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Ao conceber a “cidade virtuosa” Alfarabi também mantem uma hierarquização

semelhante à sua concepção metafisica, com o líder perfeito possuindo o máximo de


características e virtudes que o aproximam do Intelecto Agente, e os seus súditos e
seguidores gradualmente se afastando deste ideal

Segundo Alfarabi, o Primeiro é o principio do qual advém toda a existência. A sua


substância é una, completa, indivisível, imóvel, eterna e perfeita. Os seres que surgem a
partir do Primeiro existem graças a sua “emanação”, que permite que as coisas surjam
sem que o princípio jamais perca sua essência.

Estes seres emanados do Primeiro se organizam de um determinado modo,


hierarquicamente, dos seres mais perfeitos aos seres menos perfeitos. No mundo
supralunar, todos os Intelectos existem em puro ato, independente de matéria. Estes
intelectos se organizam em dez esferas celestes1 sendo a última destas a esfera da Lua,
detentora do Intelecto Agente.

Esta última esfera supralunar da origem ao mundo sensível, sublunar, onde cada um dos
seres subsiste a partir da matéria e da forma em uma relação de interdependência. Como
apontado por Alfarabi:

A matéria serve de substrato para a existência da forma, e a forma não pode


subsistir ou existir sem a matéria. A matéria existe em função da forma, e se
não houvesse forma, a matéria não existiria. A forma não serve para que exista
a matéria, mas para que a substância corporal se tome substância em ato, pois
cada espécie só se toma existente em ato, com o modo mais perfeito dos seus
dois tipos de existência, matéria forma, quando está presente a sua forma.

As formas do mundo sublunar são contrárias umas em relações as outras e podem ou


não existir. Suas matérias são preparadas para que possa receber um tipo de forma e
também o seu contrário. Um corpo capaz de receber a forma do Belo, também pode ser
capaz de receber sua forma contrária (Não-Belo), mas não necessariamente algum outro
tipo de forma (como a forma da Razão, por exemplo)

1
O Primeiro emana o Segundo. O Segundo é capaz de inteligir sua própria essência, e a essência do
Primeiro, deste modo ele substancializa-se e gera o Terceiro. O Terceiro intelige a própria essência, e
intelige o Primeiro, substancializando-se e dando origem a um Quarto. Segue-se desta forma até o
Décimo, que não gera um novo intelecto em ato.
Assim como nos seres supralunares, também existe uma organização hierárquica dos
existentes inferiores. O mais inferior das sensíveis é a matéria comum a todos, em
seguida vem os elementos, seguido pelos minerais, plantas, animais irracionais e
animais racionais. Dos seres sublunares, o homem é o mais perfeito de todos e o único
capaz de buscar de maneira ativa o Intelecto superior.

No mundo sensível os seres podem existir de modo particular, tendo combinações


diferentes de forma e matéria. Os seres também podem possuir contrários, gerando uma
grande multiplicidade sensível, diferentemente dos corpos supralunares, já que possuem
essências perfeitas.2

The highest type of this theoretical knowledge, for al-Fa¯ra¯bi, is


wisdom (h
˙
ikmah), which is ‘the knowledge of the ultimate causes of all
1. Fus
˙
u¯l, p. 51.
existing entities, as well as the proximate causes, of everything caused’, by
which he appears to mean ‘first philosophy’ or metaphysics and ‘second
philosophy’ or physics, respectively. This double type of knowledge
consists ‘in knowing that entities exist, what they are, how they are and, if
many, how they culminate in an orderly fashion, in a Single Being, who is
the cause of those ultimate entities, as well as the lower proximate
entities’.2 Such a Being is the True One, whose subsistence (qiwa¯m) does
not depend on anything else, being thoroughly self-sufficient. He is, in
addition, incorporeal and His being is entirely different from the being of
other entities, which do not resemble Him except in name.

2
Cada corpo supralunar possuí uma única espécie, não havendo nenhum outro corpo que compartilha
de sua essência. Deste modo, é impossível existirem formas contrárias a dos seres eternos (Alfarabi Cap
VII, 2-3)

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