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Conceito de fusão: Conforme definição do próprio direito positivo brasileiro (Lei 6.

404,
artigo 228), "Fusão é a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar
uma sociedade nova que lhes sucederá em direitos e obrigações." Para Bulgarelli (1999)
“Fusão é um ato de natureza corporativa ou social, pelo quais duas ou mais sociedades,
diante a dissolução de alguma ou de todas elas, fundem seus patrimônios e agrupam-se
em uma só sociedade.”.
Na fusão de empresas o controle administrativo fica ao encargo da empresa que se
apresentar maior ou da mais próspera delas.
Esse tipo de associação permite reduções de custos, mas pode levar a práticas restritivas
ou monopolistas no mercado.
Nosso objetivo é mostrar como os funcionários da Chocolates Garoto se sentem diante da
fusão a partir da compra efetuada pela Nestlé.

Fusão:
É a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para formação de uma nova
sociedade, de uma nova pessoa jurídica. As sociedades fundidas serão extintas, e seu
patrimônio será somado, formando o patrimônio da nova sociedade resultante da fusão.
Será a nova sociedade sucessora das extintas em todos os seus direitos e deveres,
havendo também sub-rogação dos contratos anteriores.

Em 15 de março de 2002, a empresa Nestlé Brasil Ltda., subsidiária brasileira do grupo


suíço Nestlé, submeteu à apreciação do CADE a aquisição da empresa Chocolates
Garoto S/A.
A operação se formalizou, após processo de disputa entre diversas empresas
interessadas, com a celebração pelas Requerentes do Contrato de Subscrição, datado de
22 de fevereiro de 2002. Depois do fechamento do negócio, que ocorreu em 28 de
fevereiro de 2002, conforme previsto na cláusula 3ª do Contrato de Subscrição, a Nestlé
Brasil Ltda. passou a deter a totalidade do capital social da Chocolates Garoto S/A.
Para resguardar as condições do mercado relevante, de forma a evitar a
ocorrência de danos irreversíveis até a decisão final do Plenário do CADE, foi adotada
uma Medida Cautelar, com a celebração do Acordo de Preservação da Reversibilidade da
Operação (APRO), nos termos da Resolução CADE nº 28, de 24 de julho de 2002. Esse
foi o primeiro APRO da história CADE.

CADE seguiu os mesmos parâmetros de avaliação da SEAE e da SDE, levantando os


mercados relevantes e separando os que causavam a possibilidade de exercício de poder
de mercado, também identificou o mercado relevante geográfico sendo eles nacionais.
Os mercados relevantes que gerariam grande concentração de mercado seriam o de
cobertura de chocolate e chocolate sob todas as formas, e o único motivo para não
aumentar os preços seria se as eficiências econômicas estivessem muito elevadas e
mesmo se isso acontecesse esta hipótese e muitodificultosa de comprovação, não da para
saber se isso seria passado para os consumidores.
O posicionamento do CADE foi contrario a fusão embasado no entendimento
jurisprudencial já adotado pelo órgão, guardando o mercado de qualquer forma de
monopólio e também se levou em consideração a ausência de previsão legal que admitia a
opção por uma solução comportamental em casos como ora em análise,
A decisão judicial que reformou a decisão do CADE
Em 2009 o juiz da 4° vara do Distrito Federal anulou a decisão do CADE sob a justificativa
de ter havido decorrido o prazo previsto no art. 54 , da Lei 8884/94, sem que tivesse
havido decisão do CADE, tornando sem efeito a desconstituição da fusão.
O juiz ainda considerou nulos inúmeras diligências e ofícios encaminhados pelo CADE,
pois foram determinados e realizados sem indicação dos fatos e fundamentos jurídicos.
Foram feitas criticas a decisão do juiz no tocante dos interesses dos peticionários da ação
e dos impugnados e também sobre o juízo de imprescindibilidade das diligências, sob
pena de se violar o principio da proporcionalidade e, via de consequência, o direito
fundamental das partes ao devido processo, porém a decisão foi mantida.

Após analisar dados econômico- financeiros pertinentes à estrutura de oferta, barreiras à


entrada de novo concorrentes e análise de ri- validade nos mercados relevantes definidos,
bem como após estudar os níveis de eficiência econômica gerados à Nestlé em decorrência da
aquisição da Garoto, o conselheiro relator concluiu que os mercados afetados apresentam
com elevadas barreiras à entrada, especialmente, relativas aos elevados investimentos em
propaganda e marketing para garantir atratividade e fidelidade dos consumidores às marcas e
aos atri- butos específicos dos produtos (gos- to, textura, consistência, etc) e à ne- cessidade se
deter um amplo portfólio de produtos para garantir presença nos pontos de venda. Constatou,
também, que a rivalida- de remanescente após o ato seria insuficiente para impedir aumentos
de preço, sendo o nível das eficiên- cias incapaz de compensar o risco concorrencial. Em
síntese, a Nestlé, com a aquisição, exerceria forte po- der de mercado, em prejuízo da higidez
da concorrência

Entenda a compra da Garoto pela Nestlé,


barrada pelo Cade
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da Folha de S.Paulo

Confira abaixo os principais pontos envolvendo a compra da Garoto pela Nestlé,


rejeitada pelo Cade.

MERCADO
O mercado de chocolates no Brasil está nas mãos de três grandes empresas:
Nestlé, Garoto e Lacta. A Garoto passa por situação difícil e começa a negociar a
venda da fábrica

COMPRA
Em 28 de fevereiro de 2002, a multinacional Nestlé comprou a empresa brasileira
Garoto, com sede em Vila Velha (ES). Em 15 de março, a operação foi comunicada
ao governo conforme prevê a lei

ANÁLISE
Os órgãos de defesa da concorrência passam a analisar a operação. A Seae e a SDE
elaboram pareceres para embasar decisões do Cade, que analisa e julga a operação

POLÊMICA
O Cade recebe manifestações contra a operação. A Seae e a SDE pedem a adoção
de mecanismo para impedir que a Nestlé/Garoto tome medidas irreversíveis. A
Kraft (Lacta) e a Cadbury pedem que a operação seja suspensa
ACORDO
A Nestlé/Garoto assina compromisso com o Cade de não adotar medidas
irreversíveis até o julgamento do caso

PARECERES
Em seu parecer a Seae se abstém de recomendar decisão ao Cade. A SDE e a
Procuradoria do Cade defendem que o conselho só aprove a operação se forem
impostas condições às empresas inviabilizando o exercício de poder de mercado

ADIAMENTO
Ao longo do processo, vários manifestos, pedidos, pareceres, estudos e petições
contra e a favor da operação são apresentados ao Cade, tornando o processo mais
lento. Várias audiências são realizadas

RELATOR
O relator Thompson Andrade afirma que a operação gera grande concentração de
mercado, cria barreiras para entrada de concorrentes no setor e ainda não gera
redução de custo suficiente para evitar uma possível alta de preços

JULGAMENTO
Por maioria, 5 votos contra 1, o Cade determina que a operação seja desfeita. A
Nestlé será obrigada a vender a Garoto. O presidente do Cade, que foi voto
vencido, defende que operação seja aprovada, com restrições

DECISÃO
A Garoto só poderá ser comprada por empresa com participação abaixo de 20% do
mercado. A Nestlé tem 20 dias, a contar da publicação da decisão, para apresentar
empresa que fará auditoria na Garoto. Essa empresa terá 40 dias para encaminhar
laudo pericial de avaliação de preço ao Cade

VENDA
A venda da Garoto deverá ser acompanhada por outra empresa de auditoria, que
também deverá ser apresentada em 20 dias. Essa empresa estará habilitada a
procurar compradores

MULTA
No prazo de 90 dias após a aprovação pelo Cade do laudo pericial, a Nestlé deverá
vender os ativos da Garoto sob pena de multa diária de R$ 30 mil e de intervenção
judicial

Com a compra da Garoto, a Nestlé passa a dominar mais de 50% do mercado


brasileiro, que movimenta quase 3 bilhões de reais por ano. Dessa forma,
ultrapassaria a Lacta, que liderava até então o mercado, com uma participação de
35%, segundo os números da Associação Brasileira da Indústria de Chocolate,
Cacau, Balas e Derivados (Abicab). Na quinta-feira, a Nestlé comunicou
oficialmente a aquisição ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade),
que analisa fusões e aquisições de empresas para evitar que uma corporação
sozinha detenha parcela majoritária do mercado. Além de adquirir 100% do
controle da Garoto, a Nestlé continuará utilizando a marca da companhia capixaba
e herdará sua vocação exportadora. Com faturamento anual de 450 milhões de
reais, a Garoto vende seus produtos para quarenta países, principalmente do
Mercosul. No ano passado, exportou 10,5 mil toneladas, com ganho de 3% em
relação a 2000.

O potencial de crescimento do mercado nacional ainda é muito atrativo. Na Suíça, o


país do chocolate, o consumo per capita é de 12 quilos por habitante. Na Argentina,
é de 5 quilos por pessoa. No Brasil, esse número não chega a 2 quilos. Os
investidores internacionais sabem disso e não querem deixar passar nenhuma
oportunidade de crescimento no país. No ano passado, a maior fabricante de
chocolates dos Estados Unidos, a Hershey Foods, arrematou a divisão do produto
da Visconti por 18 milhões de dólares. Em 1996, outra grande fabricante brasileira,
a Lacta, passou para as mãos da Kraft Foods, divisão de alimentos da Philip Morris.
Do ponto de vista da Nestlé, a compra da Garoto obedece a uma filosofia de
crescimento acelerado que a multinacional se impôs como forma de se manter
competitiva no mercado mundial. A Nestlé tem feito aquisições no mesmo ritmo
das famílias que vão ao supermercado: uma empresa a cada quinze dias.

Muito mais que unir duas empresas, as fusões de duas companhias podem gerar resultados positivos ou
negativos que atingem o mercado, consumidor, prestadores de serviço e acionistas. Segundo o professor
do curso de administração da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), Sérgio Goldbaum, o
motivo pelo quais as empresas querem adquirir o controle acionário de outra ou se fundirem é tentar
auferir dois tipos de vantagens, que são a redução de custos e aumentar a eficiência da produção.

“Quando uma empresa adquire outra que produz a mesma mercadoria isso deve levá-las a aumentar o
poder de mercado. Para a união, a interessada justifica dizendo que produzindo mais, ela consegue
reduzir custos”, explica. Ou, em um segundo caso, “quando a empresa compra ou funde com outra de
produto diferente, o que chamamos de economia de escopo, elas afirmam que sai mais barato produzir
duas ou mais mercadorias em uma única empresa do que em empresas separadas”, completa o
professor.

A justificativa em geral é que “’conseguiremos ser mais eficientes com um custo médio menor’. Nesse
sentido, os consumidores se beneficiariam”, diz o especialista. Entretanto, é preciso avaliar o outro lado,
dos consumidores e do mercado.

Segundo Goldbaum, em alguns casos, a união de duas empresas pode “diminuir a concorrência e levar a
um abuso de mercado”, ou seja, a companhia lidera o mercado sem dar chances para os concorrentes.
Sem concorrência, ela pode aumentar o preço dos produtos, prejudicando também o consumidor.

Para evitar esses problemas, todos os processos de fusões e aquisições de empresas economicamente
relevantes para o mercado devem ser submetidas ao Cade, que avalia se as negociações têm potencial
de prejudicar o bom funcionamento desse mercado, não exercendo o seu poder em detrimento da
sociedade, ou seja, criando um monopólio, conforme explica o especialista.

Em termos menos técnicos, o Cade faz uma espécie de análise de custo benefício. Segundo o professor,
o conselho avalia todas as circunstâncias e com base na análise pode aprovar – o que acontece quase
sempre; em outros casos aprova, mas com algumas restrições, como é o caso da Sadia e Perdigão,
AmBev, Colgate e Kolinos – o que acontece em poucos casos; e em pouquíssimos casos, veta – como é
o caso da Nestlé e Garoto.

A fusão ou aquisição traz mudanças para diversos públicos, que podem ser positivas ou negativas,
dependendo de como cada empresa conduz. Não há uma regra geral. A união de duas empresas atinge
trabalhadores. Setores vão ser consolidados, em alguns casos, podem haver demissões, em outros,
mudanças em denominações de cargos. Isso exige um trabalho de recursos humanos que está longe de
ser simples”, avalia Goldbaum.

“Os investidores também são afetados. Para que eles acompanhem o processo, as empresas publicam
anúncios para informar as mudanças”, diz. Nesses casos, as ações podem cair ou subir, como foi o caso
da BRF Foods, empresa que é o resultado da fusão entre Sadia e Perdigão. As ações da empresa
chegaram a subir quase 10% dois dias depois do anúncio.
Outro público que pode ser afetado são os fornecedores, distribuidores e outras empresas terceirizadas,
que podem perder ou ampliar seus contratos.

Os consumidores também são afetados. “O processo não costuma trazer resultados muito imediatos, o
efeito também pode ser negativo ou afirmativo. Nesse sentido são dois passos, se os argumentos de
eficiência vão prevalecer sobre os argumentos de mercado; se esse ganho vai ser repassado para o
consumidor”, afirma.

Ou ainda outro efeito de longo prazo, em relação à evolução do mercado. “Uma empresa que passa ter
poder de mercado mais relevante após a fusão, se houver barreira que impeça a entrada de concorrente,
essa empresa pode se ver não pressionada a investir em inovações, o que paralisa o mercado e acaba
prejudicando o consumidor”, completa.

Segundo o professor, isso explica porque o Cade às vezes aprova mesmo quando a empresa já tem
grande poder de mercado. “Ou porque o conselho entende que não há barreira de entrada, ou entende
que os argumentos vão prevalecer e o resultado disso será positivo para o mercado”, explica.

Em um primeiro momento, o consumidor não deve se preocupar. Os resultados da fusão serão sentidos a
longo prazo. Mas a nova empresa deve arcar com todos os compromissos já fechados.

Assim, a análise do Cade deve levar em conta todos os diversos fatores e impor medidas
comportamentais para viabilizar o surgimento de um novo concorrente. “Esse é o objetivo da decisão do
Cade. Se isso vai ser bem sucedido ou não, só com o tempo saberemos”, finaliza.
Fonte:Band17/07/2011

Como funciona e para que serve a fusão de empresas


Concorrência. Seja qual for o setor em que uma empresa atua, é sempre pensando
em superar o concorrente, para então conquistar uma maior fatia do mercado e
mais consumidores ou clientes, que uma companhia trabalha. Obter a liderança,
vender mais e ser lembrada em primeiro lugar são os principais objetivos. E numa
economia capitalista, em que obter lucros, além de se sustentar pagando impostos
e salários, é cada vez mais difícil, alguns grupos optam por juntar forças. Isso
mesmo. É a chamada fusão de empresas, a exemplo do que fez, em 1999, a
Brahma e a Antarctica, dando origem à cervejaria AmBev (Companhia de Bebidas
das Américas).

Porém, ao mesmo tempo em que as empresas querem mais lucros e mais mercado,
há o risco do consumidor sair lesado dessa história. Afinal, é justamente a
concorrência que dá origem a produtos e serviços cada vez melhores. Isso quer
dizer que não bastam duas companhias simplesmente resolverem se fundir. Há
regras rígidas a serem seguidas, para evitar que se estabeleça um domínio total do
mercado, o chamado monopólio, entre outras coisas. Se isso ocorresse, uma marca
escolheria que preço colocar em seus produtos e faria refém o comprador, por
exemplo, não lhe dando opção em comprar um similar mais barato. Desse modo,
quando vale a pena e por que acontece uma fusão de empresas? Quais as
características desse processo no Brasil? Quais as vantagens para os empresários e
para os consumidores?

“A fusão é vantajosa quando as


O GOVERNO COLLOR E AS FUSÕES
empresas forem do mesmo segmento e
Segundo o professor dos cursos de puderem compartilhar a mesma
pós-graduação do IMES Amauri Liba, o logística”, explica o professor dos
processo de fusões no Brasil ganhou cursos de pós-graduação do Centro
força no começo do governo de Universitário Municipal de São Caetano
(IMES) Amauri Liba. Parece
Fernando Collor de Mello (1990-1992),
complicado? Mas não é tanto assim.
quando o Brasil foi aberto ao comércio
internacional.
Em primeiro lugar, é preciso entender
que logística, basicamente, consiste na
“Naquele momento nossa indústria foi
melhora da escoação do estoque. Por
pega desestruturada e sem poder de
conseqüência, existe a realidade da
competitividade. Havia barreiras para
manutenção de um estoque menor do
a entrada de produtos externos no
que o anterior, mas com o mesmo
nosso mercado e, com a abertura,
capital de giro (dinheiro reserva que faz
fomos surpreendidos. Foi justamente
o negócio se movimentar). Com menos
esse protecionismo que contribuiu
produtos armazenados, já que o
para que ficássemos atrasados em
sistema de transportes será mais
termos tecnológicos, defasados”,
eficiente após a fusão, caem os gastos.
explica Liba.
Além disso, uma fusão vale a pena à
Assim, no começo dos anos 90, as
medida que permite a realização de
empresas internacionais começaram a
pesquisas de novos produtos e
incorporar facilmente as empresas
tecnologias, dois itens fundamentais
nacionais, tradicionalmente familiares,
hoje em dia, tanto quanto a logística,
já que elas não tinham capacidade de
diz Labi. “A fusão permite ratear os
concorrência. Nessa época, frisa o
gastos em pesquisas e aumentar o
professor do IMES, o Brasil começou a
desenvolvimento de novos itens, ainda
perceber a importância de aumentar a
mais no Brasil, em que conseguir
capacidade produtiva e, em curto
empréstimos sai muito caro”, afirma o
prazo, isso apenas poderia se professor.
concretizar por meio das fusões.
Uma fusão bem planejada também
“Mas empresas nacionais demoraram
serve para reduzir as despesas
até aceitarem a fusão como opção
administrativas, destaca Amauri Liba.
entre elas próprias, devido à cultura
Incluem-se, aí, gastos com salários de
empresarial brasileira. Isso começou a
diretores e gerentes, principalmente,
ocorrer só no final da era Itamar
mas também com o quadro geral de
(Franco, que assumiu a presidência
funcionários. “Quando se fala numa
em 1992, após o impeachment de
fusão, essa é a parte delicada. Pouco se
Fernando Collor) e no começo da era
discute, mas os cortes violentos sempre
FHC (Fernando Henrique Cardoso
acontecem. Essa é uma das principais
assumiu o governo em 1994). Aqui, os
maneiras de cortar gastos”, destaca. “O
donos não aceitam a divisão de poder,
caso da AmBev (cervejaria originária da
principalmente por conta da tradição
fusão da Brahma e da Antarctica) é um
da administração familiar. Preferia-se
exemplo. Hoje há menos funcionários
que um filho, pouco preparado,
do que ambas somavam antes da
assumisse o poder em vez de alguém
fusão. Não há motivo para se manter
competente ganhar a gerência”,
dois gerentes de depósito, por
detalha Liba.
exemplo”.

“A fusão é vantajosa quando as


O GOVERNO COLLOR E AS FUSÕES
empresas forem do mesmo segmento e
Segundo o professor dos cursos de puderem compartilhar a mesma
pós-graduação do IMES Amauri Liba, o logística”, explica o professor dos
processo de fusões no Brasil ganhou cursos de pós-graduação do Centro
força no começo do governo de Universitário Municipal de São Caetano
Fernando Collor de Mello (1990-1992), (IMES) Amauri Liba. Parece
complicado? Mas não é tanto assim.
Em primeiro lugar, é preciso entender
quando o Brasil foi aberto ao comércio
que logística, basicamente, consiste na
internacional.
melhora da escoação do estoque. Por
conseqüência, existe a realidade da
“Naquele momento nossa indústria foi
manutenção de um estoque menor do
pega desestruturada e sem poder de
que o anterior, mas com o mesmo
competitividade. Havia barreiras para
capital de giro (dinheiro reserva que faz
a entrada de produtos externos no
o negócio se movimentar). Com menos
nosso mercado e, com a abertura,
produtos armazenados, já que o
fomos surpreendidos. Foi justamente
sistema de transportes será mais
esse protecionismo que contribuiu
eficiente após a fusão, caem os gastos.
para que ficássemos atrasados em
termos tecnológicos, defasados”,
Além disso, uma fusão vale a pena à
explica Liba.
medida que permite a realização de
pesquisas de novos produtos e
Assim, no começo dos anos 90, as tecnologias, dois itens fundamentais
empresas internacionais começaram a hoje em dia, tanto quanto a logística,
incorporar facilmente as empresas diz Labi. “A fusão permite ratear os
nacionais, tradicionalmente familiares, gastos em pesquisas e aumentar o
já que elas não tinham capacidade de desenvolvimento de novos itens, ainda
concorrência. Nessa época, frisa o mais no Brasil, em que conseguir
professor do IMES, o Brasil começou a empréstimos sai muito caro”, afirma o
perceber a importância de aumentar a professor.
capacidade produtiva e, em curto
prazo, isso apenas poderia se
Uma fusão bem planejada também
concretizar por meio das fusões.
serve para reduzir as despesas
administrativas, destaca Amauri Liba.
“Mas empresas nacionais demoraram Incluem-se, aí, gastos com salários de
até aceitarem a fusão como opção diretores e gerentes, principalmente,
entre elas próprias, devido à cultura mas também com o quadro geral de
empresarial brasileira. Isso começou a funcionários. “Quando se fala numa
ocorrer só no final da era Itamar fusão, essa é a parte delicada. Pouco se
(Franco, que assumiu a presidência discute, mas os cortes violentos sempre
em 1992, após o impeachment de acontecem. Essa é uma das principais
Fernando Collor) e no começo da era maneiras de cortar gastos”, destaca. “O
FHC (Fernando Henrique Cardoso caso da AmBev (cervejaria originária da
assumiu o governo em 1994). Aqui, os fusão da Brahma e da Antarctica) é um
donos não aceitam a divisão de poder, exemplo. Hoje há menos funcionários
principalmente por conta da tradição do que ambas somavam antes da
da administração familiar. Preferia-se fusão. Não há motivo para se manter
que um filho, pouco preparado, dois gerentes de depósito, por
assumisse o poder em vez de alguém exemplo”.
competente ganhar a gerência”,
detalha Liba.

Além disso, também há redução de custos em itens mais práticos, como o aluguel
de depósitos. “Antes, uma empresa alugava uma área de 1 mil m² e usava apenas
700 m². Após a fusão, a nova sociedade vai alugar e usar um depósito de 1,2 mil
m²”, exemplifica o professor, voltando a usar o processo da AmBev, que descartou
algumas plantas (fábricas) mais atrasadas. "Quando o assunto é a fusão de bancos,
algumas agências são fechadas", diz.

Consumidor
Mas uma fusão beneficia o consumidor? De fato, o processo é mais interessante
para as companhias que dela participam do que para o consumidor — para ele,
efetivamente, a situação é indiferente. Como em qualquer outro negócio, a
conquista do comprador está entre as metas de um grupo: afinal, sem ele não se
obtém lucros. Mas daí a dizer que a fusão faz bem ao consumidor há uma grande
distância.

O que existe, na verdade, é um cuidado para que o cliente não saia lesado de um
processo de fusão. No Brasil, essa análise é tarefa de um órgão chamado Cade
(Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A função dele é zelar pela
concorrência no mercado interno e averiguar quando um processo de fusão é
vantajoso para a economia, quando não vai resultar em monopólio, por exemplo.
(Leia mais sobre o Cade e a importância da concorrência).

Por outro lado, de acordo com Amauri Liba, a fusão de empresas acaba
estimulando a economia de um país como um todo. Numa ponta, porque obriga os
concorrentes a produzir mercadorias melhores e mais baratas. “Foi justamente a
criação da AmBev que fez a Schincariol crescer tanto”, frisa ele. Em outra ponta,
ainda na opinião do professor, porque dá mais força às empresas nacionais e
melhora sua possibilidade de sucesso na concorrência no mercado internacional.

Report

Os motivadores mais comuns para realização de uma operação de F&A, segundo DePamphilis
(2003) costumam visar, entre outros: (a) sinergia operacional (economias de escala e de
escopo); (b) sinergia financeira, relacionada com reduções de riscos e custos de capital; (c)
diversificação, possibilidade de entrada em novos mercados e/ou de produzir novos produtos;
(d) realinhamento estratégico, sugerindo que as empresas utilizem estratégias de F&A como
caminho para adaptação às mudanças ambientais. De maneira convergente, Walter e Barney
(1990) relacionaram 20 objetivos principais para utilização das estratégias de F&A (agrupados
em cinco clusters) com quatro tipos básicos de fusões (verticais, horizontais,

12

concêntricas e de conglomerado), onde foram identificados comportamentos diferenciados


entre os grupos analisados.

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