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COMO O ETÚ ADQUIRIU IMPORTÂNCIA NO CULTO AO SER

ABENÇOADO POR OBÀTÁLÁ.


(ODÙ OFUN MÉJÌ)

Naquele tempo a Etú - a galinha d’angola era inteiramente preta e vivia


só e infeliz dentro da mata.

Para resolver seus problemas de solidão, foi consultar o adivinho de


Obàtálá para que lhe indicasse um ebo que lhe permitisse conseguir
uma companheira como todos os demais bichos possuíam.

Chegando à casa do adivinho, o pobre animal não foi por ele recebido
porque, sendo completamente preto, não poderia entrar numa casa onde
o Òrìsà do Branco era cultuado, pois a cor preta era considerada como
uma grande ofensa.

Desolado, o bicho que apesar de viver só era muito rico, reuniu uma
grande quantidade de alimentos e saiu sem rumo, na esperança de
encontrar em outro lugar qualquer, alguém que lhe fizesse companhia.

Depois de muito caminhar encontrou, numa clareira, um velho muito


estropiado que gemendo, estendeu-lhe as mãos dizendo:

"Dá-me um pouco de comida e de água pois estou exausto e já não


posso conseguir alimento para minha própria sobrevivência".

Condoído, Etú serviu de seu próprio alimento ao velho e saciou-lhe a


sede com a água que trazia dentro de uma cabaça.

Logo que acabou de comer, o pobre velho, de tão enfraquecido, caiu em


sono profundo e, ao despertar muitas horas depois, deparou com Etú
que preocupado, velava por seu sono.

Já refeito, o velho perguntou: "Que fazes sozinho no interior desta


floresta? Não sabes que ela é sagrada e que só os iniciados podem
adentrá-la?"

"Ando sem destino. Nasci só e sempre vivi só. Minha aparência é muito
repugnante e minha feiúra impede que as pessoas permitam que me
aproxime delas." Replicou a ave.

"Tua feiúra exterior nada é, comparada com tua beleza interior.


Aproxima-te mais e, como recompensa pela tua bondade, modificarei
um pouco a tua aparência." Ordenou o velho.
Pegando pó de efun o velho, que outro não era que o próprio Obàtálá,
soprou sobre o corpo de Etú deixando-o, a partir de então, todo
pintalgado. Reunindo alguns elementos sagrados, modelou um cone que
colocou no alto de sua cabeça dizendo:

"A partir de hoje, serás o animal mais importante na religião dos Òrìsà,
nada poderá ser feito sem a tua colaboração e, como sinal desta
importância, serás o único dentre os seres vivos a portar o osu, símbolo
da aliança formalizada entre o iniciado e seu Òrìsà. Possuirás, alem
disto, tantas fêmeas quantas quiseres e tua prole será numerosa e se
espalhará sobre a Terra."

Por este motivo a galinha d'angola possui o corpo coberto de pintas e


carrega sobre a cabeça uma crista cônica, assemelhando-se ao neófito
durante o ritual da iniciação. Sua presença em todas a cerimônias
iniciáticas é indispensável e todos os Òrìsà a exigem em seus rituais.

EXTRAÍDO DO

TRATADO ENCICLOPÉDICO DE IFÁ – ODÙ OFUN MEJI E SEUS


OMO-ODÙ

TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO

BABA GUIDO

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