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DISCIPLINA:DIREITO CIVIL

PROFESSOR: BRUNO ZAMPIER


MATÉRIA: CONTRATOS

Indicações bibliográficas:

 Manual de Direito Civil – Flávio Tartuce

Leis e artigos importantes:

 Art. 421 a 480 do CC

Palavras-chave: Princípios, regras, contratos, liberdade, obrigatoriedade, relatividade.

TEMA: TEORIA GERAL DOS CONTRATOS

PROFESSOR: BRUNO ZAMPIER

PRINCIPIO DA BOA-FÉ–

OBS – Boa-fé objetiva X boa-fé subjetiva -

A boa-fé subjetiva significa um estado anímico, significa que o sujeito ignora determinada situação, não sabe por
exemplo da presença de vícios, ou seja, esta boa-fé subjetiva é aquilo cujo contrário é a má-fé.

Ela irá se ligar a famosa teoria da aparência, iremos tutelar de forma mais benevolente aquele sujeito que
aparentemente ignora determinado tipo de situação.

EX – arts. 309, 1201, 1214, 1219, 1255, etc.

A boa-fé objetiva irá trazer um modelo de conduta, você não precisa dizer que ele agiu de boa-fé objetiva, e sim
conforme aquele modelo de comportamento trazido pela boa-fé objetiva.
Ou seja, agir conforme a boa fé significa a boa fé objetiva, agir de acordo com aquele modelo de conduta.

Esse agir será com transparência, retidão, honestidade, respeitando a confiança alheia.

Quem age violando esses preceitos que são impostos pela boa-fé objetiva age de má-fé? NÃO!! Irá apenas agir
desrespeitando a boa-fé.

Funções que devem ser cumpridas pela boa-fé –

- Função interpretativa / Hermenêutica da boa-fé – Os negócios jurídicos e as regras em geral devem ser
interpretados conforme a boa-fé.

Matéria: Direito Civil – Prof: Bruno Zampier


OBS – Em relação a seguro de vida, quando a pessoa se suicida anteriormente a 2 anos, a seguradora não precisa
pagar nada aos beneficiários, pois entendem ter sido premeditado. Mas STJ já interpretou esta regra do art. 798
conforme a boa-fé, a seguradora deve provar que foi premeditado para não ter que pagar.

(informativo 469 e 470)

OBS – Mas existe um informativo, 564 que diz que mesmo havendo prova de premeditação do suicídio, a seguradora
deverá ao menos devolver o valor pago pelo segurado aos beneficiários.

Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da
linguagem.

OBS - O art. 112 traz a chamada teoria da declaração no âmbito do negocio jurídico. O negocio jurídico é uma
declaração de vontades, e para produzir efeitos no mundo jurídico ela tem que ser exteriorizada.

EX – Pessoa reservou um hotel solicitando dois quartos com 3 camas, só que ao chegar no hotel ele é informado que
tem dois quartos triplos, mas ele queria apenas dois quartos com 3 camas, e não com 3 camas em cada.

Quando o juiz tiver que resolver um conflito e não for o suficiente pelo art. 112, deve utilizar também o 113:

Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

Aqui é uma afirmação de que os negócios jurídicos devem ser interpretados de acordo com a boa-fé objetiva,
verificando qual o comportamento que se esperava dentro de um modelo de conduta por parte dos sujeitos quando
a declaração foi feita.

EX – No caso anterior se houve uma duvida a qualquer uma das partes, o hotel deveria ter enviado um e-mail para a
pessoa que solicitou a reserva e verificado se ele queria 3 camas em cada quarto ou 3 camas no total.
Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.

- Função Integrativa / Criadora da boa-fé – Prevista no art. 422 CC.

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa-fé.

Além dos deveres principais consubstanciados em deveres de dar, fazer ou não fazer, as partes deverão cumprir
também os denominados deveres anexos, também chamados de laterais, acessórios.

Hoje com a incidência da boa-fé objetiva a obrigação passa a ser complexa, com os deveres principais e anexos.

Ver informativos 583, 573, 562.

E quais são os chamados deveres anexos?

- Cooperação (colaboração)

O contrato deverá satisfazer o interesse das partes, alcançando-se o resultado mais proveitoso ao credor, e da forma
menos onerosa ao devedor.

EX – Clausula de não concorrência, concessão de moratória.

- Proteção (cuidado)

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Esse dever nada mais é do que a necessidade de uma parte proteger os direitos da outra, sejam estes de natureza
patrimonial, ou existencial.

EX – O shopping pode ser responsabilizado por danos ocorrentes no carro do cliente em seu estacionamento.

- Informação (esclarecimento)

Tudo que disser respeito ao contrato e ao seu objeto e que puder ampliar o conhecimento da parte contratante deve
ser a ela informada.

As informações a serem concedidas são aquelas que já estejam em conhecimento da parte declarante, ou seja, ela já
tem que conhecer a informação para repassar.

No caso de doenças preexistentes e todo o tramite relacionado ao plano de saúde, a parte não pode ser limitada
caso não soubesse mesmo da doença no momento de contratação do plano.

Quando há uma violação positiva do contrato surge uma nova forma de inadimplemento, caso a parte cumpra o
dever principal mas esqueça os anexos, não terá cumprido de maneira efetiva o contrato, ela teve um
“adimplemento ruim”.

E qual seriam os efeitos dessa violação positiva do contrato?

Os mesmos estudados em relação ao inadimplemento absoluto e mora, ou seja podemos pensar em resolução do
contrato, ou então essa resolução cumulada com uma tutela reparatória, etc.

Lembrando que, a boa-fé deve ser observada em todas as fases, tanto na pré contratual quanto na pós contratual.

- Função Controle / Limitativa da boa-fé –

Todo direito subjetivo deve ser exercido por seu titular respeitando-se os limites estabelecidos pelo ordenamento
jurídico.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Se tais limites não forem obedecidos pelo titular configura-se o abuso do direito.

O art. 187 é uma clausula geral, que permite ao juiz a verificação de acordo com o caso concreto, se o exercício de
um direito é legitimo ou pelo contrario, se é abusivo. Consequentemente poderá despertar o dever de indenizar nos
termos do art. 927 CC.

OBS - Quando é que o desrespeito a boa-fé poderá ensejar o abuso do direito?

Ao longo do tempo a doutrina construiu algumas figuras que hoje estão ratificadas pela jurisprudência que seriam
manifestações da função de controle da boa-fé.

- Adimplemento substancial – Também chamado de inadimplemento mínimo. Um exemplo seria pessoa que
financia o carro, paga 40 parcelas e faltam 3 e deixa de pagar, ele não pode ter o carro tomado por isso.

De acordo com essa teoria, o credor a fim de se respeitar a boa-fé objetiva e evitar o abuso do direito, não poderá
utilizar-se de medidas que venham a romper aquele contrato, devendo então se utilizar de meios menos gravosos e
mais adequados a persecução do crédito remanescente.

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- Venire contra factum proprium – Também conhecido pela doutrina como teoria dos fatos próprios – A ninguém é
dado vir contra seus próprios atos, ou seja, o que essa teoria quer trazer é uma vedação ao exercício de posições
contraditórias.

Se um sujeito adota a posição A em um momento anterior, a posição B deve ser coerente com a posição A. Ou seja, a
segunda posição adotada não pode ser contraditória com a primeira.

OBS – E se uma pessoa der um imóvel bem de família como garantia? Mesmo assim poderá ser penhorado, haja vista
que a própria lei de proteção ao bem de família diz que quem oferta como hipoteca o único bem protegido abre mão
dessa proteção.

- Supressio – Será usada como um argumento de defesa por aquele que se depara com a omissão de um titular
quanto ao exercício de seu direito subjetivo, omissão esta que se perpetua no tempo, e que faz nascer para a outra
parte um direito de manutenção da situação jurídica vivenciada como forma de se respeitar a boa fé objetiva.

- Surrectio - É a outra face da supressio, ou seja, ela concede ao sujeito um direito subjetivo de continuidade de uma
situação jurídica já consolidada no tempo, como forma de tutela das expectativas legitimamente consolidadas.

- Tu quoque – Aquele que não respeita uma norma também não poderá exigir os benefícios que aquela mesma
norma concederia.

EX – Art. 180 CC diz que o menor relativamente incapaz não pode para se eximir de uma obrigação invocar a idade,
caso se dolosamente a ocultou quando foi inquirido pela outra parte ou se declarou maior.

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