Você está na página 1de 3

ACESSIBILIDADE ESPACIAL NO NÚCLEO URBANO ORIGINAL:

Redesenhando o mobiliário da Praça Nereu Ramos em Criciúma/SC

SAVI, Aline Eyng (1);


FELTRIN, Rodrigo Fabre (2)
(1) Universidade do Extremo Sul Catarinense, Professora Mestre em Arquitetura e Urbanismo
e-mail:arquiteta.alinesavi@gmail.com
(2) Universidade do Extremo Sul Catarinense, Graduando em Arquitetura e Urbanismo
e-mail: fabrefeltrin@gmail.com

RESUMO

O espaço público exerce funções simbólicas, formais e funcionais, mas atualmente há perda dessas
qualidades. Para resgata-las, é importante repensar as relações estabelecidas entre usuários x tarefas. O
objetivo é apresentar a metodologia de análise crítica aplicada no Trabalho de Conclusão de Curso
utilizada para reconhecer a Praça Nereu Ramos, Criciúma/SC e redesenhar o mobiliário considerando o
Desenho Universal como filosofia de projeto. Os métodos usados foram: fundamentação teórica, Passeio
Acompanhado e Tabelas de Restrições dos Usuários. A proposta é apresentada em croquis e visa
proporcionar ao usuário segurança, conforto e independência no uso, deslocamento, orientação e
comunicação.
ABSTRACT
Public space has symbolic functions, formal and functional, but currently these qualities are being lost. To
rescue them, it is important to rethink the relations established between users x tasks. The objective is
redesign the furniture considering Universal Design as design philosophy at Nereu Ramos Place,
Criciúma/SC. The methods used were: Literature Review, “Walking Together” and "Tables of Restriction
of the User”. The proposal is presented the project and to provide to the user security, comfort and
independence in the use, displacement, orientation and communication in public space.

1. INTRODUÇÃO

A palavra: público tem origem latina na palavra publicus, com significado: o que diz respeito a todos.
Nesse contexto, o espaço público tem função primordial de socialização. Nas definições teóricas, pode
ser classificado como: espaços projetáveis, não edificados e não contidos dentro das edificações,
englobando ruas, praças, parques, entre outros (SANTOS, 1987).
O espaço público exerce funções simbólicas, formais e funcionais para a cidade. Dentre elas: a simbólica
pela memória e identidade sociocultural; a formal pela configuração do desenho urbano; e a funcional
pela melhoria das condições de habitabilidade (SANTOS, 1987).
As cidades contemporâneas sofrem com o processo de perda dessas funções. Alguns espaços públicos
se tornaram residuais na malha urbana: sem uso, com pouca apropriação e identidade. Há a substituição
por espaços semi-públicos, como as áreas sociais dos condomínios e até mesmo, os shoppings centers.
Esse caráter contudo, não abriga a população em sua totalidade, segregando-a social e espacialmente.
Em algumas cidades, o espaço público com funções simbólicas, formais e funcionais mais expressivas é
o núcleo urbano original. Esse local possui riqueza histórica-patrimonial e por conta de sua importância à
memória e identidade coletiva, merecem proteção e preservação. No entanto, o resgate e a valorização
de um espaço público tão rico em significados, não acontecem sem que as intervenções considerem o
caráter democrático. Sem que promovam e garantam o acesso a toda e qualquer pessoa. Por acesso,
entenda-se acesso aos valores socioculturais e também, ao espaço físico.
Para promover a acessibilidade e garantir que o espaço público seja como na origem etimológica, é
necessário vencer barreiras sociais, atitudinais e físicas. As duas primeiras dependem de mudanças
graduais dos valores socioculturais. As barreiras físicas por sua vez, podem contribuir para que as
anteriores possam ser vencidas e principalmente, para que o espaço possa ser realmente público. Nesse
contexto, o Desenho Universal apresenta-se como uma filosofia de projetual que considera a diversidade
humana na elaboração dos espaços e seus componentes e contribui para que intervenções em espaços
públicos possam ser promotoras de acesso a um número maior de usuários.
Com base nos conceitos apresentados, esse resumo expandido apresenta a metodologia de análise
crítica utilizada para reconhecer as relações estabelecidas entre usuários x tarefas no núcleo urbano
original – Praça Nereu Ramos – na cidade de Criciúma/SC, para intervenção através de reproposta de
desenho do mobiliário urbano. Esse estudo foi realizado durante o Trabalho de Conclusão de Curso em
Arquitetura e Urbanismo pela Universidade do Extremo Sul Catarinense.
A cidade de Criciúma no sul do estado de Santa Catarina foi fundada especialmente por imigrantes de
origem italiana, e até 1940 o município era essencialmente agrícola. Com a exploração do carvão e a
instalação de grandes empresas, a cidade cresceu e a marca dessa pujança é refletida na construção de
edifícios no estilo Art Déco em torno do núcleo original – Praça Nereu Ramos.
A Praça ainda conserva a característica de espaço público como em sua fundação. É a área onde se
localizam os principais estabelecimentos comerciais e de serviço. A concentração de atividades nos
arredores acarreta grande fluxo de pedestres diariamente. Essa característica e as atuais revitalizações
geraram o interesse em redesenhar o mobiliário urbano, considerando o Desenho Universal como
filosofia de projeto, visto que o mobiliário atual desconsidera questões de acessibilidade espacial nas
relações entre usuário x tarefas.

2. METODOLOGIA

A abordagem do estudo de caso foi teórica, descritiva e crítica. A sistematização das etapas para a
obtenção dos dados do estudo de caso baseou-se na combinação diferentes instrumentos:
fundamentação teórica, o Passeio Acompanhado (DISCHINGER, 2000) e as Tabelas de Restrições dos
Usuários elaboradas pelo Grupo de Pesquisa “Desenho Universal aplicado ao Paisagismo” (BINS ELY,
2008). Cabe ressaltar que houve uma ordem sequencial para a aplicação de cada etapa e a opção de
combina-los teve a intenção de complementar as limitações apresentadas por cada um deles nesse
estudo.
Para a fundamentação teórica da pesquisa, foi adotada: a revisão de literatura, que serviu de base para
coletar informações teóricas, descritivas e críticas referentes: Acessibilidade, Desenho Universal e
Espaços Públicos com interesse histórico-patrimonial. Auxiliou também, na identificação das
necessidades e habilidades dos usuários em relação às tarefas realizadas.
O Passeio Acompanhado (DISCHINGER, 2000) buscou a percepção do espaço mais próxima à do
usuário, a partir de situações reais de uso. Afinal, ele consiste na escolha de usuários para percorrer um
percurso dentro do espaço. A ação permite que as análises feitas levem em conta a vivência real de uma
pessoa com deficiência. Desses resultados foram obtidas informações que dificilmente seriam
conseguidas com entrevistas tradicionais e com a tentativa de simular tais situações.
Na elaboração de mobiliário urbano para um espaço público acessível, é de suma importância o
conhecimento das necessidades e habilidades específicas dos usuários. Para tanto, utilizou-se as
Tabelas de Restrições dos Usuários (BINS ELY, 2008), que identificam as limitações apresentadas pelas
pessoas com deficiências no uso de espaços públicos livres e estipulam diretrizes projetuais. Estas
tabelas foram criadas a partir dos componentes de acessibilidade e a classificação dos tipos de restrição.
O estudo considerou pessoas com deficiências sensoriais, físico-motoras e psico-cognitivas.

3. PROPOSTA
Nesse resumo expandido são apresentados alguns croquis da proposta de intervenção explorando o
mobiliário urbano. A intenção foi qualificar os ambientes, atribuindo-lhes segurança e conforto nas
relações entre usuário e tarefa, com vistas de promover acessibilidade espacial.
O partido de projeto foi reforçar a articulação dos planos espaciais verticais e horizontais, trabalhando
com um elemento contínuo denominado de “linha mestra” - que articula os espaços ao mobiliário urbano
e serve de orientação e legibilidade. Essa linha foi releitura de conceitos da arquitetura Art Déco
presentes no local, e traduzidos para uma linguagem contemporânea. A postura objetiva ainda, resgatar
a função simbólica que a Praça Nereu Ramos possui a seus usuários.
A Figura 01 ilustra o passeio da Praça, onde a “linha mestra” diferencia o piso e redistribui o mobiliário
urbano sobre ela, tornando a circulação acessível a todos. A diferenciação no tratamento dos planos
horizontal (piso) e vertical (mobiliário) por cor, textura e desenho, determina as áreas de circulação e
permanência. Isso torna o ambiente mais seguro e permite a orientação e legibilidade do usuário na
obtenção da informação e no uso. Nota-se ainda, a presença de vegetação como importante elemento na
configuração dos espaços abertos. As cores foram usadas para diferenciar do piso. O contrate da
floração ou da ausência dela permite que o usuário possa identificar os ambientes
A “linha mestra”, apresentada na Figura 02, serve como faixa exclusiva para o mobiliário e permite que a
área de circulação esteja livre de obstáculos, diminuindo eventuais situações de perigo. A configuração
dos espaços na “linha” permite a participação efetiva e equitativa dos usuários em suas diversas
atividades, pois o mobiliário (e.g. bancos e luminárias) é acessível a todos.
Na Figura 03, a iluminação foi adequada para a fácil leitura espacial, contribuindo também para a
compreensão e segurança do ambiente. As luminárias potencializam a visão dos usuários, tanto dos
deficientes visuais parciais como dos demais. As lixeiras foram desenhadas para atender à diversidade
de usuários: altura adequada e formas simples, de fácil compreensão de uso. Os bancos possuem
cuidados ergonômicos e os cantos arredondados para proporcionar segurança e durabilidade, já que
podem ser suscetíveis à quebra.

Figura 01: Passeio público. Figura 02: “Linha mestra”. Figura 03: Mobiliário urbano.

4. CONCLUSÃO

Se ao espaço público cabe exercer um papel fundamental para a integração social de todos os indivíduos
de uma cidade, é fundamental que as intervenções espaciais considerem a diversidade de público e
tarefas ali realizadas. Para que a Acessibilidade seja tratada com a amplitude que o conceito possui,
considerar a acessibilidade espacial e tratar o projeto universalmente são formas eficazes de alcança-la.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BINS ELY, Vera Helena Moro; DORNELES, Vanessa Goulart; KOELZER, Mirelle Papaleo. Desenho
Universal Aplicado ao Paisagismo. Florianópolis: Vera Helena Moro Bins Ely (ed.), 2008 (Cd
multimídia). Disponível em: <http://arqvanessadorneles.wordpress.com>. Acesso em: 27 dez. 2012.
DISCHINGER, Marta. Designing for all senses: accessible spaces for visually impaired citizens.
Department of Space and Process – School of Architecture, Chalmers University of Technology.
Göteborg, Suécia, 2000. 206 f.
SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987. Coleção espaços.

Você também pode gostar