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Igrejas portuguesas tipo

A tipologia de templos desde inícios do séculos XVI corresponde a uma


solução com réplicas frequentes –para não dizer, frequentíssimas – por se
tratar de uma formulação quase universal do espaço da igreja, um espaço
genérico.

Sabe-se que a génese dese tipo de planta recua ao conjunto de igrejas


que serviam os Colégios universitários das ordens religiosas, edificado em
Coimbra na Rua da Sofia.

Foi desenvolvida por Diogo de Castilho e inicia-se em 1541, num dos


mais antigos colégios desta rua, que era pertença dos cistercienses: o Colégio
do Espírito Santo, também conhecido como Colégio de S. Bernardo. Quase
todos os Colégios desta rua destinados às várias congregações, adoptaram
este plano. Eram, igrejas geralmente de três ou quatro tramos, com capelas á
face intercomunicantes (as chamadas “criptocolaterais”) e janelões superiores,
rectangulares, alinhados pelo eixo dos arco do pavimento térreo 1 .

                                                            
1
- Como exemplo da racionalidade da planta e a durabilidade deste tipo eclesial, refira-se a sequência de
fundçaões colegiais da Rua da Sofia e de Coimbra em geral: Igreja do Colégio da Graça, Coimbra (1542),
Colégio de S. Bernardo, Coimbra (1542-1545), Colégio de S. Tomás, Coimbra (1547-1555), Colégio do
Carmo, Coimbra (1548-1600), Colégio de S.Paulo, Coimbra (c. 1550), Colégio de S. Domingos, Coimbra
(1555), Colégio de S. Jerónimo, Coimbra (1565) e Colégio da Companhia de Jesus, Coimbra (1568).
Ainda, no ciclo que interessa aqui salientar, irá ser construída sendo estes princípios um colégio, tardio,
com data de fundação em 1634 e que parece dar o mote para a continuidade desta tipologia: é o caso do
Colégio de S. Bento de Coimbra, da Ordem beneditina.

 
Planta do Colégio de S. bento de Coimbra (desaparecido). (seg. Kubler)
Colégio de S. bento de Coimbra (desaparecido). Desenho de Albrecht Haupt)

A espessura das paredes ao nível do piso superior permite que os


janelões rasgados nas paredes laterais para iluminação da nave, sejam muito
espessos, com um enxalço muito profundo, onde poderia ser aberta uma porta
para que esses vãos fossem também intercomunicantes, à maneira do que
acontecera nas igrejas dos colégios da Companhia de Jesus.

É evidente que outro tipo de templos, maiores e mais monumentais, e


com um programa mais ambicioso, ajudara a consolidar este tipo de templos
com uma orgânica interior semelhante, mas mais ampla. Refiram-se a série de
igrejas cuja série se inicia com a grande obra de Lisboa no tempo de Filipe I: a
Igreja de S. Vicente de Fora.

 
Igreja de S. Vicente de Fora, Lisboa, 1581-1587 (Juan de Herrera, 1581; Filipe Terzi, 1581-1587; Baltazar Álvares,
1587-1624; Teodosio de Frias, 1611) (seg. Kubler)

Tirando o retro-coro, a organização espacial é idêntica às igrejas dos


colégios. O edifício sagrado inscreve-se num rectângulo, com capelas“à face”,
uma transepto com um cruzeiro mais largo e uma capela-mor profunda. Este
tipo de templos foi depois utilizado como matriz em diversíssimas obras desde
finais do século XVI até inícios do século XVIII. A Companhia de Jesus vai criar
sua própria tipologia de templos para servir os seus colégios, mas percebe-se
que existe uma sucessão, do mais simples para o mais complexo. Num
primeiro momento, no século XVI, o modelo vai ser o da “igreja-caixa” na
expressão de George Kubler, para depois evoluir, até por influência das obras
de S. Vicente de Fora, para uma fórmula mais próxima deste templo e do
templo-mãe de toda a Companhia. A Igreja do Gesu de Roma, da autoria de
Vignolla e de Giacomo della Porta.

À esquerda: planta da Igreja do Colégio da Companhia de Jesus de Santo Antão, em Lisboa (desparaceida) (Baltasar Álvare,1579, 
1613; P. Silvestre Jorge 8até 1608); Diogo Marques Lucas (1614). À direita: planta da igreja do Colégio novo da Companhia de 
Jesus em Coimbra, actual Sé Nova (1598‐1698 (Baltazar Álvares, 1598)  (seg. Chico; seg. Kubler)  

Para este contexto da produção arquitectónica portuguesa que abrange o ciclo 
filipino  como  se  disse  atrás,  mas  também  as  realizações  arquitectónicas  pós‐
Restauração  (pós‐1640),  cite‐se  Miguel  Soromenho,  quando  refere  “os  interiores 
tendencialmente  homogéneos  da  arquitectura  portuguesa  posterior  à  reforma 
tridentina  acompanhavam,  a  par  e  passo,  as  inovações  litúrgicas  europeias  e,  com 
especial  atenção,  as  que  entretanto  ocorriam  em  Itália  (…),  desaguando  em  três 
modelos planimétricos diferentes, segundo a classificação proposta por G. Kubler (…), 
mas  que  devemos  talvez  reconhecer  como  variantes  de  uma  matriz  única,  gerada  a 
partir  da  supressão  da  divisão  interna  em  múltiplas  naves,  mesmo  no  chamado  tipo 
criptocolateral,  onde  elas  se  mantinham,  camufladas  numa  sucessão  de  capelas 
ligadas por um corredor contínuo”. 2 

Verifica‐se  portanto  o  predomínio  da  solução  planimétrica  que  alcança  a  tal 


universalidade de que se falou acima, sobretudo baseada no trabalho daquele que se 
tornou,  depois  de  Felipe  Terzi,  o  arquitecto‐real,  Baltazar  Álvares,  por  sua  vez, 
responsável em todas as grandes obras de patrocínio régio e não só, com uma imensa 
carteira  de  encomendas.  Diz  Miguel  Soromenho:  “Apesar  desta  repartição  de 
responsabilidades  projectuais,  nota‐se  a  constância  de  soluções  no  levantamento dos 
alçados  e  no  desenvolvimento  das  plantas,  o  que  poderá  ser  explicado  pela 
importância da direcção de Baltasar Álvares, tanto mais que elas tornam a aparecer, 
com características idênticas, em obras de sua autoria para outras Ordens Religiosas.” 3 

O  protótipo  para  o  tipo  de  fachadado  Desterro  e  de  outros  –muitos‐  templos 
derivando  desta  organização  formal,  encontra‐se  na  arquitectura  do  Mosteiro  de  S. 
Vicente de Fora.  

Fachada da igreja de S. Vicente de Fora, Lisboa, 1581-1587 (Juan de Herrera, 1581; Filipe Terzi, 1581-1587; Baltazar
Álvares, 1587-1624; Teodosio de Frias, 1611)

                                                            
2
- SOROMENHO, Miguel, A arquitectura do ciclo filipino, Porto, FUBU Editores, 2009, p. 26-27. 
3
- SOROMENHO, idem, p. 31. 
A fachada deste edifício consagrou este tipo de disposição dos seus elementos
constituintes, com uma arcaria tripla em baixo dando entrada para um nartex,
de onde partem pilastra de ordem “gigante” até à cimalha. Os copos das torres
são decorados segundo dois registos, com nichos em baixo, e em cima. As
janelas que iluminam a nave são três, no corpo central da fachada e situam-se
no segundo piso.

Igreja do Colégio da Companhia de Jesus de Santo Antão, em Lisboa (desparecida) (Baltasar Álvares,1579, 1613; P. Silvestre Jorge 
(até 1608); Diogo Marques Lucas (1614). (seg. Haupt) 

Essa posteridade tem a ver com a criação de uma nova fórmula de


iluminação da nave. Deixam de ser utilizadas janelas recilineares na fachada.
Adopta-se um elemento que S. Vicente de Fora já possuía, mas apneas nas
fachadas laterais do transepto: a janela termal. È esse o caso de muitas das
igrejas construída depois de 1640, algumas da Ordem de S. Bento, outras da
Ordem de Cister, de entre as quais o Convento do Desterro.

 
 

Igreja do Mosteiro do Desterro, em Lisboa (parcialmente preservada) (Felipe Terzi, 1591;  Baltasar Álvares ?;  Diogo Marques 
Lucas. (seg. Haupt). Concluída em 1640 

 
Igreja do Mosteiro do Desterro, em Lisboa (fahcada original antes do Terramoto)) (Felipe Terzi, 1591;  Baltasar Álvares ?;  Diogo 
Marques Lucas. (seg. Haupt). Concluída em 1683 

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