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Nomes:

Beatriz dos Santos


Hadassa da Rocha
Matheus Costa da Silva
Um discurso de manutenção
dos privilégios das classes
dominantes
● Marielle Franco.
Texto: A emergência da vida para superar o anestesiamento
social frente à retirada de direitos: o momento pós-golpe
pelo olhar de uma feminista, negra e favelada. ( Presente no
livro: Tem saída? Ensaios críticos sobre o Brasil. );
● Renata Silva e Souza.
Texto: Maré sitiada: o discurso midiático sobre a ocupação
militar do Complexo da Maré. ( Rumores, Brasil, volume 9);
● Cecília Coimbra.
Livro: Operação Rio - o mito das classes perigosas: um
estudo sobre a violência urbana, a mídia impressa e os
discursos de segurança pública. ( 3º Capítulo).
Definição
de
classes perigosas
“ A elite científica brasileira da época está convencida da sua
"missão patriótica" na construção de uma nação, suas propostas
baseiam-se no que é conhecido como "degradação das sociedades
modernas", propondo medidas que deveriam objetivar o seu
"saneamento moral". Em especial, a "degradação moral" é
associada à pobreza, pois esta, com seus vícios, não condiz com o
ideal de nação que se pretende formular. “
Trecho do texto de Cecília Coimbra
“Desse modo, não há surpresa sobre a dominação de um
discurso midiático que se revela como hegemônico
na manutenção do poder daqueles que detêm o direito
de fala. Ou seja, as elites formulam seus discursos para
sustentar seus privilégios e disseminar em seus meios de
comunicação o discurso hegemônico que identifica os
despossuídos financeiramente como inimigos, como classe
perigosa que deve ser controlada e vigiada.
Fragmento do texto Maré sitiada: o discurso midiático sobre a ocupação militar do Complexo da Maré.
- “A palavra proibida, que se caracteriza pela fala do louco expondo a oposição
entre razão e loucura;
- A segregação da loucura; e
- A vontade de verdade, capitaneada pela dicotomia entre verdadeiro e falso.“
Fragmento do texto Maré sitiada: o discurso midiático sobre a ocupação militar do Complexo da Maré.

“O discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou


os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo
que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar ” (Ibid.,
p. 10).
- Foucault
“(...) os discursos devem ser tratados como práticas
descontínuas, que se cruzam por vezes, mas também se
ignoram ou se excluem” (Ibid., p. 50).
- Foucault
Contexto
Histórico:
Segundo Guimarães (1982) sobre a
expressão “Classes Perigosas”.

O Mito das classes perigosas: Cap3. Espaços urbanos e classes perigosas, pág 79/80.
Trecho do livro “O mito das classes perigosas”,
quando a autora Cecília descreve como Mary
Carpenter utilizava este termo desde de 1849.

O Mito das classes perigosas: Cap3. Espaços urbanos e classes perigosas, pág 80/81.
Trabalhos desde o século XIX, como os de Lobo (1997), que buscavam
provar cientificamente o perigo natural que os indivíduos de classes
consideradas socialmente inferiores forneceriam. Um exemplo
“clássico” disso seriam os
 Estudos Eugênicos:
Tentavam comprovar os negros como uma “humanidade inferior”, deslegitimando suas
necessidades e legitimando a escravidão, a servidão e o contato com raça branca como sua
única possibilidade de evolução.)

Para esses, a própria natureza dos negros seria uma justificativa


para o tratamento que recebiam, já que estes seriam preguiçosos
e negligentes “biologicamente”. (Como teria descrito Debret e como vimos
aqui nas aulas).

Essas ideias se fortalecem a partir da publicação de Darwin (A origem


das espécies). Alguns ainda defendem isso até hoje, dizendo que é
algo genético e que a sociedade apenas incentiva a externalização
dessa violência, justificando assim a esterilização dos não inseridos no
mercado capitalista. (ou seja, extermínio dos pobres) .
Escravos e seus senhores – Jean Baptiste Debret
Por exemplo, para o delegado Sérgio
Paranhos Fleury - conhecido por sua
participação em torturas a presos políticos,
nos anos 60 e 70 -

Livro: O Mito das classes perigosas: trecho de uma entrevista feita pelo C.F.D.E.C . Cap3, pág 85.
No século XIX, a família burguesa vai tomando a seguinte forma:

 Mulher como rainha do lar.


 Filhos como reizinhos do lar.
 Família sob tutela da ciência (médicos, doutores) e da polícia
(protegidos por esta).

Os pobres também estariam sob essa tutela, mas para serem


tratados e ou exterminado.
Divididos em: “Pobres Dignos” e os “Pobres Viciosos”.
Os primeiros teriam de ser disciplinados e moralizados,
principalmente durante a infância, para não tenderem aos vícios -
o que seria seu natural. Já os segundos, são degenerados que
precisariam ser retirados da sociedade.
Fragmento do texto de Renata Silva e Souza
Urbanização:
Por fim, com grandes movimentos de massa surgidos,
durante aquele século, com a ameaça das multidões nas
ruas e praças, as reformas urbanas mostraram-se inadiáveis.

 Torna-se urgente a tarefa de extinguir a imagem de um Rio antigo que


era sinônimo nos países europeus de febre amarela, miseráveis, etc...

 Segundo Sennett(1994), na Europa, três grandes projetos marcam a


“modernização” das cidades e a necessidade de proteção das elites contra
as multidões.

 No inicio do Séc. XX, Francisco Pereira Passos (Prefeito, médico


sanitarista 1902-1906) tendo presenciado a reforma pariense, subscreve
tal modelo e o adota como capital da república (Rio de Janeiro).

 Propõe-se a abertura de ruas e avenidas – como a Avenida Central, hoje


Rio Branco – e a extinção de quiosques, casas de cômodos e cortiços.
Cortiço no centro do Rio
Atual Rio Branco
“ Os vendedores ambulantes, os condutores de transportes de
tração animal, os vendedores dos quiosques, os engraxates, os
carroceiros e outros, foram expulsos das vias públicas nas áreas
reurbanizadas por Pereira Passos, gerando a ideia de que a
miséria e a desigualdade social haviam deixado de existir (...) ’’

 No Rio de Janeiro, as demolições ordenadas por Pereira


Passos tornaram aguda a escassez de alojamentos para a
população deslocada e necessitada de uma solução que
garantisse a proximidade do local de trabalho com o local de
moradia.

 Os trabalhadores só encontraram uma solução: a construção


de favelas nos morros próximos ao centro da cidade.
Passarela na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro
 O centro da cidade que antes era povoado por ex escravos,
operários e assalariados, começa a ganhar forma de um
símbolo novo e moderno, sendo transformado com a
construção de largas avenidas e novos elegantes prédios.

 Toda população é compulsoriamente deslocada para as zonas


suburbanas e encostas dos morros, regiões periféricas e sem
estruturas, que se tornaram mais tarde os “territórios dos
pobres”.

 E as obras higienistas no governo de Carlos Sampaio, que


teria organizado a cidade para a comemoração, nos anos 20, do
primeiro centenário da Independência brasileira – para isso
demoliu o morro do Castelo e reformulou a Lagoa Rodrigo de
Freitas, retirando toda a população pobre que residia nessas
áreas.
Vista parcial do Morro do Castelo com as obras de sua demolição em
andamento.
Lagoa Rodrigo de Freitas antes e depois do governo
de Carlos Sampaio
Esse episódio pode ser comparado às obras
pré-Olimpíadas
(praça Mauá, por exemplo).
 Ainda nos anos 20, o prefeito Antônio Prado Júnior (1926-1930)
organizou um plano geral para cidade encarregando o urbanista
francês Alfred Agache. O plano Agache foi o exemplo mais importante
da intenção dos grupos dominantes (...) “ no sentido de controlar o
desenvolvimento urbano do Rio de Janeiro ”. Ainda que algumas das
obras sugeridas fossem realizadas, o plano agache não foi aplicado
totalmente.

 As ruas, portanto, no dizer de Challoub (1986), transformam-se


em “verdadeiros espaços de guerra” com a expulsão dos pobres
do centro do RJ para os subúrbios ou para encostas dos morros,
aumentando as favelas cariocas.

 Esta cidade reformada, higienizada e homogênea que pretende


expulsar de seu centro o cenário de miséria, necessita então de
uma policiamento competente para manter a ordem nos espaços
públicos.
 No século XX, quando ocorre o “ápice” da industrialização brasileira, a
cidade assume grande capacidade de atrair e manter pessoas mesmo em
situações subumanas

 Com Vargas, ocorre a perseguição a vagabundagem e valorização ao


trabalhador de carteira assinada - isso retorna na ditadura. Em contrapartida, a
religião – igreja católica- tenta oferecer a cristianização das massas através da
persuasão ( e não da coerção)
A polícia, principalmente a carioca, tem no período colonial sua atenção
coercitiva voltada para os negros, pelo elevado número de escravos e ex-
escravos presentes nas cidades. Essa atenção é estendida, posteriormente,
para os desempregados, miseráveis e subempregados. Enquanto, para os
brancas e cidadãos considerados responsáveis, sua função era de proteção.

 Além disso, o foco do trabalho policial é durante o início do século


novecentos a “vagabundagem”, “vadiagem”, uso de drogas, prostituição e
jogatinas. E, ainda a sociedade é, politicamente, induzida a fiscalizar desvios
morais supostamente perturbadores da ordem pública ( que seriam, por
exemplo, rodas de samba e cultos afrodescendentes), reforçando a supremacia
branca.
 Música MPB que reflete os contextos
citados acima:
Mesmo depois dos anos 20 e 30 temos essa imagem do ‘’malandro’’ sendo abordada nas músicas MPB

https://www.youtube.com/watch?v=J758GW3Bl5
8
 Música MPB dos anos 60/80 que reflete a
opressão sofrida pela ditadura militar e
desigualdades no Brasil
https://www.youtube.com/watch?v=A_2Gtz-zAzM
 A vinda de migrantes para o Rio de Janeiro e São Paulo, nos
anos 50, 60, 70, também é vista com maus olhos, esses que vêm
em busca de trabalho, acabam se assentando em regiões
periféricas onde os pobres já estavam reunidos. Por isso, passam
a ser considerados novos integrantes das “classes perigosas”,
pessoas que não possuem família nem estrutura e, por isso,
produziram desordem nas cidades.
O Neoliberalismo, com o crescimento da instabilidade para o
trabalhador, nos anos 80 (e retornando agora), intensifica,
paradoxalmente, a noção de que é necessário possuir um
trabalho estável para ser um cidadão digno e a instituição de um
assalariado grato.

 Atualmente, retirada de direitos no período pós-golpe de


impeachment e a intensificação do machismo aliado ao discurso
de uma “crise econômica”.
 Fragmento do texto da Marielle a seguir,
ilustra melhor essa lógica:

Marielle Franco. Texto: A emergência da vida para superar o anestesiamento social frente à retirada de direitos: o momento pós-golpe pelo
olhar de uma feminista, negra e favelada
Dados e estatísticas:

No Rio de Janeiro, nos anos 50, existem cerca de 400 mil favelados, em
uma população aproximada de 2,8 milhões de habitantes.

 No inicio dos anos 80, pula para 1,8 milhão, num total de 5,4 milhões de
habitantes em solo fluminense.

 Nos anos 90, sobem ainda mais esses números, pois enquanto o índice
geral de crescimento da cidade, no período de 1991 a 1996, é de 1,29% quatro
grandes conjuntos de favelas aumentam em até 69,43% como o Complexo da
Maré.

 O próprio estado através de seus serviços tem, cotidianamente e ao longo


dos anos, discriminando os “ territórios dos pobres ”, mantendo a insalubridade
e a precariedade que os têm caracterizado. De um modo geral, o Estado tem
permanecido simplesmente ausente, deixando a pobreza “entregue a sua
própria sorte”.

 Segundo estudo de Rocha(1994) a pobreza no Brasil é cada vez mais, um


problema de metrópoles. No RJ, por exemplo, o empobrecimento e a
desigualdade são mais intensos que a média nacional.
 O Rio de Janeiro é a cidade com a maior população vivendo em aglomerados subnormais do
país, revela o estudo do Censo 2010 sobre o tema, divulgado nesta quarta-feira pelo IBGE.

 São 1.393.314 pessoas nas 763 favelas do Rio, ou seja, 22,03% dos 6.323.037 moradores do
Rio.

 O crescimento da população em aglomerados subnormais em 10 anos foi de 27,65%, enquanto


a cidade regular, excetuando os moradores das favelas, cresceu a um ritmo oito vezes menor,
apenas 3,4%, passando de 4.765.621 para 4.929.723 nesses dez anos.
Leia mais: https://oglobo.globo.com/brasil/rio-a-cidade-com-maior-populacao-em-favelas-do-brasil-3489272
FATORES QUE
CONTRIBUEM
PARA A IDEIA DE
CLASSES PERIGOSAS
 A sensação de segurança vem do distanciamento com a
pobreza, não da ausência de violência - momento em que as
elites deixam o Estado de lado e passam a se preocupar somente
com a segurança, e o Estado assim tem como função apenas a
coerção dos pobres.

 Para Marx, no próprio capitalismo, a acumulação de capital


gera a produção de miséria e esta é aceita naturalmente pelos
indivíduos, por conta da ética e da ótica capitalista difundida,
como originada dos ócios e vícios dos pobres - ainda mais
fortalecida pela ética protestante (Weber).

Livro: O Mito das classes perigosas: trecho ver pag


 Para Milton Santos, a pobreza é um fato originado, também, do
modelo espacial. A cidade é aparentemente dividida em duas,
mas essa divisão seria apenas para maquiar o fato de que uma
célula social permitira a existência da outra e que essas estão
conectadas diretamente.
3 de maio de 1926 – SP, 24 de junho de 2001 ( geógrafo brasileiro. Graduado em Direito, destacou-se por seus trabalhos
em diversas áreas da geografia, em especial nos estudos de urbanização do Terceiro Mundo)
.

29 de setembro de 1925 - 30 de abril de 2013 (Romancista e ensaísta francesa, autora do best-seller "O horror econômico“)
 A medida que esses espaços vão sendo valorizados pelo mercado, os
pobres vão sendo expulsos para outros lugares sem estruturas (sem
água, sem saneamento, sem segurança). Isso é claramente notável no
episódio dos cortiços do Rio de Janeiro, ou no morro do Vidigal
atualmente de forma mais sutil.

 Esses espaços que as pessoas pobres passam a frequentar, são


consequentemente considerados pelo discurso hegemônico, como
espaços de perigo, banditismo e criminalidade. Passa a ter um
desprezo e receio pela rua.

 A casa ganha um rebuscamento, um antro de bondade - já que pode


ser melhor controlada e disciplinada.

 Afirma Kant:
 O que é feito de forma animalesca, precipitada e irracional. Isto é, ao invés de a
culpa ter que ser provada, é a inocência que precisa ser provada a todo instante - isso
se nota nas mortes de jovens negros pobres simplesmente por serem negros e
pobres.
 Mais recente:
Jovens negros têm risco maior de serem assassinados, diz estudo.
 O vídeo a seguir reflete sobre as condições e imagem da
população negra atualmente:
https://www.youtube.com/watch?v=zJVPM18bjFY
Retornamos àquele conceito do contexto histórico onde os pobres seriam
inevitavelmente tendenciosos ao crime e dos projetos higienistas nas cidades.
 A ideia de luta de classes, que manteria contradições sociais e
induziria a violência, também pode ser uma armadilha que levaria
à conclusão de que a pobreza é a origem de toda violência e
criminalidade e de que, portanto, todo pobre seria um criminoso
potencial.

O meio de transporte, que mantém os pobres morando longe,


porém capazes de trabalhar para as elites. Ao mesmo tempo em
que, por perderem tanto tempo no trajeto, não conseguem
melhorar os estudos ou ter agradáveis momentos de lazer.
 A militarização do cotidiano. Guardas, policiais
ostensivamente armados, “arquitetura antimendigo”
condomínios fechados (Barra da Tijuca), a volta ( ou
perpetuação) da ideia de auto armamento.
 A minimização dos crimes das elites por não possuírem violência física
diretamente, serem uma “violência limpa” e sensacionalismo da violência nos
bairros pobres e marginalizados. Aliado a isso, tentativa de deslegitimar os
direitos humanos, como se fossem apenas uma forma de “proteger bandidos”.
Isso tudo fortalecido pela mídia.
 Transformação da violência em campanha política.
 A corrupção inegável dos aparatos de segurança social X a tentativa de
maquiar trazer a corrupção como causa de toda a violência.

Fonte - Texto: A emergência da vida


para superar o anestesiamento social
frente à retirada de direitos: o
momento pós-golpe pelo olhar de
uma feminista, negra e favelada -
Marielle Franco.
Os variados problemas dos aparados de mídia:

 A parcialidade dos repórteres que respeitam e são mais


humanos com as
vítimas de classe média alta e indiferentes a dor dos pobres.

 A naturalização da perda de vidas principalmente as das


classes pobres.

Fonte: o texto “Maré sitiada: o discurso midiático sobre a ocupação militar do Complexo da Maré”.
Os variados problemas dos aparados de mídia:

 A valorização da análise das classes dominantes e dos


aparatos de coerção, aliada à desvalorização de fontes
pertencentes às classes pobres e favelas - legitimando a reação
policial extremamente ostensiva e inconstitucional.

 A rejeição do público receptor (classe média) a realidade da


maior parte da população (classes pobres) e o medo dos
repórteres de frequentar “áreas de risco”.

 A falta de representatividade ou a representatividade distorcida:

Fonte: o texto “Maré sitiada: o discurso midiático sobre a ocupação militar do Complexo da Maré”.
COMO SAIR DESSA:
• Sempre há resistência e luta. Muitas vezes invisível
aos olhos que só enxergam as lutas padrões.

 Criação ( e utilização) de novos canais de diálogo com as


populações das comunidades e desconstrução desse discurso
por parte das novas mídias/dos novos componentes da mídia.

 Há também laços e contribuições de solidariedade entre os


indivíduos considerados pertencentes às classes dominantes que
precisam se manter.

Fragmento do texto de Marielle Franco


Fragmento do texto de Marielle Franco

27 de julho de 1979 - 14 de março de 2018, RJ


Desigualdade Racial no Brasil: Vídeo que reflete sobre
alguns aspectos de desigualdade presentes atualmente
no Brasil
https://www.youtube.com/watch?v=ufbZkexu7E0
Para Refletir:

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