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A BAIXADA ALUVIONAR
ARTIGO 12 – PARTE 2
Pelo Geólogo Josué Barroso
1-INTRODUÇÃO
Uma sucessão de causas provocadas pelo homem nos morros e serras da Região
Oceânica tem seus efeitos transmitidos para as áreas de baixada, como a seguir:
-nas serras e morros: desmatamento e cortes/aterros→aumento e concentração do
fluxo das águas→ aceleração da erosão (Art.12-Parte 1- Fotos 2 e 3).
-nas áreas de baixada: assoreamento→redução da capacidade de fluxo dos
rios→redução da lâmina d´água das lagunas e, por conseqüência, de seus perímetros. A
esses efeitos, somam-se aqueles provenientes da ação direta do homem, praticada
preponderantemente nas baixadas: lixo, lançamento de efluentes sanitários e
impermeabilização (Art.12-Parte 1-Figura 1 e Foto 4)
O efeito do despejo dos efluentes sanitários reside na insalubridade que atinge a fauna
(inclusive a saúde do homem) e a flora de rios e lagunas. O assoreamento reduz a
lâmina d’água das lagunas, aumentando a concentração proveniente dos efluentes
sanitários e, consequentemente, a eutrofização.
3-DE QUE VALEM AS LEIS?
É muito comum a existência de leis que não se impõem (“leis que não pegam”) e, no
desenvolvimento da urbanização, é farta a legislação ignorada, inclusive as que se
destinam a ordenar o uso e ocupação do solo. O aspecto negativo que assume esta
questão é agravado pela grande diversidade de tipos e dimensões das obras civis no
crescimento das cidades.
Neste texto não cabe uma análise minuciosa das leis e seus artigos, o que se apresenta
resume-se às questões temáticas abordadas pelas leis, sequenciando-as, segundo uma
ordem cronológica e comentando-as brevemente, como a seguir.
3.1- Proteção dos corpos d’água: rios, lagos e lagoas ou reservatórios d’água e
nascentes.
-A Lei Federal 4771/65 (Código Florestal), alterada pela Lei 7803/89 e coadjuvadas
pelas leis municipais 1468/95 (Parcelamento do Solo) e l968/02 (PUR da Região
Oceânica) preconizam, de forma abrangente, a preservação das matas vizinhas aos
corpos d’água continentais (Lei Federal) e as leis municipais preconizam a proteção, em
particular, da mata ciliar ao longo dos rios.
.Comentários. Na Região Oceânica, essas leis ainda não “pegaram”. Os rios e lagunas
são agredidos sistematicamente, ao longo dos anos e ainda hoje, apesar de se ter um
Código Florestal com cerca de 50 anos der vigência (Art.12 – Parte 1 – Foto 5)
-A Lei Federal 6776/79 (Lei Lehman), alterada pela Lei 9785/99 (Parcelamento do Solo
Urbano), proíbe o parcelamento dos terrenos sujeitos aos efeitos das inundações, sem
que sejam tomadas as providências necessárias ao escoamento das águas (Art.12–
Parte1- Foto 1).
-A Lei Federal 6776/79 (Lei Lehman), alterada pela Lei 9785/99 (Parcelamento do Solo
Urbano), coadjuvadas pela Lei Municipal 1468/95 (Parcelamento do Solo), não
permitem o parcelamento e recomendam a não edificação nesses terrenos, que devem
ser destinados ao uso como áreas verdes (Art.12 – Parte 1 – Foto 1 e item 2)
.Comentários. Grande parte das áreas dos entornos das lagunas de Piratininga e Itaipu
encaixam-se neste caso e no do item 3.2- conforme mostram as fotos 1 e 2.. No entanto,
este autor não tem conhecimento da existência dos estudos geológicos necessários à
liberação dessas áreas. No caso da Laguna de Itaipu, o CCRON vem desenvolvendo
esforços para inclusão no PESET-Parque Estadual da Serra da Tiririca de grande
área de seu entorno, em que se incluem áreas aqui apontadas.
Foto 1 – Área aterrada, inundável, situada no lado oeste da Laguna de Itaipu, em rua
transversal à Av.Dr. José Geraldo B. de Menezes. Vê-se no lado esquerdo da foto um
canal de drenagem artificial (tentativa de solução para as inundações) e, na parte central
da foto, uma retro-escavadeira da Prefeitura de Niterói, usada na manutenção do canal
de drenagem. Os fragmentos de postes de concreto atravessados na rua são para evitar a
entrada de caminhões de aterro que, segundo o operador da escavadeira, realiza-se
durante a noite. Foto de 30/11/09.
Foto 2 – Área aterrada, inundável, situada no lado oeste da Laguna de Itaipu, em rua
paralela à Av. Dr. José Geraldo B. de Menezes, na altura da rua transversal de nº 66.
Vê-se a escavação de uma vala para instalação de redes de água e de esgoto. A vala tem
profundidade menor que 1,0 metro e, imediatamente abaixo da camada de aterro,
alcançou uma camada de argila orgânica mole, como mostra o material proveniente da
escavação. Foto de 07/12/09.
3.4-Taxa de impermeabilização
-A Lei Municipal 1968/02 (PUR da Região Oceânica) estabelece o índice de 70%, como
taxa máxima de impermeabilização, para as construções de prédios multi-familiares em
quase toda Região.
Pela Lei, não são computáveis para o cálculo da taxa da impermeabilização, as áreas
pavimentadas com blocos intertravados, as áreas de coberturas ajardinadas e as áreas
cobertas por piscinas. São exceções que não levam em conta o reabastecimento do
lençol freático e, no caso dos pavimentos com blocos intertravados, a medida pode
tornar-se inócua, porque a permeabilidade é dependente da base de assentamento de tais
blocos.
4-RECOMENDAÇÕES
A enchente urbana tem características de alto pico que se acentua em áreas de quebra
brusca do gradiente dos rios, como se verifica na Região Oceânica. Desse modo o
armazenamento temporário de pequenos volumes d’água podem ser suficientes para
aumento do tempo de pico e significativa redução da vazão máxima (V.Figura 1). A
construção de pequenas barragens de contenção da água, constituídas pelo
empilhamento de gabiões, nos primeiros trechos dos rios, pode ser instrumento
importante no retardamento do pico de cheia e melhor distribuição temporal das vazões,
além da contenção de sedimentos.
Gabiões são caixas de fio de aço, protegidos contra a corrosão, preenchidas por
fragmentos de rocha sã (10 a 20 cm de dimensão maior). As caixas arrumadas
transversalmente à calha de rios, constituem barramento que aceita deformações e tem
alta permeabilidade. Coberturas com mantas de geotexteis adicionam a propriedade de
contenção de sedimentos e, portanto, constituem redutores do assoreamento para
jusante.
Outra medida importante é a que venha privilegiar a infiltração das águas, aplicando
pavimentos permeáveis, pelo menos nas ruas de trânsito secundário, bem como o
incentivo para construção de calçadas com faixas longitudinais permeáveis
(jardins).Esta medida pode tornar-se um passo importante na urbanização da Região
Oceânica, extremamente carente de acessibilidade, por falta de calçadas.
5-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS