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Publicagdes Dom Quixote, Lda. Rua Luciano Cordeiro, 116-2 1098 Lisboa Codex — Portugal Reservados todos 0s direitos de acordo com a legislago em vigor © 1969, Edizioni Mediterranee Titulo original: Rivolta contro il mondo moderno 1 edigdo: Fevereiro de 1989 Depésito legal n? 24940/88, Fotocomposicdo: Grafilis — Reprodugdo e Artes Gréficas, SA. Impresséo ¢ acabamento: Grifica Manuel Barbosa & Filhos, Lda, Distribuigéo: Diglivo — Rua Ilha do Pico, 3-B, Pontinha, Lisboa Movilivro — Rua Gomes Leal, 93, Porto ISBN: 972-20-0672-2 INDICE Introdugdo ... 9 Primeira Parte O MUNDO DA TRADICAO 1—0 principio . 23 2—A realeza .. 21 3 — O simbolismo polar. O senhor de paz e de justica .. 39 4—A Lei, o Estado, o Império . 49 5 —O mistério do rito ... 59 6 — Sobre o cardcter primordial do patriciado 67 7 — Sobre a virilidade espiritual ......... 00.00. c cee ce eee eee ee eens 7 8 — As duas vias do além-timulo 83 9 — Vida e morte das civilizagdes 93 10 — A imiciagdo e a consagragdO ... 6... cece eee eee 101 11 — Sobre as relagdes hierdrquicas entre a realeza e o sacerdécio 109 12 — Universalidade e centralismo 115 13 — A alma da cavalaria 123 14 — A doutrina das castas ........ 6... cece cece teen eee eee eee 135 15 — As participagdes e as artes — a escravatura 149 16 — Bipartic&o do espirito tradicional. A ascese 161 17—A grande e a pequena guerra santa .. 167 18 — Jogos e vitoria 181 19 — O Espago — O Tempo — A Terra 199 20 — Homem e mulher .. 217 21 — Declinio das racas superiores .. 229 Segunda parte GENESE E FISIONOMIA DO MUNDO MODERNO 1—A doutrina das quatro idades . 239 2—A idade do ouro .... 247 3 —O «pélo» e o local hiperbéreo 253 4—0 ciclo nérdico-atlantico 261 5 —Norte e Sul 6 —A civilizagéo da mae ... 7—Os ciclos da decadéncia. O ciclo herdico 8 — Tradicdo e antitradicéo . a) Ciclo americano — Ciclo mediterrénico oriental b) Ciclo judaico — Ciclo ariano-oriental 9 —O ciclo herdico-uranico ocidental .. 337 a) O ciclo helénico b) O ciclo romano 10 — Sincope da tradigdo ocidental. O cristianismo das origens . 367 11 — Translagao da ideia do Império. A Idade Média gibelina 377 12 — O ocaso do ectimeno medieval. As nacdes 395 13 — O irrealismo e 0 individualismo 407 14 —A regressdo das castas ....... 0... ccceeeeeeeeeeeeneeeeeneneneee 425 15 — Nacionalismo e colectivismo 437 IG OlciclOlencelit se ee 447 a) A Rissia b) A América Concluséo 463 Apéndice — Sobre a «Idade obscura» . Breve nota sobre a vida de Julius Evola . Indice de autores e de textos anénimos .. 483 INTRODUCAO Fi. do «declinio do Ocidente», da crise da civilizagdo actual, dos seus perigos, das suas destruigdes ou das suas alie- nagoes, ha muito tempo que se tornou quase um lugar-comum. Por outro lado, formulam-se profecias sobre o futuro europeu ou mundial e lancam-se também apelos para a «defesa» de um ou do outro. Nas suas linhas gerais, em tudo isto mal se ultrapassa um mero diletantismo de intelectuais. Seria demasiado facil demonstrar como existe aqui tantas vezes uma falta de verdadeiros principios; como grande parte daquilo que se pretendia negar € afirmado pela maioria dos que propdem reagir contra isso; como se sabe pouquissimo o que se quer e como se obedece mais a impulsos irracionais, especial- mente quando se passa para o campo pratico com manifestag6es incorrectas e vio- lentas de uma «contestagaéo» que por vezes pretendia ser global quando afinal é apenas inspirada por formas consequenciais e terminais da presente civilizagao. Embora fosse insensato em fendmenos deste género vislumbrar algo de posi- tivo, eles tem incontestavelmente o valor de um sintoma. Vém avisar-nos de que ja se sente que campos considerados firmes afinal s4o movedicos e que as perspec- tivas idilicas do «evolucionismo» ja perderam a sua actualidade. Mas um instinto inconsciente de autodefesa impede que se ultrapassem certos limites — tal como © poder que inibe aos sonambulos a percepcéo do vacuo em que caminham. Ainda nao se pode «duvidar» para além de certas marcas — e certas reaccdes intelectuais ou irracionais parecem quase que sdo concedidas ao homem moderno apenas para desvid-lo, para o deterem na via da total e temivel viséo perante a qual o mundo actual surgiria como sendo somente um corpo privado de vida caido por um precipicio, em que em breve j4 nada conseguira deté-lo. Julius Evola Ha doengas que incubam durante muito tempo, mas que sé se tornam eviden- tes quando a sua obra subterranea j4 quase chegou ao fim. Assim acontece com a queda do homem ao longo das vias da que ele glorificou como sendo a civiliza- ao por exceléncia, Se apenas hoje os modernos conseguiram ter a sensagao de um destino sombrio para o Ocidente', ja ha séculos que tém vindo a agir cau- sas, a estabilizar-se condicdes espirituais e materiais de degeneresc€ncia, de tal modo que retiram a maioria a possibilidade nao sé da revolta e do retorno a nor- malidade e a salvacdo, mas também, e acima de tudo, a de compreender o que significam a normalidade e a salvacao. Assim, por muito sinceras que sejam as intengdes de alguns dos que dao um alarme e se insurgem contra a situacao, nao podemos ter ilusGes sobre os seus resultados. Nao é facil ter a nogéo de como se tem de escavar bem fundo até se encontrar a raiz primordial e unica de que sao naturais e necessdrias conse- quéncias nao sé as formas de que ja é visivel para todos o lado negativo, mas também muitas outras, que até os espiritos mais audaciosos nao cessam de pressu- por e de admitir no seu proprio modo de pensar, de sentir e de viver. «Reage-se», «contesta-se». Como se poderia deixar de fazé-lo perante certos aspectos desespe- rados da sociedade, da moral, da politica e da cultura contemporaneas? Mas trata-se — sé e precisamente — de «reaccGes», e nao de ac¢des, nao de movimen- tos positivos que partam de dentro e testemunhem a posse de uma base, de um principio, de um centro. Pois bem, com acomodamentos e «reacgGes» ja se anda no Ocidente a brincar ha muito tempo. A experiéncia demonstrou que por esse caminho nao se consegue chegar a nada do que realmente importa. Nao é de se virar de um lado para 0 outro no leito de agonia que se deveria tratar, mas sim de despertar ¢ levantar-se. As coisas chegaram a tal ponto que hoje nos perguntamos quem sera capaz de assumir 0 mundo moderno nao em qualquer um dos seus aspectos particulares — «tecnocracia», «sociedade de consumo», etc. —, mas sim em bloco, até apreen- der o seu significado ultimo. $6 este poderia ser o principio. Mas para isso é necessario sair do circulo de atraccao. E necessario saber con- ceber 0 outro — conseguir criar novos olhos e novos ouvidos para coisas que o afastamento tornou invisiveis e mudas. S6 remontando aos significados e as vi- ses em vigor antes que se estabelecessem as causas da civilizagao presente, é pos- sivel ter um ponto absoluto de referéncia, a chave para a compreensao efectiva ' Dizemos: «entre os modernos» — porque, como se ver, a ideia de um declinio, de um progressivo afastamento de uma vida mais elevada e a sensago da vinda de tempos ainda mais difices para as ragas humanas futuras, eram temas bem conhecidos da antiguidade tradicional. 10 Revolta Contra 0 Mundo Moderno de todos os desvios modernos — e ao mesmo tempo achar o baluarte sdlido, a linha de resisténcia inviolavel para aqueles a quem, apesar de tudo, sera concedido © manterem-se erguidos. E hoje em dia o que conta — precisa e exclusiva- mente — é 0 trabalho de quem souber conservar-se dentro das linhas da superiori- dade: firme nos principios; inacessivel a qualquer concessao; indiferente perante as exaltacdes, as convulsdes, as supersticdes € as prostituigdes a cujo ritmo dan- gam as geragdes modernas. S6 conta 0 silencioso manter-se firme de poucos, cuja presenga impassivel de «convidados de pedra» sirva para criar novas relacdes, no- vas distancias e novos valores; para construir um pdlo que, se obviamente nao impedira este mundo de desviados e exaltados de ser 0 que é, contudo sera valido para transmitir a alguém a sensagéo da verdade — sensacdo essa que talvez até podera ser o principio de alguma crise libertadora. Dentro dos limites das possibilidades de quem o escreve, 0 presente livro pre- tende ser um contributo para essa obra. A sua tese fundamental portanto é a ideia da natureza decadente do mundo moderno. O seu objectivo é¢ pér em evidéncia essa ideia, por meio da referéncia ao espirito da civilizagdo universal, sobre cujas ruinas surgiu tudo o que é moderno: e isto, como base de qualquer outra possibi- lidade, e como legitimacao categorica de uma revolta, porque sO entdo se tornara claro nao sé aquilo contra o que se reage, mas também, e acima de tudo, aquilo em cujo nome se reage. Como introdugao, diremos que nada se torna mais absurdo que a ideia do Progresso que, com o seu corolario da superioridade da civilizagéo moderna, criou os seus dlibis «positivos» falsificando a histéria, insinuando nas mentes mi- tos nocivos, proclamando-se soberana nas banalidades da ideologia plebeia as quais, em ultima andlise, foi buscar as suas origens. E preciso ter-se descido muito baixo para se poder fazer a apoteose do saber morto: pois nao se pode chamar de outra maneira o saber que, no homem moderno, que é 0 homem actual, nao vé o homem antigo, o decrépito, o derrotado, o homem crepuscular, mas que pelo contrdrio sé glorifica 0 vencedor, 0 justificador, o realmente vivo. De qualquer modo, deve-se ter chegado a uma singular cegueira, para os modernos pensarem seriamente que podem medir tudo com os seus parametros e que podem conside- rar a sua civilizac¢do como privilegiada, em que estava quase pré-ordenada a hist6- tia do mundo e para além da qual s6 se poderiam encontrar as trevas, a barbarie e a supersticao. int

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