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EM BUSCA DO MEU EU

Era mês de março, de mil novecentos e setenta e um, depois de ter passado um

ano e alguns meses longe da terra natal, quando dela parti com dezoito anos, para servir

ao glorioso Exercito Nacional Brasileiro, em Florianópolis, quando deixei pela primeira

vez por tanto tempo, a família, os amigos, os colegas de trabalho, e também todos os lu-

gares das ruas do bairro em que vivia brincando e correndo, enfim onde aprontava todas

as peraltices e traquinagens, junto com os amigos da infância e juventude.

Agora voltando depois de ter servido por um ano ao Exército Brasileiro, que com

certeza foi para mim e para meu pai principalmente, motivo de orgulho, já que ele tinha

servido ao Exercito Brasileiro, como certamente foi também para o meu irmão, ele um

ano mais novo do que eu, que tão logo eu cheguei, ele partiu para servir a Pátria no mes-

mo batalhão em que eu servira.

Com quase vinte anos voltava a Imbituba, cidade onde nasci, para começar uma

segunda fase da vida, à vida adulta, depois de ficar por poucos dias em casa desfrutando

da companhia de minha família, volto ao meu emprego na Industria Cerâmica Imbituba,

fabrica de azulejos, onde comecei a trabalhar com dezesseis anos de idade, com Carteira

Profissional de Trabalho de Menor, devidamente assinada pelo empregador.

Nesse ano que passei fora da fabrica, servindo ao Exercito, embora ela tivesse

bastante mudada em quase tudo, inclusive com novas edificações, pois a fabrica estava

sendo modernizada e preparada para os próximos anos, que pareciam ser promissores,
como o país também, só que na minha visão, enquanto a fabrica era quase que totalmen-

te modernizada, mas que infelizmente a cabeça das pessoas que ela administravam e que

nela trabalhavam pouco mudaram.

Eu ainda de cabelo cortado “modelo soldado”, enquando os jovens em sua gran-

de maioria usavam os cabelos compridos, acompanhando o corte de cabelo dos ídolos e

cantores da época os da “Jovem Guarda”.

O reencontro com os antigos colegas de trabalho como o Tuna, Zinho, Abobra

Ailton e Bolinha, que como eu trabalhavam nas mesas de escolha dos azulejos coloridos

e de outros que trabalhavam em diferentes setores da Secção de Expedição, que tinham

como encarregado da secção, meu pai, foi até certo ponto normal.

Os primeiros dias de trabalho depois da volta, que até certo ponto tinham sidos

normais, a medida que as semanas foram passando, os dias pareciam ficar mais longos e

diferentes, realmente tudo parecia estar ficando diferente, diferente mesmo, estava falta-

va alguma coisa e não sabia o que era.

Embora conhecesse quase todas as pessoas que na fabrica trabalhavam, já que

eram em sua maioria todos moradores da cidade e como a cidade era pequena e todos se

conheciam, para mim as pessoas começavam a parecerem estranhas, até os colegas me-

us de secção, que praticamente eram os mesmos de quando me afastei para servir a Pá-

tria, para mim estavam indiferentes, quase que estranhos..

A cada dia que passava, tudo estava ficando estranho e não era só no trabalho

na fabrica não, era também no colégio onde estudava, tudo isso mudava um pouco e

para melhor, quando ia jogar minhas peladas de futebol nos finais de semana, na praia

ou no gramado dos campos de futebol da cidade.


Quanto mais os dias, as semanas e os meses iam passando, mais angustiado eu

ia ficando, estava faltando alguma coisa.

Nessa época, aproveitava alguns finais de semana e viajava para Florianópolis

e procurava alguns amigos do tempo de quartel, foi então que comecei a perceber, que

os meus pensamentos e ideias sobre muitas coisas, quando em conversa com os antigos

colegas de farda, eram diferentes das conversavas com os agora novos velhos colegas de

turma, as minhas ideias e pensamentos sobre muitas coisas de antes tinham mudado, en-

quanto as ideias e pensamentos desses mesmos colegas de trabalho e amigos de turma,

continuavam praticamente os mesmos.

Os meus pensamentos e ideias sobre quase tudo, para mim, pareciam estar dé-

cadas à frente, enquanto que os pensamentos deles pareciam ter parado no tempo e pra-

ticamente eram os mesmos pensamentos e ideias de quando parti à um ano e alguns me-

ses atrás.

Os meus dias e semanas demoravam a passar, até passavam, mas passavam de-

vagar demais, para passar um mês e então receber o pagamento, para poder viajar num

final de semana e visitar minha namorada, que recentemente tinha conhecido e morava

em outra cidade, era uma eternidade.

Como quase todas as coisas caminhavam indiferente ao meu modo de pensar,

foi quando decidi então, junto com alguns amigos de colégio do curso ginasial, a fazer

minha inscrição em uma boa turma de pessoas conhecidas e amigos, como o Raspa e o

Valcir, turma que estava sendo formada para fazer o Curso Supletivo, para então poder-

mos concluir em um ano, o curso ginasial.

Como nessa época estudava a noite, onde iniciara a segunda série do ginásio,
para mim era uma grande oportunidade para adiantar a conclusão do curso ginasial, dei-

xaria assim a sala de aula no Colégio, onde estava sentindo-me muito velho, para estar

junto aos demais colegas de classe bem mais novos.

Os meses se arrastavam, mas mesmo assim estava mais animado, na certeza de

que concluiria o ginásio em um ano e partiria então para um bom curso profissíonalizan-

te, quando então procuraria novos rumos e novos ares, pois o emprego na Cerâmica, e a

Cerâmica já não mais era lugar para mim.

Uma rouquidão na voz de meu pai estava deixando a família preocupada, além

da fala rouca a voz quase não saia, minha mãe o tratava com ervas naturais como se fos-

se uma gripe mal curada, mesmo o tratando com ervas de vez em quando minha mãe di-

zia a ele, “Quinca” era o apelido carinhoso usado por ela para chamar à atenção do ma-

rido, vai ao médico homem, deixa de ser teimoso, dizia ela.

Foi difícil convence-lo à procurar um medico, só depois de muita insistência de

todos da família, ele acabou procurando o Dr. Osvaldo, medico que recentemente tinha

chegado a cidade para trabalhar no I.N.P.S. - Instituto Nacional de Previdência Social.

O medico depois de fazer vários exames e uma avaliação do quadro clínico de

meu pai, o encaminharam a um especialista em Florianópolis, para uma outra e melhor

avaliação.

Depois de vários exames realizados foi diagnosticado um câncer na laringe, re-

gião da garganta, câncer esse que estava prejudicando as suas cordas vocais, deixando-o

com forte rouquidão, quase sem voz.

Mesmo assim depois do diagnóstico dado pelos médicos na Capital do Estado,

onde nos foi informando que meu pai teria que passar por uma cirurgia rapidamente, ele
não aceitou fazer a cirurgia naquele momento, voltando ao seu trabalho normalmente na

cerâmica, como se a doença, pelos exames diagnosticados, fosse uma doença qualquer.

Eu que já trabalhava irritado com tudo, mais irritado e nervoso estava agora

com todo o problema de saúde do meu pai, não mais conseguia trabalhar tranquilo, tra-

zendo assim de casa para o trabalho, um problema que era só de nossa família.

Ele como encarregado, para todos os seus subordinados era mais que um chefe

e encarregado de secção, era um grande amigo, diariamente conversava com todos os

subordinados, chamando a nossa atenção, para as necessidades da fabrica naquele dia de

trabalho, sobre a fiscalização forte que estava sendo exercida pelos fiscais, sobre todos

os empregados, de todos os setores da fabrica.

Um desses fiscais, o Juarez, Chefe do Setor Pessoal da fabrica, era um amigo,

alias era também um amigo de todos os empregados da empresa, pois o homem era de

uma humildade e simpatia, que deveria servir de exemplo para os demais fiscais da fa-

brica.

Ele andava por todo o interior da empresa, não espiando, mas sim fiscalizando

e procurando nos orientar, para termos cuidado com os fiscais, que rondavam todos os

setores da fabrica, afim até de colocar na rua, demitindo da empresa, aqueles maus em-

pregados, que não queriam um maior comprometimento com suas funções e tarefas, em

suas respectivas secções de trabalho na fabrica.

Como chefe do setor pessoal, e também treinador do time de futebol da empre-

sa, time esse em que eu fazia parte como jogador, em um domingo de jogo, nós indo pa-

ra o nosso jogo, ele em conversa particular comigo, dentro do seu “ Fuscão Vermelho ”

confidencia que eu deveria ter cuidado e muita cautela no trato com o ajudante de encar-
regado de meu pai, pois tinham feito minha caveira no escritório da empresa.

Um certo dia na fabrica, no período da manhã, junto com outros colegas de sec-

ção tomávamos o nosso café conversando sentados numa pilha de engradados, com azu-

lejos em um canto no interior da nossa secção, como a conversa estava boa o tempo pas-

sou rápido.

Ainda não tínhamos terminado de tomar o nosso café, a sirene da fabrica toca,

avisando o encerramento do horário do café, como não tínhamos terminado de tomar o

café, ainda sentados mas apressados, tomávamos nosso ultimo gole, nisso vem passando

caminhando bem devagar, quase parando, olhando para nós ali ainda sentados, como se

estivesse nos filmando e memorizando, o “ Gerente Geral ” da fabrica e braço direito do

dono da empresa, o “ Carrasco Alemão ” como era apelidado e conhecido por todos os

empregados da Cerâmica o Gerente Geral e “ fiscal mor ”, da fabrica.

Todos os meus colegas levantaram-se rapidamente de onde estavam sentados,

e apressados voltaram a seus setores da secção, eu sem pressa, pois já não tinha mais na-

da que fazer mesmo, já que o homem nos tinha visto mesmo, levantei-me de cima da pi-

lha de engradados com azulejos, fechei minha garrafa térmica e depois de colocar todos

os meus apetrechos na bolsa, encaminhei-me para meu setor de trabalho, nas mesas de

escolha de azulejos.

Não demorou muito, trabalhava concentrado na escolha dos azulejos, que nos

exigiam muita atenção para a variedade de tonalidades dentro de uma mesma cor, chega

ao meu lado o encarregado, meu pai, perguntando-me o que tinha acontecido, pois esta-

vam solicitando a ele, que me mandasse até o escritório da empresa.

Disse então ao encarregado que não sabia, mas que desconfiava o que poderia
ser, relatando rapidamente a ele o que tinha acontecido, depois que a sirene tocou encer-

rando os quinze minutos que tínhamos por direito, no horário, para tomar o nosso café.

Ele preocupado perguntou-me se tinha mais algum, ou alguns outros emprega-

dos junto comigo na hora em que o “fiscal mor” passou, disse lhe que não, pois todos

tinham retornado imediatamente ao seu setor de trabalho, tão logo que a sirene começou

a tocar, menos mal disse ele.

Fui então ao escritório já prevendo o que aconteceria, pois nesse caso teria que

ter um bode expiatório e seria eu claro, esse bode expiatório, só não tinha entendido co-

mo o “ Carrasco Alemão” chegara tão rápido ao escritório, para delatar-me, deve ter ido

quase correndo, pois o escritório não ficava tão perto do local onde tomávamos o nosso

café.

Entrei pela porta principal do escritório, nem bem tinha encostado a barriga no

balcão da grande sala onde trabalhavam varias pessoas, todas elas bem minhas conheci-

das, levantaram a cabeça olhando em minha direção, já sabendo o que me esperava.

Uma das funcionarias, a mais velha dona Dulcinéia, ao me ver abre uma gaveta

da mesa em que trabalhava, pega algumas folhas de papel e levantando-se da cadeira em

que estava sentada, vem até mim no balcão, e me entregando uma das três vias da folha

que tinha em suas mãos, pede que eu a lesse com atenção, li e reli as poucas linhas, on-

de dizia que a partir daquela data estaria suspenso por três dias.

Eu devolvendo a funcionaria a carta que tinha lido, ela me pergunta se tinha

entendido, disse-lhe que sim, pediu então para que eu assinasse as três vias, ela então fa-

lou que uma via era minha, a outra era para entregar ao encarregado da minha secção e a

terceira era para os arquivos da empresa.


Sai do escritório bastante pensativo, foi a razão de ter lido e relido, as poucas

linhas da carta oficio, pois na realidade a minha suspensão não seria por três dias, mais

sim por dois dias e meio, já que era quinta-feira e como trabalhávamos no sábado até ao

meio dia, voltaria a trabalhar já na segunda-feira.

Ao voltar a secção, praticamente todos os colegas de trabalho pararam por al-

guns segundos para olharem para mim, talvez se perguntando o que teria acontecido co-

migo, fui até o encarregado, lhes entreguei uma via da carta, dizendo que estava suspen-

so por três dias, a partir daquela data.

Meu pai e encarregado não me disse nada, mais olhou-me com um olhar de re-

provação, fui até onde estava pendurado num prego na parede, a minha bolsa com a gar-

rafa térmica e outros apetrechos, ao virar para me despedir dos colegas de trabalho, vi o

meu pai olhado em direção de minha mãe, que trabalhava na outra secção, a de azulejos

branco, que tinha como encarregado o seu Tobias, gente boa.

Quando sai dos domínios da empresa me perguntava, por que meu pai não me

disse nada, ficara calado, ele certamente estava envergonhado e na fabrica não era o lo-

cal apropriado para falar-me alguma coisa, mas com certeza, tão logo chegasse em casa

do trabalho, ele me daria um bom sermão.

Caminhando para casa, aquela suspensão me levou a pensar pela primeira vez

no quartel depois que dei baixa do Exercito, quando no primeiro dia de quartel na fila de

formatura da manhã, no pátio em frente ao prédio da companhia, juntamente com outros

quase cem recrutas, todos já de cabelo cortado a “ lá soldado ” e mais, todos ainda vesti-

dos com roupa à paisana, o Sargento de Dia deixa a companhia ao comando de um Ca-

bo, que aproveitou para solicitar voluntários para a faxina do alojamento, banheiros e o
dormitório.

Alguns recrutas apresentaram-se espontaneamente, eu, como a maioria, fiquei

calado, cheguei até a me esquivar atrás do recruta em forma à minha frente, para não ser

visto pelo Cabo.

Como faltou voluntários para completar o pelotão da faxina, o Cabo começou

apontar os recrutas para completar o pelotão de faxina daquele dia, tu ai, sai de forma,

qual teu numero e nome, e assim foram chamando, os escolhidos iam formando os pelo-

tões. Eu ali quieto sem mexer-me , até que o Cabo apontou em minha direção, tu ai

qual o teu numero e nome. - Eu? – Perguntei ao Cabo, fingindo que não tinha enten-

dido, mais sabia que era para mim, pois olhava em minha direção. – Sim! tu mesmo,
qual teu número e nome? - Eu tinha sido indicado por um soldado do ano anterior, o
Adilio, um conterrâneo e amigo das peladas de futebol, nos terrenos baldios e gramados
da cidade de Imbituba, esse meu amigo tinha ficado no quartel para dar baixa na segun-
da turma.
Após falar meu número e nome, o Sargento de dia que já tinha retomado o seu

posto do Cabo, pediu-me para falar novamente e mais alto, meu número e nome, então

gritei alto e com raiva o meu numero, “ 66l ”, e meu nome de guerra, “ Estanislau ”, que

soava “Estarrau”, e foi de Estarrau, como passei a ser chamado pelos colegas de minha

Companhia.

Foi dessa forma, que nesse dia fui indicado para o pelotão de faxina e escalado

junto com os demais recrutas para a limpeza dos banheiros, pelo três dias restante da se-

mana, naquele dia limpando os banheiros, chequei a chorar por dentro, de raiva, mesmo

sentimento que agora estava sentindo caminhando em direção de minha casa.

Ao chegar em casa tirei minha roupa que tinha ido trabalhar, vesti “ um velho
calção de banho”, já que era “um bom dia para vadiar ” e com “ um mar daquele taman-

ho ” , como fala aquela letra de Vinicius, na musica de Toquinho, fui para a praia, pois

morava pertinho do mar, caminhava olhando todo aquele marzão, observando o movi-

mento das ondas, no vai e vem das marés, bem mansa e brancas, lambendo à areia da

praia, eu pensava, que paraíso e tranquilidade se não fosse os problemas do dia a dia.

Caminhando pela praia, fui me acalmando, já que o mar, sempre foi para mim

uma boa terapia, fazendo me esquecer assim, um pouco da suspensão por três dias, do

trabalho na Cerâmica.

Nessa manhã poucas pessoas encontrei em toda extensão da praia, uns pesca-

vam de tarrafa, um acompanhava o espinhel dentro d’água, outros só caminhavam que

nem eu, tomando banho não tinha ninguém, estávamos no final do outono, soprava uma

brisa meio fria, avisando que logo chegaria o inverno, nessa época tínhamos as quatro

estações do ano, bem definidas.

Ao chegar no canto, no final da praia, nas pedras ao pé do morro do costão, ti-

rei a camiseta manga regata, deixei-a na areia, me encaminhei até o mar, colocando o pé

na água, falei para mim mesmo, está gelada, entrando dentro d’água, fui até ela atingir o

umbigo, então mergulhei na terceira ou quarta onda que chegava mansinha, dando então

vários mergulhos para tirar a inhaca daquele mal começo do dia.

Fiquei na praia o resto da manhã e também por boa parte da tarde, parava para

conversar com todas as pessoas que encontrava caminhando pela praia, fazia tudo isso

de propósito para não chegar em casa cedo, não enquanto meus pais estivessem em casa

almoçando, não queria estragar o resto do dia deles, nem o meu, que já estava estragado

demais.
Nesse dia emendei varias peladas de futebol nas areias da praia, era uma atrás

da outra, só fui para casa no final da tarde, com uma fome danada, comia tudo o que via

pela frente, minhas duas irmãs que estavam em casa, só me olhavam, talvez se pergun-

tando, o que eu fazia em casa aquela hora, naquele dia de trabalho, até então elas certa-

mente ainda não sabiam de minha suspensão.

As aulas do Supletivo, começavam as dezoito horas e trinta minutos, já meus

pais, chegariam em casa após as dezessete horas, não poderia fugir do sermão que certa-

mente levaria, minha mãe chega sozinha e cansada do trabalho, não fala nada só me per-

guntou se estava tudo bem, falei que sim, perguntei então por meu pai, ela respondeu in-

formando que ele tinha ficado fazendo hora extra, até às dezenove horas, pois o serviço

na secção estava atrasado.

E depois de tomar um bom banho, parti caminhando para a Rua de Baixo para

assistir as aulas em preparação para as provas do Supletivo, que seriam no final do ano,

no mês de dezembro.

A noite quando cheguei em casa, meu pai fazendo que nada era nada, me espe-

rava sentado numa cadeira da mesa da cozinha, tomando café preto puro, quantas xica-

ras de café ele já tinha tomado não sei, o que sei é que me deu um esporro, passando-me

um daqueles sermões, para nunca mais se esquecer.

Dizia ele que, eu como filho de encarregado, deveria dar bom exemplo aos de-

mais empregados da secção, se não pudesse ser o melhor, pelo menos tentasse dar um

melhor exemplo, já que não era mais criança e já devia saber o que era certo e o que era

errado.

Eu ali calado, só o escutava sem dizer nada, nem poderia, só pensava.


Veio então novamente em meus pensamentos, a época no quartel, quando por

irresponsabilidade comandei minha companhia de quase cem soldados, ao rancho para o

almoço, depois do corneteiro ter nos chamado por varias vezes, pois o Sargento de Dia,

naquele dia um Cabo, tinha saído do quartel para resolver problemas particulares.

Por essa minha irresponsabilidade, fiquei sem poder sair do quartel por trinta

dias e ter que participar da “ Hora da Revista ”, todas as noites as vinte e uma horas, me

apresentando ao Oficial de Dia do batalhão, só não tive uma punição maior a dita exem-

plar, como pedira um “ Primeiro Sargento ”, por envolvimento de dois outros “ Tercei-

ros Sargento ” que não concordavam com uma punição maior, haja visto que o Sargento

de dia do rancho, restaurante, colocou em seu relatório que a nossa companhia era, e foi

a primeira companhia do dia a ser chamada para o almaço e por varias vezes, então se o

soldado “661” tiver uma punição maior, nessa história toda teria que ter mais um outro

culpado, “o Cabo de Dia”.

Falaram por mim os dois Terceiros Sargentos ao Capitão Comandante da nos-

sa Companhia.

Meu pai ainda falando sobre minha suspensão, dizia que não tinha entendido o

meu ato, quando o Gerente da fabrica passava depois que sirene tocou, finalizando o ho-

rário do café, mas que entendia minha atitude, depois de ter passado mais de um ano fo-

ra, só que não viesse acontecer novamente o que fiz, afrontando o Gerente Geral da fa-

brica.

Os dias de folga forçada pelo gancho acabaram, e na segunda-feira como todos

os dias de trabalho na cerâmica começavam cedo, as sete horas da manhã, eu, meu pai e

minha mãe que caminhando mais devagar vinha logo atrás, subíamos a lombada de nos-
sa rua rumo a fabrica, que ficava na mesma rua em que morávamos, de nossa casa até a

fabrica era um trajeto curto, conversando com meu pai pedi-lhe desculpa pelo aconteci-

do, ele num gesto de carinho sem me falar uma palavra, coloca sua mão no meu ombro,

eu ainda falando lhes disse que não tinha vontade, nem ambiente para voltar ao trabalho

na Cerâmica e que só voltava por eles, para não melindra-los perante a empresa, onde à

tanto tempo trabalhavam.

Meu pai em sua rouca e pouca voz, em razão da doença que lhe tinha acometi-

do, respondeu-me chateado. - Melindrar-me como tu dizes, não meu filho, me deixas

sim envergonhado. Mas eu entendo a tua atitude e descontentamento depois que voltas-

te. Eu sei bem o que vens passando. Mas vamos trabalhar que é melhor, nada como um

dia depois do outro, para esquecermos tudo isso.

Eu entendia o que ele queria me dizer com “tua atitude e descontentamento de-

pois que voltaste ”, pois certamente ele também tinha passado por tudo isso que eu esta-

va passando, quando com a minha idade, ele vindo da cidade do Rio de Janeiro em mea-

dos do ano de mil novecentos e quarenta e seis, um ano após o final da Segunda Guerra

Mundial, que se deu no mês de maio do ano anterior, ele volta a nossa pequena cidade

depois de ter servido ao Exercito, por dois anos, na cidade maravilhosa.

Como não estava sendo fácil o retorno para mim, certamente não deve ter sido

fácil para ele também, depois de passar tanto tempo fora, em um centro maior e ter que

voltar a tua cidade, uma cidade pequena onde tudo passa muito devagar, não é fácil.

O problema de saúde de meu pai se agravava a cada dia que passava, com per-

missão da família e da própria vontade dele, para que fosse realizado a cirurgia, foi pro-

curar o medico, já que a doença tinha chegado ao seu limite.


O medico que acompanhava a evolução da sua doença o encaminhou para Flo-

rianópolis, para fazer num hospital da capital, a cirurgia que já tinha sido recomendada,

para extirpação do câncer na laringe, que a cada dia destruía suas cordas vocais e tam-

bém o nervosismo de todos nós da família.

A cirurgia realizada num grande hospital de Florianópolis, não teve o sucesso

esperado, acho que por barbeiragem dos médicos que o operaram, essa foi, e é a minha

opinião até hoje, meu pai depois da cirurgia nunca mais voltou a trabalhar.

No mês de setembro desse mesmo ano, o ano de mil novecentos e setenta e um

aposentaram meu pai por invalidez, Invalidez por Doença.

No final desse ano, o da aposentadoria de meu pai, fazendo as provas do Curso

Supletivo no Colégio Deon, na cidade de Tubarão, consegui eliminar algumas matérias,

ficando duas para o mês de julho do próximo ano.

Mesmo sem vontade eu continuava trabalhando na cerâmica, o encarregado da

secção, com a aposentadoria do meu pai, agora era outro, como não gostava dele e nem

ele de mim, achei melhor pedir demissão, para que não viessem a me colocarem na rua,

por desacato ou por outra coisa qualquer, pois não tinha clima, nem muito menos paci-

ência, com pessoas me perseguindo, na fabrica.

Até voltei a lembrar de uma outra passagem quando no quartel, estava de guar-

da pela manhã, onde uma das minhas atribuições naquele dia, era cuidar de dois presos,

que tomavam banho de sol nesse dia no pátio da guarda, no fundos do quartel.

Em plenos anos de ditadura militar, um desses dois presos era por deserção das

fileiras do Exercito, justamente esse preso desertor começou a encher o meu saco, falan-

do que nós soldados éramos uns verdadeiros filhos da ditadura, e como guardas não tín-
hamos coragem de atirar contra ele, caso tentasse fugir.

Nesse dia de serviço, nossa arma era o F.A.L - Fuzil Automático Leve, que por

solicitação do comando maior, durante toda aquela semana, todos os guardas deveriam

trabalhar com bala na câmara, prontos para atirar, pois nos haviam informação, que um

Capitão (famoso naquela época ) desertor das fileiras do exercito, tinha sido visto, vindo

para o Sul do País, nesse dia de tanto que o preso me provocara, dei um tiro para o alto,

assustando todos os demais soldados naquele dia na guarda, que saíram para o pátio as

pressas quase correndo, inclusive o desertor falastrão que de tão assustado que ficou en-

fiou-se dentro da cadeia, trancando-se no interior cela gritando, “esse cara é louco, tire

ele daqui”. Esse tiro de fuzil, rendeu-me uma bela punição.

No mês de janeiro do ano de mil novecentos e setenta e dois, finalmente pedi

minha demissão do meu primeiro emprego na Industria Cerâmica de Imbituba S. A. -

ICISA, quando nela fui admitido no mês de Março do ano de mil novecentos e sessenta

e sete, trabalhando assim por quase cinco anos, emprego esse que nos últimos dois anos,

estava me consumindo e incomodando-me a cada dia, de tão indiferente que estava, em

meu emprego, depois que voltei.

O chefe do setor pessoal, meu amigo Juarez, o grande treinador do nosso time,

o Cerâmica Futebol Clube, até tentou demover-me da ideia de demitir-me, mas não con-

seguiu, apesar dos muitos argumentos que usou, eu estava determinado, aquela era a ho-

ra, mesmo não atendendo aos apelos para que não me demitisse, continuamos amigos.

O seu Juarez, como dizia minha mãe, de vez em quando estava em nosso portão

de casa chamando-me para jogar futebol pelo time do Cerâmica, em um desses dias, era

domingo, o Juarez foi me chamar para ir jogar futebol pelo time do Cerâmica, na cidade
de Laguna, onde o clube iria jogar uma partida amistosa, quem o atendeu no portão de

nossa casa, foi minha mãe, lembro-me até hoje da frase dita por ela, quando foi avisar-

me que o Juarez estava no portão de me chamando para ir jogar futebol.

- “ Meu filho não vai jogar bola não, esses jogos de vocês, não dão camisa para

ninguém ”.

Essa era minha mãe, zelosa por todos os seus filhos, mas mesmo assim, lá fui eu

jogar futebol pelo time do Cerâmica, contra o time do Barriga Verde, na maioria das ve-

zes sempre ia jogar pelo time do Cerâmica, um pouco pelo meu pai doente em casa, ou-

tro pela minha mãe que ainda trabalhava na Cerâmica.

A rua em que morávamos era conhecida como Rua da Usina, usina essa Termo

Elétrica, há alguns anos estava desativada, onde no passado gerava energia elétrica para

toda a Zona Portuária e também para a Industria Cerâmica, localizada ao lado da Usina,

dividida apenas por uma rua estreita.

Nosso final de rua era um bom local para se morar, ficava perto de tudo, quan-

do criança brincava em muitos lugares por ali ao redor, em certas horas tomando banho

nos riachos de água quente vindas da Usina Termo Elétrica, em outras caçando, pescan-

do nas lagoas ao redor da usina ou brincando no pátio da Cerâmica e jogando bola todos

os dias no campinho do pastinho do Vinoca, onde passava a maior parte do tempo jun-

to com os amigos.

Morar na rua da Usina, para nós garotos, quando chovia era uma festa, a água

da chuva quando descia do morro, ladeira abaixo e encontrava-se com a água que descia

da outra rua, morro abaixo, virava num redemoinho, parecia uma pororoca dada a velo-

cidade das águas se encontrando, descendo das duas ruas.


Quando a chuva ia embora ficava um canal esburacado, com barranco dos dois

lados da rua de chão batido, a chuva que para nós garotos era motivo de alegria, para al-

guns moradores como dona Maria Paula e seu Góis o marido, a chuva só os atrapalhava,

nem bem começava a chover, lá estavam eles no meio da rua cavando, e jogando a areia

barrenta ainda seca, para próximo da cerca, fazendo uma barragem para que a água não

entrasse no seu quintal e também dentro de sua casa.

Essa era a nossa rua, no meu tempo de criança.

Com minha demissão, de meu emprego na cerâmica, em plena temporada de

verão, os meus dias passaram a ser na praia, pela manhã ia pescar de espinhel com meu

amigo Silas, filho do seu Góis e dona Maria Paula, a tarde era jogando bola nas areias

da praia em frente ao Bar e Restaurante do Marcão ou então na frente do Araçá, tinham

tardes que depois das peladas de futebol nas areias da praia, ia até o canto dessa mesma

praia para tirar marisco nas pedras do costão, em frente as ilhas Sant’Ana de Dentro e

Sant’Ana de Fora.

A quase um ano namorava a Lili, que conheci numa festinha americana na casa

de amigos, no Bairro do Paes Leme e que morava na cidade de Criciúma na casa de uma

irmã casada.

Como os pais de Lili moravam em Imbituba, durante o ano ela passava alguns

poucos finais de semana com eles, já na temporada de verão ela passava pelo menos um

mês todo na cidade, aproveitando assim diariamente a praia, esse verão, seria o primeiro

verão que passávamos tanto tempo juntos, estávamos todos os dias, a tarde, na praia.

Ela que tinha a pele clara, ficou avermelhada, depois morena queimada de sol

“bronzeada” ficou linda, no seu corpo magro e esbelto, com seu cabelo castanho escuro
e comprido.

Não sei porque, mais a angustia que até então me atormentava, já não era mais

tão grande, como a de quase um ano atrás, quando voltei a cidade.

Nas noites de quarta feira quanto Lili estava na cidade, íamos namorar na casa

da irmã mais velha dela, que morava no Bairro Paes Leme, quando chegávamos os seus

sobrinhos pulavam em cima de nós, era uma festa para os filhos da irmã, ficavam todo o

tempo nos rodeando, quando tinha jogo na televisão a sala ficava cheia, já aos sábados

junto com outros casais de amigos, íamos dançar em algum salão de baile, na redondeza

do município, em outros sábados íamos assistir a algum filme, que estivesse em cartaz

no único cinema da cidade, o Cine Marabá, ao término dessas sessões de filme, no cine-

ma, à levava para casa dos seus pais, onde ficávamos mais um pouco conversando e na-

morando.

Já aos domingos a noite, uma certeza era ir a missa na Igreja matriz, e logo a-

pós o termino da missa, era ir ao cinema assistir qualquer filme que estivesse em cartaz,

pois não tinha-se outra opção, a não ser ir ao cinema.

Depois dessas missas de domingo, o ponto alto das moças, era passear ao lon-

go da rua em frente o Cine Marabá, enquanto os moços perfilados, parados, que nem os

manequins em vitrines de loja, no canteiro central da rua, conversando, observavam as

donzelas que desfilavam por toda a extensão da rua, que praticamente era fechada para

os poucos veículos da época, no vai e vem constante pela “passarela” à rua, procurando

assim chamar atenção do seu “paquera” pretendente, ou a procura de um, indo assim as-

sistir no cinema ao filme da noite e quem sabe engatar um namoro.

Esse era o final de semana dos jovens sonhadores daquela época, em nossa ci-
dade.

O verão desse ano se foi e com ele minha namorada, ficando tudo aquilo que

me incomodava, a mesmice de todos os dias, que para mim, era tudo muito devagar, eu

andava inquieto, queria que tudo fosse mais rápido, sempre estava a procura de algo pa-

ra fazer, para que pudesse sair daquele marasmo, até arrumar uma namorada para que o

tempo passasse mais rápido, eu arrumei, comecei então a namorar a Selma.

A Selma, era uma morena alta, de cabelos liso e curto, pernas bem torneadas,

inteligente e esperta, tinha sua residência na cidade de Biguaçú, onde morava com seus

pais, ela estava à poucos dias em nossa cidade, onde passaria alguns meses para ajudar

uma sua irmã casada, que estava de quarentena, por ter ganho neném a pouco tempo, em

um “Parto Cesariana ”.

O namoro com minha nova namorada ia muitíssimo bem, raro foram as vezes

que a procurava durante os dias uteis de semana, já que estudava a noite, já os nossos

encontros nos finais de semana, tanto aos sábados quanto aos domingos, eram sempre a

noite, na rua em frente ao cinema, nesses dias quase sempre íamos assistir à algum filme

que estivesse em cartaz, já que naquele tempo ir ao cinema, era a melhor opção e o me-

lhor lugar que se tinha para namorar, depois do cinema então, à levava até sua casa.

Em uma noite de domingo, nos encontramos como sempre na frente do cinema

mas não fomos assistir ao filme que estava em cartaz, e nem muito menos ficamos pas-

seando na rua do cinema, como era de costume nessas noites, conversar e passear, até

que as bilheterias do cinema abrissem para a venda de ingressos, depois de uma curta e

breve conversa com Selma, fomos direto para a casa da irmã dela, que morava com seu

marido em uma rua nas imediações do Grupo Escolar Álvaro Catão, no Bairro da Praia
do Porto, já que nessa noite nem a irmã e nem o cunhado estariam em casa, pois ficari-

am fora por uma boa parte noite e iriam demorar para chegar.

Essa noite, foi a primeira e única vez, que eu e Selma namorávamos dentro de

casa, depois de muito tempo se amassando no sofá da sala e de termos ultrapassado al-

guns pontos do nosso namoro, que até então, em nenhum momento em nossos encontros

tínhamos chegado, ela de repente, certamente preocupada com a sua irmã e marido, que

a qualquer momento poderiam chegar, senta-se no sofá, só depois de passado os primei-

ros minutos de apreensão, fomos namorar no quintal da casa.

Namorávamos no lado de fora da casa, em frente da porta aberta da sala, encos-

tados numa cerca de sarrafo de madeira, que dividia o terreiro da casa da irmã, de uma

outra casa vizinha, de repente a janela da casa vizinha ao lado, abriu-se e fechou-se rápi-

damente, só senti aquela água fria descendo nos molhando da cabeça aos pés, nos acer-

tando em cheio, levamos uma baciada d’água, em nosso lombo, jogada pelo vizinho ou

vizinha que morava na casa do lado, banho que chegou a congelar o nosso quente namo-

ro daquela noite.

Eu nessa mesma noite voltando para casa pensava tão alto, que parecia escutar

os meus pensamentos, ainda bem que era água pensava, já pensou se fosse mijo ou outra

coisa pior, como chegaria em casa aquela noite, tendo que atravessar toda a Rua da Can-

cha, e praticamente toda cidade.

Acabado a quarentena da sua irmã, Selma voltou ao convívio dos seus pais em

Biguaçu, ela ficou de voltar a Imbituba, mais não voltou, se voltou não sei, o que eu sei

é que nunca mais voltei a vê-la.

O mês do carnaval tinha chegado, no sábado da sua ultima semana, meu pai em
razão da sua doença, teve que se internado as pressas no Hospital São Camilo, estava eu

minha mãe e meu irmão que recém tinha dado baixa do Exercito, onde tinha servido por

todo o ano de mil novecentos e setenta um, no quarto aos pés da cama do acompanhante

conversávamos em voz baixa, meu pai que até então estava quieto e calado, parecia ter

escutado a conversa que travávamos, nos pergunta, sem o som de sua voz, pois tinha si-

do realizado uma traque-os-comia quando da sua cirurgia, ele gesticulando nervoso, só

o som do sopro das palavras que nos queria dizer se entendia, era um sussurro, o que en-

tendíamos é o que ele perguntava, o que eu e meu irmão ainda fazíamos ali no hospital,

que não íamos pular o carnaval.

Titubeando sem entender nada, olhei para meu irmão e minha mãe que estava

sentada numa cadeira ao lado da cama, surpresos, nos olhamos sem saber o que dizer,

nossa mãe recuperando-se rápido, respondeu por nós, dizendo que íamos ficar ali mais

um pouco até que a Lilina, irmã dele, chegasse para passar a noite, para fazer-lhes com-

panhia.

Ele gesticulava e falava num sussurro, o que nos queria dizer.

Falando no seu sussurro dizia. - Que nada rapazes, não precisa esperar a Lilina, não!

- Levem a Benta para casa e vão pular o carnaval, não se prendam por mim não.

O nosso pai era assim mesmo quando se referia a nós, os seus filhos, era os ra-

pazes pra lá, rapazes pra cá, os rapazes já chegaram, os rapazes já foram, onde foram os

rapazes, rapazes vamos pescar, era sempre assim.

Lembro que em uma dessas suas internações no Hospital São Camilo, ele pra-

ticamente obrigou-me a visitar um amigo meu de infância, que no hospital estava inter-

nado, que a muitos anos não nos víamos e nem nos falávamos.
Ele gesticulando e falando no seu sussurro, disse. – Meu filho vai visitar o teu

amigo Paulo, que está internado num dos quartos, nesse mesmo corredor.

O Paulo era nosso vizinho e grande amigo de infância, que tinha levado um ti-

ro e ficado paraplégico, estava internado, ele praticamente morava no hospital, há mui-

tos anos não falava com ele “estávamos de mal”, como dizíamos antigamente.

Não nos falávamos desde a época da catequese para a primeira comunhão, tin-

hamos brigado por bobagem, faziam nada menos que uns doze anos que não nos falava-

mos diretamente, nesse dia porém, obedecendo à meu pai, fui até o quarto do Paulinho,

como todos os funcionários do hospital o chamavam.

Ao entrar no quarto, ele deitado na cama, recostado num travesseiro, me olhou

admirado, surpreso, ele já com os olhos mareados e eu também, falou!

- O Dalzo, hó! - Foi o que entendi ele falar na sua voz embargada, então lhes dei um

forte abraço e um aperto de mão.

Nesse dia nos falamos, falamos de quase tudo, também depois de tantos anos,

até do time para quem torcíamos falamos, o Clube de Regatas do Flamengo que não tin-

ha como deixar de falar, pois além de sermos grandes torcedores do clube Rubro Negro,

no quarto onde estava tudo era caracterizado de vermelho e preto, cores do Clube Cario-

ca, era bandeira, camisas, cuecas, canetas, chaveiros, canecas, etc..., tudo o que se podia

imaginar sobre o clube de futebol mais querido do Brasil, tinha.

Graças ao meu pai, a partir desse dia, eu e o Paulo voltamos a nos falar, coisa

que a muitos anos atrás, meu pai, minha mãe, seu Sadi e dona Chica, pais do Paulo, tin-

ham tentado fazer nos falar. foi em vão, não conseguiram e naquele dia no hospital, vol-

tamos a nos falar, conversamos tanto, que valeu por todos aqueles longos anos, que tín-
hamos passado, sem nos falar.

Nesse dia saí do hospital, com a consciência calma e tranquila, agradecendo a

meu pai, por ter ajudado a reatar minha amizade, com meu amigo de infância, o Paulo.

Naquele sábado de carnaval, em que minha mãe eu e meu irmão, estávamos no

hospital fazendo companha ao nosso pai, eu meu irmão levamos nossa mãe até em casa,

logo depois que tia Lilina acompanhada da sua irmã Dalila, chegaram no quarto do hos-

pital para fazer companhia ao irmão hospitalizado, depois de deixarmos a nossa mãe em

casa, fomos para o Bairro da Vila Nova, pular o carnaval no Vila Nova Atlético Clube,

onde eu era sócio.

Em duas ou três semanas depois do carnaval, meu pai de alta do hospital, já es-

távamos na quaresma, a nossa ida ao baile no ultimo sábado do carnaval, ainda rendia, e

rendia muito, num sábado a tarde, quando visitava em companhia do meu pai, a mãe de-

le, minha avó, que encontrava-se acamada, enquanto ele conversava com a mãe no quar-

to, eu estava na cozinha sentado na cadeira da mesa tomava um café, com fatia dourada

feito por tia Lilina, recebia da Tia Dalila, irmã caçula de meu pai, um sermão por ter ido

ao baile de carnaval com meu irmão, quando nosso pai hospitalizado.

Para não deixar barato, malcriadamente respondi a ela que tínhamos ido pular

o carnaval, por sermos jovens, e que antes delas terem chegado, naquele dia no hospital

para ficarem com ele, o pai tinha nos mandado ir embora para que fossemos pular o car-

naval, que não fossemos nos prender por ele estar descansando no hospital, já que não

podíamos fazer nada por ele, estando ele ali hospitalizado.

Ainda tomando meu café, falei mais, falei que muito pior ela tinha feito algu-

mas semanas antes dessa ultima hospitalização de meu pai, que ela em conversa com a
com a sua irmã, tia Lilina, em um dos quarto da casa da mãe, disse que o irmão, meu

pai, não teria muito tempo de vida, pois o câncer já tinha tomado conta de todo o corpo,

que tínhamos de ser fortes e esperar pelo pior, a minha tia até tinha uma certa razão em

falar tudo isso o que falou sobre a doença do seu irmão, e do pouco tempo de vida que

certamente ele teria, mais não num dia em que meu pai conversava com a mãe dele no

quarto ao lado, ai não, né.

Meu pai que tinha saído do quarto da mãe, e entrava no quarto onde conversa-

vamos, volta de repente e entra novamente no quarto da mãe, eu que estava logo atrás

dele, entro junto com ele no quarto de minha avó e vejo lagrimas saindo dos seus olhos,

escorrendo pelo seu rosto e perdendo-se em seu espesso bigode.

Ele conversava por gestos nervosos, com a mãe, pois já não mais saia qualquer

som de sua boca, só um sopro, um sussurro pelo orifício aberto na garganta pela traque-

os-comia, eu nesse dia chorei, alias até hoje choro quando lembro, choro como se fosse

hoje, agora escrevendo, era uma cena de filme dramático, de vez em quando ainda vem

essa cena, em minha lembrança.

Ah, meu pai, como sofreste, tenho certeza, que muito mais por nos deixar, do

que pela doença lhes acometida.

Nesse mesmo ano, no mês de setembro de mil novecentos e setenta e dois, com

quarenta e cinco anos, morre meu pai, e com ele morre também uma parte de mim, dei-

chando em todos da família, muita saudade.

Após o falecimento de meu pai, como já tinha concluído o curso ginasial, pois

tinha passado nas duas ultimas matérias restantes do Curso Supletivo, provas essas que

tinham sido realizadas no ultimo mês de julho desse mesmo ano, tomei então a decisão
de fazer a inscrição para um dos cursos técnicos da ETEFESC - Escola Técnica Federal

de Santa Catarina, em Florianópolis.

Mesmo tendo concluído o ginásio, continuei estudando o restante do ano, ago-

ra para concluir o Curso Científico, também pelo Supletivo.

Em Florianópolis fiz então minha inscrição para seleção ao curso Técnico em

Eletrotécnica, e já fiquei por alguns dias na cidade, a convite de um irmão de Lili minha

namorada, o Acelino que cursava a faculdade de medicina na UFSC-Universidade Fede-

ral de Santa Catarina e que morava numa casa republica na rua Menino Deus, junto com

outros três amigos, todos da cidade de Criciúma.

Como meu futuro cunhado e amigos universitários, passavam a maior parte do

dia em aulas no Campus Universitário, eu aproveitava estudar para as provas de seleção

do meu curso técnico, que seriam em vinte dias, fiz as provas seletivas para ingresso na

Escola Técnica Federal de Santa Catarina, conseguindo classificação, e o direito de ma-

tricular- me no núcleo comum, o primeiro ano que todos os alunos eram obrigados a fa-

zer, para então poder ingressar em um dos cursos técnico, a escolha do aluno.

Voltei a Imbituba para preparar-me, para retornar no ano seguinte, no mês de

março do ano de mil novecentos e setenta e três, quando iniciaria então na ETEFESC, o

ano letivo.

No mês de março, três dias antes do inicio das aulas, deixava tudo para trás co-

mo no inicio do ano de mil novecentos e setenta, quando então parti para servir ao Exer-

cito Brasileiro, sabendo que teria que voltar, só que agora, esperava estar partindo para

um novo rumo, a procura do que realmente queria, liberdade para poder escolher o que

fazer e para onde ir, quando me tornasse um Técnico Eletrotécnico.


Tudo era bem diferente, como no tempo do quartel, que depois de varias puni-

ções, quando fui quase que obrigado a sair da Segunda Companhia, onde tinha ingressa-

do como recruta e me tornado soldado, e ter que ir para uma outra Companhia, a Primei-

ra Companhia dos Boinas Verdes, que estava sendo formada naquele ano e que precisa-

va de soldados para completar a companhia, por outro lado quem sabe foi um mal que

veio para o bem, me safando assim quem sabe, de uma expulsão, das fileiras do Exerci-

to.

Chequei cedo em Florianópolis, chequei no período da manhã na rodoviária na

Avenida Hercílio Luz, quase em frente à Escola Técnica, onde iria estudar na esperança

de um futuro melhor.

Sem ao menos conhecer a pensão onde iria morar, deixei a rodoviária com uma

enorme e pesada sacola nas costas, caminhando, atravessei toda cidade até a Rua Conse-

lheiro Mafra, a pensão onde iria morar, que tinha sido indicada pelo Nélio, um amigo e

conterrâneo de Imbituba, que morava na pensão por ficar perto de um setor da empresa

em que ele trabalhava, a Celesc-Centrais Elétricas de Santa Catarina, na Rua Sete de Se-

tembro.

Ao chegar na pensão falei com um senhor, que pensava eu, ser ele o proprietá-

rio, mais não era, era sim o cuidador da pensão, me apresentei então a ele dizendo que o

Nélio, um dos seus inquilinos tinha me reservado um quarto, ele levantou da cadeira on-

de estava sentado confortavelmente, na soleira da porta da pensão, observando os tran-

seuntes e os poucos automóveis que passavam na estreita rua de paralelepípedos, levou-

me até um quarto pequeno, mais razoável, apesar da pouca ventilação.

No interior do quarto tinha um beliche, uma mesinha com duas cadeiras e um


guarda roupa de solteiro com três portas, confirmei o preço dado pelo Nélio, então disse

que o quarto me interessava, ele então pergunta quem era o outro que iria dividir o quar-

to comigo, falei que era um primo do Nélio, chamado Toni, que só iria chegar no dia se-

guinte, ele saiu fazendo um gesto com a cabeça, como quem já sabia, e só perguntou pa-

ra certificar-se de que eu estaria realmente falando a verdade.

Tão logo o cuidador em seu corpanzio desengonçado, saiu pelo umbral da porta

do quarto, caminhando pelo extenso e estreito escuro corredor, em direção ao fundo da

pensão, comecei então a tirar as poucas roupas da sacola, colocando-as nos cabides e já

pendurando-os no interior do guarda roupa, algumas poucas peças pequenas às colocava

em uma das duas gavetas externas, na parte de baixo do guarda roupa.

Depois da arrumação das roupas , no guarda roupas, eu bem cansado da longa

caminhada desde a rodoviária com a sacola nas costas, me jóquei na cama de cima do

beliche, a escolha pela cama de cima do beliche, foi porque desde os tempos de quartel,

nas Casas da Guarda, sempre procurava dormir nas camas de cima dos beliches, nunca

nas camas de baixo.

Esse quarto com pouca ventilação, me lembrou um quartinho embaixo de uma

escada, que dava para uma casa de dois pavimentos em frente ao Cine Gloria numa con-

hecida rua, no Bairro do Estreito, quarto esse alugado pelo Romário, um soldado enga-

jado no Exercito como Boina Verde, como era de Imbituba como eu, me emprestava a

chave do quartinho, para que o usasse quando precisasse trocar a farda militar por roupa

civil, para poder sair á paisana para namorar, ou até para dormir se precisasse, caso me

atrasasse para chegar em tempo ao quartel.

Morei por pouco tempo na pensão da Rua Conselheiro Mafra, boas lembran-
ças dessa pensão até hoje tenho, mas uma das boas lembranças morando ali ficou.

Em um sábado pela manhã, depois de confirmar na sexta-feira à noite com Jo-

nas o cuidador da pensão, de que ele faria uma moqueca de bagre, pescado nas águas da

baia sul, um dos moradores da pensão pegou seus apetrechos de pesca, caniço, linha, an-

zol e camarão miúdo, que usava como isca para pescar na baia, em três pensionistas fo-

mos para o trapiche atrás dos casarões das Organizações Hoepcke.

Ainda não tinham começado o aterramento da baia Sul.

Não ficamos ali pescando por duas horas, era jogar a linha com o anzol iscado

na água e fisgar o bagre, era só puxar.

Em nossa rápida pescaria pegamos bagres suficiente para seis pessoas.

Ao chegarmos da pescaria, Jonas o cuidador da pensão, agora como cozinheiro,

pegou de minha mão, o já pesado balaio que carregava com os peixes e desapareceu no

interior da pensão para limpar os bagres, que requer bastante cuidado, em razão dos es-

porões.

Enquanto o cozinheiro na cozinha da pensão, já com os bagres limpos, lidava

no preparo da moqueca, enquanto nós moradores tomávamos umas cervejinhas sentados

no meio fio da calçada em frente da pensão e do bar do “ Paulo Lopes ” do outro lado da

rua, já com poucos transeuntes.

Já passava do meio dia, Jonas veio nos avisar com ar de bichona que a muque-

ca de bagre, pescado nas águas da baia sul estava pronta, cada um pegou sua garrafa, e

seu copo em que bebia sua cerveja, fomos entrando pela porta da pensão a dentro e pelo

longo e estreito corredor, seguimos em direção a cozinha nos fundos da casa, agora éra-

mos levados pelo cheiro bom da moqueca, o cheiro que entrava pelas nossas narinas era
tão bom, que chegava a dar um alvoroço no estomago vazio de tanta fome.

Todos nós conversávamos sentados nas seis cadeiras ao redor da mesa retangu-

lar, com a velha e surrada toalha plástica com desenho quadrangular avermelhado e dês-

botado, já decorava a mesa uma tijéla de louça, com pirão escaldado do próprio caldo de

peixe, a caçarola com a moqueca, uma salada verde e uma garrafa de molho de pimenta

vermelha, e nós ali com fome na espera do cozinheiro com os pratos e talheres.

Todos nós ali sentados calados, mas inquietos, parecendo velhos monges num

mosteiro na hora das orações, mas quando Jonas, o cozinheiro, tira a tampa da caçarola

fazendo a bichice dele, e a fumaça da moqueca de bagre, ainda fervendo e borbulhando,

tomou conta da pequena cozinha, a algazarra foi total, saiu até uma musica puxada pelo

morador baixinho, o dos apetrechos de pesca, “ o Jonas é um bom companheiro, o Jonas

é um bom companheiro, o Jonas é um bom companheiro -o-o, ninguém pode negar, nin-

guém pode negar, ninguém pode negar ”.

Com uma concha de ferro, cada um servia-se da moqueca do bagre a vontade,

enchendo o prato fundo, uns com pirão escaldado, outros sem, só com a moqueca, o Né-

lio que já tinha bebido todas, gostava de uma branquinha no copo martelinho, já falando

alto, quase gritando, dizia “ o cozinheiro já da para casar ”, o magricela alto, completava

falando, “ não, ele já pode dar sem casar ”, fazendo alusão à bichice do nosso cozinheiro

e desengonçado chefe da pensão.

Era uma turma boa aquela da pensão da Rua Conselheiro Mafra, mas era cara

para mim, como só estudava e ainda não trabalhava, foi essa uma das razões que fiquei

ali por pouco tempo, indo morar então num dos quarto de uma das casas pensão da dona

Carmencita, no beco da Vila Kincescki, a entrada da Vila era quase em frente ao Hospi-
tal de Base da Policia Militar, com dois irmãos que conheci, naturais da cidade de Tuba-

rão, que também estudavam na Escola Técnica.

Esse novo quarto em que fui morar tinha dois beliches, uma mesinha com três

cadeiras e um guarda roupas meio casal, de três portas, onde guardávamos nossas rou-

pas.

Como a casa não tinha cozinha, fazíamos a nossa comida no quarto, em um fo-

gão elétrico que usávamos escondido da dona da pensão, ela só sabia do “ rabo quente ”

elétrico a base de resistência, que colocávamos dentro d’água para ferve-la, para poder

fazer o nosso café.

Fiquei morando com meus colegas de Tubarão, só por dois meses, já que dona

Carmencita não me arrumou um quarto individual, para o segundo semestre como tinha

me prometido, e como em julho tinha as férias escolares, entreguei minha vaga na pen-

são, economizei deixando assim de pagar, o mês das férias.

Esse mês de julho passei todo em Imbituba na casa de minha mãe onde encon-

traria minha namorada, pois desde o verão quando ela passou todo o mês de janeiro na

cidade, não mais à tinha visto.

Um dia destes, dessas férias na cidade, conversando com uns amigos que tam-

bém estudavam na Escola Técnica, comentando com eles que estava sem um lugar para

morar no segundo semestre, pois tinha entregado minha vaga de quarto, na casa pensão

da Carmencita onde tinha morado por dois meses, como esses meus colegas tinham uma

vaga, perguntaram-me se não queria morar com a turma deles, numa casa que alugaram

na Serrinha, no Bairro da Trindade, próximo da Universidade Federal.

Como estava sem um lugar para morar no segundo semestre, aceitei, embora
não fosse o lugar que desejava morar, pois para mim ficaria bem fora de mão.

Na casa na Serrinha, que depois virou bairro, éramos em seis, os irmãos Cesar

e Beto Guimarães, Dirlei, Miguel, eu e o Ademir, a vantagem de morar nessa casa eram

varias, privacidade, segurança, o aluguel mais em conta, tinha dois quartos amplos, sala,

cozinha, banheiro, almoçávamos no Restaurante Universitário e o dono da casa era ami-

go de um irmão mais velho, dos irmãos Guimarães, que trabalhava na Universidade.

Já a desvantagem era de que tínhamos que pegar o ônibus todos os dias para o

centro da cidade, para assistir as aulas na Escola Técnica e depois tinha a volta para ca-

as, as vinte e duas horas, pois estudava a noite.

O final do ano chegava e com ele também o ano letivo, foi quando um colega

de turma da escola nos ofereceu uma casa grande em que ele morava no centro, pois es-

tava se mudando e ia entregar a casa, aceitamos, entregamos casa na Serrinha, apesar do

chororô das filhas dos donos da casa, mais uma vez me mudava.

Agora não era só eu a mudar, me mudaria com a turma toda, ou quase toda, só

ficou o Beto que não quis mudar, ficou na casa morando com o Dalton, um primo da ci-

dade de Tubarão que com ele foi morar, todos nos mudamos, fomos para a casa pensão,

da Rua Nestor Passos, uma rua nos fundos da Escola Técnica, no centro da cidade.

Em um final de semana, juntamos todas as nossas tralhas e fomos para a casa

de numero 37 da Rua Nestor Passos, na metade da ladeira, subindo em direção a “comu-

nidade do Morro da Caixa”, o aluguel da casa pensão não era barato não, mas como era

perto da Escola Técnica, a sua localização tinha muitas vantagens, além dela ficar pra-

ticamente dentro da escola, ela ficava no centro da cidade e perto de tudo.

A casa era grande, tinha sido um armazém, antes de vir a ser transformada em
pensão, sua frente ficava na extrema da rua, não tinha muro, tinha três portas que servia

de entrada para o antigo armazém, a casa tinha sala, cozinha e copa conjugada, na copa

tinha uma mesa com quatro cadeiras e um banco comprido encostado na parede, onde

sentavam tranquilo quatro pessoas, e também um balcão com portas onde escondíamos

os nossos calçados, um banheiro e dois quartos grande, um deles era enorme, onde co-

locamos mais pessoas para morar, amenizando assim a cota de aluguel, de cada um dos

“republicano” morador, da pensão.

O dono da casa seu Valmir, era gente boa, calmo e tranquilo, só queria receber

em dia o dinheiro do aluguel, além de tudo nesse próximo ano nós morando nas imedia-

ções da Escola Técnica, as coisas ficariam bem mais fáceis, já que o nosso curso técni-

co, realmente começaria agora, com as aulas de matérias técnica e aulas praticas, onde

com certeza nos próximos anos as dificuldades seriam maiores.

Como esse ano não tinha visitado ainda meu cunhado, que morava na Rua Me-

nino Deus, fui então faze-lo uma visita, mais para saber o dia certo do seu noivado, com

uma garota que morava na Rua Jose Boitaux, uma das ruas transversais da Av. Mauro

Ramos, nas imediações da Rodoviária, tudo isso informado pela irmã dele, quando esti-

ve em Imbituba em julho, mês das férias escolares.

O noivado do Acelino, se deu no mês de novembro, foi quando pela primeira e

única vez me encontrei em Florianópolis com Lili, minha namorada, que veio de Criciú-

ma em companhia da irmã e do marido, para o noivado.

O ano letivo findara, eu aprovado no núcleo comum, estava apto para matricu-

lar-me na primeira fase do curso Técnico em Eletrotécnica, agora com aulas praticas e

matérias técnicas, era importante criarmos raízes, e não ficarmos mudando de uma pen-
são para outra.

Nessas férias passei os quinze dias finais de dezembro e o mês todo de janeiro

do ano de mil novecentos e setenta e quatro na casa de minha mãe, junto com os demais

irmãos, Evandro, Eliane e Evonete e minha namorada, recarregando as baterias para en-

frentar o novo ano, que prometia ser puxado.

Eu agora me tornara um cara mais calmo e tranquilo, bem diferente daquele ca-

ra dos dois últimos anos, quando voltara para casa, depois de ter servido ao Exercito por

pouco mais de um ano.

Começava o ano letivo, iniciava assim a primeira fase do curso técnico em Ele-

trotécnica, que na realidade não era a primeira fase e sim uma terceira, pois já fizera um

ano de Núcleo Comum, que era uma base, para qualquer um dos cursos técnicos na Es-

cola Técnica Federal.

A quatro meses morando na boa casa pensão e no bom endereço, agora éramos

em nove moradores e não em cinco como quando chegamos da casa na Serrinha, os ou-

tros quatro novos republicanos, foram convidados a morar conosco, para aliviar a nossa

cota no aluguel na casa, os quatro outros novos moradores eram o Chero, natural de Im-

bituba, o Dalton natural de Tubarão, Wilson natural de Brusque, o outro era também de

Imbituba, ele dividira comigo o quarto na pensão da Rua Conselheiro Mafra, o “Buck”

apelido dado por mim ao Toni, quando morávamos na Pensão da Conselheiro Mafra, já

que ele gostava muito de assistir os antigos filmes do Velho Oeste Americano, já o ape-

lido complementado para “Buck Jones” como ele depois passou a ser chamado, foi em

razão de gritar muito alto quando ficava nervoso, e não em homenagem ao famoso mo-

cinho das telas do cinema não, mas sim em homenagem a um morador de nossa nova
rua, que tinha esse apelido, ele trabalhava entregando “latas de fitas de filmes”, para os

cinemas da cidade, e que falava grosso e gritado, como o Toni.

Na casa pensão três dormiam em camas de campanha no quarto menor ao lado

do banheiro, no quarto maior de frente para a rua, dormíamos em cinco, três dormiam

em cama de campanha, eu e o Dalton em colchonetes no chão, já o Buck, “Buck Jones”,

como dizia meu irmão, por ser o Toni, o mais chato da casa, dormia na sala, numa cama

de campanha em frente a sua enorme e velha televisão, onde ele assistia todas as tardes

o seriado do “Daniel Boone”, chegava a chorar quando Rebeca, a bonita mulher do mo-

cinho aparecia na tela da televisão.

Como a única das três portas da frente que podia ser aberta, era a da sala onde

o Buck usava como quarto, para entrar na casa passamos então a usar uma porta do lado

da casa, num corredor entre nossa casa e a da vizinha, que dava passagem para uma ou-

tra casa nos fundos da nossa, também de propriedade do seu Valmir, casa essa em que

moravam uma senhora desquitada, com duas filhas mocinhas e um rapazote.

Nos primeiros meses, seis dos moradores da pensão dormiam em camas de fer-

ro dobráveis, as chamadas “camas de campanha”, eu e o Dalton, éramos os únicos que

ainda dormíamos no chão em “cama” colchonetes, eu ainda não tinha cama, pois em to-

das as pensões que tinha passado, era oferecido beliche, não tinha tido ainda a oportuni-

dade e a necessidade de comprar uma, só fui ter a minha cama de campanha, depois de

alguns meses, quando ganhei uma de um amigo de Tubarão, o Negão, um grande amigo

da grande Madalena, que também era Tubaronense, e que tornara-se para mim uma boa

amiga também, eram os dois moradores da pensão da Carmencita, aquela do começo da

nossa rua. quase na esquina com a Rua Major Costa.


Todos usavam essas camas de campanha, porque eram camas dobráveis, e não

ocupavam tanto espaço, já que durante o dia eram dobradas e fechadas.

Esse primeiro semestre passou rápido, acho que foi em razão do quente e dura-

douro verão, que por durante quase quatro meses pela manhã, junto com amigos e mora-

dores da pensão íamos para as praias do continente no Bairro de Coqueiros e Bom Abri-

go, que nessa época eram “o point”, muito frequentadas por banhistas durante o verão,

nesses dias na praia quando ajeitávamos uma namorada, só voltávamos para casa a tar-

dinha, tomava um bom banho, comia alguma coisa e ia para as aulas na escola, que era

no período noturno.

Os meus dias, como os dos demais moradores da pensão, eram intensos, duran-

te os dias da semana era estudando, já nos finais de semana, principalmente nos sábados

a noite, quando tínhamos grana, íamos a uma casa noturna, como a Boate Capelinha na

rotula, trevo, em frente a Praia de Itaguaçu, no final do Bairro Coqueiros, indo em dire-

ção ao Bairro do Abrão, ou na Boate Dançante Castelinho, na estrada geral do Bairro

Jose Mendes, indo em direção ao Bairro do Saco dos Limões, já quando não tínhamos

muita grana, um bom local, bem povão, para se ir era no Bar das Pedras, bem no inicio

da Praia da Saudade, no Bairro de Coqueiros.

Nessa ocasião, tínhamos que escolher, só podíamos ir a um desses points, que

eram os melhores da cidade, já que íamos de ônibus, pois nessa época nenhum morador

da nossa pensão tinha carro.

Em um dia de prova, de uma matéria muito importante para mim, já que nesse-

citava muito estudar, pois precisava de uma boa nota, mas sensibilizado fui acompanhar

meu amigo Osvaldo “ Jacaré ”, um conterrâneo, também estudante da Escola Técnica e


que morava em uma outra pensão, nesse dia ele apareceu na minha pensão, pedindo que

o acompanhasse até ao Hospital Psiquiátrico da Colônia Santana, para fazer um Eletro

Encéfalo Grama, eletro esse, recomendado por um medico em uma consulta medica rea-

lizada por meu amigo, por ele sentir fortes dores na parte posterior da cabeça.

Nós dois conversando descemos caminhando a rua da pensão onde eu morava,

até o ponto do ônibus, nas imediações do IEE -Instituto Estadual de Educação, ele preo-

cupado, particularmente confidenciou-me estar com medo de fazer esse Eletro Encéfalo

Grama, pois pensava estar ficando louco, tanta era a dor de cabeça que frequentemente

sentia e que ficara mais apavorado ainda, depois do Eletro Encéfalo Grama indicado pe-

lo medico.

O cara estava apavorado, certamente foi onde procurou-me para acompanha-lo

até o Hospital Psiquiátrico da Colônia Santana.

Na época pela longa e demorada viagem de ônibus em estrada de chão batido,

fui conversando com meu amigo, tentava demove-lo do pensamento de loucura, falando

dizia, que caso ele continuasse assim pensando ficaria louco mesmo, eu também preocu-

pado, tal era o nervosismo dele, contei então ao meu amigo Jacaré, o que tinha aconteci-

do comigo.

Comecei então contando ao meu amigo, tudo sobre o câncer que meu pai tinha

contraído e que desse câncer ele veio a falecer, emendei contando ao meu amigo jacaré,

que tinha encasquetado, que também estava com câncer na garganta como o meu pai, e

que depois de varias consultas medicas em Imbituba, mandaram me para Florianópolis,

para uma consulta medica, com um medico mais abalizado.

Eu sentado numa cadeira na frente do medico, em um consultório na Rua Con-


selheiro Mafra, em Florianópolis, o medico por detrás da mesa sentado imóvel me anali-

sando perguntou. - Qual o meu problema e o que eu estava fazendo ali, com toda aque-

la saúde?

Eu recentemente tinha deixado as fileiras do Exercito, contei então ao medico

toda a história do meu pai, ele então me olhou bem fixo no fundo dos olhos, não esque-

ço até hoje das palavras ditas pelo médico. - Tu não tens nada, vai embora, não quero

te ver mas aqui no meu consultório, só vou te falar uma coisa, se tu começares a pensar

muito no problema do teu pai, vais acabar tendo esse tal câncer também.

Eu sai do consultório pensando em todas as palavras que o medico “psicólogo”

me falou, entrei na primeira farmácia que encontrei, comprei pastilha Fornegin, que o

médico indicara para minha garganta, que quase sempre estava irritada, caminhando a-

travessei toda a cidade até a rodoviária, tomei o primeiro ônibus, voltei para Imbituba.

Depois daquele dia no consultório medico, procurei nunca mais pensar no cân-

cer do meu pai, como frequentemente pensava.

E assim “Graças a Deus” e ao tal medico, nunca mais voltei a um consultório

medico para tratar desse tipo de assunto.

Assim és tu, falei ao meu amigo, procura esquecer e tirar do teu pensamento de

poderes estar ficando louco, louco vais ficar, se continuares a pensar assim, esquece.

Foi o que falei ao meu amigo Osvaldo “ Jacaré ”, falei do meu problema, que

até então nunca tinha compartilhado com ninguém.

O Eletro Encéfalo Grama receitado e realizado pelo meu amigo Jacaré no Hos-

pital Psiquiátrico, não acusou nada, ele nunca mais reclamou de que estaria ficando lou-

co, só que o problema da dor na parte posterior do pescoço, “nuca”, ele continuou ten-
do, só mais tarde o seu problema foi diagnosticado por um cirurgião dentista, que as for-

tes dores na parte posterior da cabeça, que o meu amigo sentia, era causada pela má for-

mação da sua arcada dentaria.

Eu conhecia o Osvaldo “ Jacaré ” desde os tempos de Imbituba, mas não tinha

muita amizade, pois ele era mais novo do que eu, ficamos bem mais amigos morando e

estudando em Florianópolis, foi onde a nossa amizade fortaleceu e fortificou mais ainda,

quando em um final de semana nos encontramos na cidade de Imaruí, onde tinha ido a

uma famosa festa da padroeira da cidade.

Eu e o meu irmão, que nessa época trabalhava na cidade de Joinville e que por

coincidência também tinha ido passar o final de semana em Imbituba, na casa de nossa

mãe, tínhamos ido de taxi para a festa na cidade de Imaruí, ficamos sem condução para

voltamos a cidade de Imbituba, pois já era tarde da noite, mas como contávamos com o

convite do ”jacaré” e do irmão dele mais novo, o Renato, que ainda morava com os pa-

is, para retornar a Imbituba com eles, no ônibus de excursão da turma deles, eu estava

tranquilo como o meu irmão também, só que na hora do meu embarque e do meu irmão,

a turma da excussão deles chiou, não permitiram nossa entrada no ônibus, alegando que

ele já estava lotado demais, e que já tinha muita gente em pé.

Foi onde nossos amigos, os irmãos “ Jacaré ”, Renato e Osvaldo, mostraram a

amizade de verdadeiros e grandes amigos, que até hoje somos, os dois irmãos depois de

muito argumentarem em nosso favor, para que pudéssemos voltar juntos no mesmo ôni-

bus que eles, não obtendo resultado desembarcaram do ônibus falando vários palavrões

aos excursionistas.

Depois de vários xingamentos proferidos pelo mais novo dos irmãos “ jacarés”
as coisas se acalmaram, eles falaram aos excursionistas, acomodados dentro do ônibus.

– Tá bom, se eles não forem nesse ônibus, nós também não vamos.

E assim aconteceu e nossa amizade fortaleceu, jamais esqueceremos esse dia,

apesar dos pesares, passamos um noite maravilhosa nas ruas da cidade de Imaruí até o

dia amanhecer, contando piadas e fazendo fogueirinha na calçada, para nos aquecermos

do frio da madrugada.

O pior foi no outro dia ter que ajudar os irmãos “Jacaré” a cavar um buraco no

terreiro da casa onde moravam, para fazer uma fossa nova, o “Jacaré” pai com um relho

de couro trançado, queria açoitar os filhos se não acabassem o tal buraco para a fossa,

antes do almoço, ainda bem que eu e meu irmão estávamos lá, se não os irmãos jacaré,

tinham levado uma surra de relho.

Fomos almoçar um pouco mais tarde, mais valeu a pena todo o sacrifício, já que

o almoço feito pela dona Zair, assessorada pela mãe dona Branca, foi muito bom, um ti-

pico almoço como o da maioria das famílias da cidade naquele tempo, galinha ensopada

com batata inglesa, macarrão e maionese, pior foi para o Zé, já que o Renato não queria

deixar o futuro cunhado almoçar, pois ele só chegou depois que a fossa estava pronta.

Os meus finais de semana ficando na casa pensão, eram muito mais agitados do

que os finais de semana quando viajava para Imbituba, pois aqui, ia a todas as festas de

igreja na redondeza azarar a vida da mulherada, ou ir ao cinema quando o filme era bom

e as vezes assistir aos jogos do Avai Futebol Clube, no Campo da Liga, nos domingos a

tarde, e ver no campo de jogo, jogadores como, o goleiro Rubão, Lorivaldo, Orivaldo,

Veneza, Toninho, João Carlos, Balduino, Zenon, Juti, Paulo Roberto e Lico, esses do-

is últimos, meus conterrâneos, que quando garotos, jogávamos peladas juntos nos gra-
mados de Imbituba.

Um jogo do Avaí, no Campo da Liga, o Estádio Adolfo Konder em mil nove-

centos e setenta e dois, foi um jogo festivo do Avaí Futebol Clube contra o Santos Fute-

bol Clube, com o Pelé, e todos os outros grandes jogadores do time da época, nunca es-

queci daquele jogo, o acanhado Estádio estava lotado, e eu ali, junto com muitos outros

torcedores grudado no alambrado, atrás da trave, único lugar de onde poderia assistir o

jogo, foi uma festa.

O fim do primeiro semestre chegara rápido, eu aprovado para matricular-me

na segunda fase, o segundo semestre passou mais rápido ainda em relação ao primeiro e

como fui aprovado também nesse semestre matriculei-me para a terceira fase, era só sair

de férias.

Como no final do último ano, passaria também a segunda quinzena do mês de

dezembro e todo o mês de janeiro do novo ano que iniciava, o ano de mil novecentos e

setenta cinco em férias na casa de minha mãe, como vinha acontecendo durante os qua-

tro últimos anos, passaria assim todo o mês de janeiro, junto com minha namorada que

muito pouco à via.

Eu e todos de minha família gostávamos muito de minha namorada Lili, como

alguns da família dela que também gostavam de mim, principalmente os seus sobrinhos,

filhos da sua irmã mais velha, a pressão das duas famílias para que noivássemos era dis-

cretamente grande, só que mal sabia eu e ela também, que o destino nos pregaria uma

peça, pois seria a ultima vez que estaríamos juntos e namorando.

Esse ano, no inicio do mês de fevereiro já estava em Florianópolis para come-

çar a terceira fase do curso Técnico em Eletrotécnica, agora com uma bolsa de estudos,
fornecida pelo MEC- Ministério da Educação e Cultura, por mim requerida em entre-

vista, no meado do ano que passou , com a orientadora educacional da Escola Técnica,

esse dinheiro ajudaria e muito na minha despesa mensal de estudante.

Nesse primeiro semestre três companheiros de pensão, Cezar, Ademir e Dirlei,

foram os primeiros moradores antigos da pensão, a nos deixar, fizeram um teste de de-

senhista, para preenchimento de vagas na Telesc - Telecomunicações de Santa Catarina,

passaram e foram admitidos para trabalhar num setor da empresa no Bairro do Estreito,

os três alugaram uma casa no bairro e lá foram morar.

Um deles o Cezar, de vez em quando aparecia na pensão para nos visitar, já os

outros dois nunca mais apareceram, nessa mesma época em que meus amigos de pensão

fizeram o teste para desenhista, fui convidado também pelo Carlos, um amigo que traba-

lhava de desenhista a bastante tempo, em um setor da Telesc, ao lado do Correio na Rua

Victor Meirelles, fiz ali o mesmo teste que meus amigos de pensão fizeram e não passei,

mesmo meu amigo “ Charli ” tendo feito força para que eu me saísse bem no teste, não

consegui.

Não consegui copiar uma peça que me deram para desenhar.

O Chefe do setor de desenho apontou para mim a mesa de desenhista que deve-

ria ocupar para fazer o teste, ao lado da mesa tinha tudo que um desenhista precisa para

exercer bem seu trabalho, para mim quase tudo aquilo era estranho, á começar pela me-

sa inclinada, régua “ T”, tinta nanquim, esquadro e etc..., nunca tinha sentado num ban-

quinho à frente de uma mesa de desenho de plantas industrial.

Com a saída dos três pensionistas, tivemos que ocupar rapidamente as vagas

deixadas por eles com novos moradores, essas três vagas foram ocupadas rapidamente
pelo Beto irmão do Cezar um dos que tinha nos deixado, Cacau “perna curta” e Vilmar

o “ surdo-mudo ”, todos natural de Imbituba, os dois primeiros estudavam também na

Escola Técnica, já o Vilmar veio morar conosco para estudar e alfabetizar-se na APAE-

Associação de Pais e Amigos dos excepcionais, com sede na Av. Hercílio Luz.

O Vilmar era surdo mudo e graças ao grande esforço da mãe dele, a tia Sofia,

que pediu para minha mãe conversar comigo, ver da possibilidade de arrumar uma vaga

na pensão para o Vilmar, pois assim sendo ela ficaria mais tranquila com o filho moran-

do em nossa pensão, tendo eu por perto.

Olha só quanta responsabilidade colocaram sobre mim, um rapaz jovem, olhar

por um rapaz surdo mudo, também muito jovem, minha preocupação com o Vilmar não

era com a rotina dele, em ir e vir das aulas na APAE, já que ele só atravessaria uma rua,

ou melhor a Av. Mauro Ramos, a minha preocupação maior era a convivência dele na

casa, pois quando os pensionistas tiravam para bagunçar, era para bagunçar mesmo, até

mulher na parada tinha e sempre mais que uma, para não dar briga, pois todos queriam

tirar uma casquinha, até o nosso deficiente surdo mudo, que de deficiente não tinha na-

da, já que era bastante inteligente, nesses dias quem não tivesse afim de bagunçar, tinha

que sair pela porta fora, ninguém aliviava não.

Um que não aguentava tanta “ zoeira ” era o Dalton, o único universitário da

turma na época, ele era do tipo quietão e responsável, fazia Faculdade de Química.

Essa bagunça na casa pensão, levou-me novamente ao tempo de Exercito, num

domingo a tarde no quartel, alguém levou um litro de Vodka, para o alojamento da com-

panhia, a bagunça nessa tarde foi grande, num dia em que só tinha soldados apenado por

alguma indiciplina cometida, imagina.


Eu tinha dado um tiro de fuzil, quando de serviço na guarda dois, outro tinha

matado uma vaca, também com tiro de fuzil, quando de serviço de reforço a noite, tam-

bém na guarda dois, um por não ter feito a barba, outro por ter chegado tarde no quartel

em dia de serviço, outro por ter discutido com um cabo e outros por não terem cortado o

cabelo, era muito soldado ocioso e sem poder sair do batalhão, num só final de semana.

Na formatura da manhã da segunda feira-feira, estava todo o comando da com-

panhia, o sermão foi grande para todos, mais um só levou a culpa, o Piazito da Costeira,

alguém tinha dado com a língua nos dentes, dizendo que tinha sido ele, quem tinha leva-

do a bebida alcoólica para dentro do quartel.

Já em nossa casa pensão não tinha dedo duro não, o que tinha era morador que

fazia muita propaganda de nossa casa, como o “ Buck ”, que de tanto fazer propaganda

dela quando ia para Imbituba, que as vezes parecia ter virado um abrigo “albergue” para

amigos que vinham a Florianópolis, para fazer algum concurso publico, ou a procura de

emprego, ou até para irem a alguma consulta médica.

Como o próprio Toni “ o Buck” dizia, “A nossa casa pensão parece uma comu-

nidade de jovens amigos que vem de Imbituba”, os nossos conterrâneos de Zimba, que

vem a Floripa, como já dizia ele, apelido carinhoso das duas cidades, o Toni enfatizava

tato esse pensamento, que ele próprio chegou até a pintar na fachada da casa, um logo-

tipo redondo, com uma frase dentro, mais ou menos do que ele falava, “ Casa dos Ami-

gos de Imbituba”, frase essa entre dois círculos e no centro do circulo, um aperto de du-

as mãos.

Passaram por nossa casa pensão, pelo menos enquanto morei nela, muitos ami-

gos como Serginho “ o sonhador ” , Vanio “curuca”, Geraldo “ortigão”, Denílson “peixe
rei”, Evandro “gulú” meu irmão, Duarte “o manchete” por ser de Joinville, zaga “o se-

minarista”, Osmar “o delegado” irmão do Vilmar, Zezinho “o china” e os “empreende-

dores” irmãos Santos, e tantos outros que me fogem à memória.

Estávamos todos bem entrosados com a maioria dos nossos vizinhos da Rua

Nestor Passos, já que a maioria nos conheciam a quase dois anos, morando na casa de

numero 37, a Dona Maria “do Arcanjo” tinha sua venda bem em frente da nossa pensão,

vendia para nós, no fiado, a caderno, ela era para nós todos da pensão quase uma mãe, a

Dona Mélia vizinha do lado esquerdo era outra, essa também gostava de nós uma barba-

ridade, de vez em quando nos levava um pedaço de bolo, o casamento do Abílio, o filho

mais velho da Dona Maria com a filha mais velha da Dona Mélia, foi uma festança.

Alguns pensionistas mais abusados como o “buck” namorava uma vizinha do

lado direito da nossa casa, eu começara a flertar com a “ Rosinha ” como todos da rua

conheciam a Rosa, negra e bonita, que morava na Rua Amador Gonçalves, primeira tra-

vessa a esquerda depois da nossa casa pensão, onde também morava a Graça que namo-

rava o “ortigão”, meu irmão namorava a Rosemira, filha do seu Dilmo e Dona Concei-

ção.

Alguns outros que passaram pela nossa pensão, tiveram paqueras rápida com

outras meninas da rua, que não vale a pena contar.

Aprendi nessa época que “não é da natureza do amor forçar um relacionamen-

to, mais é sim da natureza do amor abrir caminho ”, depois de uma longa paquera com

a Rosinha, um dia a tarde, estava de bobeira na frente da casa, era feriado de “ Corpus

Cristi”, descendo a ladeira da nossa rua, vinha a Rosa no seu caminhar faceiro, toda pro-

sa, perguntei se podia lhes acompanhar, ela rindo disse que sim, caminhando fomos em
direção da Catedral Metropolitana, no centro da cidade, acompanhar a procissão de Cor-

pus - Cristi, a partir então desse dia do mês de abril, todas as vezes que nos encontrava-

mos, parávamos para conversar, e desses encontros nossa amizade foi se fortalecendo.

No inicio do mês de junho, num domingo a tarde, eu e a Rosa fomos a festa da

laranja no Bairro da Trindade, ultimo dia da festa, caminhamos desde a rua onde mora-

vamos até o Terminal de Ônibus na Praça Sete de Setembro, para podermos ir sentados,

pois nesses dias de festa os ônibus passavam pelos pontos lotados depois que saiam do

terminal, depois de pagarmos nossas passagens do ônibus da Empresa Trindadense e

de termos comprado cigarros, já que nós dois fumávamos, sobrara pouco dinheiro, que

mal dava para pagarmos a passagem do ônibus, na volta ao centro da cidade.

Passeando e conversando, agora de mãos dadas, olhávamos as pencas de laran-

jas crava, as conhecidas vergamotas, penduradas nas barraquinhas ao redor da praça, de-

pois de muito caminhar observando todas as barraquinhas, paramos ao lado esquerdo da

Igreja Matriz da Santíssima Trindade, olhando-a de frente, bem de frente para a praça e

de costas para uma barraca de bingo.

Ao lado da igreja, eu e a Rosa parados, conversávamos olhando o povo camin-

hando no seu vai e vem, frenético, na rua em frente as barraquinhas, que além das laran-

jas vendiam muitas outras coisas, enquanto isso as nossas costas, o cantador do bingo da

barraca, parecia nos provocar, para participássemos do jogo, quando terminava uma ro-

dada, ele voltava a chamar o povo pelo alto falante, para participarem da próxima roda-

da, numa dessas chamadas, olhei para a Rosa, ela olhando para mim, desconfiada de al-

guma coisa, perguntou. - O que foi? - Então lhes respondi perguntando. - Vamos parti-

cipar de uma rodada do bingo? - Parece que o cantador nos convida para jogar. - Ela en-
tão pergunta. - E se perdermos? Só temos o dinheiro da passagem de ônibus, da volta

para casa. - Lhes respondendo disse. - Se perdermos voltaremos a pé, afinal não é tão

longe assim, mais não vamos perder não. - Afirmei. - Tudo bem! – Respondeu ela con-

cordando com uma rodada de bingo.

Então nos encostamos no balcão da barraca do jogo de bingo, compramos uma

cartela, nos deram um punhado de milho para à marcação das pedras sorteadas na carte-

la, estava tudo pronto, todas as cartelas vendidas, a bolada ia ser boa para quem ganhas-

se aquela rodada.

O cantador antes de cantar a primeira pedra falou em seu vozeirão, vamos inici-

ar a rodada, quem comprou a cartela comprou, quem não comprou e quiser jogar, agora

só na próxima rodada.

O animado cantador, depois de rodar por varias vezes o globo, canta a primei-

ra pedra saída do globo, a primeira pedra é “ B ” número 9, marcamos com um bago de

milho o numero nove na cartela, depois canta a segunda e assim foi cantando as pedras

e nós marcando em nossa cartela, os números anunciados que tínhamos, depois de vari-

as pedras cantadas, estávamos batido esperando a boa, como se fala da ultima pedra pa-

ra fechar o jogo.

A Rosa nervosa me beliscava, o cantador tirando uma pedra do globo fala, será

que essa é a pedra boa, é o “N” número 39 e não é que era a boa mesmo, era a nossa pe-

dra, eu e a Rosa gritamos juntos, deeu..., deeu, ganhamos a rodada sozinho, agora tínha-

mos dinheiro para voltarmos para o centro da cidade, até de taxi, se quiséssemos.

Já jogando novamente, marcávamos uma nova cartela, participávamos de uma

outra rodada, que já tinha sido descontada do premio ganho na rodada anterior, nós ago-
ra menos tensos, tranquilos não é que batemos novamente, só que agora engatado com

mais um outro ganhador.

Agora sim estávamos com um bom dinheiro no bolso, jogamos mais uma e ma-

is outra, perdemos as duas, então decidimos parar de jogar não podíamos abusar da nos-

as sorte, o que tínhamos de ganhar naquele dia noite, ganhamos.

Falei então para a Rosa. - Vamos nos divertir a vontade, sem o stress, da falta

de dinheiro.

Nessa tarde noite, até de roda gigante andamos.

Em casa já com a cabeça no travesseiro pronto para dormir pensava, eu e a Ro-

sa juntos tivemos sorte, será que é só no jogo.

O final do primeiro semestre tinha chegado, eu estava aprovado e matriculado

automaticamente na quarta fase, nesse próximo semestre tenho que trabalhar, pensava,

só a bolsa que recebia da escola não estava dando, tinha que me vestir, comer e pagar a

pensão, mesmo a minha mãe viúva ajudando não dava, ainda mais agora com namorada,

tinha que arrumar emprego, não podia esperar mais pelo resultado do concurso que tin-

ha feito, para Auxiliar Administrativo na Secretária Estadual da Saúde

Atendendo a um chamado de minha mãe, recado trazido pelo primo Walfredo,

“o Fedoca”, em um domingo a noite quando descia a rua em que eu morava, o encontrei

e conversando ele me transmite um recado de minha mãe, pedindo que no próximo final

de semana eu fosse a Imbituba, que ela precisava muito conversar comigo, sobre minha

irmã mais velha Eliane, o primo “ Fedoca ” então antecipa, que minha irmã tinha fugido

com o namorado e que à duas semanas, estava morando com o namorado, agora marido,

na casa dela.
No sábado seguinte ao recado recebido de meu primo Walfredo, fui a Imbituba,

antes de conversar com minha irmã e o marido, quis saber de minha mãe o que ela que-

ria que eu conversasse com a filha e o genro, nem bem chequei em casa, minha mãe le-

vou-me para a cozinha, bem longe do quarto onde minha irmã e o marido dormiam, sen-

te-me numa cadeira, minha mãe sentou-se em outra, antes de sentar-se ela arrastando a

cadeira dela para bem perto da minha, com as duas cadeiras quase coladas uma na outra

ela falou, vamos falar baixinho para eles não escutarem a nossa conversa.

Nós dois sentados, minha mãe falava de “ boca pequena” , bem baixinho, e co-

meça a contar tudo o que tinha acontecido com o casal de pombos desde que os dois de-

sapareceram da cidade, deixando ela e a Evonete a filha caçula, preocupadas sem saber

o paradeiro da filha mais velha, que era o porto seguro delas em casa, minha mãe depois

de muita conversa me pediu que conversasse com o casal, para que eles viessem a casar.

Conversando com minha irmã e o marido, atendendo ao pedido de minha mãe,

pedi a eles que viessem a casar direitinho, com papel passado, já que nossa mãe, viuva

tinha outra filha ainda de menor em casa, e que minha mãe não queria que a vizinhança

viessem a falar mal dela, e muito menos das filhas.

E assim foi feito, minha irmã e o marido Ademar, entenderam a preocupação de

minha mãe, ainda mais em uma cidade pequena, não é fácil, notícia ruim corre rápido,

algumas semanas depois casaram com papel passado e com bastante testemunhas, que é

para não deixar duvidas, teve até cerimonia religiosa de casamento na Igreja Matriz da

cidade realizada pelo Padre Vendelino, depois do casamento o apressado casal, e agora

recém casados, recepcionaram os seus convidados no restaurante do tio Luiz e tia Judi-

te, para os comes e bebes que não poderia deixar de ter, tudo transcorreu maravilhosa-
mente bem, minha mãe contente os abençoou, sendo assim que eles fossem felizes para

sempre.

Nesse mesmo final de semana do casamento, em conversava com minha mãe,

ela me fala que tinha conversado com uma amiga de minha irmã Eliane, a Salete que es-

tava morando e trabalhando em Florianópolis numa seguradora, disse me que ela tinha

agendado uma entrevista de emprego para mim com um tal de Dr. Vilson, na mesma se-

guradora em que ela trabalhava, fiquei eufórico, pois precisava muito de um emprego.

Na minha volta a Florianópolis, tão logo pude procurei o tal de Dr. Vilson na segurado-

ra, no endereço conforme tinha sido passado a minha mãe, pela amiga de minha irmã.

A seguradora indicada era a Sul América Cia. Nacional de Seguros de Vida, ja

a Salete amiga da minha irmã trabalhava na Sul América Terrestre, Marítimos e Aciden-

tes Pessoais, as duas seguradoras eram do mesmo grupo, mas tinham as estruturas sepa-

radas e independentes, as duas funcionavam no mesmo endereço na Rua Arcipreste Pai-

va, esquina com a Rua Vidal Ramos, no Edifício Cidade de Florianópolis, no centro da

cidade, ao lado da Catedral Metropolitana.

Na portaria do edifício informaram que o Dr. Vilson trabalhava no terceiro an-

dar, andar todo ocupado pela “SALIC” sigla da Sul América Cia. Nacional de Seguros

de Vida, já “SATMA” era a sigla da Sul América Terrestre, Marítimos e Acidentes Pes-

soais, que ocupava os dois primeiros andares e a sobre loja.

Entrei no elevador fui até o terceiro andar, entrei na primeira porta aberta, pro-

curei entrar com o pé direito, pois precisava muito de emprego, na sala trabalhavam três

homens por trás de um balcão, que separava eles das pessoas que entrassem na sala, de-

sejando um bom dia a todos, perguntei pelo Dr. Vilson, um dos homens levantou-se da
cadeira de trás da mesa em que trabalhava sentado de costa para uma janela, janela essa

que dava vista para o lado da Catedral Metropolitana, ele saindo pela porta vai e vem do

balcão, vai até o umbral da porta da sala, e apontando para uma porta de uma sala fecha-

da no fundo de um corredor, falando disse, aquela é a sala do Dr. Vilson.

Agradecendo fui até a sala fechada no fundo do corredor, parei em frente a por-

ta, li numa placa de bronze no umbral superior da porta “superintendente” escrito em le-

tras metalizadas, bati na porta, veio de dentro da sala o som de uma voz dizendo, pode

entrar, girei a maçaneta da fechadura da porta, abrindo entrei, dei bom dia, antecipando-

me ao homem que ao mesmo tempo também me dava bom dia, ele com educação e sim-

patia perguntou. - Em que posso ajudar? - Meu nome é Estanislau, Estanislau Arcanjo

de Amorim, sou amigo da Salete que trabalha na SATMA, estou procurando emprego!

- Falei claro e bem seguro de mim.

Ele educadamente levanta-se da cadeira onde estava sentado confortavelmente,

aponta para uma de duas cadeiras a frente da sua mesa, pede que eu sente, já sentado e

analizando o Dr. Vilson, a primeira impressão que tive, era de que o homem de estatura

mediana, ainda em pé a minha frente, era simpático, educado, de sorriso fácil e largo, e

de boas palavras, tinha ar de uma pessoa boa, e de bem com a vida, falava bastante, pa-

recendo ser de muita esperteza.

Ele de cara quando escutou meu nome, perguntou afirmando. - Não és o “Esta-

nislau Ponte Preta”? - Fazendo ele alusão ao grande escritor gaúcho. - Pois ele eu con-

heço, é gaúcho como eu! – Afirmou Dr. Vilson.

Depois do gelo quebrado, Dr. Vilson partiu para as perguntas pessoais.

- És de Imbituba, Estanislau? - Sim! sou. - Respondi. - Então tu conheces o


Sr. Antônio Pires, da Cia. Docas? - O Tói? Sim, conheço! - Lhes respondi. - Estás es-

tudando, Estanislau ? - Perguntou ele. - Sim, Estou! Faço Técnico em Eletrotécnica, na

Escola Técnica. - Respondi. - Então esta bom, és de Imbituba, conheces o Tói, és amigo

da Salete, que trabalha na SATMA, então estás contratado. - Afirmou ele. - Eu pensan-

do, perguntei a mim mesmo. Assim tão fácil?

Ele abriu uma gaveta de sua mesa de trabalho, pegou uma folha de papel e me

entregou dizendo, esta é uma ficha de solicitação de emprego, preencha solicitando um

emprego, para depois entregarmos na sala, aos rapazes, essa expressão “rapazes” usada

por ele, lembrei de meu pai que também usava essa expressão, depois então pegaremos

com eles a relação de documentos que vais providenciar para a tua admissão, na SALIC

Sul América Cia. Nacional de Seguros de Vida.

Fomos então para a sala dos rapazes onde o Dr. Vilson me apresentou aos três

funcionários, que até então nos conhecia de nome, esse é o Silvano, aquele é o Fernan-

do, o outro ele falou o nome mas não lembro, poderia chama-lo por qualquer nome, ma-

is não seria justo.

Ele então me apresentou aos seus funcionários, dizendo. – Esse é o Estanislau,

nosso mais novo funcionário, achamos o homem certo, o cargo dele vai ser de Sub Ins-

petor, para a região da grande Florianópolis.

Ele então dirigindo-se ao Silvano, pediu que ele me entregasse uma relação no-

minal de documentos solicitados pela seguradora, para que eu providencie toda a docu-

mentação, para que eles pudessem fazer minha admissão, quem sabe, como falou o pró-

prio Dr. Vilson, a partir do dia quinze, quinze de setembro ainda desse mês.

Saindo da sala com a relação de documentos a serem providenciados, pequei o


elevador fui até o andar térreo, depois voltando fui ao segundo andar, entrei numa porta

de vidro, onde estava escrito Sul América Terrestre, Marítimos e Acidentes Pessoais,

entrando perguntei ao primeiro funcionário que encontrei. - Por favor, qual o setor da

Salete? - Ele aponta para uma moça, afirmando. - É aquela! Podes ir até a mesa dela se

quiseres ou ela vem até o balcão. - Foi o que ela fez quando me viu, veio até o balcão.

Depois de nos cumprimentar, disse a ela que tinha ido conversar como o Dr.

Vilson, ela então ansiosamente perguntou . - E dai? Como foi? Deu tudo certo? - Lhes

respondendo falei. - Sim deu! – E lhes falando disse mais. - Vou providenciar os docu-

mentos, devo começar amanhã ou depois, só depende de mim. - Que rápido! - Falou ela.

- Completando mais, a amiga de minha irmã falou. - Se precisares de alguma coisa, me

procura Dalzo! - Completou ela. - Então falei. Está bom Valdete, se precisar te pro-

curo. - Agradecendo a ela, fui embora. (Dalzo é meu apelido).

Saindo da seguradora fui direto tirar as fotos três por quatro, datadas que só fi-

cavam prontas de um dia para o outro, dali já fui também ao DASP- Departamento Au-

tônomo de Saúde Pública, nos altos da Rua Felipe Schmidt, para providenciar o atestado

médico de boa saúde, os demais documentos que solicitavam já os tinha, eram carteira

de trabalho, carteira de identidade, certificado de reservista, titulo de eleitor, diploma de

conclusão do ginásio e comprovante de residência, apresentei declaração de que morava

na casa pensão, da Rua Nestor Passos Nº 37, devidamente assinada pelo senhorio.

No outro dia a tarde com todos os documentos em mãos, inclusive as fotos três

por quatro, datadas, que tinha acabado de pega-las, com o fotografo, fui até a seguradora

para entrega-los, não falei com o superintendente, entreguei direto ao Silvano, que pare-

cia ser o funcionário mais antigo e responsável no escritório, que depois de conferir toda
à documentação, pediu que eu voltasse no outro dia, as oito horas da manhã, para falar

com o chefe, para providenciar abertura da conta bancaria.

As oito horas da manhã conforme tinha solicitado o Silvino, lá estava eu na por-

tária do prédio a espera de que abrissem o escritório, apreciava o vai e vem das pessoas,

uns descendo outros subindo a ladeira da Rua Arcipreste Paiva, eu olhava distraidamen-

te para o outro lado da calçada, vi saindo da Pastelaria Gruta de Fátima ao lado da Cate-

dral, o Dr. Vilson com sua inseparável pasta preta embaixo do braço, e com o guarda

chuva na mão, já armado, pois chovia aquela manhã.

Ele atravessando a rua rindo, desejava bom um dia a todos, que por ele passa-

vam, quando chega na calçada, para subir a escada em direção da portaria do prédio, ao

me ver ali parado encostado na parede, vem com o braço direito esticado e a mão espal-

mada para apertar a minha, e dando me bom dia, pergunta, se estava tudo bem, se já tin-

ha providenciado toda a documentação, eu também com o braço esticado e a mão espal-

mada apertava a dele, devolvendo também a ele um bom dia e já respondendo a pergun-

ta feita por ele, disse-lhe que sim e que conforme o Silvano falou, a documentação esta-

va toda em ordem e só estava faltando a carta da Seguradora, autorizando a abertura da

conta bancaria em meu nome.

Subimos junto até a seguradora, ele abriu a porta de entrada, depois de entrar-

mos fechou a porta novamente e fomos para a sala dele no fundo do corredor que estava

fechada a chave, ele abriu a porta, foi até a janela que dava para a Rua Arcipreste Paiva,

abriu-a entrando um ventinho frio arejando a sala, eu sentei numa das duas cadeiras em

frente de sua mesa de trabalho, ele sentou-se na sua poltrona, depois de ter colocado sua

capa de chuva num cabide e seu guarda chuva armado num canto da sala, abriu uma ga-
veta da escrivaninha, tirou um formulário timbrado da seguradora, preencheu alguma

coisa, assinou e me entrega dizendo, esta carta é para entregares ao gerente do Banco

Bradesco, agencia da Praça XV de Novembro, para que eles abram uma conta corrente

em teu nome, para que a seguradora, passe a depositar mensalmente o teu salário.

Uma outra coisa que já vou te explicar Estanislau, disse ele, nossa seguradora

paga o salário de todos os seus funcionários quinzenalmente, no dia quinze do mês ela

deposita 50% do salario, já o restante descontado os encargos, ela paga no ultimo dia

do mês e nunca atrasa um dia sequer, frisou ele com ar de satisfação.

Levantando da cadeira foi até um armário encostado na parede do lado direito

da sua me mesa de trabalho, pegou uma pasta preta, parecida com a que usava, e me en-

trega dizendo, essa pasta é presente, já foi usada mais esta como nova, é para colocares

as propostas de seguro e toda a papelada que vais usar no teu dia a dia de trabalho como

Sub Inspetor.

Me explicou o trabalho e minha função no cargo, depois então passamos para

outra sala onde tinha uma enorme mesa com oito cadeiras, posicionada bem no meio sa-

la, em cima de um tapete tipo persa, desbotado pelo grande uso, foi até um armário tipo

estante sem porta, com varias prateleiras, pegou vários formulários timbrados da segura-

dora e colocou em cima da grande mesa.

Eu sentado numa das cadeiras da grande mesa, ele sentado numa outra, do ou-

tro lado da mesa, falando olhando para mim, disse orgulhosamente. - Estanislau! Essa

sala, é a sala dos homens da produção, que passarás também a usa-la, essa sala nos pri-

meiros dias de cada mês, tu vais ver, fica cheia de Sub Inspetores, que vem de todas as

regiões do Estado, para entregar a produção do mês, é uma festa!


E era uma festa mesmo, como falou o Dr. Vilson, participei de poucas festas

dos Sub Inspetores da SALIC, mas das poucas que participei foram realmente muito bo-

as, elas já começavam pela manhã com a chegada dos Sub Inspetores, vindos de todas

as Regiões do Estado de Santa Catarina, cada um entregava seu relatório mensal, com a

sua produção do mês, e no horário de almoço toda equipe, inclusive os três funcionários

internos, íamos para um restaurante famoso na região de Biguacú.

A tarde era toda de reuniões, já a noite, como todos os Sub Inspetores ficavam

hospedados no mesmo hotel, normalmente íamos para uma famosa casa noturna do Ba-

irro Kobrasol, como normalmente essas reuniões mensal de Sub Inspetores, eram sem-

pre marcadas para a ultima quinta e sexta feira de cada mês durante o dia, a noite desses

dois dias, eram uma criança para a maioria dos Sub Inspetores, como o seu Pedro Sauro,

que na sexta feira, amanhecia, só ia até o hotel para fechar a conta.

O Dr. Vilson, começou a mostrar os formulários da seguradora , como preen-

cher o cartão proposta para inclusão de segurados e também explicando como funciona-

va o seguro de Vida em Grupo, seguro em que iria trabalhar.

Explicava sobre o seguro de vida em grupo e já me mostrava as tabelas com os

valores segurados, coberturas e custo mensal, que tinha cada estipulante de apólice, em

que iria trabalhar, essa de nº 2104 é do Governo do Estado de Santa Catarina, essa de nº

2251 é do Hospital de Caridade de Florianópolis, já essa de nº l42l tem três sub estipu-

lantes o SESC, SENAC e a FECOMERCIO, etc..., assim foi mostrando, e falando sobre

as particularidades que cada cliente tinha.

Nesses dois últimos dias da semana vou te explicar os macetes de como deves

trabalhar, assim já vais preenchendo um modelo de cada cartão proposta, para cada caso
da apólice que iras atender e na segunda feira vou te apresentar no setor pessoal do Hos-

pital de Caridade, para ires te familiarizando com um dos nossos clientes.

E assim comecei meu trabalho de empregado na seguradora, a partir do dia pri-

meiro do mês setembro do ano de mil novecentos e setenta e cinco, que foi para mim e

também para os demais funcionários uma surpresa, quando recebi no dia quinze do mês

de setembro, em minha conta corrente no Bradesco, 50% do meu primeiro salário men-

sal, que era de Cr$550,00, era um bom salário, naquela época maior do que o de Auxi-

liar Administrativo da Secretaria Estadual da Saúde, que receberia caso tivesse aceito o

cargo, quando fui chamado alguns meses depois, por ter sido classificado no concurso

publico realizado no ano anterior, o qual recusei, pois já estava trabalhando e admitido

na seguradora, como não batia ponto, um outro diferencial, pois tinha mais tempo para

estudar, quanto precisava.

O Dr. Vilson tinha previsto minha admissão para o dia quinze, mas como a se-

guradora não admitia ninguém que não fosse a partir do primeiro dia de mês, e como os

meus documentos chegaram em tempo hábil na seguradora, para que fosse admitido a

partir do inicio do mês de setembro, foi autorizado então pela Diretoria Regional em

Curitiba, que a minha admissão fosse a partir do primeiro dia do mês de setembro, rece-

bendo assim o mês cheio.

Meu trabalho na seguradora era dinâmico e tinha contato com muitas pessoas

de varias faixas social, conversava sobre tudo, como não assinava nem batia ponto, fazia

o meu próprio horário, começava cedo e só parava quando era chegado a hora de ir para

a aula do curso técnico.

O meu ano terminara bem trabalhando numa boa empresa, com perspectiva de
fazer carreira e concluíra também com sucesso, mais uma fase do meu curso técnico po-

dendo assim, matricular-me na quinta fase do curso, com inicio no próximo ano.

Eu então pensei, se o próximo ano for tão bom quanto esse que estava chegando

ao fim, no final do ano seguinte eu faria o vestibular para Engenharia Elétrica como pri-

meira opção.

O novo ano, o de mil novecentos e setenta e seis começava bem, passei as fes-

tas de natal e ano novo na casa de minha mãe com toda família, estava bem no meu em-

prego e no curso técnico e também nos encontros com a Rosa, que passaram a ser mais

frequentes.

O desgaste com minha namorada de Criciuma foi tão grande no ano que passou,

que acabamos terminando nosso namoro de quase cinco anos, quando já nas férias esco-

lares de julho do ano que passou, pouco tinha falado pessoalmente com ela, e nas férias

dela em janeiro desse ano que estava chegando, só iriamos poder estar juntos em dois fi-

nais de semana, pois teria que estar em Florianópolis estudando e trabalhando, o melhor

a fazer foi mesmo terminar nosso namoro, assim não empatava o tempo dela, nem ela o

meu.

O ano nem bem começara, a seguradora iniciava uma estruturação administra-

tiva, começou por autorizar a SATMA a comprar um andar inteiro num prédio novo, o

Edifício Otília Elisa, na Praça XV de Novembro 11, duas semanas depois autoriza tam-

bém a SALIC a comprar também um andar inteiro no mesmo edifício, ficando assim as

duas seguradoras no mesmo edifício, a Satma com o nono andar e a Salic com o oitavo

andar.

Eu estudava com mais afinco pois essas ultimas fases do curso seriam cada vez
mais puxadas, tanto nas aulas praticas, quanto nas aulas teóricas, onde a troca de profes-

sores estava se tornando rotina, eram substituições de professores antigos por professo-

res novos, professores esses, que recentemente tinham começado a cursar faculdade de

engenharia elétrica, que era a área de meu curso técnico, esses professores não tinham

muita paciência, nem tempo a perder conosco, estudantes poucos comprometidos, como

um dos professores chegou a falar em sala de aula.

Só não sabia eles que a maioria dos alunos que faziam os cursos a noite traba-

lhavam durante o dia, e não tinham muito tempo para estudar, assim sendo, esse profes-

sor tinha que ter paciência sim, mas como em todas as categorias, tem os bons e maus

profissionais, aprendemos assim a conviver com esses maus professores.

Esse primeiro semestre passou rápido, tinha passado de fase apesar das dificul-

dades que estava tendo estudando e trabalhando, já matriculado para fazer a sexta fase,

e também me preparando para fazer o vestibular, no final do ano.

O nosso local de trabalho agora era na Praça XV de Novembro nº 11, no oita-

vo andar do Edifício Otília Elisa, as salas eram todas amplas e arejadas, como a segura-

dora ocupava todo o andar, tinham salas viradas para a Praça XV, outras viradas para o

maciço do Morro da Cruz, de onde podia se ver minha rua, o telhado da casa pensão em

que morava e também parte da rua e do telhado da casa em que a Rosa morava.

Os moveis da seguradora que ajudei a carregar num sábado pela manhã, desde

o nosso endereço anterior na Rua Arcipreste Paiva, mal tinham sido organizados nas

salas no novo endereço, chega a noticia de que não existia mais Salic, nem Satma, agora

era só “ Grupo Sul América de Seguros ”, não havia mais Superintendência, o cargo do

Dr. Vilson tinha sido extinto, meu chefe agora era um Superintendente sem pasta, até a
sala do homem no oitavo andar foi lacrada, a mando do Gerente Administrativo, da ex.

Satma, naquela época diziam que o pessoal da Satma, tinham ciúme, inveja da produção

e da liberdade que os funcionários da Salic tinham.

Eu novo na empresa pensava, será que vai sobrar pra mim, logo agora que tin-

ha trocado um emprego garantido e concursado na Secretaria Estadual da Saúde, e ago-

ra vem essa fusão das seguradoras do grupo, não, não, não vai sobrar para mim, se Deus

quiser não.

Na segunda feira seguinte à da noticia da fusão, o Dr. Vilson chega ao escrito-

rio depois de quase duas semanas viajando, não conseguiu entrar em sua sala, pois pela

manhã cedinho, tinham trocado a fechadura da porta de entrada da sala, talvez para que

ele não pegasse documentos da seguradora, depois vim a saber que ele no sábado ante-

rior foi até a seguradora e levou todos os seus documentos particulares e possivelmente

outros que lhes interessavam, de certo modo já sabedor que cabeças rolariam, e que Flo-

rianópolis passaria a ter uma Sucursal do Grupo Sul América e que o ex-Gerente Regio-

nal da Satma, seria o Diretor Regional do Grupo, para todo o Estado de Santa Catarina.

Depois vim a saber também, que nessas duas semanas viajando, o Dr. Vilson,

advogado e raposa velha que era, alinhavou junto com sua equipe de trabalho no estado,

sua ida e de toda sua equipe de produção, para o Grupo Bandeirantes de Seguros Gerais,

com Sucursal na cidade de Blumenau, e que antes desse acerto com o Grupo Bandeiran-

tes de Seguros Gerais, ele foi a cidade de Curitiba capital do estado vizinho onde na Su-

cursal do agora então Grupo Sul América de Seguros, e transmitiu ao Diretor Regional

Sr. Abadi, a quem nós da Salic em Santa Catarina nos reportávamos, a decisão que ele

junto com toda a equipe estavam tomando, mudar de seguradora..


E lá foi o Dr. Vilson e toda sua equipe de seguro de vida em grupo, para uma

concorrente mediana e que com a ida dele e de toda equipe tornou a Bandeirantes de Se-

guros Gerais, forte concorrente do Grupo Sul América no estado de Santa Catarina, pás-

sando assim meu antigo superintendente e colegas de cargo, agora todos ex funcionários

da Salic a fazer concorrência ao Grupo Sul América de Seguros em todo o Estado, onde

tiraram varias das nossas apólices de seguro de vida em grupo.

Eu funcionário novo da extinta Salic, solitário continuava fazendo o que sem-

pre fazia antes da integração, até que um dia o Gerente Administrativo, seu Gabriel, me

chama na sala dele, e pergunta se eu sabia o que fazer com todo o material de seguro de

vida que diariamente chegava, via malote da Matriz da seguradora no Rio de Janeiro e

também, caixas e mais caixas, que chegavam por transportadoras, enviadas pela Sucur-

sal do Paraná, para nossa Sucursal.

Eu apesar de não ter conhecimento de todo o material que tinha chegado e con-

tinuava chegando, disse ao gerente que tinha conhecimento sim, onde ele então me con-

voca para destrinchar todo o material acumulado de seguro de vida em grupo, que era de

responsabilidade da recém criada carteira de seguro de vida e acidentes pessoais, que

tinha o Jedson Aguiar, como chefe da carteira.

Me deram uma mesa, comecei a separar o que era de mais urgência, como as

faturas de prêmio das apólices de seguro de vida em grupo, que tinham de ser enviadas

via correio, já que essas faturas tinham que chegar aos estipulantes, clientes, bem antes

do vencimento.

Os cheques para indenização de sinistros, por morte ou invalidez de segurados

das apólices de vida em grupo, quando chegavam na tesouraria da sucursal era um Deus
nos acuda, o tesoureiro apavorado vinha me perguntar meio contra gosto, o que fazer

com os cheques e como fazer para pagar aos beneficiários, então dizia a ele, manda para

a Inspetoria da região do sinistro, e pede para o inspetor fazer o pagamento ao beneficiá-

rio do cheque, através do estipulante da apólice.

Com o passar dos meses os problemas foram se acomodando, eu aproveitava

então para fazer as visitas aos nossos clientes em Florianópolis e região onde não perde-

mos nenhum negócio, mais no resto do estado estávamos perdendo muitas apólices, a

seguradora teria que tomar uma providência.

Como saia do escritório para visitar os clientes em Florianópolis, começou a

gerar um outro problema, como não batia ponto, pois meu cargo de Sub Inspetor me de-

sobrigava de bate-lo, o Gerente Administrativo veio conversar comigo e pediu que pelo

menos obedecesse o horário de entrada e saída dos demais funcionários, então disse a

ele, que por mim tudo bem, só que tinha dias que não obedecia não, saia mais cedo, ou

chegava mais tarde, sempre com uma desculpa a ser dada, caso viessem me perguntar.

O final do ano chegara, já tinha feito minha inscrição para o vestibular na Uni-

versidade Federal de Santa Catarina, chequei a fazer as provas mais não fui classificado,

mas mesmo que tivesse alcançado média, não poderia fazer matricula, pois pela primei-

ra vez tinha sido reprovado em uma fase do curso técnico em eletrotécnica, justo aquela

fase, a de conclusão do terceiro ano, que correspondia ao terceiro ano do curso científi-

co.

Entrou o ano de mil novecentos e setenta e sete, eu matriculado novamente na

sexta fase do curso Técnico em Eletrotécnica repetindo fase, meu trabalho na segurado-

ra agora era mais interno e o dia todo, estava me sentindo preso e não estava indo bem
no meu curso técnico, estava decepcionado com minha primeira reprovação de fase, já

meu namoro com a Rosa, entrara numa fase mais intensa, boa, mais era um dos motivos

que me afastou do foco estudo.

Em pouco tempo eu já conhecia praticamente todos os amigos da Rosa, quando

dançando aos domingos na sede da Escola de Samba Copa Lord, estava bem entrosado

com os amigos dela, até me convidavam para jogar futebol no time da rua, o Estrela do

Mar Futebol Clube, onde comecei a conhecer os irmãos da Rosa.

Em um domingo o time do Estrela do Mar, foi jogar na Fazenda da Armação,

um bairro da cidade de Governador Celso Ramos, contra o time do Pescador, não era só

uma partida de futebol, era também uma excursão, os jogadores, esposas, filhos e namo-

radas, foram de ônibus, eu e a Rosa, fomos no carro do Paulo, um dos irmãos mais novo

dela, já o conhecia tocando violão e cantando na boate Nigth In Day, na Rua João Pinto,

o Paulo era um grande cara e bom amigo.

Nesse dia o ônibus depois de deixar os jogadores no campo de futebol ia levar até a pra-

ia o resto do pessoal que vieram como excursionistas, eu e a Rosa estávamos embarcan-

do no ônibus para ir também a praia, um outro irmão dela o Osvaldo, o ciumento orga-

nizador da excursão, só para me encher o saco, não nos deixou embarcar no ônibus, pois

não tínhamos vindo com a turma, em excursão.

O irmão mais velho Luiz, era mais laith, calmo e tranquilo quase parando, o

Bar do Escova lhes fazia bem, já o Jorge, na época o único casado, era um gozador, na

cidade de Biguaçú, no Estádio do BAC-Biguaçú Atlético Clube, num jogo contra o time

do Fluminense, do Bairro da Prainha, pela Copa Arizona, em um escanteio contra o nos-

so time, o Estrela do Mar, um dos nossos zagueiros tira a bola da área com um chutão,
corri atrás da bola mais que o Jorge que era o centroavante, a bola sobrou para mim e o

goleiro adversario, que veio ao encontro da bola no bico da grande área, e se joga na bo-

la, que fica entre a cabeça dele e meu pé quando já vinha para chuta-la, eu para não ma-

chucar o goleiro parei, o Jorge até hoje fala desse lance me perguntando, porque eu não

chutei a bola para fazer o gol, porque se fosse ele chutaria a bola, a cabeça do goleiro e

tudo o que sobrasse na frente dele, mais que faria o gol, faria.

Jogando no time da rua, o Estrela do Mar, comecei a conhecer os amigos dos

irmãos da Rosa, os do primeiro time, que se tornaram também bons e grandes amigos,

jogavam no time naquela época, o Nivaldo, Cá, Jucélio, Milton, Camisão, Cabral, Luiz

Kinceski, Camelo, Arcanjo, Luiz “Buck Jones”, Mitinho, Zeca, Cassio, Alcino, Vilmar,

Defunto, Açúcar, Bumba e tantos outros.

No inicio do mês de março, nem bem tinha começado as aulas, chega em nossa

Sucursal, vindo da Sucursal do Paraná, Sergio Bufálo, Diretor de Produção para seguro

de vida em grupo, lotado em Curitiba e enviado pela Vice Presidência da seguradora, da

matriz no Rio de Janeiro, para estruturar o seguro de vida em grupo em nosso Estado, o

Estado de Santa Catarina, que estava indo muito mal em virtude dos vários cancelamen-

tos de apólices.

O Sergio Bufálo, era jovem demais para ser Diretor, nos seus mais ou menos

trinta anos, era inteligente, dinâmico e com mãos de ferro para desenvolver os assuntos

a ele incumbido, pois sabia com quem tinha que lidar e como lidar, pois certamente já o

tinham alertado, pelo trio de funcionários da Sucursal do Paraná, Maria Graciosa, Fante

e o Soiza que tinham passado trinta dias em nossa sucursal estruturando a carteira de se-

guro de vida e acidentes pessoais.

O Diretor recém chegado de Curitiba, depois de ter conversado com nosso Di-
retor Regional, veio até mim perguntando. - Então você é o Sub Inspetor, Amorim? - O

ultimo dos moicanos do Vilson? - Sim sou! - Respondi. - Eu sou o Sergio Búfalo, o Soi-

zinha deve ter falado de mim, como também falou de você. - Tens disponibilidade para

viajar? - Perguntou. - Sim, tenho! - Respondi. - Você quer ser nosso Inspetor de conser-

vação, para o Seguro de Vida em Grupo no Estado? - Sim! - Respondi. - Então está bem

vou tratar da tua promoção.

E complementando tudo o que já tinha falado, disse mais, vais ter aumento de

salário, verba de gasolina para viajar, despesa de almoço, janta e hospedagem em hotel,

tudo pago pela seguradora, de acordo com tua nova função.

Antes de se despedir, para ir conversar com o Gerente Administrativo, sobre a

minha promoção perguntou. - Amorim tens carro? - Respondendo, disse que não. - En-

tão vais ter que comprar um! - Respondeu ele, virando as costas, e saiu.

Eu fiquei ali parado, sentado na cadeira de minha mesa de trabalho, pensando,

que cara “fodido”, como vou comprar um carro, se não posso nem comprar uma bicicle-

ta.

Antes do intervalo para o almoço, ele voltou a minha mesa onde trabalhava di-

zendo que estava tudo acertado, vais ser nosso Inspetor de Conservação, para a região

Sul do Estado de Santa Catarina, tua promoção vai ser retroativa ao mês de fevereiro pa-

ra que possas dar uma entrada boa, na compra de um carro.

Eu sem entender muito bem, falei. - tudo bem!

Fiquei sabendo depois através da secretária do Diretor Regional, que foi gran-

de a discussão sobre minha promoção, começou na sala do Gerente Administrativo, seu

Gabriel, que falava alto gritado, que minha promoção não podia ser assim, que não esta-

va certo, depois a discussão passou para a sala do Diretor Regional, Dr. Hendrigo, que

não dizia nada, tanta era a pressão do gerente sobre ele, que como não tinha saída, ligou

para a Matriz da seguradora no Rio de Janeiro, de onde recebeu via telex, a resposta de

que o Sergio Búfalo, tinha carta branca, da Vice Presidência e também da Diretoria Exe-
cutiva do Grupo Sul América, para admitir e demitir, quem ele quisesse, desde que es-

truturasse a produção do seguro de vida em grupo, no Estado de Santa Catarina.

Na sucursal tudo ficara resolvido sobre minha admissão, o Sergio Búfalo voltou

para Curitiba, eu já exercendo minha nova função, procurava saber tudo sobre todos os

clientes que mantinham apólice de vida em grupo conosco, principalmente os da Região

Sul do Estado e na grande Florianópolis, eram as regiões que iria atender.

Nessas duas regiões do Estado, estavam concentrados nosso maior numero de

clientes com apólices em vigor, numero de segurados, também de prêmios emitidos, e

arrecadados.

No final do mês de março quando recebi meu contra cheque, levei um susto de

tanto dinheiro, que seria depositado no banco, em minha conta corrente.

Como já tinha visto o automóvel que iria comprar e com as tratativas do finan-

ciamento bem adiantadas junto ao Banco Bradesco, onde tinha minha conta corrente e

era depositado mensalmente o meu salario, fui a loja do Tarciso Automóveis, junto com

meu amigo Tamar, perito vistoriador de automóveis da seguradora, para concluir a ne-

gociação de compra do automóvel, para minhas viagens a trabalho, dei 40% de entrada,

um pouco a mais do que tinha combinado, os 60% restante foi financiado junto ao Ban-

co.

A loja tão logo recebeu a os 40% referente a entrada, começou a fazer o proces-

so de compra e venda em meu nome, o fusca l300, cor verde abacate, ano l.972, Placa

AA- 0176 de Florianópolis, como já tinha tirado a carteira de motorista e a confiança no

Tamar, que era amigo do Tarciso, dono da loja, saí dali dirigindo o carro, enquanto eles

providenciavam junto ao banco os 60%, a ser financiado, e no Detran o tramite normal

de legalização da documentação do carro, para o meu nome.

Era uma quinta a feira a tardinha, fui dirigindo do Bairro Estreito onde ficava a

loja de automóveis, para o centro da cidade, estacionei o fusca em frente da casa pensão

onde morava, alguns colegas que moravam comigo vieram ver o carro faziam perguntas
uma atrás da outra. - È teu? - Compraste? - Que ano é? - Quanto Pagaste? - Fui respon-

dendo a todas as perguntas conforme vinham, depois de todo interrogatório dos colegas

entrei em casa para tomar banho, tinha decidido que não iria a aula naquela noite, convi-

daria a Rosa para darmos um passeio pela cidade no fusca.

Não era dezenove horas ainda daquela quinta feira, atravessamos a ponte nova,

a Colombo Salles, em direção ao Bairro Campinas, jantamos na churrascaria do mesmo

nome do bairro, voltando para o centro, decidi passar pela Rua Santos Saraiva, no Bair-

ro do Estreito para mostrar a Rosa, a loja em que tinha comprado o carro, dali seguimos

em direção à Av. Beira Mar Norte, estacionando o carro no final da avenida ainda em

construção, bem na direção do Estádio do Avaí Futebol Clube, o Adolfo Konder, parei

aonde já tinha vários veículos estacionados, uns com casais de namorados conversando

sentados no capô dos carros, outros sentados nos bancos, dentro dos carros namorando,

aquela noite estava boa mesmo para namorar, com a claridade da lua cheia, brilhando

sobre as águas do mar da Baia Norte.

No sábado pela manhã fui a Imbituba mais para mostrar o carro que tinha com-

prado, a casa de minha mãe estava cheia de pessoas em visitas, todos parentes do meu

Ademar, marido de minha irmã Eliane, que moravam em Criciúma, vieram para o ani-

versário de um ano de minha sobrinha Liz Kelly, foi um final de semana em família.

Na segunda feira de volta ao trabalho, já estava na Sucursal, chega o Sergio Bú-

falo cedinho, vindo de Curitiba, como já tinha me informado na sexta feira por telefone,

que viria a Florianópolis e que me preparasse para fazermos juntos, minha primeira via-

gem como Inspetor de Conservação, a todos os cientes, estipulantes das apólices de se-

guro de vida em grupo da Região Sul do Estado.

Como tudo que fazia, desde que entrei na seguradora me alegrava, e trabalhava

com satisfação, tudo ao contrário de quando trabalhava na Cerâmica, em Imbituba, co-

meçava a deixar para trás meu curso técnico, pois começava a viajar e conseguentemen-

te começaria a faltar as aulas.


Tudo que iríamos precisar para as visitas aos nossos clientes já estava no carro,

saímos da Sucursal fomos a pé até o Hotel Ivoran pegar a mala dele na portaria do hotel

onde o Sergio sempre se hospedava quando vinha a Florianópolis, como meu fusca es-

tava ali perto estacionado, fomos caminhando até ele, dali partimos em direção a Região

Sul do Estado com o Sergio Búfalo ao volante, dirigindo meu fusca, acho que nessa via-

gem o carro teria seu verdadeiro teste de motor, pois o motorista era bom, sempre com

o pé fundo no acelerador.

Fomos direto a cidade de Sombrio, no extremo Sul do Estado, passava das on-

ze horas, quando chegamos na frente da Prefeitura Municipal para nossa primeira visita,

depois de conversarmos com o funcionário da Prefeitura responsável pelo seguro, volta-

mos ao carro, agora dirigindo de volta, paramos para almoçar na cidade de Araranguá,

em Araranguá visitamos o Hospital Bom Pastor e a Prefeitura Municipal.

Da cidade de Araranguá partimos para a cidade de Içara onde visitamos a Car-

bonífera Barão do Rio Branco, onde encontrei trabalhando na empresa um conhecido e

conterrâneo, o Lelei Barcelos, ex-jogador de futebol do Imbituba Atlético Clube, depois

fomos até a Prefeitura Municipal, dali fomos até as Organizações Giassi, era noite quan-

do partimos de Içara, para a cidade de Criciúma, onde pernoitaríamos.

Na região de Criciúma, a seguradora tinha o maior numero clientes e também

de apólices de seguro de vida em grupo em vigor, tínhamos uma Inspetoria Regional na

cidade, para tratar dos vários ramos de seguro.

Começamos cedo na terça feira em Criciúma, visitando a Carbonífera Prospe-

ra S. A., a CECRISA- Cerâmica Criciumense S. A., Fabrica de Caçambas Becker, Ce-

râmica Eliane S.A. - CESACA, Carbonífera Catarinense S.A., e a FUCRI - Fundação

Universitária de Criciúma, na quarta feira a visita começou pela Coque Catarinense

S.A., Transportadora Manique Ltda, Curtume Dal-Bó, Transportadora Criciumense

Ltda e a Metalúrgica Spillere S. A, na cidade de Nova Veneza.

Na quinta feira pela manhã, depois do café, fechamos a nossa conta no Hotel
União, onde estávamos hospedados por três dias, e partimos para a cidade de Urussan-

ga, onde visitaríamos a CEUSA – Cerâmica Urussanga S.A., e a Prefeitura Municipal,

passando a pé em frente da bela Igreja Católica da cidade, entramos, fiz uma prece agra-

decendo a Deus os bons momentos que estava vivendo e fiz um pedido a Deus, por estar

entrando pela primeira vez naquele Santuário.

Da cidade de Urussanga, partimos em direção à Cidade de Lauro Muller, antes

passaríamos na localidade de Treviso, em visita a Carbonífera Treviso S. A., onde con-

hecemos seu João Locks Gerente Administrativo e seu Caulino Chefe do Setor Pessoal

da Empresa, que nos receberam muitíssimo bem, pedindo inclusive que mais vezes os

visitássemos, o que me comprometi visitá-los, pelo menos uma vez por mês.

Na cidade de Lauro Muller, a cidade onde nasceu meu amigo Mario Losso, ao

pé da Serra do Rio do Rastro, visitamos a Carbonífera Barro Branco S.A., os problemas

eram tantos na carbonífera, que nossa visita foi feita em dois períodos, no final da man-

hã quando chegamos e no início da tarde depois de almoçarmos no único restaurante da

cidade, depois de resolvido todos os problemas na carbonífera, partimos para a cidade

de Orleãns, onde visitamos uma fabrica de calçados nossa segurada e a Prefeitura Muni-

cipal, dali partimos então para as duas ultimas visitas do dia na cidade de Braço do Nor-

te, onde visitamos o Hospital Santa Teresinha e uma fabrica de molduras.

Era noite quando partimos de Braço do Norte, viajando desde Criciúma em es-

trada de chão batido, empoeirada, estávamos cansados e tínhamos de enfrentar mais um

trecho à noite, do mesmo tipo de estrada, até a cidade de Tubarão, onde pernoitaríamos,

pois tínhamos na primeira hora da manhã do dia seguinte, uma visita previamente agen-

dada com o Sr. José Antônio Rocha, Gerente da Sotécna - Corretora de Seguros.

Depois de tomarmos nosso café da manhã, na sala de café do hotel, saímos ca-

minhando pela rua, até o escritório da Corretora Sotécna, que ficava na mesma quadra

do hotel, em que nos hospedamos.

Essa nossa visita ao Sr. José Antônio Rocha, gerente da Sotécna - Corretora de
Seguros, uma empresa do grupo CSN - Cia. Siderúrgica Nacional, era uma das visitas

mais importantes de nossa viagem, pois além de termos como nosso cliente na cidade de

Tubarão o Lavador de Capivari S.A., tínhamos também todo o Grupo Carbonífero Pros-

Pera S.A. nas cidades de Criciúma e Siderópolis e ainda vários outros negócios no ramo

de seguro nas cidades do Rio de Janeiro e Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro.

Nossa conversa com o Zé Antônio, como todos conheciam o gerente da corre-

tora Sotécna, se arrastou por toda manhã, como almoçaríamos na cidade, o convidamos

para almoçarmos juntos, por indicação dele, almoçamos no Restaurante Pelicano no an-

dar térreo de um prédio, ao lado do prédio da corretora, nesse restaurante depois dessa

primeira vez por indicação do Zé, passei almoçar e também jantar, todas as vezes que

passava ou pernoitava na cidade de Tubarão.

Depois do almoço no Restaurante do amigo do Zé Antônio, subimos até o es-

critório da corretora para pegarmos nossas pastas de trabalho, tomamos mais um café-

zinho e uma bala “Dalva”, que passei a compra-la em Florianópolis de vez em quando

para o corretor, com as nossas malas já no carro, partimos para a cidade de Laguna, on-

de visitamos a Prefeitura Municipal, ali ficamos sabendo que a apólice de seguro de vi-

da dos servidores tinha sido cancelada por carta, remetida direto a Matriz da seguradora.

Da cidade de Laguna partimos para as ultimas visitas, na ultima cidade do nos-

so roteiro a cidade de Imbituba, onde tínhamos como segurados a Cia. Docas de Imbitu-

ba, nosso contato era o seu Tói chefe do setor pessoal, na EMACOBRAS nosso conta-

to era o Nilson Martins, meu amigo bom de bola, era um “Gentleman” e impecável em

seu uniforme, jogávamos juntos no time da empresa, já na Prefeitura Municipal o nosso

contato era o Domingos Pamato e o Osvaldinho, na época a Prefeitura ficava no prédio

do seu Joãozinho na esquina da Rua Ernani Cotrin, com a Rua Nereu Ramos onde o Pa-

dre Itamar, um grande orador, da sacada da sala do prefeito, fazia o povo chorar na pro-

cissão da sexta feira santa, no encontro de Nossa Senhora, com o seu filho Jesus Cristo,

pregado na cruz.
Depois dessa ultima visita, nessa primeira viagem, estava com a consciência

tranquila de ter realizado um bom trabalho, junto com o Diretor de Produção do Estado

do Paraná, meu amigo Sergio Búfalo, voltamos para Florianópolis com muitos proble-

mas para serem resolvidos e um pedido feito por quase todos os responsáveis pelo segu-

ro de vida dos empregados nas empresas seguradas por nossa seguradora, que as nossas

visitas fossem feitas com mais frequência, não os abandonando como tinham sido aban-

donados nesse último ano, prontifiquei-me dando minha palavra de que pelo menos du-

as visitas mensais faria a eles, enquanto trabalhasse na Seguradora.

Em Florianópolis, no estacionamento do hotel, em que tinha ficado guardado o

automóvel Opala preto, modelo Comodoro, novo, praticamente zero do meu colega de

viagem, me despedindo do chefe e agora amigo, falei a ele que achava ter me encontra-

do nesse tipo de trabalho, pois não tinha rotina, cada visita feita a um cliente tudo era di-

ferente, desde à apresentação até o tipo de conversa, uma cabeça era totalmente diferen-

te da outra e com casos diferentes a serem resolvidos. - Obrigado Sergio! -Vá com Deus

meu amigo e tome cuidado, depois de dirigir por cinco dias, meu fusquinha e entrar nes-

se carrão e dirigir até Curitiba pode ser relaxante demais, não vai dormir chefe.- Que na-

da amigo, aqui tem braço, aprendi a dirigir com o Fittipaldi! - Até mais Amorim,

quando fores a Curitiba me procura, se ainda estiver lá.

Eu e o Sergio, éramos parecidos, em alguns aspectos, ele tinha espírito aventureiro, não

ficaria na seguradora por muito tempo, eu era do tipo inquieto, não conseguia ficar para-

do, tinha de estar sempre fazendo alguma coisa, “nunca fui bom em nada, mais era bom

em fazer um pouco de tudo”.

Na semana seguinte à primeira viagem, fiquei na sucursal passando para fren-

te os problemas que não dependiam de mim para serem resolvidos, e resolvendo outros

que só de mim dependiam.

Essa nova função na seguradora estava mudando minha cabeça e também min-

ha vida, como fiquei a semana toda na cidade, fui a todas as aulas do meu curso técnico,
algumas matérias consegui recuperar, outras não mais fui levando, a Rosa minha namo-

rada, encontrava todos os dias a noite, depois das aulas, na frente da L.B.A., quase na

esquina com a Rua Major Costa, dali subíamos o morro juntos, até a casa dela.

Como era eu que fazia meu próprio roteiro de viagem, todas as segundas feira

ficava na Sucursal para fazer as visitas aos nossos segurados na cidade, e já aproveitava

para ir as aulas, nas terças feira saia cedo para viajar, voltava geralmente nas sextas fei-

ra, as vezes nem passava em casa, ia direto para a aula, na Escola Técnica.

Meus dias passaram a ser todos diferentes um do outro, sem rotina, sempre tin-

ha alguma coisa para fazer. Enfim tinha encontrado, “ o meu eu”.

SUMARIO

Esse livro foi escrito em homenagem a todos aqueles jovens que partem de um municí-

pio pequeno em direção a uma grandes cidade seja a procura de trabalho ou servir a pa-

tria como eu, e depois ter que voltar ao convívio dos antigos amigos e família, quando

poderá vir a tristeza, que poderá se transformar em depressão.

Essa tristeza por ter passado algum tempo em uma grande cidade onde tudo é muito rá-

pido e depois ter que voltar a sua pequena cidade onde tudo corre tão devagar, a tristeza

depressiva poderá vir e quando essa depressão vem, a melhor decisão é partir novamen-

te, só que agora em uma busca definitiva do seu destino, para que essa não tomada de

decisão não venha a trazer no futuro arrependimento.

Arrependimento que certamente o levará por toda a vida...

Fim.
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