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ST ee hh O, mas agont minha metontnia ¢ insuportdvell Eta eafonese, em sua deitica, jd nda paso exconder! Perdi tada a poess que me era to cata. E, em tipia hipotipoe,veio eno a falecer James Clifford University of California, Santa C George E. Mareus Rice University Introdugao: Verdades parciais James Cliford (0 trabatto interdiiplinar, fo dicate hye eve di, no se refre ao confronto entre dsiplinas jd consituidas (ne uma delas, na verdade, quer se devcar desfacer). ant fecgr aleya coisa iterdscplinar, nao basta escolber un “aljete” (wm tema) « clocar & sa volta das on tris ancias, A interdciplinaridade consiste em char anv oto cbjeto que no pertence a ningyém. Roland Barthes, “Jeunes chercheuts”, Voct vat preisar de mais mesas do que imaging. Blenore Smith Bowen, conselho para o trabalho de campo, em Return fo langhte 10980 frontispicio mostra Stephen Tyler, um dos colaboradores deste trabalhando na India, em 1963, O etndgrafo esta absorto, escre~ ‘anota algo que Ihe é ditado? Elabora uma interpretacio? Registrt cervagiio importante? Rabisca um poema? Curvado no calor, tem uri jolhado pendurado sobre os éculos. Nao se pode ver sua express . uum interlocutor olha para longe — com tédio? Paciéncia? Di #) Nesta imagem, o etnégeafo esti na borda do quadro — sem roste, {raterreno, uma mio que escreve. Este nfo € 0 retrato comum do tle campo antropolégico. Estamos mais acostumados a imagens de t Mead brincando exuberante com criangas, em Manus, ou fazendo aetna neensees ment anes perguntas nos aldedes, em Bali, A observagio participante, # férmula elis- sica do trabalho antropol6gico, deixa pouco espago para textos, M assim, perdido em alum lugar em seu relato do trabalho de campo entre os pigmeus Mbuti ~ correndo por thas na mata, sentado 4 noite cantando, dormindo em uma cabana de folhas lotada ~, Colin ‘Turnbull menciona que ccarregava para todos os lados uma maquina de escrever. Nos Argonautas do Pacifico Ocidental, de Bronislaw Malinowski, em que uma fotografia da tenda do etnégrafo, em meio As habitagdes de Kiriwina, é exibida com destaque, ao hi qualquer exposigo do interior da tenda, Mas em outra foto, em uma pose cuidadosa, Malinowski registrou a si mesmo escrevendo a uma mesa, (A tenda estd aberta; ele est de perfil e alguns trobriandeses esto do lado de fora, € observam aquele rito cutioso,) Fssa notavel fotografia s6 foi publicada dois anos atras — um sinal dos nossos tempos, ¢ nfo dos dele.' Principiamos nfo com observagio participante ou textos culturais (passiveis de interpretacio), mas com a escrita, a constru- lo de textos. A escrita no é mais uma dimenso marginal, ou oculea, mas ‘vem surgindo como central pata aquilo que os antropélogos fazem, tanto no campo quanto no que a ele se segue. O fato de que até recentemente a escrita nfo tenha sido retratada ou seriamente discutida reflete a persisténcia de uma ideologia que reivindica a transparéncia da representagio ¢ © imediatismo da experigncia, A escrita reduzida a um método: boas anotagdes de campo, elaboragio de mapas precisos, “redacio minuciosa” de resultados. Os ensaios aqui reunidos afirmam que essa ideologia se desintegrou. Neles, a cultura é vista como composta por representacdes € cédigos se- riamente contestados; neles, assume-se que 0 poético e o politico sik separdveis, que a ciéncia esté nos processos hist6ricos e linguisticos, € no acima deles, Os textos partem do principio de que os géneros académicos ¢ literdrios se interpenetram e que a escrita de descrigdes culturais é propria~ ‘mente experimental e ética. Seu foco na construgio de textos € na retdrica serve para destacar a natureza artificial ¢ construida dos relatos culturais. Esse foco mina modos de autoridade abertamente transparentes € chama 4 atengio para as condigdes hist6rieas da etmografia, para 0 fato de que a etnografia esti sempre enredada na invengio, e nao na representacto das i Malinowski, 1961, p. 17. A fotografia dentro da tenda foi publicada, em 1983, por George Stocking, em History of Anthnepolegy 1, p. 101, O volume contém outras cenas reveladoras da ‘seria etnogrifica. ltrs (Wagner, 1975). Conforme fieard evidente nas proxin aide t6picos abordados dos ensaios, embora enfoquem pr lentrindo contextos de poder, re Inovagées. A undigio etnogrifica € aquela de Herddoto e do Persa de Montes: ssa tradigio olha de forma obliqua para todos os atranjos coleti Inte ou prdximos. Fla transforma o estranho em familiar, o exdtico em {olidiano, A ctnogeafia cultiva uma clareza engajada, como aquela instacha 1 Vitginia Woolf, as paginas, a , A maior dlos textos, isténcia, constrangimentos instit » tradicion » é literiria, no ser cionais Que nunca paremos de pensar — 0 que é esta “civilizagio’” na qual now en contramos? O que sio estas ceriménias ¢ por que devemos participar dlas? © que so estas profissdes € por que devemos ganhar dinhieito com elas? Aone, em resnma, isso esti nos levando, esse cortejo dos filhos de homens educados? (Woolf, 1936, pp. 62-63), A etnografia situa-se ativamente entre podero - Coloca suas questées nas fronteiras entre civilizagées, culturas, classe & péneros. A etnogeafia decodifica e recodifica, revelando as bas lem colctiva ¢ da diversidade, da incluso e da exclusio, Ela desereve pro: i de inovagho e de estrururaciio e faz parte, ela mesma, desses processos, A ctnogeafia é um fendmeno interdisciplinar emergente, Sua autor © sua retérica espalharam-se por muitas areas em que a “cultura” é um iio problemético recente de descrigo ¢ critica. Este livro, embora parti Inibalho de campo e de seus textos, abre-se para a pritica mais abtan le de escrever sobre, contra ¢ entre culturas, Este raio de agio de finido inclui, para citar apenas algumas perspectivas em desenvolvimen 4s etnografia histérica (Emmanuel Le Roy Ladurie, Natalie Davis, Catlo utp), a poética cultural Stephen Greenblatd), a critica cultural (1 lc, Lidward Said, Fredric Jameson), a anilise do conhecimento implicito priticas cotidianas (Pierre Bourdieu, Michel de Certeau), a critica das iuinas hegemdnicas de sentimento (Raymond Williams), o estudo de co Wades cientificas (seguindo ‘Thomas Kuhn), a semistica dos mundos Uicos € dos espagos fantisticos (L2vetan Todorov, Louis Martin) e todos osos sistemas de aqueles estudos que abordam sistemas de signifieados, tradigdes em con lilt ou artefatos culturais Essa complexa rea interdisciplinar, cuja abordagem toma aqui, corti ponto de partida, uma crise na antropologia, é diversa c esti em transfortii io, Por isso, no quero impor uma falsa unidade aos ensaios explorattioy que se seguem. Embora compartilhem uma simpatia geral por abor layeni) que combinam postica, politica e historia, eles divergem varias vezes cntte 6 “Muitas contribuigdes combinam teoria literéria e etnografia. Algumas expl ram os limites dessas abordagens, sublinhando 0s perigos do esteticisno © 0 constrangimentos do poder institucional. Outras defendem ardorosanven formas experimentais de escrita, Mas, cada qual a seu modo, todas anal priticas aruais e passadas a partir de um compromisso com possibililadloy faturas. Veem a eserita etnogrifica como inventiva, em estado de transfor ‘macio: “a Histéria”, nas palaveas de William Carlos Williams, “deverin vet pata nés como a mao esquerda de um violinista” As abordagens “literitias” vém, nos ultimos tempos, ganhando cert popularidade nas ciéncias humanas. Na antropologia, escritores influentoy como Clifford Geertz, Vietor Turner, Mary Douglas, Claude Lévi-Strauss, Jean Duvignaud e Edmund Leach, para mencionar apenas alguns, demon ‘traram intercsse pela teoria e peatica literirias. Cada um A sua maneira, hor raram a fronteira que separa arte ¢ ciéncia, Mas essa atragio niio é inédita, \y identificagdes autorais de Malinowski (Conrad, Prazet) séo bem conhecicay ‘Margaret Mead, Edward Sapir e Ruth Benedict viam a si mesmos como i mesmo tempo antropdlogos ¢ artistas literdtios. Em Paris, o suttealismo ¢ ctnografia profissional trocavam regularmente tanto ideias quanto p. Mas, até recentemente, as influéncias literfrias foram mantidas & distincia lo cetne “tigoroso” da disciplina. Sapir e Benedict tiveram, afinal, que es det sua poesia do olhar cientifico de Franz Boas. E, embora os etadgrafo tenham sido muitas vezes chamados de romancistas mangué (principalment aqueles que escrevem um pouco bem demais), a nogio de que procedimen tos literitios perpassam qualquer trabalho de representacio cultural é urna ideia nova na disciplina. Para um numero cada vex maior, contudo, a “1 tureza literdtia” da antropologia ~ ¢, particularmente, da etnografia — parece Mnais do que uma questio de escreyer bem ow de ter um estilo Og processos literitios ~ metifora, figur tiva ~ ale Ws como fendmenos culturis sao registrados, desde as primeitas > final do livro, até chegara forma como cntido” em atos de leitura especitficos. {ii muito se afirma que a antropologia cientifica é também urna lie as etnografias tém qualidades literarias. Eseutamos com frequcn tor esereve com estilo, que determinadas descrigGes sio vividlis wentes (mas qualquer descti¢Zo precisa no deveria ser convineen brn é considerada evocativa ou artisticamente composta, além de |, fuungdes expressivas ou retéricas stio conccbidas como decorali \\s como maneiras de apresentar uma anilise ou descrigio objeti . Assim, 0s fatos podem ser mantidos separados, principio, de scu meio de comunicagio. Mas as dimensées liter! ica dit etnografia nfo podem mais ser compartimentalizadas tio Plas atuam em todos os niveis da ciéneia cultural. Na verdade, iol de uma abordagem “literaria” de uma disciplina, a “antrop» lamente enganosa, enmaios aqui reunidos no representam uma tendéncia ov perspec tle uma “antropologia” coerente (pace Wolf, 1980). A definicio \\ no modelo dos “quatro campos” ~ da qual Boas foi, talvex, 0 junio ~ inclufa a antropologia fisica (ou biol6gica), a arqueologia, login cultural (ou social) e a linguistica. Poucos argumentatian, «jue esses campos compartilham uma abordagem ou objeto uni hora 0 sonho continue, gragas, em larga medida, a arranjos ins Os ensaios deste volume ocupam um novo espaco aberto pela do “Homem” como #las de toda uma disciplina, e recorrem hentos recentes nos campos da critica textual, da histéria cultural, 4 da Filosofia hermenéutica e da psicanilise. Hé alguns anos, e1 ‘patil de obras que exploram esse campo em expansio do “literirio” na anteope jem mencionar os colaboradores deste volume): Boon (1972, 1977, 1982) Ge 1053); Turner (1974, 1975); Fernandez (1974); Diamond (1974); Duvignaud (197 Sunda (1980); Favret Sanda e Contresas (1981); Dumont (1978); Tedlock (198 |, 1980, 1985); Webster (1982); Thornton (1983, 1984). ‘woria ropologica de reaidades “pré-figoradas”, ver a obra de Hayden White (1973, it, Latose © Wookgar (1979, pam wna coneepsio da ida cnten iho”.

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