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As opções da Fiat para a nova fábrica de

Pernambuco
Planta pode ser usada tanto para fortalecer sua posição com a marca
Fiat, quanto para dar uma segunda chance à Chrysler no país
Por Marcio Orsolini

São Paulo – Ainda não está claro o que a Fiat fará com a nova fábrica em Pernambuco, cuja
construção foi antecipada por EXAME nesta quinta-feira (9/12). De concreto, sabe-se que a
montadora contará com o forte apoio do governo estadual, com quem negocia um pacote de
benefícios fiscais. O projeto atraiu também o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que
pretenderia se despedir da presidência participando do anúncio da fábrica, esperado para o fim
do mês.
Festejos políticos à parte, o fato é que a construção de uma nova fábrica abre duas
possibilidades à Fiat. A primeira é desafogar a planta de Betim (MG), que hoje opera no limite
da capacidade produtiva. A outra é dar uma segunda chance à marca Chrysler, segundo notícias
que circularam na imprensa. É claro que, como toda decisão de negócios, cada opção tem suas
vantagens e, também, seus pontos negativos.

A Fiat é líder no mercado brasileiro de automóveis, mas os especialistas apontam um calcanhar


de Aquiles. Apesar de deter 22,95% do mercado nacional, a montadora é ainda deficiente no
segmento de carros médios. A saída para reverter a situação poderia ser fabricar localmente
alguns modelos da Chrysler, da qual é dona de 20.

Patinada
A Chrysler nunca foi, propriamente, um fenômeno de vendas no Brasil. Sua primeira tentativa
por aqui ocorreu em 1967, após adquirir o controle da francesa Simca. Inicialmente, a
fabricação dos Simca foi mantida, mas logo depois passou a produzir seus próprios modelos,
sob a marca Dodge. No início dos anos 80, a marca foi comprada pela alemã Volkswagen.

Na segunda passagem pelo país, a marca se instalou no mesmo período em que uma leva de
montadoras inaugurou fábricas, como Toyota, Honda e Renault. Na ocasião, a fábrica
paranaense recebeu o equivalente a 315 milhões de reais em investimentos e tinha capacidade
para 40.000 veículos anuais. O modelo escolhido foi a picape Dakota, que derrapou nas vendas.
A última tentativa aconteceu em 1998, com uma fábrica em Campo Largo (PR), que foi fechada
três anos depois.

Sem produção local desde então, os modelos da Chrysler que circulam no país passaram a ser
importados – e o volume é relativamente modesto. Até outubro, foram vendidas 649 unidades
da Chrysler. Para se ter uma ideia, a Audi importou 2.621 unidades no mesmo período.

Para abrir um espaço considerável, é claro, a Fiat precisa investir em modelos com preços
menores, como o próprio Cruiser, que pode ter um valor ainda mais baixo com uma produção
nacional. Assim, a marca poderia fazer frente às campeãs do segmento, como Corolla, Civic e o
Vectra, da GM. Até o final do ano, a Chrysler pretende lançar 16 carros, entre novos modelos e
versões — o equivalente a 75% do portfólio da empresa.

Modelos já conhecidos
A outra opção é reforçar a produção de modelos da própria Fiat, já conhecidos no país. A
primeira vantagem seria desafogar a fábrica de Betim – a única da montadora no país –, que está
com 95% de sua capacidade ocupada, considerada a média mensal de produção. A unidade pode
produzir anualmente 800.000 unidades – até novembro somava quase 694.000. “Aumentar a
capacidade de Betim seria paliativo, um quebra-galho. Uma nova fábrica é a solução ideal”,
afirma o consultor Corrado Capellano.

No plano de investimentos até 2014, a Fiat parece ir na contramão do que avalia Capellano. Dos
10 bilhões de reais previstos no período, 7 bilhões serão aplicados na expansão da unidade de
Betim. A fábrica de Pernambuco entraria no restante do orçamento. Procurada, a Fiat confirma
apenas conversas com o governo de Pernambuco, mas nega o projeto.

Como toda empresa, a diminuição dos custos faz parte dos planos. O Nordeste conta com um
atraente regime automotivo de incentivos criado ainda no governo Fernando Henrique Cardoso,
relançado há dois anos por Lula quando a Ford decidiu investir na expansão de sua unidade de
Camaçari (BA).

Agora o pacote de benefícios fiscais – que inclui a utilização dos créditos de IPI para quitar
tributos como PIS e Cofins – durará até 2015. “Os incentivos têm que valer muito a pena,
porque as peças terão de ser levadas de São Paulo e isso implica em custos”, diz José Roberto
Ferro, presidente do Lean Institute. “Depois há mais custos para levar os carros de volta ao
Sudeste, onde está o maior mercado consumidor.” Em 2009, o Sudeste correspondeu a 47% dos
licenciamentos.

Mercado externo
Há também a possibilidade, mais remota, de a montadora importar veículos da Europa pelo
porto de Suape, onde vem sendo construído um dos maiores complexos industriais do país. “A
exportação só faria sentido se fosse para Europa e Estados Unidos, mas a Fiat é forte no
mercado europeu e a Chrysler tem fábricas com capacidade ociosa no México, que abastece o
mercado americano”, pondera Ferro.

Assim, a opinião dos consultores ouvidos por EXAME.com é que faz mais sentido que a nova
fábrica priorize o mercado interno. Afinal, mesmo com a restrição ao financiamento de
automóveis anunciado pelo Banco Central há duas semanas, os brasileiros parecem continuar
ávidos por carros novos. E a Fiat não quer perder a chance de fazer bons negócios com isso.

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