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Mestrado em Planejamento Urbano e Regional

2º bimestre 2017

Disciplina: PRU 705 - Planejamento Urbano e Regional no Brasil II

Professora: Hipólita Siqueira

Aluno: Gabriel do Carmo Lacerda

Resenha do texto: MOURA, R.; HOSHINO, T. A. P. (2015). Estatuto da


Metrópole: enfim, aprovado! Mas o que oferece à metropolização
brasileira?

O presente texto foi escrito no calor do momento de aprovação do


Estatuto da Metrópole em 2015 e nele os autores discutem os elementos
envoltos no processo de construção e identificação da metrópole e, a partir
disso, quais dispositivos presentes no Estatuto podem contribuir para
metropolização brasileira.

Ainda em 2004 foi lançado o primeiro projeto, contudo, o mesmo foi


arquivado em 2007. No ano seguinte forma-se outra Comissão Especial para
debater o assunto, entretanto, o processo empaca novamente em Janeiro de
2011. Em Março um Projeto de Lei é tentado novamente e o seu relator Zezéu
Ribeiro consegue avançar o processo e arregimentar o apoio necessário, bem
como os quadros técnicos necessários para que o PL tivesse clareza e
coerência legislativas atrelado aos elementos de participação democrática e
ser finalmente aprovado em Janeiro de 2015.

O primeiro – e já difícil – passo foi encontrar uma metrópole para o


Estatuto. No primeiro projeto de lei os números requeridos para classificar o
que seria uma Região Metropolitana (RM) e Aglomeração Urbana (AU), eram
que o núcleo central tivesse ao menos 5% e 2,5% da população brasileira,
respectivamente. Sendo assim, somente São Paulo e Rio de Janeiro estariam
aptas a se tornarem RM e AU, o que era, evidentemente, descabido, pois a

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desde de 1974 já existiam ao menos sete RMs criadas pela Ditadura no
contexto do II PND. Estas – no momento de sua criação – já envolviam
processos e funções muito mais complexas do que meramente critérios
demográficos e de ocupação. Por isso a proposta foi rapidamente abortada.
Contudo, o PL estabelecia as diretrizes para a Política Nacional de
Planejamento Regional Urbano (PNPRU) e desenhava o Sistema Nacional de
Planejamento e Informações Regionais Urbanas, lançado, então, bases para
diversas políticas setoriais em áreas como a de Habitação, Saneamento,
Mobilidade e etc. Estas políticas e programas, gradativamente, obtiveram
adesão da sociedade, logo, ganhando legitimidade e auxiliando na criação dos
fundamentos do seria chamado de Funções Públicas de Interesse Comum
(FPIC). É exatamente esse conceito e sua dimensão urbano-regional que dá
sustentação ao próprio Estatuto da Metrópole, pois essa natureza urbano-
regional dos impactos das políticas de Saneamento, Habitação, Mobilidade que
afeta escalas muito mais amplas do que aquelas correspondentes somente a
dimensão dos municípios. O resultado são conformações espaciais tanto para
programas e políticas públicas, quanto institucionais – vide o próprio Estatuto
da Metrópole – para dar conta desta nova realidade que o processo
metropolização-urbanização-produtivo-ambiental engendrou. Em outras
palavras e tentando resumir, pode-se dizer que são existência das FPICs são
um dos fatores chaves que dão liga aos processos de institucionalização de
RMs, AUs e, também, Microrregiões.

Entretanto, como o processo de regulamentação de RMs, AUs ficaram a


cargo dos Governos Estaduais o que se viu foi a proliferação de delimitação de
RMs – chegando, inclusive, ao ponto de um Estado como Santa Catarina ser
todo divido em RMs. Além da banalização deste instrumento que respondia,
tanto a imperativos políticos, quanto ao fato que essa institucionalização
facilitava o acesso a fundos especiais destinados às RMs. Assistiu-se ao salto
de 9 para mais de 60 RMs até a aprovação do Estatuto da Metrópole. Este,
conforme expostos acima, tentava estacar esse processo através da ideia de
FPICs e também na participação democrática na gestão das mesmas.
Contudo, o que se observa é a falta de presença de ambos os fatores em todas
as RMs criadas pelos governos estaduais. Sendo assim, a importância do

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Estatuto da Metrópole foi de clarificar conceitos, definir instrumentos, apontar
fontes de recursos e garantir a montagem de uma institucionalidade capaz que
de garantir estruturas de gestão com mecanismos integradores e participativos.

Como destaque da nova lei cabe salientar que são consideradas


metrópoles aquelas cidades que tenham ao menos influência regional segundo
o padrão do IBGE. Outro elemento importante – e que já foi salientado – é a
questão da Gestão interfederativa das FPICs, ou seja, que envolvem os entes
estaduais e municipais, além da participação da sociedade civil em sua gestão.
A expectativa é que essa medida abre oportunidades para inovações na
modelagem administrativo-financeira para as próximas licitações de serviços
públicos de impacto supralocal, sendo assim, abrem-se possibilidade de
tensionar velhos pactos de rixas político-partidárias locais em prol do bem
comum mais amplo. Outro aspecto importante no Estatuto da Metrópole diz
respeito a o Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado (PDUI) que envolve
articulação de todos os entes federativos envolvidos, além da sociedade civil
para um funcionamento de no mínimo 10 anos e que deve ser concluído para
todas as RMs até 2018. Esse ponto se liga a questão da Gestão Plena que
deve ser instalada, implicando – caso haja desrespeito – na pena aos
Governos Estaduais que desrespeitarem os princípios contidos neste artigo. Ou
seja, antes a responsabilidade caia inteiramente sobre os municípios, após a
aprovação do Estatuto a responsabilidade fica compartilhada entre estes e a
esfera estadual. Outro elemento importante é a existência de um subsistema
que contenha dados estatísticos, cartográficos, ambientais e geológicos da RM
em questão para auxiliar o planejamento, gestão e execução das FPICs.

Ainda resta ressaltar um elemento que foi vetado na sanção do Projeto


de lei, a saber: não criação de um Fundo Nacional de Desenvolvimento Urbano
Integrado, seja por uma questão conjuntural de disponibilidade de recursos,
logo, rechaçado pelos Ministérios do Planejamento e da Fazenda, seja porque
é difícil que os Municípios e Estados com poucos recursos próprios e disputa
por repassem federais, terem, ainda, que repassar a um fundo nacional parte
de suas receitas.

Por fim, os autores criticam alguns pontos do Estatuto, sobretudo, que


ele poderia ter sido mais incisivo como, por exemplo, os Estados deveriam

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determinar a oficialização de RMs e AUs que já estivessem consolidadas,
deveria haver a estipulação de prazos também para que a organização do
arranjo interfederativo e a gestão plena estivessem em funcionamento, não
somente o PDUI, de ordenar a compatibilização dos planos setoriais com o
próprio PDUI. Contudo, os autores ressaltam que o Estatuto da Metrópole joga
mais lenha na necessidade tanto de uma Reforma Política, quanto na revisão
do pacto federativo nacional, pois – via FPICs/reorganização interfederativa
que envolva estados e municípios – há caminhos para novos arranjos de
gestão, sobretudo, se o viés de participação democrática da sociedade civil for
levado a cabo.

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