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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS


Processo Nº. : 0000878-19.2016.8.05.0043
Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : ELIAS CANDIDO CABRAL DE ALMEIDA
Recorrido(s) : COELBA COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO
ESTADO DA BAHIA
Origem : VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS –
CANAVIEIRAS
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

VOTO- E M E N T A

RECURSO INOMINADO.CONSUMIDOR. COELBA. FORNECIMENTO DE ENERGIA


ELÉTRICA. COBRANÇA INDEVIDA.. COBRANÇA DE VALOR RELATIVO A “
RECUPERAÇÃO DE CONSUMO”. MEDIDOR COM DEFEITO. IMPOSSIBILIDADE
DA REALIZAÇÃO DA CORRETA LEITURA. AVERIGUAÇÃO UNILATERAL.
PRÁTICA ABUSIVA. INOBSERVÂNCIA DAS NORMAS REGULAMENTARES.
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA ( ART.6º INCISO VIII DO CDC) INEXIGIBILIDADE
DA DÍVIDA. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. COBRANÇA IRREGULAR
QUE, DE PER SI, NÃO GERA LESÃO A DIREITO SUBJETIVO. EXCLUSÃO.
SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.

1. Trata-se de recurso inominado interposto contra sentença que julgou


parcialmente procedente o pedido formulado na exordial, nestes termos: “Ante o
exposto, julgo parcialmente procedente o pedido para determinar que a ré proceda à alteração da
titularidade do contrato nº 0208852744, passando-a para o nome do autor, em 30 dias, sob pena

de multa diária que arbitro em R$ 100,00.”


2. A parte recorrente busca a reforma da sentença , sustentando a
ilegitimidade do procedimento que constatou a irregularidade no medidor de
energia, que não fora notificada da inspeção realizada, que esta não observou as
normas regulamentares, sendo portanto indevida a cobrança que resultou do
procedimento, pugnando pela procedência dos pedidos.
3. A sentença recorrida merece reforma. A demonstração do fato básico para
o acolhimento da pretensão é ônus do autor, segundo o entendimento do art. 373,
inciso I, do CPC, partindo daí a análise dos pressupostos da ocorrência da falha na
prestação dos serviços alegada, recaindo sobre o réu o ônus da prova negativa do
fato, segundo o inciso II do mesmo artigo supracitado.

4. Em que pese o quanto alegado pelo réu, não consta dos autos a prova de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da parte autora. De fato, restou
comprovado nos autos que a concessionária de serviços públicos procedeu à
cobrança relativa à período em que supostamente teria havido impossibilidade de
registro do consumo, todavia não faz prova nos autos acerca da ocorrência efetiva
do fato, a saber, a prova do efetivo consumo imputado, sendo o procedimento
realizado de forma unilateral, sem qualquer participação do consumidor.

5. A concessionária ré não comprova as suas alegações, como lhe incumbia


fazê-lo, por possuir os meios técnicos e operacionais para tanto, que tais valores
corresponderiam ao consumo efetivo e real da parte autora.
6. Ante a constituição irregular da dívida impugnada, mister seja declarada
inexigível a dívida. Cumpre salientar que estamos diante de uma relação de
consumo, impondo-se a aplicação das normas do Código de Defesa do
Consumidor, as quais possuem interesse social e são de ordem pública, sendo a
responsabilidade da recorrente objetiva e fundada na teoria do risco do
empreendimento.
7. Mister destacar, ainda, que o Código de Defesa do Consumidor somente
afasta a responsabilidade do prestador de serviços, nas hipóteses de culpa
exclusiva do consumidor ou fato de terceiro, situações que não ocorreram nos
presentes autos.
8. Ademais, milita em favor do consumidor, uma vez que subsidiado por indícios
veementes, a presunção de vício a justificar a insurgência da cobrança que lhe é
feita. Portanto, em torno dessas irregularidades, cabia à fornecedora de serviços
proceder a demonstração probatória do aumento do consumo de energia na
residência do autor. Não o fez, nem mesmo trouxe à baila demonstrativo
tecnológico dando conta de que o referido consumo foi realizado pelo recorrido.
Sucumbiu, dada a vigência da teoria do risco do empreendimento, às vicissitudes
da operacionalização dos serviços prestados, notadamente em face da omissão.

1. Todavia, quanto ao dano moral reconhecido pelo magistrado a quo, não


vislumbro sua presença uma vez que não restou demonstrado no caso a
lesão de ordem subjetiva que atingisse a honra, a personalidade ou a imagem
do autor.

2. Não houve no caso comprovação de inscrição indevida nos


cadastros de proteção ao crédito, e nem a interrupção da suspensão do
fornecimento de energia. A cobrança indevida, em que pese ter causado
transtornos ao recorrido, não se reveste de gravidade tal que enseje
ressarcimento a título de danos morais.

3. O caso está a revelar que houvera meros aborrecimentos oriudos


de cobrança indevida, o que todavia não tem o condâo de causar abalos
psíquicos de grande monta, máxime se não fora demonstrada nos autos
nenhuma situação constrangedora que ensejasse indenização pelo
ressarcimento..

4. Quanto ao pedido indenizatório por danos materiais relativo ao


fato de ter a parte autora se deslocado para outra cidade no intuito de
resolver o problema, entendo que não há relação direta com o dano
alegado nos autos, inexistindo, portanto, o nexo de causalidade
necessário à imputação do dever de indenizar à parte ré.

5. Já no que tange à restituição dos valores pagos relativos ao


parcelamento da dívida irregularmente constituída, entendo como devida, ante
o reconhecimento da sua ilegalidade, todavia esta deverá se dar na forma
simples, ausente no caso concreto a prova de má fé, prevista no art. 42,
parág.único do CDC, requisito essencial para que houvesse a dobra legal.

ISTO POSTO, voto no sentido de CONHECER e DAR PROVIMENTO


ao recurso interposto, para declarar a inexigibilidade da dívida, bem como para
determinar a restituição dos valores relativos ao mencionado débito, na forma
simples, corrigidos monetariamente pelo INPC a contar da data do
desembolso.

Salvador, Sala das Sessões, 13 de Abril de 2017.


BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
Juíza Relatora
BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ
Juíza Presidente
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Processo Nº. : 0000878-19.2016.8.05.0043


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : ELIAS CANDIDO CABRAL DE ALMEIDA
Recorrido(s) : COELBA COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO
ESTADO DA BAHIA
Origem : VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS –
CANAVIEIRAS
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

ACÓRDÃO
Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, CÉLIA MARIA
CARDOZO DOS REIS QUEIROZ –Presidente, MARIA AUXILIADORA SOBRAL
LEITE – Relatora e ALBÊNIO LIMA DA SILVA HONÓRIO, em proferir a seguinte
decisão: RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO . UNÂNIME, de acordo com a ata
do julgamento. Sem custas processuais e honorários advocatícios por ser a parte
beneficiária da justiça gratuita.

Salvador, Sala das Sessões, 13 de Abril de 2017.


BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
Juíza Relatora
BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ
Juíza Presidente

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