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Dr.

Cláudio Costa - CRMMG 9426


clclosta.costa@gmail.com

Phármakon

Começo minhas reflexões sobre o tema dessa reportagem com um fragmento


do Diálogo Fedro, de Platão:

Sócrates - A ciência médica tem, de certo modo, o mesmo caráter da retórica.


Fedro - Como assim?
Sócrates - Em ambas é preciso analisar uma natureza: a do corpo em uma, a
da alma na outra, se se quer recorrer não somente a uma rotina e a uma
prática, mas a uma técnica, para ministrar ao corpo remédios e alimentos e
produzir assim, nele, a saúde e a força; e para a alma, idéias e ocupações
justas para lhe transmitir a convicção e a virtude que são desejáveis.

O Ministério da Saúde publicou, em 03/5/2006, a Portaria 971, que aprova a


Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no
Sistema Único de Saúde.

Saliento os termos “integrativas e complementares”. Pela nossa legislação, o


diagnóstico de doenças e a prescrição do tratamento são prerrogativas do
médico, embora saibamos que outras intervenções podem propiciar
benefícios, levando-se em conta os costumes, a tradição e até mesmo as
crenças.

Retorno à palavra phármakon, da qual se originou o termo fármaco que, em


português, se refere ao composto básico dos medicamentos.

Segundo os gregos, há 4 tipos de phármakon:


1. A droga, que pode ser cura ou veneno, dependendo do acerto, quantidade
circunstâncias e singularidade de quem a usa;
2. A tintura, que trata apenas a aparência ou o sintoma, sem atingir as
causas do adoecimento;
3. A tradição ou escritura, que se baseia na tradição e na autoridade de
quem o ministra, sejam ritos mágicos ou supersticiosos;
4. Finalmente, o phármakon que se converte em objeto numinoso, quando a
expectativa do doente o faz sacralizar a figura do médico, suposto detentor
de poderes e saberes, adquiridos do que chamamos Ciência, chancela da
prática médica, em constante aperfeiçoamento.

Parafraseando o itabirano Carlos Drummond de Andrade, direi: que cada um


reconheça seu capricho, sua ilusão, sua miopia. A verdade é dividida em
metades diferentes uma da outra.

BH, 14/2/2017

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