Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sergio Rego
deste país seguissem o exemplo do Setor Saúde, abrindo suas alternativas para o debate
público, com seriedade e transparência, talvez esta crise que estamos vivendo ganhasse
outros contornos.
em meu próprio, o convite para participar desta conferência. A Profa. Maria Helena
presentes, suas desculpas e, especialmente, seu lamento pela imprevisibilidade dos fatos
Para abordar o tema proposto para esta palestra, gostaria de iniciar dando algumas
setor saúde, e essa crise se intensifica com os efeitos da crise econômica, com a pobreza
de nosso povo, repercutindo de maneira dramática em suas condições de vida. "Os anos
quadro epidemiológico.
De outro lado, no campo das políticas públicas, Betinho já alertava em 1989 que
população brasileira. A chamada ideologia privatista pretende que o Brasil seja uma
sociedade constituída por 130 milhões de consumidores que gozam das delícias das leis
do mercado, com capacidade financeira de fazer opções entre as boas e as más ofertas de
bens e de serviços oferecidos pelo setor privado" (Betinho, JB 12/3/89, p.11). Basta olhar
para a verdadeira face de nosso país para ver que o mercado aqui funciona somente para
uns poucos e que o resto luta desesperadamente apenas para conseguir sobreviver.
produzido, o produto econômico, não importa seu resultado. O princípio que supõe-se
que deveria nortear todas as ações de saúde: preservar e recuperar a saúde dos cidadãos,
2
E o PLANEJAMENTO com tudo isso? Para muitos é a panacéia capaz de propor
transformar a realidade naquilo que seja estabelecido que ela deva ser. Um grupo de
do plano e cedo as metas vão se distanciando mais da realidade. E porquê? Porque neste
inicialmente. São ignorados os demais atores sociais, suas ações e reações. O plano
pressupõe e espera sua adesão total e a inexistência de intercorrências que obriguem uma
reavaliação dos rumos tomados.. Os planos assim concebidos parecem feitos para
experiências de laboratório, onde todas as condições estariam sob controle. Mas não
Talvez por isso, alguém um dia dividiu o planejamento nas seguintes seis fases
- entusiasmo;
confusão;
desilusão;
procura do culpado;
castigo do inocente;
anunciadas, parte de sua experiência. Não desanimem, não foram os únicos e, certamente,
pessimistas podiam imaginar. Essas "etapas", podem ser pensadas também com relação a
esses "planos econômicos" que a cada ano jogam em nossas cabeças. Pensem só.
3
Outro fato muito comum é o desenvolvimento, nas organizações, de percepções
porque não aceitamos esta forma tradicional de planejar e temos outro entendimento
Suga):
Isso decorre do fato de que, em diversas organizações, quem planeja não executa
e quem executa não planeja - um setor faz o plano para que outro o implemente. Um diz
o que o outro deve fazer, estipula suas metas, define seus objetivos. A essa situação os
são elaborados como parte de um rito que, acredita-se, pouca ou nenhuma conseqüência
trará. Fazem parte do "faz de conta que aqui é sério, moderno". Afinal, dizer que há
com a rigidez. É como se fosse necessário uma auto-afirmação do plano, ele não pode
parecer frágil, pois poderia significar que aqueles que o elaboraram não são muito
competentes.
Este modelo de Planejamento, que ainda seduz os administradores de uma
4
Como alternativa, desde meados da década de setenta, o enfoque estratégico
começa a ganhar força. O crescimento deste conceito não está, entretanto, restrito ao setor
público ou ao setor saúde. Na verdade, a maioria das empresas modernas vêm, desde
E o quê este enfoque estratégico traz de novo? Qual sua grande novidade?
a evolução para a evolução dos fatos sociais. Deixa de importar, para o processo de
planejamento, apenas aquilo que se deseja e passa-se a considerar os caminhos
"O planejamento estratégico joga por terra a idéia de que fazer política é algo
num espelho passivo. Implica sempre uma certa seleção e interpretação dos dados, uma
ao início desta exposição, gostaria de apontar, como um dos maiores desafios atuais, a
básica. ë preciso trazer para o cotidiano, como categoria analítica, o conceito de eficácia,
ou seja, a capacidade dos serviços de resolverem problemas de saúde. O que precisa ser
serviço produzir 100 consultas se não conseguir ser eficaz em suas consultas? Não que se
5
deva subestimar a importância de parâmetros como a produtividade ou o rendimento,
como afirma GASTÃO, mas superar a racionalidade que eles representam. Na construção
do Sistema Único de Saúde, deve ser o planejamento, realizado à partir das necessidades
propostas, que serão analisadas e confrontadas com seus pares e caberá à instância central
harmoniza-las e, junto com os demais níveis, avalia-los de forma constante. Assim, todos
estarão mais comprometidos não só com as metas mas com o próprio trabalho.
Para concluir, gostaria de voltar a citar Betinho para afirmar que "propor uma
Referências
Castor, Belmiro Valverde Jobim; Suga, Nelson. Planejamento e Ação Planejada: o dificil
binômio. Rev. Adm. públ., Rio de Janeiro, 22(1):102-122. jan./mar. 1988.
Buss, Paulo. Compromisso social: uma nova ética na administração pública. Cad. Saúde
Pública vol.6 no.2 Rio de Janeiro Apr./June 1990
6
7