235 outros materiais é considerada, termos adicionais devem ser incluídos no
denominador da expressão (57).
235 235 238 (53) Os resultados de cálculos estão relacionados na tabela 6, na qual os valores de
, , e k são mostrados para diferentes valores de / , a razão do número de
onde representa a seção de choque para captura radiativa no 235U e átomos do moderador para o número de átomos de urânio. Para pequenos valores de
, aproxima-se da unidade, enquanto os valores de são pequenos.
Quando o numerador e o denominador do lado direito da
equação (53) são divididos por , o resultado é
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Este resultado é esperado, pois tanto a absorção de nêutrons térmicos quanto
a ressonância de absorção devem crescer, à medida que a quantidade de urânio no
reator aumenta. Espera-se, portanto, que num arranjo no qual aumente, os valores
de diminuam, sendo que o produto deve passar por um máximo para um dado
moderador. Assim pois, k deve também passar por um máximo, à medida que
varia, o que é confirmado pelos cálculos. Os máximos são razoavelmente suaves,
ocorrendo na faixa ( ) = 4 a 10 para H2O, 150 a 500 para D2O e de 300 a 600
para grafite.
O resultado mais importante obtido a partir dos dados mostrados na tabela 6 é
que misturas homogêneas contendo urânio natural e água pesada podem atingir
valores de k maiores que a unidade. O mesmo não ocorre com misturas homogêneas
de urânio natural e grafite ou de urânio natural e água comum. É este o resultado,
especialmente no caso da grafite, que levou à consideração de sistemas
heterogêneos. Quando a grafite é o moderador, a impossibilidade de atingir valores de
k maiores que a unidade resulta do baixo valor da probabilidade de escape da
ressonância . Valores adequados de podem ser atingidos para valores de
de até 300 ou 400, mas um valor de suficientemente alto não é alcançado até que
( ) = 800, com o resultado de que o valor máximo de é cerca de 0,6 e o valor
máximo de k perfaz cerca de 0,8. Felizmente, as propriedades de moderação e de
ressonância de absorção são tais que a probabilidade de escape da ressonância pode
ser aumentada significativamente agrupando o urânio. No caso da água, a dificuldade
consiste no pequeno valor da utilização térmica obtido para todos os valores de
, exceto os menores. Nestas circunstâncias, para obter valores úteis de , deve
haver uma quantidade muito grande de urânio, o que aumentaria muito a absorção
nas ressonâncias.
Quando se dispõe de urânio enriquecido em 235U, pode-se conseguir uma
reação em cadeia tanto com grafite quanto com água na condição de moderador. Com
urânio enriquecido, os valores de e aumentam, sendo o aumento verificado no
valor de o mais importante.
Para efeito de ilustração, será estudado o reator moderado a grafite. O valor
máximo de k com urânio natural e grafite era de aproximadamente 0,8. Um aumento
de 20% em seria necessário para trazer k até a unidade, ou seja, um valor de
entre 1,6 e 1,7. Como = 2,07 para o 235U puro, fica claro que o valor necessário de
pode ser atingido para alguma concentração de 235U intermediária entre a do urânio
natural e a do 235U puro. O valor de pode ser calculado a partir da expressão (54). A
seção de choque para absorção do urânio também cresce com o aumento da
concentração de 235U, causando um aumento no valor de . Neste caso, a seção de
choque a pode ser calculada a partir da expressão
235 238
(58)
Os valores das seções de choque a serem usados são a(235U) = 683 b e a(238U) =
2,71 b. O cálculo de k foi feito para = 400, com igual a 0,744, o valor
correspondente ao urânio natural. Supõe-se que o decréscimo na concentração de
238 235
U sobre a faixa de concentração do U seja muito pequeno para afetar o valor
obtido para a probabilidade de escape da ressonância. Os resultados estão mostrados
na tabela 7.
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N238 / N235 a (b) f pf k de absorção. Os nêutrons que reentram no moderador sofrem nova moderação numa
137,8 7,68 0,810 0,603 1,335 0,80 região sem urânio e podem perder energia cinética suficiente para saltar várias faixas
130 8,01 0,816 0,607 1,362 0,83 de ressonância antes de entrar em outro bloco ou de alcançar energias térmicas. A
120 8,45 0,824 0,613 1,399 0,86 magnitude deste efeito depende do espaçamento dos blocos de urânio na matriz
110 9,04 0,834 0,620 1,439 0,89 constituída pelo moderador e sua probabilidade é apreciavelmente maior do que em
um conjunto homogêneo. Assim, uma vantagem do arranjo heterogêneo é a menor
100 9,57 0,841 0,626 1,479 0,93
ressonância de absorção devido à “filtragem” de nêutrons cujas energias cinéticas
90 10,3 0,852 0,634 1,523 0,97
caem dentro de faixas de ressonância do urânio na superfície do bloco.
80 11,3 0,862 0,641 1,569 1,01 Segue-se das considerações acima que a ressonância de absorção pode ser
70 12,5 0,874 0,650 1,618 1,05 dividida em duas partes: uma absorção de superfície e uma absorção de volume.
60 14,1 0,887 0,660 1,670 1,10 Assim, o tamanho e a forma dos blocos de urânio podem ser escolhidos para tornar a
50 16,3 0,901 0,670 1,726 1,16 probabilidade de escape da ressonância relativamente alta. Algumas noções
Tabela 7 - Valores do fator de multiplicação para uma mistura homogênea de urânio qualitativas sobre o tamanho dos blocos podem ser obtidas facilmente. Para diminuir a
enriquecido e grafite, sendo ( ) = 400. absorção de volume, o tamanho de cada bloco não deve ser muito grande comparado
com o caminho livre médio dos nêutrons de ressonância dentro do bloco. Apesar deste
É possível verificar que uma reação em cadeia auto-sustentada pode ser caminho médio não ser conhecido precisamente, uma estimativa grosseira pode ser
alcançada quando a concentração de átomos de 235U aumenta de 1:138 para cerca de feita, considerando-se os nêutrons térmicos e de fissão como casos limites. A seção
1:80, o que equivale a um enriquecimento de 1,23%. Analogamente, uma reação em de choque térmica total do 238U é 16,0 b e o urânio apresenta 0,048.1024 átomos/cm3,
cadeia auto-sustentada pode ser alcançada num sistema homogêneo com urânio sendo o caminho livre médio total para nêutrons térmicos dado por
parcialmente enriquecido e água comum.
1 1
t = 13
0 048 16 0
C.5 - Reator nuclear térmico heterogêneo
A seção de choque total média para nêutrons rápidos no 238U perfaz 7,2 b, de maneira
No tópico anterior foi mostrado que um conjunto homogêneo de urânio natural que o caminho livre médio totaliza cerca de 2,9 cm. Portanto, um tamanho de bloco de
e grafite não pode manter uma reação em cadeia, não importa quão grande seja, mas urânio adequado corresponde a um diâmetro entre 1,3 cm e 2,9 cm.
que, quando o urânio é suficientemente enriquecido no isótopo 235U, esta é possível. O fluxo de nêutrons de ressonância é menor dentro do bloco do que perto da
Na falta de urânio enriquecido, surgiu a questão sobre se o urânio natural e superfície, porque uma parte considerável da ressonância de absorção ocorre perto da
grafite podiam ser arranjados de alguma maneira que pudesse levar a uma reação em superfície do bloco. Este efeito favorece blocos grandes, mas a escolha do tamanho
cadeia. Os resultados listados na tabela 6 indicam que a principal dificuldade é o destes depende também do efeito dos blocos sobre o fator de fissão rápida e a
pequeno valor da probabilidade de escape da ressonância . A solução deste utilização térmica. O valor do fator de fissão rápida aumenta com o tamanho do bloco,
problema foi obtida pelo uso de blocos de urânio de tamanho considerável envolvidos porque a probabilidade de uma colisão entre um nêutron rápido e um átomo de 238U
por moderador. aumenta com o tamanho do bloco. Este efeito também tende a favorecer tamanhos
Uma consideração da maneira pela qual ocorre a ressonância de absorção maiores.
mostra que o uso de blocos de urânio aumenta a probabilidade de escape da A principal desvantagem de um conjunto heterogêneo de urânio e um
ressonância. A ressonância de absorção ocorre quando nêutrons, durante o curso de moderador é o decréscimo na utilização térmica, em comparação com uma mistura
um processo de moderação, alcançam energias cinéticas que, junto com a energia de homogênea com a mesma concentração de combustível nuclear. Supondo que os
ligação, correspondem a níveis do núcleo composto 239U. Quando um nêutron com tal nêutrons térmicos sejam monoenergéticos e incidam sobre a superfície de um bloco
energia cinética colide com um núcleo de 238U, existe uma chance apreciável de que de urânio, o fluxo térmico diminuirá porque alguns dos nêutrons incidentes serão
ele seja absorvido. Em um conjunto homogêneo de urânio/grafite, cada partícula de absorvidos perto da superfície. Os nêutrons restantes penetram no bloco e mais
urânio tem a mesma chance de capturar uma certa fração dos nêutrons de nêutrons são absorvidos. O fluxo de nêutrons térmicos é então reduzido dentro do
ressonância. Porém, quando o urânio está presente em blocos relativamente grandes, bloco, com a conseqüente diminuição da probabilidade de que uma absorção venha a
este não é mais o caso. ocorrer posteriormente. O efeito é diretamente análogo àquele de uma ressonância de
Para ilustrar este fato, considera-se nêutrons colidindo com um bloco de urânio. absorção, exceto que ela não é desejável no caso da absorção térmica. Em outras
Aqueles nêutrons que possuem energias cinéticas dentro da faixa de ressonância palavras, a “auto-blindagem” do bloco de urânio contra a absorção de nêutrons
podem ser absorvidos na superfície do bloco, enquanto que nêutrons com energias térmicos resulta num decréscimo da utilização térmica.
que não correspondem à faixa de ressonâncias entram dentro do bloco. Alguns destes A escolha precisa de um tamanho de bloco adequado depende do
nêutrons podem sofrer colisões elásticas com os núcleos de urânio e, apesar da perda balanceamento dos efeitos sobre e (que tendem a aumentar o valor de k ) e do
de energia cinética por colisão ser pequena, uma fração deles pode ser espalhada
decréscimo em (que tende a diminuir o valor de k ). O cálculo real de , e é muito
dentro de faixas de energia de ressonância e serem absorvidos. Entretanto, muitos
mais complicado para um conjunto heterogêneo do que para um conjunto homogêneo.
nêutrons podem passar através de blocos sem serem absorvidos, podendo escapar de
colisões elásticas junto aos núcleos de urânio ou ser espalhados, mas não dentro de Valores de até k = 1,075 foram obtidos para reatores a urânio natural moderados a
uma faixa de ressonância. A probabilidade de uma ressonância de absorção dentro do grafite e valores de até k = 1,21 foram obtidos para reatores a urânio natural
bloco é, portanto, menor do que na superfície do bloco. Em outras palavras, os moderados a água pesada.
núcleos de 238U dentro do bloco têm uma chance menor de capturar nêutrons durante Num conjunto heterogêneo combustível nuclear/moderador (rede), a escolha
o processo de moderação do que os núcleos de 238U situados perto da superfície do do espaçamento da rede, ou seja, a distância entre os elementos combustíveis,
bloco, existindo assim uma certa “auto-blindagem” do urânio contra uma ressonância também é importante. Do ponto de vista da economia de nêutrons, a escolha envolve
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um balanceamento entre as propriedades de moderação e difusão do conjunto. Se o Taxa de fuga + Taxa de absorção = Taxa de produção
moderador é um absorvedor muito fraco (D2O ou grafite), a distância entre os blocos
deve ser suficientemente grande para que, em média, os nêutrons rápidos de um Para se determinar a taxa de fuga de nêutrons do reator, é necessário
bloco sejam moderados a energias cinéticas térmicas antes de alcançar um outro introduzir o conceito de corrente de nêutrons. Em um meio que apresenta baixa
bloco. Existe uma grandeza Ls , denominada comprimento de moderação, que pode absorção e bastante espalhamento de nêutrons, foi observado experimentalmente que
ser determinada experimentalmente ou calculada teoricamente, a qual constitui uma os nêutrons tendem a se difundir da região que tem alta população de nêutrons para
medida de quão longe um nêutron de fissão viaja em média, enquanto está sendo aquela que tem baixa população de nêutrons, conforme ilustra a figura 11.
moderado a energias cinéticas térmicas. Os valores do comprimento de moderação Basicamente, por meio de inúmeros espalhamentos, a população de nêutrons tende a
para alguns moderadores estão listados na tabela 8, juntamente com , denominada se tornar uniforme no meio. A partir desta constatação experimental foi estabelecida a
área de moderação. Para reatores moderados com D2O ou grafite, o espaçamento da lei de Fick para a corrente de nêutrons
rede deve perfazer pelo menos um comprimento de moderação. A água comum é um
absorvedor muito mais forte que a água pesada ou grafite, de maneira que um
[nêutrons/cm2.s] (59)
espaçamento da rede igual a um comprimento de moderação permitiria muita
absorção de nêutrons lentos. Portanto, em um reator contendo urânio enriquecido no
isótopo 235U e moderado com H2O, as barras de combustível devem estar próximas e onde D é o coeficiente de difusão do meio e v a velocidade média do nêutron no meio.
teria que ser muito menor do que para o D2O ou grafite. O coeficiente de difusão indica quanto o meio é difusor de nêutrons. Quanto maior for
o valor de D, maior será a difusão dos nêutrons através do meio. A equação (59)
Moderador Ls (cm) (cm2) mostra também que quanto maior a energia cinética (e portanto a velocidade) do
H2O 5,3 28 nêutron, maior será a difusão do mesmo através do meio.
D2O 11,2 125
Be 9,8 96
C 19,1 364
Tabela 8 - Valores do comprimento e área de moderação para diversos moderadores.
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(68)
2 (60)
onde s é o comprimento de moderação (também chamado comprimento de difusão
rápida) apresentado na seção C.5 e 2 é denominada área de migração de nêutrons.
onde A é a área transversal do reator (considerada como sendo infinita). A taxa de A equação de balanço dos nêutrons torna-se então
fuga fornece o número líquido de nêutrons que deixam por segundo uma chapa de
espessura dx através de uma área A normal a dx. 1
A taxa de absorção é dada por (69)
1 (65) onde
1
Define-se um comprimento de difusão para o reator, utilizando a expressão B2 = (72)
(66) sendo A e C constantes arbitrárias. Entretanto, senBx não é uma função simétrica em
relação a x = 0, de modo que C deve ter um valor nulo e a solução fica sendo somente
onde D e a são definidos pelas expressões (59) e (62), respectivamente. A equação n(x) = A cosBx (73)
de balanço dos nêutrons torna-se então
Aplicando-se a condição de contorno (70) à solução (73), resulta
1
(67)
(74)
2 112
A equação (67) acima é conhecida como equação de difusão de nêutrons pois,
para tratar a fuga de nêutrons, utiliza a lei de Fick de difusão de nêutrons. A expressão (74) dá a espessura crítica do reator em termos das propriedades
Agora é possível levar em conta o fato de que os nêutrons de fissão são nucleares representadas por k e = ( 2 + )1/2. A distribuição da densidade de
emitidos como nêutrons rápidos e devem ser moderados a energias cinéticas nêutrons em função da posição é dada por
térmicas. Se o reator é bem moderado, ou seja, se quase todas as fissões (da ordem
de 95%, por exemplo) são produzidas por nêutrons térmicos, a grandeza 2 pode ser
substituída por n(x) = A cos (75)
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onde A é uma constante arbitrária cujo valor é determinado pela taxa de remoção de C.7 - Conversão e regeneração
calor ou pelo nível de potência do reator. A expressão (74) mostra que: a) para k < 1
não existe valor real para a espessura crítica, b) para k = 1 a espessura crítica O futuro da indústria de potência elétrica baseada na fissão nuclear levanta a
é infinita, c) para k >1 valor da espessura crítica é finito. questão da disponibilidade e custo do material físsil. Até esta parte, os materiais
O tamanho crítico de um reator nuclear térmico pode ser calculado para outras físseis considerados foram o 235U, o 239Pu e o 233U, nenhum dos quais está disponível
formas geométricas do arranjo combustível nuclear + moderador, utilizando-se para na natureza em grandes quantidades. Seria ineficiente obter potência em escala
tanto o mesmo método apresentado anteriormente e coordenadas adequadas. Alguns grande a partir da fissão do 235U, pois apenas 0,72% do urânio disponível poderia ser
resultados são de interesse e merecem ser mencionados. O raio crítico Rc de um usado diretamente. O plutônio tem sido obtido pela fissão do 235U em um reator
reator esférico é contendo 238U, mas este processo é complicado e dispendioso. Analogamente, o 233U,
que a exemplo do plutônio não ocorre na natureza, pode ser obtido num reator
contendo 232Th. Apesar do problema da disponibilidade e custo de combustíveis
Rc = (76) nucleares ser um problema sério, uma única e notável solução é possível por causa de
112 uma das propriedades nucleares do processo de fissão. Esta propriedade é a
emissão, em média, de mais de dois nêutrons por fissão.
e o comprimento da aresta de um cubo crítico é dado por Para fins de exemplo, será considerado que três nêutrons são emitidos por
fissão. Um destes nêutrons é necessário para manter a reação em cadeia
3 funcionando, por meio da indução de fissão em outro átomo de combustível (por
Ac = (77) exemplo, um átomo de 235U). Dos dois nêutrons que sobram, um pode ser usado para
11 2 converter um átomo de urânio em um átomo de plutônio, restando ainda um nêutron.
Se este último nêutron pudesse ser usado para produzir um outro átomo de plutônio a
A esfera apresenta uma razão superfície/volume menor do que o cubo, e um volume partir de um outro átomo de 238U, um átomo de 235U estaria sendo usado e dois átomos
crítico menor. Para a esfera, o volume crítico é de 239Pu estariam sendo produzidos, deixando um lucro de um átomo de material físsil.
O resultado final do processo seria a produção de mais material físsil do que é
3 2 consumido.
4 É claro que este exemplo está bastante simplificado. É inevitável que alguns
Vc = 130 (78)
3 1 nêutrons sejam perdidos por escape ou por absorção pelos outros materiais que
compõem um reator, porém enquanto mais de dois nêutrons forem emitidos na fissão,
existe a possibilidade de novos núcleos de material físsil serem produzidos no núcleo
enquanto que, para o cubo, este volume perfaz
do reator enquanto este estiver operando. Para caracterizar quantitativamente este
3 2
processo, é necessário considerar a razão entre o número de núcleos físseis criados e
o número de núcleos físseis consumidos. Se esta razão for menor que um, a mesma é
Vc = 161 (79) denominada taxa de conversão, porém se for maior ou igual a um, a mesma é
1 denominada taxa de regeneração. A utilização da regeneração, em conjunto com o
reprocessamento do combustível nuclear utilizado, tornaria possível a um reator fazer
ou cerca de 24% maior que o volume crítico da esfera. A massa crítica do urânio pode novo combustível para uso próprio e, além disso, dar origem a um estoque de material
ser determinada a partir do volume crítico e da massa de urânio por unidade de físsil que poderia ser acumulado para uso em novos reatores.
volume do reator. Esta última é um dos parâmetros básicos de projeto. O processo de regeneração de material físsil depende de dois materiais, um
É comum que um reator seja construído com um tamanho maior do que o dos quais é físsil e um outro que é fértil. O 238U (fértil) e o 239Pu (físsil) formam um par
tamanho crítico, ou seja, com uma configuração tal que k = 1 + , onde é chamado deste tipo. Outro par é formado pelo 232Th (fértil) e o 233U (físsil). Considerando o
excesso de reatividade. O excesso de reatividade é necessário para que os nêutrons primeiro par e supondo que 239Pu suficiente esteja disponível para alcançar uma
sejam usados, ou na forma de feixes saindo do reator através de canais, ou sendo reação em cadeia em meio a um sistema que pode ser usado para gerar potência: a
absorvidos dentro do reator para produzir novos radioisótopos, ou ainda para outras fissão do 239Pu por nêutrons térmicos produz três nêutrons, de maneira que se alguns
finalidades. A existência de um excesso de reatividade torna necessário haver um destes nêutrons pudessem ser absorvidos no 238U para formar mais 239Pu, um ciclo de
sistema de controle do reator, constituído em geral por fortes absorvedores de regeneração poderia ser conseguido. Neste caso, o 238U é o material fértil, porque
nêutrons, tais como barras de cádmio ou compostos de boro. O valor real do fator de apesar de não ser físsil de maneira útil, pode ser convertido em um bom material físsil,
multiplicação no reator em operação pode ser mantido próximo da unidade por sendo concebível que um reator possa ser construído com base em um sistema que
intermédio do ajuste apropriado das barras de controle. produz mais plutônio do que consome. A propriedade nuclear que determina se a
O escape de nêutrons de um reator pode ser reduzido circundando o reator possibilidade de regeneração existe não é o valor do número médio de nêutrons
com um refletor feito de um absorvedor de nêutrons fraco. A grafite é usada emitido por fissão, designado por , mas sim o número médio de nêutrons produzido
freqüentemente com este propósito. O refletor devolve nêutrons que de outra maneira por nêutron absorvido no combustível, designado por . Isto ocorre porque a captura
deixariam o reator, e o escape diminuído reduz o tamanho crítico do reator, com a sem fissão de nêutrons pelo combustível pode ser suficientemente grande para
economia em combustível nuclear daí resultante. O sistema do reator, incluindo o
interferir decisivamente na regeneração. O valor de obtido para a incidência de
refletor, deve ser envolvido por uma blindagem, em geral feita de concreto, com a
nêutrons térmicos no plutônio é 2,08 0,02, sendo portanto apenas ligeiramente maior
finalidade de reduzir a intensidade das radiações (nêutrons e raios-gama) que
que dois. Este resultado parece tornar impraticável a regeneração do 239Pu em um
escapam para o ambiente externo a valores abaixo de limites que representam algum
reator térmico. Entretanto, a razão entre a seção de choque para fissão e a seção de
risco biológico.
choque total para absorção é mais próxima da unidade em energias cinéticas elevadas
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dos nêutrons incidentes, de maneira que e apresentam valores próximos em um C.9 - Coeficientes de reatividade
reator rápido. Como conseqüência, a regeneração do 239Pu torna-se possível em um
sistema de nêutrons rápidos que contenha 238U e 239Pu. Conforme destacado anteriormente, a reatividade de um reator nuclear varia de
O valor de para a incidência de nêutrons térmicos no 233U perfaz 2,28 0,02, acordo com diversos parâmetros, entre os quais a temperatura. A variação da
fato que torna aparentemente possível obter a regeneração deste nuclídeo físsil a reatividade expressa em relação à variação de um determinado parâmetro x (por
partir do 232Th em sistemas de reatores térmicos. Um sistema contendo 233U e 232Th exemplo: temperatura, pressão, potência, etc.) é denominada coeficiente de
também poderia ser usado como reator rápido, mas o valor maior de para o 239Pu reatividade devido ao parâmetro x, de maneira que, por definição
favorece o uso deste último material em reatores regeneradores rápidos.
Se a regeneração pudesse ser conseguida, tanto o 238U quanto o 232Th
poderiam converter-se em materiais físseis. O aumento da quantidade de (82)
combustíveis nucleares disponíveis abriria perspectivas promissoras para o futuro da
indústria nuclear a longo prazo. ou ainda
1
C.8 - Reatividade (83)
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exigência tem a finalidade de tornar o reator intrinsecamente seguro no que concerne b) considerando a existência tanto de nêutrons prontos quanto de nêutrons atrasados
a acidentes que causem aumento da temperatura do núcleo. (caso real)
O período de um reator nuclear é o tempo necessário para que a potência do controle possível
reator aumente por um fator igual a e = 2,718282, sendo definido como:
A.1 - Introdução
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O revestimento que envolve o combustível nuclear possui três funções: a) evita
2
a liberação de produtos de fissão no refrigerante quando o mesmo passa pelo núcleo (5)
do reator, b) proporciona suporte e reforço estrutural ao combustível nuclear, c) amplia
a área da superfície externa do elemento combustível em certos tipos de reatores
(principalmente naqueles refrigerados a gás), de maneira a tornar mais efetiva a Esta equação será aquela utilizada para analisar as temperaturas em elementos
transferência de calor para o refrigerante. Os materiais adequados para o revestimento combustíveis de reatores nos quais energia foi liberada por fissão nuclear.
devem satisfazer alguns requisitos entre os quais se destacam: baixa seção de Considerando-se que toda a energia liberada por fissão nuclear é depositada
choque para captura radiativa de nêutrons, elevada condutividade térmica, boa no combustível, a taxa de liberação de energia por unidade de volume do combustível
resistência mecânica em altas temperaturas e inércia química em relação ao é dada por :
combustível nuclear e ao refrigerante. Os materiais mais utilizados no revestimento de
combustíveis nucleares são alumínio, ligas de magnésio (denominadas Magnox, (6)
atualmente em desuso), aço inoxidável e ligas de zircônio (denominadas Zircaloy).
A equação de Fourier que define a relação entre o fluxo de calor e o gradiente onde = 200 MeV = 3,2.10 11
J é a energia liberada na fissão de um átomo de
de temperatura para condução de calor unidimensional é dada por:
material físsil presente no combustível, é a seção de choque macroscópica
média para fissão do material físsil presente no combustível e é o fluxo de nêutrons
(1) térmicos (número de nêutrons térmicos/cm2.s) que incide no combustível em
condições estacionárias de operação do reator nuclear. A taxa de liberação de energia
sendo Q a taxa de transferência de calor (J/s W), A a área através da qual o calor é também pode ser expressa por unidade de massa do combustível como
transferido (m2), dT/dx o gradiente de temperatura no ponto considerado (0C/m) e k a 8
condutividade térmica do material (W/m.0C). O sinal negativo indica que o calor é 3 2 10
transferido na direção de temperaturas decrescentes. (7)
A equação (1) pode ser escrita também da seguinte maneira:
onde é o fluxo de calor (W/m2). A perda de calor por intermédio de condução pode liberação de energia e com a taxa máxima de liberação de energia por unidade
ser generalizada para abranger um meio tridimensional, resultando: de massa do combustível através das equações
(3)
(8)
onde o operador laplaciano 2 pode ser escrito em coordenadas retangulares,
cilíndricas ou esféricas de acordo com a forma geométrica do meio no qual ocorre a
condução de calor. e
A equação geral para condução de calor em um meio tridimensional no qual
energia é liberada (por exemplo, como resultado de fissão nuclear) resulta, por
unidade de volume: (9)
(12) (15)
3
onde A é o número de massa dos átomos da substância que constitui o combustível onde TF é a diminuição de temperatura do centro para a superfície do combustível
nuclear e é a seção de choque macroscópica para espalhamento de nêutrons por nuclear. A distribuição de temperatura no interior do combustível nuclear é parabólica.
esta substância. A distância de extrapolação surge como conseqüência de que o fluxo Não há liberação de energia no revestimento e o calor conduzido por unidade
de nêutrons, ao atravessar a superfície livre de um meio, anula-se apenas a uma de área através do mesmo em cada lado do combustível é a (em unidades W/m2).
distância fixa situada além dos limites desta superfície. Para a maioria dos materiais, Usando a equação (2) neste caso específico, resulta a expressão:
a distância de extrapolação perfaz cerca de 2 cm.
Uma vez que os elementos combustíveis a serem estudados apresentam a
forma de cilindros finos ou placas, considera-se que o fluxo de nêutrons e (16)
consequentemente a taxa de liberação de energia são uniformes através do
combustível nuclear. Esta aproximação despreza a atenuação do fluxo de nêutrons no
interior do combustível, que é pequena se a espessura do combustível for pequena. que integrada entre x = a e x = a + b, fornece
(18)
1
(13) (19)
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pastilhas de UO2 e a superfície interna do revestimento, b) a condutividade térmica do
UO2 é independente da temperatura.
Em geral, combustíveis nucleares do tipo mencionado no parágrafo anterior
são fabricados com um espaçamento radial de cerca de 0,1 mm entre as pastilhas de
UO2 e a superfície interna do revestimento. Dilatação térmica do combustível (devido à
temperatura de operação do reator) e alterações no formato do combustível
(decorrentes de longos períodos de irradiação) acabam reduzindo este espaçamento
de maneira não uniforme para cerca de apenas 0,01 mm. Inicialmente, este
espaçamento é preenchido com gás hélio, porém conforme o combustível vai sendo
irradiado, fissuras surgem nas pastilhas e produtos de fissão gasosos (principalmente
xenônio e criptônio) se difundem por elas até alcançarem o espaçamento, o que altera
as características de condução térmica do mesmo.
A transmissão de calor através do espaçamento pode ser caracterizada pela
condutância térmica dada por:
0
(25)
(28)
(23)
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A solução desta equação, obtida por meio de integração, pode ser escrita como: A temperatura do refrigerante em qualquer ponto do núcleo do reator depende
de sua temperatura ao entrar no núcleo e do calor que foi transferido a ele até o ponto
em questão.
(30) A figura 3 mostra um elemento combustível cilíndrico de comprimento L,
posicionado no respectivo canal de refrigeração. O comprimento extrapolado do
núcleo é L’. A temperatura com a qual o refrigerante ingressa no canal é designada por
onde TF e Tf são respectivamente as temperaturas na linha central e na superfície da TC1, enquanto a temperatura com a qual o refrigerante deixa o canal é designada por
pastilha. TC2. Será assumido que não há condução de calor na direção axial do elemento
Valores da condutividade térmica do UO2 foram medidos e a integral que combustível, de maneira que toda a energia liberada em uma seção do combustível é
aparece no lado esquerdo da equação (30) é geralmente tabelada em função da
transferida radialmente para fora, sendo absorvida pelo refrigerante em circulação
temperatura T, sendo necessário consultar estas tabelas para, uma vez conhecida a quando este passa por aquela seção.
temperatura na superfície da pastilha de UO2, determinar a temperatura no centro da
mesma ou vice-versa.
É importante destacar que as equações mostradas ao longo desta parte
expressam as diminuições de temperatura através do combustível nuclear e do
respectivo revestimento, não fornecendo diretamente a temperatura em que de fato se
encontram estes componentes. Para determinar estas temperaturas, é necessário
conhecer a diminuição de temperatura da superfície externa do revestimento para o
refrigerante e também a temperatura do refrigerante em qualquer posição no núcleo
do reator.
A equação geral para a transferência de calor por convecção entre uma dada
superfície e um fluido que escoa ao longo desta superfície é dada pela equação de
Newton:
(31)
ou ainda
(32)
Figura 3 - Escoamento e temperaturas do refrigerante no canal de refrigeração do
onde Q é a energia transferida para o fluido por unidade de tempo (J/s W), é a elemento combustível central.
diferença entre a temperatura da superfície e a temperatura da massa de fluido que
escoa ao longo da superfície (0C), h é o coeficiente de transferência de calor Um balanço de energia para o refrigerante que escoa passando por uma seção
(W/m2.0C), A é a área da superfície em contato com o fluido (m2) e é a energia do combustível de comprimento dz em z é dada por:
transferida para o fluido por unidade de tempo e por unidade de área (J/s.m2 W/m2).
No caso do elemento combustível tipo placa, a diminuição de temperatura em (35)
qualquer ponto da superfície do revestimento para o refrigerante é dada por:
onde é a vazão do refrigerante que escoa passando pela seção mencionada
(kg/s), cP é o calor específico do refrigerante (J/kg.0C) e dTC é o aumento de
(33) temperatura do refrigerante no comprimento dz (0C).
A partir da equação (35), a temperatura do refrigerante em qualquer ponto do
canal pode ser encontrada por integração:
e no caso do elemento combustível cilíndrico esta diminuição de temperatura é dada
por:
(36)
(34)
que fornece como resultado
A diminuição total de temperatura do centro do combustível para o refrigerante é
calculada pela soma TF + Tcl + c. (37)
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O aumento de temperatura do refrigerante em todo o canal é dado por:
(45)
(38)
(39) (46)
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A.4 - Transferência de calor por convecção forçada As propriedades do fluido a serem incluídas nesta equação são aquelas medidas à
temperatura Tb em que se encontra toda a massa em escoamento. A temperatura da
A equação (31) expressa a transferência de calor por convecção da superfície massa de um fluido em qualquer ponto z de um duto no qual escoa e está sendo
externa do revestimento para o refrigerante. O principal problema que surge ao usá-la aquecido é definida pela equação:
consiste em determinar o coeficiente de transferência de calor h. O método mais
comum para correlacionar dados de transferência de calor por convecção utiliza 1
(50)
equações nas quais as propriedades do fluido, dimensões do sistema, e outras
características relevantes são arranjadas em grupos adimensionais. As constantes
que aparecem nestas equações são determinadas experimentalmente. O escoamento onde T0 é a temperatura com a qual a massa de fluido ingressa no duto, z0 é o ponto
de refrigerante em um reator nuclear ocorre por meio de convecção forçada, uma vez
que o fluido é bombeado através do núcleo do reator. Os grupos adimensionais no qual o fluido ingressa no duto e é o calor transferido ao fluido por unidade de
geralmente usados em equações que descrevem a convecção forçada são: comprimento do duto.
No caso de alguns fluidos, certas propriedades (especialmente a viscosidade)
variam consideravelmente com a temperatura, de maneira que se houver uma
O número de Reynolds diferença acentuada entre as temperaturas da parede do duto e da massa de fluido
esta variação deve ser considerada. Para tanto, a equação de Sieder-Tate utiliza a
seguinte correlação:
O número de Prandtl
(51)
O número de Nusselt
Nesta equação, todas as propriedades do fluido são aquelas medidas à temperatura
Tb em que se encontra a totalidade da massa em escoamento, exceto w, que é
O número de Stanton medida à temperatura Tw da parede do duto.
A equação de Colburn também leva em conta variações de propriedades na
camada de fluido situada próxima da parede aquecida do duto. Esta equação é dada
O número de Peclet por:
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Refrigerante (Pr) h [W/m2.0C]
Gases 0,8 50 a 500
Água 1a7 2000 a 20000
Metais líquidos 0,01 5000 a 50000
Tabela 1 - Valores típicos de (Pr) e coeficientes de transferência de calor para
refrigerantes usados em reatores nucleares.
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operação normal, mas também reatores refrigerados a água pressurizada (PWR) nos Água e água pesada são apropriadas para uso em reatores térmicos nos quais
quais ebulição sub-refrigerada ou ebulição nucleada podem ocorrer. Muito trabalho podem desempenhar tanto a função de moderador quanto a de refrigerante.
experimental foi feito para desenvolver correlações empíricas que envolvem, entre os Entretanto, apresentam a grande desvantagem de que temperaturas elevadas destes
parâmetros relevantes, o fluxo de calor, as temperaturas da superfície e do fluido, a refrigerantes requerem pressões elevadas sobre o sistema e portanto vasos de
pressão do fluido, a velocidade de escoamento do fluido, a fração de secura (ou contenção muito fortes. Outra desvantagem consiste no fato de que a temperatura
qualidade de vapor) e as dimensões do sistema. Em linhas gerais, pode-se afirmar máxima da água é limitada ao valor da temperatura crítica, que perfaz 374 0C. A seção
que estes parâmetros afetam o fluxo de calor crítico da seguinte forma: a) aumento da de choque para captura radiativa de nêutrons pela água é razoavelmente elevada,
pressão pode causar diminuição do valor do fluxo de calor crítico, b) aumento da sendo necessário utilizar combustíveis nucleares contendo urânio enriquecido para
velocidade de escoamento do fluido causa aumento do valor do fluxo de calor crítico, compensar este efeito. Por sua vez, a água pesada apresenta seção de choque para
c) aumento da fração de secura causa diminuição do valor do fluxo de calor crítico. captura de nêutrons muito baixa, porém é muito cara. Tanto o uso de água quanto de
O fluxo de calor durante a ocorrência de ebulição nucleada pode ser água pesada como refrigerante requerem o uso de aço inoxidável ou Zircaloy como
relacionado à temperatura da superfície aquecida por meio da seguinte equação: material de revestimento do combustível nuclear.
Sódio e a liga eutética sódio-potássio são os metais líquidos mais usados como
refrigerante. Apresentam temperaturas de saturação elevadas à pressão atmosférica,
tornando desnecessário o uso de um sistema de refrigeração pressurizado. Entretanto,
(54)
a reação nuclear de captura radiativa 23Na(n, )24Na gera um radioisótopo emissor de
raios-gama, de maneira que os trocadores de calor primários devem ser blindados e
onde C e n são constantes. O valor de n é cerca de 4, sendo portanto evidente que o um circuito secundário de refrigerante precisa ser usado para a geração de vapor. As
fluxo de calor aumenta rapidamente com o aumento da temperatura Ts da superfície reações químicas violentas que ocorrem quando sódio metálico é colocado em contato
durante a ebulição nucleada. Este fato é mostrado na região 2 da figura 4. com ar ou água tornam imprescindível eliminar qualquer possibilidade de vazamento
do refrigerante. A seção de choque para captura radiativa de nêutrons lentos pelo
sódio é razoavelmente alta, o que torna este metal inadequado para uso como
A.6 - Escolha do refrigerante para reatores nucleares refrigerante em reatores térmicos. Esta propriedade, em conjunto com uma
característica não moderadora, faz do sódio metálico um refrigerante mais apropriado
O refrigerante para um reator nuclear pode ser um gás, água ou água pesada, para uso em reatores rápidos.
ou um metal líquido como sódio ou liga sódio-potássio. Independente do estado físico
em que se encontra, o refrigerante deve possuir as seguintes características:
A.7 - Circulação de refrigerante pelo núcleo de um reator
a) Baixa seção de choque para absorção de nêutrons. Isto é essencial, uma vez que a
economia de nêutrons no reator não permite uma absorção elevada de nêutrons pelo Ao escoar em regime estacionário no interior de um tubo cilíndrico posicionado
refrigerante. No caso de um reator térmico, é também desejável que o refrigerante horizontalmente, um fluido ideal apresenta a mesma pressão em todas as seções. O
exerça um efeito moderador, o que requer baixo número de massa e elevada seção de mesmo não se verifica, porém, no caso do escoamento de um fluido real, que sofre
choque para espalhamento de nêutrons. queda de pressão ao longo do tubo. Fato análogo ocorre com o refrigerante líquido ou
gasoso em circulação pelo núcleo de um reator.
b) Valores elevados de calor específico, massa específica, condutividade térmica e Quando o refrigerante escoa através dos canais de combustível existentes no
coeficiente de transferência de calor. As duas primeiras propriedades determinam a núcleo de um reator, ele sofre uma diminuição de pressão que ocorre devido
quantidade de energia por unidade de volume que o refrigerante tem a capacidade de principalmente a dois fenômenos. O primeiro é o atrito entre o refrigerante e as
transportar, enquanto as duas outras propriedades controlam a diminuição de paredes dos canais, somado a perdas localizadas que ocorrem em componentes
temperatura da superfície externa do revestimento para o refrigerante. como cotovelos de tubulações e válvulas. O segundo é a aceleração de escoamento
do refrigerante como resultado da diminuição de sua massa específica com o aumento
c) Boa estabilidade. O refrigerante não deve reagir quimicamente com outros da temperatura. O efeito causado pelo segundo fenômeno é geralmente pequeno em
componentes do reator com os quais entra em contato direto, tampouco deve se um reator cujo refrigerante é líquido, mas pode ser relevante em um reator refrigerado
decompor quando submetido a condições de alta temperatura e irradiação. a gás. Um terceiro efeito devido à diminuição de pressão ao longo do canal, causando
uma redução adicional de massa específica e portanto aceleração, é muito pequeno e
d) Baixa atividade induzida por nêutrons. Em vários reatores de potência, os será desprezado.
trocadores de calor não possuem blindagem protetora contra raios-gama, sendo O efeito do atrito no escoamento em tubos é levado em conta por meio da
portanto importante que o refrigerante não se torne radioativo ao passar através do introdução do fator de atrito de Fanning, denotado por f e definido pela equação:
núcleo como resultado da absorção de nêutrons. Caso o refrigerante fique ativado de
fato, os trocadores de calor primários devem ser blindados e um circuito secundário
contendo refrigerante não ativado precisa ser usado para a geração de vapor. (55)
Hélio e dióxido de carbono são os gases mais apropriados para uso como
refrigerante. O custo elevado do hélio é o principal fator que tem impedido o uso deste onde é a tensão de cisalhamento na parede do tubo.
w
gás em reatores de potência de grande porte, nos quais o vazamento de gás O fator de atrito de Fanning foi determinado experimentalmente para
refrigerante pode ser significativo. Entretanto, reatores refrigerados a gás e que escoamento turbulento em tubos comerciais lisos, sendo a correlação empírica
operam a temperatura elevada podem no futuro usar hélio.
(56)
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geralmente aceita. É interessante comparar esta equação com uma forma modificada desprezadas e f pode ser considerado como constante ao longo do comprimento do
da equação de Dittus-Boelter: canal. Para fluidos incompressíveis como a água, tanto quanto v são constantes, de
maneira que a variação de pressão resulta:
(57)
Se (Pr) é igual ou aproximadamente igual à unidade, esta equação assume a seguinte (63)
forma simplificada
(59) 1
(64)
(66)
Figura 5 - Diminuição de pressão em um canal.
O segundo termo do lado direito da equação (62), mediante o uso das equações de
A equação de continuidade para o escoamento é , e o balanço das continuidade e do gás, pode ser escrito como:
forças que atuam no fluido contido em um elemento do canal cujo comprimento é dz
resulta na expressão:
(67)
(60)
A solução da equação (62) para a diminuição de pressão em um gás resulta portanto
na expressão:
ou, considerando que de = 4A/P:
4 (68)
(61)
ou ainda
Usando a equação de continuidade para substituir /A por v e integrando ao longo
do canal entre os limites L/2 e L/2, encontra-se:
(69)
(62)
Em um reator refrigerado a gás, o termo de temperatura (TC2 TC1) / contribui em
0,2 geral com cerca de 10% da diminuição da pressão no núcleo.
O fator de atrito f, que é proporcional a (Re) , pode ser afetado por mudanças de
As equações (63) e (69) fornecem a diminuição de pressão somente no canal
temperatura, mas as variações na viscosidade elevadas à potência 0,2 podem ser
do elemento combustível, de maneira que efeitos verificados na entrada e na saída do
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canal, assim como em outras partes do circuito de refrigeração, não estão incluídos.
Ao entrar no núcleo, o refrigerante experimenta uma contração súbita em seu
escoamento, pelo fato de passar dos tubos de comunicação de entrada para os canais
do elemento combustível.
Esta situação é semelhante ao escoamento de um fluido que passa por uma
contração súbita de um tubo com diâmetro grande para um tubo com diâmetro
pequeno. Na saída do núcleo ocorre o processo inverso, com o refrigerante
experimentando uma expansão similar ao escoamento que ocorre em um tubo cujo
diâmetro interno é aumentado subitamente. Estes dois processos produzem
redemoinhos e turbulência no escoamento que resultam em perdas de altura de carga,
apesar das perdas na saída poderem ser reduzidas pelo uso de um difusor nesta
extremidade do canal. Assumindo-se a ocorrência de escoamento incompressível sem
qualquer difusor na saída e que a velocidade do refrigerante é desprezível nos tubos
de comunicação de entrada e saída, então a perda combinada de pressão em ambas
as extremidades do canal é dada pela seguinte expressão aproximada:
(70)
(74)
onde P é a massa específica do refrigerante nas bombas. Esta potência é adicionada
à potência térmica fornecida pelo reator para obter a energia total transferida ao vapor
sob a forma de calor. Com a finalidade de tornar o valor de W o menor possível, P Nestas circunstâncias, a eficiência térmica geral da usina resulta:
deve ser a maior possível e as bombas de circulação devem ser posicionadas no
ponto de menor temperatura do circuito: a entrada para o reator. Neste caso P = 1.
Também sob o ponto de vista mecânico, é desejável que as bombas sejam instaladas (75)
no ponto de menor temperatura do circuito.
Apesar da equação (71) fornecer a potência necessária para fazer o
refrigerante circular, a potência requerida para acionar as bombas é maior que aquela O efeito da potência de bombeamento na eficiência térmica geral da usina
por um fator 1/ P, onde P é a eficiência eletromecânica dos motores das bombas. A pode ser avaliado quantitativamente usando a expressão (75). Se PP = 0,05.Qr (valor
potência de bombeamento, portanto, é dada por: típico para um reator refrigerado a gás), T = 0,35 e P = 0,90, então G = 0,316. Este
valor representa uma redução de aproximadamente 9% na eficiência térmica geral.
Um critério útil para avaliar o desempenho de refrigerantes gasosos pode ser
1
(72) estabelecido considerando um reator com uma potência térmica fixa igual a Qr,
dimensões fixas e temperaturas fixas do combustível nuclear e do refrigerante. A taxa
de escoamento, o calor específico e a massa específica dependem da pressão e do
Esta potência deve ser fornecida pela usina, em geral como uma fração da potência tipo de refrigerante gasoso utilizado. A potência de bombeamento pode ser escrita
elétrica produzida pelos turbo-geradores. como:
O efeito da potência de bombeamento na potência elétrica total e na eficiência térmica
geral da usina é ilustrado por meio da figura 6, que mostra esquematicamente a 2
estrutura de um reator de potência típico.
4
(76)
Se a potência térmica fornecida pelo reator é Qr e a potência necessária para
fazer o refrigerante circular é W ou PPP, então a potência térmica total fornecida pela
usina é (Qr + PPP). Desprezando-se perdas, esta é a energia transferida ao vapor por O termo de temperatura é constante e o fator de atrito f pode ser escrito, usando a
unidade de tempo sob a forma de calor. expressão (59), como:
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2 2 B - ASPECTOS TERMODINÂMICOS DE USINAS
2 (77)
NUCLEOELÉTRICAS
Uma vez que a potência térmica fornecida e as temperaturas do combustível nuclear e
do refrigerante foram consideradas fixas, h é constante e consequentemente o fator de
B.1 - Introdução
atrito f também o é. Encontra-se então a expressão:
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núcleo do reator, ou o refrigerante pode ser separado do moderador e escoar em B.3 - Considerações gerais de termodinâmica
tubos de pressão existentes entre o combustível nuclear e o moderador.
A função de um ciclo de potência termodinâmico é converter calor em trabalho.
Conforme enuncia a segunda lei da termodinâmica, é impossível converter calor inteira
e continuamente em trabalho, de maneira que se deve procurar converter em trabalho
o máximo possível do calor recebido. A eficiência termodinâmica de um ciclo de
potência é dada pela razão entre o trabalho fornecido e o calor recebido.
O ciclo de potência termodinâmico básico é o ciclo de Carnot. Neste ciclo todo
o calor é recebido isotermicamente a uma temperatura T1 e todo o calor rejeitado é
liberado isotermicamente a uma temperatura mais baixa T2. Todos os processos deste
ciclo são reversíveis e a eficiência térmica do mesmo é dada pela expressão:
(81)
(83)
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O termo da expressão (85) contido entre parênteses é positivo pois, conforme
destacado anteriormente, sB > sA . O sinal negativo da quantidade à direita na
expressão (85) indica que há uma perda de energia disponível, a qual representa a
taxa de perda de “trabalho possível” (energia útil) ocorrida no trocador de calor como
resultado da transferência de calor irreversível.
A perda de “trabalho possível” pode ser reduzida pela diminuição da diferença
de temperatura entre os dois fluidos no trocador de calor. Entretanto, qualquer
decréscimo na diferença de temperatura significa que, para uma dada potência
térmica fornecida pelo reator, a superfície de transferência de calor e
consequentemente o tamanho e custo do trocador de calor devem ser aumentados.
Nestas circunstâncias, torna-se necessário encontrar a solução economicamente mais
viável no que se refere à diferença de temperatura entre os fluidos primário e
secundário em trocadores de calor.
Como exemplo simples será considerada uma usina nucleoelétrica cujo reator
é refrigerado a gás, do tipo representado esquematicamente na figura 8. Nestas
considerações serão utilizados alguns valores de grandezas termodinâmicas que são
típicos dos primeiros reatores nucleares refrigerados a gás, com a finalidade de
determinar a perda de energia disponível ocorrida no trocador de calor.
Cabe destacar que a primeira usina nucleoelétrica do mundo, a de Calder Hall,
no Reino Unido, cujo funcionamento se iniciou em 1956 fornecendo 50 MW elétricos, é
do tipo considerado neste exemplo. Figura 11 - Diagrama temperatura-transferência de calor para um trocador de calor
A tabela 3 relaciona valores de grandezas termodinâmicas para os fluidos que tem CO2 como fluido primário e H2O como fluido secundário.
dióxido de carbono (CO2) e água (H2O) na entrada e na saída do trocador de calor em
um reator refrigerado a gás. Em processos de aquecimento ou resfriamento que são O cálculo apresentado a seguir é baseado na passagem de 1 kg de H2O
realizados enquanto a pressão é mantida constante, o calor transferido é dado pela através do trocador de calor.
variação da função termodinâmica denominada entalpia (denotada por H). Por ser este
o caso dos processos a que estão submetidos os fluidos no trocador de calor, os Calor transferido por kg de H2O = (3185 567) = 2618 kJ/kg
valores desta função em sua forma específica se encontram relacionados entre as
grandezas termodinâmicas mostradas na tabela 3.
Massa de CO2 escoada por kg de H2O = = 15,3 kg de CO2/kg de H2O
Grandezas Trocador de calor
Fluido
termodinâmicas Entrada Saída
= (6,639 1,687) = 4,952 kJ/kg.K
T (0C) 405 246
P (atm) 28
CO2 Estado físico Gasoso = 0,267 kJ/kg.K
h (kJ/kg) 171
s (kJ/kg.K) 0,267 Perda de energia disponível no trocador de calor por kg de H2O = 293.[4,952
T (0C) 135 395 (15,3.0,267)] = 254,0 kJ/kg
P (atm) 49
H2O
Estado físico Líquido Gasoso Energia disponível transferida para cada kg de H2O no trocador de calor = 2618
h (kJ/kg) 567 3185 (293.4,952) = 1167 kJ/kg
s (kJ/kg.K) 1,687 6,639
Tabela 3 - Valores de grandezas termodinâmicas para fluidos na entrada e na saída Na turbina o trabalho realizado / kg de vapor perfaz 792 kJ, e a perda de energia
do trocador de calor em um reator nuclear refrigerado a gás: temperatura (T), pressão disponível no ciclo de potência termodinâmico devido à expansão irreversível na
(P), entalpia específica (h), entropia específica (s), diminuição de entalpia específica turbina e rejeição irreversível de calor no condensador é (1167 792) = 375 kJ/kg de
( h) e diminuição de entropia específica ( s). Nos cálculos a serem efetuados, será vapor. Portanto, a perda de energia disponível no trocador de calor totaliza quase um
adotada a temperatura de referência T0 = 20 0C = 293 K. terço do trabalho efetivamente realizado, fato que ilustra o grau de complexidade
apresentado pela tarefa de projetar trocadores de calor para este tipo de usina
A figura 11 mostra o diagrama de temperatura-transferência de calor para um nucleoelétrica.
trocador de calor, considerando a massa de 1 kg de H2O. Observa-se que em todos os
pontos no interior do trocador de calor a temperatura da H2O é menor que a
temperatura correspondente do CO2. Outro fato digno de nota é que, devido à forma B.4 - Calor de decaimento dos produtos de fissão
característica do diagrama, a diferença de temperatura média entre a H2O e o CO2 é
muito maior que a menor diferença de temperatura verificada entre estes dois fluidos, Uma característica muito importante de um reator nuclear, particularmente se o
de maneira que a pressão do vapor de H2O gerado é muito baixa em comparação com mesmo esteve em operação durante um período de tempo muito longo, é que apesar
a pressão de vapor obtida em usinas nucleoelétricas mais modernas. do sistema de controle poder cessar a reação em cadeia muito rapidamente, com os
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nêutrons atrasados causando uma demora de alguns minutos antes que esta reação casos, pois neste intervalo de tempo são os produtos de fissão com meia-vida curta
seja completamente extinta, ainda há uma liberação de energia considerável pelo (T1/2 < 1 dia) os que mais contribuem para a potência de decaimento, os quais
combustível nuclear devida ao decaimento dos produtos de fissão radioativos alcançaram uma concentração de equilíbrio no reator antes do desligamento e
acumulados. Esta energia precisa ser retirada do núcleo por intermédio da circulação independentemente do tempo de operação do mesmo.
contínua de refrigerante, pois caso contrário a temperatura do combustível nuclear
subirá, podendo causar derretimento de componentes do núcleo ou reações químicas
que ocorrem a temperaturas elevadas, tais como a reação entre zircônio e vapor de
água em temperaturas maiores que 1200 0C. Em particular, esta reação produz
hidrogênio, o que acarreta risco adicional de explosão.
A descrição precisa e detalhada do decaimento dos diversos produtos de fissão
radioativos (cujas meias-vidas variam entre frações de segundo e dezenas de anos) é
possível, mas o equacionamento resultante torna-se complicado demais para ser
usado de maneira prática. Uma expressão simplificada para a liberação de energia
devida ao decaimento dos produtos de fissão radioativos pode ser obtida conforme
relatado a seguir.
A taxa de liberação de energia dPpf em qualquer instante t, devida ao
decaimento de produtos de fissão radioativos, gerados por um reator que tenha
operado a uma potência P durante um intervalo de tempo dt, é dada por:
(86)
A expressão (86) não é precisa, estando a acurácia da mesma na faixa de Figura 13 - Calor de decaimento dos produtos de fissão após o desligamento de um
50%. Utilizando-a e considerando um reator que tenha operado a uma potência reator.
estacionária P durante um tempo t0, a taxa de liberação de energia devida ao
decaimento de produtos de fissão radioativos decorrido um tempo ts após o Vários dias após o desligamento, a potência de decaimento é devida aos
desligamento deste reator, Ppf(t0,ts), pode ser obtida integrando a expressão (86) entre produtos de fissão com meia-vida longa, os quais ainda não tiveram tempo de
ts e (t0 + ts), conforme esclarece o gráfico mostrado na figura 12. alcançar uma concentração de equilíbrio em um reator que tenha estado em operação
durante 50 dias. A atividade em tal reator é muito menor que a apresentada por um
reator que tenha estado em operação durante um tempo muito longo, no qual os
produtos de fissão com meia-vida longa alcançaram a concentração de equilíbrio
antes do desligamento.
Portanto, um aspecto importante relativo à segurança de qualquer reator de
potência é que, após o desligamento, o refrigerante deve continuar a circular através
do núcleo para remover o calor resultante do decaimento dos produtos de fissão
radioativos. Na eventualidade de falha no fornecimento de energia elétrica para as
bombas de refrigeração (o que causaria o desligamento automático imediato do
Figura 12 - Gráfico da potência do reator antes e depois do desligamento. reator), deve haver fontes de emergência disponíveis. Caso todas as bombas de
refrigeração venham a falhar simultaneamente, a circulação natural de refrigerante
Assim procedendo, encontra-se o resultado: através do núcleo deve ser suficiente para remover o calor de decaimento, o que
ocorre em reatores refrigerados a gás.
(87) Em reatores refrigerados a água pressurizada (PWR), a remoção do calor de
decaimento é assegurada por meio da circulação de refrigerante através de caldeiras
e do condensador da turbina, ao mesmo tempo em que um outro sistema, concebido
A expressão (87) é válida para valores de ts maiores que cerca de 10
apenas para remover do núcleo o calor de decaimento, extrai água do circuito primário
segundos. Decorrido este tempo a partir do desligamento do reator, o valor da e a faz passar através de trocadores de calor independentes, destinados também a
potência resultante do decaimento dos produtos de fissão radioativos totaliza receber exclusivamente o calor de decaimento. Por fim, no caso de um evento de
aproximadamente 4% da potência do reator antes do desligamento. Em um reator de perda de refrigerante, há um sistema de emergência para resfriamento do núcleo
potência operacional elevada, este valor pode significar a liberação de uma quantidade (conhecido pela sigla ECCS) que injeta uma solução de ácido bórico (H3BO3)
de energia considerável por unidade de tempo, que diminuirá apenas com o
diretamente nesta parte do reator.
decaimento dos produtos de fissão. Nada pode ser feito para controlar esta taxa de Em reatores refrigerados a gás, a remoção do calor de decaimento é obtida
liberação de energia, tornando portanto essencial a remoção do calor gerado. pela circulação do refrigerante primário através de caldeiras auxiliares concebidas
Para ilustrar o efeito do calor gerado pelo decaimento dos produtos de fissão para este fim e, na seqüência, através do condensador da turbina.
radioativos, a figura 13 mostra as variações da razão Ppf / P após o desligamento de
Em reatores rápidos, analogamente, o calor de decaimento é removido do
um reator que esteve em operação (i) durante um período muito longo (t0 ) e (ii) núcleo através de caldeiras e do condensador da turbina.
durante 50 dias.
Um estudo dos resultados expostos na figura 13 mostra que, logo após o
desligamento do reator, a razão Ppf / P é aproximadamente a mesma para ambos os
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B.5 - Projeto térmico de um reator nuclear Com um limite mantido sempre abaixo da razão DNB, assegura-se que a fusão
do revestimento não ocorrerá em nenhum ponto do reator. O valor da razão DNB
Os reatores nucleares são projetados de modo que os produtos de fissão impõe a maioria das limitações de projeto para reatores refrigerados a água.
permaneçam sempre confinados dentro do combustível: durante o ciclo de operação Em reatores refrigerados a água, o fluxo de calor máximo em qualquer ponto
do núcleo é limitado pela razão DNB. Em reatores refrigerados a gás, o fluxo de calor
do reator, durante o desligamento do mesmo e na eventualidade de um acidente no
máximo é determinado somente pela necessidade de manter a temperatura do
qual se configurem condições anormais de refrigeração. O critério de projeto aceito
normalmente é que a integridade do revestimento que envolve o combustível nuclear combustível bem abaixo do ponto de fusão. Em alguns reatores, para avaliar quanto o
valor do fluxo de calor máximo excede o fluxo de calor médio no núcleo, utiliza-se o
deve ser mantida em todas estas circunstâncias. Uma vez que a expansão do
combustível nuclear em fusão pode romper o revestimento, este critério é chamado fator de canal quente (também conhecido como fator de ponto quente). Este
essencialmente equivalente a requerer-se que este combustível não venha a derreter. fator é definido pela relação:
O ponto de fusão do combustível nuclear mais utilizado atualmente em reatores
de potência, o dióxido de urânio (UO2), depende de algum modo da fração de átomos
físseis contidos no mesmo que sofreram fissão (parâmetro denominado usualmente
F (90)
“queima”), mas em geral está entre as temperaturas de 2700 0C e 2800 0C. Na maioria
dos reatores que utilizam UO2 como combustível nuclear, a temperatura máxima
verificada está abaixo de 2500 0C. onde é o fluxo de calor máximo e é o fluxo de calor médio no núcleo do
Em reatores refrigerados a gás com temperaturas elevadas (HTGR), onde o
combustível consiste em pequenas partículas de UC2 e ThC2, a temperatura máxima reator.
permitida para o combustível perfaz cerca de 3600 0C.
Urânio metálico natural ou enriquecido funde a 1132 0C, mas este metal sofre Há vários motivos pelos quais difere de e portanto Fcq é diferente da
duas variações na fase sólida (alterações na estrutura cristalina): a primeira ao atingir unidade. O motivo mais importante tem origem no fato de que a distribuição de
a temperatura de 668 0C e a segunda ao atingir a temperatura de 774 0C. De qualquer potência através do núcleo não é homogênea. Se este fosse o único motivo, Fcq
maneira, acima de aproximadamente 400 0C a solidez do metal decresce rapidamente. poderia ser calculado diretamente, para um dado projeto de reator, a partir da razão
Esta característica permite que produtos de fissão gasosos se agrupem e se difundam entre os valores máximo e médio do fluxo de nêutrons térmicos no núcleo do reator.
para o centro do combustível, que se expande e tensiona o revestimento. Devido a
estas circunstâncias, reatores cujo combustível nuclear consiste em barras de urânio Assim pois, enquanto depende de vários parâmetros nucleares que determinam
metálico são projetados de maneira que a temperatura máxima atingida pelo
combustível seja inferior a 400 0C. Esta temperatura baixa não é um sério obstáculo à a distribuição de potência, é dado pela expressão geral:
transferência de calor para o refrigerante, pois a condutividade térmica do urânio
metálico é muito maior que a do UO2.
Para evitar a penetração de água em algum ponto do revestimento como (91)
resultado da formação de uma película de vapor nesse ponto, o reator deve ser
projetado de tal maneira que o fluxo de calor seja sempre menor que o fluxo de onde Qr é a potência térmica total do reator e A é a área total através da qual o calor
gerado pelas fissões é transferido para fora do combustível nuclear com revestimento.
calor crítico , mediante o qual ocorreria fusão do revestimento.
Com esse objetivo, é conveniente definir a razão DNB (que, conforme A razão entre os valores de e obtidos desta maneira fornece o chamado fator
destacado anteriormente, significa desvio da ebulição nucleada) como sendo: nuclear de canal quente (FN).
Além do efeito decorrente da não homogeneidade na distribuição de potência,
(88) pode diferir do valor calculado como conseqüência de diversos fatores
estatísticos sobre os quais o projetista tem pouco ou nenhum controle. Por exemplo, a
quantidade de material físsil incluído nas pastilhas combustíveis de um reator BWR ou
onde representa o fluxo de calor crítico calculado como uma função da distância PWR no momento da fabricação varia lentamente de pastilha para pastilha por causa
da natureza inerentemente estatística do processo de manufatura. Pastilhas contendo
ao longo do canal refrigerante mais quente e denota o fluxo de calor real na mais material físsil produzem mais potência e caso tais pastilhas estejam localizadas
mesma posição deste canal. Se o calor liberado paralelamente ao combustível nuclear em um ponto do núcleo onde o fluxo de calor é alto, o valor de pode ser
pode ser desprezado, então: maior que o calculado quando se leva em consideração apenas a não homogeneidade
na distribuição de potência.
Analogamente, tolerâncias na fabricação de elementos combustíveis podem
(89) resultar em leves deformações das varetas combustíveis, causando a redução do fluxo
de refrigerante em alguns pontos e consequentemente uma elevação de temperatura
nestes pontos. Do mesmo modo, flutuações nos valores da espessura do revestimento
onde é a taxa de liberação de energia por unidade de volume do combustível podem causar um aumento de temperatura em pontos onde o mesmo for mais fino.
nuclear, Af é a área da seção transversal do combustível nuclear e C0 é o perímetro do Cabe também mencionar que alguns aspectos relativos ao escoamento do refrigerante
combustível nuclear. são estatísticos e tendem a causar flutuações nos valores do fluxo de calor.
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Estes diversos mecanismos e outros fazem com que difira do valor F (94)
calculado. Tomados juntos, esses mecanismos são descritos pelo fator de engenharia
do canal quente (FE). O fator de canal quente fica sendo então:
Assim pois, se em um determinado PWR a densidade linear média de UO2 em uma
vareta combustível é 6,8 g/cm e o desvio padrão no valor da medida deste parâmetro
F F F (92)
é 0,18 g/cm, o fator F neste caso, resulta:
Por sua vez, cada um dos mecanismos individuais são descritos pelo subfator
de engenharia de canal quente, denotado por FE,x. Os subfatores de engenharia são F
obtidos a partir dos dados de fabricação dos componentes e por meio de testes que
simulam o escoamento de refrigerante em partes de elementos combustíveis ou em
maquetes do reator. Para efeito de ilustração, será considerada a quantidade de Este resultado significa que, devido a flutuações estatísticas na quantidade de material
material físsil me por unidade de comprimento de uma vareta combustível. Para um físsil colocado nas varetas combustíveis durante a fabricação, existe 1,35 chances em
dado fluxo de nêutrons térmicos, é aproximadamente proporcional a me. Quando 1000 de exceder o valor calculado em mais de 8%.
medidas de me são efetuadas em varetas combustíveis, encontra-se para o valor real Cálculos de outros subfatores de engenharia, especialmente daqueles que não
deste parâmetro uma distribuição normal em torno de um valor médio , conforme
mostrado na figura 14. Todos os valores da distribuição são possíveis. Entretanto, envolvem uma proporcionalidade direta entre e a variável estatística, são mais
determinados valores de me tornam-se cada vez menos prováveis com o aumento do complicados e requerem uma análise das relações entre a variável em questão e
desvio em relação ao valor médio. Em particular, é possível mostrar que a
probabilidade de um determinado valor do parâmetro me exceder por mais que 3 , . Conforme foi mencionado anteriormente, tais subfatores são muitas vezes
onde é o desvio padrão da distribuição, é apenas 1,35 em mil, constituindo uma obtidos empiricamente a partir de testes.
ocorrência improvável. Uma vez calculados os vários subfatores de engenharia, torna-se possível
calcular FE. Este cálculo pode ser efetuado de diversas maneiras. A mais óbvia
consiste em multiplicar todos os subfatores. Contudo, o valor resultante de FE levaria a
um projeto de reator desnecessariamente conservativo, pois ao se efetuar o produto
dos subfatores está implícita a hipótese de ocorrência simultânea de todos os eventos
estatísticos considerados. O método preferido para calcular FE é baseado na análise
da sobreposição das distribuições estatísticas obtidas para cada parâmetro. Tal
análise é demasiado complicada para ser reproduzida neste texto. É necessário
somente dizer que, uma vez conhecidos os valores de FE,x, o cálculo de FE pode ser
efetuado.
F (93)
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O primeiro reator de pesquisa brasileiro, denominado IEA-R1, foi instalado no
antigo Instituto de Energia Atômica (IEA), hoje Instituto de Pesquisas Energéticas e
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ES Nucleares (IPEN/CNEN-SP), situado no Município de São Paulo. Este reator foi
projetado e construído pela empresa norte-americana Babcock & Wilcox Co., de
acordo com as especificações fornecidas pela Comissão de Energia Atômica dos
A - REATORES NUCLEARES DE PESQUISA EUA. A criticalidade inicial, a primeira do hemisfério sul, foi atingida no dia 16 de
setembro de 1957. Este reator é do tipo piscina e na época da inauguração era
previsto que o mesmo viesse a operar na potência de 5 MW. Entretanto, até setembro
A.1 - Introdução de 1997 o reator operou quase sempre apenas a 2 MW, quando foram concluídas
diversas reformas que o capacitaram para efetivamente operar a 5 MW.
Após o IEA-R1, o segundo reator de pesquisa brasileiro foi um reator tipo Triga
Conforme foi destacado anteriormente neste trabalho, os reatores nucleares (IPR-R1) de 100 kW construído pela empresa norte-americana General Atomics para o
podem ser classificados de acordo com os seguintes critérios: a) energia dos nêutrons Instituto de Pesquisas Radioativas (IPR), hoje Centro de Desenvolvimento da
em que ocorre a maior parte das fissões, b) material físsil presente no combustível Tecnologia Nuclear (CDTN/CNEN-MG) situado no Município de Belo Horizonte. Este
nuclear, c) configuração do conjunto combustível nuclear + moderador, d) tipo de reator iniciou sua operação no dia 11 de outubro de 1960.
moderador, e) tipo de refrigerante, f) finalidade a que se destinam. Dentre todos estes O terceiro reator de pesquisa brasileiro foi instalado no Instituto de Engenharia
critérios, o principal é aquele referente à finalidade a que se destinam os reatores Nuclear (IEN/CNEN-RJ), situado no Município do Rio de Janeiro. O reator Argonauta
nucleares. Adotando-se este critério de classificação, os reatores nucleares podem ser foi construído por técnicos brasileiros que modificaram e adaptaram o projeto original,
agrupados em dois tipos principais: os reatores de pesquisa e os reatores de potência. tendo atingido a criticalidade pela primeira vez no dia 20 de fevereiro de 1965.
Os reatores de potência são projetados com a finalidade de gerar energia No dia 09 de novembro de 1988 atingiu pela primeira vez criticalidade o quarto
elétrica, enquanto os reatores de pesquisa servem como fontes de nêutrons para reator de pesquisa brasileiro, um reator de potência zero denominado IPEN/MB-01,
propósitos diversos, que abrangem desde experimentos em física nuclear básica até projetado e construído inteiramente com tecnologia nacional (inclusive os
irradiações para produção de radioisótopos utilizados em atividades industriais, combustíveis) pelo IPEN/CNEN-SP em conjunto com a Marinha do Brasil (através do
agrícolas e medicinais. Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo - CTMSP). O IPEN/MB-01 constitui,
Ao longo desta parte serão estudadas as características e usos principais dos portanto, o segundo reator de pesquisa instalado no IPEN/CNEN-SP.
reatores nucleares de pesquisa, com destaque para as instalações deste gênero
existentes no âmbito do IPEN/CNEN-SP.
A.3 - Classificação dos reatores nucleares de pesquisa
A.2 - Breve histórico dos reatores nucleares de pesquisa
Os principais tipos de reatores nucleares de pesquisa desenvolvidos no mundo
podem ser classificados segundo as características de projeto que apresentam,
Os reatores nucleares de pesquisa servem como fontes de nêutrons para permitindo distinguir os seguintes tipos: a) homogêneo líquido, b) tanque, c) piscina, d)
propósitos experimentais diversos. A potência térmica deste tipo de reator nuclear conjunto crítico seco, e) conjunto crítico tipo tanque, f) conjunto crítico homogêneo, g)
geralmente perfaz entre 10 kW e alguns poucos MW. Quando utilizados para a Argonauta, h) Triga, i) grafite, j) água pesada, k) alto fluxo.
produção de radioisótopos, a potência térmica destes reatores nucleares pode atingir Convém destacar que esta classificação não é estanque, pois muitas
até 25 MW. características de um tipo de reator se confundem com as de outro tipo, de maneira
A denominação dada aos reatores nucleares de pesquisa varia de acordo com que normalmente um tipo de reator se caracteriza pelo detalhe de projeto e
o propósito a que se destina o fluxo de nêutrons deles proveniente. Os reatores para instalações experimentais. Em seguida, são descritas em linhas gerais as
teste de materiais fornecem um fluxo alto de nêutrons rápidos, permitindo estudar o
características principais de alguns tipos de reatores de pesquisa mais importantes.
comportamento sob irradiação apresentado por materiais utilizados em reatores
nucleares. Os reatores para produção de radioisótopos destinam-se à produção de
isótopos radioativos utilizados em atividades industriais, medicinais e agrícolas. Os A.3.1 - Reatores tipo piscina
reatores de potência zero, também chamados conjuntos críticos ou unidades críticas,
são utilizados principalmente para estudar as propriedades neutrônicas de um arranjo
físsil a baixa potência (P < 1 kW). Os reatores protótipo são reatores de potência baixa Este tipo de reator de pesquisa é o mais utilizado em todo mundo, sendo
que servem como protótipo para reatores de potência elevada. freqüentemente denominado reator tipo MTR (sigla para “Materials Testing Reactor”).
O primeiro reator nuclear do mundo, um conjunto crítico, atingiu a criticalidade Apresenta como característica principal o fato do núcleo do reator estar imerso em
no dia 02 de dezembro de 1942. O Chicago Pile 1 (CP-1), como foi denominado, era uma piscina ou tanque contendo água. Trata-se de um reator heterogêneo, pois o
constituído por blocos de grafite empilhados (9 m de largura, 9,5 m de comprimento, 6 combustível nuclear e o moderador estão separados fisicamente. O combustível
m de altura, totalizando 1350 toneladas de grafite), com urânio natural metálico sob a nuclear é formado por placas agrupadas em elementos combustíveis, sendo o
forma de barras inserido internamente (52 toneladas) e controlado por folhas de revestimento de cada placa feito de alumínio. No cerne de cada placa está localizado
cádmio metálico. o material combustível propriamente dito, constituído por uma liga metálica de urânio-
A grande maioria dos reatores de pesquisa iniciou suas operações em fins da alumínio (U-Al) ou por um composto de urânio (geralmente U3O8 ou U3Si2) disperso em
década de 50 e início da década de 60. A Índia foi o primeiro país em desenvolvimento alumínio. Nestes combustíveis, o grau de enriquecimento do urânio em 235U pode ser
a construir um reator de pesquisa, no ano de 1956 (IN0001, APSARA, tipo piscina, 1 alto (cerca de 93%, tipo HEU, atualmente em desuso) ou baixo (cerca de 20%, tipo
MW). Em abril de 2004, havia no mundo 272 reatores de pesquisa em operação em 56 LEU). O reator IEA-R1 se enquadra neste grupo de reatores e será descrito à parte.
países, conforme dados da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
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A.3.2 - Reatores a grafite
O primeiro reator nuclear construído no mundo, o CP-1 (Chicago Pile 1), foi um
reator deste tipo, e as primeiras instalações destinadas à produção de plutônio
também utilizaram este tipo de reator. Estes reatores se caracterizam principalmente
pelo grande tamanho quando utilizam urânio natural (o que implica em alto custo),
apresentando baixa densidade de potência. Possui a vantagem de possibilitar a
realização simultânea de vários experimentos, devido ao seu grande tamanho. O
combustível nuclear deste tipo de reator é o urânio natural metálico. A estrutura do
reator é constituída por blocos de grafite sobrepostos, que formam um cubo com
aproximadamente 6 m de aresta, sem incluir blindagem. A região central desta
estrutura é preenchida com barras de urânio natural metálico para formar o núcleo do
reator. Para atingir a massa crítica, este tipo de arranjo requer o uso de
aproximadamente 30 toneladas de urânio natural metálico. O reator é refrigerado a
gás, empregando-se CO2 ou ar atmosférico como refrigerante. A blindagem biológica
deste tipo de reator é formada por grandes volumes de concreto com massa
específica elevada.
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A.4 - Reator IEA-R1 Dentre os 24 elementos combustíveis, 4 são elementos especiais, projetados
para permitir a inserção das barras de controle, sendo por este motivo denominados
O IEA-R1, um reator nuclear de pesquisa do tipo piscina aberta, foi projetado e elementos combustíveis de controle. Cada elemento combustível de controle possui
construído pela empresa norte-americana Babcock & Wilcox Co. de acordo com as um total de 12 placas combustíveis planas paralelas.
Os outros 20 elementos combustíveis, denominados elementos combustíveis
especificações fornecidas pela Comissão de Energia Atômica dos EUA.
padrão, são do tipo MTR (sigla para “Materials Testing Reactor”). Compõem-se de 18
O edifício do reator está localizado nas dependências do Instituto de Pesquisas
Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN-SP), na Cidade Universitária, em São Paulo. O placas combustíveis planas paralelas cada um, montadas mecanicamente em dois
suportes laterais de alumínio com ranhuras. As dimensões externas de cada elemento
reator é propriedade da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) e está sob a
guarda do IPEN. combustível perfazem (7,6 cm x 8,0 cm) por 88,0 cm de altura. A figura 4 mostra a
A primeira criticalidade deste reator foi atingida no dia 16 de setembro de 1957, seção longitudinal de um elemento combustível padrão e a estrutura de duas placas
combustíveis sucessivas deste elemento.
e desde então o mesmo vem sendo utilizado extensivamente na produção de
radioisótopos, em análise de materiais por ativação, em experimentos científicos que
utilizam tubos de irradiação e no treinamento de pessoal, atendendo a demandas de
todas as áreas do IPEN/CNEN-SP e também a solicitações externas.
Apesar de ter seu núcleo projetado para 5 MW, até 1961 não havia um regime
definido de operação para o reator IEA-R1 e a potência variou entre 200 kW e 2 MW.
A partir de 1961, o reator passou a operar a uma potência definida de 2 MW. Entre
1971 e 1991, várias modificações foram sendo introduzidas no reator para adequar as
suas instalações a normas de segurança mais recentes. Em 1995, o IPEN/CNEN-SP
decidiu capacitar o reator IEA-R1 para operar a 5 MW, sua potência nominal de
projeto. O reator passou então por diversas reformas e modernizações que,
concluídas em setembro de 1997, permitiram aumentar a potência máxima de
operação para 5 MW.
O núcleo do reator tem a forma de um paralelepípedo, sendo composto por
elementos combustíveis e refletores encaixados verticalmente em furos existentes na
placa matriz, que se encontra suspensa por uma estrutura de alumínio. A placa matriz
possui um total de 80 furos, dispostos segundo um arranjo 8 x 10. As dimensões da
placa matriz são 82,86 cm x 63,97 cm x 11,43 cm.
A configuração do núcleo inclui um total de 24 elementos combustíveis,
posicionados segundo um arranjo 5 x 5. A posição central do arranjo não é ocupada Figura 4 - Seção longitudinal de um elemento combustível padrão utilizado no reator
por um elemento combustível, mas sim por um elemento de irradiação feito de berílio IEA-R1, mostrando em detalhe a estrutura de duas placas combustíveis sucessivas
(designado pela sigla EIBE). A figura 3 mostra esquematicamente a configuração atual deste elemento.
do núcleo do reator IEA-R1.
As placas combustíveis contêm um cerne, onde está localizado o combustível
nuclear propriamente dito, revestido por duas camadas de alumínio. A espessura de
cada placa combustível totaliza 0,152 cm, enquanto a distância entre duas placas
combustíveis sucessivas em um mesmo elemento perfaz 0,289 cm. A espessura do
cerne depende do tipo de combustível utilizado, sendo atualmente igual a 0,076 cm.
Ao longo dos 47 anos de operação do reator IEA-R1, foram usados os
seguintes tipos de combustível nuclear:
a) Liga U-Al contendo 1,8 gU/cm3, na qual o urânio apresenta 20% de enriquecimento
em 235U, fabricado nos EUA, utilizado entre 1957 e 1976;
b) Liga U-Al contendo 0,6 gU/cm3, na qual o urânio apresenta 93,15% de
enriquecimento em 235U, fabricado principalmente nos EUA, mas também na França,
utilizado entre 1968 e 1997;
c) UAlX disperso em matriz de alumínio, contendo 1,9 gU/cm3, com grau de
enriquecimento do urânio em 235U igual a 20%, fabricado na Alemanha, utilizado entre
1981 e 1996;
d) U3O8 disperso em matriz de alumínio, contendo 1,9 gU/cm3, com grau de
enriquecimento do urânio em 235U igual a 19,9%, fabricado no IPEN/CNEN-SP,
utilizado entre 1988 e 2004;
e) U3O8 disperso em matriz de alumínio, contendo 2,3 gU/cm3, com grau de
enriquecimento do urânio em 235U igual a 19,9%, fabricado no IPEN/CNEN-SP,
Figura 3 - Configuração atual do núcleo do reator IEA-R1. utilizado desde 1996;
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f) U3Si2 disperso em matriz de alumínio, contendo 3,0 gU/cm3, com grau de
enriquecimento do urânio em 235U igual a 19,9%, fabricado no IPEN/CNEN-SP,
utilizado desde 1999.
É importante destacar que, desde setembro de 1997, o reator IEA-R1 opera
utilizando exclusivamente combustíveis nucleares nacionais, dos tipos d), e) e f),
fabricados no próprio IPEN/CNEN-SP.
Os combustíveis nucleares fabricados no exterior, irradiados no reator IEA-R1
e retirados em definitivo do núcleo entre 1957 e 1997, distribuídos em um total de 127
elementos combustíveis, foram sendo armazenados a 6 m de profundidade em cestos
de aço inoxidável situados dentro da piscina de estocagem do reator (87 elementos
combustíveis) ou em tubos de aço inoxidável envolvidos por concreto localizados no
primeiro andar do edifício do reator (40 elementos combustíveis). Em novembro de
1999, todos estes elementos combustíveis irradiados foram transportados para o
Laboratório Nacional de Savannah River, Carolina do Sul, EUA, no âmbito do
programa do governo norte-americano intitulado “Foreign Research Reactor Spent
Nuclear Fuel Acceptance Program”, que permite o retorno de elementos combustíveis
irradiados até 2016 em reatores de pesquisa ou teste, desde que o urânio utilizado na
confecção dos elementos tenha sido enriquecido nos EUA.
Quando o reator IEA-R1 se encontra em operação à potência de 5 MW, o fluxo
médio de nêutrons térmicos (energia cinética menor ou igual a 0,625 eV) no núcleo
ativo totaliza 3,45.1013 nêutrons/cm2s, enquanto o fluxo médio de nêutrons rápidos
(energia cinética maior que 0,625 eV) totaliza 9,45.1013 nêutrons/cm2s.
Os elementos refletores são blocos de grafite revestidos em alumínio ou blocos
de berílio e apresentam a mesma geometria e dimensões externas dos elementos
combustíveis. São posicionados ao redor do núcleo do reator, na placa matriz,
permitindo uma grande economia de nêutrons por reflexão dos mesmos e,
consequentemente, causando uma redução considerável na massa crítica. Figura 5 - Panorama geral das instalações do reator IEA-R1.
O sistema utilizado para irradiações de amostras no núcleo do reator é
refrigerado a água, ou seja, as cápsulas padrão de alumínio (com 20 mm de diâmetro
e 70 mm de comprimento) nas quais estão contidas as amostras entram em contato
direto com a água de refrigeração do núcleo do reator. Nestas condições, torna-se
necessário utilizar dispositivos adequados, denominados genericamente elementos de
irradiação, cujas características dependem da amostra a ser irradiada. Um deles é o já
mencionado elemento de irradiação feito de berílio (EIBE), posicionado no centro do
núcleo onde o fluxo de nêutrons é o mais alto do reator. Para amostras que precisam
ser irradiadas durante período superior a uma semana, utiliza-se o elemento de
irradiação feito de berílio e refrigerado a água (designado pela sigla EIBRA). Caso o
período de irradiação varie entre um dia e uma semana, utiliza-se o elemento de
irradiação refrigerado a água (designado pela sigla EIRA). Há também dispositivos
projetados especialmente para irradiações de amostras que não se enquadram nos
sistemas mencionados, como por exemplo o elemento de irradiação de fios
(designado pela sigla EIF).
O conjunto formado pelos elementos combustíveis, elementos refletores,
elementos de irradiação e placa matriz pode ser movimentado entre as extremidades
da piscina. Para tanto, são utilizadas hastes verticais presas à ponte rolante localizada
sobre a piscina.
A piscina é construída em concreto com dimensões 5,2 m x 13,7 m x 9,5 m (ver
figura 5). As paredes internas da piscina são revestidas de aço inoxidável, seguindo-se
logo abaixo, em seqüência, uma camada mais externa de concreto comum, uma
membrana de aço carbono e finalmente uma camada externa de concreto de barita. A
piscina é dividida em dois compartimentos, que podem ser isolados um do outro por
meio do fechamento de uma comporta de alumínio localizada entre ambos. O
compartimento próximo à parte semicircular é o compartimento de operação. No
compartimento oposto à parte semicircular não é permitido operar ou carregar o reator.
Os experimentos são realizados com o uso dos tubos de irradiação e dos tubos
pneumáticos. Há um total de 14 tubos, sendo dois localizados na parte frontal à coluna Figura 6 - Piscina do reator IEA-R1: A) seção horizontal da piscina, mostrando o
térmica e os demais na parede semicircular da piscina, conforme mostra a figura 6. posicionamento dos tubos de irradiação; B) detalhe dos tubos de irradiação.
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Os tubos são feitos de alumínio e no interior dos mesmos podem ser colocadas
amostras para serem irradiadas. Caso necessário, podem ser preenchidos com água
B - REATORES NUCLEARES DE POTÊNCIA
de modo a proporcionar blindagem adequada aos pesquisadores.
Além do sistema para irradiações de amostras no núcleo do reator, citado
anteriormente e baseado no uso de elementos de irradiação, há ainda outros sistemas B.1 - Introdução
no reator IEA-R1 projetados com esta finalidade.
Um sistema pneumático de tubos permite a irradiação de amostras durante O uso mais importante dos reatores nucleares consiste, sem dúvida, na
curto intervalo de tempo. Coloca-se a amostra em um recipiente de alumínio ou geração de energia elétrica. O emprego de reatores nucleares de potência com esta
polietileno (usualmente denominado “coelho”), que é introduzido no sistema de tubos à finalidade específica há muito deixou de ser algo singular e exótico para se tornar fato
baixa pressão e enviado a uma das quatro posições existentes nas proximidades do corriqueiro, notadamente nos países mais desenvolvidos.
núcleo. Após a irradiação, o recipiente pode retornar para duas posições diferentes Conforme destacado anteriormente, uma usina nucleoelétrica é uma instalação
nos laboratórios, situados no edifício do reator. projetada para gerar energia elétrica, na qual a fonte de calor usada na produção do
A irradiação de amostras também pode ser feita utilizando a coluna térmica vapor de água que move a turbina é um reator nuclear.
localizada em uma das paredes laterais do concreto. Esta coluna é geralmente A diferença entre uma usina nucleoelétrica e uma usina termoelétrica
empregada em experimentos com nêutrons térmicos, sendo composta de grafite convencional diz respeito essencialmente ao modo como o vapor de água é produzido.
disposta em blocos com a finalidade de facilitar a formação de gavetas onde podem Na usina termoelétrica convencional, o vapor é produzido em uma caldeira aquecida
ser colocadas amostras para irradiação. O baixo fluxo de nêutrons limita, porém, a pela queima de combustível fóssil (carvão mineral, gás natural, óleo combustível). Na
utilização deste dispositivo. usina nucleoelétrica, o vapor é produzido a partir do calor gerado pelas reações
A água da piscina é desmineralizada e serve como moderador e refletor para nucleares de fissão que ocorrem no combustível nuclear. A figura 7 mostra
os nêutrons, como refrigerante para o núcleo e como blindagem biológica para os esquematicamente estas duas maneiras de gerar energia elétrica.
operadores. Quando a potência de operação do reator é superior a 200 kW, a
circulação é forçada de cima para baixo por intermédio de uma bomba de refrigeração.
Para operar abaixo de 200 kW, a refrigeração é feita por convecção natural, não
havendo portanto necessidade de bombeamento. Sistemas auxiliares permitem que a
água da piscina seja tratada e purificada.
O sistema de refrigeração tem como função retirar o calor produzido nas placas
combustíveis, através da circulação da água da piscina. Este calor é eliminado para a
atmosfera mediante o uso de trocadores de calor e torres de refrigeração. Com a
finalidade de melhorar as condições gerais de refrigeração do núcleo do reator,
decidiu-se reduzir a geração de calor no espaçamento existente entre componentes
adjacentes. Para tanto, desde o início de 2004 passaram a ser utilizados elementos
combustíveis padrão contendo combustível nuclear do tipo e), mas cujas placas
combustíveis externas (primeira e décima oitava) têm metade da densidade de urânio
(1,15 gU/cm3).
Em valores aproximados, a atual carga total de combustível nuclear do reator
IEA-R1 perfaz 22,5 kg de urânio e contém 4,5 kg de 235U.
O controle do reator é efetuado por meio de quatro barras absorvedoras de
nêutrons, sendo que uma é utilizada em função de controle e as outras três são
empregadas como barras de segurança. Cada uma delas é formada por duas placas
feitas de uma liga metálica de prata-índio-cádmio (Ag-In-Cd, na proporção
respectivamente de 80%-15%-5%) revestidas com uma fina camada de níquel. As
barras absorvedoras de nêutrons possuem a forma de garfo e são sustentadas por um
eletroímã fixado a uma haste acoplada ao mecanismo de acionamento, preso à ponte
rolante. Em caso de emergência, o eletroímã é desligado e as quatro barras são
inseridas rapidamente no núcleo, garantindo assim o desligamento do reator em
menos de um segundo. A barra utilizada na função de controle está diretamente
acoplada ao mecanismo de acionamento, sendo movida continuamente para
compensar as flutuações de potência verificadas durante a operação do reator. Todas
as barras absorvedoras de nêutrons em uso atualmente no reator IEA-R1 foram
fabricadas em 2003 no IPEN/CNEN-SP.
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Uma usina nucleoelétrica compõe-se basicamente de duas partes distintas: o B.3 - Classificação dos reatores nucleares de potência
sistema de geração do vapor de água e o sistema de geração de energia elétrica. O
primeiro abrange o reator e o circuito de refrigeração primário, enquanto o segundo Um sumário descrevendo os vários tipos diferentes de reatores nucleares de
abrange o circuito secundário para produção do vapor de água e o conjunto turbina- potência, desenvolvidos até hoje no mundo, pode ser organizado tendo como base a
gerador. O vapor de água deve sempre entrar na turbina o mais seco possível, na
classificação dos mesmos de acordo com o combustível nuclear e outros materiais
forma superaquecida. Ao sair da turbina, a mistura contendo vapor e água passa pelo
neles utilizados, incluindo o moderador.
condensador, componente onde o vapor residual é resfriado e condensado novamente A classificação dos tipos de reatores nucleares de potência desenvolvidos até
em água.
os dias de hoje no mundo é mostrada na tabela 1, enquanto uma representação
A eficiência da usina nucleoelétrica é medida pela razão entre a energia esquemática de alguns destes reatores é apresentada na figura 8.
elétrica produzida e a energia térmica gerada no reator nuclear. Para alcançar uma
eficiência alta é necessário operar a turbina na maior temperatura possível, condição Tipo de País de
que requer a produção de vapor de água seco e em temperatura elevada. Combustível Enriquecimento Moderador Refrigerante
reator origem
Nestas circunstâncias, assume relevância especial a descrição dos tipos de UO2 2% a 4% H2O H2O PWR EUA
reatores nucleares de potência que, operando em usinas nucleoelétricas, permitirão o H2O
uso amplo dos recursos mundiais de urânio e tório como fonte duradoura de energia. UO2 2% a 4% H2O BWR EUA
(fervente)
U metálico - Grafite CO2 GCR Reino Unido
UO2 2% a 4% Grafite CO2 AGR Reino Unido
B.2 - Breve histórico dos reatores nucleares de potência EUA
ThC2 + UC2 93% Grafite He HTGR Reino Unido
O primeiro reator nuclear de potência do mundo, denominado EBR-1, entrou Alemanha
em operação gerando 0,2 MW elétricos em dezembro de 1951, em Arco, Idaho, EUA. UO2 - D2O D2O PHWR Canadá
No dia 27 de junho de 1954, o governo da URSS divulgava um comunicado H2O
informando que, pela primeira vez no mundo, um protótipo de usina nucleoelétrica UO2 2% a 4% D2O SGHWR Reino Unido
(fervente)
havia começado a funcionar na cidade russa de Obninsk, fornecendo 5 MW elétricos H2O
para as fazendas, vilas e fábricas próximas. UO2 2% a 4% Grafite RBMK URSS
(fervente)
O primeiro submarino impulsionado a energia nuclear, o U.S.S. Nautilus, é UO2 + PuO2 - - 0
Na líquido FBR Vários
lançado ao mar em 1955 pela marinha dos EUA. A propulsão deste submarino é Tabela 1 - Tipos de reatores nucleares de potência: reator refrigerado a água
efetuada por um reator nuclear refrigerado a água pressurizada (PWR). pressurizada (PWR), reator refrigerado a água fervente (BWR), reator refrigerado a
Em 1 de outubro de 1956, entra em operação comercial no Reino Unido a gás (GCR), reator avançado refrigerado a gás (AGR), reator refrigerado a gás com
primeira usina nucleoelétrica do mundo, a de Calder Hall, fornecendo 50 MW elétricos. temperatura elevada (HTGR), reator refrigerado a água pesada pressurizada (PHWR),
O reator nuclear desta usina é refrigerado a gás (GCR). reator gerador de vapor moderado a água pesada (SGHWR), reator refrigerado a água
A primeira usina nucleoelétrica equipada com um reator nuclear refrigerado a fervente e moderado a grafite (RBMK), reator rápido (FBR).
água pressurizada (PWR) entra em operação no dia 02 de dezembro de 1957 em
Shippingport, Pennsylvania, EUA, gerando 75 MW elétricos. O reator nuclear PWR Conforme pode ser notado, há diversas formas de utilização do urânio como
desta usina foi projetado e construído tendo como base a tecnologia de reatores combustível nuclear em um reator. Uma possibilidade é o uso de urânio puro, um
nucleares utilizados para propulsão naval. metal cinzento muito denso (19,04 g/cm3 a 25 0C) e relativamente dúctil que sofre a
Em 1962 entra em operação no Canadá, pela primeira vez no mundo, um primeira variação na fase sólida (mudança na estrutura cristalina) ao atingir a
reator nuclear refrigerado a água pesada (PHWR) destinado à geração de eletricidade. temperatura de 668 0C. Este valor constitui o limite superior para a temperatura de
Em 1973, a utilização de usinas nucleoelétricas era responsável por apenas operação deste tipo de combustível, pois a variação na fase sólida pode acarretar
3,3% da energia elétrica gerada em todo o mundo. Ao longo do último quarto do distorções e deformações no mesmo.
Século XX, esta utilização se expandiu de tal maneira que, no ano 2000, já Outra possibilidade, mais amplamente utilizada, consiste em usar dióxido de
correspondia a 16,9% do total da energia elétrica gerada mundialmente, em urânio (UO2) como combustível nuclear, um pó marrom escuro ou preto que, depois de
comparação com 39,1% gerados por usinas termoelétricas a carvão mineral, 17,4% compactado na forma de pastilhas e sinterizado, é colocado em tubos finos de aço
gerados por usinas termoelétricas a gás natural, 17,1% gerados por usinas inoxidável ou Zircaloy para formar varetas combustíveis. O dióxido de urânio possui
hidroelétricas, 7,9% gerados por usinas termoelétricas a derivados líquidos de petróleo um ponto de fusão muito elevado (2730 0C) de maneira que os reatores nos quais UO2
e 1,6% gerados através do uso de fontes alternativas de energia (eólica, geotérmica, é utilizado como combustível nuclear podem operar a temperaturas mais elevadas que
solar, biomassa e outras). os reatores nos quais urânio metálico é utilizado como combustível nuclear.
Dados da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) indicam que, em No caso de reatores rápidos, 239Pu é um combustível nuclear importante, sendo
abril de 2004, estavam em funcionamento 441 usinas nucleoelétricas localizadas em usado na forma de dióxido de plutônio (PuO2, um pó amarelado) misturado com
31 países, totalizando uma capacidade geradora de 362.205 MW elétricos. Ainda dióxido de urânio (UO2) para constituir um combustível de óxido misto (designado por
segundo dados da AIEA, 13 países tinham na energia nuclear a origem de mais de um MOX) que contém tipicamente cerca de 25% em massa de PuO2. Estes reatores são
terço da eletricidade que consumiam. Dentre as potências industriais, o país que mais adequados para proporcionar a regeneração do combustível nuclear, através da
a utilizava era a França, com 78,0% da energia elétrica gerada por usinas transformação de núcleos de 238U em novos núcleos de 239Pu.
nucleoelétricas. O mesmo levantamento aponta que a maior capacidade instalada em Os três moderadores utilizados em reatores de potência são água, água
geração nucleoelétrica estava nos EUA, com 104 usinas responsáveis pela produção pesada e grafite. A temperatura crítica da água e da água pesada (374 0C), a partir da
de 98298 MW elétricos, correspondendo a 20,3% do total da energia elétrica gerada qual as mesmas não se liqüefazem mediante compressão isotérmica, torna necessário
naquele país.
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que reatores moderados com estas substâncias operem a temperaturas mais baixas
que os reatores moderados a grafite.
Em reatores nucleares de potência, é necessário que uma substância
refrigerante circule através do núcleo do reator para remover a energia liberada pela
fissão e transferir esta energia para o ciclo de potência por intermédio do qual é
gerado o vapor de água. A escolha do refrigerante influencia o projeto e a temperatura
na qual o reator nuclear opera. Tanto um líquido quanto um gás podem ser escolhidos
como refrigerante de reatores nucleares, sendo os mais importantes água, água
pesada, sódio metálico líquido e dióxido de carbono. O gás hélio pode ser utilizado em
reatores refrigerados a gás que venham a ser construídos no futuro.
Dentre os reatores nucleares de potência em funcionamento atualmente no
mundo, 59,9% são do tipo PWR, 20,9% do tipo BWR, 8,8% do tipo PHWR, 3,8% do
tipo RBMK, 3,2% do tipo AGR, 2,7% do tipo GCR e 0,7% do tipo FBR.
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A concentração elevada de material físsil e a ausência de qualquer moderador através da qual é formado o isótopo radioativo 24Na. Este isótopo possui meia-vida de
tornam o núcleo de um reator rápido muito pequeno comparado com o núcleo de um 15,02 horas e emite dois raios-gama de energia muito alta (1368,5 keV e 2753,9 keV)
reator térmico de mesma potência. Para efeito de comparação, o reator rápido com intensidades absolutas de emissão elevadas (praticamente 100%). Portanto, o
protótipo (PFR) localizado em Dounreay, Reino Unido, operou entre 1975 e 1994 sódio que flui no circuito de refrigeração primário não pode passar fora da blindagem
fornecendo uma potência térmica de 600 MW a partir de um núcleo com 1 m de altura biológica. Um circuito secundário de sódio é então necessário para estabelecer a
e 1,8 m de diâmetro, enquanto o reator AGR britânico Hunterston B fornece uma circulação de refrigerante entre o trocador de calor primário (localizado dentro da
potência térmica de 1500 MW em um núcleo com 8,2 m de altura e 9,3 m de diâmetro. blindagem biológica, mas separado do núcleo por uma blindagem para barrar
Assim pois, a densidade de potência do reator PFR resultou quase cem vezes maior nêutrons) e os geradores de vapor.
que em um reator AGR. No reator rápido PFR de Dounreay, o sódio que fluía no circuito de refrigeração
A densidade de potência excepcionalmente elevada que caracteriza os primário passava através dos subconjuntos combustíveis hexagonais contidos no
reatores rápidos impõe certos parâmetros de projeto especiais. Para simultaneamente núcleo, ingressando nesta parte do reator com a temperatura de 430 0C e saindo dela
reduzir a temperatura máxima do combustível nuclear e obter temperaturas elevadas com a temperatura de 595 0C. No trocador de calor primário, o sódio que fluía no
do fluido refrigerante, as varetas combustíveis devem ter um diâmetro muito pequeno, circuito secundário era aquecido a uma temperatura de 590 0C. Por fim, nos geradores
assumindo a forma de pinos. Os pinos combustíveis do reator rápido PFR de de vapor era produzido vapor de água a uma pressão de 160 atm e a uma
Dounreay continham pastilhas cilíndricas de UO2 + PuO2 com 6 mm de diâmetro temperatura de 565 0C. A potência térmica fornecida pelo reator totalizava 600 MW, a
acondicionadas em tubos de aço inoxidável. A quantidade de 239Pu no combustível partir da qual eram gerados 250 MW elétricos.
nuclear variava entre 22% e 30%. Um total de 325 pinos combustíveis, posicionados Atualmente há apenas três reatores nucleares de tipo FBR em operação no
fixamente por meio de grades espaçadoras, formavam um subconjunto combustível mundo: Beloyarsky 3, na Rússia (560 MW elétricos, mostrado na figura 13); Monju, no
hexagonal em que os lados opostos distavam 142 mm. O núcleo era constituído por Japão (246 MW elétricos) e Phenix, na França (233 MW elétricos). É importante
70 subconjuntos combustíveis. As barras de controle do reator eram feitas de carbeto destacar que o reator FBR denominado Superphenix 1 operou na França entre 1986 e
de boro (B4C). 1998 gerando 1200 MW elétricos.
O núcleo era totalmente circundado por um envoltório no qual o combustível
consistia apenas em urânio depletado. Assim, nêutrons que escapavam do núcleo e
alcançavam o envoltório podiam sofrer captura radiativa e produzir 239Pu. Uma
pequena fração da potência fornecida pelo reator era proveniente do envoltório, onde
este 239Pu era fissionado. Os subconjuntos combustíveis colocados no núcleo do
reator continham urânio depletado nas extremidades inferior e superior para formar o
envoltório axial. A parte central de cada pino combustível, com um comprimento de
914 mm, era preenchida pelas pastilhas de óxido misto para formar o núcleo
propriamente dito.
O refrigerante usado neste tipo de reator precisa apresentar propriedades
excelentes no que se refere à transferência de calor, além de não ser moderador.
Água comum e água pesada são moderadores, enquanto gases não possuem
propriedades adequadas no que diz respeito à transferência de calor. Nestas
circunstâncias, restam como refrigerantes os metais líquidos. Todos os reatores
nucleares rápidos construídos até hoje utilizaram como refrigerantes sódio metálico
líquido (a grande maioria) ou então uma liga metálica de sódio-potássio em estado
líquido. Ambos possuem pontos de ebulição bastante elevados à pressão atmosférica
(890 0C no caso do sódio), de maneira que não é necessário pressurizá-los no reator.
A inexistência de componentes altamente pressurizados no sistema primário de
um reator nuclear rápido constitui uma característica favorável no aspecto de
segurança. A maioria dos projetos de reatores rápidos apresenta o núcleo e o sistema
de refrigeração primário instalados dentro de um grande vaso de aço inoxidável
preenchido com sódio metálico líquido a pressão próxima da atmosférica. O espaço
que dentro do vaso está situado acima do nível atingido pelo sódio metálico líquido é
totalmente preenchido com o gás nobre argônio para evitar a ocorrência de reações
químicas.
O uso de sódio metálico como refrigerante em reatores nucleares apresenta
uma série de desvantagens. O ponto de fusão deste metal é 98 0C, o que obriga a
manter o reator acima desta temperatura quando desligado. Este inconveniente pode
ser superado pelo uso de uma liga eutética sódio-potássio (contendo 78% de potássio
e 22% de sódio), cujo ponto de fusão é igual a 11 0C. O problema mais sério, no
entanto, consiste no fato de sódio metálico reagir quimicamente de maneira violenta
Figura 13 - Diagrama do reator FBR da usina nucleoelétrica Beloyarsky 3, mostrando
com ar e principalmente com água, o que torna a integridade estrutural de
as partes componentes do mesmo: 1 – Envoltório do tanque; 2 – Bomba de
componentes como tubulações e trocadores de calor absolutamente essencial.
refrigeração; 3 – Motor elétrico; 4 – Tampão giratório; 5 – Trocador de calor; 6 –
Além dos problemas já enumerados, o sódio é ativado ao passar pelo núcleo
Coluna central contendo o mecanismo de acionamento das barras de controle; 7 –
do reator como conseqüência da reação nuclear de captura radiativa 23Na(n, )24Na, Mecanismo de recarga do combustível; 8 – Núcleo do reator.
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O custo muito alto e a existência de reservas abundantes de urânio com preços
razoavelmente baixos são obstáculos atuais de ordem econômica que dificultam a
utilização em larga escala dos reatores nucleares rápidos. É provável que apenas em
R
REEF
FEER
RÊÊN
NCIIA
ASS B
BIIB
BLIO
OGGRÁ
ÁFFIICA
AS
meados do presente século este tipo de reator passe a exercer um papel importante
na geração nucleoelétrica mundial, talvez na condição de sucessor dos diversos O presente roteiro de estudos foi elaborado mediante consulta das obras
relacionadas a seguir.
reatores nucleares térmicos e antecessor dos reatores nucleares a fusão.