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Nós sabemos os efeitos negativos de mercados de crédito imperfeitos para o crescimento

econômico. Várias políticas públicas focam na melhoria do acesso a crédito como ferramenta
de desenvolvimento. Microfinanciamento é uma delas.

De um modo geral, o que é microfinanciamento? São empréstimos de curto prazo focados na


parcela mais pobre da população, normalmente excluída do mercado de crédito. Seu apelo,
dentre outras características, se dá pela baixíssima taxa de default e o impacto significativo
sobre investimentos, lucros e empreendedorismo.

Nas últimas décadas, microfinanciamento tem crescido bastante, em torno de 19% ao ano
entre 1997-2013, alcançando uma escala onde pode ter efeito macroeconômico. Então, quais
são os impactos agregados e distribucionais de microfinanciamento? É possível, e até mesmo
desejável, utilizar microfinanciamento como uma política de desenvolvimento?

Essas são perguntas que a literatura, focada em microavaliações, não respondeu. Portanto, o
objetivo dos autores é construir um modelo de equilíbrio geral que permite tal análise.

Para isso, desenvolvem um modelo de empreendedorismo com fricções financeiras, onde os


agentes são heterogêneos em suas riquezas e produtividade. Tendo feito isso, calibram o
modelo com dados da economia indiana e comparam os resultados com as obtidas nas
microavaliações.

Os principais resultados obtidos são que, em equilíbrio parcial, o produto e o capital


aumentam, mas a TFP diminui, enquanto em equilíbrio geral, o produto fica praticamente
inalterado. Entretanto, a grande maioria da população se beneficia do microfinanciamento.

O modelo é baseado no modelo dos próprios autores, de artigo de 2011. Nele, os agentes são
heterogêneos em suas riquezas e na sua ideia empresarial. Em cada período, os agentes
escolhem se irão trabalhar por um salário ou empreender.

Caso, empreendam, eles alugam capital de intermediários financeiros e tem a opção de dar
default sem serem banidos do mercado. Entretanto, o capital vai ser limitado superiormente
por uma restrição endógena de colateral, sendo esse limite o maior estoque de capital
consistente com os empreendedores escolhendo não dar default.

As ideias empresariais sobrevivem a uma taxa constante gamma. Caso a ideia morra, uma
nova ideia é sorteada, independentemente da anterior.

O que os autores fazem aqui é adicionar a opção de microfinanciamento, que é modelado


como uma inovação na tecnologia financeira que garante tanto o acesso quanto o reembolso
do financiamento, limitado à quantia b_mf.

O problema do trabalhador é o de sempre. Aqui na restrição orçamentária, temos essa função


indicadora. No modelo, crédito é apenas para financiar capital, porém, os indivíduos podem
utilizar o limite de microfinanciamento para financiar consumo, que são basicamente
empréstimo que permitem a riqueza ser negativa. Então, se o individuo tem riqueza negativa
ele necessariamente faz uso de microfinanciamento.

O problema do empreendedor também é padrão. A única diferença é que o empreendedor


também pode fazer uso do capital convencional. Entretanto, como o capital de
microfinanciamento é garantido, os intermediários financeiros levarão isso em consideração
na hora de emprestar capital adicional.
O modelo foi calibrado para dados da década de 1990 da economia indiana. Esse período foi
escolhido por ser pré-boom de microfinanciamento. Além disso, a India tem diversas
experiências com microfinanciamento e dados de razoável qualidade, com um nível de
desenvolvimento financeiro similar à de outros países emergentes. Os autores utilizam a
calibração para verificar os impactos de curto prazo com preços fixos (PE) e assim comparar
com as microavaliações. Dessa forma, eles podem validar o modelo e ter um grau de certeza
em relação aos resultados de longo prazo.

No geral, apesar de não ser perfeita, o modelo calibrado consegue fazer um match na direção
e magnitude do observado pelas microavaliações.

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