Começo minhas reflexões sobre o tema dessa reportagem com um fragmento
do Diálogo Fedro, de Platão:
Sócrates - A ciência médica tem, de certo modo, o mesmo caráter da retórica.
Fedro - Como assim? Sócrates - Em ambas é preciso analisar uma natureza: a do corpo em uma, a da alma na outra, se se quer recorrer não somente a uma rotina e a uma prática, mas a uma técnica, para ministrar ao corpo remédios e alimentos e produzir assim, nele, a saúde e a força; e para a alma, idéias e ocupações justas para lhe transmitir a convicção e a virtude que são desejáveis.
O Ministério da Saúde publicou, em 03/5/2006, a Portaria 971, que aprova a
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde.
Saliento os termos “integrativas e complementares”. Pela nossa legislação, o
diagnóstico de doenças e a prescrição do tratamento são prerrogativas do médico, embora saibamos que outras intervenções podem propiciar benefícios, levando-se em conta os costumes, a tradição e até mesmo as crenças.
Retorno à palavra phármakon, da qual se originou o termo fármaco que, em
português, se refere ao composto básico dos medicamentos.
Segundo os gregos, há 4 tipos de phármakon:
1. A droga, que pode ser cura ou veneno, dependendo do acerto, quantidade circunstâncias e singularidade de quem a usa; 2. A tintura, que trata apenas a aparência ou o sintoma, sem atingir as causas do adoecimento; 3. A tradição ou escritura, que se baseia na tradição e na autoridade de quem o ministra, sejam ritos mágicos ou supersticiosos; 4. Finalmente, o phármakon que se converte em objeto numinoso, quando a expectativa do doente o faz sacralizar a figura do médico, suposto detentor de poderes e saberes, adquiridos do que chamamos Ciência, chancela da prática médica, em constante aperfeiçoamento.
Parafraseando o itabirano Carlos Drummond de Andrade, direi: que cada um
reconheça seu capricho, sua ilusão, sua miopia. A verdade é dividida em metades diferentes uma da outra.