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História da Umbanda

Por volta de 1907[15]/1908 (15 de novembro de 1908)[7] (as fontes divergem quanto à
data precisa), um jovem chamado Zélio Fernandino de Morais, prestes a ingressar na
Marinha, passou a apresentar comportamento estranho que a família chamou de
"ataques". O jovem tinha a postura de um velho dizendo coisas incompreensíveis, em
outros momentos se comportava como um felino.[16] Após ter sido examinado por um
médico, este aconselhou a família a levá-lo a um padre, mas Zélio foi levado a um
centro espírita. Assim, no dia 15 de novembro, Zélio foi convidado a se sentar à mesa
da sessão na Federação Espírita de Niterói,[15][7] presidida na época por José de Souza[7]
.

Incorporou um espírito, se levantou durante a sessão e foi até o jardim para buscar uma
flor e colocá-la no centro da mesa, contrariando a regra de não poder abandonar a mesa
uma vez iniciada a sessão. Em seguida, Zélio incorporou espíritos que se apresentavam
como negros escravos e índios. O diretor dos trabalhos alertou os espíritos sobre seu
atraso espiritual, convidando-os a sair da sessão quando uma força tomou conta de Zélio
e disse:[17]

“ ”
Por que repelem a presença desses espíritos, se nem sequer se dignaram
a ouvir suas mensagens? Será por causa de suas origens sociais e da cor?

Ao ser indagado por um médium ele respondeu:[17]


Se querem um nome, que seja este: sou o Caboclo das Sete
Encruzilhadas, porque para mim não haverá caminhos fechados. O que
você vê em mim são restos de uma existência anterior. Fui padre e o
meu nome era Gabriel Malagrida.[18] Acusado de bruxaria, fui ”
sacrificado na fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761. Mas
em minha última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de
nascer como Caboclo brasileiro.

A respeito de sua missão, assim anunciou:[19][7]


Se julgam atrasados esses espíritos dos negros e dos índios, devo dizer
que amanhã estarei na casa deste aparelho para dar início a um culto em
que esses negros e esses índios poderão dar a sua mensagem e assim,
cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião
que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre
todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem o meu nome,
que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá
caminho fechado para mim. ”
No dia seguinte, na residência da família de Zélio, na Rua Floriano Peixoto, nº. 30, em
Neves (São Goncalo), reuniram-se os membros da Federação Espírita, visando
comprovar a veracidade do que havia sido declarado[20] pelo jovem. Novamente
incorporou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, que declarou que os velhos espíritos de
negros escravos e índios de nossa terra poderiam trabalhar em auxílio do seus irmãos
encarnados, não importando a cor, raça ou posição social.[7] Assim, neste dia fundou o
primeiro terreiro de umbanda chamado de Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade.[15]

O espírito estabeleceu normas como a prática de caridade, cuja base se fundamentaria


no Evangelho de Cristo e seu nome "Allabanda",[21] substituído por "Aumbanda", e
posteriormente se popularizando como "Umbanda".[20]

No ano de 1918, fundaram-se sete tendas para a propagação da Umbanda: Tenda


Espírita Nossa Senhora da Guia, Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, Tenda
Espírita Santa Bárbara, Tenda Espírita São Pedro, Tenda Espírita Oxalá, Tenda Espírita
São Jorge e Tenda Espírita São Gerônimo. Até a morte de Zélio em 1975, mais de
10.000 templos foram fundados além destes iniciais.[22]

Em 1939 com o objetivo de acabar com polêmicas e na tentativa de uma unificação foi
criada a União Espírita de Umbanda do Brasil.[23] A partir desse momento, somente as
práticas que seguiam os fundamentos propostos pelo Caboclo Sete Encruzilhadas
passaram a ser consideradas como umbandistas.[24]

Em 1940, o escritor Woodrow Wilson da Matta e Silva apresentou a Umbanda como


ciência e filosofia, criando então a Escola Iniciática da Corrente Astral do Aumbhandan,
a "Umbanda Esotérica" na Tenda Umbandista Oriental, em Itacuruçá, no Rio de
Janeiro.[25]

Mesmo após as tentativas de unificação, nas décadas de 40, 50 e 60 ainda existiam


inúmeros terreiros no Rio de Janeiro não vinculados à União Espírita de Umbanda do
Brasil, principalmente por discordarem das normativas propostas pela federação e por
serem consideradas atividades isoladas. Estes terreiros realizavam práticas ritualistas
sob a denominação de Umbanda, por exemplo a Tenda Espírita Fé, Esperança e
Caridade e Pai Luiz D'Ângelo, praticante do segmento Umbanda de Almas e Angola.[7]

Em 1941 a UEUB organizou sua primeira conferência, o I Congresso Brasileiro de


Espiritismo de Umbanda[26] como forma de tentar definir e codificar a Umbanda como
uma religião em direito próprio e como uma religião que une todas as religiões, raças e
nacionalidades. A conferência também promoveu uma dissociação das tradições afro-
brasileira.[13] Os participantes concordaram em fazer uso das obras de Allan Kardec
como fundação doutrinária da Umbanda, ao mesmo tempo que se dissociavam das
outras tradições religiosas afro-brasileiras.[27] Ainda assim, os espíritos fundadores da
Umbanda, os Caboclos e os Preto Velhos ainda foram mantidos como espíritos
altamente evoluídos.

Em termos gerais, os participantes do Congresso se esforçaram em legitimar a Umbanda


como uma religião altamente evoluída, por exemplo, afirmando que a Umbanda já
existia como uma religião organizada há bilhões de anos,[carece de fontes] estando então à
frente de todas as outras religiões. Como parte desses esforços em definir a Umbanda
como uma religião original e altamente evoluída, os participantes procuraram remover
suas raízes africanas e afro-brasileiras, rastreando a origem da Umbanda até o
Oriente,[carece de fontes] de onde supostamente se espalhara para Lemúria[28] e
subsequentemente para a África. No continente africano, a Umbanda teria se
degenerado em fetichismo,[27] e nessa forma foi trazida ao Brasil pelos escravos.[29] A
influência africana na Umbanda não foi de todo rejeitada. No entanto, a sua importância
sofreu devido a percepções de corrupção da tradição religiosa original, como uma fase
de retrocesso em sua evolução; a Umbanda foi exposta ao barbarismo na forma de
costumes vulgares e praticada por pessoas com "costumes rudes e defeitos psicológicos
e étnicos"[30] Outra forma de lidar com o caráter africano da Umbanda foi exposto na
compreensão que se originou na África, porém na África Oriental (Egito), sendo então
da parte mais "civilizada" do continente.[31]

Um dos objetivos da conferência foi então rastrear as raízes "genuínas" da Umbanda até
o Oriente; a invenção das raízes orientais juntamente com a rejeição das africanas,foi
refletida na definição do termo "umbanda", que é de outro modo geralmente acreditado
ser derivada do idioma Banto. Declarou-se que "umbanda" vinha das palavras do
sânscrito aum e bhanda, termos que foram traduzidos como "o limite no ilimitado",
"Princípio divino, luz radiante, a fonte da vida eterna, evolução constante".[14][13].

A partir da década de 1950, os setores mais humildes da população umbandista


composta por negros e mulatos começaram a contestar o distanciamento da Umbanda
das práticas africanas. A "umbanda branca" se opunha à tendência de recuperar os
valores africanos presentes na religiosidade popular.[32]

O segundo congresso ocorreu em 1961 evidenciando o crescimento da religião que teve


sua imagem reconstruída pela imprensa, milhares de devotos compareceram ao
Maracanãzinho com representantes de vários estados e a presença de políticos
municipais e estaduais.[32] O jornal O Estado de S. Paulo noticiou a realização do
congresso no Rio de Janeiro afirmando que a "preocupação central do Congresso parece
ser a elaboração de um código que orientará a feitura de uma Carta Sinódica da
Umbanda". No mesmo ano, o jornal Diário de S. Paulo publicou uma grande
reportagem com o título "Saravá meu Pai Xangô, Saravá Mamãe Oxum", onde o
jornalista descreve uma "sessão assistida pelos repórteres a convite do deputado gaúcho
Moab Caldas".[33]

No terceiro congresso realizado em 1973[34] a Umbanda afirmou-se em definitivo como


uma religião expressiva no campo das atividades assistenciais, além dos centros onde
ocorriam as atividades espirituais, a religião contava com escolas, creches, ambulatórios
etc articuladas em torno da missão de promover a caridade e a ajuda.[35]

Na década de 1980 a Umbanda teve seu auge ao ser declarada como religião de muitas
personalidades como os cantores Clara Nunes, Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes,
Baden Powell, Bezerra da Silva, Raul Seixas, Martinho da Vila entre outros.[36]

Na década de 1990 a Umbanda e outras religiões de matrizes africanas foram alvo do


crescente neopentecostalismo brasileiro. Nessa época também fundou-se a Faculdade de
Teologia Umbandista, mantida pela Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino[37] fundada
por Rigas Neto na Água Funda, São Paulo.[38]

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