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Biografia[editar | editar código-fonte]

As obras de Macróbio são relativamente conhecidas há muito tempo. Eram lidas ao longo
da Idade Média, mas não se sabe praticamente nada sobre o seu autor. Sua ascendência
é desconhecida, pois ele mesmo se denomina, ou é denominado, Theodosius. Existem
fortes presunções de que Macróbio e o poeta Aviano sejam a mesma pessoa. Várias
conjeturas o apontam como cidadão romano do Norte da África ou um patrício
da Hispânia que veio fazer carreira de alto funcionário em Roma.
É certo que foi alto funcionário do Império Romano, pois os incipit dos manuscritos trazem
a menção vir clarissimus et illustris. Clarissimus significa que pertencia à ordem senatorial
e illustris que foi prefeito do pretório ou prefeito da cidade de Roma. Segundo o historiador
Alan Cameron, teria sido prefeito do pretório em 430[1].
Na Idade Média, Macróbio foi identificado como autor cristão e por isso pôde gozar de boa
reputação, que lhe permitiu ser lido, estudado e citado pelos filósofos mais ilustres,
como Pedro Abelardo. Suas obras foram copiadas pelos amanuenses nos mosteiros e
assim não foram esquecidas. Mas, terminada a Idade Média, foi num primeiro momento
desprezado pelos humanistas e posto em segundo plano no século XV, pois
ao neoplatonismo a maior parte dos estudiosos preferia as obras do próprio Platão.
Há algumas décadas duas coisas são aceitas como certas pelos historiadores: era de
origem africana, mas não de cor negra, e também não era cristão, pois construiu uma
carreira política, exercendo cargos importantes. Isso não seria possível se fosse cristão,
pois em sua época a vida política era proibida aos seguidores do cristianismo. Além disso,
suas obras não contêm elementos que façam supor que tenha realmente sido cristão.
Pesquisas eruditas recentes sobre os manuscritos permitem situá-lo na esfera de
influência da família de Quinto Aurélio Símaco. O nome de um neto de Macróbio é
identificado em diversos desses manuscritos, que também fazem menção a um
descendente de Símaco. O filho de Macróbio, ao qual ele se refere com carinho no início
do comentário ao Sonho de Cipião, se chamaria Flavius Macrobius Plotinus Eusthatius e
seu neto se chamaria Flavius Macrobius Plotinus Eudoxus[2].

Obras[editar | editar código-fonte]


De Macróbio são conhecidos poucos textos que podem ser atribuídos a ele. Sua obra
principal, as Saturnais, é um pouco anterior ao comentário de um trecho do livro 6 do De
Re Publica (A República), no qual Cícero narra o Sonho de Cipião. Macróbio redige,
assim, um Comentário ao Sonho de Cipião. Segundo alguns autores, as datas de
composição das Saturnais e do Comentário ao Sonho de Cipião devem ser situadas
depois de 430[3].

As Saturnais[editar | editar código-fonte]


As Saturnais (em latim Convivia primi diei Saturnaliorum) são um diálogo erudito que se
desenvolve em três dias, contadas em sete livros, por ocasião das festas em honra do
deus Saturno. Pertencem ao gênero literário do banquete filosófico (symposium), que
remonta ao Banquete de Platão. Em forma de diálogos socráticos, doze interlocutores
conversam, numa refeição feita em comum, sobre diversos assuntos, como a religião, a
literatura, a história e até as ciências naturais.
Os interlocutores são, à imagem do próprio Macróbio, aristocratas e eruditos romanos,
quase todos personagens históricos. Um deles é Mário Sérvio Honorato, que escreveu um
comentário sobre a Eneida de Virgílio. As fontes de Macróbio são principalmente o
grego Plutarco e os latinos Marco Terêncio Varrão e Aulo Gélio. A discussão atinge o
ponto alto com uma explicação sobre a obra de Virgílio. Esse banquete talvez tenha
tomado como modelo O Banquete dos Sofistas do grego Ateneu.
Também se encontram nesse diálogo muitas informações sobre o uso dos alimentos e
suas propriedades. O segundo livro apresenta o relato de numerosas frases famosas de
personagens ilustres (Cícero e Augusto, em especial). Macróbio contribuiu
significativamente para a exegese da Eneida e das outras obras de Virgílio. Além disso, foi
graças a ele que chegaram até os dias atuais fragmentos de vários autores famosos,
como Quinto Ênio e Salústio.

O Comentário ao Sonho de Cipião de Cícero[editar | editar código-


fonte]
Ver artigo principal: O Sonho de Cipião
Este comentário (em latim Commentarium in Ciceronis Somnium Scipionis) é de grande
importância, pois permitiu que a parte do livro VI do De Re Publica de Cícero
sobrevivesse, enquanto o restante da obra desaparecia quase completamente[4]. Nesse
comentário, escrito em dois livros, dedicados ao filho Eustácio, o pensamento
filosófico neoplatônicoaparece com todo o vigor.
Os parágrafos 9 a 29 do Livro VI de A República contam um sonho (é portanto uma fábula,
diz Macróbio, uma ficção literária) que Cipião Emiliano teve em 149 a.C., quando, como
jovem comandante de legião, esteve na África para participar da Terceira Guerra Púnica.
Acolhido pelo rei Massinissa, passa a noite ouvindo suas lembranças sobre Cipião
Africano e Paulo Emílio. Assim que vai deitar, sonha que se eleva às regiões celestes,
onde é acolhido pelos dois antepassados. Eles lhe mostram e explicam o mecanismo
do cosmos e o princípio da imortalidade da alma. Dizem-lhe que o destino da alma dos
políticos justos se eleva ao céu depois de sua morte, onde eles gozam da felicidade
eterna.

Um tratado sobre gramática[editar | editar código-fonte]


Menos conhecido que as duas obras anteriores é um tratado sobre a gramática, De
differentiis et societatibus graeci latinique sermonis, mostrando as diferenças e
semelhanças entre o grego e o latim. Parece que não era destinada ao uso escolar, mas
ao fornecimento de exemplos e discussões eruditas sobre as analogias entre os sistemas
verbais grego e latino. É, segundo os especialistas, a única obra latina destinada
explicitamente a uma análise sistemática das semelhanças linguísticas entre os dois
idiomas clássicos.

Astronomia[editar | editar código-fonte]

As cinco zonas climáticas da Terra delineadas por Macróbio. O amarelo indica onde o clima é frio, o
azul indica o clima temperado e o vermelho a zona climática mais quente.

Macróbio começou a interessar-se pela Astronomia provavelmente na época em que


redigia o Comentário ao Sonho de Cipião, no qual descreve a Terra como uma esfera
(globus terrae) de dimensões insignificantes em relação ao resto do universo. Passou
então a elaborar algumas teorias como diletante, afirmando que a Terra não era plana.

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