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ÍNDICE................................................................................................................2

Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO.....................................................................4


(IPEN/CNEN-SP)
PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO ELETRÔNICA ............................................5

PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO ELETRÔNICA ............................................6


Divisão de Ensino – Secretaria de Pós-Graduação
I - FÍSICA DOS REATORES NUCLEARES .......................................................7

A - FÍSICA DE NÊUTRONS................................................................................................................7

B - FISSÃO NUCLEAR .....................................................................................................................20

Disciplina TNR5764

Fundamentos de Tecnologia Nuclear


C - FISSÃO NUCLEAR COMO FONTE DE ENERGIA .................................................................33
Reatores

II - TERMODINÂMICA E TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM REATORES


NUCLEARES....................................................................................................56

A - TRANSFERÊNCIA DE CALOR E CIRCULAÇÃO DE FLUIDO EM REATORES


NUCLEARES .....................................................................................................................................56
Dr. Luís Antônio Albiac Terremoto

2004
P
Prreeffáácciio
oà P
Prriimeiirraa E
Eddiiçãão
o
B - ASPECTOS TERMODINÂMICOS DE USINAS NUCLEOELÉTRICAS.................................78

O presente roteiro de estudos aborda resumidamente os


fenômenos físicos e as características de projeto inerentes aos
reatores nucleares de fissão. A elaboração deste roteiro de estudos
foi motivada pela necessidade de se apresentar aos alunos uma
III - TIPOS DE REATORES NUCLEARES .......................................................91 obra que lhes facilitasse o acompanhamento da disciplina
Fundamentos de Tecnologia Nuclear (CTN-752), a qual integra o
A - REATORES NUCLEARES DE PESQUISA ...............................................................................91
programa de pós-graduação do Instituto de Pesquisas Energéticas
e Nucleares (IPEN/CNEN-SP). Trata-se do segundo de uma série
de quatro volumes concebida com esta finalidade.
Este segundo volume é composto por três tomos contendo
tópicos básicos para o entendimento do processo de funcionamento
dos reatores nucleares de fissão. O tomo I abrange os fenômenos
físicos de interação dos nêutrons com os núcleos atômicos de
materiais que constituem o cerne do reator. São apresentados
B - REATORES NUCLEARES DE POTÊNCIA ............................................................................102 conceitos sobre seções de choque, reações nucleares de fissão em
cadeia, fator de multiplicação, fluxo de nêutrons, taxas de reação,
reatividade, coeficientes de reatividade e controle de reatores
nucleares.
O tomo II apresenta conceitos fundamentais sobre
transferência de calor, leis da termodinâmica, geração de calor em
reatores nucleares e a remoção deste calor por intermédio de um
refrigerante.
O tomo III mostra os vários tipos de reatores nucleares de
fissão, classificando-os de acordo com as características de projeto
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................120 que apresentam.
A autoria do volume coube ao Dr. Luís Antônio Albiac
Terremoto, auxiliado na elaboração do tomo III pela Dra. Nanami
Kosaka. Participação importante tiveram o Dr. Daniel Kao Sun Ting
e o Dr. João Manoel Losada Moreira, que na condição de revisores
fizeram comentários, críticas e sugestões incorporadas ao texto.
Acima de tudo, porém, este roteiro de estudos representa a
continuidade de um trabalho iniciado pelo Dr. José Rubens Maiorino
e pela Dra. Nanami Kosaka, autores da primeira versão desta obra
que, publicada há três anos, serviu como referência principal na
elaboração de todo o volume.
Com esta nova versão do roteiro de estudos, espera-se não
só contribuir para a melhoria no aproveitamento da disciplina CTN-
752, mas também proporcionar aos leitores uma idéia da
importância que o domínio da tecnologia nuclear representa para
uma nação.

São Paulo, 30 de agosto de 1996.


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Ediiçção
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Ao longo dos anos decorridos desde a publicação deste A partir do corrente ano, o módulo de reatores nucleares
roteiro de estudos, a incorporação de novas tecnologias aos passa a constituir disciplina autônoma no âmbito da pós-graduação
métodos de ensino tem se consolidado de maneira cada vez mais do IPEN/CNEN-SP. O nome da nova disciplina criada neste ensejo
rápida e abrangente. é Fundamentos de Tecnologia Nuclear – Reatores (TNR5764).
Foi no contexto desta nova realidade que, por iniciativa do Sr. Este fato motivou a realização de uma nova revisão do
Fernando J. F. Moreira, Chefe da Divisão de Ensino, decidiu-se conteúdo do presente roteiro de estudos, visando incorporar ao
disponibilizar uma edição do roteiro de estudos utilizando a rede texto tanto algumas atualizações quanto sugestões feitas por
interna de computadores (Intranet) do IPEN/CNEN-SP. alunos. Uma vez mais, o trabalho de revisão coube ao Dr. Luís
A presente edição eletrônica traz como novidades não apenas Antônio Albiac Terremoto.
a forma de veiculação, por si só digna de destaque, mas também a Ao disponibilizar esta versão aperfeiçoada na rede interna de
revisão e a atualização do texto apresentado no roteiro de estudos computadores (Intranet) do IPEN/CNEN-SP, consolida-se uma
publicado em agosto de 1996. O trabalho de revisão e atualização, marca de continuidade e renovação na busca perseverante dos
que resultou nesta nova versão, coube ao Dr. Luís Antônio Albiac mesmos objetivos: contribuir para a melhoria no aproveitamento da
Terremoto. disciplina de pós-graduação doravante intitulada Fundamentos de
Todo este esforço inovador visa sobretudo conferir maior Tecnologia Nuclear – Reatores (TNR5764) e ao mesmo tempo
eficiência à consecução dos mesmos objetivos centrais que proporcionar uma idéia da importância que o domínio da tecnologia
nortearam a elaboração da edição anterior: contribuir para a nuclear representa para uma nação.
melhoria no aproveitamento da disciplina de pós-graduação
Fundamentos de Tecnologia Nuclear (TNA-752) e ao mesmo tempo São Paulo, 20 de setembro de 2004.
proporcionar uma idéia da importância que o domínio da tecnologia
nuclear representa para uma nação.

São Paulo, 05 de março de 2002.


artificiais que emitem raios-gama podem ser produzidos em grandes quantidades por
meio de reatores nucleares e, em seguida, utilizados para fazer fontes de fotonêutrons
II - FÍÍS
SIIC
CA D
DOOS
S REATO
ORRE
ESSN
NUC
CLLE
EAARES bastante intensas. Uma fonte deste tipo é obtida ao se misturar, em condições
apropriadas, um isótopo radioativo emissor de raios-gama (por exemplo 24Na, que
emite raios-gama com energias de 1,37 MeV e 2,75 MeV) com berílio metálico em pó
A - FÍSICA DE NÊUTRONS (Be) ou água pesada (D2O). Cada uma destas fontes pode fornecer até 107 nêutrons
por segundo, com energias cinéticas médias de 830 keV (no caso do uso de Be) ou de
220 keV (no caso do uso de água pesada).
Nêutrons também são produzidos em aceleradores de partículas, onde um
A.1 - Introdução
elemento-alvo é bombardeado por partículas aceleradas que possuem carga elétrica
(elétrons, prótons, dêuterons, partículas , etc., dependendo do tipo de acelerador
Desde a descoberta do nêutron em 1932, o papel e a importância da Física de usado), causando reações nucleares que resultam na emissão de nêutrons. Este
Nêutrons cresceram acentuadamente, havendo hoje um grande interesse nas idéias, processo vem sendo cada vez mais utilizado em pesquisas que utilizam nêutrons.
métodos e aplicações que se desenvolveram neste campo. Os nêutrons, por serem No entanto, as fontes mais importantes de nêutrons são aquelas associadas
partículas pesadas desprovidas de carga elétrica, possuem propriedades que os com reatores nucleares, onde ocorrem, de maneira controlada, reações nucleares de
tornam especialmente interessantes e importantes na ciência e tecnologia fissão em cadeia auto-sustentada.
contemporâneas. As diversas reações nucleares induzidas por nêutrons são uma
valiosa fonte de informação sobre o núcleo atômico e foram utilizadas para produzir
muitos radioisótopos novos. Estes nuclídeos produzidos artificialmente fornecem A.3 - Interação de nêutrons com a matéria
informações adicionais sobre a estrutura nuclear e têm aplicações em outras áreas da
ciência, como a Química, a Biologia e a Medicina.
Os nêutrons têm também usos diretos como ferramentas de pesquisa. Por Ao longo deste tópico serão abordados alguns aspectos relevantes da
exemplo, suas propriedades os tornam mais úteis do que os raios-X para certos fins interação de nêutrons com a matéria, sendo a ênfase da abordagem voltada para os
analíticos. fenômenos envolvidos.
Entretanto, o uso mais impressionante de nêutrons é em reações em cadeia Pelo fato de não possuírem carga elétrica, nêutrons não interagem com a
envolvendo materiais físseis. Estas reações em cadeia tiveram aplicações militares matéria através da força coulombiana. Como conseqüência, a presença de elétrons
que marcaram época (armas nucleares) e podem ser utilizadas como uma fonte atômicos não altera a trajetória ou a energia cinética de nêutrons que incidem em um
importante de calor industrial e de energia elétrica. meio material. Esta característica faz com que os nêutrons sejam bastante
Tais usos de nêutrons e as aplicações da Física de Nêutrons dependem do penetrantes. A única maneira pela qual nêutrons perdem energia cinética ao
conhecimento das propriedades destas partículas e de uma compreensão de sua atravessarem um meio material é através de fenômenos decorrentes de interações
interação com a matéria. com núcleos atômicos.
Nesta parte, a ênfase será referente ao estudo dos nêutrons propriamente A classificação destes fenômenos pode ser feita através da seguinte
ditos, sua produção e interação com a matéria. formulação geral simplificada

n+X Y+g (2)


A.2 - Produção de nêutrons
onde n é o nêutron incidente, X é o núcleo-alvo, Y é um núcleo-produto e g é um
produto da interação. Dependendo da natureza de g, o fenômeno será: a)
As reações nucleares são a única fonte de nêutrons e as reações ( ,n) em espalhamento elástico (g é um nêutron e a energia cinética total do sistema nêutron
elementos leves, que levaram à descoberta do nêutron, ainda são usadas para incidente + núcleo-alvo se conserva); b) espalhamento inelástico (g é um nêutron, a
produzir estas partículas. Quando se mistura um grama de rádio (elemento radioativo energia cinética total do sistema nêutron incidente + núcleo-alvo não se conserva e o
que emite partículas espontaneamente) com vários gramas de berílio em pó, são núcleo-alvo é levado a estados excitados); c) captura (g é uma ou mais partículas
produzidos cerca de 107 nêutrons rápidos por segundo como resultado da reação carregadas pesadas: partículas , prótons, dêuterons, etc.); d) captura radiativa (g é
nuclear um raio-gama); e) emissão de nêutrons (g é dois ou mais nêutrons); f) fissão (g é um
núcleo atômico mais dois ou três nêutrons).
9
Be + 4 12
C + 1n (1) Para um determinado tipo de núcleo-alvo, as probabilidades relativas de
ocorrência destes fenômenos mudam drasticamente com a energia cinética E dos
A mistura pode ser contida num volume de 6 ou 7 cm3, fornecendo uma fonte de nêutrons incidentes, classificados como muito rápidos (15 MeV E 50 MeV), rápidos
nêutrons conveniente. O conjunto assim constituído é denominado fonte neutrônica de (0,1 MeV E 15 MeV), intermediários (1 keV E 100 keV), epitérmicos (1 eV E
Ra-Be. O rádio e seus produtos de decaimento emitem partículas com energias 1 keV) e térmicos (E 1 eV). Entretanto, para efeito de uma descrição geral dos
cinéticas entre 4,79 MeV e 7,68 MeV e os nêutrons emitidos pela fonte têm energias fenômenos mencionados no parágrafo anterior, será adotada uma classificação
cinéticas de cerca de 1 MeV até 13 MeV. bastante simplificada referente aos nêutrons, considerando-se como rápidos ou lentos
Outra maneira de produzir nêutrons é através das chamadas fontes de os nêutrons cuja energia cinética é respectivamente maior ou menor que 0,5 eV.
fotonêutrons, que fornecem nêutrons praticamente monoenergéticos e independem do Na interação de nêutrons lentos com núcleos atômicos, predominam os
uso de substâncias radioativas naturais. A maior parte destas fontes está baseada nas fenômenos de espalhamento elástico, captura radiativa e captura. A perda de energia
reações nucleares 9Be( ,n)8Be e 2D( ,n)1H. A energia de ligação do último nêutron é cinética por intermédio do espalhamento elástico faz com que os nêutrons entrem em
particularmente pequena no 9Be e no 2D, de maneira que as reações ( ,n) apresentam equilíbrio térmico com o meio material, possibilitando que outro fenômeno (por
limiares muito baixos: 1,67 MeV e 2,23 MeV, respectivamente. Isótopos radioativos exemplo, captura, caso a reação nuclear correspondente seja exotérmica) venha
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então a ocorrer. Estas reações são de grande relevância na detecção de nêutrons, onde I0 é a intensidade inicial do feixe paralelo monoenergético incidente.
pois os produtos designados por g na formulação geral (2) podem ser detectados O caminho livre médio é definido como a distância média percorrida por um
diretamente. Para um grande número de materiais, o fenômeno de captura radiativa é nêutron no meio material antes de interagir com um núcleo atômico. O valor desta
aquele que apresenta maior probabilidade de ocorrência, constituindo a base da grandeza pode ser calculado como
construção de blindagens para nêutrons lentos.
A probabilidade de ocorrência dos fenômenos de captura radiativa e captura
diminui muito quando se trata da interação de nêutrons rápidos com núcleos atômicos,
predominando os fenômenos de espalhamento elástico e espalhamento inelástico. No 0 1
(7)
espalhamento elástico de nêutrons rápidos, parcela considerável da energia cinética
inicial dos nêutrons é transferida aos núcleos-alvo, os quais podem ser detectados
como núcleos de recuo. No espalhamento inelástico de nêutrons rápidos, parte da 0

energia cinética inicial dos nêutrons é consumida para levar o núcleo-alvo a um de


seus estados excitados. A desexcitação do núcleo-alvo ocorre por emissão de um Para nêutrons lentos que incidem em materiais sólidos, é da ordem de um cm,
raio-gama. O fenômeno de espalhamento inelástico é de grande importância na enquanto para nêutrons rápidos perfaz geralmente dezenas de cm.
construção de blindagens para nêutrons rápidos. Na maioria das situações práticas envolvidas nos cálculos de Física dos
Caso especial constitui a interação de nêutrons muito rápidos (15 MeV E 50 Reatores Nucleares, os nêutrons que incidem em um meio material não estão
MeV) com núcleos intermediários e pesados, na qual o fenômeno predominante é a estreitamente colimados. Nestas circunstâncias é conveniente introduzir o conceito do
emissão de dois nêutrons através da reação (n,2n). Outros fenômenos decorrentes fluxo de nêutrons ( ), com dimensão de cm 2.t 1, para uma determinada posição
deste tipo de interação, embora menos prováveis, são espalhamento inelástico e definida pelo vetor . A taxa de reação R de um determinado tipo é dada pelo produto
espalhamento elástico. do fluxo de nêutrons pela seção de choque macroscópica para o fenômeno
Para nêutrons com uma energia cinética bem definida (monoenergéticos) correspondente:
incidindo em um núcleo atômico conhecido, a probabilidade de ocorrência
correspondente a cada um dos fenômenos mencionados é uma constante. Esta R = ( ). [reações/cm3.s] (8)
probabilidade é denominada seção de choque (também usualmente designada
como seção de choque microscópica), possui dimensão de área, sendo medida em Esta expressão pode ser generalizada para incluir um fluxo de nêutrons e uma seção
24
unidades de barn (1 b = 10 cm ). 2 de choque macroscópica dependentes da energia cinética E dos nêutrons
A grandeza denominada seção de choque macroscópica resulta da considerados:
multiplicação da seção de choque pelo número N de núcleos atômicos por unidade
3
de volume (cm ): R= (9)
0
= N. (3)
1
sendo que possui a dimensão de cm . A seção de choque macroscópica total A.4 - Moderação de nêutrons
resulta da soma das seções de choque macroscópicas correspondentes a cada um
dos fenômenos mencionados (espalhamento elástico- , espalhamento inelástico-
Pelo fato de ocorrer para nêutrons de todas as energias e por se constituir no
, captura- , captura radiativa- , emissão de nêutrons- , fissão- ): principal processo pelo qual nêutrons rápidos são convertidos em nêutrons lentos, é
importante estudar o fenômeno de espalhamento elástico com mais detalhes.
t = ee + ei + c + cr + en + f (4) A desaceleração de nêutrons rápidos em nêutrons lentos, denominada
moderação, é de grande interesse prático, pois as seções de choque para os
e deste modo t fornece a probabilidade, por unidade de comprimento atravessado, de fenômenos de fissão e captura radiativa aumentam com a diminuição da energia
que qualquer um destes fenômenos venha a ocorrer. cinética do nêutron incidente.
Um feixe paralelo monoenergético de nêutrons exibe uma atenuação Para a maior parte dos fins práticos, o processo importante de moderação é o
exponencial característica ao atravessar um meio material. A análise apresentada a espalhamento elástico por núcleos leves. O espalhamento inelástico por núcleos
seguir supõe um feixe paralelo de geometria estreita na qual qualquer nêutron intermediários ou pesados é importante para nêutrons com energias cinéticas acima
defletido, ainda que por um ângulo pequeno, é considerado removido do feixe. Uma de 1 MeV, porém se torna praticamente desprezível abaixo desta energia. Portanto,
vez que o número de nêutrons removidos do feixe em uma espessura x do meio por simplicidade, será abordado ao longo deste tópico somente o espalhamento
material é proporcional à intensidade I(x) naquela espessura, à seção de choque elástico de nêutrons por núcleos leves.
macroscópica total t do meio material e à espessura incremental dx, a variação de Na interação entre um nêutron e um núcleo atômico leve através de
intensidade do feixe em dx pode ser escrita como: espalhamento elástico, tanto a quantidade de movimento total quanto a energia
cinética total são conservadas. O tratamento matemático do fenômeno pode ser
efetuado de acordo com a mecânica clássica, uma vez que os nêutrons considerados
dI(x) = I(x). t.dx (5)
não são relativistas (possuem energia cinética menor que 200 MeV). É conveniente
considerar a interação no sistema de coordenadas do laboratório (sistema lab.) e no
A integração da expressão (5) fornece o resultado
sistema de coordenadas do centro de massa (sistema c.m.), conforme mostra a figura
1 a seguir.
I(x) = I0.e (6)

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O retorno ao sistema lab. requer a adição da velocidade a todos os vetores
velocidade do sistema c. m. (ver figura 1c)). Efetuada esta adição, todas as relações
referentes a velocidades e ângulos podem ser obtidas imediatamente a partir da
própria figura. Portanto, a energia cinética do nêutron no sistema lab. após a interação
é dada pela expressão

1 2 1 2
1 v
1 1 1 1 v02 2 1v 0 (13)
2 2
que apresenta valores máximo e mínimo respectivamente quando = 00 e = 1800,
dados por

2
1 1 v 1 v 1

(14)
2
1 2 1 2 1 2
1 1 1 v0 1 v1 2v0 1
2 2 1 2

Para valores intermediários do ângulo , a razão entre a energia cinética do nêutron


1 após a colisão e a sua energia cinética inicial 1 é dada por

Figura 1 - Esquema representativo da interação entre um nêutron de massa M1 e um 1 v12 2


2
2
1 2 2 1
núcleo atômico de massa M2, supondo espalhamento elástico. (15)
1 v12 2 1
2

Para descrever o fenômeno, considera-se que no sistema lab. um nêutron de


massa M1 e velocidade inicial interage com um núcleo-alvo de massa M2 em Se a razão entre a massa do núcleo-alvo (moderador) e a massa do nêutron, igual a
M2/M1, passa a ser designada por A, a expressão (15) torna-se:
repouso. Após a interação, o nêutron e o núcleo-alvo se movimentam respectivamente
com velocidades e formando ângulos 1 e 2 com a direção de incidência do 2
1 1 2
nêutron (ver figura 1a)). A interação ocorre em um plano porque inicialmente não há 2
(16)
momento perpendicular à velocidade . O centro de massa do sistema se move com 1 1
uma velocidade
A razão entre massas designada por A pode ser considerada como sendo igual
ao número de massa do núcleo-alvo (moderador) sem introduzir qualquer erro
v
1 1 considerável, pois M1 é próximo da unidade e M2 é muito próximo a um inteiro. É
v0 (10)
1 2 conveniente exprimir a razão de energia em termos da quantidade

2
na direção de . Se o vetor é subtraído de todos os vetores velocidade, o centro 1
de massa permanece em repouso, definindo-se portanto o sistema c. m. a partir deste (17)
1
procedimento (ver figura 1b)). Utilizando-se a lei de conservação da quantidade de
movimento e a equação (10), resulta que neste sistema tanto o nêutron quanto o
núcleo-alvo têm vetores momento iguais e opostos, antes e após a interação. Por sua que, conforme mostra a expressão (14), é uma medida da energia cinética máxima
vez, a conservação da energia cinética total só é possível se cada partícula mantiver que pode ser perdida pelo nêutron em uma única colisão. A expressão (16) assume
sua velocidade após a interação. Assim pois, se V1 e V2 são respectivamente as então a forma
velocidades do nêutron e do núcleo-alvo no sistema c. m. antes da interação, resulta
1 1 1
(18)
M1V1 = M2V2 (11) 2 2
1

sendo V1 e V2 as respectivas velocidades também após a interação. Uma vez que o


núcleo-alvo está em repouso no sistema lab., a construção do sistema c. m. implica na A perda média de energia cinética por colisão pode ser calculada através do
validade da seguinte relação adicional: decréscimo médio do logaritmo da energia cinética do nêutron por colisão, denotado
por . Esta quantidade é conveniente para ser usada em cálculos de moderação de
V2 = (12) nêutrons, pois a mesma é independente da energia cinética inicial do nêutron
incidente. Como a razão entre energias mostrada na expressão (18) é uma função
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linear de cos e todos os valores de cos são igualmente prováveis (desde que a Para o hidrogênio (A=1), r = 0 e a energia cinética média de um nêutron após uma
energia cinética inicial do nêutron seja menor que 10 MeV, condição satisfeita na colisão com um núcleo de hidrogênio (constituído por um próton) fica sendo
grande maioria dos casos de interesse), segue-se que todos os valores da razão entre justamente a metade da energia cinética inicial. Se entretanto um nêutron colidir com o
energias mostrada na expressão (18) são igualmente prováveis. Nestas núcleo de um átomo de carbono (A=12), r = 0,72 e 1 = 0,86.E1. Caso o nêutron
circunstâncias, a probabilidade P.d de que um nêutron com energia cinética inicial 1 colida com um átomo cujo núcleo possua número de massa A = 200, r = 0,98 e 1 =
tenha uma energia cinética, após uma colisão, entre e +d é dada por
0,99.E1.
Quando se conhece o valor de , o número médio de colisões necessárias
(19) para produzir um dado decréscimo na energia cinética do nêutron pode ser facilmente
1 1 calculado. Por exemplo, se os nêutrons possuem inicialmente uma energia cinética
média de 2 MeV, e se eles devem ser moderados para 0,025 eV (energia cinética do
onde 1.(1 ) representa a faixa inteira de valores de energia cinética que um nêutron nêutron correspondente à energia térmica na temperatura ambiente), o logaritmo da
pode ter após uma colisão. Por definição, o decréscimo do logaritmo da energia perda de energia cinética total é ln(2.106/0,025). Como a perda média por colisão é ,
cinética devido ao espalhamento de um nêutron é dado por : o número de colisões neste caso é dado por

1
2 10 6 0 025 18 2
(20) (27)
1

Portanto, o valor de pode ser calculado da seguinte maneira Apesar da quantidade ser um indicador da adequação de uma dada
substância para diminuir a energia cinética de nêutrons que nela incidem, outras
1 1 características devem ser levadas em conta antes de decidir pelo uso da mesma como
1 1 moderador. O número de átomos por unidade de volume que a substância apresenta,
(21)
1 1 assim como a probabilidade de ocorrência do fenômeno de espalhamento elástico
1 1
(expressa no valor da seção de choque correspondente), também devem ser
considerados. Finalmente, para um bom moderador, as seções de choque para os
Se x é igualado à razão entre energias cinéticas, a expressão (21) pode ser escrita fenômenos de captura, captura radiativa e fissão devem ser muito pequenas, pois
novamente como caso contrário um grande número de nêutrons seria perdido por absorção. Como
resultado destas considerações, são usadas duas outras quantidades para expressar
1 as propriedades de um moderador de nêutrons.
(22) A primeira destas é o poder de moderação, definido por
1 1

o que resulta Poder de moderacao 0


(28)

(23)
onde N é o número de átomos por cm3, é a massa específica, N0 é o número de
Avogadro (igual a 6,023.1023) e ee é a seção de choque para o fenômeno de
ou ainda espalhamento elástico. O poder de moderação tem a dimensão de cm 1 e deve
apresentar um valor relativamente grande para um bom moderador.
A segunda quantidade é a razão de moderação, definida por
(24)
Razao de moderacao (29)
sendo independente da energia cinética do nêutron, conforme mencionado
anteriormente. Por sua vez, a expressão (24) pode ser escrita na forma
onde a é a seção de choque para absorção (resultante da soma das seções de
choque para os fenômenos de captura, captura radiativa e fissão). A razão de
12 1 moderação é a medida do poder de moderação relativo e habilidade de absorção de
1 (25)
2 1 uma dada substância.
As propriedades de alguns bons moderadores de nêutrons são mostradas na
Uma outra grandeza útil é a energia cinética média de um nêutron após uma tabela 1. No cálculo dos valores da razão de moderação, usaram-se as seções de
colisão, dada por choque para absorção de nêutrons térmicos. Estes valores são maiores do que
aqueles encontrados para nêutrons com energias cinéticas mais elevadas, de maneira
que os valores das razões de moderação mostrados na tabela 1 são limites inferiores,
1
1 1 e não valores precisos, mas mesmo assim são úteis para fins de comparação.
1 (26)
1
2
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Moderador Poder de moderação (cm 1) Razão de moderação
(32)
H2O 1,53 72
D2O 0,370 12000
Be 0,176 159 Para que a equação (32) seja satisfeita para algum valor de velocidade , é
Grafite 0,064 170
necessário que
Tabela 1 - Valores do poder de moderação e da razão de moderação para alguns
bons moderadores de nêutrons.
(33)
De acordo com estes resultados, água pesada (D2O) é o melhor dos
moderadores listados e água (H2O) o menos efetivo. A razão de moderação
relativamente fraca da água é causada pela seção de choque para captura radiativa para cada valor da temperatura absoluta . Como alcança seu valor máximo
razoavelmente alta (igual a 0,332 b, para nêutrons térmicos) do hidrogênio. Na prática,
água pesada é uma substância muito cara e só pode ser usada para aplicações quando , esta velocidade é a mais provável. A energia cinética correspondente
especiais nas quais o custo não é a consideração primária. O berílio também é caro, à velocidade mais provável é designada por e resulta
sendo raramente utilizado. Grafite (uma das formas alotrópicas do carbono) e água
são os moderadores usados mais freqüentemente, pelo fato de oferecerem uma
relação satisfatória entre poder de moderação e custo. (34)

A.5 - Nêutrons térmicos O valor numérico da velocidade mais provável v0 para a temperatura ambiente igual a
200 C (ou seja, = 293 graus Kelvin) é igual a 2198 m/s, correspondendo a uma
energia cinética do nêutron igual a 0,0252 eV.
Como resultado do processo de moderação, os nêutrons podem alcançar o
estado em que suas energias estejam em equilíbrio com aquela dos átomos ou Outra propriedade importante da distribuição maxwelliana é a velocidade
média, dada por
moléculas do moderador no qual eles se movem. Numa colisão particular com um
núcleo atômico, um nêutron pode então ganhar ou perder uma pequena quantidade de
energia cinética. Em um grande número de colisões entre nêutrons e núcleos (35)
atômicos, os ganhos de energia cinética são tão prováveis como as perdas de energia
cinética. Diz-se então que os nêutrons estão em equilíbrio térmico com os átomos ou
moléculas do moderador. O comportamento destes nêutrons é similar àquele dos sendo cerca de 13% maior do que a velocidade mais provável. A distribuição de
átomos de um gás e pode ser descrito razoavelmente bem pela teoria cinética dos energia dos nêutrons é dada por
gases.
Quando as condições para o equilíbrio térmico são satisfeitas, os nêutrons têm
a bem conhecida distribuição maxwelliana de velocidades, dada por (36)

(30) onde representa o número de nêutrons com energia cinética entre e


. A energia cinética média é

onde n é o número total de nêutrons por unidade de volume, n(v)dv é o número de 3


nêutrons por unidade de volume que possuem velocidades entre v e v + dv, m é a (37)
massa de um nêutron, é a constante de Boltzmann e é a temperatura absoluta do 2
moderador, medida em graus Kelvin.
A distribuição maxwelliana possui algumas propriedades importantes, uma das sendo 50% maior do que a energia cinética correspondente à velocidade mais
quais é o valor da velocidade mais provável, que pode ser determinado pelo provável. A energia cinética média não corresponde à velocidade média, como se
procedimento usual de diferenciar o lado direito da expressão (30) em relação a v e pode verificar comparando as expressões (35) e (37), mas sim à velocidade quadrática
igualar a derivada a zero. O lado direito pode ser escrito na forma , onde média vs dada por
representa o coeficiente , que é independente de , sendo também
conveniente estabelecer . Efetuadas estas alterações, a expressão (30) (38)
pode ser escrita novamente na forma
ou ainda
(31) (39)

de tal maneira que


Apesar de qualquer uma das propriedades discutidas poder ser usada para
caracterizar a distribuição maxwelliana de nêutrons térmicos, é mais comum descrever

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os nêutrons térmicos em termos da velocidade mais provável e da energia cinética Para isótopos pesados, a variação segundo 1/v é observada em baixas energias até
correspondente. Estes nêutrons são em geral denominados “nêutrons ” e as seções cerca de 10 eV. Na faixa de energias intermediárias, compreendida entre 10 eV e 1
de choque indicadas para nêutrons térmicos são usualmente aquelas para a keV, a seção de choque para absorção apresenta um comportamento bastante
velocidade de 2200 m/s ou para uma energia cinética de 0,025 eV. irregular caracterizado pela presença de picos conhecidos como ressonâncias. Nestas
ressonâncias, o valor da seção de choque para absorção pode alcançar valores muito
elevados. Para energias acima de 1 keV, não há resolução para distinguir as
A.6 - Variação da seção de choque com a energia cinética do nêutron diferentes ressonâncias e a seção de choque para absorção assume um valor
aproximadamente constante que perfaz alguns barns. Por sua vez, a seção de choque
para absorção de nêutrons por isótopos intermediários apresenta comportamento
Conforme mencionado anteriormente, as seções de choque para interações
típico que pode ser descrito em linhas gerais pela seguinte seqüência:
com nêutrons em geral não são constantes, mas variam como função da energia
proporcionalidade a 1/v em baixas energias, presença de algumas ressonâncias em
cinética do nêutron incidente. Uma descrição completa da variação destas seções de
energias intermediárias e oscilação suave em torno de um valor relativamente baixo
choque está além dos propósitos deste curso, cuja abordagem ficará restrita a um
em energias elevadas.
resumo geral do tema, dedicando-se especial atenção a alguns exemplos de maior
A figura 2 mostra esquematicamente o comportamento típico das seções de
interesse para a Física dos Reatores Nucleares.
choque para incidência de nêutrons em núcleos intermediários.
Em geral, a variação da seção de choque em função da energia cinética do
nêutron incidente depende do tipo de fenômeno considerado, do número de massa do
núcleo-alvo e da temperatura do meio no qual o nêutron incide. Serão consideradas
seções de choque para nêutrons cuja energia cinética se encontra na faixa
compreendida entre 0,01 eV e 10 MeV.
Seções de choque para espalhamento elástico em núcleos leves são
razoavelmente independentes da energia cinética do nêutron incidente até energias de
aproximadamente 1 MeV. Para núcleos intermediários e pesados a seção de choque
para espalhamento elástico é constante para energias baixas e exibe alguma variação
em energias mais elevadas. Entretanto, como em Física dos Reatores o interesse
maior é na ocorrência de espalhamento elástico em núcleos leves, considera-se como
válida a generalização de que a seção de choque para espalhamento elástico é
constante para todas as energias e elementos de interesse. Convém destacar também
que não há uma variação muito grande de um elemento para outro, sendo que
praticamente todos os elementos possuem seções de choque para espalhamento
elástico que variam entre 2 b e 20 b. As exceções importantes a esta regra geral são
constituídas pela incidência de nêutrons com energia cinética inferior a 1 eV em água
ou água pesada, nas quais, apesar das seções de choque dos átomos constituintes se
manterem constantes, a estrutura molecular faz com que o valor da seção de choque
para espalhamento elástico aumente muito com a diminuição da energia cinética do
nêutron.
O fenômeno de espalhamento inelástico ocorre principalmente entre nêutrons
com energia cinética elevada e núcleos intermediários e pesados, sendo importante
em Física dos Reatores porque estes nêutrons podem perder grande parte da energia
inicial como resultado de espalhamento inelástico em núcleos pesados como urânio. O
espalhamento inelástico de nêutrons por núcleos leves não apresenta muito interesse
prático, pois a energia a partir da qual este fenômeno passa a ocorrer, denominada
energia de limiar, é muito alta. As energias de limiar para espalhamento inelástico de
nêutrons em oxigênio, sódio e urânio são respectivamente cerca de 6,5 MeV, 0,4 MeV
e 0,05 MeV, e acima destes valores a seção de choque de espalhamento inelástico
aumenta até atingir um valor pequeno e aproximadamente constante que em geral
perfaz alguns barns. Figura 2 - Esquema ilustrativo das seções de choque para incidência de nêutrons com
As seções de choque para absorção exibem uma variação bem mais energia cinética E em núcleos intermediários: (a) seção de choque total; (b) seção de
acentuada que as seções de choque para espalhamento elástico, não apenas em choque para espalhamento elástico; (c) seção de choque para espalhamento
função da energia cinética do nêutron incidente, mas também de um isótopo para inelástico; (d) seção de choque típica para captura; (e) seção de choque para captura
outro. A seção de choque para absorção de nêutrons por muitos isótopos leves é radiativa.
inversamente proporcional à velocidade dos nêutrons em uma ampla faixa de
energias, ou seja As seções de choque para fissão nos núcleos 235U, 233U e 239Pu variam de
maneira semelhante à seção de choque para absorção de nêutrons por isótopos
pesados, cujo comportamento foi descrito anteriormente em linhas gerais:
(40) proporcionalidade a 1/v em baixas energias, ocorrência de ressonâncias em energias
intermediárias e oscilação suave em torno de um valor constante na faixa de energias
elevadas.
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É possível explicar qualitativamente alguns dos motivos pelos quais as seções
de choque apresentam as variações características gerais apresentadas
anteriormente. Em energias abaixo da região de ressonância, a probabilidade de
B - FISSÃO NUCLEAR
interação é governada pelo tempo durante o qual o nêutron se encontra na vizinhança
do núcleo. Este tempo varia de maneira inversamente proporcional à velocidade do
nêutron, fato que resulta na proporcionalidade a 1/v. B.1 - Teoria do processo de fissão
A explicação dos picos de ressonância provém dos mecanismos de formação
do núcleo composto. O núcleo composto é formado com uma energia de excitação Após a descoberta do nêutron, foram efetuados experimentos detalhados com
dada por B+Ec, onde B é a energia de ligação de um nêutron em um núcleo composto o objetivo de estudar o efeito causado pela incidência deste tipo de partícula nos mais
e Ec é a energia cinética do nêutron multiplicada por A/(A+1). Se a energia cinética do diversos elementos. Em meio ao grande número de elementos estudados, atenção
nêutron é tal que o núcleo composto resulta formado em um de seus estados especial foi dedicada ao elemento natural com maior número atômico, o urânio. A
excitados ou muito próximo deles, a probabilidade de que ocorra a interação entre o descoberta do processo de fissão nuclear ocorreu em 1939, no âmbito destes
nêutron incidente e o núcleo-alvo aumenta e, como conseqüência, a seção de choque experimentos. Após bombardear átomos de urânio com nêutrons lentos, isolou-se um
assume valores elevados, dando origem aos picos de ressonância. Se, caso contrário, produto radioativo que inicialmente foi considerado como sendo constituído por um
a energia cinética do nêutron incidente é tal que o núcleo composto resulta formado isótopo do urânio. Entretanto, evidências posteriores mostraram que o produto
com uma energia cujo valor está entre dois estados excitados, a probabilidade de que radioativo isolado continha na verdade átomos de bário, ao invés de urânio. Este
a interação venha a ocorrer é muito menor e, como conseqüência, a seção de choque resultado foi assumido com relutância, em razão da natureza revolucionária da
assume valores consideravelmente mais baixos. Os núcleos compostos pesados conclusão de que o bombardeamento de um núcleo de urânio (com Z = 92) fosse
como o 239U possuem vários estados excitados muito próximos, o que explica o grande capaz de produzir um núcleo com cerca da metade da massa do núcleo original (o
número de ressonâncias presentes na seção de choque para absorção de nêutrons bário possui Z = 56).
pelo núcleo 238U. Em vista das notáveis propriedades do processo de fissão, uma soma de
Por fim, é importante destacar que o comportamento geral da seção de choque esforços foi direcionada em estudos teóricos do processo. O primeiro tratamento
para fissão em núcleos pesados também varia muito conforme o isótopo considerado. completo teve como base o modelo da gota líquida do núcleo. Este modelo pode ser
Por exemplo, nos núcleos 232Th e 238U, de interesse para a Física de Reatores usado para descrever o processo de fissão com algum detalhe e fazer previsões bem
Nucleares, as seções de choque para fissão apresentam energia de limiar em torno de sucedidas sobre a ocorrência de fissão espontânea e sobre a capacidade de vários
1,4 MeV e de 1 MeV, respectivamente. núcleos pesados sofrerem fissão ao serem bombardeados com nêutrons lentos ou
rápidos.
No modelo da gota líquida, o núcleo é considerado como sendo uma gota
inicialmente esférica, mas cuja forma depende em cada instante do balanço
envolvendo as forças de tensão superficial e as forças repulsivas de origem
eletrostática. Se energia for adicionada à gota, como na forma de energia de excitação
resultante da captura de um nêutron lento, estabelecem-se oscilações dentro da gota.
Estas oscilações tendem a distorcer a forma esférica, de maneira que a gota pode
assumir uma forma elipsoidal. As forças de tensão superficial tendem a fazer a gota
retornar à sua forma original, enquanto que a energia de excitação tende a distorcer
ainda mais a forma. Se a energia de excitação é suficientemente grande, a gota pode
atingir a forma de um haltere. As forças de repulsão eletrostática podem então forçar
os dois extremos para fora até que o haltere se rompa em duas gotas similares, cada
uma das quais com forma esférica. A seqüência das etapas que levam à fissão está
mostrada na figura 3. Se a energia de excitação não é suficientemente grande, a gota
elipsoidal pode retornar à forma esférica, com a energia de excitação sendo liberada
na forma de raios-gama. Neste caso, o fenômeno é de captura radiativa ao invés de
fissão.

Figura 3 - Etapas possíveis no processo da fissão nuclear de acordo com o modelo da


gota líquida.

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A energia potencial da gota nos diferentes estágios pode ser calculada em fissões espontâneas ocorrem por grama por hora em uma amostra de 238U, sendo a
função do grau de deformação da gota. A figura 4 mostra como varia a energia meia-vida para este processo igual a 8,0.1015 anos.
potencial E da gota em função de um parâmetro r que é uma medida do grau de A energia de ativação Ec - E0 necessária para induzir fissão em núcleos do tipo
deformação. Em r = 0, que representa a gota esférica inicial, há uma quantidade de II foi calculada a partir da teoria da gota líquida, podendo ser comparada com a
energia disponível E0, dada por energia de excitação resultante da captura de um nêutron, da interação com outra
partícula ou da incidência de um raio-gama. A energia de excitação de um núcleo
E0 = [M(A,Z) - M(A1,Z1) - M(A2,Z2)].c2 (41) composto pode ser calculada a partir das massas dos núcleos envolvidos, caso estes
sejam conhecidos. Quando o núcleo composto é formado pela captura de um nêutron
onde (A,Z) representa o núcleo que pode sofrer fissão e os índices 1 e 2 denotam os lento, a energia de excitação difere por uma quantia desprezível da energia de ligação
possíveis produtos finais. O valor de E0 corresponde ao estado fundamental do núcleo do último nêutron. No caso do núcleo composto 236U, a energia de ligação é calculada
composto formado quando o núcleo-alvo captura um nêutron, mas não inclui a energia como segue :
de excitação resultante da captura deste nêutron.
Massa do 235U (235,11704 u.m.a.) + Massa do nêutron (1,00898 u.m.a.) = 236,12602 u.m.a.
236
Massa do núcleo composto U = 236,11912 u.m.a.

Diferença entre ambos M = 0,00690 u.m.a. = 6,4 MeV

Os valores da energia de excitação calculados desta maneira para vários


núcleos pesados estão listados na tabela 2, juntamente com os valores
correspondentes da energia de ativação obtidos a partir da teoria da gota líquida.

Energia de excitação Energia de ativação


Núcleo-alvo Núcleo composto
(MeV) (MeV)
233 234
Figura 4 - Energia potencial de dois fragmentos de fissão em função da distância entre U U 6,6 4,6
os centros e a configuração no contato, quando a energia potencial é 197 MeV. 235
U 236
U 6,4 5,3
239 240
Pu Pu 6,4 4,0
Quando a gota está dividida em dois fragmentos, r é a distância entre seus 238
U 239
U 4,9 5,9
centros. Se R1 e R2 são os raios das duas gotas produzidas, r = R1 + R2 é o valor do 232
Th 233
Th 5,1 6,5
parâmetro de deformação no qual as duas gotas simplesmente encostam. Para
Tabela 2 - Fissionabilidade de núcleos pesados por nêutrons térmicos.
valores de r menores que R1 + R2, r representa o grau de desvio da gota original de
sua forma esférica. Para valores de r maiores que R1 + R2, a energia é justamente a
Nos núcleos 233U, 235U e 239Pu, a energia de excitação é consideravelmente
energia eletrostática resultante da repulsão mútua dos dois fragmentos nucleares
maior que a energia de ativação, esperando-se portanto que estes núcleos sofram
carregados positivamente. O valor de E nesta região é dado por (Z1Z2e2/r), de maneira
fissão quando neles incidem nêutrons térmicos. Isto realmente ocorre e as seções de
que E diminui conforme a distância entre os dois fragmentos aumenta. Para r ,o choque para fissão por nêutrons térmicos nestes três núcleos são elevadas.
valor de E é considerado como sendo igual a zero. Quando os dois fragmentos estão Nos núcleos 238U e 232Th, a energia de excitação é menor que a energia de
encostados, r = R1 + R2 e a energia eletrostática é designada por Ec, sendo ativação e portanto os mesmos não devem sofrer fissão por nêutrons térmicos. Os
dados experimentais confirmam também esta previsão, de maneira que, para induzir
fissão nestes dois núcleos, os nêutrons incidentes devem ter uma energia cinética
Ec = (42)
considerável. Por conseguinte, neste caso a fissão apresenta uma energia de limiar.
Observa-se que a fissão por nêutrons térmicos ocorre muito mais
Para valores de r menores que R1 + R2, a energia depende não apenas das freqüentemente em núcleos que possuem um número ímpar de nêutrons, do que em
forças eletrostáticas, mas também das forças de tensão superficial. O cálculo de E núcleos que possuem um número par de nêutrons.
A discussão apresentada nesta parte indica que a teoria da gota líquida do
então é complicado, sendo mostradas três curvas diferentes (I, II e III) para a possível
variação de E nesta região. As formas destas curvas e os valores de E0 estão núcleo foi aplicada com sucesso ao fenômeno da fissão nuclear. Porém, de acordo
relacionados com a massa do núcleo, ou seja, dependem do valor de A na expressão com a teoria, o modo mais provável de divisão de um núcleo do tipo gota líquida é em
dois fragmentos iguais, quando na verdade a divisão que ocorre é assimétrica. Foram
(41). Núcleos estáveis com valores de A um pouco maiores que 100 são do tipo I,
sendo E0 cerca de 50 MeV menor que Ec. Núcleos como os de tório, urânio ou plutônio feitas tentativas de modificar a teoria da gota líquida da fissão para superar esta
são do tipo II, para os quais Ec - E0 perfaz cerca de 6 MeV. Para núcleos ainda mais dificuldade. A aplicação adicional do modelo nuclear de camadas obteve algum
pesados, E0 pode ser maior que Ec, como no caso III. Núcleos do tipo III devem sofrer sucesso na explicação da assimetria observada.
Ainda que quase sempre assimétrica, a fissão induzida pela incidência de
fissão espontaneamente, tendo curta duração.
nêutrons térmicos é binária, consistindo na divisão de um núcleo atômico pesado em
Tendo como base a física clássica, núcleos do tipo II devem ser estáveis com
respeito à fissão. Porém, de acordo com a mecânica quântica, existe uma certa dois fragmentos de tamanho comparável, com a emissão simultânea de raios-gama
prontos mais dois ou três nêutrons rápidos.
probabilidade de que possam sofrer fissão espontânea. Neste caso, os fragmentos
podem “passar através” da barreira representada por Ec, o que ocorre por meio de um Muito mais rara é a ocorrência de fissão ternária, em que o núcleo atômico
fenômeno quântico denominado tunelamento. Como conseqüência, cerca de 25 pesado divide-se em três fragmentos, tendo sido observados os seguintes tipos
principais decorrentes da incidência de nêutrons térmicos: a) os três fragmentos
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possuem tamanho comparável – ocorre à taxa de cinco eventos para cada um milhão
de fissões binárias; b) um dos fragmentos é uma partícula com energia cinética
elevada – corresponde a cerca de um evento a cada 400 fissões binárias; c) um dos
fragmentos é um núcleo leve, com número de massa 4 < A < 12 – corresponde a
cerca de um evento a cada 80 fissões binárias.

B.2 - Seções de choque de fissão

A probabilidade de fissão, comparada com a probabilidade de ocorrência de


outros fenômenos, é um assunto de interesse teórico e de grande importância prática.
As seções de choque térmicas para os diferentes fenômenos no 233U, 235U e 239Pu são
mostradas na tabela 3.
233 235 239
Propriedade U U Pu Figura 5 - Seções de choque total ( T ) e para fissão ( f) do 235
U mostradas em função
(578 4) b (683 3) b (1028 8) b da energia cinética dos nêutrons incidentes.
(525 4) b (577 5) b (742 4) b
(53 2) b (101 5) b (286 4) b
(12 3) b (15 2) b (9,6 0,5) b
2,51 0,02 2,44 0,02 2,89 0,03
0,101 0,004 0,18 0,01 0,39 0,03
1 2,28 0,02 2,07 0,01 2,08 0,02
T1/2 1,62.105 anos 7,10.108 anos 2,44.104 anos
Tabela 3 - Propriedades apresentadas pelos principais materiais físseis mediante
incidência de nêutrons térmicos (v = 2200 m/s, E = 0,025 eV).

Dentre os núcleos pesados, somente o 235U, o 233U e o 239Pu têm seções de


choque altas para fissão por nêutrons térmicos, assim como meias-vidas longas,
ocorrendo naturalmente (235U) ou podendo ser produzidos em quantidades
significativas durante intervalos de tempo praticáveis (233U e 239Pu). Portanto, apenas
estes três materiais físseis são importantes em aplicações em larga escala de fissão 239
Figura 6 - Seções de choque total ( T) e para fissão ( f) do Pu mostradas em função
nuclear.
da energia cinética dos nêutrons incidentes.
O 239Pu é produzido a partir da captura radiativa de um nêutron pelo 238U,
seguida de decaimento beta negativo segundo a cadeia mostrada abaixo:
Muitos núcleos pesados sofrem fissão espontânea, sendo este um modo de
2 36
decaimento muito menos provável do que a emissão de partículas . Núcleos que
238 23 5 .
U(n, )239U 12 239
Np 12 239
Pu sofrem fissão mediante a incidência de nêutrons lentos têm taxas de fissão
espontânea menores do que seus isótopos que sofrem fissão apenas com nêutrons
233 232
O U é produzido a partir da captura radiativa de um nêutron pelo Th, rápidos. Por exemplo, o 235U tem meia-vida para fissão espontânea de cerca de
seguida de decaimento beta negativo segundo a cadeia mostrada abaixo: 1,8.1017 anos, correspondendo a uma taxa de cerca de uma fissão por grama por
hora, enquanto que o 238U tem uma meia-vida para fissão de 8,0.1015 anos, o que
232
Th(n, )233Th 12 22 3 233
Pa 12 27 0 233
U corresponde a uma taxa de 25 fissões por grama por hora.

A seção de choque para fissão nestes materiais varia com a energia de uma
maneira bastante complicada, como mostra a figura 5 para o 235U. Na região térmica f B.3 - Efeitos de temperatura
varia aproximadamente com 1/v. Começando em 0,28 eV, há muitas ressonâncias
próximas, com pelo menos 20 ressonâncias diferentes abaixo de 20 eV. Em energias Na interação de nêutrons com o núcleo atômico, assume-se em geral que o
altas, a seção de choque para fissão é relativamente pequena, perfazendo somente núcleo está em repouso no sistema de referência do laboratório (sistema lab.), e que o
cerca de um barn na vizinhança de 1 MeV. Conforme mostra a figura 6, nêutron incide no mesmo com uma dada energia cinética. Para nêutrons rápidos, esta
comportamento análogo é exibido pela seção de choque para fissão do 239Pu por hipótese é adequada, pois a energia cinética dos nêutrons é muito maior que a energia
nêutrons. térmica associada ao movimento dos núcleos.
Entretanto, para nêutrons lentos (da ordem de eV), a energia cinética passa a
ser comparável com a energia que os núcleos possuem em razão da agitação térmica

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do meio material no qual estão inseridos, de maneira que a seção de choque deve Na figura 7, ilustra-se o comportamento da seção de choque média para
levar em consideração o movimento relativo entre o nêutron e o núcleo-alvo. captura radiativa no 238U, próximo da ressonância de 6,67 eV. Observa-se que embora
Para tanto, a seção de choque média para fenômenos causados pela haja um alargamento da ressonância com uma diminuição do pico, a área sob as
incidência de nêutrons térmicos em um meio material deve ser escrita como função da curvas (para qualquer temperatura) se mantém constante e, portanto, seria de se
temperatura, de acordo com a expressão supor que os efeitos de temperatura não teriam influência sobre a taxa de absorções.
Entretanto, devido ao alargamento da ressonância, o nêutron incidente necessita
atravessar um intervalo de energia maior antes de atingir as regiões térmicas, fato que
(43) aumenta a probabilidade deste nêutron ser absorvido na ressonância. Desta maneira,
com o aumento da temperatura, ocorre um aumento na taxa de absorção. Esta
particularidade é de fundamental importância no controle de um reator nuclear,
onde é a energia cinética dos nêutrons incidentes medida no sistema lab., é a fazendo com que este seja inerentemente seguro em relação a aumentos de potência
temperatura absoluta do meio no qual os nêutrons incidem, é o número de núcleos- ocorridos como conseqüência de um eventual acidente. O aumento de potência
alvo por unidade de volume do meio, é a velocidade dos nêutrons incidentes medida produz um aumento de temperatura no combustível nuclear (constituído por uma
no sistema lab., é a velocidade relativa entre o nêutron e o núcleo-alvo, éa mistura de 235U e 238U), causando um maior número de absorções de nêutrons lentos
seção de choque em função da energia cinética medida no sistema do centro de pelo 238U devido aos efeitos de temperatura. Este aumento do número de absorções
massa (sistema c. m.) e é o número de núcleos-alvo por unidade de volume faz com que diminua o número de fissões no combustível nuclear e portanto a
do meio que se move com velocidades entre e +d . potência liberada pelo reator. Este fenômeno é conhecido como efeito Doppler.
A energia cinética no sistema c. m. é dada por:

(44)

onde e são respectivamente as massas do nêutron e do núcleo-alvo, e são


suas respectivas energias cinéticas no sistema lab. e é a componente da
velocidade do núcleo-alvo ao longo da direção de movimento do nêutron incidente.
Os efeitos de temperatura são de grande importância nas imediações de
ressonâncias estreitas, como aquelas observadas na região de baixas energias em
núcleos pesados. Neste caso específico, 0 enquanto 1, de
modo que a expressão (44) pode ser escrita como

(45)

Uma vez que e consequentemente dependem apenas da componente z da Figura 7 - Efeitos de temperatura no alargamento da seção de choque para captura
velocidade , a integral em e pode ser efetuada diretamente, resultando radiativa de nêutrons pelo 238U na vizinhança da ressonância de 6,67 eV (efeito
Doppler).
(46)
B.4 - Produtos de fissão
onde é o número de núcleos-alvo por unidade de volume que se move no
meio material com velocidades entre e . A expressão (43) assume então a A investigação dos produtos de fissão do 235U mostrou que a faixa de números
forma de massa vai de 66, correspondendo a um isótopo de crômio (Cr, Z = 24), até 172,
correspondendo a um isótopo de gadolínio (Gd, Z = 64). Como resultado da incidência
de nêutrons térmicos, cerca de 97% dos núcleos de 235U que sofrem fissão fornecem
(47) produtos que podem ser classificados em dois grupos: um “leve” com números de
massa entre 85 e 104 e um “pesado” com números de massa entre 130 e 149. O tipo
de fissão mais provável, que ocorre em cerca de 7% do total, fornece produtos com
onde
números de massa próximos a 95 e 139. Há 106 números de massa possíveis entre
66 e 172, que representam o número total de núcleos diferentes formados como
(48) fragmentos de fissão diretos. Portanto, o núcleo de 235U é capaz de se dividir de 53
maneiras diferentes, sendo formado um par diferente de núcleos em cada modo.
Comportamento muito semelhante é observado em relação à fissão dos núcleos de
233
é uma distribuição maxwelliana de velocidades. U e 239Pu.

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Na grande maioria dos casos, os fragmentos de fissão têm nêutrons demais no A fissão induzida por nêutrons lentos é um processo altamente assimétrico,
núcleo atômico para serem estáveis, geralmente apresentando decaimento beta sendo que a divisão em dois fragmentos iguais ocorre em apenas 0,01% dos casos.
negativo (emissão de elétrons). Cada um destes fragmentos radioativos inicia uma As curvas de produtos de fissão para o 235U ilustram o efeito do aumento da energia
curta série radioativa, envolvendo sucessivos decaimentos beta negativos. Estas cinética do nêutron na distribuição de massa dos produtos de fissão. A mudança mais
séries são denominadas cadeias de decaimento dos produtos de fissão e cada cadeia notável é no aumento da probabilidade de fissão simétrica, que para nêutrons de 14
possui em geral seis ou sete membros, apesar de freqüentemente ocorrerem cadeias MeV aumenta em cerca de 100 vezes. Este aumento é interpretado como indicando
mais longas e mais curtas. Um exemplo típico de cadeia de decaimento é uma maior probabilidade de fissão simétrica quando a energia cinética do nêutron é
alta. Quando a energia cinética dos nêutrons incidentes perfaz 45 MeV, há ainda dois
picos, mas o vale entre eles é pequeno e a probabilidade de fissão simétrica aumenta
muito. Com nêutrons de 90 MeV observa-se somente um pico, correspondendo à
Esta cadeia é particularmente interessante, pois contém dois dos nuclídeos (140Ba e divisão em dois fragmentos iguais. Apenas nestas energias extremamente altas a
140
La) cuja identificação levou à descoberta da fissão. fissão simétrica se torna o modo mais provável.
Por fim, é importante destacar que dois elementos químicos foram pela Medidas efetuadas utilizando métodos calorimétricos forneceram como
primeira vez identificados de maneira indubitável ao se estudar os produtos de fissão. resultado o valor de (167,1 1,6) MeV para a energia cinética média total dos
Estes elementos são o promécio (Pm, Z = 61) e o tecnécio (Tc, Z = 43), cujos isótopos fragmentos de fissão do 235U.
foram identificados em meio aos produtos de fissão.

B.6 - Emissão de nêutrons na fissão


B.5 - Distribuição de massa dos produtos de fissão
O fenômeno da fissão nuclear é caracterizado não só pela formação de
A distribuição de massa dos produtos de fissão é mostrada mais produtos de fissão, mas também pela emissão simultânea de alguns raios-gama e
convenientemente na forma da curva de produtos de fissão, na qual a produção nêutrons.
percentual dos diferentes produtos é mostrada como função do número de massa. A Os valores médios do número de nêutrons emitidos na fissão, geralmente
produção de núcleos com um determinado número de massa é obtida medindo-se a indicados por , foram medidos para vários materiais físseis, estando listados na sexta
abundância do nuclídeo de meia-vida mais longa perto do final de uma cadeia de linha da tabela 3 para fissões induzidas por nêutrons térmicos. O número médio de
decaimento, ou medindo-se a abundância do produto final estável. As curvas de nêutrons emitidos na fissão é sempre maior que dois, aumentando em função da
produtos para a fissão do 235U por nêutrons térmicos e por nêutrons de 14 MeV estão energia cinética dos nêutrons que induzem a fissão. O número de nêutrons liberados
mostradas na figura 8 a), enquanto a figura 8 b) mostra as curvas para a fissão do 233U num processo de fissão deve, é claro, ser sempre inteiro. Entretanto, como o núcleo
e do 239Pu por nêutrons térmicos. físsil pode ser dividido segundo 53 maneiras diferentes, o valor médio de não
necessita assumir um valor inteiro.
Além de , existe uma outra propriedade dos materiais físseis que tem
importância prática: o número médio de nêutrons emitidos para cada nêutron
absorvido por um núcleo físsil. É conveniente lembrar que nem todos os nêutrons
absorvidos por um material físsil provocam a fissão, pois algumas absorções resultam
na emissão de raios-gama. Em resumo, ocorre uma competição entre a ocorrência de
fissão e a ocorrência de captura radiativa. A razão entre a seção de choque para
captura radiativa e a seção de choque para fissão é usualmente indicada por , de
maneira que

(45)

Por sua vez, o número de nêutrons de fissão emitidos para cada nêutron absorvido por
Figura 8 - Curvas de produtos de fissão para os núcleos 235U, 233U e 239Pu: a) fissão do um núcleo físsil é dado por
235
U por nêutrons térmicos e por nêutrons de 14 MeV; b) fissão do 233U e do 239Pu por
nêutrons térmicos.
(46)
A produção de um nuclídeo particular pela fissão é a probabilidade, expressa 1
como porcentagem, de formar aquele nuclídeo ou a cadeia da qual ele é um membro.
Ela também pode ser vista como a porcentagem de fissões que produzem o nuclídeo Os valores de e obtidos para incidência de nêutrons térmicos nos principais
ou a respectiva cadeia. Como dois núcleos resultam de cada fissão, a produção total materiais físseis são mostrados respectivamente na sétima e oitava linhas da tabela 3.
soma 200%. A produção mostrada varia de cerca de 10 5% até cerca de 7%, de O número médio de nêutrons emitidos por fissão espontânea foi determinado
maneira que para cobrir variação tão grande é utilizada uma escala logarítmica na para vários núcleos pesados, mediante a utilização de técnicas experimentais
ordenada da curva de produção. Cada curva contém dois picos, correspondendo aos sofisticadas. Os resultados obtidos forneceram: para o 232Th, = 2,13 0,14; para o
grupos de produtos “leves” e “pesados”. No caso do 235U, o máximo fica perto dos 238
U, = 1,99 0,07; para o 240Pu, = 2,150 0,015; para o 244Cm, = 2,691 0,032
números de massa 95 e 139.
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e para o 252Cf, = 3,756 0,010. Cabe acrescentar que o 252Cf, cuja meia-vida perfaz B.7 - Distribuição de energia cinética dos nêutrons emitidos na fissão
T1/2 = 2,65 anos, é usado na fabricação de fontes de nêutrons.
Os nêutrons emitidos como resultado do processo de fissão podem ser Os valores da energia cinética dos nêutrons prontos emitidos na fissão variam
classificados em dois tipos: nêutrons prontos e nêutrons atrasados. Os nêutrons entre menos que 0,05 MeV até mais que 17 MeV. A determinação de energias
prontos, que constituem cerca de 99% do total de nêutrons da fissão, são emitidos cinéticas dos nêutrons em uma faixa tão ampla não é problema fácil, requerendo a
dentro de um intervalo de tempo extremamente curto decorrido após a fissão, da utilização de diversas técnicas experimentais.
ordem de 10 14 segundos. Os resultados obtidos em diversos experimentos indicam que a distribuição de
Os nêutrons atrasados, que constituem cerca de 0,64% do total de nêutrons da energia cinética entre 0,075 MeV e 17 MeV pode ser descrita pela seguinte fórmula
fissão do 235U, são emitidos com intensidade gradualmente decrescente durante vários empírica:
minutos após o processo de fissão. Estudando-se a taxa de decaimento da
intensidade de nêutrons, observaram-se seis grupos bem definidos de nêutrons
(47)
atrasados. A taxa de decaimento de cada grupo é exponencial, justamente como para
outras formas de decaimento radioativo, sendo possível, portanto, associar uma meia-
vida específica a cada grupo. As propriedades principais dos nêutrons atrasados são onde representa o número relativo de nêutrons por unidade de faixa de energia
listadas na tabela 4. Além dos grupos listados, foram descobertos ainda três grupos de cinética do nêutron. A boa concordância entre a função descrita pela expressão (47)
nêutrons adicionais, de baixa intensidade, com meias-vidas de 3, 12 e 125 minutos e e os dados experimentais pode ser observada na figura 9.
produção por fissão que perfazem 5,8.10 8, 5,6.10 10 e 2,9.10 10, respectivamente. A
fração total de nêutrons atrasados é representada por , enquanto a fração
correspondente ao i-ésimo grupo de nêutrons atrasados é representada por i.

Fração de nêutrons atrasados i (%)


Meia-vida Energia
Fissão térmica e rápida Fissão rápida
(s) (MeV)
235 233 239 238 232
U U Pu U Th
54,50 0,25 0,021 0,022 0,007 0,020 0,075
22,72 0,46 0,140 0,078 0,063 0,215 0,330
4,52 0,41 0,125 0,066 0,046 0,254 0,341
1,96 0,45 0,253 0,072 0,068 0,609 0,981
0,50 0,42 0,074 0,013 0,018 0,353 0,378
0,20 0,43 0,027 0,009 0,009 0,118 0,095
Fração total (%) 0,64 0,26 0,21 1,57 2,20
Tabela 4 - Propriedades dos principais grupos de nêutrons atrasados.

Apesar da produção de nêutrons atrasados ser menos que 1% do número total


de nêutrons emitidos, os nêutrons atrasados têm uma forte influência no
comportamento temporal de um sistema de reação em cadeia baseado na fissão
nuclear, desempenhando um papel importante no controle do sistema.
O mecanismo para a emissão de nêutrons atrasados baseia-se no fato de que
alguns dos produtos de fissão apresentam núcleos que contém muitos nêutrons,
sendo portanto muito instáveis em relação ao decaimento beta negativo (um produto
de fissão com Z prótons e N nêutrons pode ter uma energia de decaimento beta
negativo maior do que a energia de ligação do último nêutron no núcleo resultante do
decaimento, o qual possui Z + 1 prótons e N 1 nêutrons). No decaimento beta
negativo, o núcleo produto pode ser deixado ou no estado fundamental ou em um dos Figura 9 - Número relativo de nêutrons prontos emitidos N por unidade de faixa de
muitos estados excitados. Se a energia de um dos estados excitados do núcleo energia cinética E. Nota-se a boa concordância da função com os dados
atômico com Z + 1 e N 1 for maior do que a energia de ligação do último nêutron, a experimentais obtidos para os núcleos 235U, 233U e 239Pu.
desexcitação pode ocorrer pela emissão de um nêutron, deixando um núcleo atômico
com Z + 1 prótons e N 2 nêutrons. Nestas condições, a emissão de nêutrons será Para a energia cinética dos nêutrons prontos, o valor mais provável é igual a
atrasada e vai aparecer como tendo a meia-vida do núcleo (Z, N) que decai por 0,72 MeV, enquanto o valor médio perfaz (2,0 0,1) MeV.
emissão beta negativa, isto é, aquela do precursor do nêutron atrasado.
Vários dos grupos de nêutrons atrasados foram relacionados ao decaimento de
isótopos radioativos do bromo e do iodo encontrados entre os produtos de fissão. B.8 - Emissão de raios-gama na fissão
Assim, o 87Br é o precursor do emissor de nêutrons atrasados de 54,50 segundos,
enquanto o 137I, com meia-vida de 24 segundos, está associado com o grupo de 22,72
segundos. Pesquisas revelaram que dois tipos diferentes de raios-gama são emitidos
como decorrência direta do processo de fissão.

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O primeiro tipo é constituído por raios-gama de decaimento, assim A energia total da fissão determinada desta maneira totaliza 200 MeV, com
denominados porque acompanham o decaimento beta negativo da maioria dos uma incerteza entre 5 MeV e 10 MeV, em boa concordância com os valores
produtos de fissão radioativos e, portanto, são emitidos ao longo de um determinado calculados.
período de tempo. O espectro de energia correspondente aos raios-gama de
decaimento é discreto. Energia total liberada na fissão de um núcleo de 235U por nêutrons térmicos
O segundo tipo abrange os chamados raios-gama prontos, os quais são Energia cinética dos fragmentos de fissão 167 MeV
emitidos pelos fragmentos de fissão diretos durante as respectivas transições para o Energia cinética dos nêutrons da fissão 5 MeV
estado fundamental. Energia dos raios-gama prontos 7 MeV
Medidas mostraram que, em média, aproximadamente 7 MeV de energia são Energia do decaimento beta 5 MeV
liberados sob a forma de raios-gama prontos em cada fissão, sendo que a ocorrência Energia do decaimento gama 5 MeV
mais comum consiste na emissão de cerca de 8 fótons com energia média em torno
Energia dos anti-neutrinos 11 MeV
de 1 MeV cada.
ENERGIA TOTAL DA FISSÃO 200 MeV
No caso dos raios-gama prontos, o espectro da radiação emitida é contínuo e
apresenta intensidade decrescente com o aumento da energia do fóton, cujo valor Tabela 5 - Energia total liberada na fissão de um núcleo de 235U por nêutrons térmicos.
máximo perfaz aproximadamente 7 MeV. Uma estimativa do tempo de emissão dos 233 239
raios-gama prontos indicou que, para a maioria deles, o mesmo não excede alguns Resultados obtidos com outros núcleos físseis, como Ue Pu, são bastante
poucos nanosegundos após a fissão. semelhantes aos encontrados para o 235U.

B.9 - Liberação de energia na fissão

Uma das propriedades mais impressionantes do fenômeno da fissão é a


magnitude da energia liberada por ele, que é cerca de 200 MeV, comparada com
alguns MeV para outras reações nucleares e alguns eV para as reações químicas.
A energia total liberada por fissão pode ser calculada a partir das massas
nucleares do núcleo composto 236U e de um par típico de produtos de fissão. Mostrou-
se que os produtos de fissão produzidos em maior quantidade têm números de massa
perto de A = 95 e A = 139. Considerando e como um par de produtos de
fissão estáveis obtidos no final das cadeias para suas respectivas massas, ambos
totalizam 94,946 u.m.a. + 138,955 u.m.a. = 233,900 u.m.a. . O número de massa
correspondente é 234 e aparentemente são liberados 2 nêutrons neste processo de
fissão. Quando se adiciona 2,018 u.m.a. correspondente a estes dois nêutrons, os
produtos da reação têm uma massa total de 235,918 u.m.a. . A massa do 235U é
235,124 u.m.a., sendo a massa do núcleo composto 236U aproximadamente igual a
235,124 u.m.a. + 1,009 u.m.a. = 236,133 u.m.a. . O excesso de massa que é
convertido em energia é igual a 236,133 u.m.a. 235,918 u.m.a. = 0,215 u.m.a. .
Como 1 u.m.a. é equivalente a 931,5 MeV, a energia liberada no processo totaliza
931,5 x 0,215 = 200 MeV. Apesar de haver 53 maneiras diferentes pelas quais o
núcleo pode ser fissionado, o excesso de massa é aproximadamente o mesmo para
todos estes processos, sendo 200 MeV um bom valor para a quantidade média de
energia liberada por fissão.
O valor previsto de 200 MeV pode ser comparado com valores experimentais.
A quantidade total de energia liberada por fissão é a soma da energia cinética dos
fragmentos de fissão, a energia cinética dos nêutrons emitidos, a energia dos raios-
gama prontos e a energia total do processo de decaimento nas cadeias de decaimento
dos produtos de fissão.
O valor médio da energia cinética total dos fragmentos de fissão obtidos a partir
da fissão do 235U por nêutrons térmicos é 167 MeV. O valor médio da energia cinética
carregada pelos nêutrons é igual ao número médio de nêutrons emitidos por fissão
multiplicado pela energia cinética média dos nêutrons. Para fissão do 235U por
nêutrons térmicos, este cálculo resulta 2,5 x 2,0 MeV = 5 MeV. A energia dos raios-
gama prontos está entre 5 e 8 MeV, sendo em média igual a 7 MeV. Finalmente, a
energia média de todas as radiações (partículas beta, raios-gama e anti-neutrinos)
perfaz (21 3) MeV, sendo que cerca da metade é carregada pelos anti-neutrinos e a
outra metade está dividida, de modo aproximadamente igual, entre as radiações beta
e gama. Estes resultados se encontram resumidos na tabela 5.

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c) captura de nêutrons por outros materiais, sem que ocorra fissão
d) escape de nêutrons do núcleo do reator
C - FISSÃO NUCLEAR COMO FONTE DE Se a perda de nêutrons como conseqüência dos três últimos processos é menor ou
ENERGIA igual ao excesso produzido pelo primeiro, a reação em cadeia auto-sustentada ocorre.
Caso contrário, não ocorre.
A necessidade de um balanço de nêutrons favorável estabelece certas
C.1 - Introdução condições sobre qualquer sistema no qual se deseja estabelecer uma reação em
cadeia auto-sustentada. Uma destas condições diz respeito ao tamanho do sistema.
Se o urânio está distribuído de uma maneira regular através do conjunto, a produção
A grande quantidade de energia liberada na fissão nuclear, acompanhada da de nêutrons depende do volume do sistema, enquanto que a probabilidade de escape
emissão de mais de um nêutron, tornou possível a utilização deste fenômeno como depende da área superficial do mesmo.
fonte de energia. A emissão de 2,5 nêutrons na fissão de um núcleo de 235U, em Existe um certo tamanho do sistema, denominado tamanho crítico, para o qual
média, permite dar início a uma reação em cadeia na qual estes nêutrons produzem a produção de nêutrons pela fissão é exatamente igual à sua perda por captura sem
mais fissões e mais nêutrons, e assim sucessivamente. fissão e escape, tornando possível uma reação em cadeia auto-sustentada. Se o
Sob certas condições, o número de fissões e nêutrons cresce tamanho do sistema é menor que o tamanho crítico, uma reação em cadeia não pode
exponencialmente com o tempo, porque cada fissão produz mais nêutrons do que ser sustentada. A existência de um tamanho crítico abaixo do qual uma reação em
aquele absorvido, de maneira que a quantidade de energia liberada torna-se enorme. cadeia não se estabelece contrasta fortemente com sistemas baseados em reações
O intervalo de tempo entre duas gerações sucessivas de fissões pode ser uma fração químicas, nos quais a possibilidade de ocorrência de uma reação independe do
muito pequena de um segundo e, neste caso, a energia liberada na reação em cadeia tamanho do sistema.
toma a forma de uma explosão. É o que ocorre em um artefato nuclear de fissão, Uma vez conhecido este princípio, torna-se necessário investigar a
vulgarmente conhecido como “bomba atômica”. possibilidade de que uma reação de fissão nuclear em cadeia auto-sustentada possa
Sob outras condições, a reação em cadeia pode ser controlada e atingir um se estabelecer em um sistema constituído por um material físsil. Inicialmente, esta
estado estável no qual o número de nêutrons produzidos por unidade de tempo é possibilidade será investigada para uma massa de urânio natural suficientemente
justamente aquele que foi consumido. A taxa com que as fissões ocorrem e a taxa grande, tal que a perda de nêutrons por escape possa ser desprezada. Algumas
segundo a qual a energia é liberada são mantidas constantes e o resultado é um fissões espontâneas ocorrerão no sistema, liberando cerca de 2,5 nêutrons rápidos
reator nuclear, que pode ser usado como uma fonte de nêutrons ou de potência. por fissão, com uma energia cinética média de aproximadamente 2 MeV. O urânio
Estes fatos podem ser ilustrados por alguns cálculos simples. A fissão de um natural consiste em uma mistura contendo 238U com uma abundância isotópica de
único núcleo de 235U libera 200 MeV x 1,6.10 13 J = 3,2.10 11 J. Quando se multiplica 99,28% e 235U com uma abundância isotópica de 0,72%. As seções de choque para
esta quantidade de energia pelo número de Avogadro, o produto expressa a energia fissão dos dois isótopos, na faixa de energia cinética média dos nêutrons que são
liberada na fissão de todos os núcleos contidos em um Mol (235,04 g) de 235U, que emitidos na fissão, não diferem muito. Entretanto, se os nêutrons emitidos na fissão
totaliza 1,93.1013 J. A energia liberada na fissão completa de 1 kg de 235U seria causam novas fissões, estas ocorrerão principalmente no 238U, com um número
8,21.1013 J, o que equivale a cerca de 2.1010 kcal. Esta quantidade espantosa de desprezivelmente pequeno de fissões rápidas ocorrendo no 235U. Nestas
energia equivale àquela liberada na explosão de 20000 toneladas do explosivo circunstâncias, é necessário considerar somente a interação dos nêutrons de fissão
convencional trinitrotolueno (TNT). Ainda que somente uma pequena fração desta iniciais com o 238U. Para estes nêutrons, a fissão é mais provável que a captura
energia pudesse ser liberada explosivamente, o resultado seria uma arma poderosa. radiativa, porém menos provável que o espalhamento elástico ou inelástico. Os
A liberação de energia na fissão também pode ser expressa em termos de nêutrons que sofrem captura radiativa são perdidos. O espalhamento elástico pelo
unidades de potência com resultados interessantes. Como 1 MeV = 1,60.10 13 J = núcleo de urânio tem um efeito muito pequeno sobre a energia cinética do nêutron
1,60.10 13 W.s, a fissão de um núcleo de 235U libera 3,2.10 11 W.s de energia, de emitido na fissão e, após tal interação, o nêutron está livre para colidir outra vez, como
maneira que 3,1.1010 fissões por segundo fornecem um W de potência. A fissão se nada tivesse acontecido. Entretanto, o espalhamento inelástico tem um efeito
completa de 1 kg de 235U liberaria 8,2.1013 W.s de energia, ou 2,3.107 kW.hora, ou bastante importante, pois uma única interação deste tipo pode reduzir a energia
cerca de 1,0.103 MW.dia. Se a liberação de energia ocorresse ao longo do período de cinética do nêutron a cerca de 0,3 MeV em média, valor abaixo do limiar de fissão no
um dia inteiro, a fissão completa de 1 kg de 235U produziria energia na forma de calor a 238
U. Consequentemente, os nêutrons de fissão originais só aumentam levemente em
uma potência constante de 1000 MW. Se este calor pudesse ser transformado em número como decorrência da fissão rápida no 238U e quase todos os nêutrons são
energia elétrica com uma eficiência de 30%, seriam gerados 300 MW elétricos. Esta deixados com energias abaixo do limiar de fissão. O espalhamento inelástico também
produção é equivalente a uma usina termoelétrica que consome cerca de 2500 é uma reação limiar e não ocorre para nêutrons com energia cinética abaixo de 1 MeV.
toneladas de carvão mineral por dia. O fato de 1 kg de material físsil como o 235U ser Os nêutrons que tiveram sua energia diminuída abaixo dos limiares para fissão e
equivalente a 2500 toneladas de carvão como fonte de energia é responsável pela espalhamento inelástico podem sofrer captura radiativa ou espalhamento elástico.
pesquisa e desenvolvimento da tecnologia nuclear para geração de eletricidade. Aqueles que sofrem captura radiativa são perdidos. Os que são espalhados
elasticamente perdem energia muito lentamente, sendo necessárias muitas colisões
para reduzir a energia cinética de aproximadamente 105 eV até 1 eV. Nesta faixa de
C.2 - Reator nuclear energia, a probabilidade de captura radiativa no 238U é muito maior que a probabilidade
de fissão no 235U. Como os nêutrons perdem energia muito lentamente, a
A realização de uma reação em cadeia auto-sustentada com urânio depende probabilidade de que eles alcancem energias cinéticas térmicas sem serem
de um balanço favorável entre quatro processos competitivos: capturados é muito pequena. Apesar da seção de choque para fissão do urânio natural
a) fissão de núcleos de urânio, com o número de nêutrons emitidos sendo em energias térmicas ser maior que a seção de choque para captura radiativa, muito
maior que o número de nêutrons capturados poucos nêutrons podem alcançar estas energias cinéticas baixas e causar fissão.
b) captura de nêutrons pelo urânio sem ocorrência de fissão
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Como resultado, o estabelecimento de uma reação em cadeia auto-sustentada não é
1 - A energia dos nêutrons em que ocorre a maior parte das fissões
possível somente com urânio natural.
Uma reação em cadeia pode ser conseguida se o 238U for removido, deixando a) energias altas
apenas o 235U, ou então no 239Pu. Nêutrons de qualquer energia podem causar a b) energias intermediárias
fissão no 235U, de modo que o espalhamento inelástico dos nêutrons emitidos na fissão
não reduz a probabilidade de que novas fissões venham a ocorrer. De fato, mesmo c) energias baixas
nêutrons que possam alcançar energias de ressonância contribuiriam para a reação
em cadeia, porque a ressonância de fissão do 235U é muito mais provável que a
captura radiativa. Argumentos análogos valem para o 239Pu. Assim, tanto 235U quanto
239
Pu são materiais adequados para uso em armas nucleares de fissão ou como 2 - O material físsil presente no combustível nuclear
combustível nuclear em reatores nos quais as fissões são induzidas principalmente
por nêutrons rápidos. Num reator rápido deste tipo, existe muito pouca moderação de a) urânio natural
nêutrons e a presença de materiais que possam causar moderação é evitada tanto b) urânio enriquecido em 235U
quanto possível.
Uma reação em cadeia pode ser alcançada com urânio natural e um c) 239Pu
moderador adequado num arranjo apropriado. A seção de choque para fissão do 235U d) 233U
é tão grande que, apesar da pequena abundância, a fissão por nêutrons térmicos
compete favoravelmente com a captura radiativa. Então, a condição a ser obtida é que
nêutrons suficientes alcancem energias térmicas. Este resultado pode ser conseguido
usando-se um moderador. Um nêutron pode perder energia suficiente em uma única
colisão com um núcleo moderador e assim saltar sobre muitas ressonâncias, com o 3 - A configuração do conjunto combustível / moderador
resultado de que a absorção de nêutrons na ressonância diminui. Água pesada (D2O) a) homogêneo
e grafite têm sido usadas com sucesso como moderadores junto com urânio natural.
Quando D2O é moderador, o urânio pode estar na forma de uma solução de um sal b) heterogêneo
como sulfato de uranila (UO2SO4), ou partículas muito pequenas de óxido de urânio
podem estar suspensas uniformemente na D2O. Este tipo de reator é dito homogêneo.
Quando o moderador é grafite, o urânio deve estar na forma de grandes blocos e
podem ser distribuídas barras de urânio de uma maneira regular através da grafite, 4 - O moderador
formando uma rede. Este tipo de conjunto é chamado heterogêneo por causa da
a) grafite
separação do combustível e do moderador. O urânio natural e a água comum não
podem sustentar uma reação em cadeia, tanto em um sistema homogêneo quanto em b) água
um sistema heterogêneo, porque a seção de choque do hidrogênio para captura c) água pesada
radiativa de nêutrons térmicos é relativamente elevada (0,332 b).
O enriquecimento do urânio no isótopo 235U em usinas de difusão gasosa ou d) berílio ou óxido de berílio
em instalações de ultracentrifugação e a produção de 239Pu em reatores nucleares têm
fornecido combustíveis nucleares altamente purificados e estendido grandemente a
faixa dos possíveis sistemas de reação em cadeia. Por exemplo, uma solução aquosa
de um sal contendo urânio enriquecido pode formar um reator homogêneo pequeno. O 5 - O refrigerante
urânio enriquecido e plutônio também podem ser usados em conjuntos moderados
parcialmente, nos quais as fissões são causadas principalmente por nêutrons de a) gás (ar, CO2 ou He)
energia intermediária. Nestes reatores “intermediários” existe moderador suficiente b) água
somente para moderar os nêutrons em parte, mas não de todo, até alcançar energias
térmicas. O nuclídeo 233U, obtido a partir do 232Th, também pode ser usado em c) água pesada
reatores térmicos, intermediários ou rápidos. d) metal líquido
A taxa com que as fissões ocorrem num reator determina o número de
nêutrons produzidos por unidade de tempo e também a taxa com que o calor é
produzido, relacionada com o nível de potência. Para que um reator opere num nível
de potência constante, a energia liberada na fissão deve ser removida do conjunto. A
energia da fissão, originalmente na forma de energia cinética dos fragmentos de 6 - Finalidade a que se destina
fissão, nêutrons, raios-beta e raios-gama, é convertida em calor quando estas a) pesquisa científica
partículas são barradas nos materiais do reator. O calor é removido fazendo circular
um refrigerante através do reator. Podem ser usados como refrigerante a água, um b) produção de radioisótopos
gás ou um metal líquido. A escolha do refrigerante depende da finalidade a que se c) produção de material físsil
destina o reator, sendo limitada por considerações nucleares e de engenharia.
d) geração de energia elétrica
Os reatores nucleares podem ser classificados de acordo com as
características do sistema de reação em cadeia que os constitui. A classificação pode
ser efetuada de acordo com os seguintes critérios:

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pode ser igual ou maior que a unidade. A grandeza é chamada de fator de fissão
C.3 - Ciclo do nêutron em um reator nuclear térmico rápida , sendo muito próxima da unidade em um reator homogêneo, mas pode ser tão
grande quanto 1,1 em certos reatores heterogêneos.
O balanço de nêutrons em um reator nuclear térmico pode ser descrito em Os nêutrons difundem-se através do reator. A maior parte deles é
termos de um ciclo que mostra o que acontece com os nêutrons. Este ciclo é mostrado moderada, mas uma fração l escapa antes de ser moderada a energias térmicas, de
na figura 10. maneira que l nêutrons são perdidos. Os restantes l nêutrons são
moderados por meio de colisões com núcleos do moderador, mas durante o processo
de moderação alguns deles podem ser capturados pelo 238U para formar o núcleo
composto 239U, que decai para o 239Np e depois para o 239Pu. Dos l nêutrons
que iniciam o processo de moderação, uma fração contendo (1-lf)p nêutrons escapa
da captura, enquanto que l nêutrons são capturados e vão formar o 239Pu.
A grandeza é chamada de probabilidade de escape da ressonância. Apesar dos
nêutrons absorvidos não poderem mais causar fissões no 235U, e neste sentido
estarem perdidos, eles são importantes porque contribuem para a fabricação do 239Pu.
Os nêutrons que escapam das ressonâncias de absorção são moderados a
energias cinéticas térmicas, onde tanto a fissão quanto a captura radiativa ocorrem.
Alguns dos nêutrons se difundem sem serem capturados e eventualmente escapam
do sistema. Se a fração que escapa do sistema é indicada por l , o número de
nêutrons térmicos por fissão do 235U que escapa é igual a l l . Os nêutrons
térmicos restantes perfazem l l , dos quais uma fração é absorvida pelo
urânio e uma fração é absorvida por outros materiais, tais como o moderador ou
materiais estruturais, sendo então perdidos. O número de nêutrons ainda disponível
para levar adiante a reação em cadeia é então l l . A grandeza é
chamada de utilização térmica. Nem todos os nêutrons absorvidos pelo urânio causam
fissão em núcleos de 235U. Alguns dos nêutrons são absorvidos pelo 238U para formar o
núcleo composto 239U e, na seqüência, 239Pu, enquanto que outros são absorvidos
pelo 235U para formar o núcleo composto 236U. A fração dos nêutrons térmicos
absorvidos pelo urânio e que causa fissão é exatamente a razão entre a seção de
choque de fissão e a seção de choque de absorção (que resulta da soma das seções
de choque de fissão e captura radiativa) para o urânio, ou seja, f(U)/ a(U).
O número de fissões de segunda geração no 235U, por fissão do 235U causada
por um nêutron de primeira geração, é denominado fator de multiplicação, sendo
indicado por k. Portanto

k l l (48)

O produto [ f(U)/ a(U)] representa o número de nêutrons produzidos por fissão por
nêutron térmico absorvido no urânio, sendo designado por . O fator de multiplicação
pode então ser escrito novamente como
Figura 10 - Representação esquemática de uma reação em cadeia auto-sustentada
baseada na fissão de núcleos de urânio por nêutrons térmicos. k l l (49)

O ciclo é iniciado com a fissão de um núcleo de 235U por um nêutron térmico. A grandeza k, dada pela expressão (49), é em geral denominada fator de multiplicação
Neste processo de fissão, nêutrons rápidos são emitidos. Estes nêutrons possuem efetivo e corresponde a um conjunto de tamanho finito. A expressão (49) é conhecida
uma energia cinética média acima do limiar de fissão do 238U, e alguns deles podem como fórmula dos seis fatores para o valor de k. Para constituir um sistema de reação
causar a fissão dos núcleos de 238U. A probabilidade de ocorrência para tais fissões em cadeia operando em um estado auto-sustentado, é necessário que k seja igual à
adicionais depende de como os nêutrons da fissão possam colidir com os núcleos de unidade. Se k é menor que a unidade, não pode haver reação em cadeia. Se k é
238
U, antes de colidir com os núcleos do moderador. Uma pequena fração dos maior que a unidade, o número de nêutrons e fissões aumenta a cada ciclo, e a
nêutrons que colidem com os núcleos de 238U pode causar fissões, e assim para um reação em cadeia é chamada divergente. O tamanho crítico para um sistema de
dado número de nêutrons obtidos a partir da fissão térmica do 235U, alguns nêutrons reação em cadeia é o tamanho para o qual k é igual à unidade. Para k < 1, o sistema é
adicionais resultam da fissão rápida de núcleos de 238U. O número total de nêutrons denominado subcrítico. Para k > 1, o sistema é denominado supercrítico.
rápidos obtidos a partir da fissão passa de para , onde é uma grandeza que

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O valor de k para um sistema infinitamente grande é útil na teoria e projeto de
(54)
reatores nucleares. Não há escape de nêutrons de tal sistema e as grandezas l e l 1 235 235 238 235

são ambas iguais a zero. O fator de multiplicação é então indicado por k , sendo dado
por O valor de cr (235U) / f(235U) é 0,180 e o valor de 238 235
a( U) / f( U) é 0,00470, de tal
maneira que a equação (54) pode ser escrita como
k (50)
2 44
A expressão (50) é denominada fórmula dos quatro fatores e o cálculo de k é um dos (55)
principais problemas no projeto de reatores nucleares.
1180 0 00470
No caso especial de um reator em que o combustível contém apenas 235U e
nenhum 238U, tanto o fator de fissão rápida quanto a probabilidade de escape da A razão é obtida a partir de valores experimentais da concentração de 235U
ressonância p são praticamente iguais à unidade. A fórmula para k fica reduzida a no urânio que está sendo utilizado como combustível nuclear, sendo em geral
expressa em termos de porcentagem em peso. Para o urânio natural, esta
k (51) concentração é 0,00715, logo = 137,8. Portanto, para o urânio natural =
1,335. Quando a razão aumenta, como no urânio enriquecido, a razão
Dos quatro fatores que compõem k , depende somente das propriedades diminui, aumenta e são produzidos mais nêutrons para cada nêutron térmico
nucleares do combustível, enquanto depende não só das propriedades nucleares do absorvido no urânio.
combustível, mas também do seu tamanho e forma. As grandezas restantes, e , Nos sistemas homogêneos a serem considerados, o combustível está na forma
dependem das propriedades nucleares do combustível, moderador e quaisquer outros de partículas muito pequenas, da ordem de m de diâmetro. É quase certo que os
materiais presentes no reator, assim como da configuração segundo a qual todos nêutrons da fissão escapem do urânio antes de colidir com um núcleo de 238U. Os
estes materiais estão arranjados. Um dos problemas básicos de projeto é encontrar as nêutrons entrarão no moderador e serão moderados antes de poder causar fissão no
238
quantidades relativas de todos os materiais e a maneira pela qual eles podem ser U, sendo o valor de portanto igual a unidade. Esta perda de nêutrons adicionais
arranjados para fornecer o maior valor possível do produto . Para um determinado provenientes de fissões rápidas é uma das desvantagens de um sistema homogêneo.
A condição para que uma reação em cadeia seja possível em um sistema
combustível nuclear, este arranjo fornece o maior valor de k .
homogêneo de tamanho finito pode ser escrita como k > 1 ou >1 ou ainda >
= 0,75. Esta condição expressa um difícil problema de projeto. A probabilidade
C.4 - Fator de multiplicação de um reator nuclear térmico homogêneo de escape da ressonância e a utilização térmica devem estar ambas na vizinhança de
0,85. Em outras palavras, não mais do que cerca de 15% dos nêutrons devem ser
perdidos devido à ressonância de absorção durante o processo de moderação, e não
Ao longo desta parte, o fator de multiplicação será calculado para três sistemas
mais do que 15% dos nêutrons térmicos devem ser absorvidos em outros materiais
homogêneos, constituídos por: urânio natural moderado com grafite, urânio natural
que não o combustível nuclear. Quando o combustível é urânio natural, a condição
moderado com água comum e urânio natural moderado com água pesada.
> 0,75 pode ser muito difícil de ser atingida.
No primeiro destes, supõe-se que partículas muito pequenas de urânio estejam
dispersas uniformemente em meio a um grande bloco de grafite. Quando H2O ou D2O A utilização térmica é definida pela expressão:
é o moderador, supõe-se que o urânio esteja na forma de uma suspensão de UO2 no
fluido. (56)
O valor de para o urânio natural e nêutrons térmicos é obtido a partir da
expressão
Considerando um conjunto que consiste somente em combustível e moderador, a
utilização térmica pode ser escrita como
= (52)
1
(57)
O valor de muda quando o urânio é enriquecido no isótopo 235U, sendo útil escrever 1
este parâmetro numa forma que mostre sua dependência em relação à concentração
deste nuclídeo. Sendo e respectivamente o número de átomos de 238U e 235U onde e representam respectivamente o número de átomos do combustível
por cm3 de urânio, a equação (52) pode ser escrita, em maior detalhe, como nuclear e do moderador por cm3, enquanto os índices 0 e 1 denotam respectivamente
grandezas relativas ao combustível nuclear e ao moderador. Quando a absorção em
235 outros materiais é considerada, termos adicionais devem ser incluídos no
denominador da expressão (57).
235 235 238 (53) Os resultados de cálculos estão relacionados na tabela 6, na qual os valores de
, , e k são mostrados para diferentes valores de / , a razão do número de
onde representa a seção de choque para captura radiativa no 235U e átomos do moderador para o número de átomos de urânio. Para pequenos valores de
, aproxima-se da unidade, enquanto os valores de são pequenos.
Quando o numerador e o denominador do lado direito da
equação (53) são divididos por , o resultado é

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Este resultado é esperado, pois tanto a absorção de nêutrons térmicos quanto
a ressonância de absorção devem crescer, à medida que a quantidade de urânio no
reator aumenta. Espera-se, portanto, que num arranjo no qual aumente, os valores
de diminuam, sendo que o produto deve passar por um máximo para um dado
moderador. Assim pois, k deve também passar por um máximo, à medida que
varia, o que é confirmado pelos cálculos. Os máximos são razoavelmente suaves,
ocorrendo na faixa ( ) = 4 a 10 para H2O, 150 a 500 para D2O e de 300 a 600
para grafite.
O resultado mais importante obtido a partir dos dados mostrados na tabela 6 é
que misturas homogêneas contendo urânio natural e água pesada podem atingir
valores de k maiores que a unidade. O mesmo não ocorre com misturas homogêneas
de urânio natural e grafite ou de urânio natural e água comum. É este o resultado,
especialmente no caso da grafite, que levou à consideração de sistemas
heterogêneos. Quando a grafite é o moderador, a impossibilidade de atingir valores de
k maiores que a unidade resulta do baixo valor da probabilidade de escape da
ressonância . Valores adequados de podem ser atingidos para valores de
de até 300 ou 400, mas um valor de suficientemente alto não é alcançado até que
( ) = 800, com o resultado de que o valor máximo de é cerca de 0,6 e o valor
máximo de k perfaz cerca de 0,8. Felizmente, as propriedades de moderação e de
ressonância de absorção são tais que a probabilidade de escape da ressonância pode
ser aumentada significativamente agrupando o urânio. No caso da água, a dificuldade
consiste no pequeno valor da utilização térmica obtido para todos os valores de
, exceto os menores. Nestas circunstâncias, para obter valores úteis de , deve
haver uma quantidade muito grande de urânio, o que aumentaria muito a absorção
nas ressonâncias.
Quando se dispõe de urânio enriquecido em 235U, pode-se conseguir uma
reação em cadeia tanto com grafite quanto com água na condição de moderador. Com
urânio enriquecido, os valores de e aumentam, sendo o aumento verificado no
valor de o mais importante.
Para efeito de ilustração, será estudado o reator moderado a grafite. O valor
máximo de k com urânio natural e grafite era de aproximadamente 0,8. Um aumento
de 20% em seria necessário para trazer k até a unidade, ou seja, um valor de
entre 1,6 e 1,7. Como = 2,07 para o 235U puro, fica claro que o valor necessário de
pode ser atingido para alguma concentração de 235U intermediária entre a do urânio
natural e a do 235U puro. O valor de pode ser calculado a partir da expressão (54). A
seção de choque para absorção do urânio também cresce com o aumento da
concentração de 235U, causando um aumento no valor de . Neste caso, a seção de
choque a pode ser calculada a partir da expressão

235 238

(58)

Os valores das seções de choque a serem usados são a(235U) = 683 b e a(238U) =
2,71 b. O cálculo de k foi feito para = 400, com igual a 0,744, o valor
correspondente ao urânio natural. Supõe-se que o decréscimo na concentração de
238 235
U sobre a faixa de concentração do U seja muito pequeno para afetar o valor
obtido para a probabilidade de escape da ressonância. Os resultados estão mostrados
na tabela 7.

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N238 / N235 a (b) f pf k de absorção. Os nêutrons que reentram no moderador sofrem nova moderação numa
137,8 7,68 0,810 0,603 1,335 0,80 região sem urânio e podem perder energia cinética suficiente para saltar várias faixas
130 8,01 0,816 0,607 1,362 0,83 de ressonância antes de entrar em outro bloco ou de alcançar energias térmicas. A
120 8,45 0,824 0,613 1,399 0,86 magnitude deste efeito depende do espaçamento dos blocos de urânio na matriz
110 9,04 0,834 0,620 1,439 0,89 constituída pelo moderador e sua probabilidade é apreciavelmente maior do que em
um conjunto homogêneo. Assim, uma vantagem do arranjo heterogêneo é a menor
100 9,57 0,841 0,626 1,479 0,93
ressonância de absorção devido à “filtragem” de nêutrons cujas energias cinéticas
90 10,3 0,852 0,634 1,523 0,97
caem dentro de faixas de ressonância do urânio na superfície do bloco.
80 11,3 0,862 0,641 1,569 1,01 Segue-se das considerações acima que a ressonância de absorção pode ser
70 12,5 0,874 0,650 1,618 1,05 dividida em duas partes: uma absorção de superfície e uma absorção de volume.
60 14,1 0,887 0,660 1,670 1,10 Assim, o tamanho e a forma dos blocos de urânio podem ser escolhidos para tornar a
50 16,3 0,901 0,670 1,726 1,16 probabilidade de escape da ressonância relativamente alta. Algumas noções
Tabela 7 - Valores do fator de multiplicação para uma mistura homogênea de urânio qualitativas sobre o tamanho dos blocos podem ser obtidas facilmente. Para diminuir a
enriquecido e grafite, sendo ( ) = 400. absorção de volume, o tamanho de cada bloco não deve ser muito grande comparado
com o caminho livre médio dos nêutrons de ressonância dentro do bloco. Apesar deste
É possível verificar que uma reação em cadeia auto-sustentada pode ser caminho médio não ser conhecido precisamente, uma estimativa grosseira pode ser
alcançada quando a concentração de átomos de 235U aumenta de 1:138 para cerca de feita, considerando-se os nêutrons térmicos e de fissão como casos limites. A seção
1:80, o que equivale a um enriquecimento de 1,23%. Analogamente, uma reação em de choque térmica total do 238U é 16,0 b e o urânio apresenta 0,048.1024 átomos/cm3,
cadeia auto-sustentada pode ser alcançada num sistema homogêneo com urânio sendo o caminho livre médio total para nêutrons térmicos dado por
parcialmente enriquecido e água comum.
1 1
t = 13
0 048 16 0
C.5 - Reator nuclear térmico heterogêneo
A seção de choque total média para nêutrons rápidos no 238U perfaz 7,2 b, de maneira
No tópico anterior foi mostrado que um conjunto homogêneo de urânio natural que o caminho livre médio totaliza cerca de 2,9 cm. Portanto, um tamanho de bloco de
e grafite não pode manter uma reação em cadeia, não importa quão grande seja, mas urânio adequado corresponde a um diâmetro entre 1,3 cm e 2,9 cm.
que, quando o urânio é suficientemente enriquecido no isótopo 235U, esta é possível. O fluxo de nêutrons de ressonância é menor dentro do bloco do que perto da
Na falta de urânio enriquecido, surgiu a questão sobre se o urânio natural e superfície, porque uma parte considerável da ressonância de absorção ocorre perto da
grafite podiam ser arranjados de alguma maneira que pudesse levar a uma reação em superfície do bloco. Este efeito favorece blocos grandes, mas a escolha do tamanho
cadeia. Os resultados listados na tabela 6 indicam que a principal dificuldade é o destes depende também do efeito dos blocos sobre o fator de fissão rápida e a
pequeno valor da probabilidade de escape da ressonância . A solução deste utilização térmica. O valor do fator de fissão rápida aumenta com o tamanho do bloco,
problema foi obtida pelo uso de blocos de urânio de tamanho considerável envolvidos porque a probabilidade de uma colisão entre um nêutron rápido e um átomo de 238U
por moderador. aumenta com o tamanho do bloco. Este efeito também tende a favorecer tamanhos
Uma consideração da maneira pela qual ocorre a ressonância de absorção maiores.
mostra que o uso de blocos de urânio aumenta a probabilidade de escape da A principal desvantagem de um conjunto heterogêneo de urânio e um
ressonância. A ressonância de absorção ocorre quando nêutrons, durante o curso de moderador é o decréscimo na utilização térmica, em comparação com uma mistura
um processo de moderação, alcançam energias cinéticas que, junto com a energia de homogênea com a mesma concentração de combustível nuclear. Supondo que os
ligação, correspondem a níveis do núcleo composto 239U. Quando um nêutron com tal nêutrons térmicos sejam monoenergéticos e incidam sobre a superfície de um bloco
energia cinética colide com um núcleo de 238U, existe uma chance apreciável de que de urânio, o fluxo térmico diminuirá porque alguns dos nêutrons incidentes serão
ele seja absorvido. Em um conjunto homogêneo de urânio/grafite, cada partícula de absorvidos perto da superfície. Os nêutrons restantes penetram no bloco e mais
urânio tem a mesma chance de capturar uma certa fração dos nêutrons de nêutrons são absorvidos. O fluxo de nêutrons térmicos é então reduzido dentro do
ressonância. Porém, quando o urânio está presente em blocos relativamente grandes, bloco, com a conseqüente diminuição da probabilidade de que uma absorção venha a
este não é mais o caso. ocorrer posteriormente. O efeito é diretamente análogo àquele de uma ressonância de
Para ilustrar este fato, considera-se nêutrons colidindo com um bloco de urânio. absorção, exceto que ela não é desejável no caso da absorção térmica. Em outras
Aqueles nêutrons que possuem energias cinéticas dentro da faixa de ressonância palavras, a “auto-blindagem” do bloco de urânio contra a absorção de nêutrons
podem ser absorvidos na superfície do bloco, enquanto que nêutrons com energias térmicos resulta num decréscimo da utilização térmica.
que não correspondem à faixa de ressonâncias entram dentro do bloco. Alguns destes A escolha precisa de um tamanho de bloco adequado depende do
nêutrons podem sofrer colisões elásticas com os núcleos de urânio e, apesar da perda balanceamento dos efeitos sobre e (que tendem a aumentar o valor de k ) e do
de energia cinética por colisão ser pequena, uma fração deles pode ser espalhada
decréscimo em (que tende a diminuir o valor de k ). O cálculo real de , e é muito
dentro de faixas de energia de ressonância e serem absorvidos. Entretanto, muitos
mais complicado para um conjunto heterogêneo do que para um conjunto homogêneo.
nêutrons podem passar através de blocos sem serem absorvidos, podendo escapar de
colisões elásticas junto aos núcleos de urânio ou ser espalhados, mas não dentro de Valores de até k = 1,075 foram obtidos para reatores a urânio natural moderados a
uma faixa de ressonância. A probabilidade de uma ressonância de absorção dentro do grafite e valores de até k = 1,21 foram obtidos para reatores a urânio natural
bloco é, portanto, menor do que na superfície do bloco. Em outras palavras, os moderados a água pesada.
núcleos de 238U dentro do bloco têm uma chance menor de capturar nêutrons durante Num conjunto heterogêneo combustível nuclear/moderador (rede), a escolha
o processo de moderação do que os núcleos de 238U situados perto da superfície do do espaçamento da rede, ou seja, a distância entre os elementos combustíveis,
bloco, existindo assim uma certa “auto-blindagem” do urânio contra uma ressonância também é importante. Do ponto de vista da economia de nêutrons, a escolha envolve
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um balanceamento entre as propriedades de moderação e difusão do conjunto. Se o Taxa de fuga + Taxa de absorção = Taxa de produção
moderador é um absorvedor muito fraco (D2O ou grafite), a distância entre os blocos
deve ser suficientemente grande para que, em média, os nêutrons rápidos de um Para se determinar a taxa de fuga de nêutrons do reator, é necessário
bloco sejam moderados a energias cinéticas térmicas antes de alcançar um outro introduzir o conceito de corrente de nêutrons. Em um meio que apresenta baixa
bloco. Existe uma grandeza Ls , denominada comprimento de moderação, que pode absorção e bastante espalhamento de nêutrons, foi observado experimentalmente que
ser determinada experimentalmente ou calculada teoricamente, a qual constitui uma os nêutrons tendem a se difundir da região que tem alta população de nêutrons para
medida de quão longe um nêutron de fissão viaja em média, enquanto está sendo aquela que tem baixa população de nêutrons, conforme ilustra a figura 11.
moderado a energias cinéticas térmicas. Os valores do comprimento de moderação Basicamente, por meio de inúmeros espalhamentos, a população de nêutrons tende a
para alguns moderadores estão listados na tabela 8, juntamente com , denominada se tornar uniforme no meio. A partir desta constatação experimental foi estabelecida a
área de moderação. Para reatores moderados com D2O ou grafite, o espaçamento da lei de Fick para a corrente de nêutrons
rede deve perfazer pelo menos um comprimento de moderação. A água comum é um
absorvedor muito mais forte que a água pesada ou grafite, de maneira que um
[nêutrons/cm2.s] (59)
espaçamento da rede igual a um comprimento de moderação permitiria muita
absorção de nêutrons lentos. Portanto, em um reator contendo urânio enriquecido no
isótopo 235U e moderado com H2O, as barras de combustível devem estar próximas e onde D é o coeficiente de difusão do meio e v a velocidade média do nêutron no meio.
teria que ser muito menor do que para o D2O ou grafite. O coeficiente de difusão indica quanto o meio é difusor de nêutrons. Quanto maior for
o valor de D, maior será a difusão dos nêutrons através do meio. A equação (59)
Moderador Ls (cm) (cm2) mostra também que quanto maior a energia cinética (e portanto a velocidade) do
H2O 5,3 28 nêutron, maior será a difusão do mesmo através do meio.
D2O 11,2 125
Be 9,8 96
C 19,1 364
Tabela 8 - Valores do comprimento e área de moderação para diversos moderadores.

Em cálculos de projetos detalhados, as escolhas do tamanho dos blocos e do


espaçamento da rede não são independentes e devem ser consideradas juntas. A
escolha final dos parâmetros do projeto pode ser fortemente influenciada por outros
fatores que não as propriedades nucleares do combustível e moderador. Estes outros
fatores podem incluir a facilidade ou eficiência de remoção de calor, propriedades
estruturais e efeitos de ênfase em um fim especial para o reator.

C.6 - Tamanho crítico de um reator nuclear térmico

O valor do fator de multiplicação sozinho não permite determinar o tamanho


crítico de um sistema de reação em cadeia. O fator de multiplicação k indica como a
concentração de nêutrons cresceria se nenhum nêutron escapasse fora do sistema,
devendo ser combinado com uma grandeza que diz algo sobre o escape de nêutrons.
A teoria matemática do tamanho crítico é uma parte importante da teoria de reatores
nucleares, e será ilustrada ao longo desta parte por um exemplo bastante simples.
Seja um reator homogêneo na forma geométrica de uma chapa infinita nas
direções y e z, mas de espessura finita na direção x. As propriedades nucleares deste
sistema, incluindo k , serão consideradas conhecidas. O problema consistirá em
determinar a espessura crítica a na qual a chapa vai sustentar uma reação em cadeia.
Neste sistema, nêutrons são produzidos e absorvidos através da chapa, podendo
também escapar para fora dos limites da mesma. Supõe-se que no início todos os
nêutrons são térmicos e monoenergéticos, apresentando uma distribuição de
Figura 11 - Representação esquemática da lei de Fick.
velocidades maxwelliana que pode ser representada pela velocidade mais provável.
Esta hipótese pode ser feita se os materiais do reator são absorvedores cujas seções
A corrente de nêutrons é uma grandeza que indica o fluxo de nêutrons em uma
de choque para absorção são proporcionais a 1/v. O tratamento baseado nesta
determinada posição x do reator. O sinal negativo na equação (59) indica que os
hipótese é chamado de modelo de um grupo, porque todos os nêutrons são
nêutrons fluem da região de maior concentração de nêutrons para a região de menor
considerados como se tivessem a mesma energia cinética.
concentração de nêutrons.
Busca-se a espessura necessária para que o reator opere num estado
Assim sendo, a taxa líquida de fuga de nêutrons na espessura dx localizada
contínuo. A condição para este equilíbrio pode ser escrita como uma equação de
entre x e x + dx é dada por
balanço de nêutrons, que esquematicamente se resume a

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(68)
2 (60)
onde s é o comprimento de moderação (também chamado comprimento de difusão
rápida) apresentado na seção C.5 e 2 é denominada área de migração de nêutrons.
onde A é a área transversal do reator (considerada como sendo infinita). A taxa de A equação de balanço dos nêutrons torna-se então
fuga fornece o número líquido de nêutrons que deixam por segundo uma chapa de
espessura dx através de uma área A normal a dx. 1
A taxa de absorção é dada por (69)

Taxa de absorção de nêutrons no elemento dx = n.v.A. a.dx (61)


A equação (67) é a equação de um grupo modificada. Este modelo fornece resultados
onde razoavelmente bons para reatores bem moderados, nos quais k é próximo da
unidade, ou seja, k 1 << 1. Reatores a urânio natural moderados a grafite são um
a = a0 + a1 (62) exemplo.
A solução da equação (69) requer condições de contorno, sendo que a
é a seção de choque macroscópica para absorção apresentada pelo material que formulação precisa destas condições constitui em geral um problema complicado. No
constitui o reator. caso tratado ao longo desta seção, baseada na teoria de difusão, considera-se que na
A expressão do lado direito da equação (61) fornece o número de nêutrons fronteira externa do reator, onde há vácuo, os nêutrons que fogem do reator não
absorvidos por segundo em um elemento de volume com área A e espessura dx. A retornam mais. Isto significa que a corrente de nêutrons na fronteira é composta
taxa de produção é obtida se for observado que cada nêutron térmico absorvido apenas de nêutrons que saem do reator. É possível demonstrar que esta condição de
resulta na emissão de k novos nêutrons, ou seja contorno real pode ser representada, ainda que de maneira não muito precisa, pela
hipótese de que a densidade de nêutrons deve desaparecer na fronteira externa do
reator. Se o centro x = 0 do sistema de coordenadas é posicionado no plano central do
Taxa de produção de nêutrons no elemento dx = n.v.A. a.k .dx (63)
reator, a condição de contorno é que
A equação de balanço dos nêutrons é portanto
n(x) = 0 em x = (70)
(64)
Se o reator é uniforme, a densidade de nêutrons deve ser simétrica em relação
a x = 0 e positiva ao longo do interior do reator. A solução geral da equação (69) é
que reagrupada resulta
n(x) = A cosBx + C senBx (71)

1 (65) onde

1
Define-se um comprimento de difusão para o reator, utilizando a expressão B2 = (72)

(66) sendo A e C constantes arbitrárias. Entretanto, senBx não é uma função simétrica em
relação a x = 0, de modo que C deve ter um valor nulo e a solução fica sendo somente

onde D e a são definidos pelas expressões (59) e (62), respectivamente. A equação n(x) = A cosBx (73)
de balanço dos nêutrons torna-se então
Aplicando-se a condição de contorno (70) à solução (73), resulta
1
(67)
(74)
2 112
A equação (67) acima é conhecida como equação de difusão de nêutrons pois,
para tratar a fuga de nêutrons, utiliza a lei de Fick de difusão de nêutrons. A expressão (74) dá a espessura crítica do reator em termos das propriedades
Agora é possível levar em conta o fato de que os nêutrons de fissão são nucleares representadas por k e = ( 2 + )1/2. A distribuição da densidade de
emitidos como nêutrons rápidos e devem ser moderados a energias cinéticas nêutrons em função da posição é dada por
térmicas. Se o reator é bem moderado, ou seja, se quase todas as fissões (da ordem
de 95%, por exemplo) são produzidas por nêutrons térmicos, a grandeza 2 pode ser
substituída por n(x) = A cos (75)

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onde A é uma constante arbitrária cujo valor é determinado pela taxa de remoção de C.7 - Conversão e regeneração
calor ou pelo nível de potência do reator. A expressão (74) mostra que: a) para k < 1
não existe valor real para a espessura crítica, b) para k = 1 a espessura crítica O futuro da indústria de potência elétrica baseada na fissão nuclear levanta a
é infinita, c) para k >1 valor da espessura crítica é finito. questão da disponibilidade e custo do material físsil. Até esta parte, os materiais
O tamanho crítico de um reator nuclear térmico pode ser calculado para outras físseis considerados foram o 235U, o 239Pu e o 233U, nenhum dos quais está disponível
formas geométricas do arranjo combustível nuclear + moderador, utilizando-se para na natureza em grandes quantidades. Seria ineficiente obter potência em escala
tanto o mesmo método apresentado anteriormente e coordenadas adequadas. Alguns grande a partir da fissão do 235U, pois apenas 0,72% do urânio disponível poderia ser
resultados são de interesse e merecem ser mencionados. O raio crítico Rc de um usado diretamente. O plutônio tem sido obtido pela fissão do 235U em um reator
reator esférico é contendo 238U, mas este processo é complicado e dispendioso. Analogamente, o 233U,
que a exemplo do plutônio não ocorre na natureza, pode ser obtido num reator
contendo 232Th. Apesar do problema da disponibilidade e custo de combustíveis
Rc = (76) nucleares ser um problema sério, uma única e notável solução é possível por causa de
112 uma das propriedades nucleares do processo de fissão. Esta propriedade é a
emissão, em média, de mais de dois nêutrons por fissão.
e o comprimento da aresta de um cubo crítico é dado por Para fins de exemplo, será considerado que três nêutrons são emitidos por
fissão. Um destes nêutrons é necessário para manter a reação em cadeia
3 funcionando, por meio da indução de fissão em outro átomo de combustível (por
Ac = (77) exemplo, um átomo de 235U). Dos dois nêutrons que sobram, um pode ser usado para
11 2 converter um átomo de urânio em um átomo de plutônio, restando ainda um nêutron.
Se este último nêutron pudesse ser usado para produzir um outro átomo de plutônio a
A esfera apresenta uma razão superfície/volume menor do que o cubo, e um volume partir de um outro átomo de 238U, um átomo de 235U estaria sendo usado e dois átomos
crítico menor. Para a esfera, o volume crítico é de 239Pu estariam sendo produzidos, deixando um lucro de um átomo de material físsil.
O resultado final do processo seria a produção de mais material físsil do que é
3 2 consumido.
4 É claro que este exemplo está bastante simplificado. É inevitável que alguns
Vc = 130 (78)
3 1 nêutrons sejam perdidos por escape ou por absorção pelos outros materiais que
compõem um reator, porém enquanto mais de dois nêutrons forem emitidos na fissão,
existe a possibilidade de novos núcleos de material físsil serem produzidos no núcleo
enquanto que, para o cubo, este volume perfaz
do reator enquanto este estiver operando. Para caracterizar quantitativamente este
3 2
processo, é necessário considerar a razão entre o número de núcleos físseis criados e
o número de núcleos físseis consumidos. Se esta razão for menor que um, a mesma é
Vc = 161 (79) denominada taxa de conversão, porém se for maior ou igual a um, a mesma é
1 denominada taxa de regeneração. A utilização da regeneração, em conjunto com o
reprocessamento do combustível nuclear utilizado, tornaria possível a um reator fazer
ou cerca de 24% maior que o volume crítico da esfera. A massa crítica do urânio pode novo combustível para uso próprio e, além disso, dar origem a um estoque de material
ser determinada a partir do volume crítico e da massa de urânio por unidade de físsil que poderia ser acumulado para uso em novos reatores.
volume do reator. Esta última é um dos parâmetros básicos de projeto. O processo de regeneração de material físsil depende de dois materiais, um
É comum que um reator seja construído com um tamanho maior do que o dos quais é físsil e um outro que é fértil. O 238U (fértil) e o 239Pu (físsil) formam um par
tamanho crítico, ou seja, com uma configuração tal que k = 1 + , onde é chamado deste tipo. Outro par é formado pelo 232Th (fértil) e o 233U (físsil). Considerando o
excesso de reatividade. O excesso de reatividade é necessário para que os nêutrons primeiro par e supondo que 239Pu suficiente esteja disponível para alcançar uma
sejam usados, ou na forma de feixes saindo do reator através de canais, ou sendo reação em cadeia em meio a um sistema que pode ser usado para gerar potência: a
absorvidos dentro do reator para produzir novos radioisótopos, ou ainda para outras fissão do 239Pu por nêutrons térmicos produz três nêutrons, de maneira que se alguns
finalidades. A existência de um excesso de reatividade torna necessário haver um destes nêutrons pudessem ser absorvidos no 238U para formar mais 239Pu, um ciclo de
sistema de controle do reator, constituído em geral por fortes absorvedores de regeneração poderia ser conseguido. Neste caso, o 238U é o material fértil, porque
nêutrons, tais como barras de cádmio ou compostos de boro. O valor real do fator de apesar de não ser físsil de maneira útil, pode ser convertido em um bom material físsil,
multiplicação no reator em operação pode ser mantido próximo da unidade por sendo concebível que um reator possa ser construído com base em um sistema que
intermédio do ajuste apropriado das barras de controle. produz mais plutônio do que consome. A propriedade nuclear que determina se a
O escape de nêutrons de um reator pode ser reduzido circundando o reator possibilidade de regeneração existe não é o valor do número médio de nêutrons
com um refletor feito de um absorvedor de nêutrons fraco. A grafite é usada emitido por fissão, designado por , mas sim o número médio de nêutrons produzido
freqüentemente com este propósito. O refletor devolve nêutrons que de outra maneira por nêutron absorvido no combustível, designado por . Isto ocorre porque a captura
deixariam o reator, e o escape diminuído reduz o tamanho crítico do reator, com a sem fissão de nêutrons pelo combustível pode ser suficientemente grande para
economia em combustível nuclear daí resultante. O sistema do reator, incluindo o
interferir decisivamente na regeneração. O valor de obtido para a incidência de
refletor, deve ser envolvido por uma blindagem, em geral feita de concreto, com a
nêutrons térmicos no plutônio é 2,08 0,02, sendo portanto apenas ligeiramente maior
finalidade de reduzir a intensidade das radiações (nêutrons e raios-gama) que
que dois. Este resultado parece tornar impraticável a regeneração do 239Pu em um
escapam para o ambiente externo a valores abaixo de limites que representam algum
reator térmico. Entretanto, a razão entre a seção de choque para fissão e a seção de
risco biológico.
choque total para absorção é mais próxima da unidade em energias cinéticas elevadas

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dos nêutrons incidentes, de maneira que e apresentam valores próximos em um C.9 - Coeficientes de reatividade
reator rápido. Como conseqüência, a regeneração do 239Pu torna-se possível em um
sistema de nêutrons rápidos que contenha 238U e 239Pu. Conforme destacado anteriormente, a reatividade de um reator nuclear varia de
O valor de para a incidência de nêutrons térmicos no 233U perfaz 2,28 0,02, acordo com diversos parâmetros, entre os quais a temperatura. A variação da
fato que torna aparentemente possível obter a regeneração deste nuclídeo físsil a reatividade expressa em relação à variação de um determinado parâmetro x (por
partir do 232Th em sistemas de reatores térmicos. Um sistema contendo 233U e 232Th exemplo: temperatura, pressão, potência, etc.) é denominada coeficiente de
também poderia ser usado como reator rápido, mas o valor maior de para o 239Pu reatividade devido ao parâmetro x, de maneira que, por definição
favorece o uso deste último material em reatores regeneradores rápidos.
Se a regeneração pudesse ser conseguida, tanto o 238U quanto o 232Th
poderiam converter-se em materiais físseis. O aumento da quantidade de (82)
combustíveis nucleares disponíveis abriria perspectivas promissoras para o futuro da
indústria nuclear a longo prazo. ou ainda

1
C.8 - Reatividade (83)

A reatividade é uma grandeza que descreve o desvio percentual da


Quando o parâmetro x é a temperatura, o coeficiente de reatividade é
criticalidade que um reator apresenta, sendo definida como
denominado coeficiente de temperatura, sendo denotado por T. É importante
observar que quando a temperatura do reator sobe devido a um aumento de potência
(81) (o que ocorre, por exemplo, retirando-se barras de controle), as absorções de nêutrons
pelo combustível nuclear aumentam, levando a uma diminuição do fator de
multiplicação (pois o parâmetro diminui), de modo que (dk/dT) < 0 e portanto T < 0.
onde k é o fator de multiplicação. Um reator está subcrítico quando k < 1 e < 0, Por outro lado, o calor gerado no combustível nuclear é transferido ao
atinge a criticalidade quando k = 1 e = 0, tornando-se supercrítico quando k > 1 e > moderador, causando um aumento de temperatura no mesmo. O aumento da
0. temperatura do moderador (por exemplo, H2O) diminui-lhe a massa específica,
Vários parâmetros podem alterar a criticalidade de um reator. Por exemplo, a fazendo eventualmente com que diminua a quantidade de átomos do moderador por
temperatura altera a criticalidade, pois aumentando-se a temperatura aumenta a unidade de volume, o que diminui a capacidade de moderação e faz com que menos
absorção de nêutrons pelo combustível nuclear, o que altera o balanço de nêutrons. O nêutrons sejam termalizados. Como conseqüência, o número de fissões induzidas
consumo do combustível nuclear faz com que sejam originados produtos de fissão que diminui e o valor do fator de multiplicação abaixa. Este efeito, que ocorre no
absorvem nêutrons, fazendo com que a criticalidade do reator varie durante um ciclo moderador, é descrito pelo chamado coeficiente de temperatura do moderador, dado
de operação. Desta forma, um reator nuclear deve por um lado ser projetado para por
apresentar um excesso de reatividade no início de cada ciclo de operação, para
compensar estes efeitos e para em cada instante ficar crítico, e por outro lado utilizar 1
sistemas de controle desta reatividade em excesso. (84)
A reatividade, assim como o fator de multiplicação k, não possui unidades
físicas (grandeza adimensional), de maneira que pode ser expressa em valor absoluto
ou em porcentagem. Por exemplo, se no início de um determinado ciclo de operação O efeito do aumento de temperatura do moderador pode ser resumido da seguinte
de um reator o fator de multiplicação é tal que k = 1,15, então a reatividade inicial é = maneira : aumenta, k diminui e < 0.
(1,15 1,00)/1,15 = 0,13 ou 13% k/k. Uma outra maneira de expressar a reatividade Os efeitos causados pela variação de todos os parâmetros mencionados, em
é em termos de partes por cem mil (pcm), ou seja, = 0,13 = 13000 pcm. última análise, podem ser agrupados em um coeficiente de potência dado por
Um valor de reatividade que possui importância no comportamento dinâmico de
um reator é aquele correspondente à fração de nêutrons atrasados, dado por 1
0,007 = 700 pcm. Devido à relevância que possui, atribui-se a este valor de reatividade (85)
o valor de 1 dólar (1$), ou seja = 1$ 0,007 = 700 pcm = 0,7% k/k. Portanto, se =
13000 pcm = 13000/700 = 18,6$.
onde P é a potência do reator nuclear. No projeto de um reator nuclear, é desejável
Quando reatividade negativa é inserida em um reator, por exemplo pela
introdução de uma barra de controle ou de um material absorvedor de nêutrons, o que P seja negativo em toda a faixa de operação, pois neste caso um aumento de
valor do fator de multiplicação k decresce. Nestas circunstâncias, se uma barra de potência introduz reatividade negativa, tendendo a trazer a potência do reator de volta
para o valor inicial, evitando desta forma “excursões de potência” indesejáveis. O
controle insere uma reatividade de 2000 pcm em um reator, o mesmo se torna
acidente ocorrido em 26 de abril de 1986, no reator 4 da central nucleoelétrica de
subcrítico, pois
Chernobyl (Ucrânia), teve como uma das causas uma excursão de potência que, após
terem sido cometidas violações grosseiras das normas de segurança na operação do
2000 reator, estabeleceu-se pelo fato de P ser positivo.
No projeto de um reator nuclear, normalmente é exigido que os coeficientes de
reatividade sejam negativos, principalmente o coeficiente de temperatura T. Esta

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exigência tem a finalidade de tornar o reator intrinsecamente seguro no que concerne b) considerando a existência tanto de nêutrons prontos quanto de nêutrons atrasados
a acidentes que causem aumento da temperatura do núcleo. (caso real)

C.10 - Período de um reator nuclear

O período de um reator nuclear é o tempo necessário para que a potência do controle possível
reator aumente por um fator igual a e = 2,718282, sendo definido como:

(86) C.11 - Controle de um reator nuclear

O controle de um reator nuclear tem os seguintes propósitos: a) variar a


onde k é o fator de multiplicação efetivo e é o tempo médio de duração de um reatividade ou a criticalidade do reator, para deste modo poder variar a potência, b)
nêutron. manter o reator crítico durante todo o ciclo de operação do mesmo, de maneira a
O valor do período fornece uma indicação da taxa de variação da população compensar o efeito de alterações ocorridas nas características do sistema que o
neutrônica no cerne do reator. Assim, em um reator crítico, k = 1 e portanto T , ou constitui (consumo do combustível nuclear, variações de temperatura, etc.), c) desligar
seja, a potência do reator é mantida constante. Por outro lado, em um reator o reator em caso de necessidade, através da introdução de reatividade negativa no
supercrítico, T é pequeno, de maneira que a população neutrônica, o fluxo total de sistema que o constitui.
nêutrons e, consequentemente, a potência do reator, aumentam exponencialmente Para cumprir este propósito, o mecanismo mais utilizado consiste em introduzir
com o tempo. No caso da potência, a equação que descreve este aumento é: um material absorvedor de nêutrons, de maneira a diminuir o valor do fator de
multiplicação. Outra maneira seria variar o grau de moderação, alterando-se a
(87) quantidade de moderador presente no sistema.
Em geral, o material absorvedor de nêutrons é introduzido no reator sob a
forma de elementos de controle, que usualmente recebem o nome de barras de
sendo P0 a potência inicial do reator. controle, embora nem sempre tenham o formato geométrico de uma barra. Por
O tempo médio de duração de um nêutron é o intervalo de tempo médio
exemplo, em diversos reatores de pesquisa estes elementos são placas, enquanto em
transcorrido desde a geração do nêutron até a absorção do mesmo por um núcleo
reatores de potência refrigerados a água fervente (BWR) estes elementos possuem a
atômico ou o escape do mesmo para fora do cerne do reator. forma de cruz.
Para nêutrons prontos, o tempo médio de duração é igual a = 2.10 4 Entre os materiais mais usados em elementos de controle, destacam-se:
segundos, enquanto para nêutrons atrasados este tempo é muito maior, totalizando carbeto de boro (B4C), liga de prata-índio-cádmio (Ag-In-Cd, na proporção
= 12,7 segundos. Portanto, para todos os nêutrons de uma geração, o tempo respectivamente de 80%-15%-5%) e háfnio metálico (Hf). A principal propriedade
destes materiais, comum a todos eles, é uma elevada seção de choque para absorção
médio de duração é dado por:
de nêutrons.
Uma barra de controle, ou um conjunto de barras de controle, introduz
(88) reatividade negativa quando de sua introdução física no núcleo do reator ou introduz
reatividade positiva quando de sua retirada física do núcleo do reator, fato que permite
onde é a fração total de nêutrons atrasados. Por exemplo, no caso do 235
U, = aumentar ou diminuir a potência do reator, assim como desligá-lo.
0,0064 e portanto: A taxa temporal de inserção de reatividade é limitada por normas internacionais
ao valor de 20 pcm/s, com a finalidade de fazer com que o reator possa subir de
potência de maneira segura.
Para compensar a variação da reatividade ou do fator de multiplicação que
ocorre ao longo de um ciclo de operação de um reator nuclear, alguns reatores (por
A existência dos nêutrons atrasados é fundamental para manter controlável a exemplo, os chamados reatores refrigerados a água pressurizada - PWR) utilizam
reação nuclear de fissão em cadeia auto-sustentada, devido ao efeito que exerce absorvedores de nêutrons dissolvidos no refrigerante. O mais utilizado dentre os
sobre o valor do período. Para exemplificá-lo, basta considerar um reator nuclear absorvedores deste tipo é o ácido bórico (H3BO3), por causa da elevada seção de
supercrítico no qual k = 1,001. Partindo de uma potência inicial P0, após apenas um choque para captura de nêutrons exibida pelo 10B (isótopo que constitui 20% do boro
segundo, a potência deste reator aumentaria: natural). A concentração do absorvedor solúvel é variada ao longo do ciclo de
operação do reator, de maneira a compensar a variação da reatividade, sendo
a) considerando apenas a existência de nêutrons prontos (só hipótese) portanto alta no início e praticamente zero no fim do ciclo (quando então é trocado o
combustível nuclear). É importante destacar que a utilização do absorvedor de
nêutrons solúvel é homogênea em todo o núcleo do reator, não ocasionando
distorções na distribuição de potência ou fluxo. O absorvedor solúvel causa um
aumento na absorção de nêutrons, o que altera o parâmetro e consequentemente o
controle impossível fator de multiplicação k. Na figura 12 ilustra-se a variação da concentração de boro
(expressa em partes por milhão, ppm) ao longo de um ciclo de operação inteiro de um
típico reator PWR.
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É importante destacar que a curva de concentração de boro apresenta a
mesma forma de variação exibida para o fator de multiplicação k ao longo de um ciclo
de operação do reator nuclear.
III -- T
TEER
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NUC CLLEEAARES

A - TRANSFERÊNCIA DE CALOR E CIRCULAÇÃO


DE FLUIDO EM REATORES NUCLEARES

A.1 - Introdução

O valor máximo da taxa de fissão e portanto da potência máxima gerada em


um reator nuclear é limitado pelo fato de que a energia liberada deve ser transferida,
sob a forma de calor, do combustível nuclear para o refrigerante, com a finalidade de
manter a temperatura em todas as partes do reator abaixo dos limites impostos pelas
propriedades dos materiais que o constituem.
A importância da análise térmica de um reator nuclear reside, portanto, em
Figura 12 - Concentração de boro ao longo de um ciclo de operação inteiro de um permitir fixar na prática a máxima potência liberada tendo em vista as propriedades
típico reator PWR. dos materiais do reator. A análise térmica permite também determinar as temperaturas
dos componentes do reator nuclear (combustível nuclear, revestimento do combustível
Outra maneira de compensar a variação da reatividade consiste em utilizar nuclear e refrigerante) em qualquer ponto do mesmo.
substâncias denominadas venenos queimáveis. Define-se como veneno queimável A geração e o processo de transferência de calor em um reator nuclear típico
uma substância contendo núcleos com elevada seção de choque para absorção de podem ser resumidos da maneira descrita a seguir. A energia é liberada pela fissão
nêutrons e que, ao absorvê-los, dão origem a novos núcleos com baixa seção de em meio ao combustível, sendo transferida por condução de calor para a superfície do
choque para absorção de nêutrons. A substância é, desta forma, depletada, ou combustível e através do revestimento. O calor é então transferido por convecção da
“queimada”. Escolhendo-se adequadamente a distribuição e a quantidade com que tal superfície do revestimento para o refrigerante. Para que esta transferência ocorra de
substância é incorporada ao núcleo do reator, a mesma pode compensar parcialmente maneira efetiva, o refrigerante circula ao longo da superfície do revestimento, de tal
a perda de reatividade devida à depleção do combustível nuclear e à acumulação de maneira que a transferência de calor ocorre por convecção para um fluido que escoa
produtos de fissão ocorridas ao longo de um ciclo de operação do reator. O veneno em torno do elemento combustível. Por fim, a energia liberada pela fissão, após ter
queimável pode ser misturado ao combustível nuclear ou a materiais estruturais do sido transferida para o refrigerante, é transportada para fora do reator quando o
núcleo (formas de utilização mais comuns), bem como ser instalado separadamente refrigerante sai do núcleo e ingressa em trocadores de calor externos, nos quais pode
no núcleo do reator. As substâncias mais empregadas como veneno queimável são o ser gerado vapor por intermédio de um sistema de potência termodinâmico.
óxido de boro (B2O3) e o óxido de gadolínio (Gd2O3), por causa das elevadas seções Estes processos serão estudados ao longo desta parte, visando determinar
de choque para absorção de nêutrons exibidas respectivamente pelo 10B (isótopo que temperaturas, taxas de transferência de calor e níveis de potência em um reator
constitui 20% do boro natural) e pelo 157Gd (isótopo que constitui 15,65% do gadolínio nuclear. A circulação de refrigerante em um reator nuclear será também estudada para
natural). determinar efeitos de atrito, variações de pressão e requisitos referentes à potência de
bombeamento. Nesta abordagem, a ênfase será para reatores que utilizam
refrigerantes monofásicos líquidos ou gasosos, enquanto reatores que operam com
refrigerantes bifásicos e transferência de calor por ebulição serão apenas
mencionados brevemente.

A.2 - Condução de calor em elementos combustíveis

Os elementos combustíveis são geralmente constituídos por barras cilíndricas


longas ou placas retangulares de urânio ou outro material físsil envolvido por um
revestimento. O urânio pode estar na forma metálica pura, na forma de um composto
(em geral um óxido) ou na forma de uma liga com outro metal (em geral alumínio ou
zircônio). Além de ser físsil, o combustível nuclear deve apresentar as seguintes
propriedades: elevada condutividade térmica, boa resistência à corrosão, boa
resistência mecânica em altas temperaturas e temperatura máxima de operação
elevada. A temperatura máxima de operação do combustível nuclear é um dos fatores
mais importantes no projeto térmico de um reator.

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O revestimento que envolve o combustível nuclear possui três funções: a) evita
2
a liberação de produtos de fissão no refrigerante quando o mesmo passa pelo núcleo (5)
do reator, b) proporciona suporte e reforço estrutural ao combustível nuclear, c) amplia
a área da superfície externa do elemento combustível em certos tipos de reatores
(principalmente naqueles refrigerados a gás), de maneira a tornar mais efetiva a Esta equação será aquela utilizada para analisar as temperaturas em elementos
transferência de calor para o refrigerante. Os materiais adequados para o revestimento combustíveis de reatores nos quais energia foi liberada por fissão nuclear.
devem satisfazer alguns requisitos entre os quais se destacam: baixa seção de Considerando-se que toda a energia liberada por fissão nuclear é depositada
choque para captura radiativa de nêutrons, elevada condutividade térmica, boa no combustível, a taxa de liberação de energia por unidade de volume do combustível
resistência mecânica em altas temperaturas e inércia química em relação ao é dada por :
combustível nuclear e ao refrigerante. Os materiais mais utilizados no revestimento de
combustíveis nucleares são alumínio, ligas de magnésio (denominadas Magnox, (6)
atualmente em desuso), aço inoxidável e ligas de zircônio (denominadas Zircaloy).
A equação de Fourier que define a relação entre o fluxo de calor e o gradiente onde = 200 MeV = 3,2.10 11
J é a energia liberada na fissão de um átomo de
de temperatura para condução de calor unidimensional é dada por:
material físsil presente no combustível, é a seção de choque macroscópica
média para fissão do material físsil presente no combustível e é o fluxo de nêutrons
(1) térmicos (número de nêutrons térmicos/cm2.s) que incide no combustível em
condições estacionárias de operação do reator nuclear. A taxa de liberação de energia
sendo Q a taxa de transferência de calor (J/s W), A a área através da qual o calor é também pode ser expressa por unidade de massa do combustível como
transferido (m2), dT/dx o gradiente de temperatura no ponto considerado (0C/m) e k a 8
condutividade térmica do material (W/m.0C). O sinal negativo indica que o calor é 3 2 10
transferido na direção de temperaturas decrescentes. (7)
A equação (1) pode ser escrita também da seguinte maneira:

onde é a massa específica do combustível (kg/m3).


(2) A potência térmica total fornecida por um reator nuclear cilíndrico (forma
geométrica mais comum) está relacionada com a taxa volumétrica máxima de

onde é o fluxo de calor (W/m2). A perda de calor por intermédio de condução pode liberação de energia e com a taxa máxima de liberação de energia por unidade
ser generalizada para abranger um meio tridimensional, resultando: de massa do combustível através das equações

(3)
(8)
onde o operador laplaciano 2 pode ser escrito em coordenadas retangulares,
cilíndricas ou esféricas de acordo com a forma geométrica do meio no qual ocorre a
condução de calor. e
A equação geral para condução de calor em um meio tridimensional no qual
energia é liberada (por exemplo, como resultado de fissão nuclear) resulta, por
unidade de volume: (9)

onde e são respectivamente os valores máximo e médio do fluxo de nêutrons


ou, em termos matemáticos térmicos no núcleo do reator.
Na análise térmica de um reator, busca-se principalmente determinar as
temperaturas máximas no núcleo, que em geral ocorrem no elemento combustível
(4) onde a taxa de liberação de energia é maior e no refrigerante que o circunda. Em um
núcleo no qual a distribuição do combustível é uniforme, tal elemento combustível é
aquele posicionado no centro do núcleo. A variação do fluxo de nêutrons térmicos ao
onde é a massa específica do material (kg/m3), c é o calor específico do material longo do elemento combustível central (direção z) é dada por:
(J/kg.0C), é a taxa de liberação de energia no meio (W/m3) e é o operador
gradiente. (10)
Nesta parte, o estudo abrange apenas condições estacionárias em um reator,
de maneira que as temperaturas são independentes do tempo. Se além deste fato a enquanto a taxa de liberação de energia neste mesmo elemento combustível é dada
condutividade térmica k do meio material for constante, a equação (4) pode ser por:
simplificada, resultando
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(11) (14)

onde = / , sendo a altura extrapolada do núcleo, que resulta da soma da altura


geométrica do núcleo (que é igual à altura ativa dos elementos combustíveis) com a Quando x = 0, (dT/dx) = 0 e portanto C = 0. Integrando a equação (14) entre x = 0 e x
distância de extrapolação : = a, é encontrado o resultado:

(12) (15)
3

onde A é o número de massa dos átomos da substância que constitui o combustível onde TF é a diminuição de temperatura do centro para a superfície do combustível
nuclear e é a seção de choque macroscópica para espalhamento de nêutrons por nuclear. A distribuição de temperatura no interior do combustível nuclear é parabólica.
esta substância. A distância de extrapolação surge como conseqüência de que o fluxo Não há liberação de energia no revestimento e o calor conduzido por unidade
de nêutrons, ao atravessar a superfície livre de um meio, anula-se apenas a uma de área através do mesmo em cada lado do combustível é a (em unidades W/m2).
distância fixa situada além dos limites desta superfície. Para a maioria dos materiais, Usando a equação (2) neste caso específico, resulta a expressão:
a distância de extrapolação perfaz cerca de 2 cm.
Uma vez que os elementos combustíveis a serem estudados apresentam a
forma de cilindros finos ou placas, considera-se que o fluxo de nêutrons e (16)
consequentemente a taxa de liberação de energia são uniformes através do
combustível nuclear. Esta aproximação despreza a atenuação do fluxo de nêutrons no
interior do combustível, que é pequena se a espessura do combustível for pequena. que integrada entre x = a e x = a + b, fornece

A.2.1 - Elemento combustível tipo placa (17)

A figura 1 mostra um elemento combustível tipo placa, no qual o combustível


nuclear de espessura 2a se encontra emoldurado em ambos os lados por um onde Tcl é a diminuição de temperatura da superfície interna (em contato com o
revestimento de espessura b. As dimensões da placa nas direções y e z são grandes combustível nuclear) para a superfície externa (em contato com o refrigerante) do
comparadas com os valores de a e b, de maneira que a condução de calor pode ser revestimento.
assumida como ocorrendo apenas na direção do eixo x. A diminuição total de temperatura do centro do combustível nuclear para a
superfície externa do revestimento (desprezando qualquer variação de temperatura
através da interface combustível nuclear/revestimento) é dada por:

(18)

A.2.2 - Elemento combustível cilíndrico

A figura 2 mostra um elemento combustível com a forma de uma vareta


cilíndrica de raio a, envolvida por um revestimento de espessura b.
Figura 1 - Distribuição de temperatura em um elemento combustível tipo placa. Considerando desprezível a condução de calor ao longo da vareta, hipótese
correta para varetas em que o comprimento é muito maior que o raio, a equação de
No combustível nuclear, a equação (5) é escrita como: condução de calor para o combustível em coordenadas cilíndricas fica sendo dada por

1
(13) (19)

Considerando os valores da condutividade térmica e da taxa de liberação de energia ou ainda


como sendo constantes em meio ao combustível nuclear, a equação (13) pode ser
integrada, resultando: (20)

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pastilhas de UO2 e a superfície interna do revestimento, b) a condutividade térmica do
UO2 é independente da temperatura.
Em geral, combustíveis nucleares do tipo mencionado no parágrafo anterior
são fabricados com um espaçamento radial de cerca de 0,1 mm entre as pastilhas de
UO2 e a superfície interna do revestimento. Dilatação térmica do combustível (devido à
temperatura de operação do reator) e alterações no formato do combustível
(decorrentes de longos períodos de irradiação) acabam reduzindo este espaçamento
de maneira não uniforme para cerca de apenas 0,01 mm. Inicialmente, este
espaçamento é preenchido com gás hélio, porém conforme o combustível vai sendo
irradiado, fissuras surgem nas pastilhas e produtos de fissão gasosos (principalmente
xenônio e criptônio) se difundem por elas até alcançarem o espaçamento, o que altera
as características de condução térmica do mesmo.
A transmissão de calor através do espaçamento pode ser caracterizada pela
condutância térmica dada por:

0
(25)

Figura 2 - Distribuição de temperatura em um elemento combustível cilíndrico.


onde k é a condutividade térmica do gás no espaçamento (fornecida em unidades
Integrando a equação (20), encontra-se W/m.0C) e g é a largura do espaçamento (medida em m). Assim pois, a diminuição da
largura do espaçamento faz com que sua condutância térmica aumente
consideravelmente, tornando necessário considerar os efeitos decorrentes deste fato.
(21) A diminuição de temperatura através do espaçamento de uma vareta cilíndrica
preenchido com gás é dada por

Quando r = 0, (dT/dr) = 0 e portanto C = 0. Integrando a equação (21) entre r = 0 e r =


a, a diminuição de temperatura do centro para a superfície do combustível nuclear (26)
resulta:

e a equação (24) para a diminuição total de temperatura do centro do combustível


(22) nuclear para a superfície externa do revestimento pode ser modificada de maneira a
levar em conta este espaçamento, resultando:

O calor conduzido através do revestimento por unidade de comprimento do (27)


elemento combustível cilíndrico é igual a a2 . Utilizando este resultado em conjunto
com a equação que exprime a diminuição de temperatura através de uma parede o que implica
cilíndrica, encontra-se a seguinte expressão:

(28)
(23)

A segunda hipótese é referente à condutividade térmica do combustível nuclear


que fornece a diminuição de temperatura através do revestimento. UO2, que foi assumida até aqui como sendo constante. A condutividade térmica do
A diminuição total de temperatura do centro do combustível nuclear para a UO2 é muito mais baixa que a do urânio metálico puro, e assim a diminuição de
superfície do revestimento que o envolve é: temperatura através de uma pastilha de UO2 é muito maior que em uma vareta
combustível de urânio metálico com as mesmas dimensões. Neste caso, variações
acentuadas de temperatura no interior do combustível podem ocorrer, tornando a
(24) hipótese de condutividade térmica constante uma possível origem de erro significativo.
Se a condutividade térmica do combustível é considerada como sendo função
da própria temperatura, a equação geral para condução de calor, expressa em
Na análise apresentada ao longo desta parte, foram feitas duas hipóteses que coordenadas cilíndricas e designada anteriormente por equação (19), deve ser
podem introduzir erros significativos em cálculos referentes à importante classe de modificada para:
reatores nucleares cujo combustível é constituído por pastilhas cilíndricas de dióxido
de urânio (UO2) acondicionadas em um revestimento também cilíndrico de aço
inoxidável ou Zircaloy. Estas hipóteses são: a) não há espaçamento algum entre as (29)

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A solução desta equação, obtida por meio de integração, pode ser escrita como: A temperatura do refrigerante em qualquer ponto do núcleo do reator depende
de sua temperatura ao entrar no núcleo e do calor que foi transferido a ele até o ponto
em questão.
(30) A figura 3 mostra um elemento combustível cilíndrico de comprimento L,
posicionado no respectivo canal de refrigeração. O comprimento extrapolado do
núcleo é L’. A temperatura com a qual o refrigerante ingressa no canal é designada por
onde TF e Tf são respectivamente as temperaturas na linha central e na superfície da TC1, enquanto a temperatura com a qual o refrigerante deixa o canal é designada por
pastilha. TC2. Será assumido que não há condução de calor na direção axial do elemento
Valores da condutividade térmica do UO2 foram medidos e a integral que combustível, de maneira que toda a energia liberada em uma seção do combustível é
aparece no lado esquerdo da equação (30) é geralmente tabelada em função da
transferida radialmente para fora, sendo absorvida pelo refrigerante em circulação
temperatura T, sendo necessário consultar estas tabelas para, uma vez conhecida a quando este passa por aquela seção.
temperatura na superfície da pastilha de UO2, determinar a temperatura no centro da
mesma ou vice-versa.
É importante destacar que as equações mostradas ao longo desta parte
expressam as diminuições de temperatura através do combustível nuclear e do
respectivo revestimento, não fornecendo diretamente a temperatura em que de fato se
encontram estes componentes. Para determinar estas temperaturas, é necessário
conhecer a diminuição de temperatura da superfície externa do revestimento para o
refrigerante e também a temperatura do refrigerante em qualquer posição no núcleo
do reator.

A.3 - Transferência de calor do elemento combustível para o refrigerante

A equação geral para a transferência de calor por convecção entre uma dada
superfície e um fluido que escoa ao longo desta superfície é dada pela equação de
Newton:

(31)

ou ainda

(32)
Figura 3 - Escoamento e temperaturas do refrigerante no canal de refrigeração do
onde Q é a energia transferida para o fluido por unidade de tempo (J/s W), é a elemento combustível central.
diferença entre a temperatura da superfície e a temperatura da massa de fluido que
escoa ao longo da superfície (0C), h é o coeficiente de transferência de calor Um balanço de energia para o refrigerante que escoa passando por uma seção
(W/m2.0C), A é a área da superfície em contato com o fluido (m2) e é a energia do combustível de comprimento dz em z é dada por:
transferida para o fluido por unidade de tempo e por unidade de área (J/s.m2 W/m2).
No caso do elemento combustível tipo placa, a diminuição de temperatura em (35)
qualquer ponto da superfície do revestimento para o refrigerante é dada por:
onde é a vazão do refrigerante que escoa passando pela seção mencionada
(kg/s), cP é o calor específico do refrigerante (J/kg.0C) e dTC é o aumento de
(33) temperatura do refrigerante no comprimento dz (0C).
A partir da equação (35), a temperatura do refrigerante em qualquer ponto do
canal pode ser encontrada por integração:
e no caso do elemento combustível cilíndrico esta diminuição de temperatura é dada
por:
(36)
(34)
que fornece como resultado
A diminuição total de temperatura do centro do combustível para o refrigerante é
calculada pela soma TF + Tcl + c. (37)

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O aumento de temperatura do refrigerante em todo o canal é dado por:
(45)
(38)

O mesmo procedimento pode ser aplicado para encontrar a temperatura máxima do


Usando este resultado, TC(z) pode também ser escrita da seguinte forma combustível nuclear, a qual resulta:

(39) (46)

A temperatura do refrigerante ao longo do canal varia de acordo com uma função


seno, conforme mostrado na figura 3. onde
As temperaturas na superfície externa do revestimento (Ts), na interface
combustível nuclear/revestimento (TFcl) e no centro do combustível nuclear (TF) podem
finalmente ser determinadas em qualquer posição z. Para um elemento combustível (47)
cilíndrico, as equações são:
As equações mostradas ao longo desta parte permitem determinar as
temperaturas do combustível nuclear, superfície externa do revestimento e refrigerante
(40) em termos da potência do reator. Sob o ponto de vista termodinâmico, é desejável que
a temperatura do refrigerante seja a mais alta possível, uma vez que este atua como
fonte de calor para o ciclo de potência. Entretanto, limitações na temperatura máxima
de operação apresentada por certos componentes do reator impõem uma limitação na
temperatura máxima do refrigerante e portanto na potência do reator. Estas limitações
são decorrentes das propriedades dos materiais usados no reator, sendo o
(41) conhecimento detalhado de tais propriedades absolutamente fundamental no projeto
de reatores nucleares.
A obtenção das equações para as temperaturas dos componentes de um
reator, efetuada ao longo desta parte, baseou-se sempre na hipótese de que todos os
fatores determinantes da temperatura são conhecidos exatamente. Em um reator
realmente existente, esta hipótese muito raramente é observada. Na prática, fatores
como distorção do fluxo de nêutrons, distribuição incorreta da circulação de
refrigerante nos canais e pequenas variações nas dimensões do combustível nuclear
ou do revestimento podem causar incorreções nos valores calculados para as
onde
temperaturas. Para manter estas eventuais incorreções dentro de limites seguros, são
2
introduzidos os chamados “fatores de canal quente”, pelos quais as diminuições de
(43) temperatura calculadas são multiplicadas com a finalidade de determinar as
0
2 temperaturas máximas em condições adversas.
Uma outra hipótese feita na análise apresentada nesta parte deve ser
é a diminuição de temperatura da superfície externa do revestimento para o examinada mais atentamente: aquela segundo a qual toda a liberação de calor
refrigerante no meio do canal. Nas equações (41) e (42), foi desprezada a diminuição proveniente da fissão ocorre no combustível. Este não é o caso em um reator térmico
de temperatura através do espaçamento preenchido com gás, situado na interface no qual nêutrons são moderados e radiação gama é absorvida no moderador. A fração
da energia de fissão liberada como calor no moderador perfaz aproximadamente 5%
combustível nuclear/revestimento.
A figura 3 mostra a variação das temperaturas TC, Ts e TF ao longo do canal de do total. Esta energia acaba sendo transferida ao refrigerante (exceto se houver
refrigeração e indica a existência de valores máximos para Ts e TF. É importante refrigeração especial para o moderador) e o aumento de temperatura do refrigerante é
determinar a magnitude destes valores máximos. Diferenciando a equação (40) e o mesmo que se verificaria caso toda a energia de fissão fosse liberada no
combustível sob a forma de calor. Porém, as temperaturas do combustível e do
igualando a zero, encontra-se a posição na qual é atingida a temperatura máxima da
superfície externa do revestimento, sendo tal posição dada por: revestimento resultam mais baixas porque apenas cerca de 95% da liberação de calor
ocorre de fato no combustível, de maneira que as diminuições de temperatura através
do combustível e do revestimento são reduzidas em cerca de 5%. A hipótese de que
2 todo o calor é liberado no combustível superestima as temperaturas do combustível e
(44)
0 2 do revestimento, constituindo portanto um fator adicional de segurança na
determinação das mesmas.
Substituindo esta expressão para z na equação (40), obtém-se a temperatura máxima
da superfície externa do revestimento:

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A.4 - Transferência de calor por convecção forçada As propriedades do fluido a serem incluídas nesta equação são aquelas medidas à
temperatura Tb em que se encontra toda a massa em escoamento. A temperatura da
A equação (31) expressa a transferência de calor por convecção da superfície massa de um fluido em qualquer ponto z de um duto no qual escoa e está sendo
externa do revestimento para o refrigerante. O principal problema que surge ao usá-la aquecido é definida pela equação:
consiste em determinar o coeficiente de transferência de calor h. O método mais
comum para correlacionar dados de transferência de calor por convecção utiliza 1
(50)
equações nas quais as propriedades do fluido, dimensões do sistema, e outras
características relevantes são arranjadas em grupos adimensionais. As constantes
que aparecem nestas equações são determinadas experimentalmente. O escoamento onde T0 é a temperatura com a qual a massa de fluido ingressa no duto, z0 é o ponto
de refrigerante em um reator nuclear ocorre por meio de convecção forçada, uma vez
que o fluido é bombeado através do núcleo do reator. Os grupos adimensionais no qual o fluido ingressa no duto e é o calor transferido ao fluido por unidade de
geralmente usados em equações que descrevem a convecção forçada são: comprimento do duto.
No caso de alguns fluidos, certas propriedades (especialmente a viscosidade)
variam consideravelmente com a temperatura, de maneira que se houver uma
O número de Reynolds diferença acentuada entre as temperaturas da parede do duto e da massa de fluido
esta variação deve ser considerada. Para tanto, a equação de Sieder-Tate utiliza a
seguinte correlação:
O número de Prandtl

(51)

O número de Nusselt
Nesta equação, todas as propriedades do fluido são aquelas medidas à temperatura
Tb em que se encontra a totalidade da massa em escoamento, exceto w, que é
O número de Stanton medida à temperatura Tw da parede do duto.
A equação de Colburn também leva em conta variações de propriedades na
camada de fluido situada próxima da parede aquecida do duto. Esta equação é dada
O número de Peclet por:

As quantidades envolvidas são a viscosidade do fluido ( ), a condutividade (52)


térmica do fluido (k), a massa específica do fluido ( ), o calor específico do fluido a
pressão constante (cP), a velocidade de escoamento do fluido (v) e o diâmetro efetivo onde as propriedades do fluido são aquelas medidas à temperatura Tf da camada,
do duto no qual o fluido escoa (de), definido como sendo: definida como sendo Tf = (Tw + Tb) / 2. A dificuldade em usar as equações (51) e (52)
consiste em não se conhecer antecipadamente os valores das temperaturas Tw e Tf,
4 de modo que pode ser necessário empregar uma solução do tipo tentativa e erro.
(48) Estas equações foram obtidas principalmente a partir de dados coletados em
tubos circulares e são confiáveis para calcular coeficientes de transferência de calor
neste tipo de duto dentro de uma margem de incerteza de aproximadamente 10%. As
O número de Reynolds, que constitui uma medida da razão entre a inércia e as mesmas equações podem ser utilizadas com acurácia razoavelmente boa para
forças viscosas em um fluido em circulação, caracteriza o escoamento. Em particular, cálculos em dutos não circulares, desde que em cada caso considerado o diâmetro
a transição entre escoamento laminar e escoamento turbulento ocorre para valores de efetivo de seja calculado de acordo com a definição mostrada na expressão (48).
(Re) da ordem de 2000. O número de Prandtl depende apenas das propriedades do As equações empíricas para metais líquidos são diferentes daquelas para água
fluido, sendo dado pela razão entre a viscosidade cinemática e a difusividade térmica. e gases. Esta diferença provém do fato de que, no mecanismo de transferência de
Este número determina a maneira pela qual a temperatura e velocidade de um fluido calor em um metal líquido, a condução predomina sobre a difusão turbulenta. Uma das
variam próximo da parede de um tubo em que o mesmo escoa e no qual está sendo correlações aceitas para metais líquidos e que é utilizada no cálculo de coeficientes de
aquecido ou resfriado. transferência de calor, dentro de uma margem de incerteza de aproximadamente 20%,
Há diversas equações empíricas adimensionais que são utilizadas para tem a forma:
determinar coeficientes de transmissão de calor. Em quase todos os reatores de
potência, o refrigerante circula em alta velocidade através do núcleo com valores de
(Re) muito maiores que 2000, de tal modo que o escoamento é turbulento. Portanto, (53)
torna-se necessário empregar equações apropriadas para descrever convecção
forçada em condições de escoamento turbulento. A equação deste tipo mais utilizada A tabela 1 mostra valores típicos de coeficientes de transferência de calor h
para água e gases em canos redondos lisos é a equação de Dittus-Boelter: (medidos em W/m2.0C) e de números de Prandtl (Pr) para gases, água e metais
líquidos em condições de operação em um reator nuclear.
(49)

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Refrigerante (Pr) h [W/m2.0C]
Gases 0,8 50 a 500
Água 1a7 2000 a 20000
Metais líquidos 0,01 5000 a 50000
Tabela 1 - Valores típicos de (Pr) e coeficientes de transferência de calor para
refrigerantes usados em reatores nucleares.

A partir dos dados contidos na tabela 1, fica claro que os coeficientes de


transferência de calor obtidos com gases são consideravelmente mais baixos que os
obtidos com água ou metais líquidos. Portanto, com o objetivo de promover uma
transferência de calor mais efetiva em reatores refrigerados a gás, geralmente os
revestimentos dos elementos combustíveis são dotados de extensões sob a forma de
aletas. Outra maneira empregada para aumentar a área da superfície de transferência
de calor consiste em utilizar um grande número de varetas combustíveis cilíndricas
com diâmetro pequeno. Esta é a forma de revestimento adotada preferencialmente em
combustíveis nucleares de UO2, cuja condutividade térmica é baixa.
Figura 4 - Curva da transferência de calor por ebulição.

A turbulência causada pela formação de bolhas de vapor e pelo movimento que


A.5 - Transferência de calor por ebulição
estas provocam na massa de água ao se afastarem da superfície aquecida faz com
que o coeficiente de transferência de calor aumente ainda mais, resultando na forma
Até este ponto foi estudada a transferência de calor por convecção forçada íngreme bastante acentuada exibida pela curva na região 2 da figura 4. Nesta região,
monofásica, aplicável a reatores refrigerados a gás e a reatores refrigerados a água denominada região de ebulição nucleada, o fluxo de calor aumenta rapidamente com
nos quais não ocorre ebulição. Entretanto, em certos tipos de reatores, principalmente apenas um pequeno aumento na temperatura da superfície aquecida.
nos reatores refrigerados a água fervente (BWR), de fato ocorre ebulição no núcleo do Com o aumento da ebulição nucleada, a superfície aquecida vai sendo
reator. Em reatores refrigerados a água pressurizada (PWR), procura-se trabalhar em crescentemente envolvida por bolhas de vapor que, tendo um efeito de isolamento
regime próximo à ebulição, condição na qual a troca de calor é mais eficiente. Devido térmico, dificultam a transferência de calor e causam uma diminuição no valor do
ao fato da descrição do mecanismo de transferência de calor por ebulição ser coeficiente de transferência de calor. Como conseqüência, a curva mostrada na figura
relativamente complexo, envolvendo dados experimentais expressados por meio de 4 começa a decrescer. Um fluxo de calor denominado desvio da ebulição nucleada
equações empíricas, o conteúdo desta parte abordará este tema de maneira apenas (DNB) é então atingido. Nestas circunstâncias, se a temperatura da superfície
introdutória. aquecida for aumentada ainda mais, a taxa de transferência de calor diminuirá devido
Para efeito de estudo, será considerada a transferência de calor por convecção ao aumento da resistência térmica da camada de vapor que se encontra ao redor da
de uma superfície aquecida à temperatura Ts (como a superfície externa do superfície aquecida. Isto causa um estado instável de ebulição parcial da camada de
revestimento de um elemento combustível, por exemplo) para a água que escoa ao água, mostrado na região 3 da figura 4, podendo nestas condições ocorrer passagem
longo desta superfície, sendo a temperatura de saturação da água igual a Tsat. direta do ponto A para a região 4. Uma vez que a camada de vapor é contínua ao
Enquanto Ts for menor que Tsat, a ebulição da água não ocorrerá e a transferência de longo da superfície aquecida, ebulição estável da camada de água se estabelece, de
calor será monofásica. Quando Ts exceder Tsat, é possível que a ebulição da água se maneira que qualquer aumento adicional da temperatura da superfície causará um
inicie, dependendo da temperatura Tb em que se encontra a massa de água como um aumento do fluxo de calor. Entretanto, devido ao fato do coeficiente de transferência
todo e do fluxo de calor na superfície aquecida. Enquanto Tb for significativamente de calor ser razoavelmente baixo por causa da camada de vapor, o aumento do fluxo
menor que Tsat ou o fluxo de calor for baixo, a água não entrará em ebulição. Este de calor é muito menos acentuado que na região de ebulição nucleada, conforme
comportamento é mostrado na região 1 da figura 4, caracterizada pela transferência mostra a região 4 da figura 4. Em tais condições, até mesmo aumentos pequenos no
de calor monofásica. fluxo de calor podem causar aumentos grandes na temperatura Ts da superfície, o que
Entretanto, conforme o fluxo de calor aumenta, resultando em um aumento de pode torná-la suficientemente elevada a ponto de provocar danos, como por exemplo
Ts, torna-se possível que a ebulição da água se inicie mesmo com a temperatura Tb o derretimento da superfície. A ocorrência deste tipo de situação em um reator nuclear
permanecendo menor que Tsat. Este fenômeno é denominado ebulição sub- deve ser evitada de qualquer maneira, pois a fusão do revestimento de combustíveis
refrigerada, ocorrendo em fluxos de calor elevados mediante os quais a temperatura nucleares causa a liberação de produtos de fissão no refrigerante, além de outras
da camada de água em contato com a superfície aquecida atinge a temperatura de conseqüências sérias que podem caracterizar um acidente grave.
saturação enquanto a temperatura da massa de água como um todo permanece mais O fluxo de calor correspondente ao pico da curva no ponto A da figura 4, que
baixa. Conforme as bolhas formadas na superfície aquecida se movimentam em meio constitui o desvio da ebulição nucleada (DNB), é também conhecido como fluxo de
à massa de água mais fria, elas rapidamente se condensam e colapsam, porém o calor crítico. Trata-se do máximo fluxo de calor permissível em um reator refrigerado a
aumento de turbulência devido ao movimento destas bolhas acaba causando um água fervente (BWR), pois qualquer tentativa de aumentar o fluxo de calor acima deste
aumento no valor do coeficiente de transferência de calor. Este aumento do coeficiente valor resulta em uma transição de ebulição nucleada em A para ebulição de camada
de transferência de calor é indicado na figura 4 pela parte íngreme da curva situada em B, acompanhada de aumento brusco e grande na temperatura da superfície, o que
entre as regiões 1 e 2. pode causar fusão da mesma.
Quando a temperatura da massa de água aumenta e se torna igual à É importante conseguir prever o fluxo de calor crítico em um reator no qual
temperatura de saturação, a ebulição passa a ocorrer em todo o volume de água, pode ocorrer ebulição da água. Tal tipo de reator inclui não apenas reatores
estabelecendo-se plenamente. Bolhas de vapor formam-se na massa de água. refrigerados a água fervente (BWR) nos quais ebulição nucleada ocorre durante a

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operação normal, mas também reatores refrigerados a água pressurizada (PWR) nos Água e água pesada são apropriadas para uso em reatores térmicos nos quais
quais ebulição sub-refrigerada ou ebulição nucleada podem ocorrer. Muito trabalho podem desempenhar tanto a função de moderador quanto a de refrigerante.
experimental foi feito para desenvolver correlações empíricas que envolvem, entre os Entretanto, apresentam a grande desvantagem de que temperaturas elevadas destes
parâmetros relevantes, o fluxo de calor, as temperaturas da superfície e do fluido, a refrigerantes requerem pressões elevadas sobre o sistema e portanto vasos de
pressão do fluido, a velocidade de escoamento do fluido, a fração de secura (ou contenção muito fortes. Outra desvantagem consiste no fato de que a temperatura
qualidade de vapor) e as dimensões do sistema. Em linhas gerais, pode-se afirmar máxima da água é limitada ao valor da temperatura crítica, que perfaz 374 0C. A seção
que estes parâmetros afetam o fluxo de calor crítico da seguinte forma: a) aumento da de choque para captura radiativa de nêutrons pela água é razoavelmente elevada,
pressão pode causar diminuição do valor do fluxo de calor crítico, b) aumento da sendo necessário utilizar combustíveis nucleares contendo urânio enriquecido para
velocidade de escoamento do fluido causa aumento do valor do fluxo de calor crítico, compensar este efeito. Por sua vez, a água pesada apresenta seção de choque para
c) aumento da fração de secura causa diminuição do valor do fluxo de calor crítico. captura de nêutrons muito baixa, porém é muito cara. Tanto o uso de água quanto de
O fluxo de calor durante a ocorrência de ebulição nucleada pode ser água pesada como refrigerante requerem o uso de aço inoxidável ou Zircaloy como
relacionado à temperatura da superfície aquecida por meio da seguinte equação: material de revestimento do combustível nuclear.
Sódio e a liga eutética sódio-potássio são os metais líquidos mais usados como
refrigerante. Apresentam temperaturas de saturação elevadas à pressão atmosférica,
tornando desnecessário o uso de um sistema de refrigeração pressurizado. Entretanto,
(54)
a reação nuclear de captura radiativa 23Na(n, )24Na gera um radioisótopo emissor de
raios-gama, de maneira que os trocadores de calor primários devem ser blindados e
onde C e n são constantes. O valor de n é cerca de 4, sendo portanto evidente que o um circuito secundário de refrigerante precisa ser usado para a geração de vapor. As
fluxo de calor aumenta rapidamente com o aumento da temperatura Ts da superfície reações químicas violentas que ocorrem quando sódio metálico é colocado em contato
durante a ebulição nucleada. Este fato é mostrado na região 2 da figura 4. com ar ou água tornam imprescindível eliminar qualquer possibilidade de vazamento
do refrigerante. A seção de choque para captura radiativa de nêutrons lentos pelo
sódio é razoavelmente alta, o que torna este metal inadequado para uso como
A.6 - Escolha do refrigerante para reatores nucleares refrigerante em reatores térmicos. Esta propriedade, em conjunto com uma
característica não moderadora, faz do sódio metálico um refrigerante mais apropriado
O refrigerante para um reator nuclear pode ser um gás, água ou água pesada, para uso em reatores rápidos.
ou um metal líquido como sódio ou liga sódio-potássio. Independente do estado físico
em que se encontra, o refrigerante deve possuir as seguintes características:
A.7 - Circulação de refrigerante pelo núcleo de um reator
a) Baixa seção de choque para absorção de nêutrons. Isto é essencial, uma vez que a
economia de nêutrons no reator não permite uma absorção elevada de nêutrons pelo Ao escoar em regime estacionário no interior de um tubo cilíndrico posicionado
refrigerante. No caso de um reator térmico, é também desejável que o refrigerante horizontalmente, um fluido ideal apresenta a mesma pressão em todas as seções. O
exerça um efeito moderador, o que requer baixo número de massa e elevada seção de mesmo não se verifica, porém, no caso do escoamento de um fluido real, que sofre
choque para espalhamento de nêutrons. queda de pressão ao longo do tubo. Fato análogo ocorre com o refrigerante líquido ou
gasoso em circulação pelo núcleo de um reator.
b) Valores elevados de calor específico, massa específica, condutividade térmica e Quando o refrigerante escoa através dos canais de combustível existentes no
coeficiente de transferência de calor. As duas primeiras propriedades determinam a núcleo de um reator, ele sofre uma diminuição de pressão que ocorre devido
quantidade de energia por unidade de volume que o refrigerante tem a capacidade de principalmente a dois fenômenos. O primeiro é o atrito entre o refrigerante e as
transportar, enquanto as duas outras propriedades controlam a diminuição de paredes dos canais, somado a perdas localizadas que ocorrem em componentes
temperatura da superfície externa do revestimento para o refrigerante. como cotovelos de tubulações e válvulas. O segundo é a aceleração de escoamento
do refrigerante como resultado da diminuição de sua massa específica com o aumento
c) Boa estabilidade. O refrigerante não deve reagir quimicamente com outros da temperatura. O efeito causado pelo segundo fenômeno é geralmente pequeno em
componentes do reator com os quais entra em contato direto, tampouco deve se um reator cujo refrigerante é líquido, mas pode ser relevante em um reator refrigerado
decompor quando submetido a condições de alta temperatura e irradiação. a gás. Um terceiro efeito devido à diminuição de pressão ao longo do canal, causando
uma redução adicional de massa específica e portanto aceleração, é muito pequeno e
d) Baixa atividade induzida por nêutrons. Em vários reatores de potência, os será desprezado.
trocadores de calor não possuem blindagem protetora contra raios-gama, sendo O efeito do atrito no escoamento em tubos é levado em conta por meio da
portanto importante que o refrigerante não se torne radioativo ao passar através do introdução do fator de atrito de Fanning, denotado por f e definido pela equação:
núcleo como resultado da absorção de nêutrons. Caso o refrigerante fique ativado de
fato, os trocadores de calor primários devem ser blindados e um circuito secundário
contendo refrigerante não ativado precisa ser usado para a geração de vapor. (55)

Hélio e dióxido de carbono são os gases mais apropriados para uso como
refrigerante. O custo elevado do hélio é o principal fator que tem impedido o uso deste onde é a tensão de cisalhamento na parede do tubo.
w

gás em reatores de potência de grande porte, nos quais o vazamento de gás O fator de atrito de Fanning foi determinado experimentalmente para
refrigerante pode ser significativo. Entretanto, reatores refrigerados a gás e que escoamento turbulento em tubos comerciais lisos, sendo a correlação empírica
operam a temperatura elevada podem no futuro usar hélio.
(56)
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geralmente aceita. É interessante comparar esta equação com uma forma modificada desprezadas e f pode ser considerado como constante ao longo do comprimento do
da equação de Dittus-Boelter: canal. Para fluidos incompressíveis como a água, tanto quanto v são constantes, de
maneira que a variação de pressão resulta:
(57)

Se (Pr) é igual ou aproximadamente igual à unidade, esta equação assume a seguinte (63)
forma simplificada

(58) Para gases, fazendo uso da equação do gás p = R T e assumindo que as


variações de pressão são pequenas em comparação com a pressão absoluta do gás,
a expressão para a massa específica do gás pode ser escrita em função da
e comparando com a equação (56) resulta temperatura, por meio da equação:

(59) 1
(64)

Este resultado constitui uma confirmação da analogia de Reynolds entre calor e


transferência de momento, que é válida para fluidos com (Pr) 1 escoando em tubos onde é a pressão média do gás no canal.
lisos. O primeiro termo do lado direito da equação (62) pode neste caso ser escrito
A diminuição de pressão do refrigerante em um canal de elemento combustível como:
pode ser determinada considerando o canal mostrado na figura 5. Convém entretanto
destacar que as considerações a serem feitas ao longo desta seção são válidas
também para canais cuja seção transversal não é circular. (65)

Se o fluxo de nêutrons e a taxa de liberação de energia forem simétricos em relação


ao centro do canal, como é o caso em um fluxo cossenoidal, a integral na equação
(65) resulta:

(66)
Figura 5 - Diminuição de pressão em um canal.
O segundo termo do lado direito da equação (62), mediante o uso das equações de
A equação de continuidade para o escoamento é , e o balanço das continuidade e do gás, pode ser escrito como:
forças que atuam no fluido contido em um elemento do canal cujo comprimento é dz
resulta na expressão:
(67)

(60)
A solução da equação (62) para a diminuição de pressão em um gás resulta portanto
na expressão:
ou, considerando que de = 4A/P:

4 (68)
(61)

ou ainda
Usando a equação de continuidade para substituir /A por v e integrando ao longo
do canal entre os limites L/2 e L/2, encontra-se:
(69)
(62)
Em um reator refrigerado a gás, o termo de temperatura (TC2 TC1) / contribui em
0,2 geral com cerca de 10% da diminuição da pressão no núcleo.
O fator de atrito f, que é proporcional a (Re) , pode ser afetado por mudanças de
As equações (63) e (69) fornecem a diminuição de pressão somente no canal
temperatura, mas as variações na viscosidade elevadas à potência 0,2 podem ser
do elemento combustível, de maneira que efeitos verificados na entrada e na saída do
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canal, assim como em outras partes do circuito de refrigeração, não estão incluídos.
Ao entrar no núcleo, o refrigerante experimenta uma contração súbita em seu
escoamento, pelo fato de passar dos tubos de comunicação de entrada para os canais
do elemento combustível.
Esta situação é semelhante ao escoamento de um fluido que passa por uma
contração súbita de um tubo com diâmetro grande para um tubo com diâmetro
pequeno. Na saída do núcleo ocorre o processo inverso, com o refrigerante
experimentando uma expansão similar ao escoamento que ocorre em um tubo cujo
diâmetro interno é aumentado subitamente. Estes dois processos produzem
redemoinhos e turbulência no escoamento que resultam em perdas de altura de carga,
apesar das perdas na saída poderem ser reduzidas pelo uso de um difusor nesta
extremidade do canal. Assumindo-se a ocorrência de escoamento incompressível sem
qualquer difusor na saída e que a velocidade do refrigerante é desprezível nos tubos
de comunicação de entrada e saída, então a perda combinada de pressão em ambas
as extremidades do canal é dada pela seguinte expressão aproximada:

(70)

Figura 6 - Representação esquemática de um reator de potência típico.


A diminuição de pressão em todo o circuito de refrigeração inclui a diminuição
de pressão no núcleo mais a perda de pressão na entrada e saída mais a diminuição Assumindo que a eficiência combinada do ciclo de vapor e dos turbo-geradores
de pressão em tubos externos e trocadores de calor. Se a diminuição de pressão p seja igual a T (cujo valor em geral perfaz entre 0,35 e 0,40 aproximadamente), então
em todo o circuito for pequena em comparação com a pressão absoluta do a potência elétrica bruta gerada pela usina é:
refrigerante, então a potência necessária para comprimir o refrigerante nas bombas de
circulação é dada aproximadamente pela seguinte expressão:
(73)

(71) enquanto a potência elétrica resultante fornecida pela usina é:

(74)
onde P é a massa específica do refrigerante nas bombas. Esta potência é adicionada
à potência térmica fornecida pelo reator para obter a energia total transferida ao vapor
sob a forma de calor. Com a finalidade de tornar o valor de W o menor possível, P Nestas circunstâncias, a eficiência térmica geral da usina resulta:
deve ser a maior possível e as bombas de circulação devem ser posicionadas no
ponto de menor temperatura do circuito: a entrada para o reator. Neste caso P = 1.
Também sob o ponto de vista mecânico, é desejável que as bombas sejam instaladas (75)
no ponto de menor temperatura do circuito.
Apesar da equação (71) fornecer a potência necessária para fazer o
refrigerante circular, a potência requerida para acionar as bombas é maior que aquela O efeito da potência de bombeamento na eficiência térmica geral da usina
por um fator 1/ P, onde P é a eficiência eletromecânica dos motores das bombas. A pode ser avaliado quantitativamente usando a expressão (75). Se PP = 0,05.Qr (valor
potência de bombeamento, portanto, é dada por: típico para um reator refrigerado a gás), T = 0,35 e P = 0,90, então G = 0,316. Este
valor representa uma redução de aproximadamente 9% na eficiência térmica geral.
Um critério útil para avaliar o desempenho de refrigerantes gasosos pode ser
1
(72) estabelecido considerando um reator com uma potência térmica fixa igual a Qr,
dimensões fixas e temperaturas fixas do combustível nuclear e do refrigerante. A taxa
de escoamento, o calor específico e a massa específica dependem da pressão e do
Esta potência deve ser fornecida pela usina, em geral como uma fração da potência tipo de refrigerante gasoso utilizado. A potência de bombeamento pode ser escrita
elétrica produzida pelos turbo-geradores. como:
O efeito da potência de bombeamento na potência elétrica total e na eficiência térmica
geral da usina é ilustrado por meio da figura 6, que mostra esquematicamente a 2
estrutura de um reator de potência típico.
4
(76)
Se a potência térmica fornecida pelo reator é Qr e a potência necessária para
fazer o refrigerante circular é W ou PPP, então a potência térmica total fornecida pela
usina é (Qr + PPP). Desprezando-se perdas, esta é a energia transferida ao vapor por O termo de temperatura é constante e o fator de atrito f pode ser escrito, usando a
unidade de tempo sob a forma de calor. expressão (59), como:

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2 2 B - ASPECTOS TERMODINÂMICOS DE USINAS
2 (77)
NUCLEOELÉTRICAS
Uma vez que a potência térmica fornecida e as temperaturas do combustível nuclear e
do refrigerante foram consideradas fixas, h é constante e consequentemente o fator de
B.1 - Introdução
atrito f também o é. Encontra-se então a expressão:

A maioria dos reatores nucleares construídos até hoje em todo o mundo é


(78) destinada à produção de energia elétrica. Alguns reatores de grande porte foram
construídos com a finalidade de produzir plutônio e um grande número de reatores
menores foi construído para fins de pesquisa científica, produção de radioisótopos e
Para um dado valor fixo da potência térmica fornecida e de TC, 1/cP e como as como protótipo para reatores de potência maiores. Convém destacar, no entanto, que
temperaturas do refrigerante são fixas 1 , logo: o tipo mais importante de reator nuclear é o reator de potência, sendo o grande
esforço dedicado à pesquisa e desenvolvimento de reatores nucleares apenas
1 justificável se possibilitar que os recursos mundiais de urânio e tório sejam usados
(79) como fonte de energia.
Em uma usina nucleoelétrica completa, o reator é um componente, constituindo
a fonte de energia. Os outros dois componentes importantes são os trocadores de
Este resultado indica que a potência de bombeamento é inversamente proporcional ao calor, nos quais o calor é transferido do refrigerante do reator para o fluido operante no
quadrado da massa específica do refrigerante. Para um gás, a massa específica pode ciclo de potência, e o ciclo de potência propriamente dito, no qual a energia do fluido
ser aumentada por intermédio do aumento da pressão, o que é feito em reatores operante é convertida em trabalho nas turbinas. Em alguns tipos de reator o
refrigerados a gás, sendo o limite imposto pela resistência mecânica do vaso de refrigerante serve também como fluido operante no ciclo de potência, uma vez que
pressão no qual o núcleo do reator está contido. Para quaisquer valores de não há trocadores de calor. Estes reatores são conhecidos como reatores de ciclo
temperatura e pressão dados, a massa específica de todos os gases é proporcional à direto.
massa molecular dos mesmos, de maneira que a equação (79) pode ser escrita como Ao longo desta parte serão estudados mais detalhadamente os aspectos
termodinâmicos de usinas nucleoelétricas, ou seja, os trocadores de calor e o ciclo de
1 potência. O trocador de calor de uma usina nucleoelétrica é equivalente à caldeira de
(80) uma usina termoelétrica convencional em que o calor resulta da combustão de
hidrocarbonetos, com a diferença que os gases aquecidos liberados na queima em
uma usina convencional são substituídos pelo refrigerante à alta temperatura em uma
onde M é a massa molecular. usina nucleoelétrica. A temperatura do refrigerante do reator não é tão elevada quanto
Este resultado indica que em um reator no qual a potência térmica fornecida, a dos gases aquecidos liberados na combustão em uma caldeira convencional, de
as dimensões, as temperaturas e a pressão do gás são fixas, a potência de maneira que o ciclo de potência para o caso de um reator nuclear pode diferir em
bombeamento é menor para o refrigerante cujo valor de é maior. A tabela 2 alguns aspectos de ciclos de potência convencionais.
mostra os valores de para alguns gases, tomando como referência um valor Entretanto, sob o ponto de vista termodinâmico, o aspecto de maior
igual a 1 para o hidrogênio (H2) à temperatura absoluta de 500 K. importância que distingue uma usina nucleoelétrica de uma usina termoelétrica
convencional é o calor de decaimento dos produtos de fissão, o qual por este motivo
será abordado em um tópico específico.
Gás Por fim, será também apresentada uma breve introdução ao projeto térmico de
500 K 800 K um reator nuclear.
Hidrogênio 1 1,04
Hélio 0,181 0,181
Dióxido de carbono 0,165 0,252 B.2 - Descrição sumária de uma usina nucleoelétrica
Ar atmosférico 0,075 0,091
Tabela 2 - Valores de para alguns gases. Antes de discutir aspectos termodinâmicos de reatores, é conveniente
apresentar a descrição sumária de uma usina nucleoelétrica completa. Há muitas
A tabela 2 mostra que, sob o ponto de vista do transporte de calor e da variações possíveis, com diferentes escolhas de combustível nuclear, moderador e
potência de bombeamento, o hidrogênio é um excelente refrigerante. Porém, a refrigerante, de maneira que a descrição feita a seguir tem caráter genérico e não se
elevada reatividade química apresentada por este gás impede seu uso. Após o refere a nenhum tipo específico de usina nucleoelétrica. As instalações integrantes de
hidrogênio, os melhores refrigerantes gasosos são o hélio (He) e o dióxido de carbono uma usina nucleoelétrica estão representadas esquematicamente na figura 7.
(CO2), com este último mostrando certa vantagem a temperaturas elevadas. O núcleo do reator consiste em um conjunto de combustível nuclear e
moderador, com o combustível nuclear tendo a forma de varetas cilíndricas ou placas
posicionadas em uma rede instalada em meio ao moderador. Se o moderador é sólido
(por exemplo grafite), o refrigerante escoa em espaçamentos ou canais anulares
existentes entre o combustível nuclear e o moderador. Se o moderador é líquido (por
exemplo H2O ou D2O), ele pode servir também como refrigerante e circular através do

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núcleo do reator, ou o refrigerante pode ser separado do moderador e escoar em B.3 - Considerações gerais de termodinâmica
tubos de pressão existentes entre o combustível nuclear e o moderador.
A função de um ciclo de potência termodinâmico é converter calor em trabalho.
Conforme enuncia a segunda lei da termodinâmica, é impossível converter calor inteira
e continuamente em trabalho, de maneira que se deve procurar converter em trabalho
o máximo possível do calor recebido. A eficiência termodinâmica de um ciclo de
potência é dada pela razão entre o trabalho fornecido e o calor recebido.
O ciclo de potência termodinâmico básico é o ciclo de Carnot. Neste ciclo todo
o calor é recebido isotermicamente a uma temperatura T1 e todo o calor rejeitado é
liberado isotermicamente a uma temperatura mais baixa T2. Todos os processos deste
ciclo são reversíveis e a eficiência térmica do mesmo é dada pela expressão:

(81)

Na prática, nenhuma usina de potência opera segundo o ciclo de Carnot, o qual


apresenta a maior eficiência possível para um ciclo de potência cujas temperaturas
Figura 7 - Representação esquemática das instalações integrantes de uma usina mais alta e mais baixa sejam respectivamente iguais a T1 e T2. Entretanto, a
nucleoelétrica. expressão (81) pode ser interpretada de maneira geral, pois do mesmo modo que a
eficiência do ciclo de Carnot pode ser aumentada elevando T1 ou diminuindo T2,
O núcleo do reator é instalado dentro de um vaso de pressão cujas funções também a eficiência de qualquer ciclo de potência pode ser aumentada pela elevação
são conter o refrigerante e proporcionar suporte mecânico ao núcleo. No caso de da temperatura média na qual calor é transferido ao fluido operante, ou pela
reatores a água pressurizada, a pressão do sistema pode ser de até 160 atm para diminuição da temperatura média na qual calor é rejeitado pelo fluido operante no
permitir que o refrigerante alcance temperaturas elevadas, enquanto em reatores ciclo. Em ciclos de potência reais a temperatura mínima na qual calor é rejeitado tem
refrigerados a gás a pressão do sistema pode ser de até 40 atm. Em geral, o vaso de como limite a temperatura média dos grandes reservatórios térmicos existentes na
pressão é feito de aço carbono, revestido internamente por uma camada de aço natureza, os quais são a atmosfera e os oceanos terrestres. Este fato limita a cerca de
inoxidável e com as diferentes seções que o compõem unificadas por meio de 25 0C o valor da temperatura mínima na qual calor é rejeitado. Nestas circunstâncias,
soldagem. a melhoria da eficiência térmica torna-se uma questão de transferir calor ao fluido
A blindagem biológica existente ao redor do reator evita o escape de radiações operante na temperatura média mais alta possível.
ionizantes (nêutrons e raios-gama) para o meio-ambiente. Tal blindagem em um reator Em uma usina nucleoelétrica, a temperatura na qual calor é transferido ao
de potência é geralmente uma estrutura de concreto com aproximadamente um metro fluido operante depende da temperatura do combustível nuclear, da diminuição de
de espessura. O concreto foi escolhido como material utilizado para fins de blindagem temperatura do combustível nuclear para o refrigerante no reator e da diminuição de
biológica por causa de suas propriedades estruturais, baixo custo e massa específica temperatura, no trocador de calor, entre o refrigerante do reator e o fluido operante do
suficientemente alta a ponto de constituir uma blindagem efetiva para raios-gama. Os ciclo de potência.
reatores nucleares compactos utilizados para propulsão naval têm blindagem biológica Com a finalidade de estudar a influência do trocador de calor na eficiência geral
mais leve, constituída por aço e água. de uma usina nucleoelétrica, será considerado o reator refrigerado a gás mostrado
Alguns reatores são estruturados de tal modo que o combustível nuclear pode esquematicamente na figura 8.
ser posicionado ou retirado do núcleo enquanto o reator se encontra em operação.
Nestes reatores a máquina de carga e descarga está geralmente situada acima da
blindagem superior do reator, tendo acesso aos elementos combustíveis no núcleo
através de tubos guia na blindagem superior. Outros reatores são estruturados de
maneira que todo o combustível existente no núcleo é retirado simultaneamente
quando o reator está desligado, o que implica na remoção do topo do vaso de
pressão. Os motores que acionam as barras de controle geralmente são instalados
acima do reator. As barras de controle são inseridas no núcleo ou retiradas do núcleo
em espaços existentes entre os elementos combustíveis.
A circulação do refrigerante através do núcleo e dos trocadores de calor é feita
pelo uso de bombas de refrigeração. O escoamento do refrigerante ocorre em geral
verticalmente de baixo para cima através do núcleo. Normalmente há quatro, seis ou
até oito circuitos de refrigeração e trocadores de calor, o que permite desligar um Figura 8 - Representação esquemática de uma usina nucleoelétrica com reator
circuito para reparos sem afetar a operação do reator. refrigerado a gás.
O ciclo de potência de um reator nuclear é semelhante ao convencional.
Entretanto, conforme destacado anteriormente, ciclos de vapor para usinas Neste sistema o trocador de calor é um componente intermediário essencial
nucleoelétricas podem diferir em alguns pormenores de ciclos de vapor convencionais, entre o reator e o ciclo de potência, que no caso se trata de um ciclo de Rankine
pois as temperaturas geralmente disponíveis em reatores são menores que as obtidas simples contendo água como fluido operante. É importante que a diminuição de
em caldeiras convencionais. temperatura entre o gás refrigerante primário e a água no trocador de calor não seja
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maior que a necessária, pois caso contrário haverá uma queda de temperatura média superaquecido, também a pressão constante, e implica em transferência de energia
na qual calor é transferido para o fluido operante, causando assim uma diminuição da disponível para a H2O.
eficiência do ciclo de potência.
Uma grandeza termodinâmica útil no estudo de trocadores de calor e ciclos de
potência é a energia disponível, denotada por E A. A energia disponível é definida como
a energia máxima transferida para um fluido, em um processo de transferência de
calor, que pode ser convertida em trabalho por meio de um ciclo termodinâmico. Esta
definição pode ser melhor compreendida considerando o diagrama temperatura-
entropia para um dado fluido, mostrado na figura 9. O fluido recebe calor em um
processo durante o qual sua temperatura varia ao longo da curva 1-2. Em um trocador
de calor através do qual o fluido está escoando, tal processo seria essencialmente um
processo a pressão constante (isobárico) e seguiria uma linha de pressão constante
no diagrama temperatura-entropia.
A questão consiste em determinar que outros processos, executados em
conjunto com o processo 1-2 para formar um ciclo termodinâmico, produzirão o
trabalho máximo. Conforme a segunda lei da termodinâmica, o trabalho máximo pode
ser obtido a partir de um processo cíclico desde que todo o calor rejeitado seja
liberado à temperatura mais baixa possível, que vem a ser a temperatura absoluta
média da atmosfera e oceanos terrestres, T0. Assim o “ciclo de trabalho máximo”
mostrado na figura 9 é completado por uma expansão adiabática reversível
(isoentrópica) de 2 para 3 realizada à temperatura T0, seguida por uma rejeição Figura 10 - Diagramas temperatura-entropia para os fluidos primário (i) e secundário
isotérmica de calor de 3 para 4 também à temperatura T0 e encerrado por uma (ii) em um trocador de calor.
compressão adiabática reversível de 4 para 1.
Ainda em relação à figura 10, dois aspectos devem ser destacados. Primeiro,
se calor é transferido do CO2 para a H2O, então em qualquer ponto do trocador de
calor a temperatura do CO2 deve ser maior que a temperatura da H2O. Segundo, se as
perdas de calor ocorridas no trocador de calor são desprezíveis, então todo o calor
transferido pelo CO2 passa para a H2O e a área sob a linha 1-2 na figura 10 i) é igual à
área sob a linha 3-4 na figura 10 ii). Como conseqüência, o aumento de entropia da
H2O ( SB) é maior que a diminuição de entropia do CO2 ( SA), ocorrendo portanto um
aumento geral da entropia dos dois fluidos que passam através do trocador de calor.
A energia disponível transferida a partir do fluido A é igual em módulo, porém
com sinal trocado, à energia disponível que seria transferida para este fluido caso ele
fosse aquecido de 2 para 1 ao invés de ter sido resfriado de 1 para 2. Assim, a energia
disponível transferida a partir do fluido A por unidade de tempo é dada por:

(83)

onde QA é o calor transferido a partir do fluido A por unidade de tempo, é a massa


do fluido A que escoa pelo trocador de calor por unidade de tempo e sA é a variação
Figura 9 - Diagrama temperatura-entropia ilustrando a energia disponível. de entropia específica do fluido A no trocador de calor. No caso do fluido A, tanto QA
quanto sA têm sinal negativo de acordo com a convenção de sinais usual em
Portanto, é possível escrever: energia disponível do processo de transferência
termodinâmica.
de calor 1-2 = trabalho realizado no ciclo 1-2-3-4 = (calor recebido de 1 para 2) (calor
Por outro lado, a energia disponível transferida para o fluido B por unidade de
rejeitado de 3 para 4), ou ainda, em termos matemáticos
tempo é dada por:
(82)
(84)

onde Q é o calor transferido no processo 1-2 e S é a variação de entropia do fluido


sendo que neste caso tanto QB quanto sB têm sinal positivo.
neste processo.
Se as perdas de calor ocorridas no trocador de calor são desprezíveis, QA =
A partir destas considerações básicas, torna-se possível entender o que ocorre
QB, de modo que a perda de energia disponível no trocador de calor por unidade de
no trocador de calor mostrado na figura 8, no interior do qual calor é transferido do
tempo resulta:
CO2 (fluido A) para a H2O (fluido B).
A figura 10 mostra os dois processos envolvidos: i) rejeição de calor pelo CO2 a
pressão constante implica em uma transferência de energia disponível a partir do CO2; (85)
ii) a transferência de calor para a H2O resulta em evaporação e formação de vapor

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O termo da expressão (85) contido entre parênteses é positivo pois, conforme
destacado anteriormente, sB > sA . O sinal negativo da quantidade à direita na
expressão (85) indica que há uma perda de energia disponível, a qual representa a
taxa de perda de “trabalho possível” (energia útil) ocorrida no trocador de calor como
resultado da transferência de calor irreversível.
A perda de “trabalho possível” pode ser reduzida pela diminuição da diferença
de temperatura entre os dois fluidos no trocador de calor. Entretanto, qualquer
decréscimo na diferença de temperatura significa que, para uma dada potência
térmica fornecida pelo reator, a superfície de transferência de calor e
consequentemente o tamanho e custo do trocador de calor devem ser aumentados.
Nestas circunstâncias, torna-se necessário encontrar a solução economicamente mais
viável no que se refere à diferença de temperatura entre os fluidos primário e
secundário em trocadores de calor.
Como exemplo simples será considerada uma usina nucleoelétrica cujo reator
é refrigerado a gás, do tipo representado esquematicamente na figura 8. Nestas
considerações serão utilizados alguns valores de grandezas termodinâmicas que são
típicos dos primeiros reatores nucleares refrigerados a gás, com a finalidade de
determinar a perda de energia disponível ocorrida no trocador de calor.
Cabe destacar que a primeira usina nucleoelétrica do mundo, a de Calder Hall,
no Reino Unido, cujo funcionamento se iniciou em 1956 fornecendo 50 MW elétricos, é
do tipo considerado neste exemplo. Figura 11 - Diagrama temperatura-transferência de calor para um trocador de calor
A tabela 3 relaciona valores de grandezas termodinâmicas para os fluidos que tem CO2 como fluido primário e H2O como fluido secundário.
dióxido de carbono (CO2) e água (H2O) na entrada e na saída do trocador de calor em
um reator refrigerado a gás. Em processos de aquecimento ou resfriamento que são O cálculo apresentado a seguir é baseado na passagem de 1 kg de H2O
realizados enquanto a pressão é mantida constante, o calor transferido é dado pela através do trocador de calor.
variação da função termodinâmica denominada entalpia (denotada por H). Por ser este
o caso dos processos a que estão submetidos os fluidos no trocador de calor, os Calor transferido por kg de H2O = (3185 567) = 2618 kJ/kg
valores desta função em sua forma específica se encontram relacionados entre as
grandezas termodinâmicas mostradas na tabela 3.
Massa de CO2 escoada por kg de H2O = = 15,3 kg de CO2/kg de H2O
Grandezas Trocador de calor
Fluido
termodinâmicas Entrada Saída
= (6,639 1,687) = 4,952 kJ/kg.K
T (0C) 405 246
P (atm) 28
CO2 Estado físico Gasoso = 0,267 kJ/kg.K
h (kJ/kg) 171
s (kJ/kg.K) 0,267 Perda de energia disponível no trocador de calor por kg de H2O = 293.[4,952
T (0C) 135 395 (15,3.0,267)] = 254,0 kJ/kg
P (atm) 49
H2O
Estado físico Líquido Gasoso Energia disponível transferida para cada kg de H2O no trocador de calor = 2618
h (kJ/kg) 567 3185 (293.4,952) = 1167 kJ/kg
s (kJ/kg.K) 1,687 6,639
Tabela 3 - Valores de grandezas termodinâmicas para fluidos na entrada e na saída Na turbina o trabalho realizado / kg de vapor perfaz 792 kJ, e a perda de energia
do trocador de calor em um reator nuclear refrigerado a gás: temperatura (T), pressão disponível no ciclo de potência termodinâmico devido à expansão irreversível na
(P), entalpia específica (h), entropia específica (s), diminuição de entalpia específica turbina e rejeição irreversível de calor no condensador é (1167 792) = 375 kJ/kg de
( h) e diminuição de entropia específica ( s). Nos cálculos a serem efetuados, será vapor. Portanto, a perda de energia disponível no trocador de calor totaliza quase um
adotada a temperatura de referência T0 = 20 0C = 293 K. terço do trabalho efetivamente realizado, fato que ilustra o grau de complexidade
apresentado pela tarefa de projetar trocadores de calor para este tipo de usina
A figura 11 mostra o diagrama de temperatura-transferência de calor para um nucleoelétrica.
trocador de calor, considerando a massa de 1 kg de H2O. Observa-se que em todos os
pontos no interior do trocador de calor a temperatura da H2O é menor que a
temperatura correspondente do CO2. Outro fato digno de nota é que, devido à forma B.4 - Calor de decaimento dos produtos de fissão
característica do diagrama, a diferença de temperatura média entre a H2O e o CO2 é
muito maior que a menor diferença de temperatura verificada entre estes dois fluidos, Uma característica muito importante de um reator nuclear, particularmente se o
de maneira que a pressão do vapor de H2O gerado é muito baixa em comparação com mesmo esteve em operação durante um período de tempo muito longo, é que apesar
a pressão de vapor obtida em usinas nucleoelétricas mais modernas. do sistema de controle poder cessar a reação em cadeia muito rapidamente, com os
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nêutrons atrasados causando uma demora de alguns minutos antes que esta reação casos, pois neste intervalo de tempo são os produtos de fissão com meia-vida curta
seja completamente extinta, ainda há uma liberação de energia considerável pelo (T1/2 < 1 dia) os que mais contribuem para a potência de decaimento, os quais
combustível nuclear devida ao decaimento dos produtos de fissão radioativos alcançaram uma concentração de equilíbrio no reator antes do desligamento e
acumulados. Esta energia precisa ser retirada do núcleo por intermédio da circulação independentemente do tempo de operação do mesmo.
contínua de refrigerante, pois caso contrário a temperatura do combustível nuclear
subirá, podendo causar derretimento de componentes do núcleo ou reações químicas
que ocorrem a temperaturas elevadas, tais como a reação entre zircônio e vapor de
água em temperaturas maiores que 1200 0C. Em particular, esta reação produz
hidrogênio, o que acarreta risco adicional de explosão.
A descrição precisa e detalhada do decaimento dos diversos produtos de fissão
radioativos (cujas meias-vidas variam entre frações de segundo e dezenas de anos) é
possível, mas o equacionamento resultante torna-se complicado demais para ser
usado de maneira prática. Uma expressão simplificada para a liberação de energia
devida ao decaimento dos produtos de fissão radioativos pode ser obtida conforme
relatado a seguir.
A taxa de liberação de energia dPpf em qualquer instante t, devida ao
decaimento de produtos de fissão radioativos, gerados por um reator que tenha
operado a uma potência P durante um intervalo de tempo dt, é dada por:

(86)

A expressão (86) não é precisa, estando a acurácia da mesma na faixa de Figura 13 - Calor de decaimento dos produtos de fissão após o desligamento de um
50%. Utilizando-a e considerando um reator que tenha operado a uma potência reator.
estacionária P durante um tempo t0, a taxa de liberação de energia devida ao
decaimento de produtos de fissão radioativos decorrido um tempo ts após o Vários dias após o desligamento, a potência de decaimento é devida aos
desligamento deste reator, Ppf(t0,ts), pode ser obtida integrando a expressão (86) entre produtos de fissão com meia-vida longa, os quais ainda não tiveram tempo de
ts e (t0 + ts), conforme esclarece o gráfico mostrado na figura 12. alcançar uma concentração de equilíbrio em um reator que tenha estado em operação
durante 50 dias. A atividade em tal reator é muito menor que a apresentada por um
reator que tenha estado em operação durante um tempo muito longo, no qual os
produtos de fissão com meia-vida longa alcançaram a concentração de equilíbrio
antes do desligamento.
Portanto, um aspecto importante relativo à segurança de qualquer reator de
potência é que, após o desligamento, o refrigerante deve continuar a circular através
do núcleo para remover o calor resultante do decaimento dos produtos de fissão
radioativos. Na eventualidade de falha no fornecimento de energia elétrica para as
bombas de refrigeração (o que causaria o desligamento automático imediato do
Figura 12 - Gráfico da potência do reator antes e depois do desligamento. reator), deve haver fontes de emergência disponíveis. Caso todas as bombas de
refrigeração venham a falhar simultaneamente, a circulação natural de refrigerante
Assim procedendo, encontra-se o resultado: através do núcleo deve ser suficiente para remover o calor de decaimento, o que
ocorre em reatores refrigerados a gás.
(87) Em reatores refrigerados a água pressurizada (PWR), a remoção do calor de
decaimento é assegurada por meio da circulação de refrigerante através de caldeiras
e do condensador da turbina, ao mesmo tempo em que um outro sistema, concebido
A expressão (87) é válida para valores de ts maiores que cerca de 10
apenas para remover do núcleo o calor de decaimento, extrai água do circuito primário
segundos. Decorrido este tempo a partir do desligamento do reator, o valor da e a faz passar através de trocadores de calor independentes, destinados também a
potência resultante do decaimento dos produtos de fissão radioativos totaliza receber exclusivamente o calor de decaimento. Por fim, no caso de um evento de
aproximadamente 4% da potência do reator antes do desligamento. Em um reator de perda de refrigerante, há um sistema de emergência para resfriamento do núcleo
potência operacional elevada, este valor pode significar a liberação de uma quantidade (conhecido pela sigla ECCS) que injeta uma solução de ácido bórico (H3BO3)
de energia considerável por unidade de tempo, que diminuirá apenas com o
diretamente nesta parte do reator.
decaimento dos produtos de fissão. Nada pode ser feito para controlar esta taxa de Em reatores refrigerados a gás, a remoção do calor de decaimento é obtida
liberação de energia, tornando portanto essencial a remoção do calor gerado. pela circulação do refrigerante primário através de caldeiras auxiliares concebidas
Para ilustrar o efeito do calor gerado pelo decaimento dos produtos de fissão para este fim e, na seqüência, através do condensador da turbina.
radioativos, a figura 13 mostra as variações da razão Ppf / P após o desligamento de
Em reatores rápidos, analogamente, o calor de decaimento é removido do
um reator que esteve em operação (i) durante um período muito longo (t0 ) e (ii) núcleo através de caldeiras e do condensador da turbina.
durante 50 dias.
Um estudo dos resultados expostos na figura 13 mostra que, logo após o
desligamento do reator, a razão Ppf / P é aproximadamente a mesma para ambos os
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B.5 - Projeto térmico de um reator nuclear Com um limite mantido sempre abaixo da razão DNB, assegura-se que a fusão
do revestimento não ocorrerá em nenhum ponto do reator. O valor da razão DNB
Os reatores nucleares são projetados de modo que os produtos de fissão impõe a maioria das limitações de projeto para reatores refrigerados a água.
permaneçam sempre confinados dentro do combustível: durante o ciclo de operação Em reatores refrigerados a água, o fluxo de calor máximo em qualquer ponto
do núcleo é limitado pela razão DNB. Em reatores refrigerados a gás, o fluxo de calor
do reator, durante o desligamento do mesmo e na eventualidade de um acidente no
máximo é determinado somente pela necessidade de manter a temperatura do
qual se configurem condições anormais de refrigeração. O critério de projeto aceito
normalmente é que a integridade do revestimento que envolve o combustível nuclear combustível bem abaixo do ponto de fusão. Em alguns reatores, para avaliar quanto o
valor do fluxo de calor máximo excede o fluxo de calor médio no núcleo, utiliza-se o
deve ser mantida em todas estas circunstâncias. Uma vez que a expansão do
combustível nuclear em fusão pode romper o revestimento, este critério é chamado fator de canal quente (também conhecido como fator de ponto quente). Este
essencialmente equivalente a requerer-se que este combustível não venha a derreter. fator é definido pela relação:
O ponto de fusão do combustível nuclear mais utilizado atualmente em reatores
de potência, o dióxido de urânio (UO2), depende de algum modo da fração de átomos
físseis contidos no mesmo que sofreram fissão (parâmetro denominado usualmente
F (90)
“queima”), mas em geral está entre as temperaturas de 2700 0C e 2800 0C. Na maioria
dos reatores que utilizam UO2 como combustível nuclear, a temperatura máxima
verificada está abaixo de 2500 0C. onde é o fluxo de calor máximo e é o fluxo de calor médio no núcleo do
Em reatores refrigerados a gás com temperaturas elevadas (HTGR), onde o
combustível consiste em pequenas partículas de UC2 e ThC2, a temperatura máxima reator.
permitida para o combustível perfaz cerca de 3600 0C.
Urânio metálico natural ou enriquecido funde a 1132 0C, mas este metal sofre Há vários motivos pelos quais difere de e portanto Fcq é diferente da
duas variações na fase sólida (alterações na estrutura cristalina): a primeira ao atingir unidade. O motivo mais importante tem origem no fato de que a distribuição de
a temperatura de 668 0C e a segunda ao atingir a temperatura de 774 0C. De qualquer potência através do núcleo não é homogênea. Se este fosse o único motivo, Fcq
maneira, acima de aproximadamente 400 0C a solidez do metal decresce rapidamente. poderia ser calculado diretamente, para um dado projeto de reator, a partir da razão
Esta característica permite que produtos de fissão gasosos se agrupem e se difundam entre os valores máximo e médio do fluxo de nêutrons térmicos no núcleo do reator.
para o centro do combustível, que se expande e tensiona o revestimento. Devido a
estas circunstâncias, reatores cujo combustível nuclear consiste em barras de urânio Assim pois, enquanto depende de vários parâmetros nucleares que determinam
metálico são projetados de maneira que a temperatura máxima atingida pelo
combustível seja inferior a 400 0C. Esta temperatura baixa não é um sério obstáculo à a distribuição de potência, é dado pela expressão geral:
transferência de calor para o refrigerante, pois a condutividade térmica do urânio
metálico é muito maior que a do UO2.
Para evitar a penetração de água em algum ponto do revestimento como (91)
resultado da formação de uma película de vapor nesse ponto, o reator deve ser
projetado de tal maneira que o fluxo de calor seja sempre menor que o fluxo de onde Qr é a potência térmica total do reator e A é a área total através da qual o calor
gerado pelas fissões é transferido para fora do combustível nuclear com revestimento.
calor crítico , mediante o qual ocorreria fusão do revestimento.
Com esse objetivo, é conveniente definir a razão DNB (que, conforme A razão entre os valores de e obtidos desta maneira fornece o chamado fator
destacado anteriormente, significa desvio da ebulição nucleada) como sendo: nuclear de canal quente (FN).
Além do efeito decorrente da não homogeneidade na distribuição de potência,
(88) pode diferir do valor calculado como conseqüência de diversos fatores
estatísticos sobre os quais o projetista tem pouco ou nenhum controle. Por exemplo, a
quantidade de material físsil incluído nas pastilhas combustíveis de um reator BWR ou
onde representa o fluxo de calor crítico calculado como uma função da distância PWR no momento da fabricação varia lentamente de pastilha para pastilha por causa
da natureza inerentemente estatística do processo de manufatura. Pastilhas contendo
ao longo do canal refrigerante mais quente e denota o fluxo de calor real na mais material físsil produzem mais potência e caso tais pastilhas estejam localizadas

mesma posição deste canal. Se o calor liberado paralelamente ao combustível nuclear em um ponto do núcleo onde o fluxo de calor é alto, o valor de pode ser
pode ser desprezado, então: maior que o calculado quando se leva em consideração apenas a não homogeneidade
na distribuição de potência.
Analogamente, tolerâncias na fabricação de elementos combustíveis podem
(89) resultar em leves deformações das varetas combustíveis, causando a redução do fluxo
de refrigerante em alguns pontos e consequentemente uma elevação de temperatura
nestes pontos. Do mesmo modo, flutuações nos valores da espessura do revestimento
onde é a taxa de liberação de energia por unidade de volume do combustível podem causar um aumento de temperatura em pontos onde o mesmo for mais fino.
nuclear, Af é a área da seção transversal do combustível nuclear e C0 é o perímetro do Cabe também mencionar que alguns aspectos relativos ao escoamento do refrigerante
combustível nuclear. são estatísticos e tendem a causar flutuações nos valores do fluxo de calor.

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Estes diversos mecanismos e outros fazem com que difira do valor F (94)
calculado. Tomados juntos, esses mecanismos são descritos pelo fator de engenharia
do canal quente (FE). O fator de canal quente fica sendo então:
Assim pois, se em um determinado PWR a densidade linear média de UO2 em uma
vareta combustível é 6,8 g/cm e o desvio padrão no valor da medida deste parâmetro
F F F (92)
é 0,18 g/cm, o fator F neste caso, resulta:

Por sua vez, cada um dos mecanismos individuais são descritos pelo subfator
de engenharia de canal quente, denotado por FE,x. Os subfatores de engenharia são F
obtidos a partir dos dados de fabricação dos componentes e por meio de testes que
simulam o escoamento de refrigerante em partes de elementos combustíveis ou em
maquetes do reator. Para efeito de ilustração, será considerada a quantidade de Este resultado significa que, devido a flutuações estatísticas na quantidade de material
material físsil me por unidade de comprimento de uma vareta combustível. Para um físsil colocado nas varetas combustíveis durante a fabricação, existe 1,35 chances em
dado fluxo de nêutrons térmicos, é aproximadamente proporcional a me. Quando 1000 de exceder o valor calculado em mais de 8%.
medidas de me são efetuadas em varetas combustíveis, encontra-se para o valor real Cálculos de outros subfatores de engenharia, especialmente daqueles que não
deste parâmetro uma distribuição normal em torno de um valor médio , conforme
mostrado na figura 14. Todos os valores da distribuição são possíveis. Entretanto, envolvem uma proporcionalidade direta entre e a variável estatística, são mais
determinados valores de me tornam-se cada vez menos prováveis com o aumento do complicados e requerem uma análise das relações entre a variável em questão e
desvio em relação ao valor médio. Em particular, é possível mostrar que a
probabilidade de um determinado valor do parâmetro me exceder por mais que 3 , . Conforme foi mencionado anteriormente, tais subfatores são muitas vezes
onde é o desvio padrão da distribuição, é apenas 1,35 em mil, constituindo uma obtidos empiricamente a partir de testes.
ocorrência improvável. Uma vez calculados os vários subfatores de engenharia, torna-se possível
calcular FE. Este cálculo pode ser efetuado de diversas maneiras. A mais óbvia
consiste em multiplicar todos os subfatores. Contudo, o valor resultante de FE levaria a
um projeto de reator desnecessariamente conservativo, pois ao se efetuar o produto
dos subfatores está implícita a hipótese de ocorrência simultânea de todos os eventos
estatísticos considerados. O método preferido para calcular FE é baseado na análise
da sobreposição das distribuições estatísticas obtidas para cada parâmetro. Tal
análise é demasiado complicada para ser reproduzida neste texto. É necessário
somente dizer que, uma vez conhecidos os valores de FE,x, o cálculo de FE pode ser
efetuado.

Figura 14 - Distribuição normal obtida nas medidas dos valores de me.

Em situações semelhantes à descrita anteriormente, na qual é


proporcional a um parâmetro x que apresenta distribuição normal, o subfator de
engenharia de canal quente é definido como:

F (93)

onde é o valor médio de x e (x) é o desvio padrão na medida de x. Por exemplo, no


caso da quantidade de material físsil, o subfator resulta:

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O primeiro reator de pesquisa brasileiro, denominado IEA-R1, foi instalado no
antigo Instituto de Energia Atômica (IEA), hoje Instituto de Pesquisas Energéticas e
IIIII -- T
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TOOR
RES
SNNUC
CLLEA
ARRE
ES Nucleares (IPEN/CNEN-SP), situado no Município de São Paulo. Este reator foi
projetado e construído pela empresa norte-americana Babcock & Wilcox Co., de
acordo com as especificações fornecidas pela Comissão de Energia Atômica dos
A - REATORES NUCLEARES DE PESQUISA EUA. A criticalidade inicial, a primeira do hemisfério sul, foi atingida no dia 16 de
setembro de 1957. Este reator é do tipo piscina e na época da inauguração era
previsto que o mesmo viesse a operar na potência de 5 MW. Entretanto, até setembro
A.1 - Introdução de 1997 o reator operou quase sempre apenas a 2 MW, quando foram concluídas
diversas reformas que o capacitaram para efetivamente operar a 5 MW.
Após o IEA-R1, o segundo reator de pesquisa brasileiro foi um reator tipo Triga
Conforme foi destacado anteriormente neste trabalho, os reatores nucleares (IPR-R1) de 100 kW construído pela empresa norte-americana General Atomics para o
podem ser classificados de acordo com os seguintes critérios: a) energia dos nêutrons Instituto de Pesquisas Radioativas (IPR), hoje Centro de Desenvolvimento da
em que ocorre a maior parte das fissões, b) material físsil presente no combustível Tecnologia Nuclear (CDTN/CNEN-MG) situado no Município de Belo Horizonte. Este
nuclear, c) configuração do conjunto combustível nuclear + moderador, d) tipo de reator iniciou sua operação no dia 11 de outubro de 1960.
moderador, e) tipo de refrigerante, f) finalidade a que se destinam. Dentre todos estes O terceiro reator de pesquisa brasileiro foi instalado no Instituto de Engenharia
critérios, o principal é aquele referente à finalidade a que se destinam os reatores Nuclear (IEN/CNEN-RJ), situado no Município do Rio de Janeiro. O reator Argonauta
nucleares. Adotando-se este critério de classificação, os reatores nucleares podem ser foi construído por técnicos brasileiros que modificaram e adaptaram o projeto original,
agrupados em dois tipos principais: os reatores de pesquisa e os reatores de potência. tendo atingido a criticalidade pela primeira vez no dia 20 de fevereiro de 1965.
Os reatores de potência são projetados com a finalidade de gerar energia No dia 09 de novembro de 1988 atingiu pela primeira vez criticalidade o quarto
elétrica, enquanto os reatores de pesquisa servem como fontes de nêutrons para reator de pesquisa brasileiro, um reator de potência zero denominado IPEN/MB-01,
propósitos diversos, que abrangem desde experimentos em física nuclear básica até projetado e construído inteiramente com tecnologia nacional (inclusive os
irradiações para produção de radioisótopos utilizados em atividades industriais, combustíveis) pelo IPEN/CNEN-SP em conjunto com a Marinha do Brasil (através do
agrícolas e medicinais. Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo - CTMSP). O IPEN/MB-01 constitui,
Ao longo desta parte serão estudadas as características e usos principais dos portanto, o segundo reator de pesquisa instalado no IPEN/CNEN-SP.
reatores nucleares de pesquisa, com destaque para as instalações deste gênero
existentes no âmbito do IPEN/CNEN-SP.
A.3 - Classificação dos reatores nucleares de pesquisa
A.2 - Breve histórico dos reatores nucleares de pesquisa
Os principais tipos de reatores nucleares de pesquisa desenvolvidos no mundo
podem ser classificados segundo as características de projeto que apresentam,
Os reatores nucleares de pesquisa servem como fontes de nêutrons para permitindo distinguir os seguintes tipos: a) homogêneo líquido, b) tanque, c) piscina, d)
propósitos experimentais diversos. A potência térmica deste tipo de reator nuclear conjunto crítico seco, e) conjunto crítico tipo tanque, f) conjunto crítico homogêneo, g)
geralmente perfaz entre 10 kW e alguns poucos MW. Quando utilizados para a Argonauta, h) Triga, i) grafite, j) água pesada, k) alto fluxo.
produção de radioisótopos, a potência térmica destes reatores nucleares pode atingir Convém destacar que esta classificação não é estanque, pois muitas
até 25 MW. características de um tipo de reator se confundem com as de outro tipo, de maneira
A denominação dada aos reatores nucleares de pesquisa varia de acordo com que normalmente um tipo de reator se caracteriza pelo detalhe de projeto e
o propósito a que se destina o fluxo de nêutrons deles proveniente. Os reatores para instalações experimentais. Em seguida, são descritas em linhas gerais as
teste de materiais fornecem um fluxo alto de nêutrons rápidos, permitindo estudar o
características principais de alguns tipos de reatores de pesquisa mais importantes.
comportamento sob irradiação apresentado por materiais utilizados em reatores
nucleares. Os reatores para produção de radioisótopos destinam-se à produção de
isótopos radioativos utilizados em atividades industriais, medicinais e agrícolas. Os A.3.1 - Reatores tipo piscina
reatores de potência zero, também chamados conjuntos críticos ou unidades críticas,
são utilizados principalmente para estudar as propriedades neutrônicas de um arranjo
físsil a baixa potência (P < 1 kW). Os reatores protótipo são reatores de potência baixa Este tipo de reator de pesquisa é o mais utilizado em todo mundo, sendo
que servem como protótipo para reatores de potência elevada. freqüentemente denominado reator tipo MTR (sigla para “Materials Testing Reactor”).
O primeiro reator nuclear do mundo, um conjunto crítico, atingiu a criticalidade Apresenta como característica principal o fato do núcleo do reator estar imerso em
no dia 02 de dezembro de 1942. O Chicago Pile 1 (CP-1), como foi denominado, era uma piscina ou tanque contendo água. Trata-se de um reator heterogêneo, pois o
constituído por blocos de grafite empilhados (9 m de largura, 9,5 m de comprimento, 6 combustível nuclear e o moderador estão separados fisicamente. O combustível
m de altura, totalizando 1350 toneladas de grafite), com urânio natural metálico sob a nuclear é formado por placas agrupadas em elementos combustíveis, sendo o
forma de barras inserido internamente (52 toneladas) e controlado por folhas de revestimento de cada placa feito de alumínio. No cerne de cada placa está localizado
cádmio metálico. o material combustível propriamente dito, constituído por uma liga metálica de urânio-
A grande maioria dos reatores de pesquisa iniciou suas operações em fins da alumínio (U-Al) ou por um composto de urânio (geralmente U3O8 ou U3Si2) disperso em
década de 50 e início da década de 60. A Índia foi o primeiro país em desenvolvimento alumínio. Nestes combustíveis, o grau de enriquecimento do urânio em 235U pode ser
a construir um reator de pesquisa, no ano de 1956 (IN0001, APSARA, tipo piscina, 1 alto (cerca de 93%, tipo HEU, atualmente em desuso) ou baixo (cerca de 20%, tipo
MW). Em abril de 2004, havia no mundo 272 reatores de pesquisa em operação em 56 LEU). O reator IEA-R1 se enquadra neste grupo de reatores e será descrito à parte.
países, conforme dados da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

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A.3.2 - Reatores a grafite

O primeiro reator nuclear construído no mundo, o CP-1 (Chicago Pile 1), foi um
reator deste tipo, e as primeiras instalações destinadas à produção de plutônio
também utilizaram este tipo de reator. Estes reatores se caracterizam principalmente
pelo grande tamanho quando utilizam urânio natural (o que implica em alto custo),
apresentando baixa densidade de potência. Possui a vantagem de possibilitar a
realização simultânea de vários experimentos, devido ao seu grande tamanho. O
combustível nuclear deste tipo de reator é o urânio natural metálico. A estrutura do
reator é constituída por blocos de grafite sobrepostos, que formam um cubo com
aproximadamente 6 m de aresta, sem incluir blindagem. A região central desta
estrutura é preenchida com barras de urânio natural metálico para formar o núcleo do
reator. Para atingir a massa crítica, este tipo de arranjo requer o uso de
aproximadamente 30 toneladas de urânio natural metálico. O reator é refrigerado a
gás, empregando-se CO2 ou ar atmosférico como refrigerante. A blindagem biológica
deste tipo de reator é formada por grandes volumes de concreto com massa
específica elevada.

A.3.3 - Reatores Triga

Triga é uma sigla utilizada para designar “Training, Research, Isotopes,


General Atomics”. Este tipo de reator foi desenvolvido pela empresa norte-americana
General Atomics, tendo entrado em operação pela primeira vez em 1958. É hoje um Figura 1 - Núcleo do reator IPR-R1.
dos mais utilizados em todo mundo. Há três modelos disponíveis (Mark I, II e III).
A característica principal deste tipo de reator é o fato do núcleo estar imerso
em um tanque de alumínio, cheio de água desmineralizada, com 2 m de diâmetro, A.3.4 - Reatores Argonauta
localizado abaixo do nível do solo a 7 m de profundidade. Os elementos combustíveis
têm formato cilíndrico, com o revestimento feito de aço inoxidável ou alumínio,
possuindo 3,73 cm de diâmetro e 73 cm de comprimento. A parte ativa (ocupada pelo O reator tipo Argonauta, sigla para “Argonne Nuclear Assembly for University
combustível nuclear) possui cerca de 35,6 cm de altura e 3,61 cm de diâmetro, sendo Training”, entrou em operação pela primeira vez em 1957 no Laboratório Nacional de
o restante do elemento preenchido por tarugos de grafite, colocados acima e abaixo Argonne (EUA), para ser um reator de baixo custo e servir principalmente para
da parte ativa para servir como refletor de topo e de fundo. Cada elemento contém treinamento e experimentos em universidades. O Argonauta foi originalmente
cerca de 38 g de 235U. O núcleo do reator IPR-R1 possui atualmente um total de 63 projetado para operar a potências de até 10 kW. Posteriormente, vários reatores deste
elementos combustíveis com revestimento de alumínio. tipo tiveram a potência de operação máxima aumentada para 100 kW.
O combustível nuclear deste tipo de reator é hidreto de urânio e zircônio Para descrever as características principais do reator Argonauta, será tomado
(UZrH), contendo urânio enriquecido em 235U a 20%. Os átomos de hidrogênio como base o reator existente no Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/CNEN-RJ).
presentes no combustível nuclear são os principais moderadores de nêutrons deste O reator é constituído por dois cilindros de alumínio instalados
tipo de reator. A blindagem biológica é constituída, na parte superior, pela água acima concentricamente, de modo a formar um anel cilíndrico. O cilindro de menor diâmetro
do núcleo e, na parte lateral, pela água do tanque (que também tem a função de é preenchido com grafite, sendo denominado coluna térmica interna. O anel formado
refrigerante e moderador), pelo concreto que circunda o tanque e pelo próprio solo. entre os dois cilindros se encontra imerso em água desmineralizada e nele estão
No que se refere às instalações experimentais, os dispositivos de irradiação localizados os elementos combustíveis. A distribuição dos elementos combustíveis é
anexos a este tipo de reator incluem um tubo central experimental, preenchido com bastante flexível, sendo quatro as maneiras mais usuais: a) carga unilateral –
água, que permite a irradiação de amostras sob um fluxo de nêutrons térmicos que elementos posicionados em apenas um segmento de anel; b) carga bilateral –
perfaz aproximadamente 5.1012 nêutrons/cm2s. Estes dispositivos são também elementos posicionados em dois segmentos iguais e simétricos do anel; c) carga
equipados com sistemas pneumáticos que permitem a introdução e retirada rápida uniforme – elementos posicionados uniformemente em todo o anel; d) carga alternada
(em menos de 30 segundos) de amostras do núcleo para um terminal remoto, situado – elementos agrupados dois a dois e formando seis conjuntos distribuídos
a cerca de 30 m de distância. Trata-se de um reator bastante seguro, pois os simetricamente. O fluxo médio de nêutrons e a massa crítica variam bastante com a
coeficientes de temperatura apresentam valores negativos elevados. distribuição adotada.
Em geral, os reatores Triga apresentam potência baixa na operação em estado O núcleo central anular do reator é envolvido por blocos de grafite empilhados
estacionário. O Triga Mark - I opera a 250 kW, mesma potência máxima do IPR-R1 e possui uma região de maior comprimento, denominada coluna térmica externa,
atualmente. As três barras de controle são feitas de carbeto de boro (B 4C), tendo cerca contendo várias gavetas para introdução de amostras. A figura 2 mostra a
de 3,2 cm de diâmetro e 30 cm de comprimento, revestidas por aço inoxidável ou configuração do núcleo do reator. Nesta configuração, a grafite funciona como
alumínio. O mecanismo de acionamento das barras de controle, situado no topo do moderador e refletor de nêutrons, enquanto a água serve como moderador de
tanque, é do tipo magneto, possibilitando que o tempo de desligamento do reator seja nêutrons e refrigerante do núcleo do reator.
menor que dois segundos. A figura 1 mostra o núcleo do reator IPR-R1. Todo o conjunto acima descrito é envolvido por uma blindagem biológica de
concreto.
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A.3.5 - Reatores de potência zero

Este tipo de reator constitui um laboratório para a montagem segura e eficiente


de conjuntos críticos com baixa potência (da ordem de Watts), enfatizando-se a
flexibilidade em se realizar mudanças experimentais. A função principal destas
instalações é permitir estudos das características neutrônicas para diferentes
composições e configurações de núcleos de reatores de potência, mediante
simulações em escala de potência zero. Este tipo de reator é também conhecido pela
denominação de “mock-up”. Pelo fato de operarem à temperatura ambiente e potência
bastante baixa, estes reatores não necessitam de sistemas de refrigeração.
Há dois tipos de reatores de potência zero: os secos e os tipo tanque. Os
reatores de potência zero secos são empregados no estudo de reatores refrigerados a
gás, sendo construídos em forma de mesa partida, ou seja, o arranjo crítico é dividido
em duas partes que se tornam críticas quando juntas. O primeiro arranjo deste tipo foi
o conjunto denominado Jezebel, formado por uma esfera metálica de plutônio
subdividida em duas semiesferas, destinado ao estudo da massa crítica do plutônio
metálico. Um conjunto análogo utilizando 235U metálico puro foi denominado Godiva.
Os reatores de potência zero tipo tanque têm sido utilizados como simulador
neutrônico de reatores de potência moderados e refrigerados a água leve ou pesada.
Neste caso, o núcleo a ser estudado é montado dentro de um tanque na configuração
Figura 2 - Configuração do núcleo de um reator Argonauta. pretendida, sendo este tanque posteriormente completado com o moderador (água ou
água pesada). O controle de reatividade neste tipo de reator é geralmente efetuado
Os elementos combustíveis do reator são fabricados no IPEN/CNEN-SP. por meio de barras de controle e por drenagem do fluido moderador.
Atualmente há três tipos de elemento combustível em uso no reator, todos contendo No Brasil, o único reator de potência zero tipo tanque é a unidade crítica
placas planas com revestimento de alumínio: a) 4 elementos, cada um contendo 17 IPEN/MB-01, com potência máxima de 100 W, localizado nas dependências do
placas com 21 g de 235U por placa; b) 2 elementos, cada um contendo 11 placas com IPEN/CNEN-SP. O moderador utilizado neste reator é água desmineralizada. O núcleo
21 g de 235U por placa mais 6 placas com 9,84 g de 235U por placa; c) 2 elementos, do reator, contido em um tanque de aço inoxidável com dimensões ativas de 39 cm x
cada um contendo 7 placas com 9,84 g de 235U por placa mais meio prisma de grafite. 42 cm x 54,6 cm, é composto por um arranjo de 28 x 26 varetas cilíndricas, das quais
O conjunto de placas que constitui um elemento combustível é fixado por meio de dois 680 são varetas combustíveis, 24 são barras de controle e 24 são barras de
pinos que atravessam as mesmas, próximos às extremidades, mantendo um segurança. Cada vareta combustível é constituída por um tubo de aço inoxidável AISI-
espaçamento de 6,77 mm entre elas. Os elementos podem ser desmontados e placas 304 com comprimento total de 1,19 m e diâmetro externo de 9,8 mm, fechado nas
falsas (feitas só de alumínio) podem ser colocadas no lugar das placas combustíveis. extremidades e pressurizado, que contém em seu interior 52 pastilhas cilíndricas de
Cada placa combustível possui aproximadamente 7,25 cm de largura e 61,0 cm de dióxido de urânio (UO2) com enriquecimento em 235U igual a 4,3%. Os 48 tubos guias
comprimento, tendo espessuras de 0,243 cm (placas com 21 g de 235U) ou de 0,182 para as barras de controle e segurança estão dispostos em 4 grupos, cada um deles
cm (placas com 9,84 g de 235U). As placas combustíveis são todas numeradas, contendo 12 barras, sendo 2 grupos de barras de segurança e 2 grupos de barras de
mantendo-se em arquivo um catálogo com as características de cada uma delas e sua controle. Cada grupo está posicionado em um quadrante do núcleo do reator. As
distribuição nos diversos elementos. barras de controle e de segurança têm as mesmas dimensões das varetas
O combustível nuclear empregado no reator é U3O8 disperso em alumínio, com combustíveis, sendo revestidas com aço inoxidável AISI-304. As barras de controle
urânio enriquecido em 235U a 19,91%. A massa crítica atual do reator totaliza cerca de são feitas de uma liga de prata-índio-cádmio (Ag-In-Cd, na proporção respectivamente
2,1 kg de 235U. de 80%-15%-5%), enquanto as barras de segurança são feitas de carbeto de boro
Apesar da potência máxima nominal de projeto do reator ser 5 kW, o mesmo (B4C).
opera a baixa potência, usualmente 170 W ou 340 W, sendo a potência máxima O projeto do reator IPEN/MB-01 teve como objetivo construir e testar um
licenciada para uma operação contínua igual a 500 W. O fluxo máximo de nêutrons núcleo típico para uso em propulsão naval de submarinos, ou seja, no qual o controle
térmicos no núcleo perfaz 109 nêutrons/cm2.s. de reatividade fosse efetuado a partir da inserção ou retirada de barras de controle,
O controle do reator é feito por intermédio de seis barras, constituídas por contrariando o modelo de muitas unidades críticas em que o controle se dá pelo nível
placas de cádmio metálico revestidas com alumínio, sendo três utilizadas como barras de fluido moderador no tanque. O controle de reatividade através do uso de barras de
de segurança e três utilizadas como barras de controle. As barras se deslocam controle é típico de reatores navais, projetados para proporcionar rápidas variações de
verticalmente dentro de canais existentes na grafite refletora, situados paralelamente à potência, afim de se empreenderem manobras de fuga ou de perseguição.
geratriz do cilindro maior, no entorno do núcleo.
Adicionalmente, o controle do reator pode ser feito por drenagem da água e
também por borbulhamento de nitrogênio para induzir vazios na água, o que introduz A.3.6 - Reatores de alto fluxo
reatividade negativa no núcleo. O reator possui coeficiente de reatividade negativo,
tanto de temperatura como de vazio, característica que o torna inerentemente seguro.
Este tipo de reator é destinado à pesquisa do desempenho de materiais sob
O reator é utilizado para pesquisa em Física de Reatores, irradiação de irradiação, utilizando para tanto um fluxo de nêutrons elevado (geralmente maior que
amostras, ensaios não destrutivos (principalmente neutrongrafia), teste de materiais e
1014 nêutrons/cm2.s). Exemplos são os reatores Osiris (França), High Flux Beam
treinamento de pessoal. Reactor (EUA), High Flux Isotope Reactor (EUA) e BR-2 (Bélgica).

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A.4 - Reator IEA-R1 Dentre os 24 elementos combustíveis, 4 são elementos especiais, projetados
para permitir a inserção das barras de controle, sendo por este motivo denominados
O IEA-R1, um reator nuclear de pesquisa do tipo piscina aberta, foi projetado e elementos combustíveis de controle. Cada elemento combustível de controle possui
construído pela empresa norte-americana Babcock & Wilcox Co. de acordo com as um total de 12 placas combustíveis planas paralelas.
Os outros 20 elementos combustíveis, denominados elementos combustíveis
especificações fornecidas pela Comissão de Energia Atômica dos EUA.
padrão, são do tipo MTR (sigla para “Materials Testing Reactor”). Compõem-se de 18
O edifício do reator está localizado nas dependências do Instituto de Pesquisas
Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN-SP), na Cidade Universitária, em São Paulo. O placas combustíveis planas paralelas cada um, montadas mecanicamente em dois
suportes laterais de alumínio com ranhuras. As dimensões externas de cada elemento
reator é propriedade da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) e está sob a
guarda do IPEN. combustível perfazem (7,6 cm x 8,0 cm) por 88,0 cm de altura. A figura 4 mostra a
A primeira criticalidade deste reator foi atingida no dia 16 de setembro de 1957, seção longitudinal de um elemento combustível padrão e a estrutura de duas placas
combustíveis sucessivas deste elemento.
e desde então o mesmo vem sendo utilizado extensivamente na produção de
radioisótopos, em análise de materiais por ativação, em experimentos científicos que
utilizam tubos de irradiação e no treinamento de pessoal, atendendo a demandas de
todas as áreas do IPEN/CNEN-SP e também a solicitações externas.
Apesar de ter seu núcleo projetado para 5 MW, até 1961 não havia um regime
definido de operação para o reator IEA-R1 e a potência variou entre 200 kW e 2 MW.
A partir de 1961, o reator passou a operar a uma potência definida de 2 MW. Entre
1971 e 1991, várias modificações foram sendo introduzidas no reator para adequar as
suas instalações a normas de segurança mais recentes. Em 1995, o IPEN/CNEN-SP
decidiu capacitar o reator IEA-R1 para operar a 5 MW, sua potência nominal de
projeto. O reator passou então por diversas reformas e modernizações que,
concluídas em setembro de 1997, permitiram aumentar a potência máxima de
operação para 5 MW.
O núcleo do reator tem a forma de um paralelepípedo, sendo composto por
elementos combustíveis e refletores encaixados verticalmente em furos existentes na
placa matriz, que se encontra suspensa por uma estrutura de alumínio. A placa matriz
possui um total de 80 furos, dispostos segundo um arranjo 8 x 10. As dimensões da
placa matriz são 82,86 cm x 63,97 cm x 11,43 cm.
A configuração do núcleo inclui um total de 24 elementos combustíveis,
posicionados segundo um arranjo 5 x 5. A posição central do arranjo não é ocupada Figura 4 - Seção longitudinal de um elemento combustível padrão utilizado no reator
por um elemento combustível, mas sim por um elemento de irradiação feito de berílio IEA-R1, mostrando em detalhe a estrutura de duas placas combustíveis sucessivas
(designado pela sigla EIBE). A figura 3 mostra esquematicamente a configuração atual deste elemento.
do núcleo do reator IEA-R1.
As placas combustíveis contêm um cerne, onde está localizado o combustível
nuclear propriamente dito, revestido por duas camadas de alumínio. A espessura de
cada placa combustível totaliza 0,152 cm, enquanto a distância entre duas placas
combustíveis sucessivas em um mesmo elemento perfaz 0,289 cm. A espessura do
cerne depende do tipo de combustível utilizado, sendo atualmente igual a 0,076 cm.
Ao longo dos 47 anos de operação do reator IEA-R1, foram usados os
seguintes tipos de combustível nuclear:
a) Liga U-Al contendo 1,8 gU/cm3, na qual o urânio apresenta 20% de enriquecimento
em 235U, fabricado nos EUA, utilizado entre 1957 e 1976;
b) Liga U-Al contendo 0,6 gU/cm3, na qual o urânio apresenta 93,15% de
enriquecimento em 235U, fabricado principalmente nos EUA, mas também na França,
utilizado entre 1968 e 1997;
c) UAlX disperso em matriz de alumínio, contendo 1,9 gU/cm3, com grau de
enriquecimento do urânio em 235U igual a 20%, fabricado na Alemanha, utilizado entre
1981 e 1996;
d) U3O8 disperso em matriz de alumínio, contendo 1,9 gU/cm3, com grau de
enriquecimento do urânio em 235U igual a 19,9%, fabricado no IPEN/CNEN-SP,
utilizado entre 1988 e 2004;
e) U3O8 disperso em matriz de alumínio, contendo 2,3 gU/cm3, com grau de
enriquecimento do urânio em 235U igual a 19,9%, fabricado no IPEN/CNEN-SP,
Figura 3 - Configuração atual do núcleo do reator IEA-R1. utilizado desde 1996;
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f) U3Si2 disperso em matriz de alumínio, contendo 3,0 gU/cm3, com grau de
enriquecimento do urânio em 235U igual a 19,9%, fabricado no IPEN/CNEN-SP,
utilizado desde 1999.
É importante destacar que, desde setembro de 1997, o reator IEA-R1 opera
utilizando exclusivamente combustíveis nucleares nacionais, dos tipos d), e) e f),
fabricados no próprio IPEN/CNEN-SP.
Os combustíveis nucleares fabricados no exterior, irradiados no reator IEA-R1
e retirados em definitivo do núcleo entre 1957 e 1997, distribuídos em um total de 127
elementos combustíveis, foram sendo armazenados a 6 m de profundidade em cestos
de aço inoxidável situados dentro da piscina de estocagem do reator (87 elementos
combustíveis) ou em tubos de aço inoxidável envolvidos por concreto localizados no
primeiro andar do edifício do reator (40 elementos combustíveis). Em novembro de
1999, todos estes elementos combustíveis irradiados foram transportados para o
Laboratório Nacional de Savannah River, Carolina do Sul, EUA, no âmbito do
programa do governo norte-americano intitulado “Foreign Research Reactor Spent
Nuclear Fuel Acceptance Program”, que permite o retorno de elementos combustíveis
irradiados até 2016 em reatores de pesquisa ou teste, desde que o urânio utilizado na
confecção dos elementos tenha sido enriquecido nos EUA.
Quando o reator IEA-R1 se encontra em operação à potência de 5 MW, o fluxo
médio de nêutrons térmicos (energia cinética menor ou igual a 0,625 eV) no núcleo
ativo totaliza 3,45.1013 nêutrons/cm2s, enquanto o fluxo médio de nêutrons rápidos
(energia cinética maior que 0,625 eV) totaliza 9,45.1013 nêutrons/cm2s.
Os elementos refletores são blocos de grafite revestidos em alumínio ou blocos
de berílio e apresentam a mesma geometria e dimensões externas dos elementos
combustíveis. São posicionados ao redor do núcleo do reator, na placa matriz,
permitindo uma grande economia de nêutrons por reflexão dos mesmos e,
consequentemente, causando uma redução considerável na massa crítica. Figura 5 - Panorama geral das instalações do reator IEA-R1.
O sistema utilizado para irradiações de amostras no núcleo do reator é
refrigerado a água, ou seja, as cápsulas padrão de alumínio (com 20 mm de diâmetro
e 70 mm de comprimento) nas quais estão contidas as amostras entram em contato
direto com a água de refrigeração do núcleo do reator. Nestas condições, torna-se
necessário utilizar dispositivos adequados, denominados genericamente elementos de
irradiação, cujas características dependem da amostra a ser irradiada. Um deles é o já
mencionado elemento de irradiação feito de berílio (EIBE), posicionado no centro do
núcleo onde o fluxo de nêutrons é o mais alto do reator. Para amostras que precisam
ser irradiadas durante período superior a uma semana, utiliza-se o elemento de
irradiação feito de berílio e refrigerado a água (designado pela sigla EIBRA). Caso o
período de irradiação varie entre um dia e uma semana, utiliza-se o elemento de
irradiação refrigerado a água (designado pela sigla EIRA). Há também dispositivos
projetados especialmente para irradiações de amostras que não se enquadram nos
sistemas mencionados, como por exemplo o elemento de irradiação de fios
(designado pela sigla EIF).
O conjunto formado pelos elementos combustíveis, elementos refletores,
elementos de irradiação e placa matriz pode ser movimentado entre as extremidades
da piscina. Para tanto, são utilizadas hastes verticais presas à ponte rolante localizada
sobre a piscina.
A piscina é construída em concreto com dimensões 5,2 m x 13,7 m x 9,5 m (ver
figura 5). As paredes internas da piscina são revestidas de aço inoxidável, seguindo-se
logo abaixo, em seqüência, uma camada mais externa de concreto comum, uma
membrana de aço carbono e finalmente uma camada externa de concreto de barita. A
piscina é dividida em dois compartimentos, que podem ser isolados um do outro por
meio do fechamento de uma comporta de alumínio localizada entre ambos. O
compartimento próximo à parte semicircular é o compartimento de operação. No
compartimento oposto à parte semicircular não é permitido operar ou carregar o reator.
Os experimentos são realizados com o uso dos tubos de irradiação e dos tubos
pneumáticos. Há um total de 14 tubos, sendo dois localizados na parte frontal à coluna Figura 6 - Piscina do reator IEA-R1: A) seção horizontal da piscina, mostrando o
térmica e os demais na parede semicircular da piscina, conforme mostra a figura 6. posicionamento dos tubos de irradiação; B) detalhe dos tubos de irradiação.

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Os tubos são feitos de alumínio e no interior dos mesmos podem ser colocadas
amostras para serem irradiadas. Caso necessário, podem ser preenchidos com água
B - REATORES NUCLEARES DE POTÊNCIA
de modo a proporcionar blindagem adequada aos pesquisadores.
Além do sistema para irradiações de amostras no núcleo do reator, citado
anteriormente e baseado no uso de elementos de irradiação, há ainda outros sistemas B.1 - Introdução
no reator IEA-R1 projetados com esta finalidade.
Um sistema pneumático de tubos permite a irradiação de amostras durante O uso mais importante dos reatores nucleares consiste, sem dúvida, na
curto intervalo de tempo. Coloca-se a amostra em um recipiente de alumínio ou geração de energia elétrica. O emprego de reatores nucleares de potência com esta
polietileno (usualmente denominado “coelho”), que é introduzido no sistema de tubos à finalidade específica há muito deixou de ser algo singular e exótico para se tornar fato
baixa pressão e enviado a uma das quatro posições existentes nas proximidades do corriqueiro, notadamente nos países mais desenvolvidos.
núcleo. Após a irradiação, o recipiente pode retornar para duas posições diferentes Conforme destacado anteriormente, uma usina nucleoelétrica é uma instalação
nos laboratórios, situados no edifício do reator. projetada para gerar energia elétrica, na qual a fonte de calor usada na produção do
A irradiação de amostras também pode ser feita utilizando a coluna térmica vapor de água que move a turbina é um reator nuclear.
localizada em uma das paredes laterais do concreto. Esta coluna é geralmente A diferença entre uma usina nucleoelétrica e uma usina termoelétrica
empregada em experimentos com nêutrons térmicos, sendo composta de grafite convencional diz respeito essencialmente ao modo como o vapor de água é produzido.
disposta em blocos com a finalidade de facilitar a formação de gavetas onde podem Na usina termoelétrica convencional, o vapor é produzido em uma caldeira aquecida
ser colocadas amostras para irradiação. O baixo fluxo de nêutrons limita, porém, a pela queima de combustível fóssil (carvão mineral, gás natural, óleo combustível). Na
utilização deste dispositivo. usina nucleoelétrica, o vapor é produzido a partir do calor gerado pelas reações
A água da piscina é desmineralizada e serve como moderador e refletor para nucleares de fissão que ocorrem no combustível nuclear. A figura 7 mostra
os nêutrons, como refrigerante para o núcleo e como blindagem biológica para os esquematicamente estas duas maneiras de gerar energia elétrica.
operadores. Quando a potência de operação do reator é superior a 200 kW, a
circulação é forçada de cima para baixo por intermédio de uma bomba de refrigeração.
Para operar abaixo de 200 kW, a refrigeração é feita por convecção natural, não
havendo portanto necessidade de bombeamento. Sistemas auxiliares permitem que a
água da piscina seja tratada e purificada.
O sistema de refrigeração tem como função retirar o calor produzido nas placas
combustíveis, através da circulação da água da piscina. Este calor é eliminado para a
atmosfera mediante o uso de trocadores de calor e torres de refrigeração. Com a
finalidade de melhorar as condições gerais de refrigeração do núcleo do reator,
decidiu-se reduzir a geração de calor no espaçamento existente entre componentes
adjacentes. Para tanto, desde o início de 2004 passaram a ser utilizados elementos
combustíveis padrão contendo combustível nuclear do tipo e), mas cujas placas
combustíveis externas (primeira e décima oitava) têm metade da densidade de urânio
(1,15 gU/cm3).
Em valores aproximados, a atual carga total de combustível nuclear do reator
IEA-R1 perfaz 22,5 kg de urânio e contém 4,5 kg de 235U.
O controle do reator é efetuado por meio de quatro barras absorvedoras de
nêutrons, sendo que uma é utilizada em função de controle e as outras três são
empregadas como barras de segurança. Cada uma delas é formada por duas placas
feitas de uma liga metálica de prata-índio-cádmio (Ag-In-Cd, na proporção
respectivamente de 80%-15%-5%) revestidas com uma fina camada de níquel. As
barras absorvedoras de nêutrons possuem a forma de garfo e são sustentadas por um
eletroímã fixado a uma haste acoplada ao mecanismo de acionamento, preso à ponte
rolante. Em caso de emergência, o eletroímã é desligado e as quatro barras são
inseridas rapidamente no núcleo, garantindo assim o desligamento do reator em
menos de um segundo. A barra utilizada na função de controle está diretamente
acoplada ao mecanismo de acionamento, sendo movida continuamente para
compensar as flutuações de potência verificadas durante a operação do reator. Todas
as barras absorvedoras de nêutrons em uso atualmente no reator IEA-R1 foram
fabricadas em 2003 no IPEN/CNEN-SP.

Figura 7 - Geração de energia elétrica: A) usina termoelétrica convencional; B) usina


nucleoelétrica.

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Uma usina nucleoelétrica compõe-se basicamente de duas partes distintas: o B.3 - Classificação dos reatores nucleares de potência
sistema de geração do vapor de água e o sistema de geração de energia elétrica. O
primeiro abrange o reator e o circuito de refrigeração primário, enquanto o segundo Um sumário descrevendo os vários tipos diferentes de reatores nucleares de
abrange o circuito secundário para produção do vapor de água e o conjunto turbina- potência, desenvolvidos até hoje no mundo, pode ser organizado tendo como base a
gerador. O vapor de água deve sempre entrar na turbina o mais seco possível, na
classificação dos mesmos de acordo com o combustível nuclear e outros materiais
forma superaquecida. Ao sair da turbina, a mistura contendo vapor e água passa pelo
neles utilizados, incluindo o moderador.
condensador, componente onde o vapor residual é resfriado e condensado novamente A classificação dos tipos de reatores nucleares de potência desenvolvidos até
em água.
os dias de hoje no mundo é mostrada na tabela 1, enquanto uma representação
A eficiência da usina nucleoelétrica é medida pela razão entre a energia esquemática de alguns destes reatores é apresentada na figura 8.
elétrica produzida e a energia térmica gerada no reator nuclear. Para alcançar uma
eficiência alta é necessário operar a turbina na maior temperatura possível, condição Tipo de País de
que requer a produção de vapor de água seco e em temperatura elevada. Combustível Enriquecimento Moderador Refrigerante
reator origem
Nestas circunstâncias, assume relevância especial a descrição dos tipos de UO2 2% a 4% H2O H2O PWR EUA
reatores nucleares de potência que, operando em usinas nucleoelétricas, permitirão o H2O
uso amplo dos recursos mundiais de urânio e tório como fonte duradoura de energia. UO2 2% a 4% H2O BWR EUA
(fervente)
U metálico - Grafite CO2 GCR Reino Unido
UO2 2% a 4% Grafite CO2 AGR Reino Unido
B.2 - Breve histórico dos reatores nucleares de potência EUA
ThC2 + UC2 93% Grafite He HTGR Reino Unido
O primeiro reator nuclear de potência do mundo, denominado EBR-1, entrou Alemanha
em operação gerando 0,2 MW elétricos em dezembro de 1951, em Arco, Idaho, EUA. UO2 - D2O D2O PHWR Canadá
No dia 27 de junho de 1954, o governo da URSS divulgava um comunicado H2O
informando que, pela primeira vez no mundo, um protótipo de usina nucleoelétrica UO2 2% a 4% D2O SGHWR Reino Unido
(fervente)
havia começado a funcionar na cidade russa de Obninsk, fornecendo 5 MW elétricos H2O
para as fazendas, vilas e fábricas próximas. UO2 2% a 4% Grafite RBMK URSS
(fervente)
O primeiro submarino impulsionado a energia nuclear, o U.S.S. Nautilus, é UO2 + PuO2 - - 0
Na líquido FBR Vários
lançado ao mar em 1955 pela marinha dos EUA. A propulsão deste submarino é Tabela 1 - Tipos de reatores nucleares de potência: reator refrigerado a água
efetuada por um reator nuclear refrigerado a água pressurizada (PWR). pressurizada (PWR), reator refrigerado a água fervente (BWR), reator refrigerado a
Em 1 de outubro de 1956, entra em operação comercial no Reino Unido a gás (GCR), reator avançado refrigerado a gás (AGR), reator refrigerado a gás com
primeira usina nucleoelétrica do mundo, a de Calder Hall, fornecendo 50 MW elétricos. temperatura elevada (HTGR), reator refrigerado a água pesada pressurizada (PHWR),
O reator nuclear desta usina é refrigerado a gás (GCR). reator gerador de vapor moderado a água pesada (SGHWR), reator refrigerado a água
A primeira usina nucleoelétrica equipada com um reator nuclear refrigerado a fervente e moderado a grafite (RBMK), reator rápido (FBR).
água pressurizada (PWR) entra em operação no dia 02 de dezembro de 1957 em
Shippingport, Pennsylvania, EUA, gerando 75 MW elétricos. O reator nuclear PWR Conforme pode ser notado, há diversas formas de utilização do urânio como
desta usina foi projetado e construído tendo como base a tecnologia de reatores combustível nuclear em um reator. Uma possibilidade é o uso de urânio puro, um
nucleares utilizados para propulsão naval. metal cinzento muito denso (19,04 g/cm3 a 25 0C) e relativamente dúctil que sofre a
Em 1962 entra em operação no Canadá, pela primeira vez no mundo, um primeira variação na fase sólida (mudança na estrutura cristalina) ao atingir a
reator nuclear refrigerado a água pesada (PHWR) destinado à geração de eletricidade. temperatura de 668 0C. Este valor constitui o limite superior para a temperatura de
Em 1973, a utilização de usinas nucleoelétricas era responsável por apenas operação deste tipo de combustível, pois a variação na fase sólida pode acarretar
3,3% da energia elétrica gerada em todo o mundo. Ao longo do último quarto do distorções e deformações no mesmo.
Século XX, esta utilização se expandiu de tal maneira que, no ano 2000, já Outra possibilidade, mais amplamente utilizada, consiste em usar dióxido de
correspondia a 16,9% do total da energia elétrica gerada mundialmente, em urânio (UO2) como combustível nuclear, um pó marrom escuro ou preto que, depois de
comparação com 39,1% gerados por usinas termoelétricas a carvão mineral, 17,4% compactado na forma de pastilhas e sinterizado, é colocado em tubos finos de aço
gerados por usinas termoelétricas a gás natural, 17,1% gerados por usinas inoxidável ou Zircaloy para formar varetas combustíveis. O dióxido de urânio possui
hidroelétricas, 7,9% gerados por usinas termoelétricas a derivados líquidos de petróleo um ponto de fusão muito elevado (2730 0C) de maneira que os reatores nos quais UO2
e 1,6% gerados através do uso de fontes alternativas de energia (eólica, geotérmica, é utilizado como combustível nuclear podem operar a temperaturas mais elevadas que
solar, biomassa e outras). os reatores nos quais urânio metálico é utilizado como combustível nuclear.
Dados da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) indicam que, em No caso de reatores rápidos, 239Pu é um combustível nuclear importante, sendo
abril de 2004, estavam em funcionamento 441 usinas nucleoelétricas localizadas em usado na forma de dióxido de plutônio (PuO2, um pó amarelado) misturado com
31 países, totalizando uma capacidade geradora de 362.205 MW elétricos. Ainda dióxido de urânio (UO2) para constituir um combustível de óxido misto (designado por
segundo dados da AIEA, 13 países tinham na energia nuclear a origem de mais de um MOX) que contém tipicamente cerca de 25% em massa de PuO2. Estes reatores são
terço da eletricidade que consumiam. Dentre as potências industriais, o país que mais adequados para proporcionar a regeneração do combustível nuclear, através da
a utilizava era a França, com 78,0% da energia elétrica gerada por usinas transformação de núcleos de 238U em novos núcleos de 239Pu.
nucleoelétricas. O mesmo levantamento aponta que a maior capacidade instalada em Os três moderadores utilizados em reatores de potência são água, água
geração nucleoelétrica estava nos EUA, com 104 usinas responsáveis pela produção pesada e grafite. A temperatura crítica da água e da água pesada (374 0C), a partir da
de 98298 MW elétricos, correspondendo a 20,3% do total da energia elétrica gerada qual as mesmas não se liqüefazem mediante compressão isotérmica, torna necessário
naquele país.
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que reatores moderados com estas substâncias operem a temperaturas mais baixas
que os reatores moderados a grafite.
Em reatores nucleares de potência, é necessário que uma substância
refrigerante circule através do núcleo do reator para remover a energia liberada pela
fissão e transferir esta energia para o ciclo de potência por intermédio do qual é
gerado o vapor de água. A escolha do refrigerante influencia o projeto e a temperatura
na qual o reator nuclear opera. Tanto um líquido quanto um gás podem ser escolhidos
como refrigerante de reatores nucleares, sendo os mais importantes água, água
pesada, sódio metálico líquido e dióxido de carbono. O gás hélio pode ser utilizado em
reatores refrigerados a gás que venham a ser construídos no futuro.
Dentre os reatores nucleares de potência em funcionamento atualmente no
mundo, 59,9% são do tipo PWR, 20,9% do tipo BWR, 8,8% do tipo PHWR, 3,8% do
tipo RBMK, 3,2% do tipo AGR, 2,7% do tipo GCR e 0,7% do tipo FBR.

B.4 - Reatores refrigerados a gás (GCR)

Este tipo de reator nuclear de potência foi desenvolvido no Reino Unido


durante a primeira década após a Segunda Guerra Mundial, como conseqüência das
seguintes circunstâncias com as quais se defrontava aquele país: decisão de utilizar
fontes energéticas complementares ao carvão mineral na geração de eletricidade,
necessidade de produzir plutônio para armas nucleares, inexistência de instalações
para enriquecer urânio e produção de água pesada em quantidade insuficiente para
uso como moderador em reatores.
Optou-se então por construir reatores nucleares de potência caracterizados
pelo uso de urânio natural metálico como combustível, grafite como moderador e
dióxido de carbono como refrigerante. O material de revestimento do combustível
nuclear era uma liga de magnésio denominada Magnox.
A primeira usina nucleoelétrica do mundo, Calder Hall, cuja operação comercial
se iniciou no Reino Unido em 1 de outubro de 1956 fornecendo 50 MW elétricos,
utilizava este tipo de reator. Devido a estes fatos, os primeiros reatores nucleares
refrigerados a gás passaram a ser conhecidos como reatores Calder Hall, Magnox ou
Mark 1. Um total de 26 reatores deste tipo foi construído para equipar 11 usinas
nucleoelétricas britânicas entre 1956 e 1970.
A carga completa de um reator nuclear Magnox típico totaliza em média 251
toneladas de urânio metálico, dispostas na forma de 32190 barras cilíndricas com 2,9
cm de diâmetro e 62 cm de comprimento, revestidas por tubos de Magnox dotados de
aletas para permitir uma transferência mais efetiva de calor do combustível para o
refrigerante.
A limitação mais importante no projeto destes reatores consiste na temperatura
máxima de operação do combustível nuclear que, pelo fato de ser constituído por
urânio metálico revestido com Magnox, fica restrita a cerca de 400 0C. Posteriormente,
durante a operação destes reatores, constatou-se que nesta temperatura o dióxido de
carbono causava corrosão em certos componentes de aço carbono da tubulação de
refrigeração. Para diminuir este efeito, a temperatura máxima do dióxido de carbono
foi diminuída para 370 0C.
Mediante a utilização destes reatores, obtém-se vapor de água a uma
temperatura de no máximo 395 0C e a uma pressão de no máximo 49 atm para
acionar as turbinas geradoras de energia elétrica.
Em fins da década de 90, os primeiros reatores Magnox construídos entraram
no período final de vida útil. Tais reatores devem funcionar apenas durante mais
alguns poucos anos, provavelmente operando a potência reduzida. A usina
nucleoelétrica de Calder Hall, por exemplo, foi desativada definitivamente em março
de 2003. Quando os últimos reatores Magnox forem desativados, o projeto que os
originou terá passado para a história, pois reatores deste tipo se tornaram obsoletos e
não serão mais construídos no futuro.
Figura 8 - Representação esquemática de alguns reatores nucleares de potência.
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B.5 - Reatores avançados refrigerados a gás (AGR) faixa entre 750 0C e 1000 0C. O refrigerante mais adequado para reatores HTGR é o
hélio, pelo motivo de ser inerte quimicamente, possuir baixa seção de choque para
As condições em que o vapor de água é gerado em usinas nucleoelétricas com absorção de nêutrons e apresentar propriedades boas no que se refere à transferência
reatores tipo Magnox são bem mais desfavoráveis que as obtidas em usinas de calor. O uso de materiais de revestimento convencionais, tais como aço inoxidável,
não é necessário. Por sua vez, o uso de materiais que possuem baixa seção de
termoelétricas convencionais modernas, nas quais o vapor de água gerado pode
choque para absorção de nêutrons, tais como grafite e hélio, proporciona uma boa
atingir temperaturas de até 565 0C e pressões de 160 atm.
No sentido de fazer com que estas condições sejam atingidas também em economia de nêutrons e aumenta a taxa de regeneração.
A usina nucleoelétrica de Fort St. Vrain, que funcionou no estado norte-
usinas nucleoelétricas com reatores refrigerados a gás, torna-se necessário elevar a
temperatura de operação destes reatores, o que exigiu a implementação dos americano do Colorado entre 1976 e 1989, era equipada com um reator HTGR. O
seguintes aperfeiçoamentos em relação ao projeto dos primeiros GCR: a) substituição combustível nuclear particulado revestido, contendo uma mistura de ThC2 e UC2, era
colocado dentro de cavidades usinadas em blocos hexagonais de grafite, os quais
de Magnox por aço inoxidável ou Zircaloy como material de revestimento do
constituíam o núcleo do reator. Havia outros orifícios nos blocos para passagem de
combustível, b) substituição de urânio natural metálico por dióxido ou carbeto de
gás refrigerante e para colocação de barras de controle, feitas de carbeto de boro
urânio ligeiramente enriquecido em 235U como combustível nuclear, c) uso de aços
(B4C). A carga completa de combustível nuclear deste reator continha um total de
especiais na fabricação dos componentes do circuito de refrigeração, para eliminar a
corrosão induzida pelo dióxido de carbono a temperatura elevada. O moderador, 19,48 toneladas de tório e 0,88 toneladas de urânio altamente enriquecido. A
entretanto, continuou sendo grafite. temperatura máxima do combustível atingia 2300 0C e a temperatura do hélio ao sair
do reator alcançava 770 0C. O reator fornecia uma potência térmica de 842 MW e,
Os reatores nucleares de potência com estas características gerais são
mediante uma eficiência térmica total de 39,2%, gerava 330 MW elétricos.
denominados reatores avançados refrigerados a gás (AGR), sendo que o primeiro
Outro modelo de reator HTGR que merece destaque, denominado reator “leito
deles entrou em funcionamento no ano de 1962 em Windscale, Reino Unido. Tratava-
se de um protótipo projetado para fornecer 105 MW térmicos e gerar 33 MW elétricos, de esfera” (AVR), foi construído em Jülich, Alemanha. Neste reator, as partículas de
ThC2 / UC2 são dispersas em grafite e esta matriz homogênea combustível-moderador
que operou durante 20 anos. O combustível deste reator AGR protótipo era dióxido de
é fabricada na forma de esferas com diâmetro de 28 mm. Estas esferas são colocadas
urânio (UO2), com enriquecimento de 3,1% em 235U e revestimento de aço inoxidável.
Utilizava grafite como moderador e dióxido de carbono como refrigerante. Com base dentro do vaso de pressão do reator de maneira a criar uma massa crítica, enquanto
hélio é bombeado para cima através do espaço existente entre as esferas. O reator
na experiência adquirida durante a construção e operação deste protótipo, sete usinas
pode ser reabastecido em serviço, removendo-se do fundo do vaso de pressão as
nucleoelétricas britânicas foram equipadas com reatores AGR até 1988.
Para efeito de exemplo, será considerado um destes reatores, denominado esferas irradiadas e substituindo-as por esferas novas. Na saída do reator, o gás
Hunterston B. Este reator AGR típico foi projetado para fornecer 1496 MW térmicos e refrigerante chega a apresentar temperaturas de até 900 0C, característica que o torna
apropriado para usos industriais envolvendo temperaturas elevadas.
gerar 624 MW elétricos. A massa total de urânio contida na carga completa de
As temperaturas muito elevadas do refrigerante que podem ser obtidas
combustível instalada no núcleo perfaz 122,5 toneladas, e o enriquecimento da
mesma em 235U fica entre 2,0% e 2,6%. A temperatura máxima do dióxido de carbono mediante o uso de um reator HTGR tornam possível produzir vapor de água em
condições equivalentes às encontradas em usinas termoelétricas modernas.
chega a atingir 654 0C quando este gás sai do núcleo do reator. O vapor de água
Entretanto, estas temperaturas muito elevadas podem ser melhor utilizadas em uma
gerado mediante o uso deste tipo de reator atinge a temperatura máxima de 541 0C a
turbina acionada a gás do que em uma turbina acionada a vapor de água, uma vez
uma pressão máxima de 167 atm.
Devido ao custo de um reator AGR ser atualmente mais elevado que o de um que a última não aumenta o rendimento de maneira apreciável se o refrigerante que
nela incide apresenta temperaturas maiores que as obtidas por meio de um reator
reator PWR com a mesma potência, é provável que nenhum outro reator AGR venha a
ser construído no futuro. AGR. Por outro lado, turbinas acionadas a gás requerem temperaturas de entrada
muito elevadas para se tornarem competitivas, de maneira que a combinação de um
reator HTGR com uma turbina de ciclo direto acionada a gás pode constituir um
sistema promissor, embora nada deste gênero tenha ainda sido testado. Caso tal
B.6 - Reatores refrigerados a gás com temperatura elevada (HTGR)
sistema gerador de potência fosse construído, o hélio seria não apenas o refrigerante
ideal para o reator HTGR, mas também o melhor fluido operante para a turbina devido
Aperfeiçoamentos adicionais introduzidos na tecnologia de reatores de às boas propriedades termodinâmicas que apresenta.
potência refrigerados a gás deram origem ao reator refrigerado a gás com temperatura
elevada (HTGR), projetado para operar utilizando o processo de conversão 232Th /
233
U. Apenas cinco reatores deste tipo foram construídos até hoje em todo o mundo. B.7 - Reatores refrigerados a água pressurizada (PWR)
Os primeiros HTGR utilizaram como combustível uma mistura de 232Th e urânio
altamente enriquecido contendo aproximadamente 93% de 235U. Com o decorrer do
funcionamento destes reatores, o material físsil passa a ser 233U, uma vez que As excelentes propriedades da água como moderador para um reator nuclear
térmico fazem com que reatores de potência moderados a água sejam bem mais
quantidades suficientemente grandes deste nuclídeo são originadas por meio do
processo de regeneração. compactos que reatores de potência moderados a grafite. O núcleo de um reator de
O combustível nuclear contendo tório-urânio é utilizado na forma de esferas potência moderado a água pode apresentar dimensões que totalizam apenas 2 m de
altura e 3 m de diâmetro. Este fato motivou o uso inicial destes reatores na propulsão
minúsculas (diâmetro menor que 1 mm) constituídas por uma mistura de carbetos
naval, notadamente de submarinos. Foi neste contexto que o primeiro submarino com
ThC2 / UC2 e revestidas com carbono pirolítico para reter produtos de fissão. As
propulsão nuclear, o U.S.S. Nautilus, lançado ao mar em 1955 pela marinha norte-
partículas revestidas, apresentando cerca de 1 mm de diâmetro, podem ser colocadas
americana, utilizou um reator deste tipo.
junto com grafite de maneira a formar uma mistura homogênea combustível-
Outra característica importante da água, no que se refere ao uso em reatores
moderador. Devido ao fato dos pontos de fusão de ThC2, UC2 e grafite serem muito
altos, estas misturas combustível-moderador podem operar a temperaturas bastante nucleares de potência, diz respeito às propriedades termodinâmicas deste fluido como
refrigerante. Para que a água seja mantida em estado líquido mesmo a temperaturas
elevadas. Nestas condições, torna-se possível obter temperaturas do refrigerante na
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entre 100 0C e 370 0C, esta deve ser submetida a pressões correspondentemente
elevadas. Como sob o ponto de vista termodinâmico é desejável que a temperatura da
água refrigerante em um reator nuclear de potência seja a mais alta possível, torna-se
imprescindível que o reator opere em pressões bastante altas.
Devido ao fato da água utilizada como moderador e refrigerante nestes
reatores de potência estar submetida a pressões elevadas, os mesmos passaram a
ser designados como reatores refrigerados a água pressurizada (PWR). Nestes
reatores, os valores típicos para a temperatura e a pressão da água são
respectivamente 300 0C e 160 atm.
O vaso de pressão no qual está contido o núcleo do reator, assim como toda a
tubulação do circuito de refrigeração, devem ser suficientemente robustos para resistir
à pressão extremamente elevada a que estão submetidos, sem apresentar falhas
estruturais. Em geral, o vaso de pressão é feito de aço carbono revestido internamente
por uma camada de aço inoxidável, sendo a espessura total da parede igual a 215
mm.
A seção de choque para captura radiativa de nêutrons térmicos pela água é Figura 9 - Representação esquemática de um reator PWR, mostrando o núcleo, o
razoavelmente alta (0,664 b / molécula), fato que requer o uso de urânio ligeiramente vaso de pressão e o ciclo para produção de vapor.
enriquecido (em geral entre 2,5% e 3,0%) como combustível. Por fim, para evitar a
O combustível nuclear é dióxido de urânio (UO2) enriquecido em 235U a cerca
corrosão causada pela água em temperaturas elevadas, torna-se necessário utilizar
de 2,5%, utilizado na forma de pastilhas cilíndricas com 8 mm de diâmetro e 10 mm de
aço inoxidável ou ligas de zircônio como material de revestimento dos combustíveis
comprimento, acondicionadas em tubos de Zircaloy-4 com 10 mm de diâmetro e 4 m
nucleares. Desde 1968 a liga de zircônio denominada Zircaloy passou a ser adotada
de comprimento. Os tubos de Zircaloy-4 são fechados por soldagem, em ambiente
como o material padrão de revestimento dos combustíveis nucleares em reatores
altamente pressurizado, sendo as pastilhas de UO2 mantidas sob compressão no
PWR.
interior do tubo por meio de molas helicoidais. As varetas combustíveis assim
Os reatores PWR, além de muito mais compactos que reatores moderados a
constituídas são agrupadas de maneira compacta através de um arranjo quadrado
grafite, apresentam também uma densidade de potência maior, definida como sendo a
com 20 cm de lado, formando um elemento combustível do tipo mostrado na figura 10.
potência fornecida por unidade de volume do núcleo. Como conseqüência, o custo de
Cada elemento combustível assim constituído contém cerca de 236 varetas
um PWR é menor que o custo de reatores moderados a grafite para a mesma potência
combustíveis, mantidas fixas por meio de grades espaçadoras feitas com uma liga de
fornecida.
níquel (Inconel-718).
O desenvolvimento de reatores PWR para geração de eletricidade foi iniciado
logo após o uso destes reatores na propulsão de submarinos. No dia 02 de dezembro
de 1957, a primeira usina nucleoelétrica equipada com um reator PWR começou a
funcionar em Shippingport, Pennsylvania, EUA, gerando 75 MW elétricos. O reator
nuclear PWR desta usina foi projetado e construído pela Westinghouse Electric
Corporation, tendo como base a tecnologia de reatores nucleares utilizados para
propulsão naval.
Nos vinte anos que se seguiram, diversas usinas nucleoelétricas equipadas
com reatores PWR foram construídas não apenas nos EUA, mas também na França,
Alemanha Ocidental e Japão. A taxa de crescimento na construção de reatores PWR
em vários países do mundo sofreu uma redução, embora não tenha sido totalmente
contida, após o acidente ocorrido no dia 28 de março de 1979 na usina nucleoelétrica
de Three Mile Island (Pennsylvania, EUA), que utilizava um reator PWR. Neste
acidente, em decorrência de erros dos operadores e de falhas em equipamentos, a
refrigeração do reator se tornou insuficiente e o calor de decaimento dos produtos de
fissão causou derretimento de parte do núcleo do reator, incluindo elementos
combustíveis e algumas estruturas de suporte. Entretanto, o material radioativo
liberado no reator, constituído principalmente pelos produtos de fissão radioativos,
ficou contido dentro do vaso de pressão, que manteve sua integridade estrutural.
Durante os dez anos subseqüentes, atenção especial foi dedicada ao aperfeiçoamento
das condições de segurança e à melhoria das características operacionais deste tipo
de reator.
Após trinta e cinco anos de desenvolvimento, os reatores PWR atingiram um
estágio no qual a maior parte dos reatores deste tipo construídos mais recentemente
são similares uns aos outros no que se refere às características principais e aos
parâmetros operacionais. Assim pois, tanto a descrição geral que será feita a seguir
quanto a representação esquemática mostrada na figura 9 podem ser consideradas
muito mais como típicas dos atuais reatores PWR em funcionamento no mundo do
que como referentes a um reator em particular.
Figura 10 - Elemento combustível utilizado em um reator PWR.
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Por sua vez, estes elementos combustíveis são posicionados lado a lado para pressão de 157 atm. Nos geradores de vapor, vapor de água é produzido com
formar o núcleo do reator, cujas dimensões são aproximadamente 3,8 m de diâmetro e temperatura de 287 0C e pressão de 65 atm. A água do mar é captada no circuito
3,7 m de altura, contido dentro de um vaso de pressão com 4,7 m de diâmetro interno terciário e utilizada para resfriar e condensar o vapor de água produzido no circuito
e 10 m de altura. A pressão da água no núcleo e no vaso de pressão é 153 atm e as secundário, após o vapor haver passado pelas turbinas. O edifício do reator,
temperaturas da água ao entrar e ao sair do núcleo são respectivamente iguais a 295 instalação da usina onde estão contidos o vaso de pressão do reator e os geradores
0
C e 330 0C. Nos trocadores de calor, usualmente denominados geradores de vapor, de vapor, é constituído por um envoltório interno de aço e um envoltório externo de
vapor de água é produzido na temperatura de 290 0C e na pressão de 73 atm com concreto, tendo formato aproximadamente cilíndrico com 36 m de diâmetro e 58 m de
uma fração de umidade inferior a 0,0025. altura. A potência total do reator alcança 1876 MW térmicos, a partir da qual são
O controle do reator é realizado por intermédio de feixes de barras de controle gerados 626 MW elétricos.
e pela adição de ácido bórico na água. Para o desligamento do reator, utiliza-se um A usina nucleoelétrica Angra 2 é a primeira resultante do Acordo Nuclear Brasil
conjunto de barras de segurança que, em condições normais de operação, permanece – Alemanha, assinado em 1975. Angra 2 entrou em operação no ano 2000. Utiliza
totalmente fora do núcleo ativo. O material absorvedor de nêutrons que compõe as como combustível nuclear pastilhas cilíndricas de dióxido de urânio (UO2) com
barras de controle / segurança é uma liga metálica de prata-índio-cádmio (Ag-In-Cd) enriquecimento médio em 235U igual a 2,5%. As pastilhas são acondicionadas dentro
contendo em massa 80% de prata, 15% de índio e 5% de cádmio. Em caso de de varetas combustíveis feitas de Zircaloy-4 com 10,75 mm de diâmetro externo e 3,90
acidente com perda de fluido refrigerante, há um sistema de emergência para m de comprimento. As varetas combustíveis estão agrupadas de maneira compacta
resfriamento do núcleo (conhecido pela sigla ECCS) que injeta uma solução de ácido através de um arranjo quadrado com 20 cm de lado para formar um elemento
bórico diretamente nesta parte do reator. combustível. O arranjo quadrado de cada elemento combustível contém 16 x 16
Atualmente, o reator PWR padronizado fornece 3800 MW térmicos e gera 1300 varetas, mantidas fixas por meio de 9 grades espaçadoras feitas de Inconel-718
MW elétricos, com uma eficiência térmica de 34%. Comparado com reatores nucleares (primeira e nona grades) ou Zircaloy-4 (demais grades). Um total de 193 elementos
de potência refrigerados a gás e moderados a grafite, este PWR modelo apresenta combustíveis forma o núcleo do reator de Angra 2. Deste total, 61 elementos são
eficiência térmica e taxa de conversão mais baixas. Entretanto, como atualmente há denominados elementos combustíveis de controle, devido ao fato de abrigarem um
reservas abundantes de urânio disponíveis a preços não muito altos, estes fatores se feixe com 20 barras de controle cada. Estas barras de controle têm formato idêntico ao
tornaram menos importantes que o custo inferior do PWR, que é hoje o tipo de reator das varetas combustíveis e são feitas de uma liga metálica de prata-índio-cádmio (Ag-
nuclear de potência mais amplamente utilizado em todo o mundo. In-Cd, na proporção respectivamente de 80%-15%-5%) revestida com aço inoxidável.
Os dois novos modelos certificados mais recentemente (System 80+ e AP600), A carga total de combustível nuclear de Angra 2 perfaz 103,5 toneladas de urânio. O
que introduzem aperfeiçoamentos na tecnologia de reatores PWR, estão mais vaso de pressão do reator, onde ficam contidos os 193 elementos combustíveis,
direcionados para a melhoria de características operacionais, condições de segurança possui um diâmetro de 5,75 m, uma altura de 13 m e uma espessura total de parede
e desempenho econômico do que para alterações significativas nos fundamentos do de 25 cm. A água refrigerante sai do vaso de pressão do reator com temperatura de
projeto destes reatores. 329 0C e pressão de 161 atm. Nos geradores de vapor, vapor de água é produzido
com temperatura de 284 0C e pressão de 70 atm. A água do mar é captada no circuito
terciário e utilizada para resfriar e condensar o vapor de água produzido no circuito
B.7.1 - Usinas nucleoelétricas brasileiras secundário, após o vapor haver passado pelas turbinas. O edifício do reator,
instalação da usina onde estão contidos o vaso de pressão do reator e os geradores
O Brasil possui atualmente duas usinas nucleoelétricas em operação, Angra 1 de vapor, é constituído por um envoltório interno de aço e um envoltório externo de
e Angra 2, equipadas com reatores PWR. Este tipo de reator equipará também uma concreto. O envoltório interno de aço é esférico e tem 56 m de diâmetro. A potência
terceira usina nucleoelétrica, Angra 3, que está em construção. As três usinas formam total do reator alcança 3765 MW térmicos, a partir da qual são gerados 1354 MW
o Complexo Nuclear Almirante Álvaro Alberto, localizado na Praia de Itaorna, elétricos.
Município de Angra dos Reis, Estado do Rio de Janeiro. Angra 1 e Angra 2 em conjunto fornecem aproximadamente 45% da energia
A usina nucleoelétrica Angra 1 foi adquirida em 1972 pelo Governo Brasileiro elétrica consumida atualmente no Estado do Rio de Janeiro.
junto à empresa norte-americana Westinghouse Electric Corporation. Angra 1 entrou A usina nucleoelétrica Angra 3 será a segunda resultante do Acordo Nuclear
em operação em 1982. Utiliza como combustível nuclear pastilhas cilíndricas de Brasil – Alemanha, assinado em 1975. O projeto de Angra 3 é idêntico ao de Angra 2.
dióxido de urânio (UO2) com enriquecimento médio em 235U igual a 2,6%. As pastilhas
são acondicionadas dentro de varetas combustíveis feitas de Zircaloy-4 com 10 mm de
diâmetro externo e 3,65 m de comprimento. As varetas combustíveis estão agrupadas B.8 - Reatores refrigerados a água fervente (BWR)
de maneira compacta através de um arranjo quadrado com 20 cm de lado para formar
um elemento combustível. O arranjo quadrado de cada elemento combustível contém Há vantagens evidentes em permitir que ocorra ebulição no núcleo de um
16 x 16 varetas, mantidas fixas por meio de 8 grades espaçadoras feitas de uma liga reator refrigerado e moderado a água, particularmente se o vapor assim produzido for
de níquel (Inconel-718). Um total de 121 elementos combustíveis forma o núcleo do separado da água saturada e em seguida canalizado diretamente para as turbinas,
reator de Angra 1. Deste total, 33 elementos são denominados elementos configurando um ciclo direto. Este sistema elimina a necessidade da existência de
combustíveis de controle, devido ao fato de abrigarem um feixe com 20 barras de trocadores de calor, que são parte integrante do projeto de reatores PWR e acarretam
controle cada. Estas barras de controle têm formato idêntico ao das varetas tanto perdas termodinâmicas quanto aumento de custos. Uma vez que não há
combustíveis e são feitas de uma liga metálica de prata-índio-cádmio (Ag-In-Cd, na necessidade de impedir a ocorrência de ebulição no núcleo, a pressão no reator pode
proporção respectivamente de 80%-15%-5%) revestida com aço inoxidável. A carga ser muito mais baixa que a verificada em um PWR no qual vapor de água é produzido
total de combustível nuclear de Angra 1 perfaz 51 toneladas de urânio. O vaso de nas mesmas condições, o que constitui mais um aspecto favorável.
pressão do reator, onde ficam contidos os 121 elementos combustíveis, possui um As dúvidas existentes inicialmente em relação aos reatores refrigerados a água
diâmetro de 3,35 m, uma altura de 12 m e uma espessura total de parede de 20 cm. A fervente (BWR) eram referentes ao efeito que a ocorrência de ebulição no núcleo teria
água refrigerante sai do vaso de pressão do reator com temperatura de 324 0C e sobre a segurança e a estabilidade do reator. Temia-se também o risco de
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contaminação radioativa quando o vapor de água gerado no núcleo circulasse através entre 2,5% e 3,1% de 235U. O vaso de pressão tem 21,6 m de altura e 6,05 m de
das turbinas. Diversos testes e experimentos mostraram que estas preocupações na diâmetro interno, apresentando uma parede com espessura igual a 152 mm.
verdade não representam problemas sérios. A ocorrência de ebulição no núcleo do A água fervente, que funciona como refrigerante e moderador no vaso de
reator se mostrou segura e vapor de água com frações de secura de até 15% chegou pressão, encontra-se a uma pressão de 72,5 atm. O vapor de água saturado é
a ser obtido na saída do núcleo. O problema de contaminação radioativa pode ser fornecido às turbinas com temperatura de 281 0C e pressão de 65 atm. Nota-se que as
amplamente superado garantindo-se que a água do sistema apresente um grau de condições do vapor de água fornecido às turbinas é semelhante às obtidas com um
pureza bastante alto. reator PWR, porém tanto a pressão da água no interior do vaso de pressão quanto a
Os reatores BWR foram desenvolvidos paralelamente aos reatores PWR nos espessura da parede do mesmo são bem menores. A potência térmica fornecida por
EUA e, assim como estes últimos, passaram a ser construídos posteriormente em um reator BWR típico é 3580 MW, a partir da qual são gerados entre 1200 MW e 1260
grande número não apenas em território norte-americano, mas também em países MW elétricos.
como Suécia, Alemanha Ocidental e Japão. O primeiro reator deste tipo, o BWR A mistura água-vapor sai do núcleo pela parte superior, passando por
Vallecitos, começou a funcionar em 1957 gerando 5 MW elétricos. Desde então, 43 separadores de vapor e secadores de vapor. Os separadores de vapor são
usinas nucleoelétricas norte-americanas foram equipadas com reatores BWR constituídos por uma série de tubos verticais fixados por soldagem a uma base
projetados e construídos pela General Electric Company, a empresa que lidera comum, cada um contendo internamente diversas pás que obrigam a mistura água-
mundialmente a tecnologia deste tipo de reator. Destas usinas, 35 ainda continuam em vapor a efetuar um movimento helicoidal. Este movimento tem como finalidade separar
operação. a água do vapor. A água separada é recirculada e a umidade remanescente no vapor
Em muitos aspectos, um reator BWR é semelhante a um reator PWR. A é retirada nos secadores.
diferença principal é a ausência de um trocador de calor entre o reator nuclear e o Devido ao fato do espaço acima do núcleo estar ocupado por separadores e
ciclo de potência, conforme mostra esquematicamente a figura 11. Os dados secadores de vapor, as barras de controle do reator são instaladas embaixo do núcleo.
apresentados a seguir são típicos dos reatores BWR em funcionamento atualmente. Cada barra de controle possui seu próprio mecanismo de movimentação, que é
operado hidraulicamente. As barras de controle são cruciformes e a inserção das
mesmas no núcleo se faz de baixo para cima, em meio aos espaços existentes entre
os elementos combustíveis. O material utilizado nas barras de controle é carbeto de
boro (B4C).
Os reatores BWR são projetados de maneira que os maiores fluxos de calor
obtidos em condições operacionais normais atinjam cerca de 50% dos valores
previstos para o fluxo de calor crítico. Este tipo de reator nuclear possui também
coeficientes de reatividade negativos, de maneira que se a potência térmica do reator
aumenta e mais ebulição ocorre produzindo portanto maior quantidade de vapor de
água, a reatividade do reator diminui e a potência do mesmo tende a diminuir. Este é
um efeito seguro e auto-estabilizante, tornando possível controlar o reator também por
meio da variação da taxa de escoamento do refrigerante pelo núcleo. Por exemplo,
caso seja necessário reduzir a potência do reator, diminui-se a taxa de escoamento do
refrigerante, provocando como conseqüência um aumento na quantidade de vapor
produzido, o que causa uma redução de potência do reator sem a necessidade de
acionar as barras de controle.
Mais recentemente, aperfeiçoamentos foram introduzidos no projeto de
reatores BWR com a finalidade principal de proporcionar melhorias nos aspectos
operacionais e de segurança, dando origem ao chamado reator avançado refrigerado
a água fervente (ABWR), desenvolvido pela General Electric Company junto com
fabricantes de BWR de outros países. Estas melhorias incluem aumento da potência
Figura 11 - Esquema representativo de um reator BWR, mostrando as partes térmica fornecida, introdução de bombas de refrigeração internas, reforço da
componentes do mesmo: 1 – Núcleo do reator; 2 – Separadores de vapor; 3 – blindagem de concreto e instalação de sistemas de segurança adicionais. Como
Secadores de vapor; 4 – Bomba de refrigeração a jato; 5 – Bomba de recirculação; 6 – resultado destas alterações, o vaso de pressão passou a ter 7,1 m de diâmetro interno
Barras de controle; 7 – Separador de umidade e reaquecedor; 8 – Pré-aquecedores; 9 e 174 mm de espessura de parede, o número total de elementos combustíveis no
– Estrutura de sustentação do núcleo; 10 – Turbina. núcleo foi aumentado para 872 e o tamanho do núcleo do reator foi aumentado para
5,16 m de diâmetro. A potência térmica fornecida pelo reator aumentou para 3926
O combustível nuclear é constituído por pastilhas de UO2 com 10,6 mm de MW, a partir da qual são gerados 1356 MW elétricos. O ABWR foi certificado em 1997
diâmetro e 12 mm de comprimento. Estas pastilhas são acondicionadas em tubos de e já equipa duas usinas nucleoelétricas em operação no Japão.
revestimento feitos de Zircaloy-2, formando assim as varetas combustíveis. Por sua
vez, estas varetas combustíveis são posicionadas segundo arranjos quadrados de 7 x
7 ou 8 x 8 no interior de caixas com 14 cm de lado. Estas caixas constituem os B.9 - Reatores refrigerados a água pesada pressurizada (PHWR)
elementos combustíveis, que em conjunto formam o núcleo. Há aproximadamente 580
elementos combustíveis deste tipo em um núcleo com 4,7 m de diâmetro e 3,75 m de
altura, totalizando uma carga de combustível igual a 140 toneladas. O espaçamento O valor extremamente baixo da seção de choque para captura radiativa de
existente entre as varetas combustíveis é um pouco maior que em um reator PWR, nêutrons térmicos pela água pesada (1,06 mb / molécula) a tornam um moderador
fato que torna o diâmetro do núcleo um pouco maior. O urânio contido no combustível excelente para reatores térmicos, que pode ser também usado como refrigerante.
é enriquecido entre 1,7% e 2,5% em 235U, enquanto o combustível de troca contém
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Reatores moderados e refrigerados a água pesada podem ser abastecidos
com urânio natural e apresentam boa economia de nêutrons. Estas características
proporcionam baixos custos de combustível, boas taxas de conversão e índices
elevados de queima do combustível. Uma desvantagem da água pesada é o custo
muito elevado para produzi-la, o que torna importante evitar perdas em tubulações e
trocadores de calor. Outra desvantagem é a temperatura crítica da água pesada, que
limita a temperatura máxima do refrigerante e torna necessário submetê-lo a pressões
muito elevadas. Cabe destacar que, em razão desta última limitação, as
características termodinâmicas de reatores refrigerados a água pesada e de reatores
refrigerados a água são muito semelhantes.
No final da Segunda Guerra Mundial, apenas o Canadá possuía uma
instalação industrial necessária para produzir quantidades consideráveis de água
pesada. Esta capacidade foi decisiva para que nos anos seguintes aquele país
optasse pelo desenvolvimento de reatores nucleares de potência refrigerados e
moderados a água pesada, que culminou com o início da operação do primeiro reator
deste tipo em 1962 para geração de eletricidade. Este tipo de reator, denominado
reator refrigerado a água pesada pressurizada (PHWR), é também usualmente
designado como CANDU (uma sigla para “Canadian Deuterium Uranium”). Figura 12 - Esquema representativo de um reator PHWR da usina nucleoelétrica de
Atualmente, toda a capacidade nucleoelétrica instalada do Canadá é constituída por Pickering, mostrando as partes componentes do mesmo.
reatores PHWR, que teve algumas unidades exportadas para Índia, Argentina,
Romênia, Coréia do Sul, Paquistão e República Popular da China. As duas usinas Uma versão alternativa do reator PHWR é o reator moderado a água pesada e
nucleoelétricas da Argentina (Atucha 1 e Embalse) e a única usina nucleoelétrica da refrigerado a água comum. A substituição de água pesada por água comum como
Romênia (Cernavoda 1) são equipadas com reatores PHWR. Atualmente há também, refrigerante reduz consideravelmente o custo do reator. Nesta versão ainda é possível
entre outros, doze reatores PHWR equipando usinas nucleoelétricas em operação na usar combustível nuclear contendo urânio natural, embora alguns reatores deste tipo
Índia e quatro equipando usinas nucleoelétricas em operação na Coréia do Sul. usem urânio levemente enriquecido. Uma vantagem adicional deste sistema é que se
Os reatores PHWR possuem algumas características que os distinguem dos pode deixar a água comum ferver nos tubos de pressão, utilizando-se um sistema de
demais tipos de reatores nucleares de potência. Para descrevê-las, será considerado ciclo direto, no qual a separação da mistura água / vapor é efetuada em cilindros
como exemplo um reator da usina nucleoelétrica de Pickering, Ontario, Canadá. rotatórios externos e vapor saturado seco é fornecido para as turbinas. Este tipo de
O moderador é contido em um vaso cilíndrico denominado calândria, feito de reator combina as características favoráveis da água pesada enquanto moderador
aço inoxidável, com espessura de parede igual a 26,8 mm e cujo eixo apresenta com o ciclo direto de um reator BWR. O reator gerador de vapor moderado a água
orientação horizontal. A calândria possui 6 m de comprimento e 7,1 m de diâmetro. pesada (SGHWR), desenvolvido no Reino Unido, é um exemplo de reator que utiliza
Um total de 380 tubos horizontais de Zircaloy passam através da calândria. No interior um sistema de ciclo direto. A calândria de reatores SGHWR, embora similar à
de cada um destes tubos há um tubo de pressão de Zircaloy com diâmetro interno existente em reatores PHWR, possui eixo orientado verticalmente (ver a última
igual a 104 mm, sendo o espaço existente entre os dois tubos preenchido com gás ilustração apresentada na figura 8).
hélio para obter isolamento térmico. Esta configuração permite que a água pesada
dentro da calândria seja mantida a uma temperatura mais baixa (65 0C) e que a água
pesada refrigerante contida nos tubos seja pressurizada. Desta forma o moderador e o B.10 - Reatores rápidos (FBR)
refrigerante, embora sendo ambos água pesada, estão separados fisicamente no
reator.
O primeiro reator rápido do mundo foi construído em Los Álamos, Novo México,
Dentro de cada tubo de pressão há 12 feixes combustíveis, cada um com 0,5 m
EUA no ano de 1946. Alguns anos depois, em dezembro de 1951, o reator rápido
de comprimento e constituído por um conjunto de 28 varetas combustíveis. O
denominado Reator Conversor Experimental (EBR-1) em Arco, Idaho, EUA entrou
combustível nuclear é dióxido de urânio natural (UO2) na forma de pastilhas com 22,3
para a história como o primeiro reator nuclear do mundo a gerar energia elétrica,
mm de comprimento e 14,8 mm de diâmetro que, acondicionadas em tubos de
embora não integrado à rede pública de fornecimento de energia.
Zircaloy-4 com 0,42 mm de espessura e 15,6 mm de diâmetro, formam as varetas
Em reatores rápidos, a energia cinética dos nêutrons que induzem reações
combustíveis. A carga total de combustível no núcleo deste reator perfaz 90,5
nucleares de fissão está situada na faixa entre 10 keV e 1 MeV. Ao contrário do que
toneladas de UO2 e o diâmetro efetivo do núcleo é 6,74 m. A temperatura máxima do
ocorre em reatores térmicos, os reatores rápidos não possuem moderador e utilizam
combustível é aproximadamente 2000 0C, enquanto na superfície externa do
combustível nuclear altamente enriquecido. Em geral, dois tipos de combustível
revestimento esta temperatura alcança 304 0C.
nuclear são utilizados em reatores rápidos: a) dióxido de urânio enriquecido entre 25%
A pressão da água pesada refrigerante no reator é 88,3 atm, e as temperaturas
e 50% em 235U, b) mistura denominada óxido misto, que contém 75% de dióxido de
com que este fluido entra e sai do núcleo são respectivamente 250 0C e 293 0C. Nos
urânio depletado (que é praticamente 238U puro) e 25% de dióxido de plutônio (239Pu).
trocadores de calor, vapor é produzido a 251 0C e 41 atm. A potência térmica fornecida
Como conseqüência, o custo inicial do combustível nuclear destes reatores é muito
por reator deste tipo (há cinco deles em operação na usina nucleoelétrica de
alto e para tornar economicamente viável o funcionamento dos mesmos torna-se
Pickering) é 1744 MW, a partir da qual são gerados 515 MW elétricos, resultando em
necessário operá-los em condições que propiciem graus elevados de queima. Por
uma eficiência térmica de 29,5%. Este valor relativamente baixo da eficiência é
exemplo, o grau de queima em reatores rápidos é da ordem de 100.000 MWdia /
compensado pelo baixo custo do combustível nuclear utilizado, pois a fabricação do
tonelada, enquanto em um reator PWR típico o mesmo grau perfaz 30.000 MWdia /
mesmo não requer o enriquecimento do urânio. A figura 12 mostra o esquema
tonelada.
representativo de um dos reatores PHWR da usina nucleoelétrica de Pickering.

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A concentração elevada de material físsil e a ausência de qualquer moderador através da qual é formado o isótopo radioativo 24Na. Este isótopo possui meia-vida de
tornam o núcleo de um reator rápido muito pequeno comparado com o núcleo de um 15,02 horas e emite dois raios-gama de energia muito alta (1368,5 keV e 2753,9 keV)
reator térmico de mesma potência. Para efeito de comparação, o reator rápido com intensidades absolutas de emissão elevadas (praticamente 100%). Portanto, o
protótipo (PFR) localizado em Dounreay, Reino Unido, operou entre 1975 e 1994 sódio que flui no circuito de refrigeração primário não pode passar fora da blindagem
fornecendo uma potência térmica de 600 MW a partir de um núcleo com 1 m de altura biológica. Um circuito secundário de sódio é então necessário para estabelecer a
e 1,8 m de diâmetro, enquanto o reator AGR britânico Hunterston B fornece uma circulação de refrigerante entre o trocador de calor primário (localizado dentro da
potência térmica de 1500 MW em um núcleo com 8,2 m de altura e 9,3 m de diâmetro. blindagem biológica, mas separado do núcleo por uma blindagem para barrar
Assim pois, a densidade de potência do reator PFR resultou quase cem vezes maior nêutrons) e os geradores de vapor.
que em um reator AGR. No reator rápido PFR de Dounreay, o sódio que fluía no circuito de refrigeração
A densidade de potência excepcionalmente elevada que caracteriza os primário passava através dos subconjuntos combustíveis hexagonais contidos no
reatores rápidos impõe certos parâmetros de projeto especiais. Para simultaneamente núcleo, ingressando nesta parte do reator com a temperatura de 430 0C e saindo dela
reduzir a temperatura máxima do combustível nuclear e obter temperaturas elevadas com a temperatura de 595 0C. No trocador de calor primário, o sódio que fluía no
do fluido refrigerante, as varetas combustíveis devem ter um diâmetro muito pequeno, circuito secundário era aquecido a uma temperatura de 590 0C. Por fim, nos geradores
assumindo a forma de pinos. Os pinos combustíveis do reator rápido PFR de de vapor era produzido vapor de água a uma pressão de 160 atm e a uma
Dounreay continham pastilhas cilíndricas de UO2 + PuO2 com 6 mm de diâmetro temperatura de 565 0C. A potência térmica fornecida pelo reator totalizava 600 MW, a
acondicionadas em tubos de aço inoxidável. A quantidade de 239Pu no combustível partir da qual eram gerados 250 MW elétricos.
nuclear variava entre 22% e 30%. Um total de 325 pinos combustíveis, posicionados Atualmente há apenas três reatores nucleares de tipo FBR em operação no
fixamente por meio de grades espaçadoras, formavam um subconjunto combustível mundo: Beloyarsky 3, na Rússia (560 MW elétricos, mostrado na figura 13); Monju, no
hexagonal em que os lados opostos distavam 142 mm. O núcleo era constituído por Japão (246 MW elétricos) e Phenix, na França (233 MW elétricos). É importante
70 subconjuntos combustíveis. As barras de controle do reator eram feitas de carbeto destacar que o reator FBR denominado Superphenix 1 operou na França entre 1986 e
de boro (B4C). 1998 gerando 1200 MW elétricos.
O núcleo era totalmente circundado por um envoltório no qual o combustível
consistia apenas em urânio depletado. Assim, nêutrons que escapavam do núcleo e
alcançavam o envoltório podiam sofrer captura radiativa e produzir 239Pu. Uma
pequena fração da potência fornecida pelo reator era proveniente do envoltório, onde
este 239Pu era fissionado. Os subconjuntos combustíveis colocados no núcleo do
reator continham urânio depletado nas extremidades inferior e superior para formar o
envoltório axial. A parte central de cada pino combustível, com um comprimento de
914 mm, era preenchida pelas pastilhas de óxido misto para formar o núcleo
propriamente dito.
O refrigerante usado neste tipo de reator precisa apresentar propriedades
excelentes no que se refere à transferência de calor, além de não ser moderador.
Água comum e água pesada são moderadores, enquanto gases não possuem
propriedades adequadas no que diz respeito à transferência de calor. Nestas
circunstâncias, restam como refrigerantes os metais líquidos. Todos os reatores
nucleares rápidos construídos até hoje utilizaram como refrigerantes sódio metálico
líquido (a grande maioria) ou então uma liga metálica de sódio-potássio em estado
líquido. Ambos possuem pontos de ebulição bastante elevados à pressão atmosférica
(890 0C no caso do sódio), de maneira que não é necessário pressurizá-los no reator.
A inexistência de componentes altamente pressurizados no sistema primário de
um reator nuclear rápido constitui uma característica favorável no aspecto de
segurança. A maioria dos projetos de reatores rápidos apresenta o núcleo e o sistema
de refrigeração primário instalados dentro de um grande vaso de aço inoxidável
preenchido com sódio metálico líquido a pressão próxima da atmosférica. O espaço
que dentro do vaso está situado acima do nível atingido pelo sódio metálico líquido é
totalmente preenchido com o gás nobre argônio para evitar a ocorrência de reações
químicas.
O uso de sódio metálico como refrigerante em reatores nucleares apresenta
uma série de desvantagens. O ponto de fusão deste metal é 98 0C, o que obriga a
manter o reator acima desta temperatura quando desligado. Este inconveniente pode
ser superado pelo uso de uma liga eutética sódio-potássio (contendo 78% de potássio
e 22% de sódio), cujo ponto de fusão é igual a 11 0C. O problema mais sério, no
entanto, consiste no fato de sódio metálico reagir quimicamente de maneira violenta
Figura 13 - Diagrama do reator FBR da usina nucleoelétrica Beloyarsky 3, mostrando
com ar e principalmente com água, o que torna a integridade estrutural de
as partes componentes do mesmo: 1 – Envoltório do tanque; 2 – Bomba de
componentes como tubulações e trocadores de calor absolutamente essencial.
refrigeração; 3 – Motor elétrico; 4 – Tampão giratório; 5 – Trocador de calor; 6 –
Além dos problemas já enumerados, o sódio é ativado ao passar pelo núcleo
Coluna central contendo o mecanismo de acionamento das barras de controle; 7 –
do reator como conseqüência da reação nuclear de captura radiativa 23Na(n, )24Na, Mecanismo de recarga do combustível; 8 – Núcleo do reator.
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O custo muito alto e a existência de reservas abundantes de urânio com preços
razoavelmente baixos são obstáculos atuais de ordem econômica que dificultam a
utilização em larga escala dos reatores nucleares rápidos. É provável que apenas em
R
REEF
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RÊÊN
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ASS B
BIIB
BLIO
OGGRÁ
ÁFFIICA
AS
meados do presente século este tipo de reator passe a exercer um papel importante
na geração nucleoelétrica mundial, talvez na condição de sucessor dos diversos O presente roteiro de estudos foi elaborado mediante consulta das obras
relacionadas a seguir.
reatores nucleares térmicos e antecessor dos reatores nucleares a fusão.

I - FÍSICA DOS REATORES NUCLEARES

1) I. Kaplan, Nuclear Physics, Addison-Wesley Publishing Company Inc., Reading


(1977).
2) W. E. Meyerhof, Elements of Nuclear Physics, McGraw-Hill Book Company, New
York (1989).
3) P. F. Zweifel, Reactor Physics, McGraw-Hill Kogakusha Ltd., Tokyo (1973).
4) JNDC Nuclear Data Library of Fission Products, Japan Atomic Energy Research
Institute – JAERI 1287, Tokai-mura – Naka-gun – Ibaraki-ken (October/1983).
5) K. N. Mukhin, Experimental Nuclear Physics – Volume I – Physics of Atomic
Nucleus, Mir Publishers, Moscow (1987).
6) J. R. Lamarsh, Introduction to Nuclear Reactor Theory, Addison-Wesley Publishing
Company Inc., Reading (1972).
7) J. J. Duderstadt and L. J. Hamilton, Nuclear Reactor Analysis, John Wiley & Sons
Inc., New York (1976).

II - TERMODINÂMICA E TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM REATORES


NUCLEARES

1) D. J. Bennet and J. R. Thomson, The Elements of Nuclear Power, Longman


Scientific & Technical, London (1989).
2) M. M. El-Wakil, Nuclear Heat Transport, International Textbook Company, Scranton
(1971).

III - TIPOS DE REATORES NUCLEARES

1) D. J. Bennet and J. R. Thomson, The Elements of Nuclear Power, Longman


Scientific & Technical, London (1989).
2) I. R. Cameron, Nuclear Fission Reactors, Plenum Press, New York (1982).
3) M. M. El-Wakil, Nuclear Energy Conversion, International Textbook Company,
Scranton (1971).
4) K. Gladkov, The Powerhouse of the Atom, Mir Publishers, Moscow (1977).
5) M. J. Gaines, Energia Atômica, Edições Melhoramentos - Série Prisma - Número
18, São Paulo (1977).
6) R. de Biasi, A Energia Nuclear no Brasil, Biblioteca do Exército – Editora, Rio de
Janeiro (1979).
7) V. E. Levin, Nuclear Physics and Nuclear Reactors, Mir Publishers, Moscow (1981).
8) R. L. Murray, Nuclear Energy, Pergamon Press, Oxford (1993).
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