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AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO FLUIDODINÂMICO DA

PRESSÃO ESTÁTICA EM UM CONVERSOR DE ENERGIA DAS


ONDAS DO MAR DO TIPO COLUNA DE ÁGUA OSCILANTE
Édis Antunes Pinto Junior1
Mateus das Neves Gomes2
Elizaldo Domingues dos Santos3
Liércio André Isoldi4

Resumo: O cenário internacional de escassez de recursos não renováveis somado à crescente


demanda energética, são incentivos para a diversificação das matrizes energéticas mundiais
com foco em fontes renováveis de energia. Dentre essas fontes, a energia proveniente das ondas
do mar é especialmente atrativa, pois seu recurso global é estimado em aproximadamente 2 TW,
sendo comparável à potência elétrica média consumida anualmente no mundo. Atualmente
existem diversas tecnologias propostas para a conversão da energia das ondas do mar em
eletricidade. Entre elas está o dispositivo Coluna de Água Oscilante (CAO), que é composto,
basicamente, por uma câmara hidropneumática e uma chaminé onde é instalada uma turbina
acoplada a um gerador elétrico. Sua câmara é aberta abaixo da superfície da água, enquanto a
chaminé é aberta para a atmosfera. O movimento oscilante da superfície livre da água, produzido
pelas ondas incidentes, faz com que o ar escoe através da chaminé e acione a turbina, assim, o
princípio de funcionamento do conversor CAO pode ser aproximado a um sistema cilindro-pistão.
Por isso, uma das metodologias empregadas na modelagem computacional do princípio de
funcionamento desse dispositivo é a Metodologia Pistão, que simplifica a análise do problema
aproximando o movimento incidente da onda ao de um pistão. Entre os fenômenos que ocorrem
dentro do dispositivo CAO, o comportamento da pressão estática é, indiscutivelmente, um dos
mais importantes, pois é através dela que é possível estimar a potência hidropneumática e a
eficiência do conversor. Assim, o objetivo deste trabalho é avaliar o comportamento da pressão
estática dentro do dispositivo CAO, empregando a metodologia pistão, ao impor uma onda
monocromática como condição de entrada em um domínio axissimétrico. Entre os resultados
obtidos constatou-se que a pressão estática, neste caso, depende diretamente da aceleração do
escoamento e a mesma sofre forte influência da vorticidade gerada em domínios com mudança
de área.

Palavras-chave: Coluna de água oscilante. Metodologia pistão. Domínio axissimétrico.


Pressão estática. Movimento harmônico.

1
Engenheiro Mecânico, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Oceânica (PPGEO),
Universidade Federal do Rio Grande (FURG), edis.antunes@hotmail.com.
2
Doutor em Engenharia Mecânica, Instituto Federal do Paraná – Campus Paranaguá,
mateus.gomes@ifpr.edu.br.
3
Doutor em Engenharia Mecânica, PPGEO, FURG, elizaldosantos@furg.br.
4
Doutor em Engenharia Mecânica, PPGEO, FURG, liercioisoldi@furg.br.

8º MCSul / VIII SEMENGO - Universidade Federal do Rio Grande


1 Introdução

De acordo com Jenniches (2018), a transição do sistema global de energia


para matrizes baseadas em fontes renováveis é uma das principais tendências
da atualidade, permitindo não somente a diversificação da produção energética
como também sua descentralização.
Para Lisboa et al. (2018), a extração de energia das ondas do mar pode
ser uma excelente alternativa frente ao aumento da demanda por energia
renovável, pois seu recurso global é de aproximadamente 2 TW ao ano, sendo
equiparável à potência elétrica média consumida anualmente no mundo.
Segundo Falcão e Henriques (2016), entre as tecnologias possíveis para
a conversão da energia das ondas do mar está o dispositivo Coluna de Água
Oscilante (CAO), que é composto, fundamentalmente, por uma câmara
hidropneumática, uma chaminé, uma turbina e um gerador elétrico. A câmara é
aberta abaixo da superfície livre da água do mar, enquanto a chaminé é aberta
para a atmosfera. O movimento oscilante da superfície livre interna da água
dentro da câmara, produzido pelas ondas incidentes, faz com que o ar escoe,
alternadamente, através da turbina instalada na chaminé, acionando um gerador
elétrico. Uma representação do dispositivo CAO é exposta na Fig. 1.

Figura 1: Dispositivo do tipo coluna de água oscilante.

Entre as metodologias utilizadas para a modelagem computacional do


princípio de funcionamento de dispositivos CAO, está a Metodologia Pistão

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utilizada em El Marjani et al. (2008). Nela apenas o conversor CAO é
considerado, assim, somente o escoamento do ar no interior do dispositivo é
reproduzido. Como condição de contorno, uma velocidade vertical prescrita é
aplicada na parte inferior do domínio, reproduzindo o efeito de pistão causado
pelo movimento oscilatório da superfície livre interna da água.
Gomes et al. (2009) apresentaram estudos comparativos entre a
Metodologia Pistão e a Metodologia VOF. A sigla VOF refere-se ao método
Volume of Fluid, através do qual o dispositivo CAO é simulado dentro de um
tanque de ondas e toda interação entre a água e o ar é considerada. A
Metodologia Pistão foi utilizada também por Barakaz e El Marjani (2016), onde
um modelo unidimensional foi utilizado para descrever o comportamento do
dispositivo CAO. Já em De Oliveira et al. (2017) essa metodologia foi utilizada
na verificação de um modelo computacional bidimensional do dispositivo CAO.
Esses estudos comprovaram a eficácia da metodologia pistão em representar os
fenômenos físicos envolvidos no funcionamento desse tipo de conversor.
Entre os fenômenos que ocorrem dentro do dispositivo CAO, o
comportamento da pressão estática é um dos mais importantes, pois é através
dela que é possível estimar a potência disponível e a eficiência do mesmo.
Assim, o objetivo desta pesquisa é avaliar esse comportamento dentro do
conversor ao impor uma onda monocromática como condição de entrada.
Uma simplificação adotada para tal tarefa é o emprego do modelo
axissimétrico durante as simulações numéricas, pois ele permite a construção
de apenas metade do domínio a ser simulado e obtém o restante através da
revolução da geometria bidimensional, tornando o escoamento tridimensional.

2 Modelagem matemática e numérica

A modelagem matemática desse problema consistiu no emprego das


equações da conservação de massa e quantidade de movimento. A equação da
conservação de massa, para um escoamento incompressível, é apresentada por
Versteeg e Malalasekera (1999) como:

∇. (𝜌𝑣⃗) = 0 (1)

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onde 𝑣⃗ é o vetor velocidade (m/s) e ρ é a massa específica do fluido (kg/m3). Já
a equação da conservação da quantidade de movimento é dada por:

𝜕(𝜌𝑣⃗)
+ (𝛻. 𝜌𝑣⃗)𝑣⃗ = −𝛻𝑝 + (𝜇 + 𝜇𝑡 )(𝛻 2 . 𝑣⃗) + 𝑆 (2)
𝜕𝑡

onde p é a pressão (N/m2), μ e μt são a viscosidade dinâmica e turbulenta


(kg/m.s), S é o termo fonte da quantidade de movimento (N/m 3) e 𝑡 o tempo (s).
Para o fechamento da Eq. (2), foi empregada a viscosidade turbulenta
resultante do modelo k-ε padrão, apresentada por Versteeg e Malalasekera
(1999) como:
𝑘2
𝜇𝑡 = 𝜌𝐶𝜇 (3)
ε

sendo Cμ = 0,09 uma constante adimensional, 𝑘 a energia cinética turbulenta


(m2/s2) e ε sua taxa de dissipação (m2/s3), onde ambos podem ser obtidos das
seguintes equações de transporte, respectivamente:

𝜕(𝜌𝑘) 𝜇𝑡
+ (𝛻. 𝜌𝑘)𝑣⃗ = 𝛻. [(𝜇 + ) 𝛻𝑘] + 𝐺𝑘 − ρε + 𝑆𝑘 (4)
𝜕𝑡 𝜎𝑘

𝜕(𝜌ε) 𝜇𝑡 ε ε2
+ (𝛻. 𝜌ε)𝑣⃗ = 𝛻. [(𝜇 + ) 𝛻ε] + 𝐶ε1 𝐺𝑘 − 𝐶ε2 𝜌 + 𝑆ε (5)
𝜕𝑡 𝜎𝑘 𝑘 𝑘

em que Cε1 = 1,44, Cε2 = 1,92, σk = 1,00 e σε = 1,30 são constantes empregadas
no modelo k-ε padrão; Gk é a geração de energia cinética turbulenta devido ao
gradiente de velocidade média (Pa/s); e Sk e Sε representam o termo fonte da
energia cinética (Pa/s) e sua dissipação turbulenta (Pa/s2), respectivamente.
Para a solução do modelo matemático utilizou-se o software Fluent®, que
adota o Método de Volumes Finitos (MVF). O solver utilizado é baseado na
pressão. Para o acoplamento pressão-velocidade utilizou-se o algoritmo PISO
(Pressure Implicit Solution by Split Operator), na discretização espacial da
pressão foi empregado o método PRESTO (PREssure STaggering Option) e
para o tratamento dos termos advectivos o esquema de interpolação Upwind de
primeira ordem. Por fim, os cálculos foram considerados convergidos quando os

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resíduos para as equações de conservação da massa e quantidade de
movimento atingiram valores menores do que 10-5.

2.1 Domínio computacional

O domínio computacional empregado é bidimensional e axissimétrico.


Para auxiliar nas análises, um duto reto foi simulado a fim de avaliar o
comportamento da pressão estática com a ausência de perdas de carga
localizadas, nesse caso, as dimensões adotadas foram R1 = 6 m, R2 = 6 m e L =
15 m (Fig 2a). Além disso, um domínio representando um conversor CAO, com
câmara e chaminé, também foi considerado (Fig. 2c).

Figura 2: Domínio computacional: (a, b) duto reto e (c, d) geometria com mudança de área.

No domínio com mudança de área (Fig. 2c), diversas razões de área


foram empregadas a fim de avaliar a influência da perda de carga localizada na
pressão estática. As dimensões utilizadas são baseadas nos valores
empregados por De Oliveira et al. (2017). As mesmas estão dispostas na Tab.1.

Tabela 1: Dimensões do domínio com mudança de área.


Geometria L1 (m) L2 (m) R1 (m) R2 (m)
1 10 5 6 5,00
2 10 5 6 4,00
3 10 5 6 3,00
4 10 5 6 2,00
5 10 5 6 1,15
6 10 5 6 1,00

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2.2 Discretização da malha e condições de contorno

A construção da geometria e a geração da malha foram realizadas com o


software Gambit® (ver Figs. 2b e 2d). Os domínios computacionais foram
discretizados com elementos quadrilaterais de tamanho 0,04 m, determinados
por teste de independência de malha, gerando malhas regulares com volumes
entre 40.000 e 50.000 unidades. O teste de independência de malha foi realizado
com a geometria 5 da Tab. 1, onde a máxima velocidade foi monitorada no
domínio. Os resultados são expostos na Fig. 3, onde o ponto em destaque indica
a malha escolhida para a realização das simulações.

12,50
Velocidade Máxima (m/s)

12,45
12,40
12,35
12,30
12,25
12,20
12,15
12,10
12,05
12,00
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000
Número de Volumes

Figura 3: Teste de independência de malha.

Para representar a variação da velocidade vertical do ar na entrada da


câmara hidropneumática, foram impostos valores de velocidade gerados através
da função de onda monocromática utilizada em Gomes et al. (2009):

𝐻𝜋 2𝜋𝑡
𝑣(𝑡) = cos ( ) (6)
𝑇 𝑇

onde 𝑣 é a velocidade da onda (m/s), H é a amplitude da onda (m), T é o período


da onda (s) e t é o tempo (s). Empregou-se H = 0,14 m e T = 0,81 s, valores
utilizados por Gomes et al. (2009) que representam uma onda de laboratório. O
passo de tempo aplicado foi de 0,01 s durante 6 s.
Para as demais condições de contorno, considerou-se o eixo de simetria
como axissimétrico, pressão atmosférica na saída da chaminé e condição de não

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escorregamento na parede, onde, quanto à rugosidade, adotou-se uma
superfície lisa. Essas condições podem ser consultadas nas Figs. 2b e 2d.
Vale ressaltar que, de acordo com Fluent 12.0 User’s Guide (2009), para
a aplicação da condição axissimétrica é necessário que o eixo de simetria seja
o eixo x e que toda a geometria esteja no primeiro quadrante do sistema de
coordenadas cartesianas, isso evita que volumes negativos sejam gerados
quando o domínio sofre revolução.

3 Verificação do modelo numérico

A verificação do modelo numérico proposto se deu de duas formas, na


primeira delas foi imposta uma velocidade constante como condição de entrada
no domínio da geometria 5 e calculada a queda de pressão entre a entrada e a
saída do domínio. A magnitude da velocidade imposta foi de 0,54299 m/s, maior
velocidade obtida através da Eq. (6).
Na segunda verificação, foi gerada uma geometria tridimensional, com as
mesmas dimensões da geometria 5 revolucionada, e impostos dados obtidos a
partir da Eq. (6) como condição de entrada, então a queda de pressão do
domínio tridimensional e do domínio axissimétrico foram comparadas. Dessa
forma, tanto o modelo numérico quanto a condição axissimétrica puderam ser
verificadas. Em ambos os casos a componente hidrostática da pressão foi
negligenciada por se tratar de um valor constante.
No cálculo analítico da queda de pressão, para escoamento estacionário,
aplicou-se a equação de Bernoulli, disponível em Fox e Mcdonald (2006):

𝑣12 𝑣22
𝑃1 + 𝜌 + 𝜌𝑔𝑍1 = 𝑃2 + 𝜌 + 𝜌𝑔𝑍2 + 𝐻𝑇 (7)
2 2

em que P é a pressão estática (Pa), g é a aceleração da gravidade (m/s2), Z é a


altura do ponto considerado (m), 𝑣 é a velocidade do fluido (m/s), HT é a perda
de carga total (Pa) e os índices 1 e 2 indicam a entrada (linha azul na Fig. 2) e a
saída (linha vermelha da Fig. 2) do domínio, respectivamente.
A perda de carga total é apresentada por Çengel e Cimbala (2007):

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𝐿 𝑣22
𝐻𝑇 = 𝜌 (𝐾𝑝 + 𝑓 ) (8)
𝐷 2

onde Kp é um coeficiente adimensional que indica a perda de carga localizada,


L é o comprimento do trecho com diâmetro constante (m), D é o diâmetro da
geometria (m) e ƒ é um fator adimensional que indica a perda de carga por atrito,
cujo valor, para escoamentos turbulentos, pode ser obtido pela equação de
Colebrook, disponível em Fox e Mcdonald (2006):

1 𝑒⁄𝐷 2,51
= −2,0𝑙𝑜𝑔 ( + ) (9)
ƒ0,5 3,7 𝑅𝑒 ƒ0,5

em que 𝑒 é a rugosidade da parede (m) e Re é o número de Reynolds:

𝜌𝑣𝐷
𝑅𝑒 = (10)
𝜇

Para expansões e contrações abruptas, como ocorre neste caso, o


coeficiente de perda localizada pode ser determinado através da Fig. 4.

Figura 4: Coeficientes de perda para escoamentos através de mudanças súbitas de área


(adaptado de Fox e Mcdonald, 2006).

Na Fig. 5 é possível comparar os resultados da queda de pressão ao


impor uma velocidade constante como condição de entrada no domínio.

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20
18
Pressão (Pa)
16
14
12
10
8
6
4
2
0
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00
Tempo (s)

Numérica Analítica

Figura 5: Queda de pressão: solução analítica x solução numérica.

Ao estabilizar, a solução numérica apresentou 2% de diferença em


relação à solução analítica, o que se considerou aceitável.
Após, impondo a Eq. (6) como condição de contorno de velocidade
prescrita, a comparação da queda de pressão entre o domínio tridimensional e
o domínio axissimétrico pode ser observada (Fig.6):

1000
750
Pressão (Pa)

500
250
0
-250
-500
-750
-1000
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00
Tempo (s)

Tridimensional Axissimétrico

Figura 6: Queda de pressão: domínio tridimensional x domínio axissimétrico.

Nota-se que as curvas da Fig. 6 ficaram sobrepostas, pois as soluções


obtidas para o domínio tridimensional e axissimétrico apresentaram diferença
média de 1%, isso demonstra que não há diferenças significativas entre o
domínio axissimétrico e o domínio tridimensional.
A vantagem do domínio axissimétrico está no tempo de simulação e
esforço computacional exigido, pois enquanto ele levou aproximadamente 33
min por simulação o domínio tridimensional levou aproximadamente 2655 min,

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ou pouco mais de 44 h. Sua desvantagem está na limitação da geometria do
domínio, pelo fato da mesma ser obtida através de um sólido de revolução.
Considerando os resultados obtidos nas Figs. 5 e 6 é possível afirmar que
o modelo computacional axissimétrico para o conversor CAO foi devidamente
verificado.

4 Resultados e discussões

Como a pressão estática na entrada dos domínios avaliados é a maior


contribuição na queda de pressão entre a entrada e a saída, ela será a principal
componente a ser estudada. A mesma pode ser obtida analiticamente, para um
escoamento incompressível com movimento oscilante, da seguinte forma:

𝐹 𝑚. 𝑎
𝑃=∑ =∑ (11)
𝐴 𝐴

onde 𝐹 é a força (N), 𝐴 é a área da seção transversal (m2), 𝑎 é a aceleração do


fluido (m/s2) e 𝑚 é a massa do fluido (kg).
Como o escoamento é incompressível então a massa específica do fluido
é constante, assim a massa pode ser obtida da seguinte forma:

𝑚 = 𝜌𝑉 (12)

onde V é o volume do domínio (m3).


A aceleração do escoamento, neste caso, pode ser obtida derivando a Eq.
(6), assim temos:

𝐻𝜋 2 2𝜋𝑡
𝑎(𝑡) = −2 sin ( ) (13)
𝑇2 𝑇

Ao aplicar a Eq. (13) na Eq. (11), para o domínio com duto reto, foi possível
determinar analiticamente a pressão estática na entrada do domínio. Na Fig. 7
estes valores são comparados aos obtidos numericamente.

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80

Pressão (Pa)
60
40
20
0
-20
-40
-60
-80
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00
Tempo (s)

Numérica Analítica

Figura 7: Pressão estática na entrada do domínio duto reto.

Os resultados das soluções numérica e analítica para a pressão estática


na entrada do domínio de duto reto, expostos na Fig. 7, apresentaram 0,12% de
diferença entre os valores médios de pressão. Nas cristas da onda observou-se
0,11% de diferença, enquanto que nas cavas registrou-se 0,10% de diferença.
Isso comprova a eficácia do emprego da Eq. (11) nos escoamentos em domínios
sem mudanças de área com movimento harmônico.
Já as geometrias com mudança de área apresentaram maiores diferenças
entre as soluções numérica e analítica. Para uma melhor avaliação, foram
medidas as diferenças médias e as diferenças entre as cristas e entre as cavas
das ondas obtidas dos resultados numéricos e analíticos. Essas diferenças, para
a pressão estática na entrada do domínio, podem ser observadas na Tab. 2.

Tabela 2: Diferenças entre as soluções numérica e analítica.


Geometria Razão de Diferença Diferença na Diferença na
do domínio área (A2/A1) média crista cava
1 0,694 2,08% 2,06% 2,09%
2 0,444 6,73% 6,70% 6,74%
3 0,250 12,18% 12,09% 12,17%
4 0,111 15,69% 15,37% 15,67%
5 0,037 15,15% 11,23% 14,81%
6 0,028 15,29% 10,28% 14,02%

Os coeficientes de perda de carga localizada, determinados para


escoamentos estacionários, não suprem as diferenças entre picos geradas nos
domínios com mudança de área. Ao observar a Eq. (8), percebesse que as
perdas de carga são dependentes da velocidade do escoamento.
Nesse problema específico a velocidade é uma função cossenoidal
enquanto que a aceleração é senoidal. Como a pressão estática é obtida da

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aceleração, não há como as perdas representadas na Eq. (8) suprimirem as
diferenças expostas na Tab. 2. Isso fica melhor evidenciado na Fig. 8.

0,55 4,50

Aceleração (m/s2)
Velocidade (m/s)

0,45 3,50
0,35 2,50
0,25
0,15 1,50
0,05 0,50
-0,05 -0,50
-0,15 -1,50
-0,25 -2,50
-0,35
-0,45 -3,50
-0,55 -4,50
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00
Tempo (s)

Velocidade na entrada Aceleração na entrada

Figura 8 – Comparação da posição das funções velocidade e aceleração.

Um ajuste foi realizado na pressão estática na entrada do domínio para


as geometrias com mudança de área. O ajuste foi feito multiplicando a maior
componente da pressão estática por uma constante até que a diferença entre as
cristas e entre as cavas da solução analítica e numérica fossem menores do que
0,01%. Na Fig. 9 é possível consultar os valores aplicados para o fator de ajuste.

0,20
0,18
Fator de ajuste

0,16
0,14
0,12
0,10
0,08
0,06
0,04
0,02
0,00
0,04 0,12 0,20 0,28 0,36 0,44 0,52 0,60 0,68 0,76 0,84 0,92 1,00
Razão de áreas (A2/A1)

Aceleração Positiva Aceleração Negativa

Figura 9 – Ajuste da pressão estática.

Pressupõe-se que esse ajuste seja necessário, principalmente, devido


aos efeitos de descolamento e recolamento da camada limite, que geram
vórtices que afetam a pressão estática. Esses efeitos são muito difíceis de serem
previstos analiticamente e podem causar diferenças consideráveis nos

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resultados. Na Fig. 10 a magnitude da vorticidade gerada nas geometrias com
mudança de área pode ser visualizada.

Figura 10: Campo de vorticidade no instante t = 5,5 s.

5 Considerações finais

Através da Tab. 2 é possível observar que, em casos com mudança de


área, quanto menor a área de saída em relação à de entrada, maior será a
diferença entre as soluções numérica e analítica, justamente por não haver um
termo na Eq. (11) que contemple os efeitos da vorticidade gerada nos domínios.
Também é possível constatar que as diferenças entre cristas, cavas e médias
são aproximadamente iguais para razões de área de até 0,11 e a partir disso
possuem um comportamento relativamente distinto.
A Fig. 8 demonstra que as diferenças entre cristas e cavas das soluções
numérica e analítica não podem ser supridas pelas perdas de carga da Eq. (8),
já que as funções velocidade e aceleração possuem uma defasagem natural.
Pressupõe-se que o comportamento do ajuste, observado na Fig. 9,
possui uma alteração em razões de área menores do que 0,11 porque a partir
desse valor o fenômeno da vorticidade é tão intensificado que passa a atingir a
região de entrada do domínio, podendo ser evidenciado na Fig. 10. Com isso, as
regiões de baixa pressão geradas pelos vórtices passam a influenciar a média
das pressões monitoradas na entrada do domínio, alterando o comportamento
das curvas expostas na Fig. 9.
Ficou evidente que, em escoamentos com movimento oscilante, a
pressão estática passa a depender da aceleração do mesmo. Notou-se também

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que, em domínios com mudança de área, a área a ser empregada no cálculo da
pressão estática é menor do que a área da geometria, pois, o escoamento passa
a ser “comprimido” pelas regiões de baixa pressão geradas pelos vórtices e
escoa por uma área menor, delimitada por esse fenômeno.
Em trabalhos futuros recomenda-se a simulação de outras razões de área
a fim de confirmar o comportamento exposto na Fig. 9. É necessário também um
estudo mais detalhado da influência da vorticidade na pressão estática em
domínios com razões de área menores do que 0,11. Além disso, seria importante
um estudo experimental para validar as informações aqui levantadas.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal


de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001; e à
Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) - Edital
02/2017 - PqG: 17/2551-0001 - 111-2. E. D. dos Santos e L. A. Isoldi agradecem
ao Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq) por suas bolsas
de Produtividade em Pesquisa.

Referências

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8º MCSul / VIII SEMENGO - Universidade Federal do Rio Grande

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